Livro em
estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor:
Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A016 – Cap. 4 – Estudando o hipnotismo – Segunda parte
«Em todo processo hipnológico, pois,
convém examinar a questão da sintonia e da sugestão, com razões poderosas,
senão imprescindíveis para a consecução dos objetivos: a fixação da ideia
invasora.
«O Professor José Grasset, por
exemplo, o excelente mestre de Montpeliier, inspirado nas observações realizadas
em torno do polígno cerebral que
também servira de base a Wundt e Charcot, afirmava ter descoberto ali o
centro da consciência, o núcleo da vontade, colocando, imediatamente abaixo, o
centro de Broca, responsável, pelos encargos da linguagem e os responsáveis
pela visão, audição, gustação, etc... Imaginava, então, um ponto de referência
que passava a ser o centro do psiquismo
superior, encarregado dos fenômenos conscientes e no polígono propriamente dito o campo do pensamento e da vontade,
encarregado de todas as tarefas do automatismo
psicológico. Elucidava, em consequência, que toda sugestibilidade que
dimana do operador se transmite inconscientemente
tomando posse do campo cerebral, no polígono
do hipnotizado. A vontade dominante se encarrega de conduzir a vontade
dominada, como se a alma de quem hipnotiza substituísse momentaneamente a alma
do que foi hipnotizado». Dessa forma, o hipnotismo pode ser denominado, como
querem alguns experimentadores, «O anestésico da razão».
“Já o psicólogo inglês Guilherme
Mac-Dougall, igualmente fascinado pelo assunto, asseverava, examinando o problema
da sugestão na hipnose, que esta é um meio de transmissão do pensamento, tendo
como resultado a convicta aceitação de qualquer mensagem proposta independendo
de análise pelo paciente com exame lógico para a sua aquiescência. Isto é: o
operador impõe-se ao sujeito, que o
recebe sem reação proveniente de exame prévio.
“Em bom vernáculo, sugestão é «o ato ou efeito de sugerir.
Inspiração, estímulo, instigação. Ideia provocada em uma pessoa em estado de
hipnose ou por simples telepatia”.
«A sugestão é, portanto, a
inspiração incidente, constante, que atua sobre a mente, provocando a aceitação
e a automática obediência.
«Por essa razão, Forel informa que
os cérebros sadios são mais fáceis de aceitar a sugestão, e Emilio Coué,
discípulo de Liébault, prefere considerar que os pacientes capazes de
autossugestionar-se são melhores para que com eles se lobriguem resultados mais
explícitos e imediatos.
«Outros autores, como é o caso do
insigne Pavlov, o «pai» dos reflexos nos animais e no homem, elucidam que o
sono natural hipnótico e a inibição constituem a mesma coisa, deixando
transparecer que, no momento em que essa inibição se generaliza, permanecendo a
causa preponderante, tende a espalhar-se, facultando ao hipnotizando aceitar a
sugestão que prepondera.
«Ocorre, entretanto, que todos os
seres têm uma tendência ancestral, natural, para a obediência, o que se
transforma num condicionamento inconsciente para aceitar toda ordem exterior,
quando não se tem uma lucidez equilibrada e firme capaz de neutralizar as
ideias externas que são sugeridas.
«No fenômeno hipnológico há outro
fator de grande valia que é a perseverança, a constância da ideia que se
sugere naquele que a recebe. Lentamente a princípio tem início a penetração da
vontade que, se continuada, termina por dominar a que se lhe submete.
«Os modernos psicanalistas e
reflexologistas situam as suas observações, os primeiros nos reflexos condicionados,
que pretendem ser um «estado de inibição difusa somática cortical» com a
presença de um ponto de vigília, enquanto os segundos se referem a um «processo
regressivo particular que pode ser iniciado por privação senso-motora ideativa
ou por estimulação de uma relação arcaica com o hipnotista».
Os conceitos emitidos com sabedoria
e em síntese prodigiosa, considerando-Se a imensa variedade de opiniões em
torno do Hipnotismo, nos deslumbravam. Que mundo estranho e imenso, o da mente!
Quantas paisagens desconhecidas para nós! Os próprios estudiosos dos fenômenos
psíquicos, na Terra e além da vida física, encontravam-Se empenhados
milenarmente na elucidação das questões palpitantes da vida mental, encontrando,
só agora, alguns pontos vígeis para elucidações dos processos de intercâmbio
entre homens e homens, espíritos desencarnados e encarnados. Deixava-me arrastar
em considerações, na pausa que se fizera espontanea, quando a Entidade Abnegada
prosseguiu:
— «Isto posto, meus irmãos, examinemos
o problema das obsessões entre os desencarnados e encarnados, na esfera
física.
«Em todo processo de imantação
mental, do qual decorrem os sucedâneos da obsessão simples, da fascinação e da
subjugação — conforme a classificação perfeita de Allan Kardec —, há sempre
fatores predisponentes e preponderantes que se perdem no intrincado das
reencarnações.
«Toda vítima de hoje é algoz de
ontem, tomando o lugar que lhe cabe no concerto cósmico.
«Assim considerando, em quase todos
os processos de loucura — exceção feita não somente aos casos orgânicos de
ataque microbiano à massa encefálica ou traumatismo por choques de objetos
contundentes — defrontamos com rigorosas obsessões em que o amor desequilibrado
e o ódio devastador são agentes de poderosa atuação.
«Quando há um processo de obsessão
desta ou daquela natureza, o paciente possui os condicionamentos psíquicos — lembranças inconscientes do débito
através das quais se vincula ao perseguidor —, que facultam a sintonia e a
aceitação das ideias sugeridas e constringentes que chegam do plano
espiritual.
Se o paciente é experimentado nas
disciplinas morais, embora os compromissos negativos de que padece, consegue,
pela conquista de outros méritos, senão contrabalançar as antigas dívidas pelo
menos granjear recursos para resgatá-las por outros processos que não os da
obsessão.
“As Leis Divinas são de justiça,
indubitavelmente; no entanto, são também de amor e de misericórdia. O Senhor
não deseja a punição do infrator, antes quer o seu reajuste à ordem, ao dever,
para a sua própria felicidade.
«Desse modo, quando a entidade
perseguidora, consciente ou não, se vincula ao ser perseguido, obedece a
impulso automático de sintonia espiritual por meio da qual estabelece os
primeiros contactos psíquicos, no centro da ideia, na região cortical
inicialmente e depois nos recônditos do polígono
cerebral, donde comanda as diretrizes da vida psíquica e orgânica,
produzindo ali lesões desta ou daquela natureza, cujos reflexos aparecem na
distrofia e desarticulação dos órgãos ligados à sede atacada pela
força-pensamento invasora.
«Desse centro de comando, em que o hóspede se sobrepõe ao hospedeiro, as alienações mentais e os
distúrbios orgânicos se generalizam em longo curso, que a morte do obsidiado nem sempre interrompe.
«A consciência culpada é sempre
porta aberta à invasão da penalidade justa ou arbitrária. E o remorso, que lhe
constitui dura clave, faculta o surgimento de ideias-fantasmas apavorantes que
ensejam os processos obsessivos de resgate das dívidas.
«Invariavelmente, na obsessão, há
sempre o aproveitamento da ideia traumatizante — a presença do crime praticado
—, que é utilizada pela mente que se faz perseguidora revel, apressando o
desdobramento das forças deprimentes em latência, no devedor, as quais,
desgovernadas, gravitam em torno de quem as elabora, sendo consumido por elas
mesmas, paulatinamente.
Nas atividades da obsessão de
espíritos a espíritos desencarnados, aqueles verdugos, conhecedores das
limitações e dos erros dos recém-chegados da jornada carnal, após os terem
acompanhado anos a fio, com sicários implacáveis, utilizam-se de ardis com que
apavoram os desassisados, e por processos de sugestão, aplicados com
veemência nos centros perispirituais, conseguem produzir lamentáveis
condicionamentos de alteração na forma das
vítimas que se lhes demoram nas garras, dominando-as, por fim, em demorado
curso de vingança ultriz e devastadora.
«As ideias plasmadas e aceitas pelo
cérebro, durante a jornada física, criam nos painéis delicados do perispírito
as imagens mais vitalizadas, de que se utilizam os hipinotizadores espirituais para recompor o quadro apavorante, em
cujas malhas o imprevidente se vê colhido, derrapando para o desequilíbrio
psíquico total e deixando-se revestir por formas animalescas grotescas — que
já se encontram no subconsciente da própria vítima — e que estrugem, infelizes,
como o látego da justiça no necessitado de corretivo.
«No sentido oposto, as ideias
superiores, alimentadas pelo espírito em excursão vitoriosa, condicionam-no à
libertação, concedendo «peso específico» ao
seu perispírito, que pode, então, librar além e acima das vicissitudes
grosseiras do liame carnal.
