sábado, 12 de setembro de 2015

Crianças aprendem robótica antes da alfabetização

Crianças aprendem robótica antes da alfabetização

Para idealizadora do projeto, uma das metas é mostrar aos pequenos que, na nossa relação com a tecnologia, não precisamos ser apenas consumidores – também podemos criar

por Equipe Caminhos para o Futuro

Visita à horta, contação de histórias, brincadeiras de roda e, uma vez por semana, aula de robótica. Assim é a rotina das crianças de 4 a 6 anos na creche da Universidade de São Paulo em São Carlos, a 240 km da capital. Elas podem ainda não saber como escovar os dentes direito – mas já estão aprendendo a construir e programar robôs.

O projeto, que começou em março de 2015 com previsão de seis meses, foi tão bem-sucedido que agora segue por tempo indeterminado. Sua idealizadora, Roseli Romero, já planeja alguns filhotes: artigos científicos e um livro sobre a experiência estão a caminho. Mais ambiciosa é a possibilidade de transmitir essa ideia para outras creches, formando professores e divulgando propostas pedagógicas. Roseli já foi procurada por várias escolas e tem conversado com a prefeitura de São Carlos sobre a possibilidade de incluir aulas de robótica na rede pública.

Matemática de formação, com mestrado em computação e doutorado em engenharia elétrica, Roseli se envolveu com robótica no pós-doutorado em Carnegie Mellon, sob orientação de Sebastian Thrun, o pesquisador que liderou a criação do carro autônomo do Google.

Pensando como um robô

A robótica já integra a grade curricular de algumas escolas privadas (como as da rede de colégios Marista) e públicas, como ocorre em Curitiba (PR), Mogi das Cruzes (SP) e Recife (PE). Mas o foco é o ensino fundamental. E Roseli se perguntou: por que não testar a ideia numa creche?

Ela montou um plano de aulas com atividades que transmitissem conceitos específicos e dois monitores entraram no projeto para lidar diretamente com as turmas. Primeiro, as crianças foram apresentadas às diferentes partes de um robô. Em seguida, aprenderam que ele não “vê” o ambiente como um ser humano, mas sim por meio de sensores. Depois, descobriram que elas mesmas poderiam programar esses sensores no computador, transmitindo ao robô instruções como “siga a linha preta no chão”.

Com o tempo, os pequenos chegaram a outro conceito importante para a robótica: eles constataram que a programação precisa levar em conta o ambiente onde o robô está. A instrução “siga a linha preta”, por exemplo, não dá muito certo se a linha preta seguir por uma rampa – aí é preciso reprogramar para que o robô faça mais força na subida.

É um conhecimento complexo, mas que não depende da alfabetização ou familiaridade com números, afirma Roseli. Nos kits usados pelas crianças, elas programam por meio de setinhas – escolhendo se, diante de um obstáculo, o robô deve ir para a esquerda ou direita, por exemplo.

De brinde, o projeto trouxe novas oportunidades para o trabalho em equipe. “As crianças montam e programam o robô juntas. E, quando alguma coisa não dá certo, uma delas logo se oferece para tentar resolver”, conta Roseli.

Conhecimento de impacto

Mas o principal ganho, na opinião da pesquisadora, virá se as crianças aprenderem que – também em relação à tecnologia - elas têm a possibilidade de criar, em vez de se contentar com produtos e soluções que já vêm prontos. “Pode fazer uma diferença muito grande na formação deles saber que não precisam só apertar os botões dos joguinhos, mas também criar os próprios joguinhos”, afirma a pesquisadora, destacando a importância dessa mudança de mentalidade para o futuro do país.

Nesse sentido, o ensino de robótica traz algumas vantagens, como a capacidade de envolver diretamente o aluno, proporcionar um contato mais amplo com tecnologias integradas e estimular o desenvolvimento de novos produtos. “Cada vez mais, esse conhecimento vai causar impacto no nosso desenvolvimento econômico”, defende Roseli.

Dentro de poucas décadas, essas crianças que estarão nas empresas, centros de pesquisa e órgãos públicos. Que bom será se crescerem sem perder a curiosidade, a coragem de errar e o desejo de criar algo novo.

Matéria publicada na Revista Galileu, em 29 de julho de 2015.

