sábado, 5 de junho de 2010

Notícia: "Nicholas Wade: "A seleção natural moldou a religiosidade".

Em entrevista a ÉPOCA, autor do livro "O Instinto da Fé" conta como a religião se tornou uma vantagem competitiva determinante para o triunfo da humanidade - José Antonio Lima

A religiosidade é um comportamento moldado pela seleção natural e fez alguns grupos de seres humanos terem vantagens competitivas sobre outros há milhares de anos. O resultado disso é que hoje todos nós temos um instinto religioso, que nos faz querer acreditar em Deus. A polêmica tese está no livro The Faith Instinct (O Instinto da Fé em tradução literal, ainda sem nome oficial no Brasil), do jornalista britânico Nicholas Wade, repórter especial de Ciências do jornal americano The New York Times.

Nascido e criado no pequeno condado inglês de Buckinghamshire, Wade foi criado na Igreja Anglicana, mas diz que sua religião não influenciou a obra. Wade conta que escreveu o livro como jornalista e, portanto, tentou evitar a inclusão de qualquer experiência pessoal.

Como fez no livro de 2006 Before the Dawn (Antes do Amanhecer em tradução literal), no qual tenta reconstruir a ancestralidade do homem desde a dispersão pela África, há 50 mil anos, Wade usa descobertas recentes da arqueologia para tentar provar que o fato de ter uma religião – seguindo o chamado instinto da fé – está na base do sucesso dos seres humanos como espécie.

Nesta entrevista a ÉPOCA, Wade conta como chegou a essa conclusão e explica como a religião beneficiou a humanidade.

ÉPOCA – O senhor se baseia em evidências arqueológicas que provariam que o comportamento religioso do ser humano existe há milhares de anos. Quais são as principais evidências?
Nicholas Wade – Há uma série de evidências descritas no livro, como arenas para danças religiosas de 7 mil anos, templos de 1,5 mil anos. Essas evidências são persuasivas e mostram que a religiosidade é universal. Isso sugere que esse comportamento é muito antigo e já estava presente na população humana ancestral antes de ela se dispersar na África, 50 mil anos atrás.

ÉPOCA – Quais são as vantagens evolutivas proporcionadas pela religiosidade?
Wade – A religiosidade conferiu uma vantagem muito significativa a alguns grupos de humanos. Ela permitiu que determinados grupos permanecessem juntos, criassem uma ligação emocional e buscassem um objetivo comum. Uma vez que todos estivessem comprometidos com esse objetivo, eles poderiam chegar a um acordo sobre como se comportar em relação ao outro, definindo padrões morais, poderiam decidir como se defender contra inimigos. Era uma vantagem poderosa, e a seleção natural permitiu que os grupos com comportamento religioso sobrevivessem e florescessem.

ÉPOCA – Então a religião e a moralidade evoluíram em conjunto?
Wade – São instintos diferentes. Nós vemos indícios de um comportamento pré-moral em animais, como por exemplo nos chimpanzés. Dois machos podem brigar, mas depois fazem as pazes e essa reconciliação traz benefícios ao grupo. A religião e a religiosidade funcionam de forma diferente. Uma coisa é saber o que é certo e outra é realmente fazer o que é certo. A religião força o comportamento moral.

ÉPOCA – A seleção natural de grupos é contestada por muitos biólogos. Como o senhor defende essa constatação sobre o comportamento religioso diante dessas críticas?
Wade – Sempre houve uma dificuldade para a Teoria da Evolução explicar vários comportamentos sociais humanos, como é a religião. O problema é o seguinte: se você gastar tempo ajudando as pessoas, terá menos tempos para ajudar seus filhos a sobreviver. Então, por essa lógica, uma pessoa que ajuda as outras, um altruísta, deixará menos filhos, e assim os genes do altruísmo desapareceriam rapidamente da população. Mas o que vemos é uma sociedade com muitos altruístas. Então, como explicar isso? O próprio Darwin pensou nesta questão e sugeriu que a seleção natural atua nos grupos. Segundo ele, se um grupo tiver mais altruístas, esse grupo vai prevalecer sobre um grupo com menos altruístas. Desde Darwin, muitos biólogos questionaram isso e defendem que a seleção natural agiria muito mais rapidamente sobre indivíduos, contra o altruísmo, do que sobre grupos, a favor do altruísmo. Por conta desse argumento a teoria da seleção de grupos perdeu espaço, mas recentemente alguns biólogos, como Edward O. Wilson [pioneiro do estudo da sociobiologia, de Harvard], disseram que a seleção natural dos grupos pode ter tido papel importante, especialmente na evolução humana, por conta de dois fatores: as guerras e as pressões internas contra comportamentos individualistas, que forçavam, por exemplo, que o caçador dividisse a comida com os outros. Isso pode ter suprimido ou reduzido a velocidade dos efeitos da seleção natural individual.

ÉPOCA – E essas vantagens são importantes hoje em dia?
Wade – Ainda são, tanto que todas as sociedades que conhecemos possuem religião, mesmo aquelas em que houve uma tentativa de acabar com a religiosidade, como a União Soviética. Temos um instinto religioso, e a maioria das pessoas quer ter algum tipo de religião, mesmo aquelas que não acreditam nas religiões em que foram criadas. A religião continua a desempenhar um papel importante na vida das pessoas.

ÉPOCA – Vivemos em uma era de triunfo da ciência, na qual muitas pessoas se dizem religiosas, mas não vão à igreja ou a qualquer que seja o templo. Qual é o futuro da religião?
Wade – Essa é uma pergunta tão interessante como difícil de responder. Se olharmos apenas para o Ocidente veremos situações díspares. Nas sociedades europeias, cada vez mais as pessoas estão deixando de ir à igreja, mas nos Estados Unidos elas continuam indo muito, e a religião tem um papel muito importante na sociedade. Podemos dizer que as pessoas sempre terão o instinto da fé dentro delas e se vão ou não à igreja depende da condição em que estão, por exemplo passando por uma guerra, pobreza ou estresse, situações que tendem a aumentar a necessidade de ir à igreja. Talvez seja por isso que na Suécia, onde há um estado de bem-estar que funciona muito bem, as pessoas têm menos necessidade de ir à igreja, enquanto na sociedade como a americana, na qual é muito difícil ser pobre, elas vão mais à igreja. É difícil encontrar uma resposta, mas é fato que no começo do século XX algumas pessoas diziam que a religião iria acabar, e elas estavam completamente erradas.

