sábado, 4 de abril de 2015

Revista Espírita: A IMPRENSA

(Comunicação espontânea – Sociedade Espírita de Paris, 19 de fevereiro de 1864 – Médium: Sr. Leymarie)

A imprensa foi inventada no século quinze. Como tantas outras invenções, conhecidas ou desconhecidas, foi preciso tomar a taça e beber o fel. Não venho a vós, espíritas, para contar meus dissabores e sofrimentos; porque naqueles tempos de ignorância e de tristeza, em que vossos pais tinham sobre o peito o pesadelo chamado feudalismo e uma teocracia cega e ciosa de seu poder, todo homem de progresso tinha cabeça demais. Quero apenas dizer-vos algumas palavras a respeito de minha invenção, de seus resultados e de sua afinidade espiritual convosco, com os elementos que fazem vossa força expansiva.

A revolução-mãe, que trazia em seus flancos o modo de expressão da Humanidade, despojando o pensamento humano do passado, de sua pele simbólica, é invenção da imprensa. Sob essa forma o pensamento mistura-se no ar, espiritualiza-se, será indestrutível. Senhora dos séculos futuros, alça seu vôo inteligente para ligar todos os pontos do espaço e, desde esse dia, domina a velha maneira de falar. Os povos primitivos necessitavam de monumentos representando um povo, montanhas de pedra dizendo aos que sabem ver: Eis minha religião, minha fé, minhas esperanças, minha poesia.

Com efeito, a imprensa substitui o hieróglifo; sua linguagem é acessível a todos, seus apetrechos são leves; é que um livro não pede senão um pouco de papel, um pouco de tinta,algumas mãos, ao passo que uma catedral exige várias vidas de um povo e toneladas de ouro.

Permiti, aqui, uma digressão. O alfabeto dos primeiros povos foi composto de pedaços de rocha, que o ferro não havia tocado. As pedras erguidas pelos Celtas também se encontram na Sibéria e na América. Eram lembranças humanas confusas, escritas em monumentos duráveis. O galgal 9 hebreu, os crombels 10, os dólmens, os túmulos, mais tarde exprimiram palavras.

Depois vieram a tradição e o símbolo. Não mais bastando esses primeiros monumentos, criaram o edifício e a arquitetura tornou-se monstruosa; fixou-se como um gigante,repetindo às gerações novas os símbolos do passado. Tais foram os pagodes, as pirâmides, o templo de Salomão.

É o edifício que encerrava o verbo, essa idéia-mãe das nações. Sua forma e sua situação representavam todo um pensamento, e é por isso que todos os símbolos têm suas grandes e magníficas páginas de pedra.

A maçonaria é a idéia escrita, inteligente, pertencente a todos os homens unidos por um símbolo, tomando Iram por patrono e constituindo essa franco-maçonaria tão conspurcada,que trouxe em si o germe da liberdade. Ela soube semear seus monumentos e os símbolos do passado no mundo inteiro,substituindo a teocracia das primeiras civilizações pela democracia, esta lei da liberdade.

Depois dos monumentos teocráticos da Índia e do Egito, vêm suas irmãs, as arquiteturas grega e romana; depois o 9 N. do T.: Grifo nosso. 10 N. do T.: Grifo nosso. estilo romano tão sombrio, representando o absoluto, a unidade, o sacerdote; as cruzadas nos trouxeram a ogiva e o senhor quer partilhar, esperando o povo que saberá tomar o seu lugar; o feudalismo vê nascer a comuna e a face da Europa muda, porque a ogiva destrona o românico; o pedreiro torna-se artista e poetisa a matéria; dá-se o privilégio da liberdade na arquitetura, porque então o pensamento só tinha esse modo de expressão. Quantas sedições escritas na fachada dos monumentos! É por isto que os poetas, os pensadores, os deserdados, tudo quanto era inteligente,cobriu a Europa de catedrais.

Como vedes, até o pobre Guttemberg, a arquitetura é a escrita universal. Por sua vez, a imprensa derruba o gótico; a teocracia é o horror do progresso, a conservação mumificada dos tipos primitivos; a ogiva é a transição da noite ao crepúsculo, em que cada um pode ler a pedra facilmente; mas a imprensa é o pleno dia, derrubando o manuscrito, exigindo um espaço mais vasto, que doravante nada poderá restringir.

Como o Sol, a imprensa fecundará o mundo com seus raios benfazejos; a arquitetura não representará mais a sociedade; será clássica e renascentista, e esse mundo de artistas, divorciados do passado, abre rudes brechas nas teogonias humanas, para seguir a rota traçada por Deus; deixa de ser simples artesão dos monumentos da renascença, para se tornar escultor, pintor, músico; a força da harmonia se consome em livros e, já no século dezesseis,é tão robusta, tão forte essa imprensa de Nuremberg, que é o advento de um século literário; é, ao mesmo tempo, Lutero, Jean Goujon, Rousseau, Voltaire; trava na velha Europa esse combate lento, mas seguro, que sabe reconstruir depois de haver destruído.

