Conflitos existenciais
Por Alessandro Viana Vieira de Paula
O livro Conflitos Existenciais, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, tem um conteúdo magnífico, abordando os vinte conflitos mais comuns na vida da criatura humana e a forma de nos libertamos deles, constituindo-se em excelente leitura, inclusive para os espíritas que trabalham no atendimento fraterno.
Destaco um ponto relevante da introdução dessa obra. A benfeitora Joanna de Ângelis afirma que está homenageando os 140 anos do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec. Lembro que a introdução foi psicografada em 24 de junho de 2005.
O motivo da homenagem se deu porque quando um ou mais conflitos existenciais estão instalados em nossas vidas e não são devidamente enfrentados e superados, certamente causam um inferno interior em nós, ou seja, um estado de sofrimento que nos afeta negativamente.
O indivíduo portador de depressão, inveja, pessimismo, mau humor, vazio existencial, insegurança emocional, ansiedade crônica, etc., vive um estado de infelicidade quando está sob os efeitos desses conflitos (um deles ou mais).
O sofrimento nos destrói ou nos reconstrói, dependendo da nossa forma de agir, e não podemos duvidar que o conflito existencial gera sofrimento, um inferno interior em nossas vidas, mormente quando estamos vivenciando seus efeitos desagradáveis.
Há uma pesquisa realizada no Brasil, informando que, no ano de 2012, foram vendidas quarenta e dois milhões de caixas de remédios que tratam da depressão, do transtorno de humor e que diminuem a ansiedade e as tensões (ansiolíticos), movimentando 1,85 bilhão de reais.
Essas estatísticas podem ser avaliadas sob duas perspectivas. A primeira revela a misericórdia divina, que permite o avanço da farmacologia, melhorando a qualidade de vida e nos permitindo enfrentar os dramas existenciais com a ajuda dos medicamentos, porque, em muitos casos, há necessidade do reequilíbrio orgânico.
A segunda forma de analisar demonstra a nossa carência moral, haja vista que não estamos lidando equilibradamente com os desafios existenciais, que, em vez de conflitos dolorosos, deveriam nos trazer aprendizado e mecanismos de evolução, à medida que fomentam a busca de virtudes diante de uma situação desagradável.
Jesus nos advertiu de que no mundo teríamos aflições (João, 16:33), de tal sorte que as situações difíceis, sobretudo nas relações humanas, devem gerar reflexão e crescimento interior, que edificam o céu interior no indivíduo, uma vez que céu e inferno são estados da alma, no corpo ou fora dele, e não locais geográficos.
Outro ponto relevante diz respeito à cultura de permissividade que vige no mundo, pois, muitas pessoas que são portadoras de conflitos existenciais, preferem viver às custas de medicamentos, sem se preocuparem com a erradicação da causa, que estão nelas mesmas, acusando a Deus, a sociedade e ao próximo como responsáveis pela sua infelicidade.
Por essa razão, o Espírito Joanna de Ângelis inicia o livro com as fugas psicológicas (capítulo I), porque se não identificarmos os conflitos e as reais causas, dificilmente converteremos o inferno íntimo em estado de saúde, felicidade e paz interior.
Anote-se que o Espiritismo nos ensina que a vida prossegue além do túmulo, portanto, todos os conflitos existenciais não superados prosseguirão na vida espiritual.
Dessa forma, é extremamente prejudicial à evolução, arrastar nossas vidas à custa de remédios antidepressivos, ansiolíticos e estabilizadores de humor, sem nos preocuparmos com a erradicação da causa. Por esse motivo, Santo Agostinho, na questão 919, de O livro dos Espíritos, nos incentiva ao autoconhecimento.
Convém repetir que não estamos contra o uso dos remédios, mas não somos favoráveis a escorar nossas vidas nos medicamentos, sem qualquer mecanismo de aprendizado e crescimento moral, até porque os conflitos existenciais revelam a nossa escassez de recursos morais para enfrentar, de forma equilibrada e saudável, os desafios da vida.
Quantos Espíritos despertam no mundo espiritual ainda portadores de depressão, culpa, fobias, ansiedade, vazio existencial, ódio, vícios, portanto, em sofrimento e num estado de inferno mental, porque, quando estavam na Terra, viviam nesse estado e não se preocuparam em libertar-se do conflito. Muitos viveram apenas impulsionados pelos medicamentos e, provavelmente, sofrendo os efeitos da obsessão, porque os Espíritos inferiores potencializam os conflitos existenciais, tornando a cura mais difícil, mas não impossível.
Em razão desses apontamentos é que o Espiritismo recomenda, diante dos conflitos existenciais, o tratamento médico e espiritual. Tomar, sim, os medicamentos prescritos e buscar os profissionais da mente (psicólogos e psiquiatras), mas também cuidar da alma, ter um vínculo religioso sério, orar, praticar a caridade e esmerar-se no autoconhecimento, procurando superar os limites morais através da conquista de virtudes.
O Espiritismo ainda nos oferta as palestras e os grupos de estudo, o atendimento fraterno e os passes, a água fluidificada e o evangelho no lar, que nos fortalecerão para o bom combate, a luta interior, conforme a orientação segura de Paulo de Tarso (II Timóteo: 4).
Busquemos, também, o médico Jesus que nos disse: Vinde a mim vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei (Mateus 11:28), e a farmácia do Evangelho, onde encontraremos as medicações para a alma, tais como, a gratidão, a paciência, a fé, a humildade, o perdão, a compaixão, que nos auxiliarão a converter os conflitos em aprimoramento dos sentimentos, infelicidade em alegria de viver, e inferno íntimo em céu interior, não nos esquecendo de que o Reino de Deus está dentro de nós (Lucas 17:20-21), de forma que temos um potencial divino a ser despertado, a nos conduzir à perfeição relativa.
(fonte: jornal Mundo Espírita _FEP
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