sábado, 27 de maio de 2017

Desenvolva o tema à luz da Doutrina Espírita


Um casal de idosos que não tinha filhos morava em uma casa humilde, de madeira; tinha uma vida muito tranquila, alegre, e se amava muito. Eram felizes. Até que um dia sua casa começou a pegar fogo na cozinha e as chamas atingiram todo o rosto da esposa. O esposo acorda, assustado com os gritos, e vai à sua procura. 
Quando a vê coberta pelas chamas, imediatamente tenta ajudá-la. O fogo também atinge seus braços e, mesmo assim, ele consegue apagá-lo. Quando chegaram os bombeiros, a casa já estava toda destruída. Levaram o casal para o hospital, onde foi internado em estado grave.
O marido, menos atingido pelo fogo, saiu da UTI e foi ao encontro de sua amada. Ainda em seu leito, a senhora, toda queimada, pensava em não viver mais, pois estava deformada, inclusive seu rosto.
Quando viu o marido na porta do quarto, foi perguntando:
- Tudo bem com você, meu amor?
- Sim - respondeu ele. Pena que o fogo atingiu os meus olhos e não posso mais enxergar a sua beleza.
Então, triste pelo esposo, a senhora disse:
- Deus, vendo tudo o que aconteceu, tirou-lhe a visão para que não presencie esta deformação em mim. As chamas queimaram todo o meu rosto e estou parecendo um monstro.
Mas fique tranquila, amor, porque sua beleza está guardada em meu coração para sempre.
Passando algum tempo e recuperados, saíram do hospital e conseguiram reconstruir a casa, onde ela fazia tudo para seu querido esposo. Ele dizia todos os dias que a amava, pena que não podia mas vê-la como antes.
E assim viveram por mais vinte anos até que a senhora morreu. No dia do seu enterro, quando todos se despediam, o marido, sem óculos escuros e sem sua bengala nas mãos, chegou perto do caixão. Beijando o rosto e acariciando sua amada, disse em um tom apaixonante:
- Como você é linda meu amor! Eu te amo muito.
Vendo aquela cena, um amigo que estava ao lado perguntou se o que tinha acontecido era milagre, pois o idoso estava enxergando outra vez. Olhando nos olhos dele, o velhinho apenas falou:
- Nunca estive cego, apenas fingia. Quando a vi com o rosto todo deformado, sabia que seria duro para ela continuar vivendo daquela maneira, sabendo que eu estaria vendo toda aquela deformidade. Por isso fingi e ela pode viver bem todos esses anos e assim vivemos felizes e apaixonados durante esses últimos vinte anos. 
(autor desconhecido)

sexta-feira, 26 de maio de 2017

04 Palestras Virtuais - Tema: Atualidade Espírita

LEIA AQUI:





Palestra Virtual - Tema: Violência, Sociedade e Espiritismo

LEIA AQUI:

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo


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EESE – Cap. XIX – Itens 11 e 12
Tema: A fé: mãe da esperança e da caridade
          A fé humana e a divina
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A - Texto de Apoio:

A fé: mãe da esperança e da caridade

11. Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.

A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?

Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.

A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.

Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)

A fé humana e a divina

12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.

Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?

A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a vencer.

O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.

Repito: a fé é humana divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito Protetor. (Paris, 1863.)

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 - Por que a esperança e a caridade estão associadas à fé?

2 - Por que a fé necessita de obras?

3 - Qual a diferença entre a fé humana e a divina?
4 - Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

Por que comprei heroína para dar à minha filha dependente

"Ela estava encharcada de suor, vomitando, chorando, histérica, tremendo. Sentia-se terrivelmente mal, completamente desesperada. Eu tinha a sensação de que estava presa em um canto, como se não houvesse mais nada que pudesse fazer."
"Daí, falei com ela: existe alguma maneira de resolvermos isso 'na rua'?"
Foi assim que uma mãe britânica descreveu, em entrevista à BBC, como acabou comprando droga para a filha, viciada em heroína, que passava por uma crise de abstinência.
Leia abaixo o depoimento:
Tudo começou há cinco anos, quando minha filha tinha 18 anos e estava passando por mudanças em sua vida. Os amigos dela haviam ingressado na faculdade e ela tinha acabado um namoro em que estava muito feliz.
Seu comportamento e sua personalidade começaram, então, a mudar.
Antes ela era trabalhadora, adorava seus cavalos, mas deixou tudo de lado. Passou a dormir muito durante o dia.
E eu lhe perguntava frequentemente o que havia de errado.
Minha filha começou a se envolver com pessoas que não eram de boa índole. A maioria delas usava drogas.
Um dia, estávamos voltando de carro de um lugar e eu lhe perguntei novamente o que estava acontecendo.
"Imagine o pior", respondeu ela.
"Você está grávida?", perguntei. Hoje, vejo que isso não seria um problema. Teria sido ótimo se ela respondesse que sim, porque a verdadeira resposta foi: "Não, não, mãe. É muito pior do que isso. Pense na pior coisa do mundo."
"Você é viciada em drogas?", perguntei. Ela disse que sim e começou a chorar compulsivamente.
Foi o pior dia da minha vida.
Conversamos sobre como poderíamos parar o vício algumas vezes. Falávamos sobre isso como mãe e filha e, justamente por causa disso, às vezes, perdíamos as estribeiras. Há um misto de emoções em jogo: em uma hora você está gritando e zangada; em outra você está profundamente triste.
Meu cunhado era usuário de drogas e morreu de depressão enquanto tentava abandonar o vício.
Acho que meu marido considerava a morte do irmão como um desperdício, porque achava que ele poderia contribuir com algo valioso para nossa família e para a sociedade.
Acredito que senti o mesmo com a minha filha. Ela tinha muito a oferecer e não queria vê-la tomar decisões erradas.
Naquela época, minha família não considerava que o vício dela era um problema. Por várias vezes, minha filha falou que usava drogas "apenas por diversão".
Porém o uso da droga era intervalado com episódios de depressão e não havia diversão nenhuma ali. Mas ela não estava pronta para admitir isso.

