segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Revista Espírita (10/1858) - O Mal do Medo


O Mal do Medo
Problema fisiológico dirigido ao Espírito São Luís na Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas, na sessão do dia 14 de setembro de 1858

Lemos no Moniteur do dia 26 de novembro de 1857:
“Comunicam-nos o fato seguinte, que vem confirmar as observações que já fizeram sobre a influência do medo.
“Ontem o Dr. F... voltava para casa, após ter visitado alguns clientes. Numa dessas excursões haviam-lhe dado, como amostra, uma garrafa de excelente rum, vindo diretamente da Jamaica.
O médico esqueceu no carro a preciosa garrafa. Lembrando-se algumas horas mais tarde, saiu para reavê-la; declarou ao chefe da estação que havia deixado em uma de suas carruagens uma garrafa de veneno muito violento e o exortou a prevenir os cocheiros para ficarem atentos e não fazerem uso daquele líquido mortal.
“Mal o Dr. ... entrara em seu apartamento, vieram preveni-lo a toda pressa de que três cocheiros da estação vizinha padeciam dores horríveis nas entranhas. Teve grande dificuldade para tranquilizá-los e persuadi-los de que haviam bebido excelente rum e que sua indelicadeza não poderia ter consequências mais graves do que uma severa suspensão, infligida de imediato aos culpados.”
1. – São Luís poderia dar-nos uma explicação fisiológica dessa transformação das propriedades de uma substância inofensiva?
Sabemos, pela ação magnética, que essa transformação pode ocorrer; no fato relatado acima, porém, não houve emissão de fluido magnético: somente a imaginação agiu, e não a vontade.
Resp. – Vosso raciocínio é bastante justo no que diz respeito à imaginação. Mas os Espíritos malévolos que induziram aqueles homens a cometerem esse ato inconveniente, fizeram passar no sangue, na matéria, um arrepio de medo, que bem poderíeis chamar de arrepio magnético, o qual distende os nervos e produz uma sensação de frieza em certas regiões do corpo. Como sabeis, qualquer frio na região abdominal pode provocar cólicas.
É, pois, um meio de punição que diverte os Espíritos que fizeram cometer o furto e, ao mesmo tempo, os leva a rir à custa daqueles a quem fizeram pecar. Mas, em todos os casos, a morte não aconteceria: há somente uma lição para os culpados e divertimento para os Espíritos levianos. Repetem a mesma coisa toda vez que a ocasião se lhes apresenta, chegando mesmo a procurá-la para sua satisfação. Podemos evitar isso – falo para vós – elevando-nos a Deus através de pensamentos menos materiais do que os que ocupavam o Espírito daqueles homens. Os Espíritos malévolos adoram rir; acautelai-vos; aquele que julga dizer uma coisa agradável às pessoas que o cercam e diverte uma sociedade com suas brincadeiras ou atitudes, por vezes se engana, o que frequentemente acontece, quando pensa que tudo isso vem de si próprio. Os Espíritos levianos que o rodeiam com ele se identificam e pouco a pouco o enganam a respeito de seus próprios pensamentos, o mesmo sucedendo com aqueles que o ouvem.
Neste caso, pensais estar tratando com um homem de espírito, quando não passa de um ignorante. Descei em vós mesmos e julgai minhas palavras. Nem por isso os Espíritos são inimigos da alegria: às vezes também gostam de rir para vos ser agradáveis; mas cada coisa tem seu tempo.

Observação – Dizendo que não havia, no fato relatado, emissão de fluido magnético, talvez não nos tivéssemos expressado com exatidão. Aqui arriscamos uma mera suposição. Como dissemos, sabe-se que espécie de transformação das propriedades da matéria pode ser operada pela ação do fluido magnético dirigido pelo pensamento. Ora, pelo pensamento do médico, que queria fazer acreditar na existência de um tóxico, provocando nos ladrões as angústias do envenenamento, não poderíamos admitir tivesse ocorrido, embora a distância, uma espécie de magnetização do líquido, o qual teria adquirido propriedades novas, cuja ação se encontraria corroborada pelo estado moral dos indivíduos, tornados mais impressionáveis pelo medo? Essa teoria não destruiria a de São Luís sobre a intervenção dos Espíritos levianos em semelhante circunstância; sabemos que os Espíritos agem fisicamente por meios físicos; podem, pois, com vistas a realizar certos desígnios, servir-se daqueles que eles mesmos provocam ou que nós próprios lhes fornecemos, sem disso nos darmos conta.

(Revista Espírita – outubro/1858)

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