terça-feira, 25 de dezembro de 2018

E para nós, quando Jesus nasceu? (Reflexão)

E para nós, quando Jesus nasceu?

Perguntemos a Maria de Magdala, onde e quando nasceu Jesus. E ela nos responderá:
– Jesus nasceu em Betânia. Foi certa vez, que a sua voz, tão cheia de pureza e santidade, despertou em mim a sensação de uma vida nova com a qual até então jamais sonhara.
Perguntemos a Francisco de Assis o que ele sabe sobre o nascimento de Jesus. Ele nos responderá:
– Ele nasceu no dia em que, na praça de Assis entreguei minha bolsa, minhas roupas e até meu nome para segui-lo incondicionalmente, pois sabia que somente ele é a fonte inesgotável de amor.
Perguntemos a Pedro quando deu o nascimento de Jesus, Ele nos responderá:
– Jesus nasceu no pátio do palácio de Caifás, na noite em que o galo cantou pela terceira vez, no momento em que eu o havia negado. Foi nesse instante que acordou minha consciência para a verdadeira vida.
Perguntemos a Paulo de Tarso, quando se deu o nascimento de Jesus. Ele nos responderá:
– Jesus nasceu na Estrada de Damasco quando, envolvido por intensa luz que me deixou cego, pude ver a figura nobre e serena que me perguntava: Saulo, Saulo porque me persegue? E na cegueira passei a enxergar um mundo novo quando eu lhe disse:
– Senhor, o que queres que eu faça?!

Perguntemos a Joana de Cusa onde e quando nasceu Jesus. E ela nos responderá:
– Jesus nasceu no dia em que, amarrada ao poste do circo em Roma, eu ouvi o povo gritar:
– Negue! Negue!
E o soldado com a tocha acesa dizendo:
– Este teu Cristo ensinou-lhe apenas a morrer?
Foi neste instante que, sentindo o fogo subir pelo meu corpo, pude com toda certeza e sinceridade dizer:
– Não me ensinou só isso, Jesus ensinou-me também a amá-lo.

Perguntemos a Tomé onde e quando nasceu Jesus. Ele nos responderá:
– Jesus nasceu naquele dia inesquecível em que ele me pediu para tocar as suas chagas e me foi dado testemunhar que a morte não tinha poder sobre o filho de Deus. Só então compreendi o sentido de suas palavras:
– Eu sou o caminho, a verdade e a vida.

Perguntemos à mulher da Samaria o que ela sabe sobre o nascimento de Jesus. E ela nos responderá:
– Jesus nasceu junto à fonte de Jacob na tarde em que me pediu de beber e me disse:
– Mulher eu posso te dar a água viva que sacia toda a sede, pois vem do amor de Deus e santifica as criaturas.
Naquela tarde soube que Jesus era realmente um profeta de Deus e lhe pedi: – Senhor, dá-me desta água.

Perguntemos a João Batista quando se deu o nascimento de Jesus. Ele nos responderá:
– Jesus nasceu no instante em que, chegando ao rio Jordão, pediu-me que o batizasse.
E ante a meiguice do seu olhar e a majestade da sua figura pude ouvir a mensagem do Alto:
– “Este é o meu Filho Amado, no qual pus a minha complacência!
– Compreendi que chegara o momento de ele crescer e eu diminuir, para a glória de Deus.

Perguntemos a Lázaro onde e quando nasceu Jesus? Ele nos responderá:
– Jesus nasceu em Betânia, na tarde em que visitou o meu túmulo e disse: – Lázaro! Levanta.
Neste momento compreendi finalmente quem Ele era… A Ressurreição e a Vida!

Perguntemos a Judas Iscariotes quando se deu o nascimento de Jesus. Ele nos responderá:
– Jesus nasceu no instante em que eu assistia ao seu julgamento e a sua condenação.
Compreendi que Jesus estava acima de todos os tesouros terrenos.

Perguntemos a Bezerra de Menezes o que ele sabe sobre o nascimento de Jesus e ele nos responderá:
– Jesus nasceu no dia em que desci as escadas da Federação Espírita Brasileira e um homem se aproximou dizendo:
– Vim devolver-lhe o abraço que me deste em nome de Maria, porque renovei minha fé e a confiança em Deus.
Foi naquele instante que percebi a Sua misericórdia e o Seu imenso amor pelas criaturas.

Perguntemos, finalmente, a Maria de Nazaré onde e quando nasceu Jesus. E ela nos responderá:
-Jesus nasceu em Belém, sob as estrelas, que eram focos de luzes guiando os pastores e suas ovelhas ao berço de palha. Foi quando o segurei em meus braços pela primeira vez e senti se cumprir a promessa de um novo tempo através daquele Menino que Deus enviara ao mundo, para ensinar aos homens a lei maior do amor.
Agora pensemos um pouquinho:
E para nós, quando Jesus nasceu?
(Dr. Bezerra de Menezes)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Como as emoções podem afetar a saúde do coração

Anahad O'Connor
Do New York Times


Um século atrás, o cientista Karl Pearson estava estudando lápides de cemitérios quando notou algo peculiar: maridos e esposas muitas vezes morriam em um período de um ano após a morte do outro.
Embora esses tipos de estudo não fossem muito apreciados à época, eles mostram agora que o estresse e o desespero podem influenciar significativamente na saúde, especialmente a do coração.
Um dos exemplos mais marcantes é uma condição conhecida como miocardiopatia Takotsubo, ou síndrome do coração partido, em que a morte de um cônjuge, preocupações financeiras ou algum outro evento emocional enfraquece severamente o coração, causando sintomas que simulam um ataque cardíaco.
Essa carga emocional transforma o coração em uma forma que se assemelha a um pote tradicional japonês chamado Takotsubo, que tem um pescoço estreito e um fundo largo.
A ligação entre a saúde emocional e a saúde do coração é objeto de um novo livro, "Heart: a History", escrito pelo dr. Sandeep Jauhar. Jauhar, que é cardiologista, traça a história da medicina cardiovascular e explora os seus notáveis avanços tecnológicos, desde a cirurgia aberta do coração ao coração artificial.
Mas, embora essas inovações cardíacas tenham sido transformadoras, Jauhar argumenta que o campo da cardiologia precisa dedicar mais atenção aos fatores emocionais que podem influenciar patologias no órgão, como relacionamentos infelizes, pobreza, desigualdade de renda e estresse relacionado ao trabalho.
"Acho que os avanços tecnológicos iterativos continuarão. Mas a grande fronteira vai estar na formação de recursos maiores para abordar a intersecção do coração emocional e do coração biológico", ele disse.
O interesse de Jauhar nesse tema decorre de seu histórico familiar: doenças cardíacas mataram muitos de seus parentes. Quando jovem, ele ouviu histórias sobre seu avô paterno, que morreu subitamente aos 57 anos, depois de um encontro assustador com uma cobra negra na Índia, que lhe causou um ataque cardíaco. Ele ficou fascinado com o coração, mas também aterrorizado por ele. "Desde o começo eu tive esse medo do coração como um carrasco de homens no auge da vida", ele disse.
Após a faculdade de medicina, ele fez especialização em cardiologia e tornou-se diretor do programa de insuficiência cardíaca no Long Island Jewish Medical Center, bem como um escritor de opinião, colaborando para o "New York Times". Com 45 anos, Jauhar teve seu próprio problema cardíaco. Apesar de fazer exercícios regularmente e levar um estilo de vida saudável, um procedimento eletivo, chamado angiotomografia, revelou que ele tinha bloqueios nas artérias coronárias. Enquanto analisava as imagens de seu coração, Jauhar chegou a uma conclusão surpreendente.
"Sentado apaticamente naquele quarto escuro", ele escreve, "me senti como se estivesse vislumbrando a maneira pela qual provavelmente vou morrer".
O coração é tanto uma máquina biológica simples quanto um órgão vital que muitas culturas têm reverenciado como o locus emocional da alma. É um símbolo do romance, da tristeza, da sinceridade, do medo e mesmo da coragem, que vem da palavra latina para o coração, "cor". Simplificando, o coração é um órgão que bombeia o sangue, fazendo-o circular.
Mas é também um mecanismo incrível. É o único órgão que consegue trabalhar de modo autônomo, batendo três bilhões de vezes no tempo de vida médio de uma pessoa, com a capacidade de esvaziar uma piscina em uma semana. É por isso que os cirurgiões não ousavam operá-lo até o final do século XIX, muito tempo depois que outros órgãos já eram operados, incluindo o cérebro.
"Você não pode suturar algo que está se movendo, e você não poderia cortá-lo porque o paciente sangraria até a morte", disse Jauhar.
Em seu novo livro, Jauhar conta as histórias dos intrépidos médicos que foram pioneiros na cirurgia cardiovascular no fim do século 19, abrindo pacientes para habilmente reparar feridas agudas com agulhas e categute (fibra de origem animal para sutura) antes de fechá-los rapidamente para evitar uma hemorragia intensa.
Procedimentos mais complicados, no entanto, necessitavam de máquinas mais sofisticadas. Os cirurgiões precisavam de um dispositivo que poderia assumir o trabalho do coração, de modo que pudessem temporariamente parar o órgão, cortá-lo e reparar defeitos congênitos ou outros problemas crônicos.
Isso levou o dr. C. Walton Lillehei a desenvolver a circulação cruzada, um procedimento em que um paciente cardíaco é ligado a uma segunda pessoa cujo coração e pulmões poderiam bombear e oxigenar o seu sangue durante procedimentos longos. Lillehei praticou a circulação cruzada em cães antes de aplicá-la em seres humanos em 1954.
Como outros cirurgiões do coração que avançaram nesse campo com procedimentos arriscados, Lillehei enfrentou muitas críticas enquanto tentou navegar em mares desconhecidos.
"Seus críticos estavam horrorizados. Eles diziam que essa era a primeira operação na história da humanidade que poderia matar não apenas uma, mas duas pessoas", disse Jauhar.
Alguns dos pacientes de Lillehei sobreviveram. Outros morreram em decorrência de infecções e outras complicações. Mas o trabalho que ele fez permitiu que outros desenvolvessem a máquina de desvio cardiopulmonar, que hoje é utilizada em mais de 1 milhão de operações cardíacas anualmente em todo o mundo. Desde então, os cientistas desenvolveram procedimentos que contornam ou apoiam artérias coronárias doentes abertas, bem como dispositivos cardíacos implantáveis e medicamentos cardíacos que poupam milhões de vidas por ano.
Em todo o país, a doença cardíaca ainda é a principal assassina de adultos. Mas a medicina cardiovascular cresceu por saltos e barreiras: a mortalidade depois de um ataque cardíaco diminuiu dez vezes desde o final da década de 1950. No entanto, o papel que a saúde emocional desempenha no desenvolvimento de doenças cardíacas ainda é demasiadamente subestimado, diz Jauhar.
Ele atribui isso ao estudo que foi um marco, o Framingham Heart Study, que começou em 1948 e acompanhou milhares de americanos, identificando importantes fatores de risco cardiovascular como colesterol, pressão arterial e tabagismo. Os pesquisadores do Estudo de Framingham consideraram inicialmente verificar determinantes psicossociais da doença cardíaca também, mas acabaram decidindo focar o que era mais fácil de mensurar.
"O que resultou dessa pesquisa foram os fatores de risco que agora conhecemos e tratamos, eliminando-se coisas como disfunção emocional e saúde conjugal", disse Jauhar.
Segundo ele, isso foi um erro. Nas décadas seguintes, outros estudos demonstraram que as pessoas que se sentem socialmente isoladas ou cronicamente estressadas pelo trabalho ou por relacionamentos têm maior propensão a ataques cardíacos e derrames. Estudos sobre imigrantes japoneses nos Estados Unidos descobriram que seu risco de sofrer de doenças cardíacas se multiplica. Mas aqueles que mantêm a cultura tradicional japonesa e fortes laços sociais estão protegidos: as taxas de doenças cardíacas destes não sobem.
Jauhar argumenta que as autoridades de saúde devem listar o estresse emocional como um fator-chave de risco para doenças cardíacas. Mas é muito mais fácil se concentrar no colesterol do que na perturbação emocional e social.
De acordo com alguns estudos, os médicos dão aos seus pacientes 11 segundos, em média, para explicar as razões que os levaram a uma visita clínica antes de interrompê-los. Desde que escreveu o livro, Jauhar tem uma nova conduta em relação a deixar que os pacientes falem sobre as coisas que os estão incomodando, a fim de compreender melhor como é a vida emocional deles. Ele também tem tentado incluir novos hábitos para ajudar na redução de estresse, como yoga e meditação.
Agora ele se exercita diariamente, passa mais tempo com os filhos e tem maior capacidade de se relacionar com seus pacientes desde que descobriu sobre sua própria doença cardíaca.
"Eu estava tão absorvido pela correria da vida que provavelmente estava ficando estressado demais. Agora penso em como viver de maneira um pouco mais saudável, para ficar mais relaxado. Também estou mais conectado mais com meus pacientes e seus medos em relação ao seu próprio coração", finalizou.
Notícia publicada no BOL Notícias, em 14 de novembro de 2018.

Jorge Hessen* comenta

Não nos fixando nas questões emocionais lesivas ao coração, ampliamos o horizonte da temática, considerando o impacto do comportamento como um todo na manutenção da saúde ou não. Não se pode perder de mira que os órgãos do corpo físico respondem a todos os estímulos (internos ou externos), determinando um encadeamento de reações. Além dos estímulos físicos que impactam, através dos sentidos, as emoções ou sentimentos que também provocam reações. Estas excitam ou bloqueiam os mecanismos de funcionamento. Em verdade, o processo de preservação e deterioração de qualquer órgão tem uma relação direta com as emoções e os sentimentos.
A cólera, a raiva, o temor, a ansiedade, a depressão, o desgosto, a aflição, assim como todas as emoções derivadas delas, sobrecarregam a economia saudável do corpo. Há outros fatores emocionais que podem influenciar patologias físicas, como relacionamentos afetivos infelizes, penúria econômica, desigualdade de renda e estresse relacionado ao trabalho profissional. Quando estamos tristes e depressivos por uma desilusão amorosa, ou quando estamos ansiosos e irritados por causa de dívidas, também desenvolvemos enfermidades.
Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma célebre frase latina, proveniente da Sátira X, do poeta romano Juvenal. Nós somos o que sentimos. René Descartes já dizia que somos aquilo que pensamos. Quando as nossas emoções são reprimidas, elas acabam se constituindo na fonte de um conflito emocional crônico, segundo Sigmund Freud, que gerará distúrbios físicos ou psicológicos, se não forem aliviadas, mediante os canais fisiológicos competentes.
O estresse é como um conjunto de reações fisiológicas produzidas pelo nosso organismo para reagir e se adaptar às situações apresentadas no dia a dia. O problema é que tais reações, psíquicas e orgânicas, podem provocar um desequilíbrio no nosso organismo caso ocorram de forma exagerada ou intensa, dependendo também do tempo de duração. Quanto mais durar o estresse, obviamente a ruína será maior.
Adquirimos doenças porque não conseguimos conviver em harmonia com o meio e com as pessoas ao nosso redor. Enfermamos porque mantemos antipatias, inimizades, desgostos, culpas, arrependimentos, ressentimentos, temores e frustrações que não queremos superar. Por desconhecermos as nossas próprias emoções, muitas vezes desejamos ocultá-las dos outros, e de nós mesmos, mormente os pensamentos e os sentimentos egoísticos.
Cada doença, cada dor, cada sofrimento, cada frustração, cada sintoma traz uma mensagem única e exclusiva para nós e apenas para nós. Quando estivermos prontos para abrigá-las e compreendermos o que elas querem nos dizer, estaremos aptos a andar firmes pelo caminho do nosso aperfeiçoamento espiritual que decisivamente passa pelas vias da nossa saúde moral.
Naturalmente, as nossas doenças são advertências da vida para que venhamos a ter mais consciência de nós mesmos e dos nossos compromissos na família, na natureza e na sociedade, governando-nos pela vida caridosa, solidária e amorosa.
Precisamos ter consciência de que doença e saúde são consequências das nossas livres escolhas através das emoções ou sentimentos e tal responsabilidade não pode ser terceirizada. Além do que a doença não pode ser instrumento de punição. Na verdade, deve ser um expediente de aprendizado, na sábia pedagogia divina, convidando-nos ao exercício do amor.
* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros "eletrônicos" publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

Conversando com Léon Denis - Vossa consciência


Espiritirinha - Amigo secreto


domingo, 16 de dezembro de 2018

Mural reflexivo: Amor, alimento da alma


Amor, alimento da alma


     A energia do amor é a mais simples e natural das energias, mas guarda em si mistérios ainda insondáveis.
     Percebemos isso quando vemos aquela mãe abraçada à filha portadora de limitações físicas, andando pela rua.
     Ao cruzar com uma conhecida ouve: Como é difícil essa vida, não é amiga?
     E serena ela responde: Nada é difícil quando existe amor!
     E aquele pai que fez uma cinta especial, para que pudesse ficar lateralmente ligado ao filho que, portador de descontroles mentais, se debatia e gritava constantemente, perdendo o equilíbrio e caindo com frequência.
     Quando o olhar do filho se cruzava com o olhar do pai, ele silenciava e ensaiava um sorriso.
     Nesses momentos, o pai, com os braços livres, o abraçava com carinho, enquanto dizia: Eu te amo, filho!
     Um hiato de silêncio e paz então se fazia naquela alma.
     Percebemos isso, igualmente, ao assistirmos a tão repetida cena, na mídia, do menino que fugia dos bombardeios no Vietnã, carregando um irmãozinho nas costas.
     Quando o repórter lhe perguntou se não era muito peso para ele carregar fugindo, respondeu: Não é peso não, moço, é meu irmão!
     Que sentimento, que energia, que força é essa que faz com que desgraças maiores, se tornem verdadeiras bênçãos em determinados corações?
     Compreendamos que o amor é realmente, a lei de equilíbrio do Universo. Sem ele não há vida, não há harmonia.
     Deus é a Inteligência suprema, é luz primorosa. É a causa primária de todas as coisas e também é amor sem medidas.
     Desde que a Humanidade se propôs a estudar esse sentimento e o seu poder transformador, o homem aprendeu a ver nele a própria essência da vida.
     Observamos que o amor é tema central nas principais religiões e filosofias.
     A psicologia, recentemente, buscando o equilíbrio íntimo do ser, identificou a necessidade das criaturas aprenderem a amar os semelhantes.
     E a medicina já reconhece que a qualidade das emoções interfere na manifestação de vários tipos de doença.
     Da mesma forma, pesquisas científicas comprovam que o amor produz efeitos terapêuticos perceptíveis.
     No conceito popular o amor nos permite três elementos essenciais que são: a coragem para enfrentar o perigo; o ânimo para vencer dificuldades; a paciência para suportar os sofrimentos inevitáveis que a vida nos oferece.
     Percebemos assim, que o verdadeiro amor implica num processo espontâneo, no qual priorizamos proporcionar felicidade aos nossos afetos.
     Sublimado, esse sentimento pode ser canalizado a uma causa nobre, a um ideal social, ao bem da Humanidade.
     O amor resume por completo a Doutrina de Jesus, retratando o sentimento por excelência.
     Amor a Deus, ao próximo, a si mesmo.
     É notório que a fome de alimento devasta regiões do mundo.
     Mas a fome maior da Humanidade é a fome de amor, de fraternidade, de esperança, de verdade!
     Só o amor Divino pode alimentar o Universo, onde tudo se equilibra, pois é o pão sagrado das almas.
     Trabalhemos para que o amor se propague no mundo com mais força, para que a violência ceda seu espaço para as construções no bem.
     Aprendamos a amar e compartilhemos generosamente o amor, essa bendita essência Divina.

     Redação do Momento Espírita



quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Desculpas que usamos. Qual sua opinião?Vamos desenvolver o tema na visão espírita?

   Geralmente sabemos bem o que queremos, mas muitas vezes o receio, o medo e o achar que nosso querer é inatingível, acabemos utilizando a questão de dúvida, de não saber o que queremos, para fugir ao fracasso, à crítica, à necessidade de persistir na execução e na tarefa de alcançar o nosso sonho.

   Vamos desenvolver a questão na visão Espírita?!

   Aguardamos você!

   Beijos e Abraços

Entre A Terra E O Céu - Programa 023


"Tentei de tudo, mas não consegui evitar o suicídio da minha filha"