Ultimato

Em determinado momento, demos a ela um ultimato. Olhando para trás, não sei se foi a decisão certa, mas disse: "Se você continuar usando drogas, não poderá continuar a viver nesta casa".
E nós a expulsamos de casa, porque ela continuou a usar drogas.
Quando o vício piorou, suas amizades se deterioraram mais e mais.
Passei a odiá-la. Muito.
Achava que ela tinha todo o poder do mundo para abandonar o vício, mas não queria. Nada que seus filhos façam vai fazer com que você deixe de amá-los, mas eu sentia um ódio dela muito forte. Estava com muita raiva. Queria sacudir os ombros dela e dizer: "Olha o que você está fazendo consigo mesma!".
Sempre fui uma mãe muito controladora. Meus filhos tinham hora para dormir, comiam legumes e verduras. Mesmo assim, nunca senti como se tivesse controle. Nunca consegui dizer para ela: "Não, você não vai sair hoje. Você precisa voltar para casa e dar um rumo na sua vida." Até porque ela me responderia: "Eu sou maior de idade. Faço o que quiser".
Fiquei decepcionada. Porque tinha grandes expectativas do que ela poderia alcançar. Ela não estava conseguindo alcançar nada naquela ocasião, embora as coisas tenham começado a mudar quando ela percebeu que não estava feliz.
Ela se alistou no Exército, na Polícia Militar. Após participar do treinamento básico, em que foi muito bem, conseguiu um bom emprego.
Pensamos, então, que ela havia superado seu vício nas drogas e dado um rumo à sua vida; ficamos muito orgulhosos. Lembro-me de pensar: "Meu Deus, ela conseguiu. E fez isso de forma incrível - ela realmente conseguiu um emprego muito bom". Não passaria pela nossa cabeça que o problema não havia desaparecido.
Ela ganhava um bom salário, mas depois de um ano começamos a receber telefonemas. Ela continuava a dizer: "Não sei com que gastei todo o meu dinheiro, mãe, só sei que gastei. No fim do mês, estou sem nada e não tenho dinheiro nem para comida", repetia ela.
Sendo assim, nós passamos a enviar a ela um adiantamento todo mês. Não estávamos dando-lhe dinheiro, mas sim um adiantamento, até ela receber o próximo salário.
Durante todo esse tempo, ela tinha um problema, mas acredito que ela escondia isso de nós porque se sentia envergonhada.
Ela continuou, no entanto, a se envolver com as mesmas pessoas, então a víamos muito pouco aos fins de semana. Só voltava para casa na segunda-feira.

Demissão

Mas isso começou a afetar seu trabalho. Percebemos que ela estava exausta. Estava cansada de sair todo fim de semana e conciliar essa vida com um trabalho em tempo integral.
Quando você não dorme de quinta-feira à noite até segunda-feira, quando tem de voltar ao trabalho, você fica exausta - e foi isso que aconteceu com ela. Acredito que os colegas e o chefe dela tenham começado a perceber algumas mudanças, porque passamos a receber telefonemas do Exército.
Um dia, voltando para casa de carro depois do trabalho, não tendo dormido por dias, ela destroçou o carro no canteiro central de uma rodovia. Eu e meu marido percebemos que se não a parássemos, ela se mataria ou mataria outra pessoa. E quando o Exército me ligou naquela semana, fui sincera: "Você deve saber disso; acho que minha filha se droga nos fins de semana, ela precisa fazer um teste antidrogas".
E foi assim que ela perdeu o emprego.
Rancor?
Tenho certeza de que ela ainda guarda rancor de mim por ter feito isso, mas sinto que salvei a vida dela ou de outra pessoa, porque seria uma questão de tempo antes que ela causasse um grave acidente de trânsito. Ficaria com a minha consciência pesada para sempre.
Depois disso, ela passava os dias no sofá. Ela ia de um sofá para o outro, de uma boca de fumo para outra. Ela também perdeu a permissão de dirigir por ter ingerido drogas.
Ou seja, deixou de ser uma mulher independente para não ter basicamente nada. Em dada ocasião, uma das casas onde ela ficava pegou fogo - por sorte ela não estava lá. E acabou perdendo todos os seus pertences. Tudo mesmo.
Assim, todas as vezes que a víamos, tudo dependia do estado de espírito dela e da nossa vontade de aceitá-la pelo que ela era, e amá-la incondicionalmente.
Mas em determinado momento brigamos feio, e ela disse que não queria mais manter contato conosco. Paramos de nos falar por três meses.
Finalmente, ela nos ligou e disse que queria voltar a conversar.
Imagino que deixar de falar conosco faria com que ela se sentisse melhor, porque, no fim das contas, éramos um lembrete constante de que a vida dela estava indo pelo ralo - ninguém mais falava disso com ela, mas nós, sim, claro.
Então, voltamos a nos falar e ceamos juntos no Natal. Esse momento ficou gravado na minha memória porque tenho certeza de que ela consumiu drogas durante a noite e não conseguia ficar acordada. Ela dormiu com a cara no prato de comida. Era um indicador de como as coisas tinham ficado ruins.

