sexta-feira, 11 de junho de 2010

Notícia: "Robinho não vê erro em ausência a lar espírita e aponta religião como responsável."

Do UOL Esporte
Em Santos (SP)

A ausência de grande parte dos titulares santistas em uma ação solidária promovida pelo clube causa polêmica. Líder do grupo que se recusou a descer do ônibus para entregar ovos de Páscoa para os pacientes da casa Lar Espírita Mensageiros da Luz, em Santos, na tarde de quinta-feira, Robinho apontou motivos religiosos como responsável pela atitude, e diz não estar arrependido.

“Só ficamos sabendo quando chegamos ao local que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada. Ninguém orientou a gente para que tomássemos essa atitude. Ela foi movida pela religiosidade de cada um. Isso não tem que virar polêmica” disse o atacante, em entrevista à TV Bandeirantes.

Neymar e Paulo Henrique também concederam entrevista para a mesma emissora. Eles se mostraram arrependidos e prometeram visitar a instituição brevemente.

“Cheguei em casa, conversei com o meu pai, e percebi como foi ruim a nossa postura. Jamais vou repetir algo assim, e por isso, temos que pedir desculpas” destacou Neymar.

O jovem atacante santista é evangélico fervoroso e apontou a religiosidade como a principal motivadora da atitude. “Fiquei sabendo dos rituais religiosos realizados no local somente quando cheguei lá. Tomei essa atitude, pois tinha receio de não me sentir bem. Pretendo voltar lá (Lar Mensageiros da Luz) para visitar o pessoal” justificou Neymar, que ainda apontou a existência de outros motivos.

“Isso não pode ser dito aqui. Precisa ficar fechado no grupo mesmo. Melhor nem tocarmos mais nesse assunto" comentou o camisa 17.

Já Paulo Henrique Ganso foi ao local com seu carro. Quando se encaminhava para dentro da instituição foi chamado pelos jogadores presentes no ônibus. Ganso entrou no veículo e foi convencido a aderir ao movimento.

"Foi o que o Neymar falou. Foi um motivo pessoal do elenco e que diz respeito ao grupo" tentou explicar, Ganso.

A religiosidade foi o motivo da ausência de Roberto Brum no local. O volante, no entanto, nem sequer esteve presente no ônibus santista que saiu do CT Rei Pelé com destino ao lar espírita, no início da tarde de quinta-feira. O jogador realiza frequentemente doações a diversas instituições.

“Posso garantir que não fomos pilhados pelo Brum, nem por ninguém. É uma decisão que varia de pessoa para pessoa. Não sou moleque, e arco com as conseqüências” finalizou Robinho.

Somente 11 atletas santistas participaram da ação beneficente. Felipe, Wladimir, Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley foram os responsáveis pela entrega dos ovos. Dorival Júnior e grande parte da diretoria também estiveram presentes no local.

Notícia publicada no Portal UOL, em 2 de abril de 2010.

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Comentário:

Tenho visto muitas manifestações no Twitter contendo certa agressividade contra o Robinho, os jogadores e erroneamente até contra o clube. Por que as pessoas reagem desta forma? Por que o Robinho tem que fazer aquilo que nós achamos certo?

Eu não estou julgando a atitude dos jogadores, porque eles não quiseram entrar num lar espírita e tinham este direito. Todos, mas principalmente os espíritas que estudam e compreendem a doutrina espírita, devem respeitar o livre-arbítrio.

Muitos criticaram que eles deixaram de fazer a caridade por não querer entrar no lar espírita. Cito aqui a questão 642, de O Livro dos Espíritos:

"Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?

- Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer."

Os meninos do Santos perderam uma oportunidade de fazer o bem, falharam numa prova que talvez colocasse à frente o que seria mais importante: a sua crença ou o bem ao próximo. É bem possível que tenham falhado nesta prova. Não nos cabe fazer este julgamento, porque não temos conhecimento suficiente para isto.

Se nós enchemos o peito para nos denominar espíritas, se com orgulho dizemos estudar O Evangelho segundo o Espiritismo, este é o momento para demonstrar que aprendemos alguns dos conceitos mais essenciais desta doutrina, como tolerância, compaixão, caridade, paciência e amor ao próximo. É fácil nutrir estes sentimentos por aqueles em sofrimento, por aqueles que vivem uma vida restrita por qualquer motivo, mas a verdadeira prova para o espírita é nutrir todas estas virtudes por aqueles que ainda não compreenderam a lei de Deus, não compreenderam a realidade da vida espírita e se perdem em sua própria ignorância.