ÉPOCA – Os religiosos são mais evoluídos que os ateus?
Wade – Não, todos temos o mesmo instinto religioso. E esse instinto não é uma religião, mas simplesmente a habilidade de aprender uma religião e se comprometer com a religião de sua comunidade. É um processo semelhante ao da linguagem. Temos um instinto que nos faz aprender a língua falada ao nosso redor, mas se você não exercitar isso, nunca vai aprender apropriadamente. Se a pessoa não se comprometer com a religião da sua comunidade até 12 ou 15 anos, talvez ela nunca signifique muito para você.

Matéria publicada na Revista Época, em 9 de dezembro de 2009.

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Comentário:

O Instinto da Religião

O artigo em destaque diz de que a religião foi uma vantagem competitiva no processo evolutivo. Esta afirmação, baseada em observações e estudos científicos, reabre o debate entre os que afirmam ser a religião um mal para a humanidade e aqueles que afirmam o contrário.

A universalidade da religião foi comprovada também por outro pesquisador, não do campo da biologia, mas da psicologia. Carl Gustav Jung identificou no comportamento das mais remotas e isoladas sociedades a presença de elementos comuns que apontam para a universalidade da religião e como sendo ela inerente à natureza humana.

Porém, mais importante do que comprovar que há um embasamento biológico, antropológico e sociológico para a religiosidade, é questionar se essa religiosidade inata é um acaso fortuito dos genes e dos rumos da história humana, ou produto de uma intervenção intencional no processo bio-psico-social. De maneira mais simples, a questão é: acreditamos em Deus por um acaso histórico e genético ou pela intervenção de alguma força intencional nos nossos genes e em nossa história?

O dogma central da biologia molecular é que o fluxo de informações vem do DNA para o RNA e nunca o fluxo inverso. Ou seja, são processos que ocorrem no DNA, como as mutações, que provocam as mudanças nas espécies, estas mutações são transmitidas ao RNA e por fim, nas proteínas construídas pelo RNA. O lamarckismo, a ideia de que a influência do ambiente muda a estrutura genética, parecia superada, porém, existem hoje várias evidências do contrário. Muitos dados sugerem uma “evolução dirigida”, ou seja, que outros fatores além da aleatoriedade do DNA podem influir intencionadamente sobre a organização da vida. Neste caso, podemos discutir a ideia de que a nossa religiosidade foi colocada aí intencionalmente e não por um acaso qualquer do processo de seleção natural. Quem tiver interesse de aprofundar-se nestes dados, pode ler, por exemplo, a obra Biologia Revisada, de Wills W. Harman e Elisabet Sahtouris (Editora Cultrix), ou Evolução Criativa das Espécies, de Amit Goswami (Editora Aleph).

Destaco aqui quatro questões de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que são pertinentes:

5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?

“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência do princípio - não há efeito sem causa.”

650. Origina-se de um sentimento inato a adoração, ou é fruto de ensino?

“Sentimento inato, como o da existência de Deus. A consciência da sua fraqueza leva o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger.”

651. Terá havido povos destituídos de todo sentimento de adoração?

“Não, que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem que acima de tudo há um Ente Supremo.”

652. Poder-se-á considerar a lei natural como fonte originária da adoração?

“A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes.”

Observamos, então, que as afirmações destacadas no artigo vêm fortalecer e embasar os princípios espíritas. Não tem sido surpresa, para nós espíritas, indícios ou comprovações que surgem constantemente nos meios científicos, embasando e endossando os postulados espíritas. Observem que os espíritos falam do sentimento de religiosidade como algo inato e não apenas aprendido socialmente. Por muito tempo acreditou-se que a religião era apenas um produto cultural, mas agora já temos indícios que reabrem esta discussão.

A existência de Deus está bem mais embasada que simplesmente em nossos genes. Esta noção faz parte de nossa natureza de espíritos imortais e é a marca da divindade em nossa essência.

(Comentário por: Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Artigo: "O Bem e o Mal"

Por Richard Simonetti.

Um amigo, estudioso dos textos evangélicos surpreendeu-me, afirmando:
– Jesus era um peripatético.
Censurei sua irreverência.
Ele sorriu.
– Trata-se do mestre que ensina andando. Vem da experiência de Aristóteles, que discutia idéias e transmitia instruções, caminhando com seus discípulos.
Jesus, sem dúvida, cultivava o peripatetismo.
Viajava com freqüência. Visitava muitas cidades.
Longas caminhadas… Podiam durar semanas. Sempre conversando, orientando o colégio apostólico.
Ensinamentos importantes eram transmitidos durante as viagens.


***

Logo após o esclarecedor diálogo com os representantes do judaísmo, Jesus esteve na região de Tiro e Sidom, na Fenícia.
Prosseguindo, atravessou o território de Decápolis, formado por dez cidades gregas.
Sempre atendendo à multidão, curando enfermos e enfrentando as diatribes de seus adversários, que tentavam comprometê-lo com as autoridades ou com o povo.
Esteve, também, em Cesaréia de Filipe, pequena localidade ao norte da Palestina, num vale verdejante, homenagem a César Augusto, por Filipe, o governador judeu nomeado por Roma para a tetrarquia da Galiléia. Era assim denominada, para distingui-la de outra Cesaréia, edificada por Herodes, o Grande.
Em dado momento, Jesus perguntou aos discípulos:

– Quem dizem os homens ser o filho do Homem?