«Com muita sabedoria, Allan Kardec
enunciou que:
«Relativamente às sensações que vêm
do mundo exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito
a transmite e o Espírito, que é o ser sensível e inteligente, a recebe. Quando
o ato é de iniciativa do Espírito, pode dizer-se que o Espírito quer, o
perispírito transmite e o corpo executa — elucidando, em admirável síntese, o
poder do pensamento na vida orgânica e das sensações no Espírito (4).
Amplo silêncio se espraiou pela
sala. Todos mergulhamos em meditações, enquanto o angélico Instrutor propiciou
uma pausa para reflexão dos ouvintes. E como fazendo as elucubrações para
finalizar, arrematou:
— “Por essa razão, a vitalização de idéias
edificantes constrói o céu generoso
da felicidade, tanto quanto a mentalização deprimente gera o inferno da aflição que passa a governar
o comportamento do espírito.
«É nesse particular que se avultam
as lições soberanas do Mestre Galileu, conclamando o homem ao ajustamento à
vida, respeitando-lhe as diretrizes abençoadas, através das medidas da
mansuetude, da compaixão, da misericórdia, do amor indistinto e do perdão incessante.
«Reverenciamos hoje na Terra,
felizmente, o Espiritismo com Jesus, verdadeira fonte de idéias superiores e
enobrecidas que libertam õ espírito e o conduzem às verdadeiras causas em que
devem residir os seus legítimos interesses, fazendo que a dúvida seja banida,
no que diz respeito à vida verdadeira, e trabalhando contra o egoísmo, fator
infeliz de quase todos os males que afligem a Humanidade.
«Se alguém incide em erro, que se
levante do equívoco e recomece o trabalho da própria dignificação. O erro representa lição que não pode constituir látego, mas
ensejo de enobrecimento pela oportunidade que faculta para a reparação e o
refazimento.
«O intercâmbio permanente dos
Espíritos de uma com outra esfera da vida objetiva, seguramente, oferece ao
homem a visão porvindoura do que, desde já, lhe está reservado. No entanto, para
dizer-se alguém espírita não basta que se tenha adentrado nos conceitos
espiritistas ou participado de algumas experiências práticas da mediunidade...
É imprescindível incorporar ao modo de vida os ensinamentos dos Espíritos da
Luz, tomando parte ativa na jornada de redenção do homem, por todos os modos e
por todos os meios ao alcance, para que triunfem os postulados da paz, da
justiça e do amor entre todas as criaturas.
«Nesse particular, o amor, conforme
nos legou Jesus-Cristo, possui a força sublime capaz de nos preservar de nós
mesmos, ainda jornaleiros do instinto, ensinando-nos que a felicidade tem as
suas bases na renúncia e na abnegação, ensejando-nos mais ampla visão de
responsabilidade e dever na direção do futuro.
«Dia virá, não muito longe, em que a
dor baterá em retirada, definitivamente, e o intercâmbio do bem, pela força
criadora do amor que se origina nos Dínamos Mentais da Divina Providência,
envolverá vigorosamente todos os seres e os conduzirá à direção da tranquilidade
plena, em cujo caminho já nos encontramos desde agora...
«Confiemos, pois, na vitória final
do bem e desde logo nos entreguemos ao Sumo Bem que cuidará do nosso próprio
bem».
Calou-se o Amigo Espiritual.
Suaves vibrações como que carreadas
por mãos invisíveis invadiram a sala, e ondas de imensa tranquilidade nos
dominavam a todos.
Proferindo
expressões de despedida carinhosa e deixando-nos com lágrimas que fluíam
abundantes dos olhos, o Venerando Mentor desligou-se do médium e a sessão foi encerrada
Um
silêncio de emoções indescritíveis nos acompanhou a todos de retorno ao lar, para o
necessário repouso, enquanto a noite serena salmodiava canções em fios
estelares, estuando no Infinito.
(4)
“Obras Póstumas” — Allan Kardec — 11ª
edição —“Manifestações dos Espíritos” — Item 11 — FEB. — Nota do Autor
espiritual.
QUESTÕES PARA ESTUDO E
DIÁLOGO VIRTUAL
2) Por que o hipnotismo foi considerado o “anestésico da razão”?
3) Que tipo de predisposição uma pessoa pode ter para ser vítima da obsessão?
4) O que uma pessoa que já cometeu muitos males em existências anteriores pode fazer para prevenir-se do assédio de Espíritos obsessores?
5) Dúvidas sobre este capítulo?
Um abraço a todos!
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