Mas este incidente teve um final feliz. Roberto Brum, Robinho, Neymar e Paulo Henrique, depois de 10 dias, voltaram à instituição espírita, visitaram as crianças e Robinho, o personagem que mais críticas sofreu, doou a camisa do seu 200º jogo pelo Santos. (http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,robinho-paulo-henrique-e-neymar-visitam-lar-espirita,537379,0.htm)

Por que podemos dizer um final feliz? Não, não é porque o Robinho e os outros fizeram a vontade de muitos espíritas indignados e intolerantes, mas porque podem ter progredido, e a questão 992, de O Livro dos Espíritos, nos esclarece:

"Qual é a consequência do arrependimento no estado corpóreo?

- Adiantar-se ainda na vida presente, se houver tempo para a reparação das faltas. Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar."

Pode ser que algumas pessoas digam que se não tivessem reclamado, demonstrado sua indignação, talvez eles nem percebessem o erro. Neste caso, continuam demonstrando certo orgulho ao querer compartilhar do mérito de uma boa ação que não lhes pertence.

Parabéns aos meninos da vila, que se arrependeram e corrigiram o erro da única forma possível: fazendo o bem a quem se tenha feito o mal.

(Comentário po: Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC. )

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pergunta Feita: "Mediunidade e jovens".

Mensagem: OLÁ. MINHA DÚVIDA É DE CERTA FORMA POLÊMICA. TENHO LIDO NO LM QUE JOVENS COM MEDIUNIDADE DE FATO DEVEM DESENVOLVER SIM MAS A FEB ORIENTA PARA EVANGELIZAÇÃO. POR QUE DE FATO A FEB ORIENTA PARA NAO EXPOR JOVENS NUMA MESA MEDIUNICA POR EXEMPLO? E SE O JOVEM JA TIVER UMA ESPIRITUALIDADE BOA NAO PODERIA COMPOR UMA MESA? VAMOS SUPOR QUE ELE NAO SE IMPRESSIONE COM OS ESPIRITOS TREVOSOS QUE SE MANIFESTEM. NESTE CASO PODERIA COMPOR UMA MESA? O FATO DE ELE COMPOR UMA MESA NAO SERIA UM PROBLEMA? POIS ESTARIA MAIS SUGEITO A INFLUENCIA DE ESPIRITOS QUE VIEREM NA MESA E PODERIAM OBSEDIÁ-LO?
TAMBEM GOSTARIA DE SABER DE LIVROS PSICOGRAFADOS QUE DEFENDAM O EMPREGO DE JOVENS PREPARADOS EM UMA MESA MEDIUNICA OU QUE PREGAM O CONTRÁRIO.
CASO TIVER OUTRO CONTATO AO QUAL EU POSSA TIRAR MINHAS DUVIDAS EU AGRADECERIA.

OBRIGADO
P

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Prezado P,

Muita paz!

Você tem razão quando diz ter lido em "O Livro dos Médiuns" que jovens com mediunidade devem desenvolvê-la. Nesse livro, os Espíritos Superiores afirmaram que não há idade precisa para o inicio da prática mediúnica, pois tudo depende do desenvolvimento físico e, mais ainda, do desenvolvimento moral (Cap.XVIII, Item 221, 8ª Pergunta).

No livro "Diretrizes de Segurança", Divaldo responde à seguinte pergunta:

50. A partir de que idade o jovem espírita pode participar de trabalhos mediúnicos?
Divaldo - Desde quando esteja disposto a assumir responsabilidades. As médiuns que colaboraram com Kardec oscilavam entre 12 e 15 anos de idade, mas há muita gente de 40 anos que não sabe manter perseverança nem responsabilidade. O problema não é de idade cronológica, e, sim, de maturidade espiritual.

51. Não basta que o Jovem espírita tenha conhecimento teórico da Doutrina?
Divaldo - Tudo aquilo que fica reduzido a palavras carece de fundamentos de atos. Se ele tem conhecimento teórico da Doutrina, necessita por à prova esses conhecimentos através da boa prática do Espiritismo.