Claudio Conti* comenta

A criança possui um cérebro que podemos comparar a uma tela em branco, necessitando de informação para montar uma representação do mundo exterior. Essa “tela em branco” nos estágios iniciais da encarnação é fundamental para que possa receber orientação adequada e com capacidade de assimilação para que possa, aos poucos, estabelecer padrões comportamentais sadios visando suplantar padrões inadequados que possam ter sido desenvolvidos ao longo de outras encarnações.

A questão 385 d’O Livro dos Espíritos traz uma descrição dos processos envolvidos no desenvolvimento moral do espírito encarnado no período da infância-adolescência. Como a resposta é longa, transcreveremos a seguir apenas as partes necessárias para esclarecimento relacionado com este texto.

385. Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?

“É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era."

“Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão…”

"…julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos."

“A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas."

O desenvolvimento da capacidade intelectual possibilitará melhor entendimento da necessidade de conduta consoante a moral e bons costumes o que, por sua vez, auxiliará o espírito a trabalhar suas más tendências.

Segundo o texto da reportagem em análise, as aulas de robótica não são direcionadas exclusivamente para a questão tecnológica, mas inclui uma apreciação espacial, por parte das crianças, e do meio que as cerca, com caminhos a seguir e as necessidades daí decorrentes.

Segundo nosso entendimento, possibilita o desenvolvimento da relação da criança com o meio e, inclusive, trabalho em grupo para vencer as dificuldades, o que corresponde a uma parcela do que é denominado de “inteligência emocional”. A inteligência emocional inclui a capacidade do indivíduo se adequar e responder às condições do meio e de interação com os demais.

É fundamental, para o bom desenvolvimento, que crianças recebam estímulos suficientes e variados para que possam desenvolver a capacidade de análise, raciocínio e resposta, para que, ao atingirem a idade adulta, esteja plenamente integrados com a comunidade e com as adversidades que surgirem ao longo de sua vida.

Contudo, é imperioso não sobrecarregar com estímulos em excessos, deixando parte de seu dia para que procure, por si só, aquilo que lhes interessa visando, com isso, o desenvolvimento da imaginação e da criatividade. O tédio é a ferramenta que impulsiona o ser ao desenvolvimento criativo.

* Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Reencarnação e Patologia do Sexo

Reencarnação e Patologia do Sexo

Considerando a diversidade de conceituação existente na leitura psicológica, médica, filosófica e outras, a respeito dos enunciados supra mencionados, cumpre inicialmente nos posicionarmos a respeito do significado que estamos atribuindo a cada uma das denominações a ser estudada.

Chamaremos de intersexualismo os casos individuais que, desde o nascimento apresentam a genitália ambígua, ou seja, aquela que suscita pesquisa médica, por vezes minuciosa, para a definição do sexo. São os casos clínicos de recém-natos em que apenas o exame externo ou ectoscópico não permite, em geral, determinar se aquela pequena criatura é do sexo masculino ou feminino.

Nesses casos, recorrem-se a métodos laboratoriais, radiográficos ou cirúrgicos para o esclarecimento e encaminhamento correto do problema. São designados esses casos de intersexualismo, também de pseudo-hermafroditismo, pois hermafroditismo seria a existência completa dos órgãos reprodutores dos dois sexos em um mesmo indivíduo.

O intersexualismo ocorre, sem dúvida, por fatores genéticos e embriológicos, que por sua vez são consequência da influência energética do estado patológico do espírito. A profunda desarmonia existente nos núcleos psicossexuais do inconsciente irradiam ondas magnéticas para a periferia, influenciando sobre as moléculas de D.N.A (genes), que pelas suas características energéticas de alta especialização passarão a responder com as anomalias físicas consequentes. O uso da sexualidade e do sexo de forma confusa, desequilibrada, e nitidamente fora dos padrões éticos, levando ao sofrimento de outros, foram fatores que determinaram  a profunda desarmonia nos núcleos psicossexuais  do perispírito.

O modelo ou matriz astral, em estado desorganizado, foi a causa ou fonte geradora da manifestação física intersexual. Lembramos que há casos em diferentes níveis, diferentes gradações, determinando consequencias, também , em graus corrrespondentes.

