quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Espiritismo Hoje - PGM 020 - Família - Hélio Washington


Em caso raro, gêmeas nascem com três dias de diferença, em Francisco Beltrão

Rebeca nasceu no dia 31 de dezembro; já Martina, veio ao mundo no dia 3 de janeiro; ambas nasceram de parto normal.

Por Michelli Arenza, G1 PR e RPC Foz do Iguaçu

Caso raro na medicina, as gêmeas Rebeca e Martina nasceram com três dias de diferença. A primeira veio ao mundo no dia 31 de dezembro, a segunda, na tarde de quinta-feira (3). Ambas nasceram de parto normal.
Segundo a mãe, Fernanda Cerrzolli de Oliveira, de 36 anos, as duas estavam sendo esperadas para o fim de janeiro. Ela e o marido, o pastor Willian Alfred de Oliveira, já têm uma filha, Gabriela, de oito anos.
“A bolsa estourou quatro horas da manhã. Estava meio dormindo ainda, não sabia o que fazer. Pegamos todas as coisas e corremos para o hospital”, conta o pai.
Rebeca nasceu de parto normal, com 2,07 kg e 42 centímetros, no Hospital Regional de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná.
Prematura de 33 semanas – o ideal é que os nascimentos ocorram com 40 semanas de gestação –, ela foi levada para a incubadora da UTI neonatal.
"É muito comum a gente ter um parto de gemilar e, em seguida, após alguns minutos até meia hora, 40 minutos, uma hora, ter o nascimento do outro nenêm. A gente aguardou esse tempo e esse bebê não vinha, esse bebê não vinha, e a gente optou por não intervir", disse a médica responsável, a pediatra Fernanda Perotta Consentino.
A mãe foi mantida na sala de parto por mais algumas horas aguardando que a outra filha nascesse.
Nestes casos, normalmente os médicos decidem por uma cesariana, mas a pediatra Fernanda Perotta Consentino tomou outra decisão. Cada dia na barriga da mãe era importante para Martina, mas também um risco de infecção.

Gêmeas idênticas

Manter Martina na barriga da mãe só foi possível por conta de como as duas bebês, que são idênticas, se formaram.
Quando Fernanda engravidou, o mesmo óvulo fecundado se dividiu em dois e, apesar de ocuparem a mesma placenta, elas estavam em bolsas separadas. Por isso, quando uma nasceu a outra pôde ficar um pouco mais na barriga da mãe.
“A gente fez ultrassom, viu que ela tinha virado, já tinha ‘madurado’, então era hora de dar um empurrãozinho para nascer”, comentou o médico Rubens Schir.
O parto foi induzido e não demorou meia hora para Martina nascer, também de parto normal. Graças aos dias a mais na barriga da mãe, ela não precisou ficar na UTI neonatal.
"Quando eu chegava perto lá da incubadora, a Martina começava a mexer muito. Ela mexia demais, assim, sabe? Parecia que as duas queriam se comunicar ali. Bem interessante", relembra a mãe das gêmeas.
A mãe teve uma complicação comum em partos de prematuros: a placenta grudou no útero e ela precisou passar por uma cirurgia, mas já está bem.
As filhas também devem ficar mais algum tempo se recuperando no hospital.
“Foi inusitado, bem diferente do que imaginou e até do que a gente sonhou”, comentou o pai. “Na escola é que vai ser complicado para elas explicarem para os colegas que, mesmo gêmeas, elas nasceram em dias e anos diferentes”, completou.
Notícia publicada no Portal G1, em 4 de janeiro de 2019.

Jorge Hessen* comenta

A concepção de um novo filho no seio familiar possibilita o reencontro de espíritos que trazem em comum as boas experiências de vidas anteriores. Reaproximação que começa na programação pré-existencial reencarnatória, esquematizada nas instituições espirituais. Se sucederem filhos gêmeos idênticos, serão situações especiais que despertarão a maior atenção dos pais.
Várias teorias já foram sugeridas para explicar os mecanismos determinantes da gemelaridade idêntica. Fatores ambientais e genéticos foram descritos como predisponentes a essa circunstância obstétrica. Todavia existem causas mais transcendentes. Os gêmeos univitelinos (idênticos) renascem com a semelhança física e suas células são geneticamente iguais. Têm mesma alimentação e os mesmos cuidados. Convivem sob as mesmas influências magnéticas e impressões mentais do meio ambiente. Possuem um cérebro com idênticas possibilidades biológicas e potenciais bioquímicas. Contudo, quase sempre esses gêmeos seguem condutas diferentes.
Frequentemente os gêmeos idênticos são espíritos que têm forte afinidade. Porém, às vezes, não! O mecanismo das múltiplas vidas consegue elucidar as ocasionais diferenças entre dois espíritos física e geneticamente semelhantes, pois os gêmeos univitelinos, conquanto genética e fisiologicamente tenham as mesmas vulnerabilidades e potencialidades orgânicas, são espiritualmente cada qual absolutamente ÚNICOS no Universo. Não se pode explicar apenas pelas influências do meio gestacional, educativo ou fatores genéticos, as diferenças comportamentais que quase sempre eles apresentam.
Do ponto de vista reencarnacionista, identificaremos que os gêmeos univitelinos (ou não) trazem um acervo moral e intelectual dessemelhantes das vivências antecedentes. Cada qual experimentou circunstâncias que registraram em sua organização psicossomática com tendências intelecto-morais categoricamente particulares. Podem ocorrer que tais gêmeos fiquem interligados emocionalmente durante a vida, mesmo que sejam psiquicamente diferentes, ao ponto de captar as oscilações de aflição e desgosto do outro.
Seguramente, as experiências em comum de vidas antecedentes que os mantinham reciprocamente conectados, interrompidas na gestação, comportam a instantânea e fina sintonia mento-magnética entre os dois, motivo pelo qual percebem, eventualmente, as ocorrências difíceis que o outro experimenta. A semelhança de caráter que muitas vezes existe entre dois irmãos, mormente se gêmeos, decorre da simpatia que os aproximam por analogia de sentimentos e os fazem felizes por estarem juntos. Kardec comenta que “em muitos casos, os irmãos gêmeos são Espíritos simpáticos, que se unem por analogia de sentimentos, porém, nem todos são assim. Pode acontecer o contrário: serem Espíritos inimigos que a justiça divina faz se reencontrarem na formação biológica, no sentido de que se processe o perdão com mais eficiência”.(1)
Com relação aos vínculos espirituais entre os gêmeos, é certo que existem, mas pode ser de afinidade ou de repulsão. Há gêmeos que reencarnam unidos em função de compromissos morais mútuos que refletem a necessidade de reparação dos equívocos do passado, que respingam nos dramas familiares. Não existe o acaso na dinâmica das leis naturais, logo, sempre há um agente causal determinando que tais gêmeos permaneçam próximos. Muitas vezes um traz jovialidade e encanto na convivência, outro traz aversão, discórdia, atritos diversos. Nesse último caso, a vida proporciona oportunidade de reconciliação com os adversários do passado através dos laços consanguíneos.
Do exposto, e por fortes razões, devemos aprimorar, sem esmorecimento, as relações diretas e indiretas com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes nas lutas do mundo, a fim de que a vida não venha nos cobrar novas e mais enérgicas experiências nas próximas encarnações. A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram no além a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva.
Prevalecem portanto na família os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras. Todavia, como se observa atualmente, no clã familiar afluem igualmente os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, que devem ser transformados em vínculos solidários e fraternos, com vistas ao futuro de paz e amor.

