sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Notícia: A virada para a vida adulta.

Mudanças físicas, sociais e psicológicas acontecem cada vez mais precocemente, marcando essa idade como nenhuma outra. Para os adolescentes é complicado - e para os pais também! - Suzane G. Frutuoso e João Loes.



Nada deixa a paulista Gabriela Basílio mais feliz do que estar entre amigas. Com elas, convive na escola, vai ao inglês, joga handebol, troca segredos. Ao mesmo tempo, se existe algo que a deixa constrangida, são os carinhos dos pais na frente da turma. "Gosto que façam isso em casa. Senão, morro de vergonha." Gabriela não sai sem perfume e rímel. Agradece ao mercado por produzir marcas que lhe dão estilo ao se vestir. Já deu o primeiro beijo (acha que a mãe desconfia; o pai vai saber por esta reportagem). Baixa música todos os dias pela internet. Só compra CD se for de ídolos como Britney Spears. Viver sem celular? Jamais. "Entro em desespero quando não acho o meu", diz. Adora dançar nas matinês, das quais só sai depois das 22h. Está satisfeita com as curvas que ganhou no quadril. O tamanho dos seios não a incomoda, mas só porque não são maiores nem menores do que os das amigas. Gabriela é uma típica representante dos jovens de 13 anos da atualidade.
Assim como os 18 anos representaram há duas gerações e os 15 anos há uma, os adolescentes de 13 anos dos anos 2000 simbolizam o início da travessia para a vida adulta. Uma idade marcada por uma atividade social intensa, um corpo em transformação, muitas dúvidas e euforia. A indicação etária que os elevou a esse patamar não simboliza maturidade emocional e física. Pelo contrário. Antecipadas a uma idade tão precoce, essas mudanças podem causar muita confusão em mentes e corpos bombardeados por hormônios responsáveis por uma infindável flutuação das emoções.
Esse começo da adolescência é considerado, ao mesmo tempo, a fase mais assustadora e a mais encantadora. As dúvidas surgem com as muitas e rápidas modificações corporais, geradoras de insegurança. É inesquecível, por ser o primeiro passo rumo à vida adulta cheia de conquistas, com a possibilidade de contestar tudo, repleta de promessas de liberdade irrestrita e de invulnerabilidade. Pelo menos é o que eles acreditam.

Os pais, por sua vez, ficam sem saber como agir e entender o filho que parece renegar a família. "Os 13 anos são marcados pelo desejo de não querer mais apenas seguir um comando", diz o hebiatra (médico de adolescentes) Paulo César Pinho Ribeiro, presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Eles estão rompendo os domínios paternos, querem trocar experiências. Por isso, valorizam a opinião do grupo de pares."
Para compreender o que se passa nesse período, nada melhor que ouvir os próprios protagonistas. ISTOÉ aplicou uma enquete com 100 alunos de 13 anos em três escolas de São Paulo (SP), do Recife (PE) e de Curitiba (PR) (leia quadro). A pesquisa mostra, por exemplo, que 66% acham suficiente o envolvimento dos pais em seu cotidiano e 50% definem como excelente a relação que têm em casa. O relacionamento com os amigos ganha avaliação semelhante - é excelente para metade deles. Significa que a importância dessas duas vertentes em suas vidas têm o mesmo peso.
"Tenho muitos amigos", comemora o carioca Luiz Guilherme da Costa Neves, confirmando quanto os pares são fundamentais nessa época. Ele diz que a convivência com os pais é boa. Porém, sinaliza que deseja espaço. "Vira e mexe estou com a porta do quarto fechada", diz. "Às vezes, meus pais querem entrar, mas eles atrapalham." O pai, o advogado Luiz Octávio Miranda, 51 anos, entende o menino. "É natural ele querer mais privacidade. Não vejo isso como um problema", diz. Receber com tranquilidade as novas atitudes do filho faz de Miranda uma exceção.
A maioria não sabe lidar com garotos e garotas entrando na puberdade. "Eles pararam no tempo. Pensam que o bom da adolescência deles será bom para a dos filhos hoje", afirma o psiquiatra Içami Tiba, autor do best-seller "Adolescentes - Quem Ama Educa". O especialista diz que os adultos pecam por extremos. Há pais que prendem os filhos em casa, esquecendo que pela internet eles têm o mundo ao alcance - inclusive das drogas e da pornografia. Enquanto outros dão liberdade, mas não sabem exigir responsabilidade. Oferecem independência sem cortar os laços da dependência econômica e criam adultos que desistem diante dos primeiros contratempos, incapazes de se frustrar.
Na pesquisa de ISTOÉ, 84% dos jovens não consideram a virgindade essencial. "É até melhor conhecer o sexo antes do casamento", respondeu um deles. Não quer dizer que já mantenham relações sexuais, mas o assunto interessa - e muito. Seria mais uma descoberta normal da fase.

O problema está em crescerem numa cultura tão erotizada quanto a de hoje. Tanto a data da primeira menstruação quanto a da primeira ejaculação com esperma vêm caindo cerca de 0,6 ano a cada geração. Hoje, está em 12 anos. Há pesquisas que apontam esse contato precoce com a sexualidade como gatilho da aceleração fisiológica. "E, se as mudanças hormonais acontecem mais cedo, a libido também vai despertar antes", afirma o hebiatra Pinho Ribeiro.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, do Ministério da Saúde, de 1996 a 2006 o percentual de mulheres que perderam a virgindade até os 15 anos saltou de 11% para 33%. Nessa mesma faixa etária, 47% dos meninos fizeram sexo. É verdade que no passado 13 anos já foi idade para casamento, mas a expectativa de vida também não passava de 45 anos. Era natural a iniciação sexual tão cedo. Não é a realidade do século XXI.

Só se envolve com sexo antes da hora, porém, quem estiver inseguro, tentando ser aceito na sociedade. "Os jovens dessa idade precisam de informação para entender tantas mudanças. E o mundo em que vivem não oferece isso", diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O papel dos pais no processo de construção da autoestima é fundamental.

A relação de autoridade ainda funciona nessa fase. "Mas é preciso conquistar o respeito antes de impor regras", diz Paulo Al-Assal, da empresa de pesquisas Voltage. Pais que mostram aos filhos disposição em aprender com eles ganham pontos. Esperar passar momentos de raiva para conversar também pode surtir efeito melhor do que discutir depois de uma resposta atravessada, por exemplo. Por fim, é preciso não temer zelar pelos filhos, por mais que eles esperneiem dizendo que não são mais crianças. É assim que os adolescentes de 13 anos de hoje se tornarão adultos responsáveis, éticos, honestos. E com repertório próprio para construir sua felicidade.
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Comentário

É comum ouvir pais, educadores e especialistas se referirem à entrada na adolescência como uma fase bastante sensível, sendo responsável pelo aparecimento de múltiplas crises e conflitos de relacionamento. Porque será isso? A adolescência é um tempo de despertar. O corpo físico anuncia sinais de maturidade, proporciona uma maior autonomia e exige uma crescente responsabilidade, enquanto o Espírito começa a manifestar de uma forma mais vincada as capacidades adquiridas em outras vidas. Tudo isto provoca alterações inevitáveis na personalidade e no comportamento de qualquer jovem mas que servem de preparação para a vida adulta. Passam a querer satisfazer as suas necessidades de afirmação, a perseguir a conquista da sua liberdade e a exigir o respeito pelos seus direitos, provocando resistências naqueles que ainda os julgam crianças e que ainda não lhes reconhecem capacidade para fazer um uso equilibrado da liberdade que reclamam.