Dependência

No início, minha filha disse que tomava drogas para se divertir. Depois de se tornar usuária pesada de drogas por cinco anos, ela passou a falar que o vício era para ajudá-la a anestesiar o que sentia e a fugir da realidade, para não ter no que pensar e com que se preocupar.
Naquele estágio, não acho que ela realmente usufruía das drogas. Tampouco acredito que ela confiasse em muitas pessoas, inclusive em mim, porque você fica paranoica com tudo e com todos.
Ninguém pode ajudar. Ninguém sabe o que dizer. Todo mundo fica desesperado por uma boa notícia.
Às vezes, íamos a terapeutas particulares. Tivemos muitas conversas com ela sobre como planejar o futuro. "Se você fizer isso ou aquilo, talvez você possa ficar longe das drogas", dizíamos.
Chegamos, inclusive, a trancá-la no quarto.
Meu marido selou as janelas e trancou a porta, mas de nada adiantou. Porque cabe à pessoa querer mudar - e ela não queria mudar.
No fim das contas, um de seus amigos, que usava drogas com ela, veio até a nossa casa, ameaçou meu marido e nos mandou tirá-la dali.

Furto

Em outro momento, soubemos que minha filha foi pega roubando no trabalho para financiar o vício.
Ela também furtou uma folha de cheque do meu talão de cheques. Assinou um cheque de mil libras e o descontou. Tivemos que denunciá-la à polícia.
Tínhamos tentado tudo o que estava ao nosso alcance. Somos muito éticos, e temos dois filhos mais novos observando nosso comportamento e nossas decisões. Queremos que eles vejam que não se rouba dinheiro da família. Ponto final.
Levamos pessoalmente nossa filha ao tribunal, sentamos junto dela e falamos com ela: "Estamos aqui junto com você, mas você não vai mais fazer isso - você não pode roubar da gente".
O juiz determinou que ela começasse uma reabilitação. Em outras palavras: ela teria de ser submetida a um teste antidrogas duas vezes por semana, começar um programa de metadona (narcótico usado para tratar viciados em heroína) e participar de sessões de terapia em grupo para dependentes químicos.
Ela também teve de usar tornozeleira eletrônica por três meses, o que a forçava ficar em casa das 7h às 19h.
Queríamos ajudá-la de alguma forma, mas não tínhamos a quem pedir ajuda. Então, pensamos que essa seria a melhor solução possível. Do contrário, ela acabaria na prisão.
Saímos do tribunal por volta das 14h30 ou 15h, e perguntei ao oficial de Justiça: "Quando ela tem de começar?"
"Neste momento", respondeu ele.
"Ou seja, temos de voltar para casa?", perguntei.
"Sim. Porque as pessoas que colocam a tornozeleira eletrônica podem aparecer a qualquer momento", respondeu.
"E sobre o vício em drogas da minha filha?", perguntei.
"Procure um hospital público", rebateu.

Em busca de ajuda

Fomos, então, a um hospital público. Mas lá me disseram que minha filha era problema meu e teria de viver conosco.
Como você vai viver com alguém que tem o hábito de roubar cem libras (cerca de R$ 380) por dia de você, que irá provavelmente gritar, chorar, vomitar e quebrar coisas porque está frustrada e em pânico?
O hospital público não fornece metadona de graça.
Eu não comprei heroína pessoalmente. Só dirigi meu carro para um local e quando chegamos lá, ela saiu, se injetou e voltou. Mas de alguma forma, senti algo estranho comigo mesma, porque fiz algo que nunca me imaginaria fazendo.
Meu marido, por outro lado, se sentiu completamente traído. Ficou muito triste.
Ele achou que eu traí a confiança dele ao levar minha filha para comprar drogas porque uma das coisas sobre a qual nós concordamos anos atrás, logo depois que nossa filha admitiu ter esse problema, era que nós ofereceríamos todo o apoio necessário, mas nunca financiaríamos o vício dela.
Nunca lhe daríamos dinheiro ou presentes, já que sabíamos que ela usaria tudo isso para comprar drogas.
Quando eu cheguei em casa e contei a meu marido o que havia feito, ele ficou realmente louco, e por dias a fio. E decidiu enviar um e-mail à BBC contando a história da nossa filha.
Prometi a ele que nunca faria aquilo novamente. E ele me disse que, se eu quisesse continuar fazendo aquilo, seria por minha própria conta em risco.
Ele tem um pensamento preto e branco para a vida, como acho que muitos homens têm. Mas se existe algo que aprendi durante os últimos oito anos, é que não há preto e branco. Há uma grande área cinzenta no meio. Tivemos várias conversas sobre isso. Não faria o que fiz agora. Acho que voltaria ao hospital público e insistiria até conseguir algum tipo de medicação para a minha filha.