Nos bebês intersexuais, após a análise médica do caso envolvendo cariograma com corpúsculo de Baar (que identifica o sexo feminino quando presente em mais de 5% das células) e a cirurgia é indicada, torna-se de grande importância o amparo psicológico e espiritual da criança na sequência do acompanhamento do caso.

Dr. Ricardo Di Bernardi é médico pediatra, homeopata. Fundador e presidente do ICEF em Florianópolis. Autor de vários livros entre eles - Gestação Sublime intercâmbio.

http://www.estantevirtual.com.br/autor/ricardo-di-bernardi

http://medicinaespiritual.blogspot.com.br/

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Internet e o Jovem Espírita

A Internet, como sabemos, é um fenômeno irreversível que deve ser aproveitado a nosso favor, e não contra. A cada minuto, milhões de informações são trafegadas, numa avalanche de dados para a qual estamos expostos todos os dias. O conceito de “vida virtual” já está consolidado: podemos trabalhar, comprar produtos e serviços, nos divertir e até mesmo fazer novos relacionamentos através da rede mundial de computadores. Segundo uma recente pesquisa promovida pelo Instituto Ipsos Brasil, 93% dos brasileiros possuem acesso a Internet com ou sem computador em casa. Negá-la ou ignorá-la, portanto, seria deixar de reconhecer a evolução dos tempos e da tecnologia, que deve caminhar, de acordo com o que diz a própria Doutrina, em benefício da humanidade.
Para além da questão da habilidade em operá-la, quando jovens e crianças manuseiam os computadores com destreza e naturalidade, a Internet mexeu diretamente com o contato destes com o mundo, sendo esta uma relação mediada. Os jovens conversam com seus amigos por meio de teclados, monitores e programas. Os encontros e desencontros, o lazer, tudo se faz por intermédio da máquina, em jornadas de horas a fio, em dias e madrugadas, conversando, navegando e interagindo.
Além da mediação, a Internet cria no jovem e na criança o hábito de realizar várias atividades ao mesmo tempo. A semelhança do ambiente multitarefa dos computadores, com múltiplas janelas abertas, disputa a atenção dos sentidos sobre-excitados, entre sons e imagens.
A conduta moral do jovem espírita deve ser exercitada em todos os setores da sociedade. Por isso, tal conduta deve ser igualmente praticada quando ele utiliza a Internet. Neste sentido, seguem algumas informações importantes para o bom uso da rede mundial de computadores. Esteja atento aos sites que costuma frequentar. A Internet possui milhares de opções; várias são boas e produtivas, ensinando informações novas que são importantes para o nosso conhecimento, além de serem fontes de entretenimento sadio. Entretanto, muitos outros são os sites com conteúdos duvidosos ou que transmitem informações nocivas. Portanto, antes de entrar em um site, faça a sua avaliação com base nos conceitos morais que a Doutrina nos oferece!
Quando utilizar sites de relacionamento, esteja atento à linguagem que utiliza para se comunicar, mantendo um padrão elevado. É fundamental evitar palavras chulas e pesadas. Portanto, nunca responda com palavrões, mesmo que usem de grosserias.
Lembre-se de que atrás de um personagem, de um Nick, de um avatar, existe uma pessoa: você. Por fim, respeite para ser respeitado e trate os outros como você gostaria de ser tratado. Até a próxima!

Autor (a): Marcos Leite

Revista Cultura Espírita – Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) – Ano: IV – Edição nº 36- Página: 17 – Rio de Janeiro – Março/2012.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Revista Espírita: Estrela Capela

Por Camille Flammarion

(2o artigo – Vide o número de março)

Deixamos Lúmen em Capela, ocupado em considerar a Terra, que acabava de deixar. Estando este mundo situado a 170 trilhões e 392 bilhões de léguas da Terra, e percorrendo a luz 70.000 léguas por segundo, esta não pode chegar de um a outro senão em 71 anos, 8 meses e 24 dias, ou seja, cerca de 72 anos. Disso resulta que o raio luminoso que leva a imagem da Terra só chega aos habitantes de Capela ao cabo de 72 anos. Tendo Lúmen morrido em 1864, e lançando o olhar sobre Paris, a viu tal qual era 72 anos antes, isto é, em 1793, ano de seu nascimento.