O período de adolescência não possui fronteiras de idade. Ou seja, não está restrita dos 14 aos 18 anos de idade, por exemplo. A adolescência é uma fase de desenvolvimento e transição entre a infância e a idade adulta, que tem o seu início quando o indivíduo deixa de ser uma criança, mental e fisiologicamente, prolongando-se até possuir condições físicas, emocionais, psicológicas e sociais para se assumir como um adulto. Como a notícia refere, os estímulos familiares, sociais, mediáticos e tecnológicos têm tornado mais precoce a entrada na adolescência. Esta situação é um desafio para pais e educadores, pois a entrada prematura numa etapa de vida onde o desenvolvimento corporal precede em muito a maturidade emocional e psicológica, poderá expor os adolescentes a situações que ainda não conseguem controlar, provocando transtornos e desequilíbrios graves com sérias consequências para o seu futuro. Na nossa sociedade vivemos uma contradição que nos devia levar a uma reflexão atenta: Por um lado estimulamos de diversas formas à precocidade da adolescência, expondo os nossos jovens a experiências prematuras, muitas das quais se revelam prejudiciais e nocivas; Por outro, incentivamos ao prolongamento da fase adolescente o maior tempo possível, através do acesso a uma vida cómoda e isenta de deveres e responsabilidades.

Precisamos mostrar aos nossos jovens que a adolescência é uma fase onde o indivíduo ensaia o seu crescimento, mas que não é isenta de responsabilidades. Que os seus anseios por liberdade e afirmação são legítimos e saudáveis, mas que é preciso que aprenda a usá-los com equilíbrio e em seu benefício. Para muitos adolescentes, influenciados pela sociedade materialista e consumista que os transformam em alvos fáceis e acessíveis, liberdade é apenas o direito de poder frequentar festas, de satisfazer os mais diversos caprichos materiais, de buscar o prazer pelo prazer e de tomar contato com todas as experiências sexuais possíveis. Acontece que liberdade não é apenas um conjunto de direitos mas também de deveres e obrigações que os educadores não se deverão cansar de lembrar. Ou seja, durante a adolescência a função educativa não deve cessar, antes deverá ser ajustada às novas exigências sabendo como dosear os níveis de liberdade e responsabilidade mediante a maturidade do jovem e a confiança que ele proporcionar aos seus educadores. As exigências de liberdade do adolescente deverão ser confrontadas com exigências de responsabilidade por parte dos educadores. Se aliarmos o respeito pela sua individualidade, a educação pelo exemplo e a persistência no diálogo recíproco e compreensivo, isso poderá suportar as indispensáveis funções educativas de orientação e transmissão de valores éticos e morais que os adolescentes tanto necessitam para poderem fazer correções ao seu rumo.

Mas os educadores devem também instigar os adolescentes à superação. Todos os jovens têm a pretensão de pensarem que podem corrigir o mundo. Eles têm razão! Eles podem mesmo corrigir e melhorar o nosso mundo. Mas os adultos normalmente não pretendem que os jovens corrijam o mundo, querem que eles se adaptem a ele. Por melhores intenções que tenham, mesmo pensando que estão a agir pelo melhor, os educadores devem evitar transformar os adolescentes naqueles elefantes do circo que, apesar de toda a força que possuem, ficam resignados a estar amarrados por uma pata a uma pequena corrente. Em vez disso, devem incentivá-los constantemente à superação deles mesmo. Existem algumas palavras de estímulo que devem estar constantemente na boca de pais e educadores: “Não desperdice o seu tempo!”; “Você é capaz!”; “Desfruta e aproveita o teu dia”; “Não malbarate o seu tempo com trivialidades mas com o que é mais importante para você”; “Acredita em você e nas suas capacidades!”; “Sim, é verdade! Se você quiser, se trabalhar e se esforçar o suficiente, você pode mudar o mundo!”; "O mundo aguarda ansioso a realização dos seus sonhos!"
(Comentário por: Carlos Miguel Pereira é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net )

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