Livro em
estudo: Grilhões Partidos – Editora LEAL - 1974
Autor:
Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
B010 – Capítulo 7 – Advertência
e Esclarecimento
Capítulo 7
Advertência e Esclarecimento
Pergunta: 459. “Influem os Espíritos
em nossos pensamentos e em nossos atos?»
Resposta: “Muito mais do que
imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinário são eles que vos dirigem.”
Pergunta: 465. “Com que fim os
Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?»
Resposta: “Para que sofrais como eles
sofrem.”
“O LIVRO
DOS ESPÍRITOS” — Parte 2ª — Capítulo 9º.
A entrevista mantida pelo Coronel
Santamaria com o diretor da Casa de Saúde deixara no esculápio as vibrações da
cóleramal contida. Incontinente, Rosângela foi convidada à Administração e
compreendeu que chegava o instante decisivo para a sua fé
O psiquiatra não se deu à gentileza
de mandá-la sentar-se. Olhando-a com rispidez, ardil de que se utiliza a
fraqueza para disfarçar a falta de valor, foi incisivo:
— O Coronel
Constâncio Santamaria acaba de deixar este gabinete, após apresentar grave
acusação ao seu comportamento.
A moça estava lívida, não obstante,
serena.
O chefe, levantando-se, enfrentou-lhe
o olhar tranqüilo e prosseguiu, fuzilante:
- Como se atreve transformar esta
Casa num deplorável sítio de práticas ignominiosas, nigromânticas?
— Deve haver
um engano, doutor. — Retrucou, surpresa.
— Não me
interrompa. — Revidou, colérico. — Não esqueça sua função e resttinja-se a ela.
Aliás, você aqui se encontra em período experimental e a sua falta é condição
para despedi-la, pura e simplesmente.
— Solícito
melhores esclarecimentos. — Justificou a auxiliar.
— A
senhorita é acusada de práticas de magia ao lado de uma paciente, a filha do
Sr. Coronel. Que tem a dizer?
— Que a
informação é falsa e a acusação, portanto, injusta.
Rosângela estava socorrida pela
inspiração de que se fazia credora, ante a trama nefasta da sordidez humana e
da ardilosidade dos comparsas do mal, desencarnados.
— Então, deseja
dizer que o Coronel está mentindo? Ë louca?
— Em
absoluto, não digo isto. Assevero que jamais me afeiçoei a qualquer prática
desabonadora à minha dignidade, muito menos em relação a magias, que desconheço
inteiramente.
— No
entanto, é metida em Espiritismo, filiada a esse círculo de loucos
desnaturados?
— O dr. está
equivocado. Sou espiritista, sim, aliás, com imensa honra, o que é
perfeitamente permitido pelas leis do país, constituindo uma admirável
filosofia de vida e religião consoladora. Quanto à alegação de que o
Espiritismo e um circulo de loucos”, desejava indagar ao senhor diretor qual a
religião que professam os internados nesta Casa? Não me consta que a jovem
Ester jamais houvesse freqüentado uma Casa Espírita, o que, talvez, se ocorresse,
lhe teria evitado a tragédia em que sucumbe, a pouco e pouco.
— Além de
desequilibrada é atrevida!
— Desculpe,
doutor. Sou convicta da fé que esposo e minha conduta é irrepreensível. Se os
meus serviços não servem a este Nosocômio, não há porque transformá-los em
problema; porém, não me cabe silenciar diante da acusação improcedente. Confio
em Deus e sei que o senhor é portador de excelentes dotes do sentimento, do
caráter, da razão.
Havia nobreza e coragem nas
afirmações da jovem. Colhido de surpresa pela argumentação da auxiliar, o
diretor administrativo sentou-se, desenovelando-se dos fluídos mefíticos que
lhe obliteravam o discernimento e asserenou-se.
O doutor Nilton Silva era homem
judicioso. Dedicado à direcão da Casa, não se transformara num mercador da
saúde. Possuía sempre um recurso para dispensar aos enfermos e descobria uma
“vaga” para os casos de emergência. Aplicava a psicoterapia do sorriso e do
bom-humor, fazendo-se amar por todos: funcionários, serviçais, colegas,
enfermeiros...
Naquela manhã, no entanto, atritara
no lar, experimentando singular aborrecimento, que aumentara com a visita do
Coronel Santa-maria: sua primeira entrevista do dia.
Não era religioso, e isso exibia com
orgulho. No entanto, erá cortês, gentil homem. Fora vítima do cerco das
Entidades infelizes que se compraziam na cobrança à família do Coronel e se
desforçavam em Ester.
Não era a primeira vez, como de fácil
entendimento, estando ele em função relevante. O mesmo ocorria a outros colegas
que nem sempre suportavam as constrições, sucumbindo, desastrosamente.
