PROGRESSÃO DO GLOBO TERRESTRE8
(Ditado espontâneo, integrando uma série de instruções sobre a teoria dos fluidos)
(Paris, 11 de novembro de 1863)
A progressão de todas as coisas leva necessariamente à
transubstanciação, e a mediunidade espiritual é uma das forças da
Natureza que lá fará chegar mais rapidamente o nosso planeta,porque,
como todos os mundos, deve sofrer a lei da transformação e do progresso.
Não só o seu pessoal humano, mas todas as suas produções minerais,
vegetais e animais, seus gases e seus fluidos imponderáveis, também
devem aperfeiçoar-se e se transformar em substâncias mais depuradas. A
Ciência, que já trabalhou esta questão tão interessante da formação
deste mundo, reconheceu que ele não foi criado de uma palavra, como diz o
Gênesis, numa sublime alegoria, mas que sofreu, numa longa sucessão de
séculos,transformações que produziram camadas minerais de diversas
naturezas. Seguindo a gradação dessas camadas, aparecem sucessivamente e
se multiplicam as produções vegetais; mais tarde encontram-se traços
dos animais, o que indica que somente nessa época os corpos organizados
haviam encontrado a possibilidade de viver.
Estudando a progressão dos seres animados, como se fez com os minerais e
os vegetais, reconhece-se que esses seres, a princípio moluscos,
elevaram-se gradualmente na escala animal e que sua progressão
acompanhou a das produções e a da depuração do solo; nota-se, ao mesmo
tempo, o desaparecimento de certas espécies, desde que as condições
físicas necessárias à sua vida não mais existem. Foi assim, por exemplo,
que os grandes sáurios,monstros anfíbios, e os mamíferos gigantes, dos
quais hoje só se encontram os fósseis, desapareceram completamente da
Terra,com as condições de existência que as inundações lhes haviam 8
Nota da Editora: Ver “Nota Explicativa”, p. 537. criado. Sendo os
dilúvios um dos meios de transformação da Terra,foram quase gerais, isto
é, durante um certo período, causaram forte comoção no globo e assim
determinaram produções vegetais e fluidos atmosféricos diferentes. Assim
como todos os seres orgânicos, o homem apareceu na Terra quando nela
pôde encontrar as condições necessárias à sua existência.
Aí pára a criação material que depende apenas das forças da Natureza; aí
começa o papel do Espírito encarnado no homem para o trabalho, pois
deve concorrer para a obra comum; trabalhando para si mesmo, o homem
trabalha para a melhora geral. Assim, desde as primeiras raças, vemo-lo a
cultivar a terra, fazê-la produzir para suas necessidades corporais e,
desse modo, provocar transformações em seu solo, em seus produtos, em
seus gases e em seus fluidos. Quanto mais se povoa a Terra, tanto mais
os homens a trabalham, a cultivam, a saneiam, tanto mais abundantes e
variados são os seus produtos; a depuração de seus fluidos pouco a pouco
leva ao desaparecimento das espécies vegetais e animais venenosas e
nocivas ao homem, que já não podem subsistir num ar muito depurado e
muito sutil para a sua organização, e não mais lhes fornece os elementos
necessários à sua manutenção. O estado sanitário do globo melhorou
sensivelmente desde a sua origem; mas como ainda deixa muito a desejar, é
indício de que melhorará ainda pelo trabalho e pela indústria do homem.
Não é sem propósito que este é impelido a estabelecer-se nas regiões
mais ingratas e mais insalubres; já tornou habitáveis regiões infestadas
por animais imundos e miasmas deletérios; pouco a pouco as
transformações que faz sofrer o solo levarão à depuração completa.
Pelo trabalho o homem aprende a conhecer e dirigir as forças da
Natureza. Pode-se acompanhar na História o fio das descobertas e das
conquistas do espírito humano e a aplicação delas feitas para as suas
necessidades e satisfações. Mas seguindo essa fieira, deve-se notar
também que o homem se delineou,desmaterializou-se; e se se quiser fazer
um paralelo do homem de hoje com os primeiros habitantes do globo,
julgar-se-á do progresso já realizado; ver-se-á que quanto mais o homem
progride, mais é estimulado a progredir, e que a progressão está na
razão do progresso realizado. Hoje o progresso marcha em grande
velocidade, arrastando forçosamente os retardatários.