Reabilitação

Agora, ela está recebendo metadona. Ou seja, tem de tomar uma quantidade de metadona prescrita pelo médico todos os dias.
Ela vai até a farmácia, pega o remédio e tem de tomá-lo na frente do farmacêutico. Ainda não teve efeitos colaterais, mas também não se drogou mais.
A medicação impede que ela se sinta mal, e a mantém ativa durante o dia. Ela tem ajudado a limpar a casa e a fazer chá. E, aos poucos, vem tomando cada vez menos metadona todos os dias. A meta é não precisar mais do remédio em seis meses.
Antes de comparecermos diante do juiz, ela disse para mim. "Para mim, chega. Isso é horrível." Ela já tentou se suicidar duas vezes. Numa das ocasiões, ela ficou em estado grave. Na outra, teve um dano no fígado.
Desde que ela começou a reabilitação, encaramos um dia após o outro. Foram cinco anos até chegarmos a esse ponto.
Nossa filha agora tem seu próprio canto, que nós mesmos construímos como um anexo da nossa casa. E ali ela tem privacidade. Batemos na porta, por exemplo, para entrar. Ela também passou a conviver novamente com o cachorro dela.
Sei que é orgulho de mãe, mas ela é muito linda e inteligente. Acredito que ela poderia ser qualquer coisa que quisesse. Ela ama tanto os animais que falava sobre a possibilidade de se tornar veterinária, e sonhávamos com isso anos atrás. Mas tudo acabou sendo diferente do que planejávamos. Agora o sonho é diferente. Trata-se apenas de "eu quero que ela abandone o vício e seja feliz".
Sinto-me 50% responsável pelo que aconteceu, pois acho que todas as mães se sentiriam assim. Mas também me sinto orgulhosa de que ainda estou aqui, sã e de pé.
Por outro lado, dia desses acordei pensando que tudo foi culpa minha. Talvez se eu não a tivesse expulsado de casa naqueles primeiros meses quando ela se recusou a largar as drogas... é difícil saber.
Hoje tenho confiança de que ela não irá mais nos roubar. Deixo minha bolsa no chão, por exemplo. Não me preocupo com isso.
Mas ainda não sei se ela vai deixar de entrar em contato com as pessoas erradas, pois isso é um processo lento.
Quando minha filha voltou para casa, tinha certeza de que ela não confiava em mim.
Ela sabia que eu vasculhava o quarto dela à procura de droga.
Mas parei de fazer isso agora, porque acredito que temos de reconstruir a relação de confiança mútua entre mãe e filha.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 21 de março de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Deus nos permite a convivência uns com os outros para que possamos nos auxiliar mutuamente no caminho evolutivo que nos leva ao Pai. Por vezes essas convivências são difíceis. São lutas bastante árduas como dessa mãe com sua filha. E diante dessas lutas as mães são “soldados” incansáveis do exército de Deus. Sabemos que se trata de uma prova familiar, mas a forma de encarar esta prova é que vai fazer a diferença. Enfrentar com amor e esperança para buscar os frutos da libertação ou optar pela dor, deixando-se arrastar pela revolta e pela negação do problema, agravando ainda mais a dor.
O dependente químico precisa de ajuda medicamentosa, terapêutica, além do amor dos familiares.
André Luiz, Espírito que nos trouxe valiosos ensinamentos através do médium Chico Xavier, no livro “Nos Domínios da Mediunidade”, explica que junto de pessoas que fumam, bebem ou consomem qualquer outro tipo de droga estão “criaturas desencarnadas de triste feição”, a sorver as baforadas e o hálitos dos encarnados que estão usufruindo das drogas. Ainda de acordo com André Luiz, esses Espíritos podem chegar a dominar, subjugar os viciados encarnados, se afinando numa “perfeita comunhão de forças inferiores”.
(“... Eu não comprei heroína pessoalmente. Só dirigi meu carro para um local e quando chegamos lá, ela saiu, se injetou e voltou...”)
Esse relato faz-nos lembrar de imediato da questão do amor maternal em "O Livro dos Espíritos" – livro fundamental para a orientação espírita – questão 890 –, de Allan Kardec: “O amor materno é uma virtude e um sentimento instintivo.”
O problema da tóxico-dependência é de um desgaste emocional e psicológico muito grande, não só para o doente, mas também para os familiares que convivem com ele diariamente. Os narcóticos funcionam, muitas vezes, como um escape, uma fuga da crua realidade de nossas desilusões, fracassos e sofrimentos.
É preciso muita firmeza, mas também paciência, carinho, tolerância e respeito para ajudá-la efetivamente. A complexidade de nossas experiências reencarnatórias está longe de nossa capacidade de entendimento, e todos queremos compreender e ser compreendidos. O viciado em tóxicos, da mesma forma, além de compreensão, é sedento de amor e respeito. Enxergue o enfermo carente de proteção, o espírito angustiado que necessita de sentir o calor de um ombro amigo, o ser humano que escolheu o caminho errado para esconder a revolta, a dor e o desapontamento, e que, nesse momento, precisa muito de orientação. Essa filha precisa da ajuda de quem mais a ama, do colo amigo, do apoio fundamentado na compreensão e na disponibilidade de ajuda irrestrita, pois ela é um ser carente de amor e de estímulo para sair desse poço escuro.
O importante é não desistir e acreditar sempre! Não existe dificuldade que não possa ser vencida quando temos fé e vontade de vencê-la.
Lembramos de uma frase atribuída ao nosso saudoso Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."
* Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

quinta-feira, 25 de maio de 2017

REVISTA ESPIRITA - Fevereiro 1864 - O ESPIRITISMO NAS PRISÕES.

