quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Por que os países nórdicos podem não ser tão felizes quanto pensamos

Países nórdicos como Finlândia, Noruega e Dinamarca ocupam os primeiros lugares em rankings de felicidade e bem estar.
Mas uma nova pesquisa mostra que a felicidade nos países nórdicos está longe de ser um sentimento universal. Relatório do Conselho de Ministros Nórdicos e do Instituto de Pesquisa da Felicidade de Copenhague oferece um panorama mais detalhado da vida nesses países.
O documento sugere que a reputação dos países nórdicos como "terras da felicidade" estão mascarando problemas importantes de alguns segmentos da população, especialmente dos jovens entre 16 e 24 anos.
Os pesquisadores por trás do relatório, chamado Na Sombra da Felicidade, analisaram dados coletados ao longo de cinco anos - entre 2012 e 2016 - para tentar construir uma imagem melhor das chamadas "superpotências de felicidade".
Usando questionários, os pesquisadores pediram que pessoas classificassem sua satisfação com a vida numa escala de 1 a 10. As pessoas que marcaram mais de sete foram classificadas como "prosperando", as que indicaram cinco ou seis como "batalhando", e qualquer uma que marcou menos de quatro foi enquadrada como "sofrendo".
Um total de 12,3% das pessoas responderam que estão lutando ou sofrendo, sendo que esse índice é ligeiramente maior entre os jovens. O índice só não é mais alto que o registrado entre os com mais de 80 anos, grupo que enfrenta problemas como os de saúde.
A pesquisa identificou que tanto a saúde de forma geral como a saúde mental está diretamente associada com as classificações de felicidade. O desemprego, a renda e a sociabilidade também têm peso na hora de se autodeclarar o nível de felicidade.
De forma geral, o relatório desafia o senso comum de que somos mais felizes quando somos jovens.

Saúde mental

Os pesquisadores identificaram que a saúde mental é uma das barreiras mais importantes para o bem estar individual. E esses problemas foram identificados, em especial, entre os mais jovens.
"Cada vez mais e mais jovens estão sozinhos e estressados, e têm transtornos mentais", disse um dos autores do relatório, Michael Birkjaear, ao jornal britânico The Guardian.
"Estamos vendo que essa epidemia de transtornos mentais e de solidão está chegando aos países nórdicos", assinalou.
Na Dinamarca, 18,3% das pessoas entre 16 e 24 anos indicaram que sofriam de problemas ligados à saúde mental. Esse número foi maior - 23,8% - para as mulheres nessa faixa etária.
A Noruega assistiu a um aumento de 40% no número de jovens que pedem ajuda por dificuldades relacionadas à saúde mental no período de cinco anos da pesquisa.
O relatório diz ainda que na Finlândia, classificada como o país mais feliz do mundo em 2018, o suicídio foi responsável por 35% de todas as mortes nessa faixa etária.
Os pesquisadores identificaram que, com frequência, mais mulheres que homens jovens dizem se sentir deprimidas.

Outros padrões

Os autores afirmam que nos países nórdicos os salários altos protegem as pessoas de sentir que estão sofrendo.
Também indicam que as pessoas têm três vezes mais chance de falar um número baixo para o nível de felicidade se estão desempregadas, em especial os homens - eles se mostraram mais propensos que as mulheres a reportar um problema de saúde mental se não têm trabalho.
A pesquisa mostrou ainda que a falta de contato social é um problema maior para homens que para as mulheres nórdicas.
Ainda que a pesquisa revele um lado que os rankings de felicidade não mostram, o relatório também compara a situação dos países nórdicos com dados de outras nações.
Embora 3,9% das pessoas na região nórdica tenham citado níveis classificados como "sofrimento", essa taxa em outros países é muito maior: 26,9% na Rússia e 17% na França.
Sob esse ponto de vista, as perspectivas na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia ainda são relativamente cor de rosa, mas não são tão perfeitas quanto algumas a pintaram.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 27 de agosto de 2018.

Jorge Hessen* comenta

O vocábulo felicidade deriva do latim felicitas, que vem de felix (ditoso, afortunado, feliz). Num sentido amplo é a ausência de todo o mal e vivência plena do bem. Em geral, um estado de satisfação devido à própria situação do mundo.
Desde a década de 80 do século XX há uma chamada "ciência da felicidade", e alguns pesquisadores, ainda no universo do paradigma oficial utilitarista, estão tentando criar um índice econométrico, a tal “Felicidade Interna Bruta”, capaz de medir o nível de felicidade dos cidadãos de um país. Os estudos apontam, por exemplo, que a riqueza não consolida a felicidade das pessoas no mundo desenvolvido. “Defender um crescimento econômico contínuo não é o mesmo que ter como objetivo uma sociedade mais feliz.”
Embora 3,9% das pessoas na região nórdica tenham citado níveis classificados como "sofrimento", essa taxa em outros países é muito maior: 26,9% na Rússia e 17% na França. Sob esse ponto de vista, as perspectivas na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia ainda são relativamente cor de rosa, mas não são tão perfeitas quanto algumas a pintaram.(1)
A felicidade é uma atraente sensação que experimentamos de euforia, uma percepção vivaz; todavia ela não ocorre em condições contínuas e permanentes, porquanto felicidade não é o mesmo que euforia. Alguns procuram estados eufóricos sob efeito dos fármacos psicoativos. Em verdade, se a felicidade não for simples, se ela for ornada em excesso, inchada de coisas inúteis, nesse caso não é felicidade, é apenas ilusão.
Mas, será que "pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?" Os Espíritos afirmam que "não! Por isso que a vida nos foi dada como prova ou expiação. Depende de cada um a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra".(2)
Não podemos esquecer que a Terra é um mundo atrasado sob o ponto de vista moral. Por isso, a felicidade total não se encontra aqui no orbe, todavia em mundos mais evoluídos. Em nosso planeta, a felicidade é relativa, conforme encontramos descrito no item 20 do capítulo V de "O Evangelho segundo o Espiritismo”.(3)
A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desventura de outro. Nenhuma sociedade é perfeitamente feliz, e o que julgamos ser felicidade quase sempre camufla penosos desgostos. O sofrimento está em todos os lugares. As amarguras são numerosas, porque a Terra é lugar de expiação. Quando a houvermos transformado em morada do bem e de Espíritos bons, deixaremos de ser infelizes, assim, enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar de felicidade isolada para nós mesmos.

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-45320175>, acessado em 06/09/2018;
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2000, perg. 920;
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2003, item 20, Cap. V.
* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros "eletrônicos" publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

A inspiradora mensagem de Schwarzenegger a um homem deprimido que não conseguia mais se exercitar

Uma troca de mensagens entre o ator Arnold Schwarzenegger e um homem que sofre de depressão viralizou nas redes sociais, gerando um interessante debate sobre saúde mental.
O canadense Ali, que usa o pseudônimo "u/0770059834333178", enviou uma mensagem para Schwarzenegger no site Reddit - que reúne grupos de discussão sobre diversos assuntos -, pedindo ajuda ao ex-fisiculturista.
Ele contou ao ex-governador da Califórnia que "estava deprimido há meses" e tinha parado de se exercitar.
"Estou deprimido há meses e não tenho ido à academia. Schwarzenegger, você poderia fazer o favor de me dizer para levantar esse traseiro preguiçoso e voltar a malhar? Juro por tudo que mais amo que vou me animar com isso e irei", escreveu Ali, que mora em Quebec, no Canadá.
O que ele não podia imaginar é que seu apelo teria resultado.
"Eu estava deitado na cama, me sentindo para baixo, quando decidi enviar a mensagem", disse Ali à BBC.
Mas, para sua surpresa, Schwarzenegger respondeu. E não foi com um ultimato para ele "sair logo dessa" - o conselho do ator foi para Ali "dar um passo de cada vez".
"Não vou pegar pesado com você. Por favor, não seja tão duro consigo mesmo. Todos nós enfrentamos desafios. Todos nós passamos por fracassos. Às vezes, a vida é um exercício. Mas o principal é se levantar. Apenas se mexa um pouco. Saia da cama e faça algumas flexões ou dê um passeio. Faça alguma coisa simplesmente. Um passo de cada vez, espero que você se sinta melhor e volte para a academia. Mas não se martirize, não faz sentido. Isso não te leva para mais perto da academia. E não tenha medo de pedir ajuda. Boa sorte", escreveu o ator austríaco, de 71 anos.
Para Ali, a mensagem foi "um grande incentivo".
"Pulei da cama e pensei: qual é o caminho mais rápido para chegar à academia?", conta o fã declarado de Schwarzenegger.
"Usei essa motivação e fui direto malhar, foi muito louco."
A resposta de Schwarzenegger não motivou apenas Ali, mas também outros usuários do Reddit que, após lerem a mensagem, foram encorajados a compartilhar suas histórias sobre depressão.
Ali inverteu então os papéis e começou a dar conselhos para essas pessoas, algo que para ele tem sido "a melhor parte disso tudo".
"Deixe os sentimentos ruins saírem e chore se você precisar", disse Ali a um usuário que afirma estar passando por uma crise pessoal e não frequenta a academia há dois anos.
"Reprimir as emoções é a maneira mais fácil de aprofundar a depressão. Não desista!"

