sábado, 11 de abril de 2015

Revista Espírita: O ESPIRITISMO E A FRANCO-MAÇONARIA


(Sociedade Espírita de Paris, 25 de fevereiro de 1864)

Nota – Nesta sessão foram dirigidos agradecimentos ao Espírito Guttemberg, com o pedido de tomar parte em nossas conversas, quando julgasse conveniente.

Na mesma sessão, a presença de vários dignitários estrangeiros da Ordem Maçônica motivou a seguinte pergunta: Que concurso o Espiritismo pode encontrar na Franco-maçonaria?

Várias dissertações foram obtidas sobre o assunto.

I

Senhor Presidente, agradeço o vosso amável convite. É a primeira vez que uma de minhas comunicações é lida na Sociedade Espírita de Paris e, espero, não será a última.

Talvez tenhais achado em minhas reflexões, um tanto longas sobre a imprensa, alguns pensamentos que não aprovais completamente. Mas, refletindo na dificuldade que sentimos ao nos pormos em relação com os médiuns e utilizar as suas faculdades, havereis de passar de leve sobre certas expressões ou modo de dizer, que nem sempre dominamos. Mais tarde a eletricidade fará a sua revolução mediúnica, e como tudo será mudado na maneira de reproduzir o pensamento do Espírito, não mais encontrareis essas lacunas por vezes lamentáveis, sobretudo quando as comunicações são lidas diante de estranhos.

Falastes da franco-maçonaria, e tendes razão de nela esperar encontrar bons elementos. O que se pede a todo maçom iniciado? Crer na imortalidade da alma, no Divino Arquiteto e em seres benfeitores, devotados, sociáveis, dignos e humildes. Ali se pratica a igualdade na mais larga escala. Há, pois, nessas sociedades uma afinidade com o Espiritismo de tal modo evidente que salta aos olhos.

A questão do Espiritismo foi posta na ordem do dia em várias lojas e eis o resultado: leram volumosos relatórios muito complicados a este respeito, mas não o estudaram a fundo, o que fez que nisto, como em muitas outras coisas, discutissem um tema que não conheciam, julgando por ouvir dizer, mais do que pela realidade. Entretanto, muitos maçons são espíritas e trabalham bastante na propagação dessa crença. Todos escutam, e se o hábito diz: Não, a razão diz: Sim.

Esperai, então, porque o tempo é um aliciador sem igual; por ele as impressões se modificam e, necessariamente, no vasto campo dos estudos, abertos nas lojas, o estudo espírita entrará como complemento; isto já está no ar. Riram, falaram; não riem mais, meditam.

Assim, tereis um seminário espírita nessas sociedades essencialmente liberais. Por elas entrareis plenamente neste segundo período, que deve preparar os caminhos prometidos. Os homens inteligentes da maçonaria vos bendirão por sua vez, pois a moral dos Espíritos dará um corpo a esta seita tão comprometida,tão temida, mas que tem feito mais bem do que se pensa. Tudo tem um parto laborioso, uma afinidade misteriosa; e se isto existe para o que perturba as camadas sociais, é muito mais verdadeiro para o que conduz o progresso moral dos povos.

Guttemberg (Médium: Sr. Leymarie)

II

Meu caro irmão em doutrina (o Espírito se dirige a um dos franco-maçons espíritas presentes na sessão), venho com alegria responder ao benévolo apelo que fazeis aos Espíritos que amaram e fundaram as instituições franco-maçônicas. Para consolidar essa instituição generosa, duas vezes derramei o meu sangue; duas vezes as praças públicas desta cidade ficaram tintas do sangue do pobre Jacques Molé. Caros irmãos, seria preciso dá-lo uma terceira vez? Direi com satisfação: não. Já vos foi dito: Quanto mais sangue, mais despotismo, mais carrascos! Uma sociedade de irmãos, de amigos, de homens cheios de boa vontade, que só desejam uma coisa: conhecer a verdade para fazer o bem! Eu ainda não me havia comunicado nesta assembléia. Enquanto falastes de ciência espírita, de filosofia espírita, cedi o lugar aos Espíritos que são mais aptos a vos dar conselhos sobre esses vários pontos e esperava pacientemente, sabendo que chegaria a minha vez. Há tempo para tudo, como há um momento para cada um. Assim, creio que soou a hora e é o momento oportuno. Posso, pois, darvos a minha opinião no que respeita ao Espiritismo e à francomaçonaria.

