REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 1
JANEIRO 1864
CONVERSAS
DE ALÉM-TÚMULO.
Frédégonde
Damos a
seguir as duas evocações do Espírito de Frédégonde, feitas na Sociedade, com um
mês de intervalo, e que formam o complemento dos dois precedentes artigos sobre
a possessão da senhorita Julie. Esse Espírito não se manifestou com sinais de
violência, mas escrevia com uma dificuldade muito grande e cansava extremamente
o médium, que com isso ficava mesmo indisposto, e cujas faculdades pareciam, de
alguma sorte, paralisá-las. Na previsão desse resultado, tivemos o cuidado de
não confiar essa evocação a um médium muito delicado.
Numa
outra circunstância, um Espírito, interrogado à conta deste, dissera que, há
muito tempo procurava se reencarnar, mas que isso não lhe fora permitido,
porque seu objetivo não era ainda de se melhorar, sendo seu objetivo, ao
contrário, de ter mais facilidade para fazer o mal, com a ajuda de um corpo
material. De tais disposições deviam tornar sua conversa muito difícil; ela não
o foi, no entanto, tanto quanto se poderia temê-lo,
graças,
sem dúvida, ao concurso benevolente de todas as pessoas que nisso participaram,
e talvez também porque tinha chegado o tempo em que esse Espírito deveria
entrar no caminho do arrependimento.
(16 de
outubro de 1863 - Médium, Sr. Leymarie.)
1.
Evocação. - Resp. Não sou Frédégonde; que quereis de mim?
2. Quem
sois, pois? - R Um Espírito que sofre.
3. Uma
vez que sofreis, deveis desejar não mais sofrer; nós vos assistiremos, porque
nos compadecemos com todos aqueles que sofrem neste mundo e no outro; mas é
preciso que nos secundeis, e, para isso, é preciso que oreis. - R. Eu vos
agradeço por isso, mas não posso orar.
4. Vamos
orar, isto vos ajudará; tende confiança na bondade de Deus, que perdoa sempre
àquele que se arrepende .-R Creio em vós; orai, orai; talvez eu possa me
converter.
5. Mas
não basta que oremos, é preciso orar de vosso lado. - R Eu quis orar, e não
pude; agora vou tentar com a vossa ajuda.
6. Dizei
conosco: Meu Deus, perdoai-me, porque pequei; arrependo-me do mal que fiz. - R
Eu o digo; depois.
7. Isso
não basta; é necessário escrever. - R Meu.... (Aqui o Espírito não pôde
escrever a palavra Deus; não foi senão depois de forte encorajamento que chegou
a terminar a frase, de maneira irregular e pouco legível.)
8. Não é
preciso dizer isso pela forma; é necessário pensá-lo, e tomar a resolução de
não mais fazer o mal, e vereis que logo estareis aliviada. - R Vou orar.
9. Se
orastes sinceramente, com isso não vos sentis melhor? - R Oh! sim!
10.
Agora, dai-nos alguns detalhes sobre a vossa vida e as causas de vossa
obstinação contra Julie?- R Mais tarde... direi.... mas não posso hoje.
11.
Prometeis deixar Julie em repouso? O mal que lhe fazeis recai sobre vós e
aumenta os vossos sofrimentos. - R Sim, mas sou impelida por outros Espíritos
piores do que eu.
12. É uma
desculpa má que dais aí para vos desculpar; em todos os casos, deveis ter uma
vontade, e com a vontade pode-se sempre resistir às más sugestões.— R Se eu
tivesse a vontade, não sofreria; sou punido porque não soube resistir.
13. Isso
mostraríeis, no entanto, bastante para atormentar Julie; mas vindes de tomar
boas resoluções, vos convidamos a persistir nisso, e pediremos aos bons
Espíritos para vos secundarem.
Nota.-Durante
esta evocação, um outro médium obtinha de seu guia espiritual uma comunicação
contendo, entre outras coisas, o que se segue: "Não vos inquieteis com as
negações que notais nas respostas deste Espírito: sua idéia fixa de se
reencarnar fá-lo repelir toda solidariedade com o seu passado, se bem que não
lhe suporta senão muito os efeitos. Ela é bem aquela que foi nomeada, mas não
quer convir nisso consigo mesma."
14. Evocação. - R. Estou pronta para responder.
15. Tendes persistido na boa resolução em que
estáveis na última vez? - R Sim.
16. Como vos achastes com isso? - R Muito bem,
porque orei e estou mais calma, bem mais feliz.