Talyta Vespa
Da Universa


Ana Luísa era doce, segundo seus familiares. Estava prestes a se formar na faculdade de moda e sonhava em abrir o próprio negócio. Como muitas garotas de 24 anos, tinha planos de se casar – e já tinha um namorado. Ana Luísa queria viver, mas não conseguia. Ela sentia dor, o coração pulava do peito e os desmaios eram frequentes. Nas últimas semanas de vida, já não dormia. Evitava os remédios que ajudavam no sono porque, segundo ela, os pesadelos e as lembranças vinham à tona sempre que fechava os olhos.
A mãe, a produtora de eventos Ana Rosa Augusto, de 52 anos, afirma que tentava de tudo. Dormia com a filha, dava carinho, procurou especialistas e fazia questão de não deixá-la sozinha. "Quando eu ia trabalhar, ela ia comigo. Se era dia de evento, a deixava com a avó. No último dia de vida de minha filha, pedi que ajudasse a avó a cuidar do meu sobrinho, de quem Ana Luísa era muito próxima. Ela foi. E não voltou mais".
"Pouco antes de entregar o trabalho de conclusão de curso, Ana Luísa passou a desmaiar, ter crises fortíssimas de ansiedade e palpitação. Como ela era magrinha, nós víamos o coração dela saltar do peito. Tanto eu como o pai achamos que era ansiedade por causa dos trabalhos finais na faculdade, mas, como os sintomas eram físicos, decidimos levá-la a neurologistas e cardiologistas. Fez todos os exames, que não apontaram qualquer tipo de anormalidade. Voltamos a acreditar na ideia da ansiedade e procuramos um psiquiatra, que fez o mesmo diagnóstico.
A gente sabe que para uma terapia funcionar, é preciso sintonia entre o paciente e o terapeuta. Não foi o que aconteceu com a minha filha. Ele receitou alguns ansiolíticos e remédios para dormir, mas as medicações não deram conta da dor que ela sentia. Ela apresentou o TCC, se formou na faculdade, mas os sintomas continuaram. Ela apresentou o TCC, se formou na faculdade, mas os sintomas continuaram. Então, procuramos psicólogos. Entendemos que havia algo acontecendo e que ela não queria nos contar, e, talvez, com a terapia, nossa filha conseguisse se abrir. Depois de um ano de buscas, Ana Luísa se identificou com um terapeuta. Seis meses antes do suicídio, ela contou o que tinha acontecido.
Minha filha foi abusada sexualmente aos dez anos de idade, na escola particular onde estudava, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Ela revelou isso à psicóloga e pediu para que a especialista contasse a mim e ao pai dela. Foi quando descobri que a minha menina foi estuprada por seis meses por um garoto seis anos mais velho, no banheiro, nas aulas de Educação Física. Por alguns meses, ela relutava e chorava, pedia para não participar das aulas esportivas. Eu não entendia. Mesmo sem saber o que estava acontecendo, consegui um atestado médico que a liberou. As férias chegaram e, no ano seguinte, o menino não estava mais na escola. Ana Luísa voltou à Educação Física sem pestanejar.
A partir de então, só ia à escola com uniforme masculino, roupas largas, que não mostravam o corpo. Um dia, ela me disse que um coleguinha do colégio comentou que meninos não gostam de meninas que usam roupas largas. Por isso, ela passou a usar. Não queria ser notada. Com o tempo, vieram roupas pretas, os cabelos descoloridos, uma tentativa de apagar a imagem daquela garotinha de dez anos. Ana Luísa passou a vida fugindo de si mesma. O gatilho para que a lembrança viesse à tona foi o namoro. Ela conheceu um rapaz, que cuidava e se preocupava muito com ela, e passou a lembrar dos momentos sombrios.
Em filmes, quando havia cenas de abuso, ela chorava e gritava. Se automutilava, cortava braços e pernas. Fazia cortes tão profundos que precisava levar pontos, na maioria das vezes. Fazia isso para aliviar a dor que sentia. Nas duas últimas semanas de vida, minha filha leu notícias sobre um estuprador que havia atacado mulheres em São Paulo e não conseguiu mais dormir. Coloquei ela na minha cama, deitávamos abraçadas, mas não adiantava. Quando dei por mim, ela não estava mais tomando os remédios para dormir. E me disse que, quando pegava no sono, era atormentada por pesadelos. Por isso, preferia esperar a dor passar acordada. Mas não passava.
Ana Luísa tentou se suicidar duas vezes, ingerindo doses maiores das medicações. Eu e o pai dela começamos a esconder todos. A cada dia, precisávamos escolher um esconderijo diferente.
Eu não a deixava sozinha em hipótese alguma. Quando tinha crise, a levava comigo para o trabalho. Conversávamos sobre tudo, inclusive sobre a sua vontade de morrer. Eu tentava de tudo. No dia em que tirou a própria vida, há três anos, eu disse que ela precisava ajudar minha mãe a cuidar do meu sobrinho, que tinha três anos à época. Ele e minha filha eram muito apegados. Levei ela até a casa da avó, esperei que entrasse no condomínio e segui para o evento que estava organizando. Uma hora depois, meu marido me ligou e disse que ela não havia chegado. Eu rebati dizendo que era impossível, eu a havia deixado lá dentro.
Ela não estava. Para a psicóloga, deixou uma mensagem de agradecimento, similar a que deixou para mim, para o pai e para o namorado. Ela dizia que não aguentava mais e ressaltava que a culpa não era nossa, mas que não conseguia viver com as lembranças. Se despedia e dizia que nos amava muito. Quando soube do sumiço dela, já imaginei o que tinha acontecido. Ao analisar as câmeras de segurança do prédio, vi que ela entrou, sentou no sofá do hall de entrada e ficou parada por um tempo. Pegou o celular, mandou as mensagens, e saiu. Foi a última vez que vi minha filha.
Sempre que Ana Luísa e eu falávamos sobre suicídio, ela explicava que não devemos divulgar a forma como as pessoas tiraram a própria vida. "Pode estimular outras pessoas a fazerem o mesmo", ela dizia. Eu nunca contei o que houve, apesar de a notícia ter se espalhado. Hoje, faço parte de grupos que visam a prevenção do suicídio e tento ajudar garotas que, como a minha filha, têm uma dor para ser cuidada. Pelo Facebook, muita gente me procura para pedir ajuda – tanto pais como jovens. Transformei o luto em luta e só estou viva porque posso mudar outras vidas.
Desesperada, liguei para um amigo policial, descrevi a roupa que minha filha estava usando naquele dia. Eu imaginava onde ela estava e como ela tinha feito, não me pergunte por quê. Ele pediu para um colega averiguar, e esse agente a encontrou. Apesar de todas as certezas, corri para a minha casa. Pensei: "E se ela estiver em casa, no quarto dela, encolhidinha na cama?". Não estava.
Não sinto culpa, eu fiz tudo o que pude. Conversei com ela e cuidei em todos os momentos. Ela nunca nos culpou. Eu sempre estive ao lado dela, éramos muito cúmplices. Onde eu ia, ela ia comigo. Se ela tinha trabalhos, eu a acompanhava. Ela sempre dizia: "Mamãe, quero ir com você". Me chamava de "mamãe". Hoje, quando converso com meninas que foram vítimas de abuso, descubro que o agressor sabe escolher a vítima certa, aquela que não vai abrir a boca. O abusador da minha filha dizia que, se ela dissesse algo, mataria a mim e ao pai dela. Ela aguentou tudo isso sozinha.
Aos pais, só peço uma coisa. Acreditem nos seus filhos e passem a sensação de que eles podem confiar em vocês. Quando nós descobrimos o que tinha acontecido com a Ana Luísa, a depressão já estava no grau máximo. Se ela tivesse compartilhado isso com a gente antes, talvez tivéssemos conseguido salvar a vida dela.
Hoje, sinto saudade. É um sentimento que cresce a cada dia que passa. A dor de perder um filho não passa nunca."
*Se você está passando por algo semelhante ou conhece alguém que precise de ajuda, disque 188 - Centro de Valorização da Vida
Notícia publicada no BOL Notícias, em 12 de setembro de 2018.

