Como Zibia Gasparetto transformou sua
mediunidade num império de comunicação, com 41 livros publicados, 16 milhões de
exemplares vendidos e presença no rádio, na tevê e na internet
por João Loes
A fila já dava voltas no auditório da livraria de
um shopping da zona norte de São Paulo. Eram 20 horas de uma quinta-feira do mês
de maio, dia de trânsito complicado na cidade, mas ninguém dava sinal de que
arredaria os pés antes de conseguir um autógrafo e uma foto com a estrela da
noite, a escritora, médium, líder espiritual e empresária Zibia Gasparetto, 86
anos. Convidada pela rede de lojas, ela havia falado durante 35 minutos para o
público e agora atendia, um a um, os cerca de 150 fãs que aguardavam para
conhecê-la e ganhar um exemplar assinado do livro “Só o Amor Consegue”, o 41º da
carreira da autora, lançado em março e já com 80 mil cópias vendidas. “Qual o
seu nome, minha filha?”, perguntava Zibia às moças, grande maioria, que chegavam
com a obra na mão, para depois confirmar a grafia do sobrenome e colocar uma
singela dedicatória: “Com carinhoso abraço, alegria e luz, Zibia Gasparetto”.
Quando o salão esvaziou, perto das 22 horas, seis funcionárias da livraria
apareceram, esbaforidas, com suas cópias do romance para garantir o autógrafo.
Mesmo cansada e com dor no pulso, fruto de uma tendinite crônica, atendeu
sorridente: “Claro, meu bem, pode vir”, disse.
Soberana do romance mediúnico no Brasil, Zibia
Gasparetto escreve livros a partir das mensagens que diz ouvir dos espíritos que
a acompanham desde os anos 1950. Carinhosa com os fãs e dura nos negócios, a
octogenária, que já publica há 55 anos e contabiliza 16 milhões de livros
vendidos, construiu, ao lado dos filhos e netos, um verdadeiro império espírita,
com ramificações no rádio, na internet, na televisão e no mercado de palestras).
No ramo editorial, onde tudo começou, é ela própria quem comanda a editora e
gráfica Vida e Consciência, empresa em franco processo de crescimento. Segundo
sua filha e sócia, Silvana Gasparetto, 45 anos, a impressão mensal de livros da
empresa, que fechou 2012 com 300 mil unidades, já chegou a 500 mil no primeiro
semestre de 2013 e deve bater as 650 mil unidades até o começo de 2014. “A
terceira máquina que compramos começa a rodar em breve”, diz Silvana, da
espaçosa sala que ocupa no quarto e último andar da sede do grupo, no bairro do
Ipiranga, zona sul de São Paulo.
Poucas coisas dão a dimensão do poder dos
Gasparetto quanto uma ida à sede da gráfica e editora Vida e Consciência. Quem
vê o prédio por fora pode fazer pouco do espaço, uma construção antiga, com
aspecto de fábrica. Mas uma visita ao que há do outro lado do muro,
principalmente ao quarto andar, onde fica a diretoria, mostra bem o que 16
milhões de livros vendidos podem comprar. O espaço impressiona pela beleza e
conforto. Com pé-direito de mais de quatro metros, piso de madeira de demolição,
detalhes em pastilhas de vidro e mobiliário refinado, ele lembra uma luxuosa
cobertura de prédio. Um grande jardim com fonte adornada por belos conjuntos de
ladrilhos hidráulicos circunda metade do andar. Zibia e Silvana têm acesso
exclusivo a ele das enormes salas que ocupam, uma vizinha à outra. E, se o tempo
estiver frio para um passeio pelo espaço verde, elas podem optar por ficar em
uma terceira sala de pelo menos 80 metros quadrados no mesmo quarto andar.
Iluminada por janelões de vidro com impecáveis caixilhos brancos, ela tem sofás
e poltronas, além de uma pequena cozinha e uma imensa mesa onde a matriarca
almoça todo dia, às 12h30. “Gosto daqui, mas, para escrever, preciso estar na
minha sala”, diz Zibia.
O ritual para receber os livros de seu guia
espiritual, Lucius, que nas últimas cinco décadas lhe transmitiu 26 romances,
sendo “Só o Amor Consegue” o 27º, é o mesmo da década de 1950. Três vezes por
semana, por volta das 15h30, a médium mais famosa do Brasil se senta agora
diante do computador, diminui a luz, liga uma música suave e lê a última frase
do romance em que deseja trabalhar – pelo menos três são escritos
simultaneamente. Como mágica, a voz de timbre familiar surge do silêncio e a
narração recomeça. “Tenho consciência absoluta do que está acontecendo, não é um
transe”, afirma a pioneira no uso do computador para psicografar no Brasil.
“Apenas sinto uma grande alegria, e meus pensamentos e raciocínios passam a ser
ágeis e leves.”
Nem sempre, porém, o contato com os espíritos foi
agradável para a matriarca dos Gasparetto. A primeira experiência mediúnica, por
exemplo, foi traumática. Católica, recém-casada e com um filho de colo, Zibia,
então com 22 anos, despertou uma noite sentindo um estranho formigamento pelo
corpo. Ainda que incomodada, continuou na cama, na esperança de que aquilo
passasse. O desconforto, porém, foi crescendo até que, subitamente, ela começou
a falar em alemão, língua que desconhecia. Assustado, seu marido, Aldo, correu
até a casa de uma vizinha em busca de ajuda. A senhora foi até a casa, fez uma
prece e garantiu: aquilo era “coisa de espírito”. “No dia seguinte meu marido
foi até a Federação Espírita Brasileira (FEB) para comprar alguns livros sobre o
assunto e, em pouco tempo, estávamos fazendo o evangelho do lar em casa”, diz a
autora.
O incômodo sumiu e um ano se passou até que, um
dia, durante o Evangelho, Zibia começou a sentir dor no braço. A mão, então,
passou a se mexer sozinha e o marido, mais adiantado nas leituras espíritas,
pegou papel e lápis e deu à mulher, que começou a escrever. “Eram coisas
desconexas no começo, mas depois passaram a fazer sentido”, afirma a médium. Com
visitas ao centro espírita “Seara do Mestre”, no bairro do Ipiranga, a
mediunidade foi afinando até que ela passou a ouvir uma voz masculina que
parecia ditar uma narrativa. Curiosa para ver como acabava a história, sentava
para colocar o que ouvia no papel sempre que podia. Já com dois filhos, porém,
ela não conseguia se dedicar como gostaria. “O primeiro livro, ‘O Amor Venceu’,
levou cinco anos para ficar pronto”, diz. Talvez como prêmio pela determinação e
compromisso, Lúcius, que havia ditado o livro, mas ainda não havia se
apresentado, finalmente se identificou, assinando a última página. “Acho que ele
se sentiu satisfeito com a parceria”, afirma a autora.
Até hoje, “O Amor Venceu” (1958) que, como não
poderia deixar de ser, conta uma história de amor, só que no Egito antigo,
vendeu mais de meio milhão de cópias. Foi, ao mesmo tempo, o livro que abriu o
universo espírita para milhões de brasileiros, por tratar do tema de forma leve
e romanceada, e colocou Zibia no mapa dos mundos mediúnico e editorial. Recheado
de referências a Allan Kardec, que sistematizou a doutrina, e ao espiritismo
formal, o título estabeleceu uma espécie de formato para boa parte dos romances
da médium até a segunda metade dos anos 1990 – ricamente descritivos, longos,
com enredos que se passam em tempos e países distantes e versando sobre temas
universais, como amor e ódio, felicidade e sofrimento, justiça e injustiça e fé
e incredulidade. Entre 1958 e 1993, Zibia publicou dez romances nesse estilo,
entre eles um de seus maiores best-sellers, “Laços Eternos”, de 1976, que já
vendeu 825 mil cópias e cuja adaptação para o teatro, em cartaz desde 1991,
atraiu mais de 200 mil espectadores.
Ainda que colhendo resultados expressivos até
meados dos anos 1990 dentro do formato que criou na década de 1950, Zibia, em
seus contatos com livreiros e já com experiência como dona de editora – em 1982,
ela fundou a Editora Caminheiros –, começou a perceber que o perfil do leitor de
obras espíritas no Brasil estava mudando. Certo dia, então, o espírito Lucius,
segundo a autora, igualmente antenado, deu os primeiros sinais de que mudaria o
estilo de suas narrativas. Mas foi só no romance de número 11, intitulado “Pelas
Portas do Coração”, de 1995, que a mudança se concretizou. De leitura mais ágil,
apoiado em diálogos e quase sem referências ao espiritismo ou a Allan Kardec e
com trama contemporânea, o título marcou o início de uma segunda, e mais voraz,
etapa da produção literária da autora. “Mudei por orientação dos espíritos”,
afirma. “Lucius me disse que precisava sair do rótulo espírita.” Outra
influência, essa mais terrena, também contribuiu para viabilizar a guinada da
médium para o mercado. Na época, Luiz Gasparetto, seu filho, então com 46 anos,
estava promovendo uma verdadeira revolução no espiritismo nacional. Seus outros
dois filhos, Pedro e Irineu, também são médiuns. Pedro administra o curtume da
família em Mogi das Cruzes e Irineu é músico e apresentador de rádio. Luiz,
prático e despojado como poucas lideranças da sisuda religião, já era referência
mundial no ramo da pintura mediúnica, tinha em seu currículo passagens por
centros de referência em estudo de terapias alternativas e vinha dando
disputadas palestras motivacionais com discurso que misturava as bases do
espiritismo com técnicas de aprimoramento pessoal propaladas pelo movimento
“Nova Era”.
Com uma visão completamente diferente do sucesso
e, principalmente, do dinheiro, Luiz eliminou a noção de que o trabalho
mediúnico devia ser gratuito, como pregava a Federação Espírita. E Zibia acolheu
as orientações do filho. Fechou a “Associação Cristã de Cultura Espírita Os
Caminheiros”, um centro espírita clássico fundado em 1969 pela família
Gasparetto e mantido com dinheiro das vendas de seus livros, e passou a se
dedicar exclusivamente à nascente Vida e Consciência, editora fundada por ela
com os filhos Luiz e Silvana. Nos dez anos seguintes, entre 1995 e 2005,
produziu o que havia levado 37 anos para fazer quando ainda dividia seu tempo
com as obrigações e compromissos espíritas. “É curioso observar as mudanças na
produção literária de Zibia depois das novidades apresentadas pelo Luiz”, afirma
Sandra Jacqueline Stoll, doutora em antropologia social pela Universidade de São
Paulo (USP) e autora do livro “Espiritismo à Brasileira” (Edusp, 2003). Pendendo
pesadamente para a auto-ajuda, mas ainda com a rubrica de Lucius, seus novos
livros venderam como água. O maior best-seller da carreira, “Ninguém é de
Ninguém”, por exemplo, foi lançado em 2000 e vendeu 860 mil cópias. “Ela passou
a seguir um ritmo de lançamentos parecido com o dos grandes autores”, diz
Sandra. Com pelo menos um livro novo por ano, sempre em outubro, para pegar
carona nas compras de Natal, ela chegou a emplacar dois títulos simultaneamente
na lista de mais vendidos do País, feito que só autores do quilate de Paulo
Coelho haviam conseguido.
“Hoje não tenho religião, mas não me incomodo de
ser chamada de espiritualista”, diz Zibia. A tolerância com a nova categorização
faz sentido. Para Reginaldo Prandi, professor do departamento de sociologia da
USP e autor do livro “Os Mortos e os Vivos” (Ed. Três Estrelas, 2012), é
justamente no chamado espiritualismo que boa parte dos egressos do espiritismo,
sedentos pela livre associação da doutrina ortodoxa da religião com novidades
como a cromoterapia, a energização de cristais e a autoajuda, vai se encaixar.
“É um grupo que reúne quem não tem interesse em se conformar com conjuntos de
regras”, afirma.
Mas a guinada que levou os Gasparetto a se
distanciarem dos preceitos balizadores do espiritismo não veio sem críticas.
Para muitos, a máxima do “dai de graça o que recebestes de graça” foi relegada
em nome da vaidade e do dinheiro. Muitos exigiam, inclusive, que Zibia abrisse
mão dos direitos autorais dos livros que recebia dos espíritos, como fez Chico
Xavier, o maior psicógrafo brasileiro de todos os tempos. “O Chico abriu mão dos
direitos dos livros dele, mas uma vez chorou para mim, arrependido do que tinha
feito”, revela Zibia.
Não dá para negar que, à sua maneira, a autora
mediúnica trabalha pela expansão do que ela acredita ser o caminho certo para o
espiritualismo no Brasil. Além do compromisso com a produção de livros, ela hoje
tem um programa semanal de rádio e, no começo do ano, lançou uma rede de
televisão na internet. Batizada de Alma e Consciência TV (ACTV), ela é
administrada por seu neto René Gasparetto, tem quatro horas diárias de
programação e, em breve, deve começar a produzir telenovelas baseadas nos livros
da matriarca. “É um projeto que começou há um ano e meio e ainda dá prejuízo,
mas é uma aposta nossa”, diz Silvana. Mais uma frente que se abre para a família
que, liderada por Zibia Gasparetto, construiu um império espírita que não para
de crescer.
"Não tenho
religião"
Para a matriarca do clã Gasparetto,
não há problema em ganhar dinheiro com a mediunidade
ISTOÉ
- Há quem critique a sra. por ganhar dinheiro com o
trabalho dos espíritos. Como responderia a essas
pessoas?
Zibia Gasparetto
- O que essas pessoas têm contra o dinheiro? Como alguém vai
fazer o trabalho que eu faço sem dinheiro? Recebo pelo tempo que dou para a
empresa, que é um tempo que dedico à escrita, à escolha de acabamento dos livros
e à administração do negócio. Sou uma exímia secretária e recebo para dar
prosseguimento ao trabalho dos espíritos. O dinheiro é do mundo! E fica aqui. A
gente responde pelo que faz com o dinheiro e eu estou fazendo bom uso
dele.
ISTOÉ
- O que a sra. diria a quem não acredita em
mediunidade?
Zibia
- Nada. A vida mostra que a mediunidade é verdadeira no momento
certo para cada um de nós. Não tenho a menor pretensão de falar para quem não
quer me ouvir, não vou perder meu tempo. Não vou dar pérolas aos porcos, como
dizia Jesus.
ISTOÉ
- A sra. já duvidou da própria
mediunidade?
Zibia
- As pessoas que não são médiuns costumam pensar que existe essa
dúvida, mas, para quem é médium, ela não existe. Não faz sentido duvidar de uma
coisa que é certa, que se prova, dia após dia, como algo muito real. Faço isso
há 60 anos, passo muito tempo com eles (os espíritos) e já tive a oportunidade
de desconfiar, mas tenho certeza de que são eles que falam comigo.
ISTOÉ
- Qual é a religião da
sra.?
Zibia
- Não tenho religião, mas não me incomodo de ser chamada de
espiritualista. A verdade é que eu não tenho interesse em limitar as minhas
experiências, que são mais universais que as que eu tinha quando era
espírita.
ISTOÉ
- A morte, afinal, é uma coisa boa ou
ruim?
Zibia
- A morte é uma coisa boa! A gente tem medo porque não sabe como
vai morrer, mas a morte em si é boa. A passagem é tranquila e há muitos
espíritos que ajudam. Não há o que temer.
ISTOÉ
- Que limites o espiritismo da Federação Espírita
Brasileira impôs à sra.?
Zibia
- Sou muito grata à Federação e ao espiritismo kardecista.
Frequentei a Federação e dei aula na escola de médiuns deles durante 27 anos. E
o que eu aprendi lá serviu de base para todo o meu trabalho. Mas tem muita coisa
boa que eles não aceitam, como a umbanda e a sabedoria dos pretos velhos e dos
caboclos, por exemplo, ou a livre interpretação da revelação espiritual. Há um
certo preconceito com o diferente, que limita o trabalho. E o que eu faço vai
fundo, busca uma essência que só existe na pluralidade.
ISTOÉ
- A sra. acredita em cirurgias espirituais, com ou
sem corte?
Zibia
- Acredito tanto nas com corte quanto nas sem corte. Aliás, boa
parte dos médiuns que fazem esse trabalho só cortam para convencer os
descrentes. É o que faz o João de Deus, por exemplo, em Abadiânia, Goiás. Que
homem incrível! Tenho contato com ele, mando meus livros e ele costuma me mandar
umas pedrinhas e uma água que ele abençoa. Ele faz coisa parecida como que fazia
o Zé Arigó. Às vezes dá aflição de ver, mas admiro muito.
Luiz Gustavo C. Assis*
comenta
A matéria de capa da Revista “ISTOÉ” trouxe uma
reportagem interessante para o nosso estudo conjunto e que nos leva, de alguma
forma, a esclarecer alguns pontos, uma vez que, para quem não conhece o
espiritismo a fundo, pode trazer algumas confusões e mal entendidos. Daí, surge
a necessidade de tratarmos alguns equívocos colocados na matéria e que não estão
de acordo com a Doutrina Espírita.
A princípio, destacamos, que não possuímos a menor
condição de julgar a quem quer que seja. Portanto, nosso foco aqui será apenas o
esclarecimento de pontos doutrinários espíritas e não o julgamento da médium,
que outrora tanto contribuiu com o nosso movimento.
Vale iniciarmos nosso estudo com a frase estampada
na capa da revista semanal: “O império espírita de Zíbia Gasparetto”. A senhora
Zíbia Gasparetto, como sabemos, foi durante muito tempo, conforme relato
próprio, trabalhadora das lides espíritas, mas, hoje, por desposar princípios
diferentes da Doutrina Espírita, não se apresenta mais como trabalhadora
espírita, mas como espiritualista. Além disso, conforme sabemos, o espiritismo é
contra a mercantilização e a venda de materiais obtidos mediunicamente, pois
segue o ensinamento do Cristo “Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis
recebido” (S. MATEUS, 10:8.). Dessa forma, percebemos que a frase da capa, não
está de acordo com os princípios pregados pelo espiritismo e nem com o que foi
descrito na própria matéria, uma vez que a própria Zíbia se diz sem religião,
mas que aceita o ser chamada de espiritualista. O certo, portanto, seria “O
império espiritualista de Zíbia Gasparetto”.
Isto posto, importa nos manifestarmos sobre outro
ponto importante colocado na matéria, a confusão feita entre espiritismo,
espiritismo kardecista, espiritualismo e umbanda.
Devemos esclarecer que somos espíritas, não
espíritas Kardecistas. O termo Kardecista foi criado por outros grupos para
designar os espíritas quando da popularização do termo e da utilização do termo
espírita por outros credos, que não o espiritismo, tais como a Umbanda, o
Candomblé, entre outros... Como sabemos, os termos espiritismo, espiritistas ou
espíritas foram criados por Kardec, em O Livro dos Espíritos, e citados
por ele na introdução desta obra.
Como nos fala a FEB (para ler mais acesse:
http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/a-revelacao-espirita/), a palavra Espiritismo é um neologismo criado por Allan Kardec,
utilizado pela primeira vez na introdução de O Livro dos Espíritos:
“Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da
linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos
termos. [...] Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregaremos,
para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo. [...]
Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as
relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os
adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se quiserem, os espiritistas
[...]”
Assim os espíritas, ou espiritistas, são os
adeptos do Espiritismo, e não espíritas kardecistas, conforme consta na
matéria.
Já o espiritualismo é o oposto do materialismo.
Segundo Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, “quem quer que acredite
haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue
daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o
mundo visível”. O espiritualismo é precedente ao espiritismo, e o espiritismo
está contido no espiritualismo, uma vez que acredita em algo além da matéria,
mas nem todo espiritualista é espírita, como é o caso da própria
Zibia.
No que diz respeito à Umbanda, faz-se necessário
esclarecer que o espiritismo respeita todos os credos, todas as religiões, isto
inclui a Umbanda. Como muito bem nos explica a Federação Espírita Brasileira, “o
espiritismo valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela
confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens,
independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou
social”. Reconhece que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de
justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”. Contudo, vale destacar que
a Umbanda e o Espiritismo são religiões diferentes e não “braços” da mesma
religião. Além disso, a Umbanda não é um ramo “dissidente” do espiritismo, como
fica parecendo na matéria, mas uma religião espiritualista surgida no Brasil,
através da influência do catolicismo e do espiritismo (segundo os próprios
umbandistas), da cultura negra e da cultura Ameríndia. Mas, reforçamos, a
Umbanda não é espiritismo. A confusão é gerada normalmente porque, ambas, tanto
o espiritismo quanto a umbanda, acreditam e trabalham com a mediunidade, porém,
de formas diferentes. Necessário, portanto, esclarecermos, também, o que é
mediunidade.