De início ficou muito surpreso por encontrar tudo diferente do que tinha visto, de ver ruelas, conventos, jardins, campos, em lugar de avenidas, novos bulevares, estações ferroviárias, etc. Viu a Praça da Concórdia ocupada por uma imensa multidão e foi testemunha ocular do advento de 21 de janeiro.14 A teoria da luz lhe deu a chave deste estranho fenômeno. Eis a solução de algumas dificuldades que ele levanta.15

Sitiens – Mas, então, se o passado pode confundir-se com o presente; se a realidade e a visão se casam do mesmo modo; se pessoas mortas há muito tempo ainda podem ser vistas representando na cena; se as construções novas e as metamorfoses de uma cidade como Paris podem desaparecer e deixar ver em seu lugar a cidade de outrora; enfim, se o presente pode apagar-se para a ressurreição do passado, sobre que certeza, de agora em diante,podemos confiar? Em que se tornam a Ciência e a observação? Em 14 N. do T.: Flammarion se refere à execução de Luís XVI, ocorrida em 21 de janeiro de 1793. 15 Segundo o cálculo, e em razão da distância do Sol, que é de 38 milhões e 230 mil léguas de 4 quilômetros, a luz desse astro nos chega em 8 minutos e 13 segundos. Disso resulta que um fenômeno que se passasse em sua superfície só nos chegaria 8 minutos e 13 segundos mais tarde, e se tal fenômeno fosse instantâneo, já não existiria mais quando o víssemos. Sendo a distância da Lua de apenas 85.000 léguas,sua luz nos chega mais ou menos em um segundo e um quarto; por conseguinte, as perturbações que aí pudessem acontecer nos apareceriam pouco depois do momento em que ocorressem. Se Lúmen estivesse na Lua, teria visto a Paris de 1864, e não de 1793. Se estivesse num mundo duas vezes mais afastado do que Capela, teria visto a Regência.  que se tornam as deduções e as teorias? Em que se fundam os nossos conhecimentos, que nos parecem os mais sólidos? E se essas coisas são verdadeiras, não devemos, doravante, duvidar de tudo ou crer em tudo?

Lúmen – Estas considerações e muitas outras, meu amigo, me absorveram e atormentaram, mas não impediram de ser a realidade que eu observava. Quando tive a certeza de que tínhamos presente sob os olhos o ano de 1793, pensei imediatamente que a própria Ciência, em vez de combater esta realidade – porque duas verdades não podem opor-se entre si – devia me dar a sua explicação. Então interroguei a física e esperei sua resposta. (Segue a demonstração científica do fenômeno.)

Sitiens – Assim, o raio luminoso é como um correio,que nos traz notícias do estado do país que o envia, e que, se levar 72 anos para nos chegar, dá-nos o estado desse país no momento de sua partida, isto é, cerca de 72 anos antes do momento em que nos chega.

Lúmen – Adivinhastes o mistério. Para falar mais exatamente ainda, o raio luminoso seria um correio que nos trouxesse, não notícias escritas, mas a fotografia, ou mais rigorosamente ainda, o próprio aspecto do país de onde saiu. Quando, pois, examinamos ao telescópio a superfície de um astro, ainda não vemos esta superfície tal qual é no momento mesmo em que a observamos, mas tal qual era no momento em que a luz que nos chega foi emitida por essa superfície.

Sitiens – De sorte que se uma estrela cuja luz leva,suponhamos, dez anos para chegar até nós, fosse subitamente aniquilada hoje, nós a veríamos ainda durante dez anos, pois seu último raio só nos chegaria em dez anos.

Lúmen – É exatamente isto. Há, pois, aí, uma surpreendente transformação do passado em presente. Para o astro observado é o passado, já desaparecido; para o observador é o presente, o atual. O passado do astro é rigorosa e positivamente o presente do observador.

Mais tarde Lúmen vê a si mesmo, menino, com seis anos,brincando e discutindo com um grupo de outros meninos na Praça do Panthéon.

Sitiens – Confesso que me parece impossível que se possa ver assim a si mesmo. Não podeis ser duas pessoas. Já que tínheis 72 anos quando morrestes, vosso estado de infância tinha passado, desaparecido há muito tempo. Não podeis ver uma coisa que não mais existe. Não se pode ver em duplicata, menino e velho.