Referência bibliográfica:

(1) KARDEC, O Livro dos Espíritos, questão 211, RJ: Ed. FEB, 1999.

* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros "eletrônicos" publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Espiritismo Hoje - PGM 019 - Por que Deus nos deixa sofrer? - Antônio Geraldo


O professor americano que diz que só brancos podem ser racistas - e dá aulas sob escolta policial

Luis Fajardo
Da BBC Mundo em Miami


Ted Thornhill não é um professor universitário qualquer. Ele tem sido escoltado por seguranças armados em suas aulas deste semestre em uma universidade perto de Miami.
Tornhill ministra uma das disciplinas que mais têm causado controvérsias nos Estados Unidos sob Donald Trump, onde as tensões raciais se intensificaram.
O curso que o professor ministra é chamado "racismo branco".
"O racismo dos negros, dos latinos e dos asiáticos não existe", diz ele à BBC Mundo. "Somente os brancos podem ser racistas."
Segundo ele, qualquer pessoa pode ter preconceitos raciais, mas o racismo é diferente do preconceito. "Só os brancos podem ser racistas, porque somente eles construíram um sistema que os permite gozar de vantagens na sociedade", afirma o professor.
Ele argumenta estudar o racismo sob uma "perspectiva estrutural" dos detentores de "poder e privilégio" ao longo da história americana.

Tese explosiva

A universidade pública em que Thornhill dá aulas, chamada Florida Gulf Coast University, fica em uma comunidade tranquila cheia de americanos ricos que se mudam para lá para desfrutar a paz tropical da Flórida.
Mas, ao visitar o campus, "paz" não é a primeira coisa que vem à mente.
Cerca de 50 pessoas, em sua maioria negros e latinos, cursam a disciplina de Thornhill. Mas não há dúvida de que todos os 14 mil estudantes do campus ouviram falar do curso.
O canal de televisão conservador Fox News dedicou um programa inteiro recentemente ao curso – e não exatamente para falar bem dele. Apresentou a disciplina com um exemplo de "discriminação contra os brancos" nos EUA – pensamento comum entre eleitores de Trump.
O sociólogo, no entanto, afirma que seu curso não tem a ver diretamente com o atual presidente. "O racismo existe nos EUA desde muito antes de Trump e continuará existindo até muito depois de seu mandato."

Provocação

Há um punhado de estudantes brancos na classe.
"Meus pais ficaram um pouco preocupados no começo", conta Amy White. "Mas eles mudaram de ideia conforme fui explicando o conteúdo do curso."
Em sua descrição, o curso diz examinar "ideologias racistas, leis, políticas e práticas que perpetuaram a dominação racial branca".
Há uma lista de espera para cursar a disciplina, que combina uma série de discurssões sobre textos de sociologia sobre o racismo com conversas sobre casos da vida cotidiana onde é possível presenciá-lo.
E apesar da polêmica levantada pela mídia, a universidade dá apoio ao curso.
No entanto nem todos estão de acordo – embora a maioria dos estudantes questionados pela BBC Mundo tenham preferido não comentar o assunto para não se envolver na polêmica.
Alex Pilkington, membro de um grupos de estudantes republicanos, diz que "a origem da controvérsia está no nome do curso".
"Parece que ao nomeá-lo 'racismo branco' (o professor) estava buscando uma espécie de reação da comunidade branca da universidade", diz ele.
Thornhill afirma que o nome do curso não é uma provocação deliberada, mas sim uma escolha baseada em uma análise objetiva e acadêmica da realidade.
Em um comunicado público, o professor também alegou que seu curso não é "antibrancos", apenas "anti-racismo branco".
"Claramente, nem todos os brancos são racistas; alguns são inclusive anti-racistas. No entanto, todas as pessoas 'racializadas' como brancas desfrutam, em alguma medida, de benefícios materiais e psicológicos por serem brancas", ele escreveu.
Mas ressaltou não se referir a "indivíduos brancos específicos". "Tantas pessoas nesta sociedade hiperindividualizada tendem a levar isso para o lado pessoal", disse Thornhill ao jornal Washington Post. "Elas se sentem sob ataque."

Mensagens de ódio

Depois da aula, o professor mostra à BBC Mundo sua caixa de entrada de e-mail, onde lê as dezenas de mensagens com xingamentos enviadas por desconhecidos.
"Você é como o Obama", escreve um desconhecido. "Por sua culpa estão estourando problemas raciais que a gente já tinha resolvido", diz o homem, que diz desejar uma morte violenta ao professor e a sua família.
Outras mensagens levantam a questão do "racismo negro" e alegam que "se este fosse mesmo um país racista, você (Thornhill) não estaria empregado".
As mensagens de voz que ele recebe não são mais agradáveis. Ao mesmo tempo em que o acusam de racista, direcionam a ele os piores insultos raciais.
O sociólogo diz que as mensagens de ódio são ossos do ofício. "A essa altura da minha carreira estou acostumado com o racismo dos brancos. Sei da autoridade moral e acadêmica que tenho nessa discussão", afirma.
Amável e educado e bastante popular entre seus alunos, Thornhill diz que não espera que a polêmica em torno de sua disciplina termine logo.
Ele pretende oferecer o curso novamente no ano que vem. Mas não sabe se no próximo semestre suas aulas também terão seguranças armados protegendo ele e seus alunos de eventuais atitudes extremas de seus críticos.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 13 de fevereiro de 2018.

Humberto Souza de Arruda* comenta

O professor Tornhill mostra apontamentos e estudos sobre racismo, preconceito e racismo branco, usando para tal dados da historia americana. Com base em estudos sociológicos, que é a sua formação acadêmica, ele ministra esta polêmica matéria, mas sem generalizar que todos os brancos sejam racistas.
É um trabalho que realmente tende a despertar desconforto de lados que pensam diferente. E não é difícil imaginar tais desavenças. Uma vez que estas diferenças surgem de pontos de vistas extremos. Um que afirma ser diminuído, outro que afirma ser explorado, outro que afirma ser superior e outros com características que afirmam despontar em vantagens ou desigualdades em relação a outros.
Estas diferenças fazem com que a sociedade se fragmente em grupos para poderem se exprimir mais à vontade. Entendendo que seja para se proteger ou para se fortalecer, se agrupam por raça, por condições financeiras ou questões intelectuais.
Mas não para por aí, existem grupos criados por adeptos que focam tanto nas diferenças especificas, que criam grupos onde aceitam conviver com integrantes que tenham opiniões diversas em outros grupos. Citamos por exemplo torcedores esportistas extremistas que convivem bem com indivíduos de outras raças, classe social ou intelectual para confrontarem com indivíduos que torcem por times “rivais”. Lamentável e bastante intrigante esta degradação social.
E com este olhar de caos social, é bastante fácil, e aceitável, ver injustiças atribuídas às pessoas que nascem nestes ambientes. Onde passam a penar pelas privações físicas e/ou psicológicas de não poderem estar do outro lado. Ou, mais complexo, não quererem que tivessem lados diferentes. Onde estaria a justiça divina neste caso?
A visão da injustiça divina vem de questionamentos que, equivocadamente, foram pautados na existência da injustiça. Se Deus é amoroso, por que deixar uma criança sofrer as consequências que vêm de problemas raciais? E quanto às diferenças sociais e intelectuais? Daí vai além: não existe lógica na vida.
Mas daí podemos dizer que existem a lógica de Deus e a lógica do homem. Fica melhor, assim, para aceitar parcialmente a lógica. Mas podemos ter um entendimento mais completo se estudarmos a lógica de maneira mais completa. Para isso precisamos que todas as variáveis de um entendimento lógico sejam respeitadas.
Primeiro vamos entender a importância da variável tempo. Quando “vemos” um caso de injustiça racial, provavelmente o estamos fazendo de forma atemporal. Vemos a situação desconsiderando uma variável muito importante que é o tempo. Quem foi este individuo em outras existências, que hoje está na situação que vemos como injustiçado?
Temos outra variável importante que foi menosprezada, que é a caridade. Sim, isso mesmo. Uma prova que um indivíduo está passando pode ser para a família e amigos. Muitos avanços sociais aconteceram com o “sacrifício” de um ou grupo de pessoas. Nada acontece em vão. Traz a atenção da sociedade a uma determinada problemática que estava passando despercebida. Muitos ajustes sociais acontecem assim.
Mas ainda temos uma variável importante também. O progresso constante de todos os filhos de Deus. Ninguém regride. Quem ainda desvia hoje, já desviou mais em outras existências. Quem sofre hoje, estaá se preparando para dias melhores. Assim, quando vemos um atleta treinando exaustivamente, sentimos sofrimento no seu corpo se entendermos de forma atemporal. Numa análise completa, veremos a possibilidade da precisão que o levará à perfeição. Nas nossas existências não é diferente. Sempre estamos treinando e melhorando.
Então, podemos entender que temos as diferenças sociais que ainda necessitamos para o nosso melhoramento rumo à perfeição. Isso não quer dizer que devemos aceitar passivamente as diferenças. Mas podemos, ativamente, fazer isso pacificamente. Ajudando aos necessitados, excluídos, sofredores e tantos outros que estão à margem social.
Ainda vemos injustiças, mas não existem injustiçados. A cada irmão que pudermos ajudar diretamente, estendendo a mão, ou indiretamente, com preces, e sem julgamentos e condenações dos que causaram este infortúnio, contribuímos com o crescimento dos dois lados. Enquanto ajudarmos somente um lado, continuamos alimentando as diferenças. Que os opressores tenham as consequências legais pelos seus atos e a nossa compaixão.
Assim fazemos o papel de filhos de Deus. Quem é infinitamente bom e justo como o Pai, não poderia ter filhos com características diferentes. Somos indistintamente amados por Deus e criaturas perfectíveis. As diferenças intelectuais, raciais, financeiras, etc não mudam quem somos na essência e nem qual o nosso propósito na sociedade.
Sigamos o exemplo de nosso amigo e mestre Jesus que morreu da forma que morreu para mostrar o poder do amor sobre o mal e também a vitória da vida sobre a morte. Que o amor que Jesus ensinou e ensina até hoje, nos ajude a estarmos unidos e sempre com ele.
* Humberto Souza de Arruda é evangelizador, voluntário em Área da Promoção Social Espírita (APSE) e colaborador do Espiritismo.net

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

'Meus 3 filhos morreram com problemas genéticos – devo acreditar na ciência ou em Deus?'

Sue Mitchell
Da BBC News


Ruba e Saqib carregam os genes de uma doença incurável, o que significa que seus filhos têm uma chance em quatro de morrer no começo da infância. Eles são primos. E já perderam três crianças.
Agora, Ruba quer se submeter à fertilização in vitro, para selecionar um embrião saudável. Saqib, por sua vez, deposita suas esperanças em Alá. E parentes defendem que eles se separem, para casar e ter filhos com outras pessoas.
Ruba Bibi e Saqib Mehmood, seu primo, se casaram há 11 anos.
Ela não queria casar tão jovem.
Seus planos eram terminar a escola e ir para a universidade, mas, antes que alcançasse esses objetivos, seus pais arranjaram seu casamento com Saqib, no Paquistão.
Ruba nasceu e foi criada em Bradford, na Inglaterra.
Ela esteve no Paquistão duas vezes antes do casamento - uma, quando tinha quatro anos, e outra, aos 12.
Aos 17, não conseguia se lembrar do homem com quem havia noivado e nunca havia ficado a sós com ele. Ele era 10 anos mais velho e trabalhava como motorista.
"Eu estava muito nervosa porque não o conhecia de verdade", lembra ela.
"Eu era muito tímida, não conseguia falar muito e nunca havia me interessado por rapazes ou algo do tipo. Fiquei em pânico e implorei aos meus pais que adiassem as coisas para eu conseguir terminar a escola, mas eles não podiam."
Depois de três meses no Paquistão, ela ficou grávida.
Voltou para Bradford dois meses depois, em choque por ter um bebê tão cedo. Mas também feliz.

Primeira tentativa

Sabiq estava no Paquistão. Quando seu filho, Hassan, nasceu em 2007, ela ligou animada para contar a ele que tudo estava bem, apesar de o bebê aparentemente dormir mais que o normal e ter dificuldades para se alimentar.
"Eu simplesmente achava que fosse normal", diz Ruba.
Semanas depois, ela o levou para fazer exames e, enquanto ele se movimentava, a médica notou que o quadril parecia rígido. "Ela disse que ia encaminhá-lo (a um especialista), mas eu pensei que não fosse nada grave. Eles fizeram alguns exames e me avisaram por telefone para ir à enfermaria infantil pegar os resultados", diz Ruba.
"Quando eu entrei, a médica disse que tinha uma notícia muito ruim para me dar. Ele tinha uma doença muito rara. Foi difícil ouvir aquilo e eu simplesmente comecei a chorar. Voltei para casa e liguei para o meu marido no Paquistão. Ele tentou me acalmar. Me disse que todo mundo atravessa problemas e que passaríamos por aquilo juntos."
Ruba não fazia ideia de que tanto ela quanto o seu primo carregavam o gene recessivo da doença de I-cell - também chamada de Mucolipidose tipo II - uma condição hereditária rara que impede a criança de crescer e se desenvolver adequadamente.
Sete meses depois, Saqib recebeu um visto para morar no Reino Unido e pela primeira vez segurou o filho no colo.
"Ele disse que Hassan parecia um bebê normal. Ele não estava sentado ou engatinhando, mas meu marido dizia que algumas crianças eram assim mesmo, se desenvolviam mais lentamente", diz Ruba.
Ela, no entanto, conseguia ver uma grande diferença entre o filho e outros bebês da mesma idade. Hassan estava crescendo devagar e ia com frequência ao hospital com infecções no peito. O tamanho da cabeça dele também havia aumentado.
Quando sua segunda criança - Alishbah, uma menina - nasceu em 2010, exames confirmaram imediatamente que ela também tinha a doença. Ela morreu aos três anos de idade, no final de 2013, pouco mais de um ano depois do irmão mais velho.
Antes de engravidar pela terceira vez, Ruba consultou o mufti Zubair Butt, o clérigo muçulmano do Leeds Teaching Hospital, na Inglaterra, para saber o que sua religião diria sobre exames que faria durante a gestação para tentar identificar se o bebê teria problemas de saúde e também sobre a possibilidade de aborto, caso a doença de I-cell fosse confirmada.
Ele respondeu que o caminho seria aceitável, mas a aconselhou a pensar bem a respeito.
"Se existe uma doença que vai matar a criança de qualquer maneira, ou mesmo que não a mate logo, mas que seja uma doença debilitante, há razão suficiente para interromper (a gravidez) antes que a alma entre no corpo, tomando por base os ditos do profeta", disse o religioso.
Ele acrescentou, entretanto, que ela não deveria fazer isso simplesmente por ter um sinal verde para o procedimento, pois seria algo com que teria de viver pelo resto da vida.
Também a aconselhou a ouvir outras pessoas da comunidade, muitas das quais provavelmente contrárias ao aborto. "Resolver isso, em nível pessoal, também é um grande desafio", disse ela.

Mortalidade infantil

Ruba e seu filho caçula, Hassan, estavam entre os primeiros participantes de um estudo de longo prazo com 14 mil famílias em Bradford, 46% delas de ascendência paquistanesa.
O estudo foi impulsionado pela taxa de mortalidade infantil na cidade, o dobro da média nacional.
Os médicos identificaram mais de 200 doenças raras na região e estão trabalhando para aprimorar exames pré-natais que podem ajudar a identificar mais cedo essas doenças, bem como em terapia para os casais.

