O mundo de
lá
Marcelo
Henrique
Você ouve
rádio? Ainda? Pois eu ouço.... Geralmente no trajeto casa-trabalho-casa. Mas,
também, a par de outras "inovações", como CDs, Pen Drives ou Spotify,
vez por outra sintonizo uma das três emissoras FM da minha região, porque as
demais tocam, sistematicamente, "outra coisa" que não é música...
Esses
dias, Maria Rita entoou conhecida canção de Fernando Brandt e Milton
Nascimento, "Encontros e Despedidas". Nele, como você deve saber, a
vida é comparada a uma estação de trem, onde há "gente a sorrir e a
chorar", em face dos momentos em que alguém viaja ou chega de alguma
viagem. O choro do instante em alguém se vai para longe e o sorriso - e as
lágrimas de alegria - quando ele regressa.
Logo no
início da poesia, os autores reproduzem o desejo de todo aquele que se despede
de quem vai: "mande notícias do mundo de lá". Evidencia-se a
preocupação do parente ou amigo que quer saber como está a outra pessoa, no
lugar distante.
Essa frase
é uma pontual remissão ao futuro espiritual de todos nós. O "mundo de
lá" é o porvir, o post-mortem, o "local" prometido pelas
religiões, o habitat das almas, após a ruptura dos laços físicos e diante do
apodrecimento do vaso físico em que a alma (espírito) fez morada. As crenças
humanas, desde tempos imemoriais, preocupam-se e predizem o "como
será" a vida após a experiência corporal (encarnação). Algumas são
taxativas e "prometem" uma condição boa, regular ou ruim para os
seres humanos, seja pela obediência aos ditames religiosos, seja pela conduta
usual nos quadrantes da existência terrena.
O
"mundo de lá", assim, pode ter um colorido, um contorno, um formato e
várias condicionantes que são, apenas, projeções e "promessas", mas
que, invariavelmente, todos a conheceremos no exato momento em que a alma
(espírito) se desprender do corpo e tomar consciência de sua "nova"
realidade (dimensão).
Para nós,
espíritas, o "mundo de lá" também não é, infelizmente, uma certeza.
Mas, como assim? O Espiritismo não apresenta elementos de convicção - a partir
da sólida e coerente investigação promovida por Allan Kardec, no período de
conversação com os Espíritos Superiores (1857-1869), quando, a propósito,
codificou a Doutrina dos Espíritos?
Sim! E
não!
Antes que
você se recupere do "assombro" em relação a esta "dúvida"
que estamos levantando, vamos explicitar...
Sim!
Kardec estudou a realidade dos espíritos desencarnados e obteve, deles, em
consenso (Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos), noções fundamentais
sobre a Vida Espiritual, com base em inúmeros depoimentos acerca da
"situação" e da "realidade" de todos eles, na chamada Erraticidade
(nome que se dá ao "local" (condição) de espírito desencarnado, que
vive no chamado "Mundo dos Espíritos".
No
"mundo de lá" temos uma realidade extracorpórea, em que os habitantes
desta dimensão são identificados por sua natureza íntima (personalidade
espiritual) não sendo possível - como aqui na Terra - a falsidade e a
imprecisão na caracterização das atitudes e condutas, marcantemente contida na
diferença entre o "pensar" (que é íntimo e, via de regra,
impenetrável) e o "agir". Lá, portanto, é impossível iludir os
demais, interlocutores, porque a "tela mental" denuncia as nossas
aspirações mais íntimas, para todos...
Ocorre que
Kardec estabeleceu, a partir das informações (teoria) e dos relatos (vivências,
experiências, depoimentos), aspectos relacionados à Vida Espiritual de todos os
espíritos, a qual apresenta dicotomias em função do nível evolutivo, que é
individual e particular. Assim sendo, em trechos das obras kardecianas, é
possível encontrar elementos de entendimento acerca da "natureza",
"alcance", "estrutura", "realidade" e outros da
chamada vida espiritual, desencarnada. E, sobretudo, na Revue Spirite (o seu
dinâmico laboratório de maturação das informações recebidas e, ainda, não
concordes segundo o método do "controle universal", já mencionado),
são apresentados "depoimentos" de desencarnados, os quais reproduzem
a sua visão "particular" - e, portanto, ainda, não universal, isto é,
não definitiva e componente da teoria espírita - sobre o que fazem, como vivem,
onde estão e quais os elementos "semimateriais" que compõem aquela
realidade póstuma.
Neste
ponto, descrições sobre "cidades", "colônias",
"organização", "divisão de tarefas", "eventos",
"ocupações", "alimentação", "sexo", "meios
de transporte", "edificações", devem ser vistas com bastante
ressalva. Destaque-se, neste particular, que, quanto mais imperfeitos forem os
indivíduos, quanto mais "materializada" tiver sido a existência que
acabam de encerrar, na Terra (ou em outros planos do quilate evolutivo de nosso
orbe), quanto mais exacerbadas forem as paixões, as vivências humanas, os
gostos, os pendores e os desejos humanos, maior é a probabilidade de
"buscar materializar" (ainda que o conceito de
"materialidade" não seja, efetivamente, o mesmo da realidade física)
situações e ocorrências bem próximas àquilo que foi vivenciado por anos,
décadas, uma existência inteira.
Merece
registro, também, a afirmação dos Espíritos Superiores quanto aos
"poderes" dos desencarnados em "manipulação" de
"energias" ou "fluidos" - registre-se, aqui, ainda, a
imprecisão do nosso vocabulário em definir o que seria manipulado pelas
inteligências desencarnadas - de modo a, individual ou coletivamente, poder
ter-se "construções", "objetos", "alimentos",
"animais" e tantas outras evidências de um mundo "parecido"
com o nosso.
Mas, até
onde nos foi possível aquilatar, pela teoria kardecista e pelas eventuais
análises sobre "textos esparsos" obtidos mediunicamente, não se pode
cravar nenhuma evidência da "paramaterialidade" do mundo espiritual -
o "mundo de lá", da canção, lembra-se? - ou, pelo menos, com cautela
e discernimento (a lógica racional de Rivail-Kardec), se pode afirmar que, sem
a continuidade das evocações, das pesquisas e da construção teórica baseada na
progressividade dos conceitos espíritas, o tema "colônias
espirituais" - descrito, por exemplo, na obra andreluiziana - trata-se,
tão-somente, da opinião do personagem desencarnado, em meio às suas próprias
perturbações e condicionada ao seu (pouco) adiantamento moral-espiritual,
consistindo, as afirmações contidas nas suas dezesseis obras, como uma
"visão particular e imprecisa" daquele espírito.
Esperamos
que a retomada das EVOCAÇÕES e a sistematização dos resultados possa contribuir
para "comprovar" ou "rechaçar" completamente a teoria de
André Luiz sobre o "mundo de lá".
Isso não
nos impede, no entanto, de continuar entendendo as "idas e vindas" do
Espírito, Ser Inteligente, como materializadora dos "Encontros e
Despedidas" na "plataforma dessa estação" que é a vida! E a
vida, de fato, é a espiritual, ainda que, vez por outra, estejamos "do
lado de lá", ou do "lado de cá", nos mundos em que os Espíritos
habitam.
Boa viagem
para todos nós! Para você que chega, para você que vai. E para você que apenas
observa, na estação...
Enviado por: "Gonzaga"
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