Usava com freqüência essa expressão, referindo-se a si mesmo.
Antecipava que haveriam de situá-lo como Deus encarnado, e deixava bem clara sua condição.
Era filho do Homem, um ser humano.
Eles responderam:

– Uns dizem que és João Batista; outros Elias e outros Jeremias ou algum dos profetas, que ressurgiu.

Interessante, amigo leitor!
Se o povo judeu admitia ser Jesus um vulto eminente da história judaica, obviamente aceitava a reencarnação.
Quanto a João Batista, muita gente não distinguia o Messias do profeta que o anunciara, julgando tratar-se da mesma pessoa.


***

Após ouvir as referências dos discípulos, perguntou Jesus:

– Mas vós outros, quem dizeis que eu sou?

Simão Pedro adiantou-se:

–Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.

Jesus o cumprimentou:

– Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue quem to revelaram, mas meu Pai que está nos Céus…

A expressão Cristo significa ungido, escolhido para orientar e conduzir. Anunciado pelos profetas, o mensageiro divino era aguardado há séculos pelo povo judeu.
Naquele exato momento, inspirado pela espiritualidade maior, Simão Pedro fazia importante proclamação:
Jesus era o Cristo!


***

Não obstante os prodígios operados e a beleza de seus princípios, o Mestre não seria aceito pelas lideranças judaicas.
Esperavam alguém de espada na mão para elevar Israel ao domínio de todas as nações.
Jamais admitiriam um Messias que exaltava a paz, não a guerra; o amor, não o ódio; o perdão, não a vingança, com uma mensagem universalista que pretendia irmanar todos os povos.
Perfeitamente consciente disso, Jesus afirmou, em assombrosa profecia, antecipando o que enfrentaria:

– É necessário que o filho do Homem sofra muitas coisas, e seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite no terceiro dia.

Suas afirmativas causaram impacto.
Os discípulos julgavam o advento do Reino de Deus como uma conquista material.
Imaginavam que, no momento oportuno, Jesus convenceria os incrédulos e submeteria os poderosos à sua vontade soberana.
No entanto, hei-lo falando em lágrimas, sacrifícios, morte!…
Simão Pedro, talvez o mais perplexo com aquelas afirmativas, reclamou:

– Deus não o permita, Senhor! Isso de modo algum te acontecerá!

Jesus respondeu, veemente:

– Afasta-te de mim, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das coisas dos homens.

***

O episódio reserva preciosa lição:
Num momento, Simão Pedro situa Jesus como o mensageiro divino.
Logo em seguida, perplexo diante de suas revelações, pretende contestá-lo.
As reações do apóstolo exprimem com fidelidade uma das grandes contradições da personalidade humana:
A facilidade com que mudamos o ânimo, oscilando entre o Bem e o mal, a Luz e as sombras, a Virtude e o vício…
Esse dualismo, sempre presente em nosso comportamento, impõe sérios embaraços ao relacionamento com as pessoas, anulando as mais belas oportunidades de edificação da jornada humana.
Sob inspiração do Bem, construímos templos religiosos e instituições filantrópicas; sob influência do mal, transformamo-los em arenas de disputas e desentendimentos.
Sob inspiração do Bem, edificamos o lar, pretendendo sustentar as flores de um amor sem fim, a estender-se por abençoada prole; sob influência do mal, perdemo-nos em agressões e omissões, em deserções e traições, que aniquilam nossas melhores esperanças.
Sob inspiração do Bem, empolgamo-nos pelo propósito de seguir a Jesus; sob influência do mal, perdemo-nos em viciações e mazelas que nos colocam à margem de seu caminho.


***

Não é preciso grande esforço de raciocínio para compreender esse desvio. Porque buscamos a luz e, freqüentemente, estamos em trevas.
A causa é o egoísmo, que nos leva a desejar que tudo gire em torno de nossa personalidade, ao sabor de nossas conveniências, como se fôssemos o centro do Universo.
Fazemos dele a medida da Vida.
Imaginamos bom o que corresponde às nossas expectativas.
Consideramos mau o que nos contraria.
Por isso, os piores momentos estão sempre relacionados com nossas frustrações.

– Estou angustiado – o pai não me atende.
– Estou irritado – a esposa não me entende.
– Estou magoada – o marido esqueceu meu aniversário.
– Estou arrasado – o colega foi promovido na minha frente.
– Estou furioso – o chefe censurou meu desempenho.
– Estou descrente – o Senhor não ouve minhas orações.

Mesmo como discípulos de Jesus, estamos dispostos a seguir seus exemplos de fraternidade e amor, tolerância e bondade, desde que ninguém nos contrarie.
Se isso acontece, imediatamente contrariamos o Evangelho.
Daí a nossa instabilidade emocional, a dificuldade em sustentar a paz..
Por isso, o programa básico de nosso equilíbrio envolve um ajuste de nossos sentimentos. Muito mais importante do que exigir o atendimento de nossos caprichos é atender à vontade de Deus, expressa no Evangelho.
E se nos empolgamos pela grandeza de Jesus, manifestando disposição em segui-lo, não nos esqueçamos de o caminho do Cristo é de trabalho, renúncia e sacrifício de nossos interesses pessoais em favor do bem comum.
Caso contrário, à semelhança de Simão Pedro, facilmente seremos envolvidos pelas sombras, tropeçando em nossas próprias mazelas.
Mateus, 16:13-23
Marcos, 8: 27-33
Lucas, 9:18-22
Do Livro "Não Peques Mais".

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pergunta Feita: "Recursos para Estudar Doutrina Espírita"

Pergunta: A menos de 2 anos começei a me envolver com a doutrina espirita,
pois foi a que mais me ajudou nas duvias que todos nós todos temos sobre a
vida. E me foi de muito ajuda onde encontrei respostas a coisas que me
estavam deixando depressiva e sem vontade de viver.
E hoje a coisa que mais quero pra minha vida é através dela, servir para
ajudar nosso irmãos, mas sou um pouco sem alternativas pois aqui onde morro
e as pessoas que me enlvem são sistematicas.Procuro ajuda espiritual para
seguir meu destino.
Seria isso obrigada.

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Muita paz a você!

Agradecemos o seu contato, e vamos tentar ajudá-la nessas dúvidas que nos
apresenta.

A Doutrina Espírita nos chega como grande consolador mostrando-nos os
caminhos iluminados de Jesus para nosso próprio crescimento. Então, quando
absorvemos seus ensinamentos, é inevitável sentir a maravilhosa
transformação que sofremos.

O que trazemos como orientação primeira sobre a ajuda que nos pede, é que as
bases e reflexões de toda doutrina são transmitidas e aprofundadas através
dos estudos, sejam individuais ou em grupos. Nesse último caso, nos estudos
coletivos temos a oportunidade de trocar impressões e ideias com outras
pessoas que professam a mesma crença, seja religiosa ou filosófica,
facilitando o aprendizado. Na Doutrina Espírita não é diferente, e por isso
estimulamos a participação de todo espírita em grupos de estudos que são
mantidos pelos Centros Espíritas, assim como grupos familiares, e mesmo em
virtuais.

Em sua cidade, que acreditamos ser ... encontramos a
instituição abaixo para que entre em contato para obter informações, dentro
de suas possibilidades. Caso não seja essa ou necessite demais detalhes,
contate a Federação Espírita do Paraná acessando
http://www.feparana.com.br/ .

Sociedade Espírita Allan Kardec

No meio virtual, através de listas de discussão, acesse
http://www.cvdee.org.br/sl_salas.asp para cadastrar-se e conhecer o método e
o conteúdo. Para outras atividades na Internet, temos estudos, palestras,
vibrações e Atendimento Fraterno, via Paltalk (programa de
áudio-conferência, por voz). Informe-se sobre o programa - instalação e uso
- no site www.espiridigi.net/paltalk , além da programação semanal de nossos
grupos de trabalho, com as atividades e horários.

Paralelamente, e independente dos estudos espíritas, aprendemos que a única
forma de exercitar as virtudes que Jesus nos transmite, e que nos
exemplificou, é o trabalho em amor ao próximo e a Fé em Deus. As Casas
Espíritas mantêm trabalhos e grupos assistenciais que oferecem muitas
oportunidades para nossa ação no bem. E lembrando que o alvo dessa ação são
nossos irmãos que se encontram carentes de uma mão amiga, temos, além das
instituições espíritas, organizações sociais e de outras escolas religiosas
que também abrem suas portas a voluntários, atividades com o mesmo valor e
qualidade das nossas Casas. Deus se manifesta sempre nos corações de quem se
dedica ao bem, esteja onde estiver.

Assim, apesar das limitações que vive em sua cidade, vários
recursos estão à sua disposição para que estude e trabalhe em prol do
Espiritismo, junto a um Centro Espírita ou através de outro meio possível.

Divulgando, acesse a Tv Mundo Maior - http://www.tvmundomaior.com.br/ - e a
TV CEI - http://www.tvcei.com/ - para assistir online a programas espíritas.

Caso algum link esteja com problema de acesso, copie o endereço e cole em
seu navegador.

Finalmente, leia sempre. Há um acervo de grande valor no meio espírita para
que possa aprender cada vez mais. Recomendamos as obras de Allan Kardec, que
nos traz a essência do Espiritismo. A Codificação Espírita e outros livros
espíritas instrutivos podem ser obtidos no link
www.espiritismo.net/portugues_download ou www.virtual.espiridigi.net
(Biblioteca Virtual).

Para conhecer melhor a Doutrina, acesse também os sites
www.espiridigi.net/videos e www.espiritismo.net/espiritismo para assistir
aos vídeos e ler as informações abordando seus diversos aspectos.

Estamos à disposição para auxiliar no que for necessário e conte sempre
conosco.

Um abraço,

André.
Equipe Espiritismo Net Jovem

Artigo: "O que é ser médium?"

Você se indaga, às vezes, se as sensações que tem sentido são realmente de caráter mediúnico ou apenas estados emocionais ou, ainda, se certos acontecimentos não seriam meras fantasias ou suposições erradas, por ficar impressionado em demasia com tudo o que lhe ocorre.

Porém como saber? Afinal, o que é ser médium?

Usualmente, denomina-se médium aquele em quem a faculdade mediúnica se mostra de forma ostensiva. Entretanto é bom saber que todos os seres humanos têm mediunidade em estado latente, como um princípio, uma semente, que poderá ou não desabrochar no curso da existência terrena.

Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, explica que todos os indivíduos são mais ou menos médiuns, no sentido de que somos influenciáveis pelas sugestões alheias, podendo estas partir de espíritos desencarnados que nos desejam influenciar. Isto se dá através da sintonia mental, de forma espontânea e natural, surgindo na mente do indivíduo como uma idéia, um pressentimento, que são também chamados de “intuição”. Isto pode estar sendo lançado por um espírito desencarnado, e a pessoa aceitará a idéia ou não, dependendo do seu livre arbítrio.

Voltemos ao termo “médium”. É importante saber que esta palavra significa “aquilo que está no meio”. Allan Kardec propôs esta terminologia, inclusive as palavras “Espiritismo”, “espírita”, etc. Para designar coisas novas trazidas pelos Espíritos Superiores à Humanidade.

Assim, médium é o intermediário, aquele que intermedia a comunicação de um espírito com as demais pessoas.

A eclosão da mediunidade não depende de religião, idade, raça ou sexo. Muitas criaturas, não conhecendo nada sobre o assunto, ficam amedrontadas, outras temem as responsabilidades que são inerentes ao exercício mediúnico e recusam-se a conscientizar-se acerca da sua faculdade. Evitam de todas as maneiras qualquer conversa ou situação relacionadas com o tema, mas, se os sinais de mediunidade forem muito evidentes, intensos e freqüentes, essas pessoas ficam sujeitas a alguns problemas mais graves decorrentes das presenças espirituais ao seu lado, as quais captam sem saber como se defender ou precaver-se contra assédios negativos.