Controvérsia

Mas a troca de mensagens também gerou polêmica entre alguns usuários.
Um deles disse que a resposta de Schwarzenegger parecia "cínica" e que essa não era a maneira certa de lidar com casos de depressão grave.
"É óbvio que a depressão não pode ser curada tão fácil", respondeu Ali.
"No meu caso, eu precisava de um empurrão para fazer algo que me ajuda quando me sinto deprimido", acrescentou.
Ao ver a repercussão e a quantidade de interações que sua mensagem tinha gerado, Schwarzenegger postou um vídeo em que aparece na academia, afirmando estar orgulhoso de Ali.
"Estou feliz de ver que você está incentivando outras pessoas que têm depressão, motivando e dando força a elas. Amei isso", disse o ator.
"Hasta la vista", encerra Schwarzenegger a gravação, numa referência à fala de seu personagem no filme O Exterminador do Futuro.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 15 de agosto de 2018.

Marcia Leal Jek* comenta

“Alteração do estado de humor, uma tristeza intensa, um abatimento profundo, com desinteresse pelas coisas. Tudo perde a graça, o mundo fica cinza, viver torna-se tarefa difícil, pesada, com ideias fixas e pessimistas” são, segundo o Dr. Wilson Ayub Lopes, em artigo publicado no boletim da Associação Médico-Espírita do Estado do Espírito Santo, alguns dos sintomas que caracterizam um processo depressivo. Ainda, segundo o mesmo artigo, poderíamos considerar a depressão “como uma emoção estragada. As emoções naturais devem ser passageiras, circularem normalmente, sem desequilibrar o ser. A tristeza, por exemplo, é uma emoção natural, que nos leva a entrar em contato conosco, à introspecção e à reflexão sobre nossas atitudes. Agora, quando estagnada, prolongada, acompanhada de sentimento de culpa, nos leva a depressão.
A depressão está frequentemente associada a dois sentimentos básicos: a tristeza e a culpa degenerada em remorso. Quando por algum motivo infringimos a lei natural, ao tomarmos consciência do erro cometido, temos dois caminhos a seguir:
1 – Erro > Consciência > Arrependimento > Tristeza > Reparação.
2 – Erro > Consciência > Culpa - remorso (ideia fixa) > Depressão.
O primeiro caminho é o meio natural de nosso aperfeiçoamento. Uma vez tomando consciência de nossas imperfeições e erros cometidos, empreendemos o processo de regeneração através de lições reparadoras.
De outra maneira, ao invés de nos motivarmos a nos recuperarmos, nós nos abatemos, com sentimento de desvalia, de autopunição, e se permanecermos atrelados ao passado de erros, com ideias fixas e auto-obsessivas, nós estaremos caminhando para o estado de depressão, que é improdutivo no sentido de nossa evolução”.
Outra condição que nos leva à depressão é citada pelo Espírito François de Geneve, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo V - item 25 (A Melancolia), onde relata que uma das causas da tristeza que se apodera de nossos corações, fazendo com que achemos a vida amarga é quando o Espírito aspira a liberdade e a felicidade da vida espiritual, mas, vendo-se preso ao corpo, se frustra, cai no desencorajamento e transmite para o corpo apatia e abatimento, se sentindo infeliz.
Para François de Geneve, então, a causa inicial é esta ânsia frustrada de felicidade, liberdade almejada pelo espírito encarnado, acrescido das atribulações da vida com suas dificuldades de relacionamento interpessoal, intensificada pelas influências negativas de espíritos encarnados e desencarnados.
Outro fator que está determinando esta incidência alarmante de depressão nos nossos dias é o isolamento, a insegurança e o medo, que são acometidas às pessoas na sociedade contemporânea.
O depressivo, em regra, é alguém que traz a mente fixada no passado triste e sombrio, comprazendo-se em recordar as situações que mais o afligiram.