REVISTA ESPIRITA JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS
7 a ANO Nº 2 FEVEREIRO 1864

O ESPIRITISMO NAS PRISÕES.
Na Revista de novembro de 1863, página 350, publicamos uma carta de um condenado detido numa casa central, como prova da influência moralizadora do Espiritismo. A carta seguinte, de um condenado numa outra prisão, é um exemplo a mais dessa poderosa influência. Ela é de 27 de dezembro de 1863; nós a transcrevemos textualmente quanto ao estilo; dela não corrigimos senão as faltas de ortografia.
"Senhor,
"Há poucos dias, quando se me falou pela primeira vez do Espiritismo e da revelação de além-túmulo, eu ri, e disse que isso não era possível; falava como um ignorante que sou. Alguns dias depois, teve-se a bondade de me confiar, na minha terrível posição onde me encontro agora, vosso bom e excelente O Livro dos Espíritos; de início li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou antes não crendo nessa ciência; enfim, pouco a pouco e sem disso me aperceber, tomei gosto por ele; depois tomei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez vosso livro, mas então com um outro espírito, quer dizer, com calma, e com toda a pouca inteligência que Deus me deu. Senti, então, despertar essa velha fé que minha mãe havia me posto no coração e que dormia há muito tempo; senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo. A partir desse momento, tive um pensamento muito firme, o de me dar conta, de aprender, de ver, e depois de julgar.
Coloquei-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso crer em Deus e seu poder; desejava ver a verdade, pedia com fervor, e recomecei as experiências; as primeiras foram nulas, sem nenhum resultado.
"Não me desencorajei, perseverei em minhas experiências e em minha fé, redobrei minhas preces, que talvez não eram bastante fervorosas, e me entreguei ao trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, porque não posso fazer minhas experiências senão à noite, senti, em torno de dez minutos, estremecimento na ponta dos dedos e uma pequena sensação sobre o braço como se tivesse sentido correr um pequeno riacho de água tépida, que parava no punho. Estava então todo recolhido, todo atenção, e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estavam sob o peso de uma alucinação. Esperei, pois, com paciência a noite seguinte para recomeçar minhas experiências, e esta vez agradeci a Deus de todo o coração, tinha obtido mais do que não ousava esperar.
"Depois, todas as duas noites, me entretenho com os Espíritos que são bastante
bons para responderem ao meu chamado, e, em menos de dez minutos, me respondem sempre com caridade; escrevo meias-páginas, páginas inteiras que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, frequentemente, são tratados filosófico-religiosos, que jamais sonhei e com mais forte razão coloquei em prática; porque eu me dizia, nos primeiros resultados: Não serias o joguete de uma alucinação ou de tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que estava muito longe dessa inteligência que havia traçado essas linhas. Abaixei a cabeça, acreditei, não podia ir contra a evidência, a menos estar inteiramente louco.
"Remeti duas ou três entrevistas à pessoa que tivera a caridade de me confiar vosso bom livro para que elas sancionasse se estou na verdade. Venho vos pedir, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, consentir me permitir vos enviar o que obtiver de sério em minhas conversas com o além-túmulo, se, no entanto, achares bom. Se isto vos pode ser agradável, enviarei as comunicações de Verger, que feriu o arcebispo de Paris; para bem me assegurar se era bem ele que se manifestava, evoquei São Luís, que me respondeu afirmativamente, assim como um outro Espírito em quem tenho muita confiança, etc........."
As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas; eis um homem que havia abjurado toda crença, que, atingido pela lei, se encontra confundido com refugo da sociedade, e esse homem, no meio dessa lama moral, retornou à fé; vê o abismo em que caiu, se arrepende, pede e, dizemo-lo, ai! ele pede com mais fervor do que muitas pessoas que ostentam a devoção. Bastou para isso a leitura de um livro onde encontrou os elementos de fé que sua razão pôde admitir, que reanimou as suas esperanças, e fê-lo compreender o futuro. O que há, além disso, a anotar, é que primeiro leu com prevenção, e que a sua incredulidade não foi vencida senão pelo ascendente da lógica. Se tais resultados foram produzidos por uma simples leitura feita, por assim dizer, às escondidas, que seria se se pudesse juntar a isso a influência das exortações verbais! é bem certo que, na disposição de espírito em que estão hoje esses dois homens (ver o fato narrado no número de novembro último), não só não darão, durante sua detenção, nenhum motivo de lamento, mas que reentrarão no mundo com a resolução de nele viver honestamente.
Uma vez que esses dois culpados puderam ser levados ao bem pela fé que hauriram no Espiritismo, é evidente que, se tivessem tido preliminarmente essa fé, não teriam cometido o mal. A sociedade, pois, está interessada na propagação de uma doutrina de uma tão grande força moralizadora. É o que se começa a compreender.
Uma outra consequência a tirar do fato que acabamos de narrar é que os Espíritos não estão presos pelos ferrolhos e que vão até o fundo dos calabouços levar suas consolações. Não está, pois, no poder de ninguém impedi-los de se manifestarem de uma ou de outra maneira; se não for pela escrita, será pela audição; eles desafiam todas as proibições, se riem de todas as interdições, ultrapassam todos os cordões sanitários. Que barreiras, pois, podem lhes opor os inimigos do Espiritismo?
 Enviado por: "Joel Silva"


Minha Nada Mole Encarnação - Segredo


LIVE - Minha Nada Mole Encarnação - Como superar os desafios da vida?


