Autor: Espírito
Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A029 – Cap. 11
– As agressões– Segunda Parte
11 - As agressões
Contudo, experimentávamos certas
sombras psíquicas investindo insistentes, constantes.
Convocados a uma reunião
extraordinária, a palavra de Saturnino, sempre pronta e luminosa, veio em nosso
socorro. Como tudo são lições e a aprendizagem tem maior valor quando o aluno é
co-participante do ensinamento, nele atuando, o venerável Benfeitor nos
admoestou bondosamente, conclamando-nos à «resistência contra o mal», do
ensinamento evangélico, e corroborando a advertência anterior, de que as
investidas da Organização logo se fariam sentir, conforme era de esperar.
Levantássemos o espírito e marchássemos irmanados de maneira a nos sustentarmos
uns nos outros, repetindo, ainda, cristianíssimo: «Onde quer que se encontrem
duas ou três pessoas reunidas em meu Nome, eu com elas estarei», da
inesquecível lição de São Mateus, no Capítulo 18, versículo 20. A oração em
conjunto, a reunião de pensamentos, consegue a bênção da fraternidade e esta a
do socorro recíproco. É muito fácil arrebentar-se uma vara isolada, mas não se
pode fazer o mesmo a um feixe...
A família Soares, completou o
amoroso Desencarnado, estava sendo convidada a novas aflições necessárias à
própria evolução e a melhor entendimento das responsabilidades imortalistas.
Sendo a dor a melhor forma de o homem entender as realidades da vida por
enquanto, era bem certo que o sofrimento faria o seu mister.
Terminada a reunião, quando já nos recolhêramos
ao lar, Petitinga chamou-nos ao telefone, convidando-nos a demandar o lar dos
Soares, onde infeliz acontecimento transcorrera, e Dona Rosa, muito aflita, lhe
solicitara urgente visita.
Quando chegamos à residência do Sr.
Mateus Soares, encontramos os familiares tomados de superlativa amargura. Dona
Rosa e a filha Amália haviam retornado do Hospital do Pronto Socorro, onde se
encontrava internado o chefe do lar, que fora submetido a delicada cirurgia de
emergência.
Dona Rosa, compreensivelmente
aflita, esclareceu que recebera informação, de pessoa amiga, de que o Sr.
Mateus fora levado à pressa para aquele nosocômio, nas primeiras horas da
noite, como vítima de uma cena de sangue. Não possuía detalhes que
esclarecessem a situação. O agressor, que fazia parte do grupo de amigos do
descuidado genitor de Mariana, era frequentador habitual do local em que o
esposo se demora noites a dentro, na desenfreada jogatina. O delegado de
Polícia dali saíra havia poucos minutos e se fizera sucinto nos esclarecimentos.
Dissera haver prendido o
antagonista, que se apresentava alcoolizado, e que ficaria retido até à
abertura do necessário inquérito, enquanto o estado do Sr. Mateus, inspirando
cuidados no Hospital, se definia.
Interrogado quanto às causas da agressão,
o policial dissera que essas surgiram numa discussão de pequena monta, travada
pelos dois, O Sr. Mateus acusara o adversário de estar jogando com cartas
marcadas e utilizando de processos desonestos, o que dera início à acalorada
discussão, que redundou no intempestivo e lamentável golpe de punhal, que o
acusado aplicara certeiro, como se conduzido por mão poderosa que lhe acionasse
as forças, considerando ser, também, um homem de quase 60 anos de idade. Isso
dera razões ao delegado para fechar a casa que funcionava com “jogos de azar”
proibidos pela Polícia. A sua visita ao lar dos Soares tinha o objetivo de
colher dados que o pudessem ajudar com alguns antecedentes que aclarassem
diversos ângulos da questão, tais como se era do conhecimento familiar alguma
rixa antiga, de altercações anteriores...
Surpreendida dolorosamente pela
quase tragédia que ainda poderia colimar com a desencarnação do Sr. Mateus, a
nobre senhora se encontrava vencida por angustiante expectativa. Só no dia
seguinte poderia visitar o esposo, agora em pós operatório.