Valerie Nascimento** comenta

“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” – Jesus. (Lucas, 23:34.)
“Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou ele um bálsamo que consola.” - O Espírito de Verdade, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Capítulo VI, item 8.
É possível que você que nos lê agora já tenha tido notícia de alguém de suas relações que haja cometido suicídio. Se não for assim, a cada novo dia é possível ter conhecimento do assunto na TV, rádio, internet, nos deixando a triste impressão de tamanha violência do ato em si e do rastro de dor e perplexidade que causa nos que ficaram.
Deixando de lado os tabus e o doloroso do tema, nunca se pesquisou tanto e se falou tão abertamente sobre. Também jamais existiram tantos programas de prevenção e tratamentos psicoterápicos na esperança de proteger um potencial suicida de si mesmo. Porém, as estatísticas apontam que nunca se cometeram tantos suicídios no mundo como nos últimos 50 anos.
Como preencher esta lacuna, então?
Com algumas variações, as religiões, em geral, tem em comum a ideia da santidade da vida e da morte voluntária como grave ofensa a Deus, o que faz com que sejam um fator de proteção contra o suicídio. Estudiosos apontam que a convivência social promovida pelas atividades religiosas contribui para diminuir a probabilidade dos atos autodestrutivos. Ou seja, o envolvimento no bem diminui o individualismo, dá à vida maior sentido, fornece uma ideologia, distraindo a pessoa de problemas pessoais que poderiam liberar tendências suicidas.
O Espiritismo, em todos os seus aspectos, também nos oferece um conjunto de ideais pelos quais viver. Mas vai além, vai à fé racional que nos possibilita entender que a morte não existe no sentido de destruição, mas sim de renovação. A vida não sofre solução de continuidade; termina uma etapa, se inicia outra, onde o objetivo final é construção íntima da paz e da felicidade plena.
Pode ocorrer de maneira impulsiva devido a uma situação pontual, mas raramente o suicídio está desvinculado dos transtornos mentais, diagnosticados ou não. Estudos em diferentes regiões do mundo têm demonstrado que, na quase totalidade dos suicídios, os indivíduos estavam padecendo de um transtorno mental.(1)
Depressão não é apenas um estado de desânimo e tristeza. É uma doença grave, causadora de alterações profundas no psiquismo e na química cerebral. Quem é deprimido, se não tratado clínica, psíquica e espiritualmente, lida com um sofrimento significativo, constante, crônico e exaustivo. Por não ver saída para o padecer sem fim, vive em permanente ambivalência: quer acabar com a agonia, mas instintivamente também quer viver.
Via de regra, não é de uma hora para outra que um comportamento autodestrutivo se completa. Se inicia como uma contemplação da ideia, como uma possibilidade. Em seguida passa a ser ensaiado na imaginação ou em tentativas realísticas, até que culmina na ação destrutiva.
A sequência que leva ao autoextermínio nos remete aos mecanismos de obsessão espiritual.
“Influem os espíritos em nossos pensamento e em nossos atos?”
Resposta: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.(2)
A qualidade dessas influências tem relação com o nível dos pensamentos que mantemos; quanto mais elevados, melhores são as sintonias espirituais e as energias que nos cercam. Pensamentos negativos seguem a mesma lógica, atraem influências igualmente negativas, que podem se tornar persistentes e constantes, agravando uma condição de desequilíbrio.
Motivado pela vingança, por exemplo, pode um espírito obsessor sugestionar a ideação suicida no obsediado, minando sua resistência com persistência e métodos tenebrosos. No relato da mãe da Ana Luísa, percebem-se algumas características marcantes da influência espiritual negativa, geradora das graves desarmonias mentais/psíquicas que ela sofria: transtorno de ansiedade, automutilações, alterações no padrão do sono, pesadelos, ideia de morte…
Pode ser que os sinais não sejam claros, mas a maioria das pessoas propensas ao suicídio comunica seus pensamentos e intenções. É uma forma de pedir ajuda. A isso se somam depressão, desesperança, desamparo e desespero – os 4Ds que inundam os sentimentos de quem pensa em se matar.
Mas lembramos que, segundo a Doutrina dos Espíritos, não há arrastamento irresistível para o mal, quando se tem a vontade de resistir. Temos a liberdade de pensar, portanto, a de agir. O que não impede que também o obsessor seja responsabilizado pela transgressão às leis divinas.
“Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio?”
“- Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem. Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.”(3)
Para a doutrina materialista não há sentido no sofrer, já que a morte é o fim de tudo, inclusive da dor. O ser humano se resume a seu corpo físico e a vida carece de sentido se não houver mais prazer no existir. Ao nosso ver, essa é a consequência mais trágica do materialismo.
Já a Ciência ainda não dá importância aos fatores espirituais na gênese dos distúrbios mentais. A Ciência espírita, contudo, reafirma os aspectos biológicos e socioambientais dos transtornos, mas amplia esse entendimento com a dimensão espiritual da questão, ou seja, explicando as obsessões espirituais, causas, consequências e meios de evitá-las.
Sabemos, através da literatura espírita, do sofrimento daquele espírito que desertou da experiência no corpo físico pelas vias do suicídio, voluntário ou não. Possivelmente a maioria de nós já passou por essa dolorosa experiência em alguma das nossas múltiplas existências. O desapontamento é marcante, porque os problemas dos quais o suicida tentava fugir permanecem, e são ainda mais agravados pelo atentado ao seu bem mais precioso: a vida.
Mas até esse sofrimento um dia chegará ao fim, porque todos os seres têm destinação divina à felicidade, só atingida pela ausência total de imperfeições e do esforço constante que o Espírito realiza para evoluir moralmente. A lei de Deus é educativa, jamais punitiva.
Sendo assim, ciente das suas necessidades evolutivas, dos débitos a resgatar e das provas pelas quais necessita passar, antes de reencarnar o Espírito recebe dos benfeitores espirituais um “cardápio” com as opções de vida que poderão lhe ensinar as lições que precisa aprender. São traçadas as linhas gerais da sua próxima experiência material, mas não existe o determinismo absoluto, nos ensina a Doutrina Espírita. Portanto, não há negação do livre-arbítrio nas nossas ações, tampouco um fatalismo norteando nossa vida.
“A incorporação de um padrão moral parece ser a força motriz por trás da reencarnação, uma vez que o espírito luta para se tornar um ser verdadeiramente amoroso e compassivo. Exercitando sua livre escolha, percorre longos caminhos em direção ao seu objetivo numa existência, tropeça e cai de cara no chão numa outra, machucando a si mesmo e aos outros. A beleza desse processo é que ele é autocorretivo. Cada encarnação nos oferece a oportunidade de melhorar nossos erros, por mais cruéis que tenham sido, em vez de sermos eternamente condenados por eles.”(4)
Ana Luísa reencarnou cercada de carinho e cuidados, filha única de pais atentos e amorosos, com segurança material e um corpo físico são. E como todos nós, estava e segue sob a tutela de abnegados irmãos que amparam sua existência e a guiam para Deus. Assim se formou uma base para a construção da sua fortaleza moral e o bom enfrentamento das lutas que a vida iria lhe apresentar.
No entanto, quem já tirou a própria vida em uma existência, trás na próxima as marcas profundas do ato cometido, tanto no corpo perispiritual quanto no campo psíquico. O mergulho na reencarnação, o esquecimento do passado e todo esse planejamento de que falamos, tem o objetivo de ajudá-lo a reordenar estas disfunções e se reabilitar. Porém, não é raro que diante das vicissitudes da vida surjam novamente ideias de revolta, de fuga, de dar um fim ao sofrimento, de culpa e autopunição. O comportamento suicida envolve motivações alegadas (as conscientes) e não alegadas. Essas últimas são as que estão nos arquivos da alma.
Importante lembrarmos que nessa existência o sofrimento da Ana Luísa foi desencadeado pelo ato de extrema violência praticado pelo companheiro de colégio, quando ela ainda era uma criança. Embora seja impossível para os limites da nossa compreensão ter ideia de todas as variáreis que compõem as provações e expiações num processo de reencarne, é impossível concebermos que Deus permita a injustiça sob qualquer justificativa. Sua Leis, misericordiosas, justas e soberanas, abarcam a tudo e todos que existem no Universo infinito. Sob essa premissa, por muito comprometido que esteja com as Leis da vida, nenhum Espírito precisa que outro seja instrumento da sua própria libertação. Para tanto, a Divindade possui mecanismos especiais que dispensam o concurso de Espíritos infelizes e comprometidos com o mal. Mas se por opção, por mal uso do livre-arbítrio o mal é praticado, Deus o permite para que também aí se executem propostas de progresso.
“É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, porque, imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal, e porque, árvores más só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens e não que haja, para estes, a obrigação de praticá-lo.”(5)
O respeito e a oração sincera são a maior caridade que se pode fazer ao espírito suicida.
O impacto da dor dos familiares de alguém que tira a própria vida é imenso. Os sentimentos de culpa e impotência que normalmente os pais sentem são difíceis de serem superados sem ajuda.
Porém, recordando a fala de Santo Agostinho, “(…) quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranqüila. Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então começada (…)”(6)
Chegará o momento em que os que ficaram compreenderão que, ao fim, foi uma escolha. Que ninguém tem o direito de dispor da sua vida, porque ela lhe foi concedida para cumprir seus deveres na Terra. Não existe pretexto que justifique. Contudo, “(…) visto possuir o livre-arbítrio, ninguém pode impedi-lo de fazê-lo”.(7)
Em prece encerramos nossa colaboração, rogando ao Pai que ampare a todos os irmãos que cometeram tal desatino e que aqueles que passaram pela dor da separação do afeto desertor da vida recebam forças do Mais Alto para convertê-las em ações verdadeiramente positivas para si, para outros e para o ente querido que partiu precipitadamente. Porque o amor é o único remédio para o desamor do suicida por si mesmo.
Muita paz!

