sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Revista Espirita: Acaso

Acaso
Cenas da Vida Privada Espírita
Em nosso último número apresentamos o quadro da vida espírita em conjunto; seguimos os Espíritos desde o instante em que deixam o corpo terreno e fizemos um rápido esboço de suas ocupações. Propomo-nos hoje mostrá-los em ação, reunindo num mesmo quadro diversas cenas íntimas, cujo testemunho nos foi dado através das comunicações. As numerosas conversas familiares de além-túmulo, já publicadas nesta revista, podem dar uma idéia da situação dos Espíritos, conforme o seu grau de adiantamento, mas aqui há um caráter especial de atividade, que nos faz conhecer ainda melhor o papel que, mau grado nosso, representam entre nós. O tema do estudo, cujas peripécias vamos relatar, se nos ofereceu espontaneamente; apresenta interesse maior porque tem, como herói principal, não um desses Espíritos superiores que habitam mundos desconhecidos, mas um desses que, por sua própria natureza, ainda estão presos à Terra, um contemporâneo que nos deu provas manifestas de sua identidade. É entre nós que a ação se passa e cada um de nós nela representa um papel.

Além disso, esse estudo dos costumes espíritas tem de particular o fato de nos mostrar a progressão dos Espíritos na erraticidade e como podemos concorrer para a sua educação.

Um de nossos amigos, após longas experiências infrutíferas, das quais triunfou a sua paciência, de repente tornouse excelente médium escrevente e audiente. Certa vez ele estava ocupado a psicografar com outro médium, seu amigo, quando, a uma pergunta dirigida a um Espírito, obteve resposta bastante estranha e pouco séria, na qual não reconhecia o caráter do Espírito evocado. Tendo interpelado o autor da resposta, depois de o haver intimado em nome de Deus para se dar a conhecer, aquele assinou Pierre Le Flamand, nome completamente desconhecido do médium. Estabeleceu-se, então, entre ambos, e mais tarde entre nós e esse Espírito, uma série de conversas que passaremos a relatar.

PRIMEIRA CONVERSA

1. Quem és? Não conheço ninguém com esse nome.
Resp. – Um de teus antigos camaradas de colégio.

2. Não tenho a menor lembrança.
Resp. – Lembra-te da surra que um dia levaste?

3. É possível; entre escolares isso acontece algumas vezes. Realmente, lembro-me de algo assim, mas também me recordo de ter pago com a mesma moeda.
Resp. – Era eu; mas não te quero mal.

4. Obrigado. Tanto quanto me recordo, tu eras um biltre bastante mau.
Resp. – Eis tua memória que volta. Enquanto vivi não mudei. