sexta-feira, 16 de junho de 2017

Revista Espírita - fevereiro 1864 - Noticias Bibliográficas - No Céu que se reconhece

REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 1
FEVEREIRO 1864
NOTICIAS BIBLIOGRÁFICAS.

No Céu se se reconhece.
Pelo Rev. Pé. Blot, da Companhia de Jesus (1- (1) Paris, 1863. 1 vol. pequeno in-18.-Preço: 1 fr., casaPoussielgue-Rusand, rua Cassette, n 0 27 ).

Um de nossos correspondentes, o Sr. doutor C..., nos assinala esse pequeno livro, e nos escreve a este respeito o que segue:
"Há algum tempo palavras que, como cristão e Espírita, abstenho-me de qualificar, foram freqüentemente pronunciadas por homens que receberam a missão de falar aos povos de caridade e de misericórdia. Permiti-me, para vos confortar das penosas impressões que deveram vos causar, como a todo homem verdadeiramente cristão, de vos falar de um pequeno volume do Rev. Pe. Blot. Não penso que ele seja Espírita, mas encontro em sua obra o que, no Espiritismo, faz amar a Deus e esperar em sua misericórdia, e diversas passagens que tocam de muito perto ao que nos ensinam os Espíritos."
Dela anotamos as passagens seguintes, que confirmam a opinião de nosso correspondente:
"No sétimo século, o papa São Gregório o Grande, depois de ter contado que um religioso viu, ao morrer, os profetas virem diante dele, e que os designou por seus nomes, acrescentou: "Esse exemplo nos faz claramente entender quão grande será o conhecimento que teremos uns dos outros na vida incorruptível do céu, uma vez que esse religioso, estando ainda numa carne corruptível, reconheceu os santos profetas que jamais tinha visto."
"Os santos se vêem reciprocamente como o pedem a unidade do reino e a unidade da cidade onde vivem na companhia do mesmo Deus. Eles se revelam espontaneamente uns aos outros seus pensamentos e suas afeições, como as pessoas da mesma casa que estão unidas por um sincero amor. Entre seus concidadãos do céu, conhecem aqueles mesmos que não conheceram neste mundo, e o conhecimento das belas ações os conduz a um conhecimento mais completo daqueles que os cumpriram. (Berti, De theeologicis disciplinis.)
"Perdestes um filho, uma filha? recebei as consolações que um patriarca de Constantinopla dirigiu a um pai desolado. Esse patriarca não pode mais ser contado entre os grandes homens senão entre os santos: é Photius, o autor do cisma cruel que separa o Oriente e o Ocidente, mas suas palavras disso não provam senão melhor do que os Gregos pensam sobre este ponto como os Latinos. Ei-los: "Se vossa filha vos aparecesse, se, colocando sua mão em vossa mão e sua fronte jovial sobre vossa fronte, ela vos falasse, não seria a descrição do céu que ela vos faria? Depois ela acrescentaria: "Por que vos afligir, ó meu pai? estou no paraíso, onde a felicidade é sem limites. Vireis um dia com minha mãe muito amada, e então achareis que não vos disse nada de mais deste lugar de delícias, tanto a realidade se imporá sobre as minhas palavras."
Os bons Espíritos podem, pois, se manifestar, se fazer ver, tocar os vivos, falar-lhes, descrever sua própria situação, vir consolar e fortalecer aqueles que amaram; se podem falar e segurar a mão, por que não poderiam fazê-los escrever? "Os Gregos, disse o Pé. Blot, pensando sobre esse ponto como os Latinos;" por que, pois, hoje os Latinos dizem que esse poder não é dado senão aos demônios para enganarem os homens? A passagem seguinte é ainda mais explícita:
"São João Crisóstomo, em uma de suas homílias sobre São Mateus, dizia a cada um de seus ouvintes: "Desejaríeis ver aquele que a morte vos levou! Segui o mesmo caminho que ele no caminho da virtude, e logo gozareis desta santa visão. Mas gostaríeis de vê-lo aqui mesmo? Pois bem! quem, pois, isso vos impede? É-vos permitido e fácil vê-lo, se fordes sábio; porque a esperança dos bens a virem é mais clara do que a própria visão."
O homem carnal não pode ver o que é puramente espiritual; se, pois, ele pode ver os Espíritos, é que eles têm uma parte material acessível aos seus sentidos; é o envoltorio fluídico, que o Espiritismo designa sob o nome de perispírito.
Depois de uma citação de Dante sobre o estado dos bem-aventurados, o Pé. Blot acrescenta:
"Eis, pois, o princípio de solução para as objeções: Ao céu, que é menos um lugar do que um estado, tudo é luz, tudo é amor."
Assim, o céu não é um lugar circunscrito; é o estado das almas felizes; por toda a parte onde elas são felizes, elas estão no céu, quer dizer, para elas tudo é luz, amor e inteligência. É o que dizem os Espíritos.
Fénelon, na morte do duque de Beauvilliers, seu amigo, escreveu à duquesa: "Não, não há senão os sentidos e a imaginação que tenham perdido seu objeto. Aquele que não podemos mais ver está mais do que nunca conosco. Nós o encontramos sem cessar em nosso centro comum. Ele nos vê ali e ouve, nos proporciona ali os verdadeiros recursos. Ali conhece melhor do que nós as nossas enfermidades, ele que não tem mais as suas; e pede os remédios necessários para a nossa cura. Por mim, que estou privado de vê-lo há tantos anos, eu lhe falo, abro-lhe meu coração."
Fénelon escreveu ainda à viúva do duque de Chevreusi: "Unamos nosso coração àquele que lamentamos; não está distante de nós tornando-se invisível; ele nos vê, nos ama, é tocado por nossas necessidades. Chega felizmente ao porto, ora por nós que estamos ainda expostos ao naufrágio. Diz-nos com uma voz secreta: "Apressai-vos em vos reencontrar." Os puros Espíritos vêem, ouvem, amam sempre seus verdadeiros amigos em seu centro comum. Sua amizade é imortal como sua fonte. Os incrédulos não amam senão a si mesmos; deveriam se desesperar de perder para sempre seus amigos; mas a amizade divina muda a sociedade visível em uma sociedade de pura fé; ela chora, mas chorando se consola pela esperança de reencontrar seus amigos no país da verdade e no seio do próprio amor."
Para justificar o título de seu livro: No céu se se reconhece, o Pé. Blot cita um grande número de passagens de escritores sagrados, de aparições e de manifestações diversas que provam a reunião, depois da morte, daqueles que se amaram, as relações que existem entre os mortos e os vivos, os recursos que se dão mutuamente pela prece e inspiração. Em nenhuma parte fala da separação eterna, conseqüência da condenação eterna, nem dos diabos, nem do inferno; mostra, ao contrário, as almas mais sofredoras libertadas pela virtude do arrependimento e da prece e pela misericórdia de Deus. Se o Pé. Blot lançasse anátema contra o Espiritismo, isso seria lançá-lo contra seu próprio livro, e contra todos os santos dos quais ele evocou o testemunho. Quaisquer que sejam suas opiniões sobre esse assunto, diremos que se não tivesse jamais pregado senão nesse sentido, haveria menos incrédulos.

Enviado por: "Joel Silva"

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