Lúmen – Não refletis bastante, meu amigo. Compreendestes muito bem o fato geral para o admitir; mas não observastes suficientemente que este último fato particular entra absolutamente no primeiro. Admitis que o aspecto da Terra leva 72 anos para vir a mim, não é? que os acontecimentos não me chegam senão com este intervalo de tempo depois de sua atualidade? Numa palavra, que eu veja o mundo tal qual era naquela época. Igualmente admitis que, vendo as ruas daquela época, eu veja, ao mesmo tempo, os meninos que corriam naquelas ruas? Pois bem! desde que vejo este grupo de crianças, do qual fazia parte, por que quereis que não me veja tão bem quanto vejo os outros?

Sitiens – Mas não estais mais naquele grupo.

Lúmen – Ainda uma vez, este grupo mesmo não mais existe agora, mas eu o vejo tal qual existia no instante em que partia o raio luminoso que hoje me chega e, já que distingo os quinze ou dezoito meninos que o compunham, não há razão para que o menino que era eu desapareça, só porque sou eu quem o olha. Outros observadores o veriam em companhia de seus camaradas. Por que quereis que haja exceção quando sou eu quem olha? Eu os vejo todos, e me vejo com eles. Lúmen passa em revista a série dos principais acontecimentos políticos, ocorridos desde 1793 até 1864, quando ele próprio se vê em seu leito de morte.

Sitiens – Estes acontecimentos passaram rapidamente sob os vossos olhos?

Lúmen – Eu não poderia apreciar a medida do tempo. Mas todo esse panorama retrospectivo se sucedeu certamente em menos de um dia... talvez em algumas horas.

Sitiens – Então não compreendo mais. Se 72 anos terrestres passaram sob vossos olhos, deveriam ter gasto exatamente 72 anos para vos aparecer, e não algumas horas. Se o ano de 1793 só vos apareceu em 1864, em compensação o de 1864 não vos deveria aparecer senão em 1936.

Lúmen – Vossa objeção é fundada e me prova que compreendestes bem a teoria do fato. Por isso, vou explicar-vos por que não me foi necessário esperar 72 novos anos para rever minha vida, e como, sob o impulso de uma força inconsciente, de fato a revi em menos de um dia.

Continuando a seguir minha existência, cheguei aos últimos anos, notáveis pela transformação radical que sofreu Paris; vi meus últimos amigos e vós mesmo; minha família e meu círculo de relações; enfim chegou o momento em que me vi deitado em meu leito de morte e onde assisti à última cena. É dizer-vos que tinha voltado à Terra.

Atraída pela contemplação que a absorvia, rapidamente minha alma tinha esquecido um montão de velhos e Capela. Como se o sente por vezes em sonho, ela voava para o objetivo de seus olhares. De início não me apercebi, tanto a estranha visão cativava todas as minhas faculdades. Não vos posso dizer nem por que lei, nem por que força as almas podem transportar-se tão rapidamente de um a outro lugar; mas a verdade é que eu tinha voltado à Terra em menos de um dia, e que penetrava em meu quarto no exato momento de meu enterro.

Porque, nesta viagem de volta, eu ia à frente dos raios luminosos, eu diminuía incessantemente a distância que me separava da Terra, a luz tinha cada vez menos caminho a percorrer e abreviava assim a sucessão dos acontecimentos. Em meio do caminho, não me mostravam mais a Terra de 72 anos antes, mas de 36. Aos três quartos do caminho, os aspectos eram atrasados apenas 18 anos. Na metade do último quarto, chegavam-me apenas após passados 9 anos, e assim por diante; de sorte que a série inteira de minha existência se achou condensada em menos de um dia,devido à rápida volta de minha alma, indo à frente dos raios luminosos.

Quando Lúmen chegou em Capela, viu um grupo de velhos ocupados em considerar a Terra, e dissertando sobre o acontecimento de 1793. Um deles disse aos companheiros:

“De joelhos! meus irmãos; peçamos indulgência ao Deus universal. Esse mundo, essa nação, essa cidade estão manchados por um grande crime; a cabeça de um rei inocente acaba de cair.” Aproximei-me do ancião, diz Lúmen, e lhe pedi que me fizesse o relato de suas observações.