A Doutrina dos Espíritos nos ensina que somos Espíritos imortais, criados por Deus para a felicidade e a perfeição. Essa felicidade será conquistada passo a passo, mediante esforço pessoal para autossuperação, de modo que desabrochem em nós valores sublimados até alcançarmos a felicidade que nos está destinada. Seguimos nesta direção através de várias reencarnações, em que nos aprimoramos, avançando rumo à plenitude. A cada nova experiência no corpo físico trazemos impresso em nosso corpo espiritual a soma das experiências vivenciadas, que se manifestam em nós em forma de virtudes, aptidões, tendências, limitações a serem superadas. São as provas e expiações a que somos submetidos ao longo da existência.
Para o nosso progresso, é da Lei Divina que cada ser viva o resultado de suas próprias escolhas e ações, na mesma existência ou em outras, não escapando nunca às consequências de suas faltas. Allan Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, nos esclarece que “os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. (...) Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto, não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, itens 5-7.)
Sem perceber, nos entregamos (com facilidade) aos sentimentos nocivos e desequilibrantes que nos atingem e temos, por isso, atitudes que nem nós mesmos conseguimos entender ou aprovar. Provocam a autopunição, deixando que os piores sentimentos nos controlem e causem mais conflitos e problemas em nossa consciência que, por sua vez, abre-se para distúrbios psíquicos como depressão, compulsão, pânico, irritação nervosa, doenças, tristezas, descontentamento com tudo na vida, dentre tantos outros sentimentos. Assim, os desafios existenciais surgem exatamente para promover nosso progresso.
Todos nós passamos por momentos difíceis, por problemas. E eles aparecem em nossas vidas para que aprendamos a crescer, deixemos florescer as virtudes que ainda dormem em nós. É o medicamento amargo, que precisamos sorver, para curar nossa alma.
No mesmo livro acima (Cap. V, item 18), lemos:
“Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, pois o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.”
É preciso coragem para mudar, sair do mundo de lamentações para o mundo de realizações positivas que nos deixará melhores e mais realizados. Somente querendo mudar a nós mesmos e lutando contra nossas más inclinações é que percebemos que os percalços da existência são experiências necessárias e valiosas que os outros não podem viver por nós.
E essa coragem veio para o canadense Ali quando enviou uma mensagem para Schwarzenegger.
Mesmo pedindo ajuda somos donos do nosso destino, pois o Pai, quando nos criou, nos deu o livre-arbítrio, deixando em nossas mãos a escolha do caminho a seguir. Qualquer outra pessoa só poderá nos mostrar o rumo, nos orientar, como fez Schwarzenegger, mas a caminhada é nossa e a decisão deve ser sempre pessoal.
* Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Estudo pioneiro explica o que acontece com o cérebro no exato momento em que morremos

O que se passa em nossa cabeça no momento da morte?
Não se sabe exatamente e, embora os cientistas tenham alguma ideia, a resposta continua sendo um grande mistério. Além de difícil solução, tentar respondê-la pode criar implicações éticas.
No entanto, uma equipe de cientistas da Universidade Charitée, em Berlim, e também da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, encontraram uma maneira de realizar um pioneiro estudo sobre a neurobiologia da morte. A pesquisa foi liderada pelo cientista Jens Dreier.
O título da pesquisa foi "Despolarização da difusão terminal e silêncio elétrico na morte do córtex cerebral humano". Para realizá-la, os cientistas precisaram do consentimento dos parentes de vários pacientes terminais. O estudo exigia um monitoramento neural considerado invasivo.
Os pacientes tinham sofrido terríveis acidentes de trânsito, acidentes vasculares cerebrais ou paradas cardíacas. Ou seja, nesses casos, não havia mais como salvá-los, segundo os pesquisadores.
Ao trabalhar com essas pessoas, os cientistas descobriram que os cérebros dos animais e dos seres humanos morrem de uma maneira parecida. Eles agora dizem que também existe um exíguo momento em que o funcionamento do cérebro pode ser restaurado, ao menos de forma hipotética.
O objetivo do estudo não era apenas observar os últimos momentos de um cérebro, mas também compreender como seria possível salvar vidas no futuro.