Mas, afinal, como saber se sou médium ostensivo? É a pergunta que lhe ocorre.

Existem indícios que caracterizam a presença da mediunidade de forma expressiva. O Espiritismo aclara e orienta todo esse processo, auxiliando o médium principiante e possibilitando o exercício da mediunidade de maneira equilibrada e serena, que lhe confere bem-estar e paz interior.

Alguns dos indícios do desabrochar da mediunidade podem ser relacionadas. São eles:

alterações emocionais súbitas;

acentuada sensibilidade emotiva;

vidências;

necessidade compulsiva e inoportuna de escrever idéias que não lhe são próprias;

calafrios, sensação de formigamento nas mãos e na cabeça;

mal-estar em determinados ambientes ou em presença de certas pessoas;

sensações de enfermidades inexistentes.

Estes sintomas podem surgir de forma associada, com maior ou menor intensidade, prevalecendo um ou outro ou vários, conforme a condição espiritual do indivíduo.

Que fique bem claro que alguns desses sintomas citados podem ocorrer, sem que seja necessariamente um sinal de predisposição mediúnica. Outro ponto que merece ser ressaltado é que mediunidade não é doença. Também não deve ser encarada como um privilégio ou, sob outro aspecto, como uma sobrecarga de responsabilidade de tal teor, que somente uns poucos conseguirão levá-la adiante.

O desabrochar da mediunidade representa para o ser humano um horizonte novo que se abre para ele. É um chamamento, um convite a fim de que se volte para o bem, que desperte para as realidades maiores da vida. É uma responsabilidade sim, mas, sendo vivenciada com seriedade, com amor e disciplina, será sempre fonte de benefícios, em primeiro lugar para o próprio médium.

Às vezes as pessoas têm uma impressão distorcida acerca do Espiritismo pelo que a mídia apresenta, ou seja, pessoas que são médiuns mas que, na verdade, não são espíritas, embora assim se apresentem, e que se utilizam da sua faculdade para aparecerem, para divulgarem suas produções mediúnicas, mas que não têm as características espíritas, cujas orientações são sempre voltadas para fins sérios, altruísticos e renovadores, sem qualquer conotação de rituais ou de lucros materiais.

Se você apresenta as características acima mencionadas, se o que lhe está acontecendo se encaixa nestes pontos relacionados, é provável que a mediunidade lhe esteja sinalizando a busca de uma nova vida, de um caminho novo, espiritualizado, para que você encontre, enfim, o sentido transcendente da vida terrena.

“A mediunidade não veio em minha vida por acaso. É um compromisso que assumi perante a Espiritualidade Maior. É como um convite para reavaliar tudo o que fiz até hoje e recomeçar em bases espiritualizadas e seguras, descobrindo através do intercâmbio com os seres invisíveis um novo caminho para ser feliz.”

Do Livro Mediunidade: Caminho para ser feliz - Suely Caldas Schubert - Editora Didier

terça-feira, 1 de junho de 2010

Mural Reflexivo: "Amigos"

O que é que faz com que uma amizade solidifique e se torne profunda?

Falando das suas experiências, alguns afirmam que foram momentos de grande dor que fizeram com que eles descobrissem e firmassem uma sólida amizade. A chave, portanto, seria passar por um grave problema juntos.

Outros, contudo, falam de coisas pequenas que se somam no tempo acrescentando, a cada ano, mais uma pedra preciosa ao relacionamento.

Harry e Lawrence pertencem a esse último grupo. São primos em primeiro grau. Nasceram com a diferença de seis meses e separados apenas por poucas quadras.

Desde a mais tenra idade, conviveram. Descobriram que eram muito parecidos. Falavam, gostavam e pensavam de forma muito semelhante.

Quando ambos tinham em torno de cinco anos, Lawrence foi para a festa de aniversário do primo. Era mais uma grande reunião de família, onde se misturavam primos, tias, sobrinhos.

Harry ganhou de um dos convidados uma maravilhosa coleção de soldadinhos de chumbo, pintados com cores vivas e aos olhos da criançada pareciam reais. O aniversariante os pegou e mostrou a todos com orgulho.

Brincaram até tarde. Na hora da saída, Lawrence enfiou todos os soldadinhos no bolso da calça.

Eram tão lindos que ele os desejou para si. Fingindo naturalidade, foi saindo de fininho, encaminhando-se para a porta.

O que ele não sabia é que o bolso da calça estava furado e os soldadinhos caíram com estardalhaço no chão.

Os adultos se viraram todos para o pequeno, com olhos acusadores. Sua mãe lhe desferiu aquele olhar de: O que você fez?

O garoto se sentiu acuado. Tinha vontade de sair correndo, fugir, mas as pernas lhe pesavam. Pareciam pregadas ao chão.

Foi o pior momento de sua vida, lembra Lawrence, hoje com mais de setenta anos.

Então, o primo Harry veio em seu socorro. Colocou-se ao lado dele e com segurança falou em voz alta e clara:

Eu dei os soldadinhos para ele.

Recordando aqueles momentos, o escritor que viaja pelo mundo todo, pergunta:

De que outro motivo preciso para amar esse sujeito?

E são amigos até hoje. Mesmo que, crescidos, tenham seguido caminhos diferentes, prosseguiram a cultivar esse sentimento maravilhoso que nos faz florescer e que se chama: amizade.

* * *
A amizade sincera é um oásis de repouso para o caminheiro da vida, na sua jornada de aperfeiçoamento.

A amizade leal é a mais formosa modalidade do amor fraterno, que santifica os impulsos do coração.

Quem sabe ser amigo verdadeiro é, sempre, o emissário da ventura e da paz.

Ter amizade é ter coração que ama a esclarece, que compreende e perdoa nas horas mais amargas da vida.

(Redação do Momento Espírita com base no artigo O último calouro, publicado pela revista Seleções Reader’s Digest, março/2000 e na pergunta 174 do livro O Consolador, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Disponível no livro Momento Espírita v.2. http://www.momento.org.br/exibe_texto.php?id=49)

Artigo: "Bagagem".