E agora que o pensamento está emancipado, qual o poder que poderia escrever o livro arquitetural de nossa época? Todos os bilhões de nosso planeta não bastariam e ninguém poderia reerguer o que está no passado e lhe pertence exclusivamente.

Sem desdenhar o grande livro da arquitetura, que é o passado e o seu ensino, agradeçamos a Deus que sabe, nas épocas propícias, pôr em nosso poder uma arma tão forte, que se torna o pão do Espírito, a emancipação do corpo, o livre-arbítrio do homem, a idéia comum a todos, a ciência, um á-bê-cê que fecunda a terra, tornando-nos melhores. Mas se a imprensa vos emancipou, a eletricidade vos fará verdadeiramente livres; é ela que destronará a imprensa de Guttemberg, para pôr em vossas mãos um poder muito mais temível, e isto em breve.

A ciência espírita, esta salvaguarda da Humanidade, vos ajudará a compreender a nova força de que vos falo. Guttemberg, a quem Deus deu uma missão providencial, sem dúvida fará parte da segunda, isto é, da que vos guiará no estudo dos fluidos.

Logo estareis prontos, caros amigos; não basta, porém,que sejais apenas espíritas fervorosos: também é preciso estudar, a fim de que tudo quanto vos foi ensinado sobre a eletricidade e os fluidos em geral seja para vós uma gramática sabida de cor. Nada é estranho à ciência dos Espíritos; quanto mais sólida a vossa bagagem intelectual, tanto menos vos surpreendereis com as novas descobertas. Devendo ser os iniciadores de novas formas de pensamento, deveis ser fortes e seguros de vossas faculdades espirituais.

Eu tinha, pois, razão de vos falar da minha missão, irmã da vossa. Sois os eleitos entre os homens. Os Espíritos bons vos dão um livro que dá a volta à Terra, mas, sem a imprensa, nada seríeis. Para vós, a obsessão que encobre a verdade aos homens desaparecerá; mas, repito, preparai-vos e estudai para serdes dignos do novo benefício e para saberdes mais inteligentemente que os outros, a fim de o espalhar e tornar aceito.

Guttemberg

Observação – Pela difusão das idéias, que tornou imperecíveis e que espalha aos quatro cantos do mundo, a imprensa produz uma revolução intelectual que ninguém pode ignorar. Porque esse resultado era entrevisto, ela foi, de início, qualificada por alguns de invenção diabólica; é uma relação a mais que ela tem com o Espiritismo, e da qual Guttemberg deixou de falar. De fato pareceria, a dar ouvidos a certa gente, que o diabo detém o monopólio das grandes idéias: todas as que tendem a fazer a Humanidade dar um passo lhe são atribuídas. Sabe-se que o próprio Jesus foi acusado de agir por intermédio do demônio que,na verdade, deve orgulhar-se de todas as boas e belas coisas que retiram de Deus para lhas atribuir. Não foi ele quem inspirou Galileu e todas as descobertas científicas que fizeram a Humanidade progredir? Conforme isto, seria preciso que ele fosse muito modesto para não se julgar o dono do Universo.

Mas o que pode parecer estranho é a sua falta de habilidade, pois não há um só progresso da Ciência que não tenha por efeito arruinar o seu império. É um ponto sobre o qual não pensaram bastante.

Se tal foi o poder desse meio de propagação inteiramente material, quão maior não será o do ensino dos Espíritos, comunicando-se em toda parte, penetrando onde o acesso aos livros está proibido, fazendo-se ouvir até pelos que não querem escutar! Que poder humano poderia resistir a tal força?

Esta notável dissertação provocou, no seio da Sociedade, as reflexões seguintes, da parte de um outro Espírito.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

'Favelas poderiam servir de modelo para cidades do futuro'

'Favelas poderiam servir de modelo para cidades do futuro'


Luiza Bandeira
Da BBC Brasil em Londres

Uma cidade em que as pessoas caminhem mais e dirijam menos. Uma cidade em que a vontade da comunidade seja respeitada e considerada no planejamento urbano. Parece um sonho distante?

Para um dos ambientalistas mais respeitados da Grã-Bretanha, esses elementos já estão presentes em favelas brasileiras e poderiam ser um exemplo para as cidades-verdes do futuro.

"Precisamos ser mais sensíveis à forma como as comunidades querem viver junto", diz o físico britânico (nascido na África do Sul) sir David King, presidente do grupo de inovação urbanística Future Cities Catapult.

"É um processo de construir comunidades, não destruí-las. Construir um ambiente em que as pessoas encontrem seus vizinhos, trabalhem com eles em projetos comunitários", afirma ele, em entrevista à BBC Brasil.

Mas isso não significa que as favelas sejam um modelo em todos os sentidos. O que King defende é a adoção de duas de suas mais desejáveis características: a forma de auto-organização das comunidades, evitando o planejamento "de cima para baixo", e distâncias que podem ser vencidas a pé.

King também traça um paralelo entre as favelas e as cidades medievais. Ele defende que uma cidade planejada "do zero" a partir do modelo de favelas e cidades medievais se aproximaria de Barcelona - e seria o oposto da capital econômica do Texas, Houston.


Leia trechos da entrevista a seguir:

BBC Brasil - Por que as favelas poderiam ser exemplos para as cidades no futuro?

David King - Há dois aspectos. Primeiro, precisamos aprender com o jeito como as comunidades se auto-organizam. Evitar o planejamento de cima para baixo, em que os urbanistas acham que sabem mais do que as comunidades. É uma questão de trabalhar com as pessoas do local e ver o que elas querem. No passado, governos já acabaram com favelas e colocaram prédios altos no lugar. A comunidade, quando se muda de volta para esses prédios, recria o ambiente comunitário que as favelas representavam. É quase gratificante ver que a vida local se passa, na verdade, no espaço entre esses prédios altos.

Meu ponto não é que as favelas são lugares bons, e nem é boa a ocupação ilegal e o comportamento que vem com isso. Mas precisamos ser mais sensíveis à forma como as comunidades querem viver junto. Essas favelas muitas vezes viram motores para o crescimento econômico, como em Nairóbi e Mumbai. É uma questão de mostrar respeito às pessoas e demonstrar que a auto-organização delas pode ter resultados muito positivos.

Em Lima, arquitetos europeus fizeram um projeto em que construíram apenas as bases das casas e as partes mais difíceis, como banheiro e cozinha. E deixaram as pessoas continuarem as construções. Se você for nessas áreas hoje, verá que algumas dessas casas têm três andares, são todas diferentes. Mas todas se encaixam muito bem no ambiente que foi criado.

A possibilidade de andar é crucial (nas favelas). Você não precisa ter um carro para se locomover e isso é uma grande vantagem. O que existe em Lima é uma espécie de versão modelo do que estou falando. Existe um paralelo com as antigas cidades medievais da Europa, cujo design era em parte resultado da auto-organização, mas também determinado pelo fato de que as pessoas andavam de um lugar para o outro. A possibilidade de andar era um atributo chave para esses locais funcionarem. As pessoas podiam andar de casa para o trabalho, para locais de lazer, para locais de compras. Cada área dessas cidades medievais é uma combinação do que as pessoas querem e precisam no seu dia a dia. E ficam a uma distância razoável a pé.

BBC Brasil - Na prática, se fôssemos começar uma cidade do zero inspirada pelas favelas, como ela seria?

David King - Primeiro eu vou te dizer como uma cidade não deve ser: como Houston. É provavelmente a cidade menos densa do mundo. Ou Atlanta. São cidades que acreditam que todo mundo deve morar longe dos outros. E as pessoas chegam a pegar o carro para ver seus vizinhos. E, claro, para ir ao trabalho, comprar algo e para qualquer outra coisa.

Essas cidades, de baixa densidade, fazem as pessoas gastarem muita energia no dia a dia, são naturalmente caras e pobres em transporte de massa, pelas grandes distâncias que os ônibus teriam que percorrer, e não são agradáveis para as pessoas. Em Houston, a média de tempo gasto no carro é de 3 horas por dia, 7 dias por semana. E há muita obesidade.

Se começássemos uma cidade do zero, uma cidade modelo seria como Barcelona - uma cidade medieval que manteve a noção de poder andar e de alta densidade. As cidades modernas estão completamente congestionadas e ninguém quer ficar sentado dentro de um carro em um engarrafamento dia após dia.

É um processo de construir comunidades, não destruí-las. Construir um ambiente em que as pessoas encontrem seus vizinhos, trabalhem com eles em projetos comunitários. É muito mais provável isso ocorrer em uma cidade de modelo medieval com alta densidade demográfica que do que nas Houstons e Atlanta.

BBC Brasil - Favelas são locais com diversos problemas, que vão de violência à poluição. Isso pode indicar que esta auto-gestão está fracassando?

David King - Em geral, quando falamos de favelas, falamos de pessoas que criaram estes espaços precisamente porque não há outro lugar para morar. Em ambientes urbanos que criam espaço suficiente para as pessoas, as favelas não se auto-organizam.

O desenvolvimento urbano que ocorreu de forma acelerada na América Latina entre 1950 e 2010 já chegou ao fim, mas levou - quanto seria? - 75% das pessoas nessa parte do mundo a viver em áreas auto-organizadas. Isso ocorreu porque havia falta de planejamento, mas também de financiamento para este rápido desenvolvimento urbano.

Não estou sugerindo que é boa ideia criar ambientes em que as pessoas vivam fora da sociedade normalmente organizada, ou usem eletricidade sem pagar, etc. Mas estou sugerindo que respeitar o ambiente que essas pessoas criaram é uma boa ideia. A favela é um ambiente urbano que funciona apesar dos problemas.

BBC Brasil - O sr. já esteve em alguma favela? O que achou?

David King - Já estive em favelas no Rio e em Caracas. Uma das coisas interessantes é que você espera encontrar casas construídas de forma precária, e que o espaço entre as casas seja muito precário. Então, como as favelas costumam ter muitas subidas, é interessante se ver subindo por uma escada sólida, ver que as pessoas criaram um ambiente que funciona. Acho que essa é a grande surpresa.

BBC Brasil - A chegada de serviços públicos às favelas muitas vezes resulta em gentrificação - processo acelerado, no Brasil e especialmento no Rio, pela Copa do Mundo e pelas Olimpíadas. As favelas podem tirar algum proveito destes eventos?

David King - Se olharmos para o legado de outros Jogos Olímpicos, houve exemplos bons e outros muito ruins.

Na Grécia, depois das Olimpíadas, muitas das instalações caíram em desuso e estão degradadas. Em Londres, quando começamos a planejar, não havia uma visão real de que o legado era mais importante que os Jogos em si. Depois do primeiro ano de planejamento, houve uma rápida percepção. A chave é ver que o legado é ainda mais importante que os Jogos.

E Londres também usou os Jogos como meio de promover um renascimento urbano. As Olimpíadas foram feitas no que era talvez a parte mais pobre da cidade, e houve uma regeneração do espaço urbano. Limpar e tornar verdes esses ambientes é a chave, e não remover as pessoas.

Isso nos leva a um ponto chave: a gentrificação.

Evitar a gentrificação, no sentido de obrigar as pessoas a sair de um lugar porque elas não podem mais pagar para viver lá, é uma parte muito importante do processo.

Se por gentrificação queremos dizer "melhorar o ambiente", então tudo bem. Mas se queremos dizer desalojar pessoas para que a classe média possa se mudar para a área, entao é claro que é mais problemático.

Não quero usar a palavra gentrificação como necessariamente ruim. Melhorar a qualidade das casas, dos serviços, é crucial. Fornecer eletricidade legal, esgoto e água, ou seja, aumentar a possibilidade de as pessoas viverem bem.

Notícia publicada na BBC Brasil, em 10 de fevereiro de 2015.


Jorge Hessen* comenta

A fraternidade é a lei da assistência mútua e da solidariedade comum, sem a qual todo progresso, no planeta, seria praticamente impossível. Fraternidade pode traduzir-se por cooperação sincera e legítima, em todos os trabalhos da vida. E, em toda cooperação verdadeira, o personalismo não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a fraternidade não se manifestaria no mundo, de modo algum.

Atualmente as pessoas e famílias inteiras, mormente das classes “A” e “B” no Brasil se enclaustram egoisticamente nos seus casulos arquitetônicos, a fim de não contagiar o grupo com o povão. Diferente das décadas de 1950 e 1960, quando era muito comum as pessoas compartilharem alegrias e tristezas na sociedade. Visitava-se regularmente os avós, tios, sobrinhos. Os amigos se viam, abraçavam-se, conviviam abundantemente.

Concordamos com o presidente do grupo de inovação urbanística Future Cities Catapult que os moradores do chamado “subúrbio” ou até na “favela” (um ambiente urbano que funciona apesar dos problemas), embora estigmatizados os suburbanos e “favelados”, são muito mais fraternos, compartilham experiências, exercitam em grande escala a solidariedade, são mais venturosos, pois são mais sensíveis à forma como as comunidades querem viver junto.

É surpreendente viver numa comunidade capaz de edificar um ambiente em que as pessoas visitem seus vizinhos, trabalhem com eles em projetos comunitários no processo de auto-organização, divorciados dos especulativos programas urbanísticos que quase sempre afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos arranha-céus, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada.

Óbvio que há aquele arquiteto urbanístico abnegado, legítimo obreiro do progresso e da fraternidade, que faz grandes obras da engenharia, em sua feição beneficiária; apesar de materiais, possuem elevada significação pela extensão de sua utilidade ao espírito coletivo. Os programas de governos precisam estar sintonizados com à forma como as comunidades querem viver juntos. Quem disse que para aceitar o convite de Jesus para o Evangelho necessitamos de um carro para locomoção? Aliás, andar de casa para o trabalho (vive e versa), fazer compras, entreter-se quando plausível é um ótimo exercício para o corpo e a alma.

A experiência terrena deve ser considerada uma escola de fraternidade para o nosso aperfeiçoamento e regeneração. Muitos que na Terra se encontram em tarefas purificadoras, às vezes colimam o resgate de dívidas extremamente intensas. Daí o motivo de a maioria encontrar sabor amargo nos trabalhos do mundo, que se lhes afigura rude penitenciária, cheia de gemidos e de aflições. Mas, na dor como na alegria, no trabalho fraterno como na experiência pedregosa, deveremos considerar a reencarnação um processo de sublime aprendizado fraternal, concedido por Deus em nosso caminho de progresso e redenção.



* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Revista Espírita: Instruções dos Espíritos

PROGRESSÃO DO GLOBO TERRESTRE8

(Ditado espontâneo, integrando uma série de instruções sobre a teoria dos fluidos)

(Paris, 11 de novembro de 1863)

A progressão de todas as coisas leva necessariamente à transubstanciação, e a mediunidade espiritual é uma das forças da Natureza que lá fará chegar mais rapidamente o nosso planeta,porque, como todos os mundos, deve sofrer a lei da transformação e do progresso. Não só o seu pessoal humano, mas todas as suas produções minerais, vegetais e animais, seus gases e seus fluidos imponderáveis, também devem aperfeiçoar-se e se transformar em substâncias mais depuradas. A Ciência, que já trabalhou esta questão tão interessante da formação deste mundo, reconheceu que ele não foi criado de uma palavra, como diz o Gênesis, numa sublime alegoria, mas que sofreu, numa longa sucessão de séculos,transformações que produziram camadas minerais de diversas naturezas. Seguindo a gradação dessas camadas, aparecem sucessivamente e se multiplicam as produções vegetais; mais tarde encontram-se traços dos animais, o que indica que somente nessa época os corpos organizados haviam encontrado a possibilidade de viver.

Estudando a progressão dos seres animados, como se fez com os minerais e os vegetais, reconhece-se que esses seres, a princípio moluscos, elevaram-se gradualmente na escala animal e que sua progressão acompanhou a das produções e a da depuração do solo; nota-se, ao mesmo tempo, o desaparecimento de certas espécies, desde que as condições físicas necessárias à sua vida não mais existem. Foi assim, por exemplo, que os grandes sáurios,monstros anfíbios, e os mamíferos gigantes, dos quais hoje só se encontram os fósseis, desapareceram completamente da Terra,com as condições de existência que as inundações lhes haviam 8 Nota da Editora: Ver “Nota Explicativa”, p. 537. criado. Sendo os dilúvios um dos meios de transformação da Terra,foram quase gerais, isto é, durante um certo período, causaram forte comoção no globo e assim determinaram produções vegetais e fluidos atmosféricos diferentes. Assim como todos os seres orgânicos, o homem apareceu na Terra quando nela pôde encontrar as condições necessárias à sua existência.

Aí pára a criação material que depende apenas das forças da Natureza; aí começa o papel do Espírito encarnado no homem para o trabalho, pois deve concorrer para a obra comum; trabalhando para si mesmo, o homem trabalha para a melhora geral. Assim, desde as primeiras raças, vemo-lo a cultivar a terra, fazê-la produzir para suas necessidades corporais e, desse modo, provocar transformações em seu solo, em seus produtos, em seus gases e em seus fluidos. Quanto mais se povoa a Terra, tanto mais os homens a trabalham, a cultivam, a saneiam, tanto mais abundantes e variados são os seus produtos; a depuração de seus fluidos pouco a pouco leva ao desaparecimento das espécies vegetais e animais venenosas e nocivas ao homem, que já não podem subsistir num ar muito depurado e muito sutil para a sua organização, e não mais lhes fornece os elementos necessários à sua manutenção. O estado sanitário do globo melhorou sensivelmente desde a sua origem; mas como ainda deixa muito a desejar, é indício de que melhorará ainda pelo trabalho e pela indústria do homem. Não é sem propósito que este é impelido a estabelecer-se nas regiões mais ingratas e mais insalubres; já tornou habitáveis regiões infestadas por animais imundos e miasmas deletérios; pouco a pouco as transformações que faz sofrer o solo levarão à depuração completa.

Pelo trabalho o homem aprende a conhecer e dirigir as forças da Natureza. Pode-se acompanhar na História o fio das descobertas e das conquistas do espírito humano e a aplicação delas feitas para as suas necessidades e satisfações. Mas seguindo essa fieira, deve-se notar também que o homem se delineou,desmaterializou-se; e se se quiser fazer um paralelo do homem de hoje com os primeiros habitantes do globo, julgar-se-á do progresso já realizado; ver-se-á que quanto mais o homem progride, mais é estimulado a progredir, e que a progressão está na razão do progresso realizado. Hoje o progresso marcha em grande velocidade, arrastando forçosamente os retardatários.

Acabamos de falar do progresso físico, material,inteligente. Mas vejamos o progresso moral e a influência que deve ter sobre o primeiro.

O progresso moral despertou ao mesmo tempo que o desenvolvimento material, mas foi mais lento, porque, achando-se o homem em meio a uma criação exclusivamente material, tinha necessidades e aspirações em harmonia com o que o cercava. Avançando, sentiu o espiritual desenvolver-se e crescer em si, e,ajudado pelas influências celestes, começou a compreender a necessidade da direção inteligente do Espírito sobre a matéria; o progresso moral continuou o seu desenvolvimento e, em diferentes épocas, Espíritos adiantados vieram guiar a Humanidade e dar um maior impulso à sua marcha ascendente; tais são Moisés, os profetas, Confúcio, os sábios da antiguidade e o Cristo, o maior de todos, embora o mais humilde na Terra. O Cristo deu ao homem uma idéia maior de seu próprio valor, de sua independência e de sua personalidade espiritual. Mas sendo os seus sucessores muito inferiores a ele, não compreenderam a idéia grandiosa, que brilha em todos os seus ensinos; materializaram o que era espiritual; daí a espécie de statu quo moral, no qual a Humanidade se deteve. O progresso científico e inteligente continua a sua marcha; o progresso moral se arrasta lentamente. Não é certo que, desde o Cristo, se todos os que professaram sua doutrina a tivessem praticado, os homens se teriam poupado de muitos males e hoje estariam moralmente mais adiantados?

O Espiritismo vem acelerar o progresso, desvendando à Humanidade os seus destinos; e já vemos a sua força pelo número de adeptos e a facilidade com que é compreendido. Vai provocar uma transformação moral ativa e, pela multiplicidade das comunicações mediúnicas, o coração e o Espírito de todos os encarnados serão trabalhados pelos Espíritos amigos e instrutores. Dessa instrução vai surgir um novo impulso científico, porquanto novas vias serão abertas à Ciência, que dirigirá suas pesquisas para as novas forças da Natureza, que se revelam; as faculdades humanas que já se desenvolvem, desenvolver-se-ão ainda mais pelo trabalho mediúnico.

Acolhido inicialmente pelas almas ternas e inconsoláveis pela perda de parentes e amigos, o Espiritismo o foi em seguida pelos infelizes deste mundo, cujo número é grande, e que têm sido encorajados e sustentados em suas provações por sua doutrina, ao mesmo tempo tão suave e confortadora; propagou-se,assim, rapidamente, e muitos incrédulos admirados, que a princípio o estudaram como curiosos, foram convencidos quando, por si mesmos, nele encontraram esperanças e consolações.

Hoje os sábios começam a inquietar-se e alguns deles o estudam seriamente e o admitem como força natural até agora desconhecida; aplicando a ele sua inteligência e seus conhecimentos já adquiridos, farão a Humanidade dar um imenso passo científico.

Mas os Espíritos não se limitam à instrução científica; seu dever é duplo e eles devem, sobretudo, cultivar a vossa moral. Ao lado dos estudos da Ciência, eles vos farão, e já fazem desde agora, trabalhar o vosso próprio eu. Os encarnados inteligentes e desejosos de progredir compreenderão que sua desmaterialização é a melhor condição para o estudo progressivo, e que sua felicidade presente e futura a isto está ligada.

Observação – É assim que o mundo, depois de haver alcançado um certo grau de elevação no progresso intelectual, vai entrar no período do progresso moral, cuja rota o Espiritismo lhe abre. Esse progresso realizar-se-á pela força das coisas e levará naturalmente à transformação da Humanidade, pelo alargamento do círculo das idéias no seu sentido espiritual, e pela prática inteligente e raciocinada das leis morais, ensinadas pelo Cristo. A rapidez com que as idéias espíritas se propagam no próprio meio do materialismo, que domina a nossa época, é indício certo de uma pronta mudança na ordem das coisas. Basta para isto a extinção de uma geração, pois a que se ergue já se anuncia sob auspícios completamente diferentes.

terça-feira, 31 de março de 2015

Mural reflexivo: Costumes atuais

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Costumes atuais

      No mundo atual, estamos nos acostumando a muitas coisas como se fossem normais.

      Estamos nos acostumando a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que as janelas ao redor. E, por não ter uma bela vista, logo nos acostumamos a não olhar para fora.

      Porque não olhamos para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todo as cortinas, o que nos leva a acender mais cedo a luz. Com isso, vamos esquecendo o sol, o ar, a amplidão.

      Estamos acostumados a acordar pela manhã em sobressalto porque está na hora. Tomamos o café correndo porque estamos atrasados e lemos o jornal enquanto comemos para não perder tempo.

      Estamos acostumados a comer sanduíche porque não dá tempo de almoçar. A sair do trabalho porque já é noite e a cochilar no sofá porque estamos muito cansados.

      Deitamos cedo, dormimos pesado, sem ter vivido inteiramente o dia.

      Estamos nos acostumando a abrir o jornal e a ler sobre a guerra e os mortos que ela produz. Estamos nos acostumando com o grande número de mortos. E, por causa disso tudo, não acreditamos mais nas negociações de paz.

      Estamos nos acostumando a esperar o dia inteiro por uma ligação importante e quando o telefone toca, ouvimos: Hoje não posso ir.

      Estamos acostumados a sorrir sem receber um sorriso de volta. A sermos ignorados quando gostaríamos de ser notados.

      Estamos acostumados a pagar por tudo o que desejamos e necessitamos.

      Estamos acostumados com as salas fechadas, com o ar condicionado, com a luz artificial e até com a contaminação do mar e a lenta morte dos rios.

      Vivemos tão fechados que nos acostumamos a não ouvir passarinhos, a não ter galo cantando na madrugada, a não colher fruta no pé.

      Estamos nos acostumando a coisas demais e nos tornando indiferentes.

      Somos tantos no planeta que estamos nos acostumando a ouvir falar de desaparecimentos e mortes como simples números estatísticos. Estamos nos esquecendo de ser humanos, de sentir, viver e amar.

      Estamos nos esquecendo que somos filhos de Deus, Espíritos imortais, criados para o amor.

      Por isso, vamos recomeçar a reparar nas coisas pequenas e a dar importância a elas.

      *  *  *

      Cada flor é única. Cada rosto é especial. Cada manhã de sua vida é diferente.

      Preste atenção nas coisas que parecem insignificantes. Perceba as flores.

      Se não há jardim onde você mora, observe os canteiros floridos das ruas e praças por onde passa.

      Observe o pôr do sol. Nunca houve, nem haverá dois crepúsculos exatamente iguais, desde o começo dos tempos.

      Observe a dinâmica da vida que está em todo lugar e não se deixe levar pela acomodação perigosa. Cultive a alegria de viver. Comece hoje, comece agora.

(Redação do Momento Espírita com base no texto Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia, de Marina Colassanti e no cap. Tornando-se você, do livro Vivendo, amando e aprendendo, de Leo Buscaglia, ed. Nova era)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo

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EESE – Cap. IX – Itens 5 a 8
Tema:   Reconciliação com os adversários
O sacrifício mais agradável a Deus
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A - Texto de Apoio:
Reconciliação com os adversários
5. Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. - Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil. (S. MATEUS, cap. V, vv. 25 e 26.)
6. Na prática do perdão, como, em geral, na do bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. A morte, como sabemos, não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam rancor; donde decorre a falsidade do provérbio que diz: "Morto o animal, morto o veneno", quando aplicado ao homem. O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite, para os punir do mal que a seu turno praticaram, ou, se tal não ocorreu, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando. Importa, conseguintemente, do ponto de vista da tranqüilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissensão, toda causa fundada de ulterior animosidade. Por essa forma, de um inimigo encarniçado neste mundo se pode fazer um amigo no outro; pelo menos, o que assim procede põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que aquele que perdoou sofra qualquer vingança. Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a justiça de Deus.
O sacrifício mais agradável a Deus
7. Se, portanto, quando fordes depor vossa oferenda no altar, vos lembrardes de que o vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, - deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso irmão; depois, então, voltai a oferecê-la. - (S. MATEUS, cap. V, vv. 23 e 24.)
8. Quando diz: "Ide reconciliar-vos com o vosso irmão, antes de depordes a vossa oferenda no altar", Jesus ensina que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda será bem aceita, porque virá de um coração expungido de todo e qualquer pensamento mau. Ele materializou o preceito, porque os judeus ofereciam sacrifícios materiais; cumpria--lhe conformar suas palavras aos usos ainda em voga. O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada. Entrando no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno. Eis aí o que ensina Jesus por estas palavras: "Deixai a vossa oferenda junto do altar e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiserdes ser agradável ao Senhor."
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 – Por que devemos nos reconciliar com prováveis adversários enquanto estamos a caminho?
2 – Qual é o sacrifício mais agradável a Deus? Explique.
3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.










domingo, 29 de março de 2015

E, aí!! Já viu?!

 

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Título: O Céu é de Verdade

Lançamento: 3 de julho de 2014 (1h40min) 

Dirigido por :Randall Wallace

Com :Kelly Reilly, Greg Kinnear, Connor Corum mais

Sinopse Livre: Todd Burpo (Greg Kinnear) é o pastor de uma igreja em Nebraska, que conta com uma congregação bastante fiel. Casado com Sonja (Kelly Reilly), ele enfrenta uma situação complicada quando seu filho, Colton (Connor Corum), precisa ser operado às pressas devido a uma apendicite. Após se recuperar, o garoto diz ao pai que anjos vieram cantar para ele durante a operação. Todd pergunta mais sobre a experiência e fica espantado quando Colton lhe diz que viu situações que ocorreram quando o garoto não estava desperto. Convicto de que o filho visitou o paraíso, Todd passa a questionar sua própria fé naquilo que pregava até então.

COMENTÁRIO:

O Céu É de Verdade?

Raphael Vivacqua Carneiro

O filme “O céu é de verdade”, baseado em livro homônimo de Todd Burpo, narra fatos reais e admiráveis passados na pequena cidade Imperial, no interior dos Estados Unidos, em 2003. Todd é dedicado pai de família, dono de um pequeno negócio, voluntário no corpo de bombeiros e na escola local.