Um drama que se repete

Ruba decidiu que não queria interromper a gravidez do terceiro filho.
Então, quando engravidou, em 2015, se recusou a fazer exames como ultrassonografias que os médicos recomendavam.
"Eu queria que eles tratassem como uma gravidez normal. Eu não queria que eles colocassem dúvidas na minha cabeça. Eu não ia fazer um aborto, então, queria aproveitar a gravidez", diz ela.
"Eu dizia ao meu marido que havia a chance de esse bebê também estar doente, mas ele falava que estava 'tudo bem'. Eu acho que eu tinha muita dúvida sobre isso - eu sabia que as chances eram as mesmas que as das outras duas."
O bebê era uma menina e foi chamado de Inara. Ela também nasceu com a doença de I-cell.
"Eu estava muito feliz por ter tido um bebê, mas quando a vimos, meio que já sabíamos", diz Ruba. "Eu fiquei triste e abalada por termos passado por toda a gestação e nós realmente queríamos um bebê saudável. Eu não sabia quanta dor ela passaria - mas meu marido estava feliz. Ele disse: 'Apenas seja grata'."
Inara morreu há quase um ano, aos dois anos de idade. Ela foi acometida por uma infecção no peito em dezembro passado e sua condição acabou piorando rapidamente. Ela chegou a ser levada para tratamento em outra cidade, mas não resistiu.
"Os médicos fizeram todos os esforços para mantê-la viva. Eu tive esperança, mas podia ver que ela estava sofrendo. Ela permaneceu sedada até morrer. Eu a segurei nos braços a maior parte do tempo. Depois, me deitei ao lado dela. Meu marido se deu conta de que ela estava dando os últimos suspiros."
Ruba diz não saber como eles suportaram a dor de perder três filhos e de sofrer seis abortos, o último deles apenas algumas semanas após a morte de Inara. "Eu nem sabia que estava grávida na época e abortei depois do funeral", diz.
Ela conta que foi a morte de Inara que a fez aceitar a relação que existia entre o casamento com o primo e o infortúnio dos filhos.
Durante muito tempo, ela simplesmente não acreditou na possibilidade, em parte porque via outras crianças com doenças e deficiências na clínica e estava claro que nem todas haviam sido concebidas por primos casados.
"Meu marido ainda não acredita", diz.
"Eu acredito agora porque aconteceu três vezes, então, deve haver algum fundo de verdade no que dizem. Deve ser verdade."

Casamento entre primos

Em 2013, pesquisadores publicaram na revista científica Lancet resultados do estudo sobre casamento entre primos mostrando que 63% das mães paquistanesas analisadas eram casadas com primos e tinham risco dobrado de ter um bebê com anomalia congênita.
O risco de a criança nascer com problemas cardíacos ou do sistema nervoso, por exemplo, ainda é pequeno, mas aumenta de 3% na população geral paquistanesa para 6% entre os casados ​​com parentes.
As famílias em Bradford ainda fazem casamentos arranjados e escolhem noivas e noivos entre os próprios membros - uma em cada quatro crianças no estudo era fruto desse tipo de relação.
Após a morte de Inara, alguns dos parentes de Ruba e Saqib, tanto no Reino Unido como no Paquistão, chegaram à conclusão de que seria improvável eles terem uma criança saudável - e defenderam que o casamento deveria terminar em uma "separação feliz". Isso permitiria que ambos se casassem novamente e tivessem filhos saudáveis ​​com outra pessoa.
"Nós dois dissemos não", diz Ruba.
"Meu marido diz: 'Se Deus vai me dar filhos, ele pode me dar filhos gerados por você. Ele me deu filhos seus e pode me dar filhos saudáveis. Se estiver escrito, está escrito para você. Eu não vou me casar de novo e nem você pode se casar de novo, nós dois vamos tentar juntos."
E embora Ruba estivesse relutante em se casar em 2007, após 10 anos com o marido, ela não quer se separar.
"Nossos parentes queriam que nos separássemos pelas crianças, para que eu pudesse ter filhos saudáveis ​​com outra pessoa e ele também. Mas e se eu tiver filhos saudáveis ​​com alguém e eles não me fizerem sentir como ele me faz sentir? Eu posso ter filhos, mas não um casamento feliz. Pode não ser um casamento bom, e eu não quero trazer as crianças ao mundo sozinha, sem ter o pai conosco. Eu ouvi falar de pessoas fazendo isso, mas não é para a gente."
Mas que opções restam então?
Uma possibilidade é ela se submeter à fertilização in vitro. Isso permitiria aos médicos examinar embriões, rejeitar aqueles com a doença e selecionar um saudável para implantar no útero de Ruba.
Saqib não está entusiasmado com a ideia, diz ela.
"Ele só diz que tudo o que Alá vai nos dar é o que está escrito para ser - se estamos destinados a ter um filho assim, então podemos tê-lo em qualquer circunstância", diz ela.
Ruba, por sua vez, gostaria de tentar a fertilização in vitro - mas o tamanho da lista de espera é um empecilho.
"Eu quero que isso aconteça rapidamente. Se você espera algo por muito tempo, é mais tentador tentar naturalmente", diz ela.
O marido foi a consultas com ela, mas é difícil para ele tirar folga da padaria onde trabalha e ele não fala muito inglês.
"Ele fica lá sem saber o que estão dizendo", diz ela. "Ele não está entusiasmado, mas diz que depende de mim."
Ruba diz que não pode prever o que vai acontecer, mas está preocupada com o que uma possível criança naturalmente concebida pode ter que suportar.
"Eu pensei a primeira vez, quando Hassan foi diagnosticado, que eu não podia fazer isso, mas eu fiz três vezes, então, não tenho certeza", diz ela. "Mas não é justo que a criança passe por tanto sofrimento."
Hassan morreu em 5 de agosto de 2012, Alishbah em 13 de novembro de 2013 e Inara Eshal, em 6 de dezembro de 2017.

Caso levou primos a rejeitarem casamentos com parentes

As experiências do casal levaram outras pessoas da família, incluindo o irmão de Ruba, a rejeitar o casamento entre primos.
"Nós nunca pensamos sobre os riscos - até o nascimento dos meus filhos nunca pensamos que fosse errado casar com alguém da família, mas por causa do que eu passei meus parentes pensam duas vezes antes de firmar esse tipo de união", diz Ruba.
"Dez anos atrás eu simplesmente aceitei o que meus pais disseram, mas agora nossos primos tiveram escolha e estão dizendo não a isso. Nossa geração mais jovem está tendo essa chance, de fazer uma opção, e se eles não gostarem, eles podem falar a respeito."
Ruba diz que consegue se manter firme por causa da religião.
"Deus só nos dá o fardo que conseguimos suportar", diz Ruba.
"Nesta vida eu sou a pessoa mais azarada que existe, mas na próxima vida eu serei a mais sortuda porque elas eram crianças inocentes. E essas crianças te ajudarão na próxima vida, porque você estará com elas."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 14 de dezembro de 2018.