Cérebros de animais

Grande parte do que até então se sabia sobre a morte cerebral era produto de experimentos com animais, realizados no século passado.
Até então, o que se conhecia era o seguinte:
O cérebro é privado de oxigênio quando o sistema cardiovascular do corpo para de funcionar.
Ocorre uma condição conhecida como isquemia cerebral, na qual a falta de componentes químicos leva a uma 'inatividade elétrica completa' no cérebro.
Acredita-se que o chamado 'silenciamento cerebral' ocorre para que os neurônios conservem sua energia, mas isso acontece em vão, pois a morte total chega antes de uma reabilitação.
Todos os íons importantes escapam das células cerebrais, já que os suprimentos de adenosina trifosfato, composto que armazena e transporta energia em todo o corpo, estão esgotados.
A recuperação do tecido torna-se impossível.
"A lesão total e irreversível dessas células se desenvolve em menos de dez minutos quando a circulação cessa completamente", explica um dos cientistas no estudo.

Cérebro humano

A equipe de pesquisadores queria ter mais detalhes sobre o que acontece com o cérebro dos humanos, algo que ainda estava cheio de enigmas.
Para isso, à medida que o paciente terminal piorava, os cientistas monitoraram sua atividade neurológica usando dezenas de eletrodos.
Em primeiro lugar, em oito dos dez pacientes, os pesquisadores detectaram o movimento de células cerebrais que tentavam impedir o inevitável, ou seja, a morte que já se avizinhava.
De maneira geral, os neurônios funcionam com íons carregados, o que cria desequilíbrios elétricos entre eles e seu ambiente - isso permite que pequenos choques, ou sinais, sejam criados. Para os autores do estudo, a manutenção desse sistema fica mais difícil quando a morte está chegando.
Para se alimentar, essas células "bebem" oxigênio e energia química da corrente sanguínea. Quando o corpo morre e o fluxo de sangue que chega ao cérebro para, os neurônios - privados de oxigênio - tentam uma de suas últimas saídas: acumular os recursos que sobraram, dizem os pesquisadores.
Enviar sinais de um lado para o outro, como normalmente ocorre, acaba se tornando um desperdício nos últimos momentos da vida. Portanto, os neurônios se "calam" e, em vez de enviar sinais, usam suas reservas de energia para manter cargas elétricas internas, esperando o retorno de um fluxo de sangue que nunca virá.
Esse fenômeno foi chamado de "depressão não dispersa", pois ele ocorre simultaneamente em todo o cérebro.
Depois, o que se segue é a fase da "despolarização da difusão", conhecida como "tsunami cerebral". Ocorre uma grande liberação de energia térmica, porque o equilíbrio eletroquímico que mantinha as células vivas entram em colapso - esse "tsunami" leva à intoxicação e destruição das células.
Todas essas reações foram observadas pelos cientistas nos pacientes terminais. E à medida que os níveis de oxigênio caíam, a atividade elétrica também silenciava em todo o cérebro.
É então que a morte chega.
No entanto, o estudo revelou que, no futuro, todo esse processo pode não ser tão inevitável como é agora.
"A despolarização expansiva marca o início das mudanças celulares tóxicas que eventualmente levam à morte, mas não é o ponto chave da morte por si só, pois essa despolarização é reversível até certo ponto, com a restauração do suprimento de energia", disse o principal autor do estudo, Jens Dreier, do Centro de Pesquisas de Acidentes Cardiovasculares da Universidade Charité, de Berlim.
Os dados obtidos pelo estudo, publicados pela revista científica Annals of Neurology, apontam que a ressurreição celular continua sendo possível. Porém, novas pesquisas devem ser feitas até que isso seja possível.
Como Dreier assinala, "a morte é um fenômeno complexo" para o qual "não há respostas fáceis."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 11 de março de 2018.

