domingo, 26 de novembro de 2017

Livro em estudo: Grilhões Partidos - B007 – Capítulo 4 – Angústias da Obsessão

Livro em estudo: Grilhões Partidos – Editora LEAL - 1974
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

B007 – Capítulo 4 – Angústias da Obsessão

Capítulo 4
Angústias da Obsessão

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa”. “A GÊNESE” — Capítulo 14º — Item 48.
Os meses amontoavam-se, lúgubres, sem que Ester recobrasse a razão. Os olhos garços, brilhantes doutrora, possuíam agora expressão asselvajada num rosto pálido-cinéreo sem vida, despido da auréola dos cabelos, então cortados à escovinha, transmudada num verdadeiro espectro que sobrevive, quizilento, animado por ignota vitalidade.
O desvario tornara-se-lhe condição normal. Relegada aos maus tratos de funcionários inescrupulosos, que se diziam cansados, como se não houvessem elegido na profissão de que se desincumbiam a penates de arrogância, inépcia e indiferença, as velutíneas mãos da misericórdia, da paciência e da compaixão para se utilizarem delas no momento próprio. Porque agressiva, não poucas vezes, tais servidores selecionados mais pela força física do que por qualquer outra condição, no suposto de que iriam lutar contra feras, feras também que se sentiam, escorraçavam-na com bordoadas homéricas, com que supunham acalmá-la, mais ainda enfraquecendo-a. As equimoses e a falta de alguns dentes, decorrência natural das repetidas cenas de pugilato, mais a caracterizavam megera.
Impedida a família de visitá-la, pela impossibilidade de qualquer diálogo e porque mais se lhe exaçerbava o delírio, especialmente quando de referência ao pai, fora rotulada como “incurável” e propositalmente esquecida, por ser mais trabalhosa.
De Casas de Saúde que tais a dignidade profissional e a humana se evadiram desde há muito e, ao fazê-lo, a ética arrastou consigo os sentimentos do amor, da piedade, do dever, da caridade... Mantêm-se ali pacientes pelo que representam na receita orçamentária, e quando liberam alguns clientes semi-hebetados pela compulsão, hoje, de drogas condicionantes, sabe-se que voltarão, logo mais, piorados, num círculo vicioso sem limite. Extorquem, sem dar quase nada ou preocupar-se ao menos em dar.
Quem se locupleta, todavia, com tais mercantilismos da saúde, da vida e da alma humana, volverá aos mesmos sítios, a expiar nas suas celas, regougando impropérios, esgrouvinhado, em aturdimento inominável.
Todavia, terapêutica indispensável em qualquer tratamento, o amor consegue, não raro, o que muitos medicamentos não produzem, ajudando a visualizar causas e efeitos, doando segurança, melhorando comportamentos e reações em toda a gama necessária aos resultados eficazes. Raros procuram a inspiração divina ante a nebulosa das enfermidades complexas, quer pela oração, ou pela sintonia mental com Deus. Diz-se, porém, que nos tratados médicos não existem as palavras Deus, oração e, todavia, Seu providencial socorro é que liberta e encaminha os padecentes da amargura para as trilhas da saúde, da paz...
Quando a sombra mais se adensa e as esperanças são flébeis, um raio jalne de luz rompe tudo e brilha nos escaninhos do horror, modificando a estrutura da área desolada, por impositivo divino.
Rosângela, igualmente jovem, recém-admitida na condição de auxiliar de enfermagem, na primeira visita pelo pavilhão dos desesperados, sentiu-se tocada por Ester, atirada a recanto lôbrego, atada à camisa-de-força, no desvario habitual. Automaticamente se interessou pela esquálida paciente, inscrevendo-a na mente, como daquelas a quem daria maior dose de assistência e carinho.
Estava sendo introduzida para tratamento psiquiátrico a Rawfolvia serpentina, difundida como Serpasil, que não tinha os inconvenientes dos barbitúricos em geral, possuindo excelentes qualidades tranqüilizantes (*) Embora estudada há mais de 40 anos, somente, então, estava sendo usada para terapêutica psíquica.