Telma Simões Cerqueira* comenta

Falar em deficiências e doenças é sempre um assunto delicado. Embora seja muito comum entre nós essas questões, todo mundo tem ou conhece alguém próximo que já nasceu com problemas genéticos. E sempre se pergunta: Qual a razão disso? Por que Deus, que é bom e justo, permite que isso aconteça já que não é possível reverter essa situação?
A Doutrina Espirita nos informa que somos Espíritos imortais e que a vida física é apenas uma nova experiência na nossa existência, que é eterna.
A reencarnação é uma nova oportunidade que Deus nos oferece para reparação de nossos equívocos perante a Lei Divina. Deus não pune, mas nos permite tantas quantas oportunidades forem necessárias para nos reabilitarmos com a Lei, e nessas oportunidades estaremos vivendo as experiências possivelmente envolvidas pelas dores e sofrimentos necessários ao nosso aprendizado. Esse é o principal objetivo da encarnação: o nosso progresso moral.
Sem aceitarmos a Lei da reencarnação e sem compreendermos a imortalidade da alma, não conseguiremos aceitar as deformidades físicas, as doenças genéticas, as mortes prematuras, enfim, “as vicissitudes da vida derivam de uma causa, e pois que Deus é justo, justa há de ser esta causa”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 3.)
Portanto, as enfermidades físicas ou mentais são expiações que nos permitem conquistar a cura para as nossas enfermidades morais.
O homem é formado de: Espírito, corpo espiritual ou Perispírito e corpo físico. O períspirito, descrito pelos Espíritos superiores a Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 93 e seguintes, onde nos aponta a importância dessa estrutura para o futuro corpo físico. Trata-se de um envoltório semimaterial, que continuará existindo após a morte. Ele possui órgãos e todos os outros componentes formadores do corpo material, com o qual se liga célula a célula. Essas estruturas constituem  as matrizes do novo corpo em cada renascimento. Através das ações da mente, registra todas as atividades do Espírito. Os desequilíbrios psíquicos, causados pela instabilidade dos sentimentos e emoções do Espírito em evolução, guardam as energias alteradas, que vão sendo registradas por essa estrutura energética, formando assim verdadeiras manchas e placas que aderem à sua superfície, passando a comprometer o seu funcionamento e, à medida que o processo se agrava, essa ação energética fragiliza a estrutura sensível, e essas matrizes perispirituais podem ser alteradas pelos excessos cometidos dando origem ao desenvolvimento de vários tipos de doenças durante a nova existência do ser.
Assim como a caixa preta de uma aeronave registra todos os detalhes de cada viagem, essa estrutura também o faz com as nossas existências, trazendo em sua constituição pontos fracos, pré-disposições ou malformações que poderão estar presentes no novo corpo físico em forma de doenças genéticas, congênitas ou hereditárias. É, portanto, o Espírito imortal que imprime nas células do corpo físico o código genético de que necessita, de acordo com as escolhas que tenha feito em seu planejamento reencarnatório.
Nos capítulos 12 e 13, do livro Missionários da Luz, o Espírito André Luiz aborda como a genética se relaciona com a reencarnação. Descreve os mapas cromossômicos, nos quais a geografia dos genes é examinada pelos orientadores do processo de renascimento. A modelagem e o desenvolvimento do embrião é examinada cuidadosamente, obedecendo-se às leis físicas naturais, os automatismos estabelecidos pela evolução de cada espécie. Mas, em todos esses fenômenos, a participação espiritual coexistindo com essas leis, de acordo com os planos de evolução ou resgate daquele que vai renascer. Ocorre, dessa forma, a edificação da genética espiritual de cada um, pelas experiências das inúmeras vivências terrenas. A família também tem ligação direta e responsabilidade com os filhos que nascem portadores de doença grave. Os genitores são buscados na Espiritualidade, por terem vínculos ou compromissos com o candidato ao renascimento. Outras vezes, suas decisões são por impulso de caridade, aceitando o compromisso como missão. Além do patrimônio genético, que deve ser compatível com esses fins, nesses casos, reveste-se de importância o patrimônio espiritual, desde que estarão responsáveis pela educação do ser que virá.
Desta maneira compreendemos que a reencarnação é um trabalho complexo, desenvolvido por uma grande equipe de coordenadores, e nos leva a entender que as doenças genéticas ou hereditárias não acontecerão por acaso, mas sim devido a um fim maior, que é a evolução do Espírito imortal.
O Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, nos esclarece: “As leis da genética encontram-se presididas por numerosos agentes psíquicos que a ciência da Terra está longe de formular, dentro dos seus postulados materialistas. Esses agentes psíquicos, muitas vezes, são movimentados pelos mensageiros do plano espiritual, encarregados dessa ou daquela missão junto às correntes da profunda fonte da vida (…)"
A medicina alcançou um grande desenvolvimento científico, porém, a ciência acadêmica ainda não aceitou a existência do Espírito imortal, por isso continua tomando a causa como efeito, pois não tem o olhar da vida após a morte.
Quando analisamos as malformações exclusivamente pelas leis da hereditariedade ou do acaso, não chegamos a uma explicação satisfatória, e isso aumenta o sofrimento da família e do doente.
Um grande numero de médicos e pesquisadores, atualmente, tem aprofundado seus estudos no campo da Biologia e já está sendo possível a avaliação da relação dos genes, abrindo novas discussões científicas sobre as doenças genéticas e hereditárias.
A Ciência, esse grande pilar respeitado pela doutrina espírita, nunca esteve tão próxima de reconhecer a existência do Espírito imortal e a sua genética própria, formatada através das vidas sucessivas, como fator preponderante na gênese de muitas doenças graves. Esse conhecimento será um grande salto evolutivo e favorecerá uma amplitude holística, ou seja, a ciência não tratará só a doença, mas o doente como um todo, desenvolvendo a prática de condutas éticas em relação ao doente, suas doenças e seus sofrimentos. Já estamos caminhando para isso, os tempos já chegaram... confiemos e aguardemos.