“Informou-me que, pela intuição de que são dotados os Espíritos do grau dos que habitam este mundo, e pela faculdade íntima de apercepção que receberam em partilha, possuem uma espécie de relação magnética com as estrelas vizinhas. Estas estrelas são em número de doze ou quinze; são as mais próximas; fora dessa região a apercepção torna-se confusa. Nosso Sol é uma dessas estrelas vizinhas.16 Eles conhecem, pois, vagamente mas sensivelmente, o estado das humanidades que habitam os planetas dependentes desse sol e o seu relativo grau de elevação intelectual e moral.

“Além disso, quando uma grande perturbação atravessa uma dessas humanidades, quer na ordem física, quer na ordem moral, eles sofrem uma espécie de comoção íntima, como se vê uma corda vibrante fazer entrar em vibração uma outra corda situada a distância.”

“Há um ano – o ano deste mundo é igual a dez dos nossos – eles se tinham sentido atraídos por uma emoção particular para o planeta terrestre, e os observadores tinham seguido com interesse e inquietude a marcha deste mundo.”

Laboraríamos em erro se inferíssemos do que precede que os habitantes das diferentes esferas, do ponto de vista onde estão, lançam um olhar investigativo sobre o que se passa nos outros mundos, e que os acontecimentos que aí se realizam passam sob seus olhos como no campo de uma luneta. Aliás, cada mundo tem suas preocupações especiais, que cativam a atenção de seus habitantes, conforme suas próprias necessidades, seus costumes 16 170 trilhões e 392 bilhões de léguas! Pela distância que separa as estrelas vizinhas pode-se julgar a extensão ocupada pelo conjunto das que, entretanto, nos parecem à vista tão perto umas das outras, sem contar o número infinitamente maior das que só são perceptíveis com o auxílio do telescópio e que não são, elas próprias, senão uma ínfima fração das que, perdidas nas profundezas do infinito, escapam a todos os nossos meios de investigação. Se se considerar que cada estrela é um sol, centro de um turbilhão planetário, compreender-se-á que o nosso próprio turbilhão não passa de um ponto nessa imensidade. Que é, pois, nosso globo de 3.000 léguas de diâmetro, entre esses bilhões de mundos? Que são seus habitantes, que durante muito tempo acreditaram que seu pequeno mundo era o ponto central do Universo, e eles próprios se crerem os únicos seres vivos da criação, concentrando apenas em si as preocupações e a solicitude do Eterno e crendo de boa-fé que o espetáculo dos céus não tinha sido feito senão para lhes recrear a vista? Todo esse sistema egoísta e mesquinho, que, durante longos séculos, constituiu o fundamento da fé religiosa, desmoronou-se diante das descobertas de Galileu. completamente diferentes e seu grau de adiantamento. Quando os Espíritos encarnados num planeta têm motivos pessoais para se interessarem pelo que se passa em outro mundo, ou por alguns dos que o habitam, sua alma para lá se transporta, como fez a de Lúmen, em estado de desprendimento, e então se tornam momentaneamente, a bem dizer, habitantes espirituais desse mundo, ou aí se encarnam em missão. Eis, pelo menos, o que resulta do ensinamento dos Espíritos.

Esta última parte do relato de Lúmen carece, pois, de exatidão; mas não se deve perder de vista que esta história não passa de uma hipótese, destinada a tornar mais acessíveis à inteligência e, de certo modo, palpáveis pela entrada em ação, da demonstração de uma teoria científica, como fizemos observar em nosso artigo precedente.

Chamamos a atenção para o parágrafo acima, no qual é dito que: “As grandes perturbações físicas e morais de um mundo produzem sobre os mundos vizinhos uma espécie de comoção íntima, como uma corda vibrante faz vibrar uma outra corda colocada a distância.” O autor, que em matéria de ciência não fala levianamente, anuncia aí um princípio que um dia bem poderia ser convertido em lei. A Ciência já admite, como resultado da observação, a ação recíproca material dos astros. Se, como se começa a suspeitar, esta ação, aumentada pelo fato de certas circunstâncias, pode ocasionar perturbações e cataclismos, nada haveria de impossível que essas mesmas perturbações tivessem seu contragolpe. Até o presente a Ciência considerou apenas o princípio material; mas, se se levar em conta o princípio espiritual como elemento ativo do Universo, e se se pensar que esse princípio é tão geral e tão essencial quanto o princípio material, conceberse-á que uma grande efervescência deste elemento e as modificações que ele sofre num ponto dado possam ter sua reação,por força da correlação necessária que existe entre a matéria e o espírito. Há certamente nesta idéia o germe de um princípio fecundo e de um estudo sério para o qual o Espiritismo abre caminho.
R.E. , maio de 1867, p. 212