Acabamos de falar do progresso físico, material,inteligente. Mas vejamos
o progresso moral e a influência que deve ter sobre o primeiro.
O progresso moral despertou ao mesmo tempo que o desenvolvimento
material, mas foi mais lento, porque, achando-se o homem em meio a uma
criação exclusivamente material, tinha necessidades e aspirações em
harmonia com o que o cercava. Avançando, sentiu o espiritual
desenvolver-se e crescer em si, e,ajudado pelas influências celestes,
começou a compreender a necessidade da direção inteligente do Espírito
sobre a matéria; o progresso moral continuou o seu desenvolvimento e, em
diferentes épocas, Espíritos adiantados vieram guiar a Humanidade e dar
um maior impulso à sua marcha ascendente; tais são Moisés, os profetas,
Confúcio, os sábios da antiguidade e o Cristo, o maior de todos, embora
o mais humilde na Terra. O Cristo deu ao homem uma idéia maior de seu
próprio valor, de sua independência e de sua personalidade espiritual.
Mas sendo os seus sucessores muito inferiores a ele, não compreenderam a
idéia grandiosa, que brilha em todos os seus ensinos; materializaram o
que era espiritual; daí a espécie de statu quo moral, no qual a
Humanidade se deteve. O progresso científico e inteligente continua a
sua marcha; o progresso moral se arrasta lentamente. Não é certo que,
desde o Cristo, se todos os que professaram sua doutrina a tivessem
praticado, os homens se teriam poupado de muitos males e hoje estariam
moralmente mais adiantados?
O Espiritismo vem acelerar o progresso, desvendando à Humanidade os seus
destinos; e já vemos a sua força pelo número de adeptos e a facilidade
com que é compreendido. Vai provocar uma transformação moral ativa e,
pela multiplicidade das comunicações mediúnicas, o coração e o Espírito
de todos os encarnados serão trabalhados pelos Espíritos amigos e
instrutores. Dessa instrução vai surgir um novo impulso científico,
porquanto novas vias serão abertas à Ciência, que dirigirá suas
pesquisas para as novas forças da Natureza, que se revelam; as
faculdades humanas que já se desenvolvem, desenvolver-se-ão ainda mais
pelo trabalho mediúnico.
Acolhido inicialmente pelas almas ternas e inconsoláveis pela perda de
parentes e amigos, o Espiritismo o foi em seguida pelos infelizes deste
mundo, cujo número é grande, e que têm sido encorajados e sustentados em
suas provações por sua doutrina, ao mesmo tempo tão suave e
confortadora; propagou-se,assim, rapidamente, e muitos incrédulos
admirados, que a princípio o estudaram como curiosos, foram convencidos
quando, por si mesmos, nele encontraram esperanças e consolações.
Hoje os sábios começam a inquietar-se e alguns deles o estudam
seriamente e o admitem como força natural até agora desconhecida;
aplicando a ele sua inteligência e seus conhecimentos já adquiridos,
farão a Humanidade dar um imenso passo científico.
Mas os Espíritos não se limitam à instrução científica; seu dever é
duplo e eles devem, sobretudo, cultivar a vossa moral. Ao lado dos
estudos da Ciência, eles vos farão, e já fazem desde agora, trabalhar o
vosso próprio eu. Os encarnados inteligentes e desejosos de progredir
compreenderão que sua desmaterialização é a melhor condição para o
estudo progressivo, e que sua felicidade presente e futura a isto está
ligada.
Observação – É assim que o mundo, depois de haver alcançado um certo
grau de elevação no progresso intelectual, vai entrar no período do
progresso moral, cuja rota o Espiritismo lhe abre. Esse progresso
realizar-se-á pela força das coisas e levará naturalmente à
transformação da Humanidade, pelo alargamento do círculo das idéias no
seu sentido espiritual, e pela prática inteligente e raciocinada das
leis morais, ensinadas pelo Cristo. A rapidez com que as idéias
espíritas se propagam no próprio meio do materialismo, que domina a
nossa época, é indício certo de uma pronta mudança na ordem das coisas.
Basta para isto a extinção de uma geração, pois a que se ergue já se
anuncia sob auspícios completamente diferentes.
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