Elton Rodrigues* comenta

O que acontece com o cérebro no momento da morte?
Em um dos seus principais livros, Fredrich Myers inicia a introdução com uma verdade insofismável a respeito da omissão dos homens diante de uma das questões mais importantes para todos os seres:
“Na longa história dos esforços do homem para compreender a sua própria natureza e assenhorear-se do seu destino, existe uma lacuna ou omissão singular que, mesmo se mais tarde tentássemos explicá-la, sua mera constatação teria sempre o ar de um paradoxo. Isto é tão verdadeiro que o homem nunca sonhou aplicar aos problemas que o interessam de modo mais íntimo os mesmos métodos de investigação que com eficácia aplicou a todos os demais problemas.
A questão que mais importa ao homem é a de saber se ele possui ou não uma alma imortal ou, para evitar a palavra imortal, que pertence ao domínio do infinito, se a sua personalidade implica algum elemento suscetível de sobreviver à morte corporal. Os terrores mais graves, as esperanças mais elevadas que tenham oprimido ou estimulado os espíritos humanos sempre estiveram ligados a essa questão.” (MYERS, p. 1, 2001)
Ainda hoje, mesmo com tantos avanços nas pesquisas científicas, com seus métodos e aparelhagem, avançamos poucos passos em direção a uma pesquisa mais profunda acerca dessas questões primeiras. A maioria desses estudos e reflexões são realizados em núcleos espiritualistas, sem métodos estruturados, na maioria das vezes, onde poderiam auxiliar em uma compreensão mais límpida destas questões tão importantes: O que somos? De onde viemos? Para onde vamos?
Por outro lado, já existem inúmeros corajosos pesquisadores desenvolvendo suas pesquisas dentro das próprias universidades. Alguns se utilizam de verdades materialistas, visando explicações para a vida e a morte. Outros, acrescentando a importância da alma como mantenedora dos seres e que sobrevive à morte do corpo, realizam um contraponto entre as explicações materialistas da ciência tradicional e as bases espíritas, se este for o caso.
Mais importante do que identificar as premissas utilizadas pelos pesquisadores, se este estiver movido por um sentimento verdadeiro de busca sincera à verdade, à lei que rege os seres, não devemos admirá-lo por seus esforços? Então, vemos assim, cientistas, pesquisadores, materialistas ou não, se estiverem movidos por algo que sentem no âmago do ser, aquele impulso que parte da alma – mesmo alguns não acreditando que exista – buscam à Deus. Buscam responder as questões aventadas por todos os povos em todas as épocas da humanidade. E é por isso que devemos respeitar a todos. Pois todos estamos em busca e no mesmo esforço pelo entendimento das leis da natureza que, nada mais são do que as leis de Deus.
Talvez movidos por esse sentimento de compreender um pouco mais sobre o que é a vida, um grupo de pesquisadores da Universidade de Charitée, em Berlim, e da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, realizaram um estudo pioneiro a respeito da neurobiologia da morte.
Os pesquisadores monitoraram diversos pacientes terminais. Para pesquisa deste tipo, os familiares devem aprovar a realização do procedimento. Os pacientes tinham sofrido acidentes graves de trânsito, acidentes vasculares cerebrais ou paradas cardíacas sem chance de salvá-los, segundo os pesquisadores.
Os cientistas descobriram que os cérebros dos animais e dos seres humanos morrem de maneira similar. Agora, a partir dessa pesquisa, eles afirmam que existe um momento, um limite onde o cérebro pode ser restaurado.
O objetivo do estudo não era apenas para observar o que acontecia com o cérebro no momento da morte, mas também compreender como seria possível salvar vidas no futuro.
A equipe de pesquisadores, segundo a reportagem da BBC, queria ter mais detalhes sobre o que acontece com o cérebro dos humanos, algo que ainda estava cheio de enigmas.
Essa pesquisa nos remete a um caso muito interessante registrado em um dos livros do espírito André Luiz. No livro Obreiros da Vida Eterna, no capítulo XIII, André acompanha o desencarne do companheiro Dimas. Indicamos a leitura do capítulo inteiro, mas, por limitações de espaço, iremos abordar apenas os pontos mais importantes para as nossas reflexões em torno do assunto abordado. Depois de diversos preparativos, André pergunta ao orientador Jerônimo, responsável pelo desligamento de Dimas de seu corpo físico, por onde iriam começar. Ou seja, por onde iriam iniciar o desligamento entre espírito e corpo físico. E Jerônimo responde:
“Segundo você sabe, há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por excelência, situado no cérebro.” (LUIZ, p. 210, 1983)
E André continua seu relato:
“Aconselhando-me cautela na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas.
(...) reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente.” (LUIZ, p. 211, 1983)
Os pesquisadores detectaram, à medida que o paciente terminal piorava, o movimento de células cerebrais que tentavam impedir o inevitável, ou seja a morte que se aproximava.
Encontramos informação similar na Obra de André Luiz:
“O que mais impressionava, porém, era a movimentação da fauna microscópica. Corpúsculos das mais variadas espécies nadavam nos líquidos acumulados (...)” (LUIZ, p. 205, 1983)
Os neurônios funcionam com íons carregados, o que cria desequilíbrios elétricos, permitindo pequenos choques, ou sinais. Para os autores do estudo, a manutenção desse sistema fica mais difícil quando a morte está chegando.
André, ainda na obra citada, comenta:
“Em primeiro lugar, insensibilizou inteiramente o vago, para facilitar o desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou todo o sistema nervoso simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras inibidoras no cérebro.” (LUIZ, p. 209, 1983)
Os neurônios utilizam o oxigênio e os nutrientes da corrente sanguínea para realizarem suas funções. Porém, quando o corpo morre, os neurônios ficam privados de oxigênio, e acabam acumulando os poucos recursos que ainda têm – pois enviar sinais, neste momento, é desperdício de energia -, aguardando o retorno do fluxo de sangue que nunca voltará.
Depois deste momento há uma grande liberação de energia térmica, porque o equilíbrio eletroquímico que mantinham as células vivas entra em colapso. Já na visão espiritual do processo, temos:
“(...) Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instantaneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada.” (LUIZ, p. 2011, 1983)
É então que a morte chega.
Há ainda um laço sutil entre corpo físico e espírito, mas que será desligado aos poucos.
Como um dos pesquisadores afirma, “a morte é um fenômeno complexo”. E acrescentamos que ela só seria completamente compreendida quando ciência tradicional se aproximar de uma visão mais completa do que é vida, onde homem é corpo e alma e não apenas uma máquina biológica.