Referências:

(1) Prevenção do Suicídio - Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Ministério da Saúde - Brasil;
(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 459;
(3) O Céu e o Inferno, Allan Kardec, Segunda Parte - Exemplos - Capitulo V;
(4) Yvonne e o Suicídio - Revista FidelidadEspírita, maio/2011, ed. 04, ano IX;
(5) O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo VIII, itens 12 a 16;
(6) Op. cit. Capítulo XIV, item 9 – Instruções dos Espíritos;
(7) O Céu e o Inferno, Allan Kardec, Segunda Parte - Exemplos - Capitulo V.
** Valerie Nascimento é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

Memórias De Um Suicida - Programa 048

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Conversando com Léon Denis - O tempo e o trabalho


As reflexões de um especialista em sexo: ‘Somos monogâmicos porque somos pobres’

Irene Hernández Velasco
Especial para BBC News Mundo


As visões sobre sexo do espanhol Manuel Lucas Matheu, de 69 anos, contrariam - e muito - o senso comum. Presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia e membro da Academia Internacional de Sexologia Médica, ele argumenta que os seres humanos não são predispostos à monogamia. Se a praticamos, é por um único motivo: somos pobres.
O sexólogo apresenta outras visões marcantes. Diz, por exemplo, que o verdadeiro órgão sexual dos seres humanos é a pele.
A BBC News Mundo, o serviço espanhol da BBC, entrevistou Matheu, considerado um dos maiores especialistas em sexualidade.
Leia abaixo e entrevista completa.
BBC News Mundo - Woody Allen dizia: "Há duas coisas muito importantes na vida, uma é sexo e da outra não me lembro". Sexo é, de fato, tão fundamental?
Manuel Matheu - Sexo é importantíssimo, muito mais importante do que pensa a maioria das pessoas, as instituições e a sociedade em geral. O sexo determina em grande medida a nossa qualidade de vida e é a origem de vários comportamentos.
BBC News Mundo - O senhor, por exemplo, defende que as sociedades mais pacíficas, com menos conflitos, são aquelas que vivem a sexualidade de maneira mais livre, desinibida...
Matheu - Não sou eu quem diz, é um estudo que fiz, em que analisei 66 culturas diferentes, algumas com pesquisa de campo.
Estive, por exemplo, nas Ilhas Carolinas, na Micronésia. E a conclusão desse estudo é que as sociedades mais pacíficas são aquelas onde a moralidade sexual é mais flexível e onde o feminino tem um papel preponderante.
Em contrate, as sociedades reprimidas e nas quais as mulheres têm papel secundário, como as sociedades ocidentalizadas em que vivemos, são mais agressivas.
BBC News Mundo - Para entender do que estamos falando, o senhor poderia nos dar um exemplo de sociedade sem repressão sexual e onde o feminino é muito valorizado?
Matheu - Os chuukies, uma sociedade que estive estudando por quatro meses nas Ilhas Carolinas, na Micronésia. Trata-se de uma sociedade em que todos os bens são herdados através da linha materna. Ou seja, a mãe é quem determina o poder econômico.
Ao contrário do que ocorre na sociedade ocidental, em que se dá uma enorme importância ao tamanho do pênis, ali o que importa é o tamanho dos lábios menores da genitália das mulheres. Enquanto no Ocidente a menstruação era considerada algo impuro, lá ela é considera vantajosa e é empregada até para fins medicinais.
Além disso, a mulher é a voz mais forte nas relações sexuais. É ela a responsável pelos encontros sexuais. Os homens se aproximam engatinhando nas cabanas das mulheres, solteiras e casadas, e introduzem nas cabanas pedaços de pau talhados que permite à mulher identificar quem é cada um deles.
Se a mulher quiser ter relações sexuais naquela noite, ela retém na cabana o talo correspondente ao homem que lhe interessou. Isso significa que ele está autorizado a entrar na cabana. É assim todas as noites.
Ali não existe ciúme, nem o conceito tradicional de fidelidade. A moralidade sexual é muito mais flexível que aqui. Ao mesmo tempo, essa é uma sociedade muito pacífica, enquanto a sociedade ocidental é muito agressiva.
BBC News Mundo - Então a monogamia não é algo intrínseco ao ser humano, algo que faz parte da sua natureza?
Matheu - Não, não é. A monogamia não é uma característica do ser humano de forma alguma.
Basta olhar o atlas etnográfico de Murdock, que analisou mais de 800 sociedades e mostrou que 80% delas não são monogâmicas. Elas são poligínicas (um homem com várias parceiras) ou poliândricas (uma mulher com vários parceiros).
BBC News Mundo - E por que o Ocidente adotou a monogamia?
Matheu - As espécies animais que são monogâmicas são aquelas que não têm tempo nem recursos suficientes para poder se dedicar a cortejar.
É o caso das cegonhas, que são monogâmicas porque têm que empregar muita energia todos anos às longas migrações que realizam. E os animais que vivem em locais onde é mais difícil encontrar alimento tendem a ser mais monogâmicos.
BBC News Mundo - Quer dizer que a monogamia está relacionada à economia?
Matheu - Exatamente. Nós somos monogâmicos porque somos pobres. É só observar nossa sociedade para compreender: os ricos não são monogâmicos, na melhor das hipóteses são monogâmicos sequenciais - ao longo da vida têm vários parceiros consecutivamente, um atrás do outro.
Os que não são ricos não podem ser monogâmicos sequenciais, porque se divorciar ou separar causa um enorme dano econômico. E a poligamia (ter vários parceiros sexuais ao mesmo tempo) também é muito cara.
BBC News Mundo - Se as sociedades com maior liberdade sexual são mais pacíficas, a nível individual as pessoas agressivas podem agir assim por terem problemas com sexo? É razoável pensar que muitos ditadores são pessoas reprimidas sexualmente?
Matheu - Bem, Hitler, Franco e outros ditadores tinham problemas de autoestima e problemas sexuais importantes.
Acredito que as pessoas que se dedicam a acumular riqueza ou poder de maneira compulsiva sofrem o que chamo de "erótica do poder", compensam a sua falta de satisfação sexual com isso (poder).
BBC News Mundo - Qual a sua opinião sobre o presidente americano Donald Trump, que é protagonista de vários escândalos de natureza sexual?
Matheu - Para mim, Donald Trump parece acima de tudo um desequilibrado mental, mas também aparenta ter problemas sexuais.
Todos os escândalos sexuais que protagonizou, a meu ver, denotam que sua autoestima é baixa. As pessoas de autoestima alta são, em general, pacíficas e tranquilas, não se vendem como galos de briga. É difícil provocá-las. Elas não têm muita variação de humor e sua forma de amar é pouco possessiva.
As pessoas com problema de autoestima podem reagir de maneiras diferentes: fechando-se em si mesas, numa timidez incapacitante, ou fazendo uso de um comportamento grosseiro e desafiante, como é o caso de Trump e de outros políticos.
BBC News Mundo - O orgasmo é superestimado e mitificado?
Matheu - Com certeza. O psicanalista Wilhem Reich dizia que reprimimos a libido não apenas de maneira quantitativa, mas também qualitativa. A sociedade burguesa capitalista, ele dizia, concentrou a sexualidade nos órgãos genitais para que o resto do corpo pudesse focar em produzir para o sistema.
Não sei se é isso mesmo, mas é sim verdade que há muito tempo começamos a concentrar nossa sexualidade nos genitais e nos esquecemos, com o tempo, da pele. Os seres humanos têm a pele mais sensível de todos os mamíferos, mas a aproveitamos muito pouco na nossa cultura.
Hoje em dia, nos acariciamos muito pouco. As famílias se dedicam a acariciar cachorro e gato, mas não se acariciam.
BBC News Mundo - A pele seria o ponto G?
Matheu - Isso, a pele é o verdadeiro ponto G, o grande ponto sexual do ser humano. E, além de tudo, a pele funciona do nascimento à morte. Mesmo que tenhamos uma doença terminal, a pele segue funcionando.
Quando alguém nos abraça de verdade, soltamos uma enorme quantidade de endorfina. É nisso que se baseia grande parte da nossa sexualidade.
O problema é que convertemos a sexualidade numa atividade de ginástica, na qual o homem primeiro tem que ter uma ereção, depois tem que mantê-la a todo custo para não ejacular antes do tempo. Isso acontece porque consideramos que o homem, com seu pênis, é um mago com uma varinha mágica que consegue dar prazer à mulher. E, por fim, a mulher tem que ter um orgasmo.
No entanto, 60% das mulheres da nossa cultura ocidental já simularam um orgasmo em algum momento da vida.
E, quando as perguntamos por que fizeram isso, a resposta costuma ser: "para que o outro ficasse satisfeito" ou "porque assim o outro me deixaria em paz".
Tanto os homens quanto as mulheres fizeram da sexualidade um exercício físico e mental, quando a sexualidade é se fundir, sentir um ao outro, sentir-se embaixo da pele do outro, como dizia Frank Sinatra.
BBC News Mundo - Vivemos em um mundo em que a pornografia está ao alcance de todos, em que adolescentes crescem vendo pornografia. Que efeito isso tem nas relações sexuais?
Matheu - O problema da pornografia não é mostrar os atos sexuais explícitos. Nesse sentido, me parecem mais perigosos os programas de televisão que fazem pornografia da intimidade, a calúnia, a fofoca, ou alguns filmes violentos.
O problema da pornografia é que é uma pornografia absolutamente "genitalizada", que reforça a ideia de sexo como ginástica.
Eu não acho que a pornografia deva desaparecer, mas sim mudar. Deve deixar de ser aquela pornografia tediosa do mete e tira, para se converter numa pornografia de pele.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 24 de setembro de 2018.

Telma Simões Cerqueira* comenta

                    "(...) O sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e consequentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo." (André Luiz)
É certo que todos nós temos a liberdade para praticar nossos atos diante da sociedade, porém, somos responsáveis por todas as nossas ações, segundo as leis que regem o mundo físico e o mundo espiritual. Quando pensamos em liberdade, devemos pensar também em consequências. Determinadas ações são para nós uma forma de expressar a liberdade, para demonstrar que somos donos de nós mesmos, porém, a cada dia, nos tornamos mais responsáveis pelas consequências geradas através das nossas ações.
Vivemos dias preocupantes na atualidade, a sensualidade adentra as portas de nossas casas através da internet, das mídias tradicionais ou em lugares públicos, no entanto, o nosso caráter é uma questão pessoal, e individual, cabe, a cada um de nós, discernir e fazer nossas escolhas, buscando o autocontrole e o equilíbrio de nossas fraquezas morais, e buscar educar nossos impulsos e pensamentos.
O Benfeitor Emmanuel, no livro Vida e Sexo, nos afirma: “Ante os problemas do sexo, é forçoso lembrar que toda criatura traz os seus temas particulares, em relação ao assunto.(...) Sexo é espírito e vida, a serviço da felicidade e da harmonia do Universo. Conseguintemente, reclama responsabilidade e discernimento, onde e quando se expresse.”
André Luiz nos leva a compreender, no livro Evolução em Dois Mundos, que a energia sexual é um recurso da lei de atração necessária à perpetuidade do Universo. É uma energia inerente à própria vida, gerando cargas magnéticas em todos os seres, à face das potencialidades criativas de que se reveste.
Nos seres primitivos, situados nos primeiros degraus da emoção e do raciocínio, e, ainda, em todas as criaturas que se demoram voluntariamente no nível dos brutos, a descarga de semelhante energia se opera inconsideradamente. Isso, porém, lhes custa resultados angustiosos a lhes lastrearem longo tempo de fixação em existências menos felizes, nas quais a vida, muito a pouco e pouco, ensina a cada um que ninguém abusa de alguém sem carrear prejuízo a si mesmo.
Assim entendemos que  a monogamia é o clima espontâneo do ser humano, de vez que dentro dela realiza, naturalmente, com a alma eleita de suas aspirações a união ideal do raciocínio e do sentimento, com a perfeita associação dos recursos ativos e passivos, na constituição do binário de forças, capaz de criar não apenas formas físicas, para a encarnação de outras almas na Terra, mas também as grandes obras do coração e da inteligência, suscitando a extensão da beleza e do amor, da sabedoria e da glória espiritual que vertem constantes, da Criação Divina.
Allan Kardec pergunta aos amigos espirituais, em O Livro dos Espíritos, na questão 701: Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme a lei de Natureza?
A resposta dos Espíritos é clara e objetiva: “A poligamia é a lei humana cuja abolição marca um progresso moral. Na poligamia, não há afeição real: há apenas sensualidade”.
A poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular, apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a pouco. (Nota de Allan Kardec.)
Sabemos que no mundo primitivo, a poligamia era um costume natural, onde os homens conviviam maritalmente com várias mulheres. Nos dias atuais, o amor livre é ainda a recordação da poligamia dos tempos primitivos, com mudança somente quanto à forma. Atualmente, devemos entender por poligamia todo relacionamento sexual da pessoa, na condição de solteiro ou de casado, do homem ou da mulher, na busca de prazeres sexuais sem responsabilidades, com variação de parceiro ou parceira. Não somente a juventude se envereda pelo mundo livre das relações sexuais, pois os adultos, quando resvalam para a prática das relações extraconjugais, estão vivendo também a poligamia.
Quanto às nossas recordações poligâmicas, diz-nos o Espírito Emmanuel, em Vida e Sexo, que a tentação de retorno aos sistemas poligâmicos pode ocorrer habitualmente com qualquer pessoa, na Terra; é mais que natural — é justo. Em circunstâncias numerosas, o pretérito pode estar vivo nos mecanismos mais profundos de nossas inclinações e tendências. Conforme esclarece os Espíritos, na prática do amor livre, que é poligamia, existe apenas a sensualidade, ou seja, a ausência dos valores do sentimento.
No amor livre, sendo a satisfação do instinto sexual o objetivo único, procura-se fazer sempre do parceiro ou parceira um instrumento do prazer sensual. Na busca incessante das sensações inferiores, as criaturas desinteressam-se pelos valores do sentimento, os quais são os únicos que poderão formar uma união ideal, que trará a paz, a alegria e a segurança relativas para a dupla de corações. A prática do amor livre pode atender à volúpia dos desejos e sensações inferiores da criatura, mas não fará bem para a alma de ninguém, pois todo coração somente alimentará alegria, através da afeição que garanta a estabilidade emocional e psíquica.
O impulso poligâmico do homem não é um instinto biológico, mas um simples resquício das fases anteriores de sua evolução. Como o homem é dotado de razão, discernimento e inteligência, ele tem o dever moral de refrear esse impulso e sublimar a sua afetividade por meio da afeição que une as almas não apenas através do instinto, mas do sentimento. É pela razão e pelo livre-arbítrio que ele se controla, elevando-se conscientemente acima das exigências biológicas e das ilusões sensoriais. Não se trata aí de proibição, mas de educação. Não de abstinência imposta, mas emprego digno com o devido respeito aos outros e a si mesmo.
André Luiz, no livro "Evolução em Dois Mundos", Parte I, Capítulo 18, nos informa: "(...) O sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e consequentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo."
Seja nas relações afetivas de uma vida conjugal legalizada, ou numa ligação amorosa, destituída de vínculos jurídicos, a responsabilidade ante a Justiça Divina é a mesma, de um para com o outro. O que as leis humanas não analisam, não exigem e não punem, a Justiça Divina, ao contrário, analisa, pesa, exige e pune com segurança e sem falhas. Não podemos jamais esquecer que há um código de Leis Divinas que rege profundamente a vida moral das criaturas humanas, desde os mínimos atos, dando a cada um de acordo com suas obras praticadas por pensamentos, sentimentos, palavras e atos.
