O que é aconselhável para os dias de carnaval? E como a
Doutrina Espírita vê o carnaval?
A doutrina espirita nem apoia nem condena o carnaval.
O Carnaval é uma festa popular, e o que a doutrina sempre
faz é nos esclarecer.
No carnaval, como qualquer outro dia, o importante é
buscarmos ficar em equilíbrio e tranquilidade, sem aflições, sem excessos.
Enquanto muitos se divertem, desequilibradamente, podemos fazer o bem. Se
gostamos de carnaval, podemos entrar na festa, mas lembrando que a doutrina nos
ensina a manter uma postura moral elevada, independente de dia ou festa. Uma
dica boa é ler o livro Conduta Espirita.
CVDEE
Na época da folia...
André Luiz Rodrigues dos Santos
Falar sobre o carnaval dentro de uma visão espírita exige
muito cuidado, ponderação e bom senso, isso porque temos opiniões vindas dos
dois planos existenciais, cada uma destacando aquilo que mais chama a atenção.
Os Espíritos nos esclarecem sobre nossos vínculos reais com os desencarnados,
destacando as extravagâncias, excessos e desequilíbrios praticados nesses dias,
que de fato observamos pelo país afora, propiciando uma nociva e estreita
relação com aqueles que ainda experimentam as sensações inferiores. Por outro
lado, irmãos encarnados oferecem suas opiniões relevando a seriedade, a
inocência e a ingenuidade com que muitos foliões brincam nos dias de carnaval,
como sendo uma época de legítimas alegria, confraternização e expressão
cultural.
O Brasil tem a característica de ser um país festivo.
Comemora-se a conquista de um título de futebol, o Ano Novo, o Natal, Dias dos
Pais, Mães e Crianças, datas religiosas... E, claro, o carnaval. Nessas festas,
os aspectos positivos e negativos trazem suas impressões. Positivamente, a
alegria, o amor e a confraternização são os combustíveis que movem esses
encontros; tem-se a oportunidade para o descanso das rotinas intensas, o
estreitamento dos laços de amizade e familiares, etc. Se procurarmos seu lado
negativo, veremos a violência entre torcedores, acidentes trágicos nas estradas
devido ao excesso de velocidade para melhor se aproveitar dos feriados, os
abusos do álcool e da comida nas festividades de fim de ano, o consumismo
desvairado nas compras dos presentes em substituição aos verdadeiros
sentimentos, condutas reprováveis no campo da sensualidade e sexualidade num
“vale tudo” sem fim, dentre tantos outros.
Estudando o Espiritismo, como ciência, filosofia e fé
raciocinada, compreende-se um princípio fundamental e inviolável, que é o
livre-arbítrio de cada indivíduo, ou seja, a não proibição de qualquer ideia,
escolha ou ação que seja. Sua maior força está no esclarecimento, explorando as
causas e analisando suas consequências, que proporcionarão felicidade ou
sofrimento.
Partindo desse princípio, agora envolvendo o foco de nosso
raciocínio, cada pessoa dispõe de liberdade para escolher qual festa, como, com
quem e onde quer comemorar, assumindo todos os riscos dessa escolha. Há a
afirmação de que “a maldade está nos olhos de quem a procura”, e se Deus nos
julga pelas nossas intenções, então já temos um elemento a mais a considerar,
contra nós ou a nosso favor, que são nossos valores.
Há, sabemos, uma imensa preocupação por parte dos amigos
desencarnados por nós, isso para que amadureçamos no entendimento da nossa
realidade espiritual, preferencialmente sem os sobressaltos que sempre atrasam
nosso progresso. Essa atenção se deve ao estágio evolutivo em que nos
encontramos, onde os estímulos físicos ainda são uma necessidade para nos
provocar sensações, despertando em nós o autocontrole, a responsabilidade e o
senso de consequência. Nesse período carnavalesco, porém, avançamos na
tolerância e nos desejos, permitindo a intensificação dos prazeres, quase como
uma tradição, podendo criar compromissos graves e com dolosos efeitos.
O Espírito André Luiz, por exemplo, na obra Conduta Espírita,
assinala, no capítulo Perante as Fórmulas Sociais, que se deve, por garantia,
“afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do
carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou
manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da
temperança.”
Se temos essas fraquezas mundanas e devemos avançar
espiritualmente, a preocupação dos Espíritos se justificam, mas, mesmo desejando
nos conduzir, não podem, nem devem, interferir. A questão é, então: como lidar
com essas comemorações hoje, diante da nossa realidade?
A resposta está no entendimento de tudo o que nos envolve. Já
disse Emmanuel, Espírito, que no campo da sexualidade não deve haver proibição,
mas educação. Assim, em qualquer área de nossa existência, desenvolvendo
respeito por nós mesmos e pelos demais, nossa conduta será sempre equilibrada.
Não haverá tolhimento do direito de expressão, nem violação de consciências, mas
retidão; não mais impulsos, mas racionalidade.
No campo mediúnico, que também devemos considerar, as
preocupações vão além das condutas públicas nesse ou naquele ambiente. Nesse
caso, já adentramos na esfera das energias mentais, que se tornam quase que
palpáveis, segundo o grau de sensibilidade do médium. O Espírito Manoel
Philomeno de Miranda, na obra Nas Fronteiras da Loucura, nos traz algumas
considerações a esse respeito: “(...) Em lugares onde o comportamento mental é
pernicioso, idêntico em muitas pessoas pela gama de interesses vividos, surgem
redutos de incúria e sofrimento espiritual, que se ampliam de acordo com a
continuidade de exteriorizações psíquicas como graças ao volume e teor delas. A
recíproca é verdadeira: onde se concentram tônus psíquicos superiores, abrem-se
vias de comunicação com as Esferas elevadas, surgem construções de paz e
Espíritos benignos convivem com as almas que se lhes afinam (...)”
Isso nos faz refletir sobre a liberdade sagrada de ir e vir,
mas muito mais sobre a capacidade de cada um de resistir às forças contrárias
desse caminho, em oposição aos princípios morais que se abraça. “Tudo me é
lícito, mas nem tudo me convém”, já disse o Apóstolo dos Gentios, ou seja,
confiar em si mesmo é o que determinará o sucesso ou fracasso dessas
comemorações.
De um modo geral, na expectativa de nossa evolução
espiritual, não estamos percebendo, pelo menos dentro de nossa pequena
perspectiva, grandes avanços morais em nossa sociedade ao ponto de desfrutarmos
de tamanha liberdade de ação para enfrentar toda e qualquer provocação
instintiva, mas não nos iludamos com essa visão pessimista, pois só de se
estudar a questão, desvendando seus benefícios e malefícios, já é um avanço
significativo, até mesmo para compreender sua gravidade.
Cada pessoa tem o direito de aproveitar esses eventos e se
divertir como melhor lhe convier. É o princípio fundamental. As ideias
espíritas, entretanto, nos ampliam o discernimento para classificar o que é ou
não saudável, e através delas podemos olhar para o mundo e decidir a direção
mais adequada, a mais sensata. Carnaval é uma festa para todos gostos e paixões.
Viver esse momento é uma opção pessoal e intransferível, cujas consequências
baterão às portas somente daqueles que forem ao seu encontro. Portanto, diante
dessa comemoração, aproveitar cada bom momento com respeito e responsabilidade é
a chave para não se desviar da trilha tão arduamente percorrida. Para o caso de
não apreciar, resta aproveitar o feriado com os mesmos cuidados e valores.
* * *
908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões
deixam de ser boas para se tornarem más?
“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando
governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se
torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá
em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.” (O Livro dos
Espíritos.)
(Autor: André Luiz Rodrigues dos Santos)
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