Bibliografia:

- MYERS, Fredrich W. H., Human Personality and Its Survival of Bodily Death, 2001, Hampton Roads Publishing Company;
- LUIZ, André (espírito), Obreiros da Vida Eterna, psicografia de Francisco Cândido Xavier, 1983, FEB.
* Elton Rodrigues é espírita há mais de 10 anos e participa de trabalhos em torno da divulgação da doutrina espírita. Em 2017 fundou a Associação de Física e Espiritismo da Cidade do Rio de Janeiro (AFE-RIO) e a revista O Fóton

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domingo, 9 de setembro de 2018

Espiritismo Hoje - PGM 002 - Vinícius Lara


14 coisas que os voluntários do CVV gostariam de te dizer


14 coisas que os voluntários do CVV gostariam de te dizer

Ouvir pode ser mais importante do que aconselhar.

Davi Rocha
Equipe BuzzFeed, Brasil

CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece atendimento gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio. De acordo com o site da associação, são cerca de 1 milhão de pessoas atendidas por voluntários todo ano.

Nas últimas semanas, o número de atendimentos cresceu 445% após a série "13 Reasons Why", em que a personagem principal se suicida e deixa 13 fitas para cada motivo de seu suicídio.

Perguntamos a voluntários do CVV como funcionam os atendimentos e o que mais eles gostariam de dizer sobre o trabalho no centro. Todas as respostas são anônimas e as melhores estão neste post.

1. No CVV todo mundo é voluntário. E cada atendente trabalha cerca de 4 horas por semana, mas há quem trabalhe mais que isso.

2. Nos atendimentos o anonimato é sempre garantido.

3. Os voluntários não têm qualquer tipo de contato com quem liga a não ser o próprio atendimento.

Ele se restringe ao contato feito no momento do plantão. Não há conversa depois, troca de perfis de redes sociais ou números de telefone.

4. Muitas pessoas que procuram o CCV estão cercadas de gente e, mesmo assim, se sentem sozinhas.

"Aprendo sempre com os atendimentos que faço, e me impressiona sempre a pessoa estar cercada de pessoas e se sentir só. A ajuda que oferecemos é compreensão pelo que a pessoa está sentindo e passando. Tento sempre ajudar compreendendo o mundo da pessoa e a situação que ela vive", disse ao BuzzFeed Brasil um dos voluntários.

