Reflexões
Sobre a Paixão
Cláudio
Fajardo
Nestes dias atuais em que o cristianismo organizado
comemora a semana santa, e mais especificamente a sexta feira da paixão, faz-se
necessário à luz da nova interpretação que o espiritismo propõe do Evangelho
fazermos algumas reflexões sobre o significado desta data.
Desde sempre aprendemos que estes eram dias de
grande tristeza, pois lembrávamos do sacrifício de Nosso Senhor em favor de
toda humanidade. Era comum particularmente na sexta feira não podermos
praticamente nada fazer. Não podíamos escutar música, trabalhar, divertir, nem
mesmo viajar.
Lembro-me que em certa ocasião uma família amiga
foi fazer uma viagem neste dia, e na viagem ocorreu um acidente com vítimas.
Não foram poucos os que comentaram ter havido um castigo dos céus, “veja se
isto é data para viajar a passeio?” eram os comentários naturais.
Hoje não compreendo o porquê de tal comportamento.
Mesmo dentro da ótica do cristianismo oficial não dá para compreender.
Se Jesus veio ao mundo para nos salvar, e a
crucificação foi o ponto sublime desta salvação, como dizem, e que com este ato
ele libertou toda humanidade do pecado, então, por que tristeza nestas
comemorações? Não seria um ato digno de alegria de nossa parte? Foi com a morte
que ele salvou segundo dizem, e não com a ressurreição. A ressurreição é apenas
a confirmação desta realidade.
Porém, façamos uma nova interpretação.
Mesmo nos meios espíritas a paixão é tida como uma
vitória das trevas sobre a luz, porém se analisarmos melhor vamos perceber que
é justamente o oposto.
A treva foi iludida como sempre, e onde viu uma
vitória sofreu uma enorme derrota.
É que os adversários do Bem têm no interesse
pessoal, na vaidade, no orgulho, entre outros, instrumentos de escravidão dos
Espíritos invigilantes.
Jesus veio até nós com o objetivo de educar-nos
para a vida verdadeira, não foi por outro motivo que o título de Mestre ele
aceitou.
Para mostrar-nos que o exemplo é o melhor
instrumento de didática, veio ele mesmo para o testemunho, poderia mandar
outros entre aqueles que também estivessem bem adiantados em evolução, todavia
veio ele mesmo para ratificar o que dissemos sobre a importância do exemplo, do
testemunho pessoal.
Como tratava de uma missão sublime, de um trabalho
a ser elaborado pelo homem espiritual em detrimento do homem biológico este não
a compreendeu, e não compreenderá enquanto não mudar o paradigma de sua
compreensão.
Assim fez-se comum chorar pelo Cristo, quando ele
mesmo alertou-nos:
…não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas,
e por vossos filhos.[1]
Talvez o nosso choro seja o da consciência culpada,
não pelo ato de há dois mil anos, mas por continuar crucificando-o nestes dois
milênios posteriores mesmo após nos considerarmos cristãos.
A lição da paixão é uma só, a da necessidade do
testemunho pessoal, Ele mesmo já havia antecipado:
Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si
mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.[2]
O que deve ser crucificado em nossa “sexta feira da
paixão” é o homem velho, o interesse pessoal, nossos valores que só dizem
respeito ao homem biológico.
E tendo a consciência que hoje temos após o Advento
do Espírito de Verdade, não será este dia um motivo de grande alegria, não será
isto o que devemos celebrar?
Faz-se neste ponto necessário aprofundarmos um
pouco mais a análise.
É muito bonito e cheio de espiritualidade falarmos
em sacrifício dos interesses pessoais, em alijar de nossa onda mental os
resquícios do homem velho, todavia, raríssimos entre nós têm realmente atitudes
de assim fazer.
Isto se dá porque não há outra forma de realizarmos
tal empreitada senão através do testemunho vivo e pessoal conforme já dissemos,
e isto é duro e difícil de fazer, pois significa entre outras dificuldades,
momentos de muita solidão pela incompreensão de todos, principalmente daqueles
que mais amamos.
Outras vezes até empreendemos esforços, mas tudo
envolto em muito sofrimento e até achando que somos heróis incompreendidos e
vítimas de um processo indescritível.
Parafraseando Jesus podemos dizer, quando assim se
der, ainda não é o fim[3]. Pois o nosso tem de
ser um testemunho de alegria, este deve ser o sentimento da paixão, será esta
senha de validação do término do processo.
Perguntado certa vez sobre qual seria o novo nome
de Jesus se ele em carne voltasse a nós, nosso querido e sábio Chico Xavier deu
uma simples resposta:
“- Alegria, se Jesus renascesse entre nós seu nome
seria Alegria.”
Claudio
Fajardo de Castro
[1]
Lucas, 23: 28
[2]
Mateus, 16: 24
[3]
Mateus, 24: 6
Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG) é bancário, escritor desde
1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso
de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado
de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O
Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O
Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.
Fonte: Rede Amigo Espírita
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