Quanto à FEB, talvez você não tenha compreendido as preocupações da Federação com o ingresso de jovens nas reuniões mediúnicas. Não é que ela seja contra, mesmo porque nos cursos de Estudo e Educação da Mediunidade promovidos pela FEB há muitos jovens participando, talvez em maior número. Entretanto, esses jovens são oriundos da Evangelização Infanto-Juvenil e do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE. A passagem do jovem por esses trabalhos é muito importante, pois é através dele que conquista a formação doutrinária, espiritual e o necessário equilíbrio moral, capaz de lhe garantir a necessária segurança nos trabalhos futuros da mediunidade, se for o caso.

É consenso que a idade não deve ser considerada como fator limitativo absoluto para a participação em trabalhos mediúnicos, pois existem jovens psicologicamente amadurecidos e adultos inconsequentes. Entretanto, não é recomendável encaminhar um jovem para os trabalhos mediúnicos sem que esteja devidamente preparado psicológica e doutrinariamente, principalmente quando se trata de reunião de desobsessão, por se tratar de uma reunião para onde são conduzidas entidades espirituais muito endurecidas, que exigem dos participantes razoável conhecimento da Doutrina Espírita, especialmente da Mediunidade, e equilíbrio emocional, para não se deixarem influenciar, negativamente, pelas comunicações, como mistificações, ameaças, comportamento agressivo, etc. Este requisito é exigível de qualquer pessoa, independentemente de idade.

Concordamos que não tem sentido o comportamento de alguns dirigentes espíritas que vedam o acesso de jovens às reuniões mediúnicas, somente baseados na idade. Por outro lado, permitir a um jovem, na adolescência ou saindo dela, a participar de reunião mediúnica é uma decisão que deve ser muito bem avaliada. Especialmente no que diz respeito à sua necessidade e capacidade psicológica e emocional. O "O Livro dos Médiuns", em seu capítulo XVIII, item 222, nos diz que:

"A prática do Espiritismo, como veremos mais adiante, demanda muito tato, para a inutilização das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas estouvadamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros, ou malfazejos. Ora, não se podendo esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, muito de temer é que ela faça disso um brinquedo, se ficar entregue a si mesma. Ainda nas condições mais favoráveis, é de desejar que uma criança dotada de faculdade mediúnica não a exercite, senão sob a vigilância de pessoas experientes, que lhe ensinem, pelo exemplo, o respeito devido às almas dos que viveram no mundo. Por aí se vê que a questão de idade está subordinada às circunstâncias, assim de temperamento, como de caráter..."

O jovem com sintoma de mediunidade deve receber estímulo e atenção e não desconfiança e indiferença. Os mesmos cuidados devem merecer os adultos, pois, segundo Kardec, "há crianças de doze anos a quem tal coisa afetará menos do que a algumas pessoas já feitas." (Cap.XVIII, Item 221, 8ª Pergunta).

No livro "Somos todos médiuns", Espírito Odilon Fernandes, psicografia de Carlos Bacelli, temos um segundo ponto a considerar:

"É muito comum que a mediunidade se manifeste na adolescência. Normalmente, quando se manifesta nos jovens de idade que varia entre 12 e 17 anos, na maioria das vezes semelhante sintoma de mediunidade é transitório; ou seja, o jovem, no desabrochar de suas forças psíquicas, torna-se mais sensível à influência dos espíritos que pululam ao redor dos homens na Terra...

Porque experimente sinais de mediunidade, não significa que o jovem necessariamente tenha que frequentar uma reunião mediúnica ou tenha que desenvolvê-la. Quase sempre isso acontece para que a família, distante da verdadeira fé em Deus, se encaminhe ao esclarecimento espiritual que não possui. Quando os espíritos interessados nesta providência alcançam o seu objetivo, eles se afastam, dando por concluída a tarefa de acender alguma luz entre os que lhes são caros."

Dr. Odilon também orienta o responsável pelo Centro Espírita que recebe a família a convidá-los para uma reunião de estudos e para algum tipo de trabalho assistencial, falando-lhes ainda acerca da importâcia da realização do Culto do Evangelho no Lar.

Através da frequência ao Centro, das leituras, dos passes, das orações, da nova disposição mental, dos diálogos construtivos e do serviço no bem, o jovem irá se equilibrando mediunicamente, conseguindo paz a fim de prosseguir em seus estudos escolares e ocupações normais. Posteriormente, quando se defina na vida, se ele tiver renascido com tarefa específica no campo da mediunidade, então chegará o momento de abraçá-la.

Ante o exposto, a Casa Espírita deve analisar profundamente cada caso, de maneira diferenciada. É tudo uma questão de bom-senso, de avaliação e de acompanhamento.

Entretanto, que seja sempre esclarecido ao jovem que mediunidade é responsabilidade a mais em suas vidas. Ou, como disse o Espírito Ivan de Albuquerque, pela psicografia do sensitivo José Raul Teixeira, que também se iniciou muito jovem na tribuna espírita e na mediunidade: "Se, no estuário da juventude, o apelo mediúnico te chega, não lamentes a perda da folgança, suposta própria da idade. Mantém-te alegre e prazenteiro, guardando-te, inobstante, no bojo da responsável conduta, que não deixará que te percas pelos dédalos da loucura que são próprias não da mocidade, porém de todos os indivíduos estúrdios e irrefletidos, em qualquer fase etária em que estejam." (Cântico da Juventude, Pág. "Juventude e Mediunidade", 1).

Recomendamos a leitura dos seguintes artigos:

Mediunidade e Juventude - http://br.geocities.com/humildescomjesus/temas/mediunidade_e_juventude.htm

A Mediunidade na Criança e no Jovem - http://www.cebatuira.org.br/EstudodaMediunidade/mediunidade_016.htm

Deixamos como orientação geral os áudios Qualidade da Prática Mediúnica, de Divaldo Franco:

www.meiovirtual.net/arquivos/divaldo_qualidade_1.zip
www.meiovirtual.net/arquivos/divaldo_qualidade_2.zip

Oferecemos como complemento, no site www.virtual.espiridigi.net - seção Evangelização -, um farto material para trabalhos com crianças e mocidades. Na seção Estudos - Multimídia, há vídeos que podem ser utilizados abordando diversos temas relacionados aos estudos doutrinários. Veja, também, www.videosespiritas.com.

Nos links www.espiridigi.net/arquivos/jovem_casa_espirita_palestra_raul.zip e www.espiridigi.net/arquivos/jovem_casa_espirita_perguntas_raul.zip você terá orientações de José Raul Teixeira a respeito do trabalho a ser realizado pelos orientadores de mocidades e evangelizadores no trato com os jovens perante a casa espírita.

Em nosso site, na seção Atividades - http://www.cvdee.org.br/ev_atividade.asp e http://www.cvdee.org.br/ev_atividade.asp?id=010#atividades - você encontrará um conteúdo que enriquecerá suas reuniões.

No site da livraria da Federação Espírita Brasileira - http://www.feblivraria.com.br/ - seção Infância e Juventude, há livros para estudos dos diversos ciclos.

Caso algum link esteja com problema de acesso, copie o endereço e cole em seu navegador.

Estamos à disposição para auxiliar no que for necessário e conte sempre conosco.

Um abraço,

André.
Equipe Espiritismo Net Jovem

terça-feira, 8 de junho de 2010

Notícia: "A agenda do exorcista".

O que encontrei em minha busca por demônios. - ELIANE BRUM

Estava zapeando a TV em busca de algo para ver, quando fui surpreendida por um demônio entrando pela minha sala, depois de abandonar o corpo de um homem que ainda tremia na tela. Pobre diabo, pensei, e por um instante fiquei confusa se me referia ao homem ou ao demônio desmoralizado que dele saía com o rabo entre as pernas, apenas porque o pastor falava grosso com ele. Do meu sofá, assisti então à partida atabalhoada de séquitos inteiros de belzebus do corpo de fiéis. Alguns dos mortais exorcizados foram também esvaziados do pouco dinheiro que tinham para sustentar a família, o que talvez não lhes ajude a seguir em frente depois de experiência tão traumática. A banalidade do mal, da filósofa Hannah Arendt, ganha outros sentidos nessas sessões de exorcismo promovidas por algumas igrejas neopentecostais diante das câmeras.

Eu também tive experiências com demônios. Infelizmente, bem menos fáceis de exorcizar do que estes da TV. Nos anos 90, fui incumbida de fazer uma reportagem sobre o diabo. Não consigo lembrar qual era a razão de ter enveredado por tal tema. Algo tinha acontecido, mas não lembro o que era. Recordo de ter partido em busca de pessoas supostamente possuídas por Satã. Buscava os demônios menos descartáveis, aqueles que inspiraram algumas das grandes obras da literatura mundial e do cinema. E nos levaram para mais perto de uma compreensão mais profunda do humano.

Ao longo da apuração, fiz várias incursões nesse mundo. De uma delas jamais pude esquecer. Havia no Rio Grande do Sul um padre exorcista. Ele não se apresentava com este título. Preferia dizer que era “parapsicólogo”, um nome mais palatável para uma modernidade que transforma demônios em negócios altamente lucrativos. Era um jesuíta. Grande, discreto, dono de uma erudição sólida. Vivia cercado de livros, escrevendo. E sua figura, chamada quando eventos aparentemente inexplicáveis aconteciam, inspirava respeito.

Ele raramente se comprometia com alguma conclusão diante do grande público. Comportava-se como um observador. Lamentei sua morte, anos atrás, por motivos egoístas: era alguém que eu teria compreendido melhor hoje, que sou mais velha. E sobre quem eu gostaria de escrever. Foi o único exorcista com estofo de exorcista que eu conheci até hoje. Penso que com ele morreu um mundo inteiro.

Naquela ocasião, ele me recebeu em seu quarto-escritório na instituição onde vivia. Contei a ele o que buscava. Conversamos um pouco sobre a natureza dos demônios, sem que ele jamais assumisse claramente sua participação em um legítimo ritual de exorcismo católico. Suas respostas eram sempre precisamente vagas. A certa altura, ele buscou uma caixinha de madeira em uma escrivaninha. Ali, ele guardava num fichário os dados das pessoas que, ao longo da sua vida, haviam lhe procurado com a queixa de que alguém da família estava possuído por Satanás.

Com gestos calmos, quase displicentes, ele pinçou dali alguns nomes. Embora tenha sentido meus olhos se acenderem de tanta excitação, lembro de ter ficado internamente um pouco decepcionada com ele. O excesso de confiança me pareceu temerário – não porque eu não a merecesse, mas porque as pessoas haviam confiado a ele algo muito sério e muito íntimo. E agora ele as expunha.

Anotei rapidamente os endereços no meu bloquinho de repórter, antes que ele se arrependesse. Pretensão injustificada, já que um homem como aquele, seja por sabedoria ou por velhice, sabe bem o que está fazendo e só faz o que quer. Eu estava muito excitada com o que tinha nas mãos – mas um pouco atormentada por aquele problema clássico de repórter: como bater na porta de alguém e perguntar se estava possuído pelo demônio?

Aprendi no exercício desta profissão tão peculiar que o melhor jeito de perguntar qualquer coisa, por mais espinhosa que seja, é perguntando. Eu não tenho técnica. Vou lá e pergunto. Mas não estava preparada para o que ouviria. Até então, estava achando uma investigação instigante – e um pouco engraçada. Quando comecei a bater nas portas que ele me havia aberto, tudo mudou.

Nenhuma das pessoas que abriu a porta achou estranho eu perguntar sobre possessões demoníacas. Quem achou estranho que não houvesse estranhamento era eu. Tipo: “Bom dia, eu sou fulana de tal, repórter do jornal tal, e soube que aqui há alguém que talvez esteja possuída pelo demônio...”. Nada. Ninguém me mandou para o quinto dos infernos ter uma audiência ao vivo com o próprio. Pelo contrário, imediatamente me convidavam a sentar na sua sala e me ofereciam café. Sentia que, de algum modo, minha presença era bem-vinda.

Este foi outro aprendizado essencial que a reportagem me deu para a vida: a importância de escutar de verdade. Se você busca algo – e é sempre melhor que não saiba exatamente o que é –, vá com o coração aberto. Tente entender e alcançar o outro sem se deixar enredar em seus próprios preconceitos ou na sua necessidade de mostrar que é mais esperto. Naquele momento, eu precisava suspender qualquer descrença, para poder escutar sem julgar. Eu não sabia de que tipo de demônio se tratava, mas era muito claro que para aquelas pessoas que me recebiam em sua sala de visitas, era do tipo sério. Do tipo que causava dor.

Não encontrei os demônios que buscava. Achei outros. A agenda do exorcista me levou a círculos subterrâneos e descendentes de sofrimento humano. Aquelas pessoas precisavam de ajuda. Tenho dúvidas se daquela que um exorcista poderia dar, mas de ajuda. De alguém que escutasse a sua dor e reconhecesse a legitimidade de seu sofrimento. Porque a dor, esta era inegável. As pessoas que conheci nesta peregrinação em busca de demônios eram algumas das mais tristes que encontrei em minha vida. Elas me olhavam com um desamparo profundo. E com as olheiras de quem não conseguia dormir à noite.

Lembro de dois casos especialmente dolorosos. Um dos que haviam sido levados ao exorcista para averiguação era um universitário de Porto Alegre. Morava com pai, mãe e avó num apartamento de classe média. Há alguns meses ele tinha começado a ser assediado por vozes. Pela história e pela fé daquela família, as vozes foram interpretadas por ele como sendo vozes de demônios.

Sentada no sofá da sua casa, tomando um café, eu o escutava. Ele era ainda um garoto e estava desesperado. Contou-me que os demônios moravam dentro da sua cabeça. Diziam coisas horríveis a ele, não permitiam que dormisse. Não o deixavam viver. Havia começado de repente, e ele tinha perdido tudo. Amigos, a faculdade, a vida como ela devia ser. Perto dele, olhando-o com profundo amor, sua avó também o escutava.

Poder falar e ser escutado sem que rissem dele fez com que se sentisse um pouco melhor. Naquele momento, pelo menos, nenhum demônio interior interrompia nossa conversa. Quando ele terminou de contar sua história, pensei que poucas coisas podem ser mais devastadoras do que ouvir vozes dentro da cabeça. Não interessa a causa, para aquela pessoa é totalmente real, mesmo que só ela ouça. E o fato de ninguém mais ouvir é algo da ordem do terrível. Este é um inferno que eu posso imaginar.

Em nenhum momento eu supus que os demônios do garoto não existissem, porque era óbvio que eles eram totalmente reais para ele. E se eram reais para ele, eram reais para mim também. Quando se aproximou a hora de ir embora, eu sugeri com delicadeza que havia várias maneiras de olhar para aqueles demônios. E que, se já haviam tentado a religião, talvez pudessem tentar também a psicanálise. Se achassem que isso poderia ajudar, eu poderia indicar alguém.

Mal larguei minha bolsa na redação do jornal, vinda da casa do garoto, e o telefone tocou. Era a avó do menino, falando baixinho. Se eu pudesse indicar alguém para ajudar, ela o levaria. Indiquei um psiquiatra-psicanalista que não se limitaria a encaixá-lo em um manual de doença mental. Achava que ele precisava de alguém que o escutasse – e não apenas o entupisse de remédios, como se tudo fosse patologia. Não seria eu a trocar uma fé por outra. Soube que ele foi.

A outra porta aberta que nunca pude esquecer é bem mais triste, porque não havia nenhuma avó amorosa. Quem me recebeu foi a mãe. E ela tinha certeza de que havia engravidado do demônio. Levou-me para o quarto escuro de uma casa lúgubre. Havia sol lá fora, mas ela não o deixava entrar. Sentada diante de mim, a mulher relatou uma série de fatos que supunha serem capazes de provar que sua filha temporona era obra de Satanás. Nenhum dos episódios relatados poderia ser interpretado como algo demoníaco. Pelo menos por mim.

Ao mesmo tempo, havia ali um ovo de serpente. Dava para enxergar como aquela mãe estava gerando um demônio bem humano. A menina estava na escola e tinha 6 anos quando eu a visitei. Fiquei pensando em como deveria doer ser filha de alguém que a via como a encarnação do diabo. E, portanto, não poderia amá-la. Para aquela mulher na minha frente, não era nem que a filha estivesse possuída – a menina era. Parecia-me que, se ninguém interrompesse aquela escalada, a criança não teria chance de ser outra coisa que não um demônio humano, já que toda a família compactuava com a crença da mãe. E este também era um inferno que eu podia alcançar.

Saí de lá desolada. Ao mesmo tempo aliviada porque estava de novo no mundo em que o sol entrava. Podia imaginar o quanto aquela mãe sofria com a sua crença, mas uma parte de mim não a perdoava por enxergar sua filha com tão pouca generosidade. Ela era só uma criança. E sua mãe não apenas era incapaz de protegê-la e cuidá-la, como denunciava ao mundo que ela era o próprio Satã. Seria muito difícil para a menina crescer sem tornar-se o diabo que sua mãe jurava que ela já era desde o útero. Fiquei desejando demônios mais semelhantes aos que vi em filmes de Hollywood. Do tipo que arranca sangue e vomita gosmas verdes, mas que dá para tirar do corpo porque é estranho ao humano.

Não vou discutir aqui a complexa natureza dos demônios. Já me deparei muitas vezes com coisas que não entendo. Aliás, há mais delas no mundo do que as que eu consigo explicar. Mantenho minha ignorância em aberto, junto com a minha cabeça e o meu coração. Apenas desconfio de quem aponta demônios nos outros. Como jornalista, minhas melhores perguntas são: Por que você acredita que o outro é um demônio? Ou: Por que você acha que o demônio está no outro? E como você pode ter certeza de que aquele que aponta o mal no outro não é o demônio que há em você?

O que posso afirmar é que a agenda do exorcista me levou a um inferno de demônios demasiado humanos. Nem por isso menos assustadores e destrutivos. Seria fácil se eles pudessem ser arrancados como lombrigas porque nosso corpo não lhes pertence. Infelizmente ou não, acho que pertence. Exorcizar demônios que são tão nossos quanto nosso fígado e nossas memórias exige coragem, honestidade e um caminho mais longo rumo aos subterrâneos de nossa condição humana. Sempre em frente – e sempre para dentro.

Desde então, me assusto menos com os demônios fora de mim. Sei que os meus próprios vão me dar mais trabalho. Gosto daquele cumprimento oriental que diz: o deus que há em mim saúda o deus que há em você. Mas eu o complementaria: os demônios que existem em mim saúdam os demônios que existem em você. Demasiado humanos, podemos então nos olhar com menos medo – e com mais compaixão.

Lembro de ter perguntado ao velho exorcista se ele acreditava mesmo em demônios. Ele disse que sim. Não me disse o que pensava de sua natureza. Limitou-se a me dar nomes e endereços para que eu empreendesse minha própria busca. Uma proposta generosa, que só hoje compreendo melhor.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

Matéria publicada na Revista Época, em 8 de março de 2010.

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Comentário:

"Segundo o Espiritismo, nem os anjos nem os demônios são seres à parte: a criação dos seres inteligentes é una. Ligados a corpos materiais, esses seres constituem a humanidade que povoa a Terra e os outros planetas habitados; sem esses corpos, constitui o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os espaços. Deus os criou perfectíveis, dando-lhes por objetivo a perfeição com uma consequente felicidade, mas não lhes deu a perfeição. Deus quis que eles devessem a perfeição ao seu esforço pessoal, a fim de que tivessem o seu próprio mérito. Desde o instante da sua formação eles começam a progredir, seja através da encarnação, seja no estado espiritual. [...] Nas camadas inferiores há os que são ainda profundamente inclinados ao mal e nele se comprazem. Podem chamá-los demônios, se o quiserem porque são capazes de todas as maldades atribuídas a estes.[...]" (O Céu e o Inferno, Allan Kardec.)

A Doutrina Espírita nos ensina que estes seres chamados demônios são pessoas como nós e que estão também progredindo. Devemos lembrar também que nós, que tivemos a mesma origem, podemos ter sido espíritos semelhantes a estes demônios. Infelizmente, ainda algumas pessoas continuam cultivando esta ideia de ser supremo do mal, esquecendo-se que é apenas um ser humano desencarnado que sofre e ainda não compreende o bem. Temos que refletir se estamos considerando uma reunião de desobsessão como uma renovação das práticas de exorcismo, onde a principal preocupação é afastar o espírito mal de sua inocente vítima, ou se consideramos esta reunião como um momento de esclarecimento tanto do desencarnado como do encarnado para que compreendam a relação que exista entre ambos e possam resolver o problema.