5. E muitas pessoas falam, sim, claramente que vão se matar.

"Atendimentos em que a pessoa liga e fala claramente que vai se matar sempre marcam. Nesse momento a gente respira fundo e calmamente e inicia uma longa conversa sobre a vida dela, sobre como ela se sente e como tem sido lidar com a dor que ela tem."

6. Mas algumas ligam porque sofrem de solidão ou procuram alguém para compartilhar o que acontece no dia. Os atendentes compartilharam com a gente alguns dos casos mais marcantes para eles:

"Um atendimento marcante foi de uma pessoa idosa que morava sozinha e se sentia extremamente só. Ela ligou para ouvir um simples 'boa noite' de alguém, como se fosse só para se sentir viva. Depois acabou conversando um pouco".

"A ligação que mais me marcou foi da pessoa que ligou, pegou um violão e queria mostrar as músicas que compôs".

"Uma pessoa falou que estava em um hospital com uma doença em estado avançado e queria alguém para compartilhar seu momento".

"A ligação que mais me marcou foi de uma pessoa que pela primeira vez fez um bolo que deu certo, mas que teria que comer sozinha porque não tinha com quem dividir".

7. As ligações podem ser silenciosas.

"As ligações silenciosas são as que mais marcam, pois desta forma trabalhamos também nossa ansiedade como voluntário. Ajudo acolhendo, aceitando, respeitando e compreendendo a dor".

8. Ouvir pode ser mais importante do que aconselhar.

"Uma coisa muito importante que aprendi no CVV, e que trago para a minha vida, é não aconselhar. Cada um tem uma história, criação e maneira de enxergar o mundo que é muito própria. Não me sinto em condições de dar algum conselho, pois minha visão a respeito do assunto sempre será limitada. Além do mais, o que é bom para mim não necessariamente será bom para o outro. O que posso fazer é acolhê-lo, ouvi-lo, respeitá-lo, para que, ao falar e reduzir a pressão, ele mesmo se ouça e tire suas próprias conclusões".

9. A maioria dos casos está relacionada a perdas (saúde, dinheiro, emprego, amigos, parceiros).

"Em todos as situações me coloco à disposição para conversarmos. O objetivo é criar um clima favorável para que a pessoa desabafe, aliviando aquele sofrimento agudo do momento, com respeito, atenção, sem subvalorizar o seu sofrimento, de maneira que ela possa tomar as decisões que julgar melhores para seguir adiante".

10. Às vezes as pessoas ligam por engano, mas aproveitam para desabafar.

"As ligações mais marcantes são das pessoas que ligam por engano, descobrem que ligaram para o CVV sem querer e aí começam a desabafar".

11. Nem sempre as pessoas que ligam pensam em suicídio: às vezes elas só estão nervosas.

"Uma pessoa ligou 'por engano' para nós querendo atendimento para um acidente de transito que havia sofrido, e com o acolhimento pôde desabafar e se acalmar com o ocorrido".

12. Tem gente que pede para fingir situações.

"Uma vez uma pessoa pediu para ser atendida como se estivéssemos sentados em um bar, jogando conversa fora. Foi o jeito que ela encontrou de se sentir mais à vontade".

13. Uma conversa realmente pode evitar que uma pessoa tire a própria vida.

"Era madrugada e um jovem disse que estava pensando em suicidar-se, por isso ligou. Eu atendi com respeito e ouvi suas lamentações. Foi o suficiente para ele desligasse já não pensando mais em suicídio."

14. Os voluntários se sentem muito gratos pela confiança que as pessoas aprendem a lhes dar.

"Eu me sinto agradecida a cada pessoa que liga para compartilhar comigo um pouco de sua história. Sou grata pela confiança que o outro deposita em mim, quando percebe que pode ser ele mesmo, que pode falar sobre tudo aquilo que é importante para ele, sem medo, vergonha ou uso de máscaras".

Se você tem vontade ou necessidade de conversar com alguém, ligue para o CVV no número 188 ou entre no site www.cvv.org.br via chat, VoIP (Skype) e e-mail.


(Fonte: https://www.buzzfeed.com/davirocha/coisas-que-os-voluntarios-do-cvv-gostariam-de-te-dizer)