Livro em estudo: Nos Bastidores
da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito Manoel Philomeno
de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A019 – Cap. 6 – No Anfiteatro – Primeira Parte
Ante a proximidade do momento de nos dirigirmos aos
sítios em que o Dr. Teofrastus labora, voltavam-nos à mente as lições
fornecidas pelo Benfeitor Glaucus, em torno da história e das realidades da
hipnose.
Guilherme, amparado fraternalmente por Ambrósio, o
delicado enfermeiro e assistente de Saturnino, foi incorporado ao grupo, e
assim nos acercamos da porta do velho edifício da União, para nos transferirmos
até o Anfiteatro.
Saturnino, prestimoso e severo, antevendo a gravidade da
excursão, a todos nos adestrou, quanto possível, nos recursos da concentração
e da prece, de modo a evitarmos qualquer desastre, no reduto inditoso para onde
rumávamos.
A tarefa, de grande realce, tinha como objetivo essencial
conhecer os métodos de trabalho dos «adversários da Luz», de modo a elucidar
os companheiros reencarnados e aplicar, igualmente, os antídotos compatíveis
quando estes esclarecimentos viessem a lume.
Sem dúvida, desde as primeiras horas do Espiritismo,
Mensageiros Eficientes têm vindo à Terra oferecer esclarecimentos sobre as
paisagens do Mais Além... e, mesmo antes da chegada do Consolador, os informes
incessantes chegavam aos ouvidos dos homens, advertindo-os sobre as realidades
insofismáveis da vida.
Aguardava-nos à porta singular veículo, semelhante às
velhas seges, porém de maiores proporções, à qual estavam atrelhados duas
parelhas de corcéis brancos, belos espécimes equinos, conduzidos por um
cocheiro de meia-idade, que nos saudou com discreta cortesia.
Adentramo-nos no coche, que partiu. As cortinas arreadas
não nos permitiam a visão do exterior.
O irmão Saturnino esclareceu que conhecia o local
em que estava o anfiteatro, próximo à região pantanosa da cidade, em uma área
deserta e não muito distante, que atingiríamos numa hora de viagem
aproximadamente. Elucidou, ainda, que a providência de utilizar o veículo se
justificava, considerando a situação de alguns dos membros presentes à
excursão, pouco adestrados a voos mais expressivos fora do corpo somático, como
Guilherme e qual acontecia a nós outros, algemados, ainda, às formas físicas.
Convidados à oração silenciosa, procuramos mergulhar no
oceano sublime da prece, de modo a contribuir com os recursos possíveis para o
êxito da missão.
Transcorrido mais ou menos o tempo previsto, escutamos
bulha e altercação à nossa frente, quando, então, saltamos da condução,
prosseguindo a pé. Havia uma multidão de entidades viciosas, em atitudes
repelentes, que dialogavam com expressões vis e ultrajantes. Entre elas,
podiam-se notar diversos encarnados — perfeitamente diferençáveis, graças aos
vínculos do perispírito ainda ligado ao corpo físico — que pareciam algemados a
alguns dos desencarnados libertinos, que os conduziam como se fossem escravos
das suas paixões e de quem não se podiam libertar. Outros apareciam com carantonhas
simiescas e o recinto tresandava putrefação. Vibrações viscosas e sombrias
carregavam os céus que tinham um tom pardacento-escuro, sem estrelas, e o solo
miasmático parecia um paul insano que, todavia, não lhes chamava a atenção,
acostumados como se encontravam à paisagem triste e morta do local.
A construção, de matéria viscosa e escura, tinha a forma
semicircular e fazia lembrar repentinamente os velhos circos, não fosse a
substância de que se revestia. Luzes roxas e vermelhas esparramavam sombras
atormentadas que passavam perdidas nos interesses em que se compraziam e, de
quando em quando, massa compacta e atroadora, empurrando violentamente os que
se encontravam à frente, chegava em galhofa infernal. Dificilmente se poderia
ver na Terra espetáculo de tal natureza... E, todavia, estávamos na Terra, um
pouco fora das vibrações do mundo material, dentro dele, porém.