É também pastor protestante, benquisto em sua congregação. Apesar de passar por alguma dificuldade financeira, levava uma vida tranquila, até que a sua fé foi abalada, pelos eventos ocorridos com seu filho Colton, de quatro anos. Ele teve uma crise de apendicite supurada e foi submetido a uma cirurgia de emergência, ficando à beira da morte. Temendo a iminente perda do filho, Todd entrou em desespero. A sós, na capela do hospital, despejou toda a sua raiva e frustração: “Deus, depois de tudo o que fiz por você... É assim que você trata os seus pastores?”
Depois de vários dias no hospital, o menino ficou recuperado. A vida dos Burpo aos poucos retornava à normalidade, quando o pequeno Colton causou um abalo ainda maior na família e na comunidade. Ele descreveu reiteradamente, com clareza e serenidade, as experiências que teve durante a sua cirurgia. Ele viu-se afastado do próprio corpo, acompanhando o que se passava no hospital, inclusive a ação dos médicos. Contou que esteve no paraíso, um lugar de muitas cores e luz, onde os anjos cantavam e Jesus veio conversar com ele. Todd mostrou-lhe alguns retratos pintados e perguntou se Jesus era assim. O menino disse que a túnica era igual, mas o rosto era diferente. A riqueza de detalhes e a consistência das narrativas eram incompatíveis com a mentalidade de uma criança tão pequena. O pai entendeu que o filho tivera uma EQM (experiência de quase-morte), mas preferiu atribuir todas aquelas coisas à imaginação infantil.
A situação ficou perturbadora, quando o menino passou a relatar fatos reais que ninguém havia lhe contado. Disse ter visto o pai gritar furioso contra Deus na capela do hospital e a mãe chorar ao telefone na sala de espera. Como ele podia ter visto estas cenas, estando desacordado na mesa de cirurgia? A dúvida inquietava a mente do pastor Todd Burpo – um pregador da palavra de Deus que não conseguia decifrar se estava diante de um sinal dos céus ou de uma mera fantasia. Pela segunda vez era colocado à prova e, novamente, mostrava-se abalado e vacilante. Diante de tantos conflitos íntimos, a congregação cogitou destituí-lo das suas funções pastorais. No fundo, tanto o pastor, como também os fiéis daquela comunidade, via-se crivado de dúvidas sobre o que a própria religião pregava. Afinal, o céu é de verdade?
A situação chegou ao clímax quando o menino Colton contou ter encontrado no céu o seu bisavô Pop, que falecera 20 anos antes e era desconhecido dele. Todd então mostrou uma foto de Pop para o menino e perguntou-lhe se era o homem que havia visto. O menino negou, alegando que não havia pessoas idosas no céu. Ao ver outra foto, em que o bisavô estava jovem, afirmou: “Este é o Pop!” Em seguida, disse que também encontrara no céu a sua segunda irmãzinha e que ela informara ter falecido quando ainda estava no ventre da mãe. Esta gravidez malsucedida havia ocorrido algum tempo antes de Colton nascer, e isto jamais lhe havia sido contado. Como podia saber de todas essas coisas? O pastor enfim rendeu-se às evidências de que o filho realmente tivera uma experiência espiritual, por mais espantosa que fosse.
Tivesse ciência das explicações racionais que o Espiritismo oferece e de todos os relatos da espiritualidade, decerto o espanto do pastor seria bem reduzido e as suas dúvidas seriam sanadas com maior facilidade. Saberia que a alma humana pode emancipar-se do corpo durante o sono, as enfermidades, os fenômenos de dupla vista e outros. Nesse estado, pode vivenciar fatos no plano terreno ou nas dimensões espirituais, entrando em contato direto com outras almas. Ao retornar ao corpo, pode guardar lembrança, vaga ou nítida, desses fatos vividos no plano espiritual. As experiências de EQM são fatos bem naturais, dentro do contexto espírita. As personalidades preservam-se na vida além-túmulo; portanto, o encontro com um bisavô ou uma irmãzinha falecida é algo perfeitamente natural. Os relatos espíritas sobre os planos elevados coincidem com os de Colton: são povoados por Espíritos de luz, com aspecto mais jovial e saudável do que apresentavam em seus últimos dias de vida. Jesus e os anjos que Colton afirma ter visto podem ser Espíritos benfeitores quaisquer; contudo isto não descaracteriza o fenômeno espiritual vivenciado.
Mesmo de posse de todo este conhecimento proporcionado pela Doutrina Espírita e de todos os testemunhos trazidos pela espiritualidade, nós espíritas também somos frequentemente testados e chamados à reflexão. Quantas vezes a nossa fé raciocinada é colocada à prova pela força dos acontecimentos e quantas vezes vacilamos nesses momentos cruciais? A construção da fé é um processo gradual e uma conquista do ser humano; é também uma prova pela qual temos de passar. O divino mestre advertia os seus discípulos: “Ó raça incrédula, até quando estarei convosco?” Quando tivermos a fé do tamanho de um grão de mostarda, nada nos será impossível.

Raphael Vivacqua Carneiro - 13 de outubro de 2014