Diante da prática das relações sexuais sem os valores afetivos elevados, as criaturas valorizam e buscam somente o corpo físico do outro, despregando-lhe a alma e desconhecendo as leis morais que regem este relacionamento. Não somos somente um corpo. A criatura humana é muito mais alma, sentimento, coração e consciência.
Os sentimentos e valores das pessoas que dizemos amar, são muitas vezes destratados por nós, danificando o altar íntimo do parceiro ou parceira, sem saber que estamos realmente ferindo é a nós mesmos, através da consciência culpada. O mentor espiritual de Chico Xavier com muita sabedoria nos faz entender: "Cada Espírito detém consigo o seu íntimo santuário, erguido ao amor, e Espírito algum menoscabará o 'lugar sagrado' de outro Espírito, sem lesar a si mesmo."
As ideias materialistas, a falta do conhecimento da vida futura e suas injunções leva o homem a desejar a sua liberdade através da liberação sexual, sem compromissos e sem responsabilidades, e isso está estimulando as criaturas a se tratarem mutuamente como se fossem "coisas", “objetos” ou seja, a vida afetiva e sexual entre o homem e a mulher nada tem a ver com a vida pessoal de ambos. Isto é um grande engano.
Nenhuma criatura pode ser um objeto, um boneco ou um autômato do outro. A vida sexual implica na participação afetiva profunda das criaturas, dando origem a variações múltiplas e imprevisíveis na vida sentimental, emocional e psicológica, para níveis mais elevados ou menos elevados moralmente, de acordo com o nível evolutivo dos envolvidos. Vemos todos os dias através dos meios de comunicação como crescem assustadoramente os desastres morais na vida afetiva dos casais, seja na união conjugal ou fora dela; em virtude do despreparo espiritual surgem os sintomas enfermiços: desentendimentos, discussões, inimizades, perseguições, crueldade, infidelidade, separação, abandono, assassínios e suicídios. Por outro lado, a prostituição de menores é cada vez maior, porque o cansaço dos viciados exige carnes novas para os apetites selvagens que os consomem. E, porque vivem sempre entediados e sem estímulos novos, o alcoolismo, o tabagismo, a drogadição constituem o novo passo no rumo da violência, da depressão, do autocídio.
As estatísticas da loucura que toma conta do Planeta, neste momento, são alarmantes!  Vive-se, nestes tormentosos dias, a tirania do sexo em exaltação...
Nos relacionamentos afetivos tanto o homem quanto a mulher, ambos são responsáveis pelos danos que venham a causar à vida íntima do outro, os quais serão cobrados, ceitil por ceitil, pela Justiça Divina. Quanto ao respeito à consciência de cada um, Emmanuel disserta:
"Conferir pretensa legitimidade às relações sexuais irresponsáveis seria tratar 'consciências', qual se fossem 'coisas', e, se as próprias coisas, na condição de objetos, reclamam respeito, que se dirá do acatamento devido a consciência de cada um?"
Todo relacionamento sexual, sem o cultivo constante e crescente do amor espiritualizado, possui possibilidades de criar, mais cedo ou mais tarde, problemas gravíssimos de difícil solução. O amor-paixão não sabe caminhar todo o tempo nos trilhos da disciplina, da harmonia, do respeito, da assistência mútua e da gratidão, pois, com o desejo dominando os sentimentos, a criatura humana busca sempre a satisfação de si mesma, não se importando com a vida interior do outro.
Esclarece ainda o benfeitor Emmanuel: "(...) os deveres assumidos, no campo do amor, ante a luz do presente, devem prevalecer, acima de quaisquer anseios inoportunos, de vez que o compromisso cria leis do coração e não se danificarão os sentimentos alheios sem resultados correspondentes na própria vida".
Podemos então afirmar que a poligamia, por sua vez, é um costume que, introduzido numa certa época, por motivos econômicos (o aumento de braços para o trabalho grátis nos clãs), já não se justifica.
É verdade que ainda hoje algumas populações muçulmanas do Norte da África e em grande parte da Ásia, se mantém pela predominância do apetite carnal sobre o senso moral de homens ricos, que se dão ao luxo de sustentar várias esposas e numerosa prole, mas tende a desaparecer, pouco a pouco, com o aperfeiçoamento das instituições.
A ordem natural e inerente à espécie humana nos leva a pensar que, incontestavelmente, a monogamia está mais próxima da Lei Divina, visto que, tendo por base a união constante dos cônjuges, permite se estabeleça entre ambos uma estreita solidariedade, não só nas horas de regozijo como nos momentos difíceis e dolorosos.
As demais formas de associação dos seres, conquanto possam ter sido autorizadas ou consentidas durante algum tempo, em determinadas circunstâncias da evolução social, de há muito que se tornaram condenáveis pelos códigos de Direito dos povos de cultura mais avançada, notadamente no mundo ocidental.
As ideias poligâmicas não correspondem aos desígnios da Providência que jamais foi possível generalizar-se, face à relativa igualdade numérica dos sexos. Portanto, a banalização e o tratamento animalizado do sexo como uma "necessidade fisiológica" devem ser substituídos - com urgência - pelo conhecimento de que o sexo é um processo da mente, e entender até que ponto o conceito de "necessidade fisiológica" está compatível com a necessidade do Espírito imortal de praticá-lo.
Então, forçosamente, podemos concluir que a monogamia é o instituto que melhor satisfaz aos planos de Deus, para o Ser Imortal, no sentido de preparar a família para uma convivência de paz, alegria e fraternidade, estado esse que há de estender-se, no futuro, abrangendo toda a Humanidade.

Bibliografia Consultada:

1. Franco, Divaldo - Vitória Sobre a Depressão, cap. 3, de Joanna de Ângelis;
2. Kardec, Allan -  O Livro dos Espíritos - questões 695 a 701;
3. Calligaris, Rodolfo - As Leis Morais - Pág. 79;
4. Xavier, Francisco - Evolução em Dois Mundos - André Luiz - pág. 139;
5. Barcellos, Walter - Sexo e evolução - págs. 124, 263;
6. Xavier, Francisco. Vida e Sexo - Emmanuel - págs. 26, 81.
* Telma Simões Cerqueira é Bacharel em Nutrição pela Universidade Veiga de Almeida, artista plástica e expositora espírita. Nasceu em lar evangélico, porém se tornou espírita nos arroubos da juventude, conhecendo a Doutrina Espírita aos 23 anos. Sempre ativa no Movimento Espírita, participa das atividades do Centro Espírita Jorge Niemeyer, em Vila Isabel, Rio de Janeiro/RJ