Por Richard Simonetti.

Bias, de Priene (século VI a.C.), um dos sete sábios da antiga Grécia, pontificava por elevados dotes intelectuais. Mais que isso: era íntegro e honesto. Jamais colocou seu talento e sua inteligência a serviço de interesses menos dignos.
Diante de questões litigiosas, que exigiam um mediador sábio e justo, dizia-se:
– É uma causa para o cidadão de Priene!
Sua presença conciliatória serenava os ânimos e garantia o triunfo da verdade e da justiça.
Quando Ciro II, o Grande (585-529 a.C.), ambicioso rei persa, iniciou suas guerras de conquista, estabelecendo um dos maiores impérios da antigüidade, as cidades gregas estavam em seu caminho.
Em breve Priene foi sitiada.
Instalou-se o pânico. Os moradores trataram de fugir. Em atabalhoado esforço, buscavam levar a maior quantidade possível de pertences. A confusão era enorme. Grande agitação, ânimos exaltados, choro, histeria coletiva…
A exceção: Bias. Deixou a cidade tranqüilamente, sem carregar nada.
Os amigos estranharam.
– E os seus bens?
O filósofo sorriu, explicando:
– Trago tudo comigo.
Referia-se aos seus valiosos dotes de cultura, conhecimento e virtude.
Em qualquer lugar, esses patrimônios inalienáveis lhe garantiriam subsistência honesta e digna.

***

Enfrentamos, na experiência humana, crises periódicas que exigem o resgate do passado ou testam as aquisições do presente.

• Moléstia insidiosa.
• Acidente inesperado.
• Perda de um bem.
• Demissão na atividade profissional.
• Fracasso de um empreendimento.
• Ruptura da ligação afetiva.
• Defecção do amigo.
• Morte do ente querido.

Sitiados pela adversidade, somos chamados a deixar as posições em que nos acomodamos, à procura de caminhos novos que se desdobram a nossa frente.
Detalhe importante: A crise é também um teste de avaliação.
Revela nossa posição espiritual. Dependendo de nossas reações, podemos ser reprovados, com o compromisso de repetir estágios ou ganhar honrosa promoção.
Reclamamos da sorte? Tropeçamos na inconformação? Caímos no desânimo? Mergulhamos no desajuste?
Lamentável! Superficial é a nossa crença, frágil o nosso ânimo, precária a nossa estabilidade.
Encaramos a adversidade com bom ânimo? Confiamos em Deus? Cultivamos a serenidade? Estamos dispostos a enfrentar o desafio?
Ótimo! Demonstramos possuir um patrimônio de valiosas aquisições espirituais.
E trazemos “tudo conosco”, a nos sustentar o equilíbrio e a paz, onde estivermos.

Livro "Luzes no Caminho".

domingo, 30 de maio de 2010

Notícia: " Um gene capitalista?".

No livro Um Adeus às Esmolas, o escocês Gregory Clark diz que o sucesso das nações depende mais das características da população do que das instituições.
Diogo Schelp

Uma das questões que mais intrigam os economistas é por que alguns povos enriquecem, enquanto outros parecem fadados a ficar para trás. Várias teses já surgiram ao longo dos últimos séculos, e certamente a mais recente não pode ser classificada de politicamente correta. Em seu livro Um Adeus às Esmolas – Uma Breve História Econômica do Mundo (a obra não tem publicação prevista no Brasil, mas pode ser lida em português na tradução feita pela editora Bizâncio, de Lisboa), o escocês Gregory Clark, professor da Universidade da Califórnia, atribui o sucesso ou o fracasso econômico às características individuais dos cidadãos de cada nação. De acordo com ele, de nada adianta um país ter sistema econômico, leis e instituições propícios ao crescimento se a maior parte da população não for composta de pessoas naturalmente dotadas das qualidades necessárias para ascender em uma economia de mercado. A saber, a paciência, a disposição para o trabalho duro, a inventividade, a habilidade com números, a facilidade de aprendizado e a aversão à violência.

Para entender por que as qualidades capitalistas são mais disseminadas entre certos povos, Clark cruzou dados demográficos e econômicos da Inglaterra entre os anos 1200 e 1800. A opção por estudar os ingleses é evidente: são de sua forja a primeira e segunda revoluções industriais – os tremendos saltos tecnológicos que, entre os séculos XVIII e XIX, possibilitaram a expansão do capitalismo. Ao analisar o padrão de crescimento populacional nos seis séculos anteriores à segunda Revolução Industrial, Clark concluiu que os ingleses com o maior número de filhos sobreviventes – ou seja, que chegaram à idade adulta – não eram os nobres nem os camponeses, mas os integrantes das camadas médias da sociedade. Isto é, aqueles que se reproduziam com mais eficiência eram os mais produtivos e bem-sucedidos economicamente. Com o tempo, seus filhos, netos e bisnetos passaram a formar a maior parcela da população, fertilizando, assim, todas as classes sociais com seu espírito empreendedor.

Clark nomeou sua teoria de "sobrevivência dos ricos". Sua descoberta mais surpreendente é que, na Inglaterra pré-industrial, havia uma intensa mobilidade para baixo das camadas médias da população. Eram os filhos de famílias abastadas que, por não contarem com um bom quinhão de herança, dado a prole paterna ser imensa, desciam alguns degraus na pirâmide social. Eles, porém, levavam consigo conhecimento e iniciativa. Esse fato, aliado à reduzida fecundidade das famílias pobres e a eventuais pragas que as ceifavam, fez com que as camadas mais baixas da sociedade fossem sendo ocupadas por descendentes de gente não só mais rica, como mais bem preparada.

Um Adeus às Esmolas apresenta argumentação consistente, amparada em dados estatísticos, para sustentar a tese de que o capitalismo acabou impregnando os ingleses de alto a baixo, graças a essa circulação de pessoas e aos valores repertórios que elas portavam. Mas Clark é bem menos convincente ao debruçar-se sobre os mecanismos que permitiram a transmissão de determinadas características de geração para geração. Ele sugere que o sucesso do capitalismo inglês – e também o de outras latitudes – deve-se a fatores culturais e genéticos. Como está longe de ser um geneticista, a sua teoria de que houve, na Inglaterra, uma seleção natural de indivíduos mais bem adaptados à economia de mercado circunscreve-se mais no terreno da crença do que no científico. "Não tenho dúvidas de que existe um gene capitalista", disse Gregory Clark a VEJA (leia a entrevista abaixo). "No futuro, a ciência será capaz de selecionar indivíduos com base nele."

À parte as derrapadas na biologia, o mérito de Um Adeus às Esmolas está em não se contentar com as explicações habituais para o sucesso das nações. A primeira delas é a marxista, pela qual a acumulação de capital é, principalmente, fruto da espoliação colonial e da exploração do homem pelo homem. A segunda, de origem determinista, ganhou divulgação por meio do americano Jared Diamond, autor do livro Armas, Germes e Aço, de 1997. De acordo com ele, fatores como geografia e clima permitem ou impedem o desenvolvimento de tecnologias essenciais para o avanço das sociedades. A terceira, de cunho religioso, baseada no pensamento do alemão Max Weber (1864-1920), enfatiza que a ética protestante, de valorização do trabalho e da riqueza, está na base do êxito de países como Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Por fim, a explicação mais aceita na atualidade é a institucional, inaugurada pelo pai do liberalismo econômico, o escocês Adam Smith (1723-1790). De acordo com ela, são necessários incentivos para que uma economia se desenvolva. Isso inclui impostos baixos, segurança jurídica, direito de propriedade assegurado e liberdade para os mercados funcionarem. Ou seja, um país precisa ter instituições democráticas azeitadas para progredir.

Clark está de acordo com o receituário de Adam Smith, mas não aceita a ideia de que, por si só, seja suficiente para que os países floresçam. Segundo o autor de Um Adeus às Esmolas, já havia um bem pavimentado terreno institucional para o crescimento econômico em boa parte da Europa e também na China e no Japão muito antes do século XIX. Na Inglaterra, ele existia antes mesmo da Revolução Gloriosa de 1688, que estabeleceu a monarquia constitucional. Mas por que foi na Albion vitoriana que o capitalismo moderno nasceu e moldou o mundo? Porque apenas na Inglaterra a taxa de fecundidade dos estratos burgueses era nitidamente maior que a dos outros níveis sociais. Os ingleses economicamente bem-sucedidos tinham o dobro de filhos em comparação com os pobres e os nobres. Para Clark, o que ocorreu na Inglaterra foi uma aceleração de um processo seletivo que começou 9 000 anos antes, com a revolução neolítica, quando sociedades primitivas descobriram a agricultura, deixaram de ser nômades e, desse modo, frutificaram.

O gene capitalista descrito pelo autor teria seus inícios justamente nesse período longínquo, quando surgiu o primeiro germe (não confundir com os de Jared Diamond) de organização econômica lastreada na acumulação de bens. O capitalismo moderno só se difundiu no século XIX, contudo, porque, a partir das características demográficas inglesas daquele momento, a humanidade pôde livrar-se do jugo das leis malthusianas. Ou seja, os avanços tecnológicos da Revolução Industrial produziram excedentes suficientes para dar conta da demanda criada por um aumento exponencial da população e ainda proporcionar uma melhoria extraordinária das condições de vida. Naquele instante, diz Clark, a Inglaterra contava com trabalhadores que tinham um dom – "inato" – para alcançar altíssima produtividade. Para provar esse ponto, Clark comparou a qualidade dos operários em indústrias têxteis na Inglaterra e na Índia no início do século XX. Conclusão: mesmo trabalhando em fábricas semelhantes – a Índia era colônia da Inglaterra –, os operários ingleses eram muito mais produtivos que os indianos. Para o autor, é a escassez de indivíduos adaptados cultural e geneticamente à economia de mercado que explica a pobreza de regiões como África e América do Sul. Interessante. Só falta, agora, combinar com a genética.


Uma tese perigosa
O economista Gregory Clark concedeu a seguinte entrevista a VEJA:
Mabel Feres

O crescimento econômico de um país depende da qualidade de seus cidadãos ou das instituições?Os economistas acreditam que, para um país crescer, basta dar incentivos às pessoas. Meus estudos indicam o contrário. As características da população são mais relevantes para a economia do que instituições sólidas, proteção aos direitos de propriedade e governo reduzido. Tudo isso existe há 5 000 anos em algumas partes do mundo, mas só nos últimos dois séculos a economia começou a crescer de maneira significativa. A explicação é que as atitudes e as aspirações das pessoas ainda não eram propícias. A convivência com um sistema de mercado por um longo período moldou a cultura e a genética dos indivíduos.

O que o leva a crer que este não é um fenômeno puramente cultural, mas também genético?No século XIX, por exemplo, chineses pobres foram exportados para todo o mundo. Em todos os lugares em que se estabeleceram, inclusive na América do Sul, os chineses foram bem-sucedidos. Na Malásia e nas Filipinas, eles se sobrepuseram aos cidadãos locais nas atividades de comércio. Há algo na história e no DNA de populações como a chinesa que as torna mais aptas a se destacar economicamente. Pesquisas comparando gêmeos idênticos e bivitelinos também indicam que há um componente genético para o sucesso financeiro.

A genética de uma população determina se um país será rico ou pobre?
Infelizmente, é isso mesmo. Os aborígines australianos, por exemplo, que nunca experimentaram um sistema semelhante a uma economia de mercado até a chegada dos europeus, são incapazes de competir economicamente. Também não há muita coisa que um governo possa fazer para desenvolver um país como o Brasil. Um dos mistérios do mundo moderno é saber por que, depois de algum tempo, cada grupo de imigrantes não tem a mesma proporção de indivíduos no topo, no meio e na base da sociedade. Nos Estados Unidos, há muito se tenta entender por que os negros continuam relativamente pobres, enquanto os judeus seguem bem-sucedidos socialmente. Não faltam indícios de que os indivíduos desses grupos herdaram características determinantes para o seu desempenho econômico.

Suas teses assemelham-se muito a ideologias racistas.

Outros pesquisadores vão ter de pensar nas implicações sociais das minhas conclusões. Concordo que há riscos. Coisas muito ruins foram feitas no passado em nome da genética. Ninguém discute, no entanto, que bons atletas são geneticamente diferentes da população em geral. Se essa ideia é aceitável para esportistas, por que não seria também para pessoas que se dão bem no mercado financeiro e em empresas?

Como reagir a esse determinismo?
Em genética, há apenas pequenas diferenças entre populações. Mas existe uma enorme variedade entre indivíduos. O destino está nas mãos de cada um. O fato de uma pessoa pertencer a um grupo populacional que fracassou economicamente não significa que ela vai pelo mesmo caminho. A herança genética não é o único componente para o sucesso, mas não há dúvida de que ele existe. -Matéria publicada na Veja.com, em 7 de outubro de 2009.

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Comentário:

Existem populações melhor preparadas para atingir o sucesso econômico? Existem particularidades físicas nos diversos grupos de pessoas que lhes permitam criar melhores condições de sobrevivência? O que determina a personalidade, o caráter ou mesmo a inteligência dos indivíduos? Estas são perguntas que sempre intrigaram os homens. Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos é um desafio para filósofos, psicólogos e cientistas em geral há muitos séculos. A ideia mais difundida atualmente pela comunidade científica é que o comportamento e a personalidade dos indivíduos dependem, em maior ou menor grau, de fatores genéticos e de fatores ambientais, culturais e sociais, interagindo de maneira extremamente complexa.

Antes da descoberta dos mecanismos hereditários, acreditava-se que o Homem era um produto do meio. Por meio ambiente, pretendemos especificar a educação recebida, as influências sociais, os estímulos, as experiências vividas e a cultura em que alguém esteja inserido. Posteriormente, após o monge austríaco Gregor Mendel ter descoberto os mecanismos hereditários através das suas experiências com ervilhas, a hipótese genética tornou-se a menina dos olhos dos cientistas, prevalecendo sobre as influências ambientais. A falência da hipótese geneticista isolada, que durante alguns anos os cientistas pretenderam impor como a resposta às inúmeras dúvidas, veio da existência de inúmeras exceções que impediam estabelecer um padrão rigoroso. Por exemplo, o estudo com gémeos autênticos veio demonstrar que, mesmo possuindo genes iguais, eles possuíam comportamentos e formas de pensar, por vezes, tão diferentes que impediam a aceitação da genética como única resposta a essa questão.

É inegável que os mecanismos hereditários têm um papel importante na nossa maneira de ser, isso já foi demonstrado pela ciência. Mas uma leitura deturpada dessas evidências leva muita gente a pensar que os genes determinam comportamentos, o que nos tiraria qualquer responsabilidade sobre as nossas atitudes e mesmo a liberdade de agir. Seríamos criminosos apenas porque teríamos um gene responsável por isso. Nos tornaríamos prósperos e trabalhadores porque estaríamos programados a tal. Da mesma forma aconteceria com as influências ambientais.

Meditemos na questão 846, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: “Sobre os atos da vida nenhuma influência exerce o organismo? E, se essa influência existe, não será exercida com prejuízo do livre-arbítrio? - É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria, que pode embaraçar-lhe as manifestações. Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade. Além disso, cumpre se distingam as faculdades morais das intelectuais. Tendo um homem o instinto do assassínio, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão. Semelhante ao bruto, e ainda pior do que este, se torna aquele que nulifica o seu pensamento, para só se ocupar com a matéria, pois que não cuida mais de se premunir contra o mal. Nisto é que incorre em falta, porquanto assim procede por vontade sua.”

A Doutrina Espírita acrescenta a dimensão espiritual na construção da natureza humana, reforçando a sua complexidade. Como espíritas, sabemos que somos muito mais um Espírito encarnado num corpo do que um corpo com Espírito. Reconhecemos que o Espírito é imortal e que é portador de uma bagagem interior acumulada em inúmeras encarnações, interagindo com os elementos hereditários do corpo físico recebido, mas também da educação, envolvente social e cultural para moldar e fazer emergir uma personalidade gradualmente mais sublimada. Nós somos individualidades únicas, dotadas de livre-arbítrio, com inteligência e vontade própria, construídos pela força do nosso trabalho, dedicação e empenho ao longo de inúmeras existências. Os genes e o meio ambiente, que inegavelmente têm a sua influência no nosso comportamento, apenas definem tendências, mas são as vontades individuais que, sempre, as concretizam. Essa vontade mais não é do que a expressão do Espírito, que através da sua perseverança e esforço de superação pode ultrapassar os mais variados obstáculos e dificuldades, erguendo-se diante das provas mais rudes.

Isto a propósito da hipótese que o economista Gregory Clark desenvolveu sobre o gene capitalista que associa a riqueza de um país às características genéticas predominantes na sua população. Este tipo de respostas reducionistas e simplistas a conceitos tão abrangentes, complexos e dependentes de infindáveis fatores, desde culturais, sociais, genéticos, geográficos, políticos, psicológicos, espirituais, é de uma grande ousadia. É o próprio autor quem no final da sua entrevista, desmistifica um pouco a sua teoria afirmando: “O destino está nas mãos de cada um. (…) A herança genética não é o único componente para o sucesso, mas não há dúvida de que ele existe.”

Além disso, não podemos esquecer que o progresso de um povo ou de um país não pode ser medido unicamente pela sua riqueza financeira. Em resposta à pergunta 788, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, é dito: “Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se funda na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade, morrem porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles, cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e serão o farol dos outros povos.” Na pergunta do mesmo livro, Allan Kardec questiona: “Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa? Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizado quando houveres banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização.”

Comentário por: Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net .