quinta-feira, 9 de março de 2017

Matéria: O lado oculto - De que vale glorificar o nome de Deus, se não correspondermos em atitudes as nossas palavras?

O lado oculto
De que vale glorificar o nome de Deus, se não correspondermos em atitudes as nossas palavras?

Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
walkiria.wlac@yahoo.com.br
01/01/2017

“Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vê-lo com olhos mortais.”[1] A adoração não se constitui de uma prática de genuflexão física. É a alma que se coloca de joelhos no altar da vida e reverencia a figura de Deus através do amor emanado dos corações ao próximo. De que vale glorificar o nome de Deus, se não correspondermos em atitudes as nossas palavras? Não existem barganhas com a Divindade. Não existe barganha com a Lei Divina. Num mundo onde as glórias passageiras são cada vez mais exaltadas, quando procuramos nos identificar com a moral do Cristo acabamos por vivenciar uma contramão com a prática social vigente. O Mestre nos apresenta uma proposta de mudança e nos mostra o Reino de Deus, afirmando que poderemos conquistá-lo desde já, através da conquista de si mesmo: lá o maior será o que se fizer menor. Não busquemos o primeiro lugar. Ensina-nos que o mais importante não é ser reconhecido pelos que estão ao nosso redor, mas que deveremos ter a aprovação da nossa consciência.

Vivemos buscando a aceitação do mundo, mas não buscamos a ratificação de nós mesmos. Vejamos a questão 850 de O Livro dos Espíritos:
“A posição social não constitui às vezes, para o homem, obstáculo à inteira liberdade de seus atos? É fora de dúvida que o mundo tem suas exigências, Deus é justo e tudo leva em conta. Deixa-vos, entretanto, a responsabilidade de nenhum esforço empregardes para vencer os obstáculos.”

Quanto maior a responsabilidade dos nossos atos, maior serão as consequências deles. Nosso compromisso é com a Lei, respeitando as convenções sociais, mas nunca fugindo do compromisso assumido com a nossa consciência.

Quando nos dizemos cristãos, explicitamente estamos afirmando que seguimos o Cristo. Seguimos o Cristo em toda a sua expressão. Não podemos seguir somente numa parte ou quando nos convêm. Precisamos segui-Lo sempre. Isto não significa dizer que conseguiremos sempre, pois ainda não estamos no mesmo grau evolutivo do Mestre, mas precisamos perseverar, sempre.

 “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”[2].

Além disso, possuímos uma nuvem de testemunhas. Precisamos observar nossos atos e verificarmos qual a nuvem de testemunhas que estão nos acompanhando. Por mais que existam criaturas que tentem e até consigam fraudar as reais intenções com relação à prática espírita, não conseguem enganar a si nem aqueles que se associam mentalmente a eles por todo o tempo nem o tempo todo.

O livro Tormentos da Obsessão, psicografia de Divaldo P. Franco pelo espírito Manoel P. de Miranda, conta a história do Sanatório Esperança, instituição criada para abrigar médiuns, doutrinadores, palestrantes, enfim, trabalhadores espíritas em geral que faliram nos trabalhos abraçados. Trata-se de leitura que deveria ser obrigatória a todos nós.

Sabemos que por vezes a caminhada torna-se difícil e gostaríamos de voar por cima dos nossos problemas, mas não podemos, voaremos através da prática do bem. Colocando-nos no lugar do outro, saímos de nós mesmos e “planamos” sobre eles. Saindo de nós mesmos cuidamos da dor do outro enquanto mãos amorosas cuidam das nossas dores. Todos estamos interligados na Obra da Criação.

O agricultor plantou a semente de um pé de rosa. Ele não sabia se seria amarela, vermelha ou branca. Mas sabia que seria rosa. Um dia, de tanto ele aguar e adubar, a semente germinou, cresceu e deu muitas rosas. Para seu espanto nasceram das três cores. Seu perfume encantava ao agricultor e aos seus vizinhos. Todos gostavam do que sentiam. Quiseram levar as rosas para casa, mas esqueceram-se dos espinhos. Alguns, no primeiro machucão, desistiram de ter as rosas. Outros foram mais persistentes, desistindo logo mais. Outros, por fim, compreenderam que a grande beleza da rosa constitui-se em ser perfeita com seus espinhos.

Na humanidade o grande agricultor é Deus que nos concebe a possibilidade de reencarnarmos com as mais diversas características: boas e más. As primeiras constituindo-se no amor adquirido e constituído em nós. As segundas são os desvios do caminho que solicitam realinhamento. Não somos perfeitos neste estágio evolutivo que nos encontramos. Ainda não somos somente pétalas, exalando só perfume; nem também o somos só espinhos, machucando as pessoas. Assim é a vida. Assim somos todos nós. Exalamos o que somos e os que estão ao nosso lado hora terão o perfume, ora terão os espinhos. Mas em tudo fazemos parte da criação.

Estar encarnado constitui-se uma bênção. Não uma bênção sem méritos, mas uma consequência exata do Amor Misericordioso do Pai, que nos permite uma nova oportunidade a cada raiar do dia, a cada amanhecer, quando abrimos os olhos e vemos uma gama de oportunidades que nasce junto com o dia, no qual encontraremos outras rosas e juntos formaremos o grande roseiral da criação divina.

1. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo espírito Emmanuel. Cap. 119 – Glória Cristã.
2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 4.
(fonte: RIE janeiro/17)


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