Rosângela, que ouvira ardentes opiniões sobre a nova droga, pensou em examinar o prontuário da demente, calculando fazer alguma coisa por ela.
(*) Segundo se acredita, a substância atua sobre o tálamo, realizando uma lobotomia de natureza química, por meio da qual diminui a capacidade emocional da usina elétrica ali sediada. procedendo a vitalização do cérebro com produto químico de que este se ressente para a manutenção do equilíbrio mental. Nota do Autor espiritual.
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Ester, no entanto, caminhando pelo insidioso corredor estreito e fantasmagórico da loucura, padecia incalculáveis aflições, que sequer conseguia exteriorizar. Impossibilitada de controlar a casa mental, que já apresentava os primeiros distúrbios de funcionamento, após a constrição demorada do fluído morbífico do Espírito que a subjugava, era dominada por agonias inenarráveis.
Ela própria não se dera conta do sucesso que a acometera. Experimentara superlativa angústia, seguida de álgido suor e a sensação de que fora arrojada num abismo sem fundo, caindo sem cessar... O coração deslocara-se do lugar, pulsando em descompasso; todas as fibras do corpo, adormentadas, produziam dores lancinantes, e a cabeça, em redemoinho, impedia que o cérebro raciocinasse com a lucidez capaz de coordenar idéias. Gritou por socorro e surpreendeu-se com as cordas vocais em turgimento, espocando palavras chocantes que não podia controlar. Ouvia-se a distância, confusa, no som de sua voz alterada e era uma emoção odienta que não a sua.
Chorava em contorções, mas as lágrimas queimavam-se nas pupilas dilatadas e, sentindo febre, tremia em arrebatamentos de louca.
Via-se fora do corpo e, ao mesmo tempo, via-o agitado, num estado dúplice, sem anotar os circunstantes, chocados, na sua festa de apresentação social..
Após esse período, foi a luta em que se empenhou e continuava sem termo contra o gigante que a submetia. Estava expulsa do organismo físico sem dele estar liberta.
A princípio sofria impressões confusas que a perturbavam. Vezes outras deparava-se com o estranho possessor, furibundo, em esgares de demente... Agredida por ele, procurava tornar à realidade anterior, como se perseguida em pesadelo soez desejasse acordar para dele livrar-se.
Todavia, não atingia o ponto ideal, porqüanto era impedida no intento, logo se renovando os paroxismos. À mente alcançavam as idéias vertidas pelo cérebro e ali aninhadas, mortificando-a por não serem esses os seus pensamentos; quando se esforçava por emitir os desejos, estavam os centros de registro bloqueados tenaz-mente...
Os sentimentos da afetividade estraçalharam-se no pélago do abandono e da solidão, na batalha impossível que travava, enquanto o pavor hórrido, crescente, não tinha lenitivo, em considerando auxílio algum.
Durante o tratamento face à convulsão produzida pelo uso do eletrochoque, impossível seria avaliar o insuportável que a estertorava em mil contorções até o desfalecimento. Ao despertar, fruindo o calor orgânico, defrontava-o, asqueroso, senhorial, e fugia, aparvalhada, cedendo-lhe o lugar...
Minado o corpo pelo desgaste de largo porte, sucessivos desmaios expulsavam o usurpador que se deleitava, então, ameaçando-a, grosseiro, arrebatando-a para lugares povoados por espectros impossíveis de descritos.
Nesses sítios, onde nenhuma claridade lucila, a asfixia pastosa domina; impossibilitada de qualquer ação, tornava-se mais fácil presa, arrastada aos trambolhões. Supunha-se, nessas situações, encontrava-se em cemitério infinito, de sepulturas abertas e cadáveres exumados ante a contemplação dos furiosos mortos-vivos, desejosos uns de os reconduzirem aos movimentos, deles reapossando-se; lamentosos, outros, por havê-los perdido irremissivelmente; lutadores diversos, a defenderem as vestes apodrecidas de animais que nelas se locupletavam; e o sem-número dos tristes, chorosos, em procissão intérmina... Sempre noite, lamentos, exacerbações, gritos ensurdecedores — o inferno!
Não suportando o vexame que se repetia com freqüência, perdia os sentidos ou desvairava, para depois despertar sem forças no çorpo mortificado.
À pausa cedia lugar a nova e intensa disputa em que pelejava com axe na alma lúrida, exausta.
Com as reservas de forças físicas e as resistências psíquicas esgotadas, o tumulto que sofria em espírito dementava-a a pouco e pouco, produzindo-lhe não menor martírio, uma vez que lutava menos e atoleimava-se mais.
Onde o amor dos pais, sua proteção e socorro! — Gritava até a perda das resistências. Gargalhadas zombeteiras e agressões obscenas eram as respostas que lhe chegavam aos ouvidos, através de rostos patibulares uns e deformados, agressivos, outros.
Exorava o socorro de Deus, mas, ao fazê-lo, tal era a desdita que a excruciava, perdia a concatenação, a ordem das súplicas, o que não impedia chegar-lhe a resposta divina, à semelhança de brisa refrescante, em aragem amena, vertida sobre a ardência das febres.
Recordava os mestres, as amigas, as famílias queridas que a cercavam de mimos e quinquilharias, agora, tredas, a distância.
— Estás morta ou quase morta — ouvia, aturdida, em blasfema acusação.
— Logo mais culminarei este processo de vingança, extorquindo-te a vida, desforçando-me dele. Morrerás, como eu morri, a fim de que ele morra, também. Cá o espero.
— Deliro, Deus meu! — exclamava, apavorada. Mãe Santíssima. Sou inocente e sofro nas geenas infernais.
Lágrimas pungentes rasgavam os canalículos e escorriam como chuva abundante em terra escaldante, sem o milagre de refrigerar as ardências íntimas.
— Sim, és inocente em relação a mim, no entanto, odeio-te, por odiá-lo, desgraço-te para desgraçá-lo, venço-te para vencê-lo.
— Quem és, demônio destruidor? Compadece-te de mim. Sou uma adolescente, piedade!
— Sou o demônio da justiça, não o anjo da compaixão. — Arrematava, sardônico. — Encerremos a discussão inútil e passemos àguerra...
Aplausos e doestos sucediam-se, intempestivos, em pandemônio macabro. Recomeçavam os torpes desforços, e o Espírito encarnado, menina no corpo, experimentava incríveis dilacerações morais... E era Inocente! tão-só na atual reencarnação...
A família cuidara-lhe da educação, instruindo-a, aformoseando-a, porém, não a preparando para as verdades espirituais. O Catolicismo, viciado pelas fórmulas e cultos extravagantes, desertara do Cristianismo, tornando-se pedagogo incapaz para a preparação espiritual das criaturas, por haver banido a revelação das suas lições, supondo-se os seus clérigos capazes de conceder céus e paraísos, através de inócuas palavras e atitudes vãs.
Em decorrência disso, muitos pais supõem, mesmo hoje, em cômoda atitude moral, que as dissertações sobre a vida no além-túmulo não devem ser ministradas aos filhos, que os têm como imaturos para os ministérios superiores, para as reflexões da verdade, não, porém, para as paixões dissolventes, os arremedos de masculinidade ou feminilidade em que, espezinhando o amor, se convertem em vasos de sensações sexuais de teor primitivo e descambam para as aventuras do domínio pelo egoísmo, pelo orgulho ou pela astúcia com que os armam e de que eles logo se apropriam, com facilidade espantosa. Para as imperecíveis mensagens morais do espírito imortal, os jovens sempre lhes parecem jovens demais... Juventude que, aliás, devera ser melhor aproveitada, com vistas à maturidade digna e à velhice feliz...
Ester, assim subjugada pelo possessor em comburência - de ódio, sucumbia, inerme, lentamente, quase vencida.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Como estava a situação de Ester internada na clínica? Como estava sendo tratada pelos profissionais da clínica, pelo espírito obsessor e pela sua família?
2 – Como foi a educação de Ester em relação à religião? E como o autor espiritual aconselha a educação dos filhos em relação a isso?

Bom estudo a todos!!

Equipe Manoel Philomeno

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