As instituições maçônicas foram para a sociedade um encaminhamento à felicidade. Numa época em que toda idéia liberal era considerada um crime, os homens precisavam de uma força que, embora inteiramente submissa às leis, não fosse menos emancipada por suas crenças, por suas instituições e pela unidade de seu ensino. Nessa época a religião ainda era, não uma mãe consoladora, mas uma força despótica que, pela voz de seus ministros, ordenava, feria, fazia tudo se curvar à sua vontade; era um assunto de pavor para quem quisesse, como livre-pensador, agir e dar aos homens sofredores alguma coragem e, no infortúnio, algum consolo moral. Unidos pelo coração, pela fortuna e pela caridade, nossos templos foram os únicos altares onde não se havia desconhecido o verdadeiro Deus, onde o homem ainda podia dizer-se homem, onde a criança podia esperar encontrar, mais tarde, um protetor, e o abandonado, amigos.

Vários séculos se passaram e cada um juntou algumas flores à coroa maçônica. Foram mártires, homens letrados, legisladores, que aumentaram a sua glória, tornando-se seus defensores e conservadores. No século dezenove vem o Espiritismo, com seu facho luminoso, dar a mão aos comendadores, aos rosa-cruzes, e com voz trovejante lhes grita: Vamos, meus irmãos; eu sou verdadeiramente a voz que se faz ouvir no Oriente e à qual o Ocidente responde, dizendo: Glória, honra, vitória aos filhos dos homens! Mais alguns dias e o Espiritismo terá transposto o muro que separa a maior parte do recinto do templo dos segredos; e, nesse dia, a sociedade verá florescer no seu seio a mais bela flor espírita que, deixando suas pétalas caírem, dará uma semente regeneradora da verdadeira liberdade. O Espiritismo fez progressos, mas no dia em que tiver dado a mão à franco-maçonaria, todas as dificuldades serão vencidas, todo obstáculo retirado, a verdade transparecerá e maior progresso moral será realizado; terá transposto os primeiros degraus do trono, onde logo deverá reinar.

A vós, saudação fraternal e amizade.

Jacques de Molé (Médium: Srta. Béguet)

III

Fiquei satisfeitíssimo em me juntar às discussões deste centro tão profundamente espiritualista, e venho a ele atraído por Guttemberg, como outro dia o fora por Jacquard.

A maior parte da dissertação do grande tipógrafo tratou da questão do ponto de vista do tear, e ele não viu nessa bela invenção senão o lado prático, material, utilitário. Ampliemos o debate e coloquemos a questão mais no alto.

Seria erro acreditar que a imprensa veio substituir a arquitetura, pois esta permanecerá para continuar seu papel historiógrafo, por meio de monumentos característicos, assinalados pelo espírito de cada século, de cada geração, de cada revolução humanitária. Não, dizemos bem alto, a imprensa nada veio derrubar; veio para completar, por sua obra especial, grande e emancipadora. Chegou na hora certa, como todas as descobertas que eclodem providencialmente aqui. Contemporâneo do monge que inventou a pólvora e que, por isso, revolucionou a velha arte das batalhas, Guttemberg trouxe uma nova alavanca à expansão das idéias. Não o esqueçamos: a imprensa não podia ter sua legítima razão de ser senão pela emancipação das massas e o desenvolvimento intelectual dos indivíduos. Sem essa necessidade a satisfazer, sem esse alimento, esse maná espiritual a distribuir, por muito tempo a imprensa ainda se teria debatido no vazio e não teria sido considerada senão um sonho de louco, ou uma utopia sem alcance. Não é assim que foram tratados os primeiros inventores,melhor dizendo, os primeiros que descobriram e constataram as propriedades do vapor? Fazei Guttemberg nascer nas ilhas Andaman e a imprensa aborta fatalmente.