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Superando Desafios - Reflexões em torno dos temas da série psicológica de Joanna de Ângelis

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Libertação - Programa 007

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Memórias De Um Suicida - Programa 007

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Pedagogia Espírita na Educação - PEE - Programa 007 - Selma, Rômulo E Aliézio

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Parábolas E Ensinos De Jesus - Programa 007

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O Problema Do Ser E Do Destino - Programa 007

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terça-feira, 23 de maio de 2017

1ª Semana Espírita de Dores de Campos/MG. - Tema central : "A Prática do Evangelho de Jesus Como Ferramenta de Evolução"

De 22 a 27 de maio de 2017 acontecerá na sede do Dorense Clube a 1ª Semana Espírita de Dores de Campos/MG.
O tema central é "A Prática do Evangelho de Jesus Como Ferramenta de Evolução". Na programação, palestras de Luciano Alencar, Danilo Oliveira, Wilson Carazza, Calsavara, Gustavo e Paulo Bianchetti. Uma por dia, sempre a partir das 19h30.
A sede do Dorense Clube fica na Avenida Governador Valadares, 52 - Centro. Mais informações podem ser obtidas através do telefone (32) 3353-2112.


Degraus do Cotidiano


Autor: 
Nara de Campos Coelho

Um garotinho de cinco anos assistia a seu pai esbravejar contra a atitude de um vizinho que, displicentemente, invadira sua garagem no prédio em que residem. O pai vira-se obrigado a estacionar o carro na rua, sujeitando-se aos perigos dos nossos dias. “Onde estava o porteiro que não viu a invasão da garagem?! Em que mundo nós estamos que não se respeita os direitos das pessoas?!” Mais cansado pelo dia estafante do que bravo, o pai interfonou para o porteiro, tomou providências, sempre falando alto, dirigindo-se à esposa, que procurava acalmar a situação. Quando tudo foi contornado e o silêncio se fez, o garotinho diagnosticou: “É pai, você está precisando de uma boa escola de evangelização!” A mãe custou a conter a gargalhada. O pai saiu de fininho. Seu filho estava certo!
A serenidade do garotinho ao analisar a situação e “enquadrar” seu pai, deixa-nos perceber o quanto ele já está ciente do que a escola de evangelização representa para nosso equilíbrio diário, no enfrentamento das situações. E, mais ainda, ele já tem a segura certeza de que todos estamos na Terra para subir degraus na escalada evolutiva.
Ele já sabe da necessidade do aprendizado e, com a honestidade típica das crianças, foi direto ao essencial. Ah! Se fôssemos como as crianças, já teríamos construído o Reino dos Céus...
Há mais de 150 anos, o Espiritismo vem falando às nossas almas sobre a responsabilidade que temos na edificação do próprio destino. Em todo este tempo, ele vem revolucionando conceitos antigos que dizem partir apenas de Deus os milagres indispensáveis para uma vida feliz. “Deus me ajude! Deus é bom! Deus vai me dar esta graça”. E continuávamos a desrespeitar-lhe as leis de amor.
Há mais de 150 anos, esta Doutrina de Razão iluminada pela Fé e Fé iluminada pela Razão vem investindo na educação integral de cada espírito, permitindo-nos entender, paulatinamente, de reencarnação em reencarnação, que “a felicidade não é deste mundo”, porque não está nas coisas do mundo; porque está, sim, na aquisição dos valores morais, das virtudes que nos fazem acumular “os tesouros que a traça não corrói, a ferrugem não consome e os ladrões não roubam”.
Há 150 anos, começamos a entender Jesus e seus ensinos, percebendo-lhe a proposta profunda e simples de usarmos o nosso cotidiano para o aprimoramento de nós mesmos, o que, naturalmente, vai se refletindo na nossa vida de relação, transformando-a. Uma palavra grosseira que não pronunciamos, um grito que deixamos de dar, um pensamento de inveja, de ciúme ou de descaso que não alimentamos, a coragem de optarmos pela postura honesta, ainda que sozinhos, a responsabilidade de estendermos as mãos para amparar os que sofrem, de não esperarmos o crime destruir as almas sequiosas de amor para oferta-lo... Tantas atitudes no bem podemos ter, tantas barreiras de dor e de privações podemos superar apenas com mudanças de comportamento no nosso dia-a-dia! Neste cotidiano comum de pessoas comuns que trabalham, choram e riem, mas constroem: ou dor ou felicidade.
Da atitude do garotinho narrada no início desta reflexão, materializa-se a esperança de um mundo novo, mais feliz, porque mais amadurecido nos ensinamentos da sabedoria de Jesus à luz do Espiritismo. Eis o espírito que retoma a caminhada evolutiva, já consciente de suas responsabilidades na construção de uma vida harmonizada às leis de Deus. É a trajetória de aprendizado que se desvenda numa lição simples e concreta a realçar as benesses da escola de evangelização, lembrando-nos Kardec ao dizer: “O espiritismo não é uma questão de forma, é uma questão de fundo”. E ainda, é questão de bom senso.
Ante um mundo que se debate em guerras, tristeza, violência, corrupção... almas anônimas ressurgem do plano espiritual renovadas pelas experiências superiores, acalmando-nos as expectativas, estimulando-nos para a continuação do trabalho de amor, fonte de luz e paz que o Espiritismo já nos concita.
Não foi por acaso que lágrimas de pura emoção fizeram brilhar os olhos de todos os presentes quando o mesmo garotinho, personagem do nosso texto, ao ser advertido pela mãe para que descartasse a violência do vídeo-game, tranquilizou-a, dizendo: “Não se preocupe comigo mãe, eu não ‘pego’ violência; eu já sou do Bem!”