Mediunidade, nos utilizando, uma vez mais, das
explicações disponíveis no site da Federação Espírita Brasileira, é o “que
permite a comunicação dos Espíritos com os homens, é uma faculdade que muitas
pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente da religião ou da diretriz
doutrinária de vida que adotem. Mas atenção: prática mediúnica espírita só é
aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da
moral cristã. Portanto, em hipótese alguma o médium poderá cobrar dinheiro,
exigir ou aceitar qualquer forma de recompensa (presentes, dádivas, agrados,
etc.) por suas atividades mediúnicas”.
A mediunidade sempre esteve presente na história
da humanidade, porém, não foi criada pelo espiritismo e nem por Allan Kardec,
que a estudou. Foi a partir da comunicação dos espíritos, através da
mediunidade, que surgiu o espiritismo, mas a pessoa pode ser médium, se utilizar
das comunicações mediúnicas, sem ser necessariamente espírita, o que geralmente
confunde grande parte das pessoas. Então, médium espírita é aquele que segue as
orientações contidas na codificação espírita e dentro da moral cristã. Por isso,
a médium Zibia Gasparetto, de forma muito honesta, afirma não ser mais espírita,
pois não segue mais os princípios espíritas, mas continua médium. Da mesma
forma, um médium umbandista, ou de qualquer outra religião, não se torna
espírita apenas por ser médium.
Prezados leitores, este comentário, conforme já
escrevemos, teve o objetivo apenas de esclarecer alguns pontos a respeito de
matéria publicada em revista semanal de grande circulação no Brasil. Não houve
aqui nenhuma pretensão de crítica, ou de sermos os “donos da verdade”, mas de
tornar claro o ponto de vista da doutrina espírita a respeito dos diversos
aspectos equivocados contidos na matéria. Respeitamos todas as religiões e todos
os pontos de vista. Acreditamos, também, que não é o rótulo religioso que
“salva” alguém, mas seus atos, a caridade que pratica, por isso acreditamos na
máxima: “Fora da Caridade não há Salvação”. Portanto, amemo-nos uns aos outros,
conforme nos ensinou o Mestre Jesus, independente de religião ou de crenças.
Respeitemo-nos e trabalhemos procurando ajudar a todos que precisam do amor que
emana do Mestre Jesus e que nos envolve a todos.
Para reforçarmos ainda mais, destacamos alguns
princípios básicos da Doutrina Espírita, conforme divulgado pela Federação
Espírita Brasileira, para aqueles que ainda não a conhecem a fundo:
· Deus é a inteligência suprema, causa primeira de
todas as coisas. é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente
justo e bom.
· Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos
encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos
Espíritos desencarnados.
· O homem é um Espírito encarnado em um corpo
material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo
material.
· Espíritos são os seres inteligentes da criação.
Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo.
· Os Espíritos são criados simples e ignorantes.
Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra
mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
· Os Espíritos preservam sua individualidade,
antes, durante e depois de cada encarnação.
· Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas
forem necessárias ao seu próprio aprimoramento.
· Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas
existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu
progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à
perfeição.
· Os Espíritos pertencem a diferentes ordens,
conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que
atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que
predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do
mal e pelas paixões inferiores.
· As relações dos Espíritos com os homens são
constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem,
sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e
resignação. Os imperfeitos nos induzem ao erro.
· Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade.
E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de
Deus.
· A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o
roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução
para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela
Humanidade.
· O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas
responde pelas consequências de suas ações.
· A vida futura reserva aos homens penas e gozos
compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus.
· A prece é um ato de adoração a Deus. Está na lei
natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a
ideia da existência do Criador.
· A prece torna melhor o homem. Aquele que ora com
fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia
bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa,
quando pedido com sinceridade.
* Luiz Gustavo C. Assis é psicólogo, trabalhador do Centro
Espírita Maranhense, em São Luís do Maranhão, e da equipe do
Espiritismo.net.