A idéia, portanto, é a alavanca primordial que deve ser considerada. Sem a idéia, sem o trabalho fecundo dos pensadores, dos filósofos, dos ideólogos e, mesmo, dos monges sonhadores da Idade Média a imprensa teria ficado letra morta. Guttemberg pode, pois, acender mais de uma vela em honra aos dialéticos da escola,que fizeram germinar a idéia e burilar as inteligências. A idéia febril, que reveste uma forma plástica no cérebro humano, é e será sempre o maior motor das descobertas e das invenções. Criar uma necessidade nova no meio das sociedades modernas é abrir um novo caminho à idéia perpetuamente inovadora; é impelir o homem inteligente à busca do que satisfaça essa nova necessidade da Humanidade. Eis por que, por toda parte onde a idéia for soberana, onde for acolhida com respeito, enfim, onde os pensadores forem honrados, o progresso para Deus está garantido.

A franco-maçonaria, contra a qual tanto gritaram,contra a qual a Igreja romana foi pródiga em anátemas, nem por isto, deixou de sobreviver, abrindo de par em par as portas de seus templos ao culto emancipador da idéia. Em seu seio todas as questões mais graves foram tratadas e, antes que o Espiritismo tivesse aparecido, os veneráveis e os grão-mestres sabiam e professavam que a alma é imortal e que os mundos visível e invisível se comunicam entre si. É aí, nesses santuários onde os profanos não eram admitidos, que os Swedenborg, os Pasqualis, os Saint-Martin obtiveram resultados fulminantes; é aí onde essa grande Sofia, essa etérea inspiradora, veio ensinar aos primogênitos da Humanidade os dogmas emancipadores, onde 1789 hauriu seus princípios fecundos e generosos; é ai onde, muito antes dos vossos médiuns contemporâneos, precursores da vossa mediunidade, grandes desconhecidos, tinham evocado e feito aparecerem os sábios da antigüidade e dos primeiros séculos desta era; é aí... Mas eu me detenho. O quadro restrito de vossas sessões, o tempo que se escoa, não me permitem alongar-me, como gostaria, sobre esse assunto interessante. A ele voltaremos mais tarde. Tudo quanto direi é que o Espiritismo encontrará no seio das lojas maçônicas uma falange numerosa e compacta de crentes, não de crentes efêmeros, mas sérios, resolutos e inabaláveis em sua fé.

O Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e beneficentes da franco-maçonaria; sanciona as crenças que esta professa, dando provas irrecusáveis da imortalidade da alma; conduz a Humanidade ao objetivo que ela se propõe: a união, a paz,a fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro. Os espíritas sinceros de todas as nações, de todos os cultos e de todas as camadas sociais não se olham como irmãos? Entre eles não há uma verdadeira franco-maçonaria, com a só diferença de que, em vez de secreta, é praticada aos olhos de todos? Homens esclarecidos, como os que possui, que põem suas luzes acima dos preconceitos de camarilhas e de castas, não podem ver com indiferença o movimento que esta nova doutrina, essencialmente emancipadora,produz no mundo. Repelir um elemento tão poderoso de progresso moral seria abjurar seus princípios e pôr-se ao nível de homens retrógrados. Não; tenho certeza de que não se deixarão desviar, pois vejo que, sob a nossa influência, vão chamar a si esta grave questão.

O Espiritismo é uma corrente irresistível de idéias, que deve ganhar todo o mundo: é apenas questão de tempo. Ora, seria desconhecer o caráter da instituição maçônica crer que esta possa se aniquilar e representar um papel negativo em meio ao movimento que impele a Humanidade para frente; crer, sobretudo,que ela apague o facho, como se temesse a luz.

Que fique bem claro que aqui falo da alta francomaçonaria,e não dessas lojas feitas para a ilusão, onde mais se reúnem para comer e beber, ou para rir das perplexidades que inocentes experiências causam aos neófitos, do que para discutir questões de moral e de filosofia. Era mesmo necessário, para que a franco-maçonaria pudesse continuar sua vasta missão sem entraves, que houvesse, de espaço em espaço, de raio em raio, de meridiano em meridiano, templos fora do templo, lugares profanos fora dos lugares sagrados, falsos tabernáculos fora da arca. É nesses centros que, inutilmente, os adeptos do Espiritismo têm tentado se fazerem entendidos.

Em suma, a franco-maçonaria ensinou o dogma precursor do vosso e, em segredo, professou o que proclamais dos telhados. Como disse, voltarei a estas questões, caso o permitam os grandes Espíritos que presidem aos vossos trabalhos. Por ora, afirmo que a Doutrina Espírita pode perfeitamente unir-se à das grandes lojas do Oriente. Agora, glória ao Grande Arquiteto!

