domingo, 31 de maio de 2009

Moda do ideograma faz jovem tatuar símbolo errado


WILLIAN VIEIRA
da Folha de S.Paulo

"Tem saído muito amor e felicidade", diz o tatuador, olhar sério, ao abrir seu catálogo de símbolos orientais em um estúdio da Galeria do Rock, no centro de São Paulo. Virou moda. Todo dia aparece quem queira "traduzir" de estados etéreos de espírito a nomes próprios por meio de ideogramas --só não sabem que os álbuns são improvisados a partir da internet, com desenhos sem sentido ou, no mínimo, inesperados.

"Olhei o livrinho, estava escrito "paz". Tatuei e ficou bonito", diz Leandro Djehdian, 25. "Mas aí procurei "paz" em outros lugares e não era igual."

Patricia Stavis/Folha Imagem
Leandro Djehdian, comerciante da capital paulista, fez a tatuagem de um ideograma errado e depois a cobriu com outro desenho
Leandro Djehdian, comerciante da capital paulista, fez a tatuagem de um ideograma errado e depois a cobriu com outro desenho

Dono de loja de produtos de R$ 1,99, ele mostrou o desenho aos chineses do ramo. "Aí eles disseram que era "ladrão"." Pior foi quando viajou à China a trabalho: passou dias de calor e manga comprida. "Já pensou se um "china" me bate?"

Não bateram, mas ele se livrou do desenho. "Aquilo não era "paz" nem aqui nem na China", ironiza Martin Tattoo, que fez o "cover" (tatuagem parar "cobrir outras que não agradaram o cliente"). Djehdian pagou R$ 50 pelo falso ideograma; e R$ 500 para escondê-lo.

"Não sei por que virou moda no Brasil", diz a vice-diretora da escola Chinbra, Liang Yan. "Recebo todo dia e-mail querendo saber como se escreve nome com ideogramas." Só que nomes ocidentais não têm símbolos em mandarim. A escrita sai por pronúncia aproximada. "Mas o ideograma tem significado. Como Marcelo: o primeiro sinal tem a pronúncia "ma", "cavalo". Então é perigoso", afirma. "E eles fazem até de cabeça para baixo", diz, rindo.

T.F. não riu. "Tatuei ou quis tatuar "paz"." Ele descobriu o engano em casa, ao mostrar o desenho a um chinês pela internet. O professor de mandarim (que procurou depois) confirmou: os símbolos estavam trocados. "Mas vou tentar cobrir", diz o rapaz; que, até lá, só terá "paz" na frente do espelho.

"Quando o cara não traz o papelzinho, a gente acha na internet", diz a "body piercer" de um estúdio na Galeria do Rock --lugar com dezenas de tatuadores que, logo se vê, compartilham os álbuns de símbolos, burilados no Google.

Lá, a Folha achou três catálogos iguais --ou quase, porque um trazia os símbolos com correções a caneta. O ideograma para "gato", por exemplo, virou "divertido"; e muitos outros tinham traços a mais e a menos.

"Hoje em dia, todo tatuador faz kanji [ideogramas japoneses]", diz o tatuador Jefferson Vieira, que todo dia recebe até quatro pessoas atrás de ideogramas. "Mas se ele pede para tatuar o nome da mãe, eu convenço a fazer em português. Afinal, ele tem uma ligação com a língua materna."

Outros não hesitam. "Para facilitar, usa o dimarca.com.br", diz um tatuador da zona oeste. Lá há um tal "conversor de nomes" para japonês --mas claro que, no canto do estúdio, está o álbum --que, para o professor Diego Raigorodsky, era "um show de horror". "O dragão parece rabiscado por uma criança, e o "longa vida" não existe."

É ele quem indica o site hanzismatter.com, "dedicado ao uso incorreto de caracteres chineses na cultura ocidental". Está lá a jovem que quis tatuar o nome do namorado, mas grafou "supermercado". "Por isso digo para pesquisar", diz Djehdian. Até porque, brinca a professora Yan: "Nunca vi tatuador em curso de mandarim".

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u453360.shtml

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Não vou falar sobre tatuagens, porque seria extenso e polêmico. Mas vou comentar sobre algo mais importante que é o orgulho. Por sermos ainda imperfeitos somos ainda muito orgulhosos, e desta forma temos muita dificuldade em aceitar e compreender nossa própria ignorância. O tatuador gosta da imagem do ideograma japones, conhecido como Kanji, quando o cliente pergunta ele fala que é paz, amor, amizade ou coisa parecida. Nós muitas vezes, até mesmo constantemente, fazemos isto, temos vergonha de dizer "não sei".

Muitas vezes perdemos a oportunidade de aprender exatamente porque não temos coragem de assumir a nossa ignorância, parece que num mundo globalizado não saber algo é ofensivo e humilhante. Além disto, há hoje em dia uma generalização que trazem muitas vezes sérias consequências, se está na internet é verdade, se foi meu amigo que me enviou esta informação é verdade, ninguém checa se há verdade no texto ou no email.

Quer denegrir a imagem de alguém? Basta publicar qualquer coisa na internet, porque além de todo mundo acreditar ainda repassam a todos os amigos.

Temos que parar de associar ignorância à inferioridade, porque isto nem sempre é verdade.

(Comentário por: Claudia Cardamone, psicóloga e espírita. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de atendimento fraterno e notícias.)

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