Bibliografia:

1- IANDOLI JR., Décio. A reencarnação como lei biológica. São Paulo: FE, 2004;
2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 72ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992. itens 93 a 95;
3- XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 20ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987. cap. 12 e 13;
4- ________. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1941. pt. 1, item 35.
* Telma Simões Cerqueira é Bacharel em Nutrição pela Universidade Veiga de Almeida, artista plástica e expositora espírita. Nasceu em lar evangélico, porém se tornou espírita nos arroubos da juventude, conhecendo a Doutrina Espírita aos 23 anos. Sempre ativa no Movimento Espírita, participa das atividades do Centro Espírita Jorge Niemeyer, em Vila Isabel, Rio de Janeiro/RJ

Café Literário do Centro de Espírita Leon Denis(RJ/RJ): livro - "A Caminho da Luz, de Chico Xavier pelo espírito Emmanuel".

A edição de janeiro do Café Literário, do Centro de Espírita Leon Denis, será com Marlio Lamha, no sábado, dia 26, sobre o livro "A Caminho da Luz, de Chico Xavier pelo espírito Emmanuel".
A entrada é gratuita. O Centro Espírita Leon Denis fica na Rua Abilio dos Santos, 137, em Bento Ribeiro. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Por que deveríamos acreditar em fantasmas

Tok Thompson
The Conversation*


Em diversos países, o Halloween (ou Dia das Bruxas) é uma época em que histórias de terror e decorações assustadoras estão por toda a parte, evocando o reino dos mortos. E mais do que isso: ensinando importantes lições sobre como levar uma vida baseada em princípios morais e éticos.
As origens do Halloween moderno remontam ao festival de Samhain ("fim do verão"), celebração pagã celta que marca o início da metade escura do ano em que, reza a lenda, o reino dos vivos e o dos mortos se sobrepõem - e os fantasmas podem ser encontrados com frequência.
Em 601 d.C., o Papa Gregório 1° orientou os missionários a não acabar com as celebrações pagãs, mas a torná-las cristãs, como parte de sua estratégia de converter o norte da Europa ao cristianismo.
Assim, ao longo do tempo, as celebrações do Samhain se transformaram no Dia de Finados e no Dia de Todos os Santos, quando falar com os mortos era considerado religiosamente apropriado.
O Dia de Todos os Santos também era conhecido como All Hallows' Day e a noite anterior como All Hallows' Evening ou Hallowe'en.
Não só as crenças pagãs em torno dos espíritos dos mortos continuaram, como também se tornaram parte de muitos rituais da igreja católica.

Crença lucrativa

O próprio Papa Gregório 1° sugeriu que as pessoas que vissem espíritos deveriam encomendar uma missa para eles. Os mortos, sob esse ponto de vista, precisariam da ajuda dos vivos para fazer sua jornada em direção ao céu.
Durante a Idade Média, as crenças em almas presas no purgatório levaram a igreja a vender cada vez mais indulgências - documentos que concediam o perdão divino ou reduziam as penitências a quem pagasse. Ou seja, acreditar em fantasmas fez da venda de indulgências uma prática lucrativa para a igreja.
Foram essas crenças que contribuíram para a Reforma, movimento liderado pelo alemão Martinho Lutero que levou à divisão do mundo cristão ocidental entre católicos e protestantes.
De fato, as 95 teses de Lutero, pregadas na porta da Igreja de Todos os Santos de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, foram em grande parte um protesto contra a venda de indulgências.
Posteriormente, os espíritos foram apontados com "superstições católicas" nos países protestantes.
Mas os debates sobre a existência de fantasmas continuaram - e as pessoas se voltaram cada vez mais para a ciência a fim de lidar com a questão.
No século 19, o Espiritismo, movimento que afirmava que os mortos podiam conversar com os vivos, se tornou rapidamente popular, assim como suas abordagens: sessões espíritas, tábua de ouija (espécie de brincadeira do copo), fotografia de espíritos e afins.
Embora a importância cultural do Espiritismo tenha sido ofuscada após a Primeira Guerra Mundial, suas técnicas podem ser observadas hoje nos "caça-fantasmas", que tentam provar a existência de espíritos usando métodos científicos.
Essas crenças não fazem parte apenas do mundo cristão. A maioria das sociedades tem um conceito para "fantasma". Em Taiwan, por exemplo, cerca de 90% das pessoas relatam ter visto espíritos.
Assim como outros países asiáticos, como Japão, Coreia, China e Vietnã, Taiwan celebra o Mês dos Fantasmas, que inclui o Dia dos Fantasmas, quando se acredita que os espíritos vagam livremente pelo mundo dos vivos.
Esses festivais e crenças são frequentemente associados à sutra (escritura sagrada) budista de Urabon, em que Buda ensina a um jovem sacerdote como ajudar sua mãe, a quem ele vê sofrendo como um "fantasma faminto".
Como em outras culturas, os espíritos taiwaneses são vistos como "amigáveis" ou "hostis". Os amistosos costumam ser ancestrais ou familiares e são bem-vindos nas casas durante o festival. Já os hostis são aqueles que estão com raiva ou "fome" e assombram os vivos.

Lembrete moral

Como professor de mitologia na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, que há anos estuda e ensina histórias de fantasmas, descobri que eles geralmente "assombram" por uma boa razão. De assassinatos não resolvidos à falta de funerais adequados, passando por suicídios forçados, tragédias que poderiam ser evitadas e outras questões éticas.
Os espíritos, sob essa perspectiva, estão frequentemente buscando justiça depois de mortos. Eles podem cobrar isso de indivíduos, ou da sociedade como um todo. Por exemplo, nos Estados Unidos, foram reportadas aparições de escravos afro-americanos e nativos assassinados.
A pesquisadora Elizabeth Tucker, da Universidade Estadual de Binghamton, em Nova York, descreve diversos relatos de aparições em campi universitários, muitas vezes ligados a aspectos sórdidos do passado da instituição de ensino.
Desta forma, os fantasmas revelam o lado sombrio da ética. Suas aparições são muitas vezes um lembrete de que a ética e a moral transcendem nossas vidas e que deslizes podem resultar em um pesado fardo espiritual.
No entanto, as histórias de fantasmas também trazem esperança. Ao sugerir a existência de uma vida após a morte, elas oferecem uma chance de estar em contato com aqueles que já morreram e, portanto, uma oportunidade de redenção - uma forma de reparar erros do passado.
No próximo Halloween, em meio aos doces e travessuras, você pode querer dedicar alguns minutos para refletir sobre o papel dos fantasmas em nosso passado mal-assombrado e em como eles nos conduzem a uma vida baseada na moral e na ética.
* Este artigo, escrito pelo professor Tok Thompson, foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 11 de dezembro de 2018.

