terça-feira, 12 de setembro de 2017

Revista Espírita - março 1864 - Extrato da ordem do Mons bispo de Strasbourg

REVISTA ESPIRITA
JORNAL
DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 3 MARÇO 1864

Extrato da ordem do Mons. bispo de Strasbourg.

Citamos pura e simplesmente a passagem dessa ordenação concernente ao Espiritismo, sem comentários e sem reflexões. Dando sua opinião sobre esse assunto, do ponto de vista teológico, o monsenhor está em seu direito, e desde que não ataca senão as coisas e não às pessoas, nada há a dizer; não haveria ali a discutir senão sua teoria, ora, é o que foi feito tantas vezes, e seria supérfluo se repetir, tanto mais quanto ali não encontramos nenhum argumento novo. Colocamo-la sob os olhos de nossos leitores, a fim de que todos possam dela tomar conhecimento, e tirarem proveito segundo o julgarem a propósito.
"O demônio se esconde sob todas as formas possíveis, para eternizar sua conspiração contra Deus e os homens, para continuar sua obra de sedução. No paraíso, está disfarçado sob a forma da serpente; se for preciso, ou se isso puder contribuir para a realização de seus projetos, transforma-se em anjo de luz, como o provam mil exemplos consignados na história.
"Numa época mais recente, retirou mesmo do arsenal do inferno armas usadas na época e cobertas de ferrugem das quais se tinha servido em tempos mais recuados, mais particularmente no segundo ou terceiro século, para combater o cristianismo. As mesas girantes, os Espíritos batedores, as evocações, etc., são tantos artifícios, e Deus o permite para o castigo dos homens ímpios, curiosos e levianos. Se os maus gênios, como o asseguram as santas Escrituras, enchem o ar, se se unem aos homens em seus corpos e em suas almas (vede o livro de Job e muitas outras passagens das Escrituras), se podem fazer falar de madeira, uma pedra, uma serpente, as cabras, uma mula; se, junto do lago de Genesaré, recebem, a seu próprio pedido, a permissão de entrar nos animais imundos, lhes é também possível falar por meio de mesas, de escrever com os pés de uma mesa ou de uma cadeira, de adotar a linguagem e de imitar a voz dos mortos ou dos ausentes, de contar coisas que nos são desconhecidas ou que nos parecem impossíveis, mas que, em sua qualidade de Espíritos podem ver e ouvir. Todavia, infelicidade aos homens insensatos, ociosos, imprevidentes e criminosamente indiscretos que procuram seu passatempo nos malabarismos diabólicos, que não temem recorrer a esses meios supersticiosos e proibidos para chegarem ao conhecimento do futuro e de outros mistérios que o demônio ignora ou não conhece senão imperfeitamente! Quem gosta do perigo perecerá no perigo; quem joga com as serpentes venenosas não escapará ao seu dardo assassino; quem se precipita nas chamas será reduzido a cinzas; quem procura a sociedade dos mentirosos e dos velhacos se tornará necessariamente sua vítima. Está aí um comércio com os maus anjos, aos quais os profetas do Antigo Testamento dão o nome que não se leva de boa vontade numa cátedra cristã. Quando essas evocações ocorrem, o maligno Espírito poderá bem dizer, de início, uma ou outra verdade, e falar segundo os desejos dos curiosos, a fim de ganhar sua confiança. Mas as pessoas impacientes de penetrar os mistérios são seduzidas, ofuscadas, quando se aproxima de seus lábios a taça envenenada; são saciadas de todas as espécies de mentiras e de impiedades, são despojadas de todos os princípios cristãos, de todos os piedosos sentimentos. Feliz aquele que se apercebe a tempo que caiu entre mãos diabólicas e que pode, com o socorro de Deus, repelir os laços dos quais estava carregado!..."
Enquanto nossos antagonistas permanecerem no terreno da discussão teológica, convidamos aqueles de nossos irmãos que querem bem ouvir nossos conselhos, a se absterem de toda recriminação, porque a liberdade de opinião deve ser para eles quanto para nós. Ó Espiritismo não se impõe, aceita-se; ele dá suas razões e não acha mau que as combata, uma vez que isso seja com armas leais, e remete-se ao bom senso público para pronunciar-se. Se ele repousa sobre a verdade, triunfará apesar de tudo; se seus argumentos são falsos, a violência não os tornará melhores. O Espiritismo não quer ser acreditado sob palavra; ele quer o livre exame; sua propaganda se faz dizendo: Vede o pró e o contra; julgai o que satisfaça melhor vosso julgamento, o que responda melhor às vossas esperanças e às vossas aspirações, o que toque mais vosso coração, e decidi-vos em conhecimento de causa.
Censurando, em nossos adversários, o inconveniente das palavras e as personalidades, os Espíritas não devem incorrer na mesma censura; a moderação fez a sua força; nós os adjuramos para disso não renunciar. Em nome dos princípios do Espiritismo, e no interesse da causa, declinamos toda solidariedade com toda polêmica agressiva e inconveniente de qualquer parte que venha. Ao lado de alguns fatos lamentáveis, como o de Marmande, deles poderíamos citar bom número de um outro caráter, se não temêssemos atrair desagregação aos seus autores, é porque não o fazemos senão com a maior reserva.
Uma senhora que conhecemos pessoalmente, bom médium, fervorosa Espírita assim como seu marido, estava, há seis meses, em artigo da morte; ela hauria em sua crença e em sua fé no futuro uma consoladora resignação nesse momento supremo, que via se aproximar sem temor. A seu pedido, o cura da paróquia, respeitável velhinho, veio para administrar-lhe. Sabeis, disse-lhe ela, que somos Espíritas; me dareis, apesar disso, os sacramentos da Igreja? -Por que não? respondeu o bom cura; esta crença vos consola;  torna-vos ambos piedosos e caridosos; não vejo nada de mal nisso, conheço, O Livro dos Espíritos; não vos direi que me convenceu sobre todos os pontos, mas contém a moral que todo cristão deve seguir, e não vos censuro por lê-lo; somente, se há bons Espíritos, há deles também os maus; é contra estes que é preciso vos pôr em guarda; são estes que é preciso vos interessar em distinguir. Aliás, vede, meu filho, a verdadeira religião consiste na prece do coração e na prática de boas obras; tendes fé em Deus, orais com fervor, assistis vosso próximo tanto quanto o podeis, posso, pois, vos dar a absolvição."
Uma rainha médium.


Enviado por: "Jose Joel da Silva Junior"

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