Olhou, então a moçoila frágil à sua
frente, dependente do trabalho honrado, que conseguira fazer-se estimar em
pouco tempo por quantos privavam da sua companhia. Como a desculpar-se,
esclareceu:
— O Coronel
proíbe-a de acercar-se da filha. Quer dar-me a sua versão do caso?
— Serei
sucinta — esclareceu, Rosângela. — Afeiçoei-me a Ester desde que a vi. Aliás,
dedico-me ao trabalho com carinho e sou partidária da teoria de que o amor
muito consegue, quando falham outros recursos. Após observá-la, demoradamente,
considerando as lições do Espiritismo, no capítulo das obsessões, resolvi, com
permissão do doutor Gilvan de Albuquerque, o meu benfeitor, do senhor
conhecido, solicitar uma entrevista ao senhor Coronel, dando-lhe minhas
desvaliosas, porém honestas impressões sobre o problema psíquico da filha.
Sequer não me ouviu, impedindo-me, de certo modo, concluir o desejo de
sugerir-lhe a terapêutica espírita, simultaneamente à que vem sendo tentada
neste respeitável Frenocômio.
— E qual
seria? — Interrompeu-a, algo zombeteiro.
— Freqüência,
dele e da senhora, a uma Sociedade Espírita, ajudando a filha com orações, e, a
posteriori, com labores desobsessivos.
— E crê,
você, realmente, em orações, em “labores desobsessivos”? — Rosnou, sorrindo,
largamente.
— Sem
dúvida. — Anuiu, imperturbável — Não apenas creio, como sou testemunha dos seus
resultados surpreendentes.
— Junto a
nevropatas — arengou, perspicaz, escarnecedor, — sugestionados, “místicos”!?
— Não
somente com esses — refutou, gentil — muitos dos quais nada houveram conseguido
em tratamentos longos, quão inócuos, porqüanto a sua enfermidade não procedia
exclusivamente da psiquê, mas do Espírito, doente em si mesmo, quando não
perturbado por outros Espíritos... Outros pacientes, desenganados, portadores
de diagnose depressiva, esquizofrênica, recuperaram a lucidez, ante os meus
olhos, por serem, realmente, obsessos em trânsito provacional.
— Minha
jovem, não esqueça que sou ateu e psiquiatra —arremeteu, finalista. — Linda
ilusão, essa, porém irracional, improvável. Como provar?
— Mui
facilmente — contestou, confiante — freqüentando as boas Casas Espíritas..
— E as há de
má qualidade? — interceptou-a.
- Sim — confirmou —, como os maus
médicos, os incompetentes, os aventureiros, os maus servidores que estão em
todo lugar; assim como as péssimas Organizações que triunfam em muita parte,
porqüanto, onde predomina o homem, aí se fazem presentes as suas manifestações
morais, poucas vezes salutares.
— Mas, se
não creio em Deus e considero toda essa gente uns psicopatas perigosos?
— Não crer
em Deus é mau para o Sr., uma vez que não aceita uma realidade, tal não lhe
modifica a estrutura... Quanto à consideração final, se não me engano, até há
pouco os partidários da “Escola fisiológica” agrediam rudemente os profitentes
da “psicológica”... Não vão longe os dias em que Pasteur, Broca, Hughlings
Jackson e outros eram tidos por loucos, inclusive o eminente Pinel... Sábios e
cientistas de todas as épocas não se puderam libertar da alcunha, pois é muito
mais fácil atacar o que se ignora do que estudá-lo, azucrinar os trabalhadores,
do que fazer-lhes as tarefas, perseguir os idealistas, do que erguer-se do
comodismo, a fim de ultrapassá-los... Não, o doutor, com sua licença, não está bem
informado. As caóticas opiniões que lhe chegaram são defeituosas, resultado do
preconceito e da má-vontade. Com a permissão do dr. Gilvan, estou autorizada a
franquear-lhe aquele lar para observações...
— Muito
obrigado, sou-lhe reconhecido. Estou satisfeito com o meu modo de encarar a
vida e os fatos. Encerremos esta entrevista que se alonga. Por favor, reserve
suas opiniões para si mesma, e não se aproxime da jovem Ester. Não é boa
medida?
— Perfeitamente,
doutor. Posso retirar-me?
— À vontade.
Rosângela afastou-se e o
médico-diretor, surpreso com o que ouvira, mergulhou em graves meditações.
Afinal, eram lógicas as palavras da jovem e pontificadas por muita vivacidade.
Dava a impressão de possuir cultura.
As forças do Bem venciam o tentame e
o rio da misericórdia divina conduzia o seu curso na direção da subjugada.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 – Quem era o Dr. Nilton Silva e como ele julgava o Espiritismo?
2 – O que Rosângela propunha para o tratamento de Estert?
3 – Por que encontramos pessoas que julgam o Espiritismo como o Dr.
Nilton Silva e o Coronel Santamaria? Que podemos fazer para modificar este
julgamento?
Bom estudo
a todos!!
Equipe
Manoel Philomeno