Jorge Hessen** comenta

O temor de “fantasmas” é uma atitude ingênua causada pela ausência de conhecimento a respeito da natureza etérea dos “mortos”. Sobre as suas aparições são mais frequentes do que se pensa e muitos creem que a preferência dos Espíritos [“fantasmas”] é pelos ambientes escuros, mas isso é um mito e um engano. Ocorre, simplesmente, que a substância vaporosa dos períspiritos dos “fantasmas” é mais perceptível no escuro, tal como ocorre com as estrelas que só podem ser visualizadas à noite. A claridade do dia, por exemplo, ofusca a essência sutil que constituem os corpos dos “mortos”. Isto porque os tecidos perispirituais são compostos de energia semelhante à luz, portanto, o perispírito dos “fantasmas” não é, digamos, fosco, ao contrário, é dotado de grande diafaneidade para ser perceptível a olho nu, durante o dia.
O perispírito, no seu estado normal, é invisível; mas, como é formado de substância etérea, o Espírito, em certos casos, pode, por vontade própria, fazê-lo passar por uma modificação molecular que o torna momentaneamente visível. É assim que se produzem as aparições, que não se dão, do mesmo modo que outros fenômenos, fora das leis da Natureza. Conforme o grau de condensação do fluido perispiritual, a aparição é às vezes vaga e vaporosa; de outra, mais nitidamente definida; em outras, enfim, com todas as aparências da matéria tangível. Pode mesmo chegar à tangibilidade real, ao ponto do observador se enganar com relação à natureza do ser que tem diante de si.(1)
A pesquisadora Elizabeth Tucker, da Universidade Estadual de Binghamton, em Nova York, apresenta diversos relatos de aparições [Espíritos] em campus universitário. Conta-se que os fantasmas revelam o lado sombrio da ética. Suas aparições são muitas vezes um lembrete de que a ética e a moral transcendem nossas vidas e que deslizes podem resultar em um pesado fardo espiritual. No entanto, as histórias de fantasmas também trazem esperança. Ao sugerir a existência de uma vida após a morte, elas oferecem uma chance de estar em contato com aqueles que já morreram e, portanto, uma oportunidade de redenção - uma forma de reparar erros do passado.(2)
A crença nos “fantasmas” é comum, pois baseia-se na percepção que temos na existência e sobrevivência dos Espíritos e na possibilidade de comunicar-se com eles. Deste modo, todo Ser espiritual que manifesta a sua presença sob várias circunstâncias é um Espírito que no senso comum é chamado de “fantasma”. Comumente, pelo conhecimento vulgar, são imaginados sob uma aparência fúnebre, vindo de preferência à noite, e sobretudo nas noites mais sombrias, em horas fatais, em lugares sinistros, cobertos de lençóis ou bizarramente cobertos. Todavia, os tais “fantasmas” assustadores, longe de serem atemorizantes, são, comumente, parentes ou amigos que se apresentam por simpatia, entretanto podem ser Espíritos infelizes que eventualmente são assistidos; “algumas vezes, são farsantes do mundo Espírita que se divertem às nossas custas e se riem do medo que causam; mas supondo-se mesmo que seja um mau Espírito, que mal poderia ele fazer, e não se teria cem vezes mais a temer de um bandido vivo que de um bandido morto e tornado Espírito!”(3)
Todos que vemos um “fantasma” podemos conversar com ele, e é o que se deve fazer nesse caso, podendo perguntar-lhe quem é, o que deseja e o que se pode fazer por ele. Se o Espírito for infeliz e sofredor, o testemunho de comiseração o aliviará. Se for um Espírito bondoso, pode acontecer que traga a intenção de dar bons conselhos. Tais Espíritos [“fantasmas”] poderão responder, muitas vezes verbalizando mesmo, porém na maioria das vezes o fazem por transmissão de pensamentos.”(4)
Os “fantasmas” afáveis, quando surgem, têm intenções elevadas ou, no mínimo para confortarem pessoas queridas que padecem com a desencarnação de entes queridos e/ou com a dúvida sobre a continuação da vida post-mortem; oferecerem sugestões ou, ainda, solicitarem auxílio para si mesmos, “o que pode ser feito através de orações e boas ações, no sentido de corrigir ou compensar as transgressões do morto. Mas os espíritos perversos também aparecem e estes, sim, têm o intuito de "assombrar" os encarnados movidos por sentimentos negativos.”(5)
Os “fantasmas”, aliás, estão por toda parte e não temos a necessidade de vê-los para saber que podem estar ao nosso lado. “O Espírito [“fantasma”] que queira causar perturbação pode fazê-lo, e até com mais penhor, sem ser visto. Ele não é perigoso por ser Espírito [“fantasma”], mas pela influência que pode exercer em nosso pensamento, desviando-nos do bem e impelindo-nos ao mal.”(6)
Em resumo, não é lógico assustar-nos mesmo diante da “assombração de um morto”. Se raciocinarmos com calma compreenderemos que um “fantasma”, qualquer que seja, é menos perigoso do que certos espíritos encarnados que existem à sombra das leis humanas (marginais).

Referências bibliográficas:

(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, II parte - “das manifestações espíritas”, capitulo VI - “manifestações visuais”, RJ: Ed. FEB 2000;
(2) Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-46515221>, acessado em 25/12/2018;
(3) KARDEC, Allan. Revista Espírita, julho de 1860, DF: Ed. Edicel, 2002;
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, II parte - “das manifestações espíritas”, capitulo VI - “manifestações visuais”, RJ: Ed. FEB 2000;
(5) KARDEC, Allan. Revista Espírita, julho de 1860, DF: Ed. Edicel, 2002;
(6) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, II parte - “das manifestações espíritas”, capitulo VI - “manifestações visuais”, RJ: Ed. FEB 2000.

** Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros "eletrônicos" publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados