14 coisas que os
voluntários do CVV gostariam de te dizer
Ouvir pode ser mais importante do que aconselhar.
Davi Rocha
Equipe
BuzzFeed, Brasil
O CVV (Centro
de Valorização da Vida) oferece atendimento gratuito de apoio emocional e
prevenção do suicídio. De acordo com o site da associação, são cerca de 1
milhão de pessoas atendidas por voluntários todo ano.
Nas últimas semanas, o número de atendimentos cresceu 445% após
a série "13 Reasons Why", em que a personagem principal se suicida e
deixa 13 fitas para cada motivo de seu suicídio.
Perguntamos a voluntários do CVV como funcionam os
atendimentos e o que mais eles gostariam de dizer sobre o trabalho no centro.
Todas as respostas são anônimas e as melhores estão neste post.
1. No CVV todo mundo é
voluntário. E cada atendente trabalha cerca de 4 horas por semana, mas há quem
trabalhe mais que isso.
2. Nos atendimentos o
anonimato é sempre garantido.
3. Os voluntários não têm
qualquer tipo de contato com quem liga a não ser o próprio atendimento.
Ele se restringe ao contato feito no momento do
plantão. Não há conversa depois, troca de perfis de redes sociais ou números de
telefone.
4. Muitas pessoas que
procuram o CCV estão cercadas de gente e, mesmo assim, se sentem sozinhas.
"Aprendo sempre com os atendimentos que faço,
e me impressiona sempre a pessoa estar cercada de pessoas e se sentir só. A
ajuda que oferecemos é compreensão pelo que a pessoa está sentindo e passando.
Tento sempre ajudar compreendendo o mundo da pessoa e a situação que ela
vive", disse ao BuzzFeed Brasil um dos voluntários.
5. E muitas pessoas
falam, sim, claramente que vão se matar.
"Atendimentos em que a pessoa liga e fala
claramente que vai se matar sempre marcam. Nesse momento a gente respira fundo
e calmamente e inicia uma longa conversa sobre a vida dela, sobre como ela se
sente e como tem sido lidar com a dor que ela tem."
6. Mas algumas ligam
porque sofrem de solidão ou procuram alguém para compartilhar o que acontece no
dia. Os atendentes compartilharam com a gente alguns dos casos mais marcantes
para eles:
"Um atendimento marcante foi de uma pessoa
idosa que morava sozinha e se sentia extremamente só. Ela ligou para ouvir um
simples 'boa noite' de alguém, como se fosse só para se sentir viva. Depois
acabou conversando um pouco".
"A ligação que mais me marcou foi da pessoa
que ligou, pegou um violão e queria mostrar as músicas que compôs".
"Uma pessoa falou que estava em um hospital
com uma doença em estado avançado e queria alguém para compartilhar seu
momento".
"A ligação que mais me marcou foi de uma
pessoa que pela primeira vez fez um bolo que deu certo, mas que teria que comer
sozinha porque não tinha com quem dividir".
7. As ligações podem ser
silenciosas.
"As ligações silenciosas são as que mais
marcam, pois desta forma trabalhamos também nossa ansiedade como voluntário.
Ajudo acolhendo, aceitando, respeitando e compreendendo a dor".
8. Ouvir pode ser mais
importante do que aconselhar.
"Uma coisa muito importante que aprendi no
CVV, e que trago para a minha vida, é não aconselhar. Cada um tem uma história,
criação e maneira de enxergar o mundo que é muito própria. Não me sinto em
condições de dar algum conselho, pois minha visão a respeito do assunto sempre
será limitada. Além do mais, o que é bom para mim não necessariamente será bom
para o outro. O que posso fazer é acolhê-lo, ouvi-lo, respeitá-lo, para que, ao
falar e reduzir a pressão, ele mesmo se ouça e tire suas próprias
conclusões".
9. A maioria dos casos
está relacionada a perdas (saúde, dinheiro, emprego, amigos, parceiros).
"Em todos as situações me coloco à disposição
para conversarmos. O objetivo é criar um clima favorável para que a pessoa
desabafe, aliviando aquele sofrimento agudo do momento, com respeito, atenção,
sem subvalorizar o seu sofrimento, de maneira que ela possa tomar as decisões
que julgar melhores para seguir adiante".
10. Às vezes as pessoas
ligam por engano, mas aproveitam para desabafar.
"As ligações mais marcantes são das pessoas
que ligam por engano, descobrem que ligaram para o CVV sem querer e aí começam
a desabafar".
11. Nem sempre as pessoas
que ligam pensam em suicídio: às vezes elas só estão nervosas.
"Uma pessoa ligou 'por engano' para nós
querendo atendimento para um acidente de transito que havia sofrido, e com o
acolhimento pôde desabafar e se acalmar com o ocorrido".
12. Tem gente que pede
para fingir situações.
"Uma vez uma pessoa pediu para ser atendida
como se estivéssemos sentados em um bar, jogando conversa fora. Foi o jeito que
ela encontrou de se sentir mais à vontade".
13. Uma conversa
realmente pode evitar que uma pessoa tire a própria vida.
"Era madrugada e um jovem disse que estava
pensando em suicidar-se, por isso ligou. Eu atendi com respeito e ouvi suas
lamentações. Foi o suficiente para ele desligasse já não pensando mais em
suicídio."
14. Os voluntários se
sentem muito gratos pela confiança que as pessoas aprendem a lhes dar.
"Eu me sinto agradecida a cada pessoa que liga
para compartilhar comigo um pouco de sua história. Sou grata pela confiança que
o outro deposita em mim, quando percebe que pode ser ele mesmo, que pode falar
sobre tudo aquilo que é importante para ele, sem medo, vergonha ou uso de
máscaras".
Se você tem vontade ou
necessidade de conversar com alguém, ligue para o CVV no número 188 ou entre no
site www.cvv.org.br via chat,
VoIP (Skype) e e-mail.
(Fonte: https://www.buzzfeed.com/davirocha/coisas-que-os-voluntarios-do-cvv-gostariam-de-te-dizer)
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