Alguns guardas bufos e caricatos, tomavam conta da
entrada ampla, onde se encontravam assestados alguns aparelhos, que faziam
lembrar os torniquetes utilizados entre os homens, com a diferença de que sobre
eles havia uma caixa quadrangular, que Saturnino informou ter a finalidade de
impedir a entrada de Espíritos que não pertencessem à malta. Era o psicovibrômetro
que tinha a capacidade de registar as ondas vibratórias de todos os
assistentes, denunciando, assim, quaisquer intromissões
dos Espíritos Superiores.
Ele, Ambrósio e Glauco, todavia, tomaram precauções
especiais, de modo a transporem a passagem sem provocar qualquer alarme
denunciador, através de um processo de imersão mental nas lembranças do
passado, o que lhes diminuiria o registro vibratório. Além disso, penetrariam
no recinto, logo mais, quando o número de frequentadores fosse muito
expressivo, de forma a que o aparelho ficasse impregnado de fluídos de baixo
teor vibratório. Quanto a nós, os encarnados, e a Guilherme, não haveria
problema...
Afastando-nos um pouco do bulício, os Benfeitores e o
Assistente, concentramo-nos demoradamente e observamos um fenômeno singular.
Lentamente o aspecto exterior se foi adensando e a forma padeceu ligeira
transformação que os deformava e, como se estivessem respirando incômoda
atmosfera, passaram a apresentar leves estertores e, sensívelmente modificados,
convidaram-nos a entrar.
Atravessamos as barreiras sem qualquer incidente e fomos
surpreendidos por um recinto amplo, de arquibancadas que ficavam fronteiras a
um picadeiro pouco iluminado, onde o espetáculo teria curso. A balbúrdia
ensurdecedora fazia lembrar um covil de feras. Expressões profundamente
vulgares e tradutoras da qualidade dos que ali se encontravam explodiam abundantes,
constrangendo-nos.
Saturnino, com muita discrição, nos convocava à oração,
de modo a que nos não distraíssemos. Esclareceu que Benfeitores Espirituais
nos acompanhavam de longe, pelos fios invisíveis do pensamento, intercedendo
por todos nós ao Senhor da Vida.
Guilherme, apavorado, estava a ponto de desequilibrar-se.
Acolitado, no entanto, por Ambrósio, que o sustentava,
manteve-se em silêncio, expectante.
Sübitamente apareceram, no recinto interno e semicircular,
estranhos sequazes que sopraram búzios esquisitos e anunciaram a chegada do
Dr. Teofrastus.
Guilherme, ao nosso lado, entre a massa agitada que
gritava, desenfreada, começou a tremer descontroladamente. O momento, porém,
era de algazarra, enquanto a multidão esperava ansiosa o anfitrião.
Aqui e ali, no entanto, havia muitas expressões de pavor,
não só entre encarnados como entre desencarnados, que esperavam o início da
função, constrangidos e vencidos por medo atroz. Apresentando rostos patibulares,
essas Entidades confrangiam mesmo aqueles que fossem portadores de sentimentos
empedernidos, exceção aos que ali se encontravam, tresloucados...
O ambiente era irrespirável. Nuvens de fumo se elevavam,
abundantes, misturadas a odores acre-fortes, como os derivados de plantas estupefacientes,
e podia-se ver uma multidão espiritual, de paixões insaciáveis, açuladas, que
habitualmente se atiravam atormentados sobre os seus cômpares enjaulados na
carne, em processos indescritíveis de vampirizações tormentosas. Esperavam,
desditosos, as lições infelizes em torno das técnicas da obsessão, para
continuarem o programa inferior de imantação psíquica nos seus antigos
senhores que passavam, automàticamente, à condição dolorosa de escravos...
QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL
1) Por que os Espíritos
protetores foram até o anfiteatro?
2) Por que os Espíritos
utilizaram-se de uma condução para ir ao Anfiteatro?
3) O que era o psicovibrômetro?
Este aparelho era infalível?
4) O que vem a ser “imantação
psíquica”?
Um abraço a todos!
Equipe Manoel Philomeno
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