'Não entrevisto negros': a vítima por trás da denúncia viral que expôs preconceito em busca de emprego

Júlia Dias Carneiro
Da BBC Brasil no Rio de Janeiro


A denúncia partiu do presidente da multinacional Bayer no Brasil. Em seu perfil no LinkedIn, Theo van der Loo relatou uma história "inaceitável e revoltante" de preconceito racial.
"Um conhecido meu, afrodescendente, com uma excelente formação e currículo, foi fazer uma entrevista. Quando o entrevistador viu sua origem étnica, disse à pessoa de RH que ele não sabia deste detalhe e que não entrevistava negros!", escreveu em seu perfil na rede social voltada para contatos profissionais.
No post, que já teve mais de 300 mil visualizações no LinkedIn, van der Loo conta ter sugerido ao amigo que fizesse uma denúncia. Outra surpresa: a vítima avaliou que seria melhor não expor o caso por medo de "queimar" sua imagem. "Sou de família simples e humilde custou muito para chegar onde cheguei", justificou.
A repercussão do episódio surpreendeu o presidente da Bayer Brasil - e mais ainda a vítima, localizada pela BBC Brasil.
X., como o chamaremos aqui, permanece convencido de que revelar a sua identidade e a empresa para a qual faria a entrevista de emprego somente prejudicaria sua carreira.
"Há uma linha muito tênue entre algo que pode sensibilizar a opinião pública e acabar com a minha carreira profissional", considera ele, que está há sete meses desempregado e não quer correr riscos.
"Eu conheço o mapa mental do empresariado brasileiro, e, no Brasil, qualquer tipo de agressividade pode acabar se voltando contra você. Você pode rapidamente ser visto como 'vitimista' ou como um 'cara problema'."
X. tem trilhado uma carreira promissora na área de tecnologia da informação e aos poucos se firmou em cargos de gestão.
Nascido e criado em um "bairro tradicional" de São Paulo, bisneto de negros escravizados, neto de empregada doméstica, foi o primeiro de sua família a ir para a universidade, a sair do país e a cursar uma pós-graduação nos EUA.
Mas ele diz que o relato de preconceito está longe de ser exceção na sua trajetória profissional.
Quando X. foi atrás de seu primeiro emprego, aos 14 anos, pleiteando uma vaga de office boy em uma conhecida rede de varejo de material escolar, ouviu da moça que encaminhava os candidatos para preencher fichas que "não havia vagas" para ele; deveria procurar com os "amigos" do lado de fora, no estacionamento onde atuavam flanelinhas - todos negros.
Aos 20 e poucos anos, no programa de trainee de uma "grande organização brasileira" para a qual havia sonhado em trabalhar, conta que o gerente costumava chamá-lo de "neguinho do pastoreio". Às vezes, também de monkey (macaco, em inglês).
"Ele dizia que eu dei sorte por não ser um negro beiçudo, ser boa pinta, falar bem e não ser burro", lembra.
Mais recentemente, aos 30 e poucos, descobriu uma troca de e-mails numa empresa para a qual prestava consultoria na qual funcionários o chamavam de "macaco" e faziam troça de seu estilo, e do fato de usar camisas da marca Lacoste. "Onde já se viu, negro com pinta de branco", leu em uma mensagem. X. diz ter tido acesso a uma troca de e-mails por acaso, e levou o caso a um superintendente. O caso foi abafado. Pouco tempo depois, X. foi mandado embora.
"Infelizmente temos ainda esse câncer na sociedade brasileira, e existe ainda essa celeuma popular que associa negros a malandros, vagabundos e outros adjetivos pejorativos que povoam o imaginário coletivo", diz ele.

'Causa é de todos nós'

X. conheceu o presidente da Bayer Brasil pelo LinkedIn, e chegou a passar por uma série de entrevistas para uma vaga na Bayer. Não conseguiu o emprego, mas os dois continuaram em contato, também devido à reconhecida atuação de Theo van der Loo para promover diversidade no mundo corporativo.
Van der Loo é brasileiro, filho de holandeses, e preside a Bayer nacional desde 2011. A empresa tem quatro mil funcionários no Brasil, dos quais 14% são negros, segundo um censo interno realizado em 2014.
Em 2015, Van der Loo recebeu o prêmio de personalidade do ano do Fórum São Paulo Diverso, na categoria de estímulo a ações afirmativas. Está sempre de olho em profissionais afrodescendentes que possam preencher os quadros da empresa - ou, se o perfil não for adequado para a Bayer, que possa ajudar a posicionar em outras empresas através da sua extensa rede de contatos, como buscava fazer com X.
"Eu estava tentando achar empresas que pudessem se encaixar no perfil dele", conta. "Nos falamos outro dia por telefone e ele contou essa história. Resolvi postar aquele comentário por revolta", indigna-se.
"Jamais imaginei que meu comentário fosse gerar tanta discussão. Comecei a receber muitos e-mails de pessoas que não queriam se expor publicamente, relatando ter passado por situações semelhantes à de X. A coisa é muito mais frequente e profunda que eu imaginava."
Nas centenas de comentários gerados pelo post, alguns miravam o próprio van der Loo, com críticas por estar falando em nome da causa negra. Ele diz que sua intenção não é, de maneira alguma, assumir um protagonismo nesta luta.
"A causa é de todos nós. Quem tem que estar à frente são os afrodescendentes. Quero só ser o mensageiro, quero ajudar. É importante que a sociedade saiba sobre esses casos que estão sendo relatados de forma anônima."