Vaucanson, um antigo franco-maçom.
(médium: Sr. d’Ambel)

AOS OPERÁRIOS
(Sociedade Espírita de Paris, 17 de janeiro de 1864 – Médium: Sra. Costel)

Venho a vós, meus amigos, a vós que sois os experimentados e os proletários do sofrimento. Venho saudar-vos, bravos e dignos operários, em nome da caridade e do amor. Sois os bem-amados de Jesus, do qual fui amigo. Repousai na crença espírita, como repousei no seio do enviado divino. Operários, sois os eleitos na via dolorosa da provação, onde marchais com os pés sangrentos e o coração desalentado. Irmãos, esperai! Todo sofrimento traz consigo o seu salário; toda jornada laboriosa tem sua noite de repouso. Crede no futuro, que será vossa recompensa e não busqueis o esquecimento, que é ímpio. O esquecimento, meus amigos, é a embriaguez egoísta e brutal; é a fome para vossos filhos e o pranto para vossas esposas. O esquecimento é uma covardia. Que pensaríeis de um operário que, a pretexto de leve fadiga, abandonasse a oficina e interrompesse covardemente a jornada iniciada? Meus amigos, a vida é a jornada da eternidade;
cumpri bravamente o seu labor; não sonheis com um repouso impossível; não adianteis a hora do relógio do tempo; tudo vem na hora certa: a recompensa da coragem e a bênção ao coração comovido, que se confia à eterna justiça.

Sede espíritas: tornar-vos-eis fortes e pacientes, porque aprendereis que as provas são uma segura garantia do progresso e que vos abrirão a entrada das mansões bem-aventuradas, onde bendireis os sofrimentos que vos terão aberto o seu acesso.

A vós todos, operários e amigos, minhas bênçãos. Assisto às vossas reuniões, porque sois os bem-amados daquele que foi, João, o Evangelista.

Allan Kardec

sexta-feira, 10 de abril de 2015

'Eles me prometeram o paraíso', diz homem-bomba de 17 anos

'Eles me prometeram o paraíso', diz homem-bomba de 17 anos

Um homem-bomba de 17 anos preso pela polícia iraquiana revelou que o grupo autodenominado 'Estado Islâmico' recruta adolescentes para serem suicidas.
"Eles me prometeram que eu iria direto para o paraíso", diz ele em entrevista à BBC.
A polícia iraquiana frustrou o ataque e tem conseguido conter o avanço do 'Estado Islâmico' na região em torno da capital, Bagdá.
Apesar disso, o grupo conquistou a cidade de Al-Baghdadi, a apenas 8km de uma base americana.
O adolescente diz que estava preparado para matar homens, mulheres e crianças, e que a maioria dos recrutados pelo grupo tem entre 14 e 17 anos.
Ele chora e se diz envergonhado do que iria fazer.

Notícia publicada na BBC Brasil, em 17 de fevereiro de 2015.