No livro acima citado, Kardec ainda nos explica:

"O sofrimento sendo inerente à imperfeição, como a felicidade é inerente à perfeição, a alma leva em si mesma o seu próprio castigo onde quer que se encontre. Não há pois necessidade de um lugar circunscrito para ela. O inferno está assim por toda a parte, onde quer que existam almas sofredoras, como o céu está por toda a parte, onde quer que as almas sejam felizes."

[...]

"O Espírito sofre de acordo com as suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no corporal. Todas as misérias, todas as dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea são as consequências de suas próprias imperfeições, as expiações de faltas cometidas nesta mesma existência ou nas existências anteriores."

Ao dizer que os demônios são demasiadamente humanos e que muitos tinham o inferno dentro deles mesmos, a repórter, mesmo (aparentemente) sem o conhecimento da doutrina, compreendeu o que foi colocado acima. A evolução se dá pelo progresso moral, que se dá pelo progresso intelectual, e esta sequência leva o tempo necessário para cada um.

(Comentário por: Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mural Reflexivo: "Discussões estereis".

A linguagem articulada é um dos grandes dons que felicitam a humanidade, distinguindo-a no concerto da criação.

Mediante a linguagem transmitem-se tesouros de pensamento e cultura, tratando-se de um elemento facilitador do progresso.

Importa preservar esse valioso recurso, dando-lhe destinação útil.

Assim verifique o modo como você utiliza a palavra.

Cuide para que esse dom não se converta em instrumento de suplício para seus semelhantes.

É natural e mesmo esperado que você busque compartilhar com o próximo seus ideais e experiências.

Encontrando-se convencido do acerto do seu modo de ver e perceber a vida, pode experimentar a tentação de converter os demais.

Para bem evidenciar a correção de seu pensamento, talvez ache necessário empenhar-se em infindáveis discursos e longas discussões.

Contudo, com esse proceder, bem cedo se tornará cansativo aos seus amigos e familiares.

Uma coisa é trocar idéias com os semelhantes, com humildade e delicadeza, ouvindo e refletindo sobre o que eles têm a dizer.

Outra, bem diferente e antipática, é tentar impor às consciências alheias a sua forma peculiar de entender o mundo.

Constitui sinal de vaidade pensar que apenas você foi brindado com a capacidade de perceber a realidade que o cerca.

É razoável pretender que todos os que o rodeiam permanecem nas trevas da ignorância?

Já imaginou que talvez eles, com mais brilho do que você, compreendam a vida sob prismas mais profundos e lógicos?

Nesse caso, o que os mantém em silêncio não será a humildade?

Ou talvez seja a generosidade que os impede de tentar convencê-lo, por perceberem que você ainda não possui condições para acompanhar-lhes o raciocínio.

É importante pensar nisso antes de assumir o papel de conversor compulsório dos semelhantes.

Mas imaginemos que o seu sistema de pensar e sentir realmente seja o melhor.

Isso o autoriza, de algum modo, a forçar as consciências dos outros?

Se ainda ontem você não havia entendido a lição que hoje quer ensinar, trata-se de um eloqüente sinal de que tudo no mundo tem o seu momento próprio.

É natural que você deseje ver seus amores no melhor caminho, mas violentar o modo de sentir do próximo cria apenas resistência.

Saber respeitar o nível de entendimento dos outros é sinal de sabedoria e de maturidade.

Qualquer corrente filosófica, política ou religiosa que não contenha em suas bases o respeito ao ser humano possui grave falha.

Entretanto, sendo impróprio a você impor suas idéias, nada o impede de evidenciá-las diariamente pelo exemplo.

Assim, viva com a pureza possível de conformidade com os seus ideais.

Torne a sua conduta reta o reflexo de seus pensamentos.

Sendo sublimados os seus atos, os outros não tardarão a perceber a beleza da teoria que os embasa.

Não se perca, pois, em estéreis discussões.

Não enfade seus ouvintes com arengas repetitivas.

Respeite o livre-arbítrio dos que o cercam.

No mundo, é importante dizer o necessário.

Mas também é preciso não perder tempo com quem não tem interesse em suas palavras.

Pense nisso.


(Textos da Equipe de Redação do Momento Espírita. http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1255&let=D&stat=0)