Fora acalmada no Pronto Socorro, por
gentil estudante de Medicina, interno, que acompanhara a cirurgia e lhe
explicara das boas perspectivas do operado, que, embora de organização
fisiológica já cansada, estava até o momento reagindo muito bem.
Recorria a Petitinga, rogando-lhe a
inspiração e o auxílio, pois que, com a notícia que lhe chegara ao lar
abruptamente, Mariana fora acometida de um choque nervoso cruel e, desde então,
estava inquieta, olhar desvairado, com sintomas que lhe pareciam alarmantes.
Todos se encontravam assustados com o acontecimento da agressão ao genitor e
preocupados com o estado da jovem.
Conduzidos à peça em que se
encontrava Mariana, bondosamente atendida por Amália, não tivemos dúvidas em verificar
a presença de agressores espirituais interessados em criar pânico e perturbação
na família aturdida.
O ambiente psíquico traduzia a
intoxicação violenta por fluídos de baixo teor vibratório, o que nos dava a
impressão de um local asfixiante, abrasador e constringente.
Muito sereno, Petitinga aproximou-se
do leito em que a jovem se encontrava semidesfalecida, muito pálida, e, depois
de alguns breves minutos de recolhimento profundo, tocou as têmporas da moça,
chamando-a, paternal:
— Mariana, filha, desperte...
Procure reagir a esse estado, que lhe pode ser de consequências maléficas...
Não pôde continuar. A jovem, como se
fora acionada por invisível catapulta, ergueu-se de um salto e, transfigurada
pela irrupção do fenômeno mediúnico, ficou de pé, em atitude desafiadora,
desgrenhada, e avançou, ameaçadora, na direção do venerando servidor do Cristo,
com os punhos cerrados. Por um momento, tivemos a antevisão de um desforço
físico, inimaginável. Muito junto ao apóstolo espírita estacou e, atirando a cabeça
para trás, estrugiu ruidosa e chocante gargalhada, em que revelava fúria e
zombaria armazenadas, furiosamente libertadas.
Petitinga integérrimo, tranquilo,
sem arredar-se do lugar, falou, bondoso:
— Louvado seja Nosso Senhor
Jesus-Cristo! Seja bem-vindo, meu irmão. Este, como qualquer momento, é sempre
precioso instante de buscar a paz. Eis-nos que aqui estamos para tal, para
ajudá-lo no que nos esteja ao alcance...
— Ajudar-me? — revidou, colérico. —
Não me parece que seja eu aquele que neste recinto necessita da ajuda, nestas
circunstâncias. Os senhores, no entanto, creio, precisam de urgente socorro,
isto sim!
— Engana-se, meu amigo. Estamos
socorridos pela Divina Providência, socorro esse que constatamos graças à sua
presença entre nós, presença esclarecedora, convincente, que nos traz o elo
para entender os acontecimentos transcorridos nestas últimas horas, envolvendo
a família que nos agasalha no seu Lar.
— Sim, sem dúvida — assentiu,
furioso. — Aqui estamos obedecendo a ordens.
Trata-se de um desforço justo e
esperado, não? Certamente que os senhores deveriam estar aguardando a resposta
dos nossos Chefes à intromissão nefanda que realizaram em nossos programas. Ou
acreditam que tudo continuaria a correr em águas de rios tranquilos? Não é da
lei, que toda ação produz uma reação equivalente? Portanto, não há porque
esperar outra coisa...
— Estamos perfeitamente esclarecidos
— apostrofou Petitinga. — Ocorre, todavia, que a direção do ataque errou o
alvo. Não somos nada, nós, as criaturas humanas. Espíritos em débito,
caminhamos cansadamente pelos impositivos do ressarcimento difícil.
Companheiros da dor, todos nós, somos herdeiros do Amor de Nosso Pai.
Obedecendo às instruções que dimanam da Vida Abundante e que nos foram
lecionadas por Jesus-Cristo, Ele deveria ser-lhes a meta e não nós outros,
caminheiros sofridos como você próprio, marchando na busca dEle.
— Nada queremos com Ele — revidou,
com estridente desafio, em que expressões vulgares traduziam o estado primitivo
de realizações morais do contendor. — Nosso compromisso é com vocês e saberemos
como revidar à altura a ousadia de que se revestem.
