REVISTA ESPIRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO NO. 2 FEVEREIRO 1864
ESTUDOS SOBRE A REENCARNAÇÃO.
(Sociedade Espírita de Paris. - Médium, senhorita A.
C.)
IV - As
afeições terrestres e a reencarnação.
O dogma da reencarnação indefinida encontra
oposições no coração do encarnado que ama, porque em presença dessa infinidade
de existências, produzindo cada uma delas novos laços, pergunta-se com medo o
que se tornam as afeições particulares, e se elas não se fundem num único amor
geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Pergunta-se se
essa afeição individual não é somente um meio de adiantamento, e então o
desencorajamento se insinua em sua alma, porque a verdadeira afeição sente a
necessidade de um amor eterno, sentindo que não se deixará jamais de amar. O
pensamento de milhares dessas afeições idênticas lhe parece uma
impossibilidade, mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.
O encarnado que estuda seriamente o
Espiritismo, sem tomar partido por um sistema antes que por um outro, se
encontra arrastado para a reencarnação pela justiça que decorre do progresso e
do adiantamento do Espírito em cada nova existência; mas quando o estuda do
ponto de vista das afeições do coração, duvida e se atemoriza apesar dele. Não
podendo colocar de acordo esses dois sentimentos, se diz que ali ainda tem um
véu a levantar, e seu pensamento nesse trabalho atrai as luzes dos Espíritos
para concordar seu coração e sua razão.
Eu disse precedentemente: a encarnação se
detém lá onde a materialidade é anulada. Mostrei como o progresso material
havia de início refinado as sensações corpóreas do Espírito encarnado; como o
progresso espiritual, tendo vindo em seguida, havia contrabalançado a
influência da matéria, depois a havia, enfim, subordinado à sua vontade, e, que
chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não tinha mais razão
de ser, o trabalho estando realizado.
Examinemos agora a questão da afeição sob
esses dois aspectos, material e espiritual.
De início, o que é a afeição, o amor? Ainda a
atração fluídica atraindo dois seres um para o outro, e unindo-os num mesmo
sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, uma vez que os
fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é
preciso que ela seja espiritual e desinteressada; é preciso a abnegação, o
devotamento, e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel desse arrastamento
simpático. Do momento em que haja, nesse sentimento, personalidade, há materialidade;
ora, nenhuma afeição material persiste nos domínios do Espírito. Portanto, toda
afeição que não seja senão o resultado do instinto animal ou do egoísmo, se
destrói à morte terrestre. Também, que seres supostamente amados são esquecidos
depois de pouco tempo de separação! Vós os haveis amado por vós e não por eles,
aqueles que não são mais, uma vez que os esquecestes e substituístes;
procurastes a consolação no esquecimento; eles se vos tornam indiferentes,
porque não tendes mais amor.
Contemplai a Humanidade, e vede o quanto há
pouca afeição verdadeira sobre a Terra! Também não se deve tanto se amedrontar
com a multiplicidade das afeições contraídas nesse mundo; elas são em minoria
relativa, mas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob todas as
formas, sobre a Terra, de início, depois continuam no estado de Espírito numa
amizade ou um amor inalterável, que não faz senão crescer em se elevando mais.
Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição
espiritual.
A afeição espiritual tem por base a afinidade
fluídica espiritual, que, agindo sozinha, determina a simpatia. Quando ocorre
assim, é a alma que ama a alma, e essa afeição não toma força senão pela
manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se
procuram e tendem sempre a se aproximarem; seus fluidos são atrativos. Que
estejam num mesmo globo, serão levados um para o outro; que estejam separados
pela morte terrestre, seus pensamentos se unirão na lembrança, e a união se
fará na liberdade do sono; e quando a hora de uma nova encarnação soar para um
deles, procurará se aproximar de seu amigo entrando nisso que é sua filiação
material, e fá-lo-á com tanto mais facilidade quanto seus fluidos
periespirituais materiais encontrarem afinidade na matéria corpórea dos
encarnados que deram a luz ao novo ser. Daí um novo aumento da afeição, uma
nova manifestação do amor. Tal Espírito amigo vos amou como pai, vos amará como
filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação
em encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, vosso trabalho
estando feito, vivereis da vida do Espírito.
Mas essa verdadeira afeição não é comum sobre
a Terra, e a matéria vem retardá-la, anulando-lhe os efeitos, segundo ela
domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual,
tudo o que se relaciona com a matéria não é de sua natureza, nem concorre em
nada para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica no estado
latente até que o fluido espiritual se sobrepondo, o progresso simpático se
efetue de novo.
Para me resumir, a afeição espiritual é a única
resistência no domínio do Espírito; sobre a Terra e nas esferas de trabalho
corpóreo, ela concorre para o adiantamento moral do Espírito encarnado que, sob
a influência simpática, cumpre milagres de abnegação e de devotamento pelos
seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas
as aspirações, e a maior felicidade que o Espírito possa sentir.
Enviado por: "Joel
Silva"
Nenhum comentário:
Postar um comentário