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Revista Espírita: A guerra surda


(Paris, 14 de agosto de 1863)

“A luta vos espera, meus caros filhos; eis por que convido a todos a imitar os antigos lutadores, isto é, a cingir os rins. Os anos que vão seguir estão plenos de promessas, mas, também,de ansiedades. Não venho dizer: Amanhã será o dia da batalha! não, porque a hora do combate ainda não está fixada; mas venho vos advertir, a fim de que estejais prontos para qualquer eventualidade. Até agora o Espiritismo só encontrou uma rota fácil e quase florida, porque as injúrias e as zombarias que vos dirigem não têm nenhum alcance sério e ficaram sem efeito, ao passo que,doravante, os ataques que forem dirigidos contra vós terão um caráter totalmente diverso: eis que é chegada a hora em que Deus vai fazer apelo a todos os devotamentos, em que vai julgar seus servidores fiéis, para dar a cada um a parte que tiver merecido. Não vos martirizarão corporalmente, como nos primeiros tempos da Igreja; não erguerão fogueiras homicidas, como na Idade Média,mas vos torturarão moralmente; armarão ciladas, armadilhas tanto mais perigosas quanto usarão mãos amigas; agirão na sombra; recebereis golpes, sem que saibais de onde partem, e sereis feridos em pleno peito pelas setas envenenadas da calúnia. Nada faltará às vossas dores; suscitarão defecções em vossas fileiras e os pretensos espíritas, perdidos pelo orgulho e pela vaidade, se prevalecerão de sua independência, exclamando: “Somos nós que estamos no reto caminho!”, a fim de que os vossos adversários natos possam dizer: “Vede como são unidos!” Tentarão semear o joio entre os grupos,provocando a formação de grupos dissidentes; cooptarão os vossos médiuns para fazê-los entrar no mau caminho ou para os desviar dos grupos sérios; empregarão a intimidação para uns, a captação para os outros; explorarão todas as fraquezas. Depois, não esqueçais que alguns viram no Espiritismo um papel a desempenhar, e um papel de primazia, que hoje experimentam mais de uma desilusão em sua ambição. Prometer-lhes-ão de um lado o que não puderem achar no outro. Depois, enfim, com dinheiro, tão poderoso em vosso século atrasado, não poderão encontrar comparsas para representar indignas comédias, visando a lançar o descrédito e o ridículo sobre a doutrina?

“Eis as provas que vos esperam, meus filhos, mas das quais saireis vitoriosos, se implorardes, do âmago do coração, o socorro do Todo-Poderoso. Eis por que eu vo-lo repito, de toda a minha alma: meus filhos, cerrai fileiras, permanecei alertas, porque é o vosso Gólgota que se ergue; e se nele não fordes crucificados em carne e osso, sê-lo-eis nos vossos interesses, nas vossas afeições, na vossa honra!

“A hora é grave e solene; para trás, então, todas as mesquinhas discussões, todas as preocupações pueris, todas as questões ociosas e todas as vãs pretensões de preeminência e de amor-próprio; ocupai-vos dos grandes interesses que estão em vossas mãos e cujas contas o Senhor vos pedirá. Uni-vos para que o inimigo encontre vossas fileiras compactas e cerradas; tendes uma contra-senha sem equívoco, pedra de toque com o auxílio da qual podeis reconhecer os verdadeiros irmãos, pois esta fórmula implica abnegação e devotamento e resume todos os deveres do verdadeiro espírita.

“Coragem e perseverança, meus filhos! pensai que Deus vos olha e vos julga; lembrai-vos também de que os vossos guias espirituais não vos abandonarão enquanto vos acharem no caminho certo. Aliás, toda esta guerra só terá um tempo e se voltará contra os que julgavam criar armas contra a doutrina. O triunfo, e não mais o holocausto sangrento, irradiará do Gólgota espírita.

“Até logo, meus filhos; saúde a todos.

Erasto, discípulo de São Paulo, apóstolo.”


R.E. , dezembro de 1863