André Henrique de Siqueira* comenta
O homem é um ser linguístico que se define na linguagem, no espaço das ideias que é capaz de conceber e de experimentar. O mundo do indivíduo é o resultado de suas ideias. É a realidade a que ele tem acesso em sua própria consciência e através do qual ele direciona suas ações no mundo.
Todas as experiências do ser convertem-se em uma representação mental que povoa o espaço das concepções sobre o passado, sobre o presente e sobre o futuro. Através das ideias o sujeito direciona as suas ações, interpreta as suas vontades e conduz os seus sentimentos.
Cada ideia cria um fluxo de potencialidades para as ações. Primeiro, porque a ideia representa o registro do mundo na tecitura da memória. Segundo, porque é de posse da ideia que se caracterizam as expressões de escolha que o indivíduo é capaz de articular em seus exercícios de liberdade.
A sincera busca da verdade - aqui entendida como a relação entre o que existe e o que é representado no conhecimento do sujeito - é uma aspiração humana que pretende resolver o conflito de adaptação do sujeito à realidade em que vive e, ao mesmo tempo, prepará-lo para as condições que advirão da sua atuação nesta realidade.
Errar é uma condição inerente ao aprendizado, mas o erro pode custar o preço da sobrevivência. Tanto no plano físico quanto no ético. Daí a importância de buscar a veracidade das ideias.
A aspiração filosófica de buscar a felicidade pelo encontro com a verdade tem como pano de fundo a reflexão de que o pensamento errado pode conduzir à derrocada do espírito e à destruição da saúde do corpo. O conhecimento da verdade é a condição única da felicidade, da sobrevivência.
A crença cega, a fé no que não é real, conduz o Espírito ao desacerto de agir contra a própria integridade física ou espiritual. É preciso educar a mente para o conhecimento da verdade, este é o papel da instrução. Mas também é preciso educar a alma para a prática da verdade em nossos sentimentos e atos, este é o papel da vida.
Sendo uma filosofia, o Espiritismo pretende a busca da verdade na realidade das coisas. Compreende que a Lei Natural é a expressão desta Verdade no espectro da compreensão humana. A religião espirita busca, desta forma, fundamentar-se na razão científica - que pretende caracterizar a experiência da realidade através da crítica metodológica - para construir uma renovação na atitude do sujeito, adequando-o aos imperativos da vida.
As crenças que não podem encarar a razão são fontes de ilusão e causa de delitos contra a integridade física ou moral do indivíduo ou das sociedades. Buscar a verdadeira Religião (a busca da integração com a Realidade Divina) é a aspiração do homem bom que não deve, entretanto, afastar-se da crítica razoável a que deve submeter suas próprias crenças.

* André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

Revista Espírita: SOBRE A ARQUITETURA E A IMPRENSA, A PROPÓSITO DA COMUNICAÇÃO DE GUTTEMBERG


(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. A. Didier)

O Espírito Guttemberg definiu muito poeticamente os efeitos positivos e tão universalmente progressivos da imprensa e o futuro da eletricidade; entretanto, na qualidade de antigo construtor de castelos, torreões, aterros e catedrais, permito-me expor certas teorias sobre o caráter e o objetivo da arquitetura medieval.

Todos sabem, e agora ilustres professores de arqueologia hão ensinado, que a religião, a fé ingênua ergueram com o gênio do homem esses soberbos monumentos góticos,espalhados na superfície da Europa; e aqui, mais que nunca, a idéia expressa pelo Espírito Guttemberg, é cheia de elevação.

Contudo, julgamos por bem emitir a nossa opinião, não contra, mas a seu favor.

A idéia, essa luz da alma, centelha real que comunica a vontade e o movimento ao organismo humano, manifesta-se de diversas maneiras, quer pela arte, pela filosofia, etc. A arquitetura,essa arte elevada que, talvez, melhor exprima o natural e o gênio de um povo, foi consagrada, nas nações impressionáveis e crentes, ao culto de Deus e às cerimônias religiosas. A Idade Média, forte no feudalismo e na crença, teve a glória de fundar duas artes essencialmente diferentes em seu objetivo e sua consagração, mas que exprimem perfeitamente o estado de sua civilização: o castelo forte, habitado pelo senhor ou pelo rei; a abadia, o mosteiro e a igreja; numa palavra, a arte arquitetônica militar e a religiosa. Os romanos, essencialmente administradores, guerreiros, civilizadores, colonizadores universais, forçados que eram pela expansão de suas conquistas, jamais tiveram uma arquitetura inspirada por sua fé religiosa; só a avidez, o amor do ganho e do poder executivo, lhes fizeram construir esses formidáveis montes de pedra, símbolo de sua audácia e de sua capacidade intelectual. A poesia do Norte,contemplativa e nebulosa, aliada à suntuosidade da arte oriental, criou o gênero gótico, a princípio austero e pouco a pouco florido. Com efeito, vemos na arquitetura a realização das tendências religiosas e do despotismo feudal.

Essas ruínas famosas de tantas revoluções humanas,mais que o tempo, ainda se impõem por seu aspecto grandioso e formidável. Parece que o século que as viu erguer-se era duro,sombrio e inexorável, como elas; mas daí não se deve concluir que a descoberta da imprensa, à força de desenvolver o pensamento,tenha simplificado a arte da arquitetura. Não; a arte, que é uma parte da idéia, será sempre uma manifestação religiosa, política, militar, democrática ou principesca. A arte tem o seu papel, a imprensa o dela; sem ser exclusivamente especialista, não se deve confundir o objetivo de cada coisa; é preciso dizer apenas que não se devem misturar as diferentes faculdades e as diversas manifestações da idéia humana.