Insistimos, no entanto — voltou a
expor o doutrinador valoroso —, em explicar, que nos encontramos sob o comando
do Cristo e que, na impossibilidade de você se dirigir a Ele, mas chegando-se
até nós, indiretamente avança na Sua direção. Conquanto as nossas limitações,
problemas múltiplos e ausência de mérito, não estamos à margem dos auxílios da
Espiritualidade Superior. Neste momento mesmo em que lhe falamos, já nos
sentimos amparados suficientemente para interromper a entrevista de violência,
porqüanto nobre Mensageiro do Senhor prontificou-se a assisti-lo e
tranqüilizá-lo, encaminhando-o como do nosso desejo, a Jesus...
— Que petulância! — arremeteu, desassisado.
—Assistir-me e tranquilizar-me. Melhor do que me encontro é impossível...
Quanto aos senhores, sim, fazem-se necessários muitos auxílios para saírem da
«enrascada» em que se envolveram. Tenham em mente que, representando a luz como
pretendem, estamos dispostos à verificação...
— Mas a luz dimana do Alto — conviu,
Petitinga porque tudo nos vem do Alto.
— É o que veremos desde já —
explodiu, arrogante. — Na impossibilidade de no momento atingirmos esse Alto...
ficaremos cá em baixo, e iremos derrubar os postes que sustentam as falsas
lâmpadas, arrebentando-as, destruindo os vasos luminosos e fazendo que a
escuridão retorne aos sítios em que ela imperava, gloriosa...
Falava com sarcasmo cruel, e sem
dissimular a ira chasquinava cinicamente. Imperturbável, Petitinga, redargüiu:
— Lamento a sua situação:
preferência da treva àluz, do erro à verdade, do engano à lucidez... Cada um,
porém, tem o direito de viver e respirar o clima, contemplando a paisagem que
melhor lhe apraz... Contudo, advertimo-lo quanto à presença do generoso
Benfeitor paternal que lhe poderá ajudar com segurança.
Confie nele e deixe-se conduzir
tranqüilamente. Jesus fará o resto.
— Não esqueçam, senhores — ameaçou
—, isto são apenas os começos. A nossa vingança não terá limite. Estejam
preparados para o revide pelas portas largas da agressão.
Gargalhando, infeliz, desligou-se da
médium que, inexperiente nos processos sutis da psicofonia atormentada como
aquela, por pouco não caiu, não fosse a vigilância de José Petitinga, sempre atento
e calmo. Conduzida ao leito e assistida por passes calmantes, Mariana recobrou
a razão e, sem compreender exatamente o que acontecera, com as idéias
turbilhonadas, prorrompeu em choro lenificador.
Dona Rosa, crucificada por amarguras
contínuas, envolveu a filha num abraço de ternura e acalmou-a com a emoção de
que são possuidoras as mulheres cujas vidas as transformam em sacrários através
da maternidade enobrecida. A jovem asserenou e dormiu nos braços envolventes da
mãe devotada.
Perguntei a Petitinga se não seria
necessária a aplicação de passes. Fitando a moça adormecida no seio materno, o
bondoso e preclaro amigo, informou:
— Miranda, a maior transfusão de
forças que se conhece é aquela que se faz através do amor. E a mais exuberante
fonte de amor que vige na Terra se encontra no coração fervoroso de uma mãe
afetuosa e cumpridora dos seus deveres. A menina Mariana dormirá
tranqüilamente, mesmo porque a presença dos Mentores, que nos assistiram nesta
casa, afastou já os comensais da perturbação e fomentadores da desordem.
Estejamos confiantes.
Dona Rosa e Amália, sempre gentis,
agradeceram comovidas e saímos. Petitinga prometeu retornar no dia imediato.
QUESTÕES
PARA ESTUDO
1
– O que o obsessor quis dizer “Tenham em mente que, representando a luz como
pretendem, estamos dispostos à verificação...”
2
– O que havia acontecido com o Sr. Mateus, pai de Mariana e marido de D. Rosa?
Bom
estudo a todos!!
Equipe
Manoel Philomeno
Nenhum comentário:
Postar um comentário