17. Com efeito, sabemos que Julie não foi mais
atormentada. Uma vez que podeis vos comunicar mais facilmente, quereis nos
dizer porque vos obstinastes junto dela? – R Estive esquecida durante séculos,
e desejava que a maldição que cobre meu nome cessasse um pouco, a fim de que
uma prece, uma só, viesse me consolar. Oro, creio em Deus; agora posso
pronunciar o seu nome, e certamente é mais do que não poderia esperar do
benefício que podeis me conceder,
Nota. - No intervalo da primeira para a segunda
evocação, o Espírito era chamado todos os dias por aquele de nossos colegas que
foi encarregado de instruí-lo. Um fato positivo é que, a partir desse momento,
a senhorita Julie deixou de ser atormentada.
18. É muito duvidoso que apenas o desejo de obter
uma prece tenha sido o móvel que vos levou a atormentar aquela jovem; quereis,
sem dúvida, ainda procurar encobrir vossos erros; em todo o caso, era um meio
mau de atrair sobre vós a compaixão dos homens. - R. No entanto, se não tivesse
atormentado muito Julie, não ferieis pensado em mim, e eu não teria saído do
miserável estado em que me arrastava. Disso resultou uma instrução para vós e
um grande bem para mim, uma vez que me abristes os olhos.
19. (Ao guia do médium.) É bem Frédégonde que dá
esta resposta? - R. Sim, é ela, um pouco ajudada, é verdade, porque está
humilhada; mas este Espírito é muito mais avançado do que não credes; é-lhe
preciso o progresso moral com o qual a ajudais a dar o primeiro passo. Ela não
vos disse que Julie tirará um grande proveito daquilo que se passou para o seu
adiantamento pessoal.
20. (A Frédégonde.) A senhorita Julie vivia em
vosso tempo, e poderíeis nos dizer o que ela era? - R. Sim; era uma de minhas
damas de companhia, chamada Hildegarde; uma alma sofredora e resignada que fez
a minha vontade; sofreu a pena de seus serviços muito humildes e muito
complacentes a meu respeito.
2,1. Desejais uma nova encarnação? - R . Sim, eu a
desejo. Ó meu Deus! sofri mil torturas, e se tenho merecido uma pena justa, ai
de mim! é tempo que eu possa, com a ajuda de vossas preces, recomeçar uma
existência melhor, a fim de me lavar de minhas antigas sujeiras. Deus é justo;
orai por mim. Até este dia, eu tinha desconhecido toda a extensão de minha
pena; tinha como a vertigem; mas no presente vejo, compreendo, desejo o perdão
do Senhor com o de minhas vítimas. Meu Deus, quanto é doce o perdão!
22. Dizei alguma coisa de Brunehaut! - R.
BrunehautL. Esse nome me dá vertigem.... Ela é a grande falta da minha vida, e
senti meu velho ódio despertar a esse nome!... Mas meu Deus me perdoará, e poderei
doravante escrever este nome sem tremer.
Mais feliz do que eu, ela está reencarnada pela
segunda vez, e cumpre um papel que eu desejo, o de uma irmã de caridade.
23. Estamos felizes com a vossa mudança, para isso
vos encorajamos, vos sustentamos com as nossas preces. - R. Obrigada! obrigada!
bons Espíritos, Deus vo-lo restituirá.
Nota. - Um fato característico nos maus Espíritos é
a impossibilidade em que estão, freqüentemente, de pronunciarem ou escreverem o
nome de Deus. Sem dúvida, isto denota uma natureza má, mas, ao mesmo tempo, um
fundo de temor e de respeito que os Espíritos hipócritas não têm, menos maus em
aparência; estes últimos, longe de recuarem diante do nome de Deus, dele se
servem impudentemente para captar a confiança.
São eles infinitamente mais perversos e mais
perigosos do que os Espíritos francamente maus; é nesta classe que se acha a
maioria dos Espíritos fascinadores, dos quais é mais difícil de se desembaraçar
do que dos outros, porque é do próprio Espírito que se apoderam com a ajuda de
uma falsa aparência de saber, de virtude ou de religião, ao passo que os outros
se apoderam do corpo. Um Espírito que, como o de Frédégonde, recua diante do
nome de Deus, está muito mais perto de sua conversão do que aqueles que se
cobrem com a máscara do bem. Ocorre o mesmo entre os homens, onde encontrareis
essas duas categorias de Espíritos encarnados.
Enviado por: "Joel Silva"
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