Robert de Luzarches

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o espiritismo

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EESE – Cap. IX – Itens 6 e 7
Tema:   A afabilidade e a doçura
        A paciência
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A - Texto de Apoio:

A afabilidade e a doçura

6. A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que aso brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por detrás.

A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: "Aqui mando e sou obedecido", sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: "E sou detestado."

Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ao demais, sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana. - Lázaro. (Paris, 1861.)

A paciência

7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu.

Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte.

Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo. - Um Espírito amigo. (Havre, 1862.)

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 – Como podemos desenvolver a afabilidade e a doçura?

2 – Por que podemos afirmar que a paciência é uma caridade?

3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

domingo, 5 de abril de 2015

Mural reflexivo: De migalhas faz-se o pão

 

olhardebiamurrefle

De migalhas faz-se o pão

Com apenas seis anos, Beatriz Martins decidiu que sua missão seria ajudar o próximo e fazer a corrente do bem se multiplicar.

Um dia, passeando de carro com a família, parou em um semáforo e viu crianças, como ela, pedindo balas para os motoristas.

Chocada, não conseguiu entender as diferenças sociais entre ela e aquelas crianças.

Elas estavam com roupas rasgadas.

Perguntei ao meu pai por que estavam daquele jeito, relembra Bia, inconformada com a cena.

O pai, dedicado, deu a ela algumas explicações sobre as diferenças sociais.

Mesmo assim, eu continuava não entendendo, achava uma injustiça, disse a menina.

A cena não saiu da sua cabeça. Ela queria ajudar.

Apesar de não saber como isso poderia ser feito, passou quatro meses guardando toda bala, pirulito ou doce que ganhasse.

Quando chegasse o natal, o plano era distribuir todos os doces na comunidade daquelas crianças do semáforo.

Surpreso com a atitude da filha, o pai chamou amigos, vizinhos, parentes e quem mais pudesse ajudar para recolher donativos.

No Natal daquele ano, atendemos seiscentas crianças, lembra Bia.

Ela ainda não sabia, mas tinha acabado de fundar sua ONG.

Na Páscoa e nas próximas datas comemorativas, a menina também entrou em ação, alcançando mais duas mil crianças em todo o Estado de São Paulo.

Não demorou muito para a iniciativa ganhar nome – Olhar de Bia – e se consolidar.

Nos dias atuais, com treze anos e articulada como gente grande, Bia não para de multiplicar a corrente.

Ampliou sua assistência para além das comunidades, e passou a fazer ações em escolas e creches.

Em dezembro do ano de 2013, enviou doações para as vítimas das fortes chuvas do Espírito Santo, que deixaram mais de sessenta mil pessoas desabrigadas ou desalojadas.

Somente no Natal de 2013, vinte e dois mil, cento e oitenta e sete itens, entre brinquedos, alimentos, aparelhos eletrônicos, roupas e livros foram distribuídos.

A gente não faz só a ação, é um evento com trio elétrico, mágicos, brinquedos infláveis, tudo com voluntários, conta a garota.

Em sete anos, o Olhar de Bia informa ter atendido mais de cem mil brasileiros.

As pessoas querem ajudar, não sabem como, e sempre vão deixando essa vontade para depois, afirma.

A garotinha, que já foi deputada federal mirim em Brasília, sonha em ser jornalista e lutar pelas causas sociais.

Agora, ela quer mais. Pretende oferecer cursos profissionalizantes para jovens, criar parcerias com outras organizações para levar assistência odontológica a escolas da periferia e construir uma sede para a ONG.

A ideia é espalhar a sementinha, ajudando cada vez mais.

*   *   *

Um gesto de caridade

Apaga muitas feridas

Um minuto de evangelho

Pode salvar muitas vidas.

De gotas d’água o ribeiro

É a doce e clara união

De segundos faz-se o tempo

De migalhas faz-se o pão.

Redação do Momento Espírita, com base em matéria do site
www.sonoticiaboa.com.br, de 11 de janeiro de 2014, e em versos da poesia
Na jornada de luz, pelo Espírito Casimiro Cunha, psicografia de Francisco
Cândido Xavier, do livro Caridade, ed.IDE.