sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Artigo: O mundo de lá - Música: encontros e despedidas

O mundo de lá

Marcelo Henrique

Você ouve rádio? Ainda? Pois eu ouço.... Geralmente no trajeto casa-trabalho-casa. Mas, também, a par de outras "inovações", como CDs, Pen Drives ou Spotify, vez por outra sintonizo uma das três emissoras FM da minha região, porque as demais tocam, sistematicamente, "outra coisa" que não é música...
Esses dias, Maria Rita entoou conhecida canção de Fernando Brandt e Milton Nascimento, "Encontros e Despedidas". Nele, como você deve saber, a vida é comparada a uma estação de trem, onde há "gente a sorrir e a chorar", em face dos momentos em que alguém viaja ou chega de alguma viagem. O choro do instante em alguém se vai para longe e o sorriso - e as lágrimas de alegria - quando ele regressa.
Logo no início da poesia, os autores reproduzem o desejo de todo aquele que se despede de quem vai: "mande notícias do mundo de lá". Evidencia-se a preocupação do parente ou amigo que quer saber como está a outra pessoa, no lugar distante.
Essa frase é uma pontual remissão ao futuro espiritual de todos nós. O "mundo de lá" é o porvir, o post-mortem, o "local" prometido pelas religiões, o habitat das almas, após a ruptura dos laços físicos e diante do apodrecimento do vaso físico em que a alma (espírito) fez morada. As crenças humanas, desde tempos imemoriais, preocupam-se e predizem o "como será" a vida após a experiência corporal (encarnação). Algumas são taxativas e "prometem" uma condição boa, regular ou ruim para os seres humanos, seja pela obediência aos ditames religiosos, seja pela conduta usual nos quadrantes da existência terrena.
O "mundo de lá", assim, pode ter um colorido, um contorno, um formato e várias condicionantes que são, apenas, projeções e "promessas", mas que, invariavelmente, todos a conheceremos no exato momento em que a alma (espírito) se desprender do corpo e tomar consciência de sua "nova" realidade (dimensão).
Para nós, espíritas, o "mundo de lá" também não é, infelizmente, uma certeza. Mas, como assim? O Espiritismo não apresenta elementos de convicção - a partir da sólida e coerente investigação promovida por Allan Kardec, no período de conversação com os Espíritos Superiores (1857-1869), quando, a propósito, codificou a Doutrina dos Espíritos?
Sim! E não!
Antes que você se recupere do "assombro" em relação a esta "dúvida" que estamos levantando, vamos explicitar...
Sim! Kardec estudou a realidade dos espíritos desencarnados e obteve, deles, em consenso (Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos), noções fundamentais sobre a Vida Espiritual, com base em inúmeros depoimentos acerca da "situação" e da "realidade" de todos eles, na chamada Erraticidade (nome que se dá ao "local" (condição) de espírito desencarnado, que vive no chamado "Mundo dos Espíritos".
No "mundo de lá" temos uma realidade extracorpórea, em que os habitantes desta dimensão são identificados por sua natureza íntima (personalidade espiritual) não sendo possível - como aqui na Terra - a falsidade e a imprecisão na caracterização das atitudes e condutas, marcantemente contida na diferença entre o "pensar" (que é íntimo e, via de regra, impenetrável) e o "agir". Lá, portanto, é impossível iludir os demais, interlocutores, porque a "tela mental" denuncia as nossas aspirações mais íntimas, para todos...
Ocorre que Kardec estabeleceu, a partir das informações (teoria) e dos relatos (vivências, experiências, depoimentos), aspectos relacionados à Vida Espiritual de todos os espíritos, a qual apresenta dicotomias em função do nível evolutivo, que é individual e particular. Assim sendo, em trechos das obras kardecianas, é possível encontrar elementos de entendimento acerca da "natureza", "alcance", "estrutura", "realidade" e outros da chamada vida espiritual, desencarnada. E, sobretudo, na Revue Spirite (o seu dinâmico laboratório de maturação das informações recebidas e, ainda, não concordes segundo o método do "controle universal", já mencionado), são apresentados "depoimentos" de desencarnados, os quais reproduzem a sua visão "particular" - e, portanto, ainda, não universal, isto é, não definitiva e componente da teoria espírita - sobre o que fazem, como vivem, onde estão e quais os elementos "semimateriais" que compõem aquela realidade póstuma.
Neste ponto, descrições sobre "cidades", "colônias", "organização", "divisão de tarefas", "eventos", "ocupações", "alimentação", "sexo", "meios de transporte", "edificações", devem ser vistas com bastante ressalva. Destaque-se, neste particular, que, quanto mais imperfeitos forem os indivíduos, quanto mais "materializada" tiver sido a existência que acabam de encerrar, na Terra (ou em outros planos do quilate evolutivo de nosso orbe), quanto mais exacerbadas forem as paixões, as vivências humanas, os gostos, os pendores e os desejos humanos, maior é a probabilidade de "buscar materializar" (ainda que o conceito de "materialidade" não seja, efetivamente, o mesmo da realidade física) situações e ocorrências bem próximas àquilo que foi vivenciado por anos, décadas, uma existência inteira.
Merece registro, também, a afirmação dos Espíritos Superiores quanto aos "poderes" dos desencarnados em "manipulação" de "energias" ou "fluidos" - registre-se, aqui, ainda, a imprecisão do nosso vocabulário em definir o que seria manipulado pelas inteligências desencarnadas - de modo a, individual ou coletivamente, poder ter-se "construções", "objetos", "alimentos", "animais" e tantas outras evidências de um mundo "parecido" com o nosso.
Mas, até onde nos foi possível aquilatar, pela teoria kardecista e pelas eventuais análises sobre "textos esparsos" obtidos mediunicamente, não se pode cravar nenhuma evidência da "paramaterialidade" do mundo espiritual - o "mundo de lá", da canção, lembra-se? - ou, pelo menos, com cautela e discernimento (a lógica racional de Rivail-Kardec), se pode afirmar que, sem a continuidade das evocações, das pesquisas e da construção teórica baseada na progressividade dos conceitos espíritas, o tema "colônias espirituais" - descrito, por exemplo, na obra andreluiziana - trata-se, tão-somente, da opinião do personagem desencarnado, em meio às suas próprias perturbações e condicionada ao seu (pouco) adiantamento moral-espiritual, consistindo, as afirmações contidas nas suas dezesseis obras, como uma "visão particular e imprecisa" daquele espírito.
Esperamos que a retomada das EVOCAÇÕES e a sistematização dos resultados possa contribuir para "comprovar" ou "rechaçar" completamente a teoria de André Luiz sobre o "mundo de lá".
Isso não nos impede, no entanto, de continuar entendendo as "idas e vindas" do Espírito, Ser Inteligente, como materializadora dos "Encontros e Despedidas" na "plataforma dessa estação" que é a vida! E a vida, de fato, é a espiritual, ainda que, vez por outra, estejamos "do lado de lá", ou do "lado de cá", nos mundos em que os Espíritos habitam.
Boa viagem para todos nós! Para você que chega, para você que vai. E para você que apenas observa, na estação...

Enviado por: "Gonzaga"


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