'Apartheid velado'

Van der Loo vem se engajando para conscientizar seus pares e promover uma "atitude proativa" na busca de mais diversidade racial no mundo corporativo.
"Não adianta apenas o RH (a área de recursos humanos) implementar programas em prol da diversidade. Se o CEO (o presidente das companhias) não mostrar interesse e se comprometer, não vai acontecer muita coisa. Porque no fim das contas são os gestores que contratam."
Além da política interna de aumentar a diversidade no quadro da Bayer, ele faz parte do grupo CEO Legacy, formado no ano passado pela Fundação Dom Cabral, com grupos de trabalho formados com foco em diferentes causas sociais. Ele abraçou a causa da integração racial e vem formulando um plano de ação para compartilhar experiências e levar modelos bem-sucedidos a outras empresas.
"O Brasil tem uma espécie de apartheid velado", diz van der Loo. "Mais de 50% da população é formada por afrodescendentes. Nas empresas, você só vê essas pessoas na fábrica, e muito poucas nos escritórios. O país não vai avançar se não conseguir superar essas diferenças."

'Limitação intelectual'

X. não revela qual era a empresa que "não entrevista negros". Diz apenas que é de "grande porte" e assegura que a repórter provavelmente tem produtos de lá, assim como ele já teve. Ele concorria a um cargo de gestão intermediário e já havia passado por uma etapa no processo de seleção, com o coordenador de recursos humanos.
Quando voltou para a segunda e fatídica entrevista na empresa, o mesmo coordenador que o entrevistara antes o levou para a sala do gestor. "Poxa. Você nunca percebeu que eu não contrato negros?", o executivo teria perguntado ao coordenador na sala, ao ver, mas não olhar, para o candidato.
X. diz ser um homem "tranquilo e bem resolvido", e portanto manteve a compostura diante da agressão verbal. Agradeceu pela oportunidade e saiu da sala.
"Achei um desrespeito e deselegância para quem já se encontra em nível de liderança. O tratamento foi realmente deplorável. Mas a postura dele, no fundo, não tem nada a ver comigo. Para mim, o preconceito étnico ou de gênero é uma limitação intelectual. Denota o quanto ele é uma pessoa limitada."
X. diz seguir confiante na busca de um emprego à altura de seu currículo e da trajetória que vem traçando.
"Eu me sinto tranquilo porque sei quem eu sou. Enquanto representante da etnia afro no Brasil, quero ser uma referência para outros jovens de periferia - para que tenham outras referências além de sambistas, pagodeiros ou jogadores de futebol, e saibam que, se estudarem, buscarem desenvolver suas habilidades, acumularem cultura, vão conseguir ser cidadãos dignos."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 30 de março de 2017.

Claudia Sampaio* comenta

Ao nos depararmos com notícias desta natureza, automaticamente pensamos “quando isto terá fim?”, mas Albert Einstein já nos alertava: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”
O preconceito, segundo a Psicologia, está ligado a três origens: à ignorância (falta de conhecimento), ao medo do que é desconhecido e ao orgulho; a busca pelo conhecimento através do estudo e da informação eliminará as duas primeiras causas, mas só a verdadeira reforma íntima aniquilará a soberba.
Somos Espíritos milenares, em constante evolução, é verdade, porém arraigados de ideias e interpretações trazidas de vidas passadas acrescidas da vivência atual. Agimos de forma automática, sem avaliarmos as nossas ações e palavras. Esquecemo-nos de exercer o livre-arbitrio para aprimorar os nossos valores e nos permitir uma evolução espiritual menos complicada.
Segundo a luz da Doutrina Espírita, Allan Kardec nos esclarece em A Gênese – capítulo I – item 36 que não há pretextos cabíveis para a existência do preconceito: “Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de classes sociais (castas), pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda da mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.”
E ainda, para não ficar nenhum tipo de questionamento sobre a igualdade entre os seres humanos, em O Livro dos Espíritos, ainda Allan Kardec comenta a pergunta 803, sobre o tema Igualdade Natural: “Todos os homens são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos são iguais diante dele.”
Deste modo, fica claro, que não há outro caminho possível ao Espírito que não seja o da evolução moral, deixando para trás todas e quaisquer formas de intolerância e discriminação. E uma das maneiras de ultrapassarmos esta barreira é incluirmos em nosso cotidiano o mesmo procedimento que Theo Van der Loo efetuou nesta notícia e que o Cristo realizou em sua existência aqui na terra. Afinal, quando foi que o Nosso Mestre e Guia se calou perante às injustiças?
Seguiremos, portanto, os passos do Nosso Irmão Amado relembrando os seus ensinamentos: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz.” (João 14:15) e “Ame o Senhor, o teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27).
É época de mudanças! É tempo de igualdade e libertação! Sejamos agentes das transformações! E somente através do desenvolvimento da autocritica e exercicio eficaz do livre-arbítrio, da instrução e do autoconhecimento, da participação efetiva na sociedade e da busca pela justiça sem omissão e dentro da razão, concretizaremos a evolução espiritual individual e coletiva.
Afinal, estamos todos subordinados à inexorável Lei do Progresso e as palavras de Kardec nunca foram tão atuais: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.”

Fontes de pesquisa:

* Claudia Sampaio é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.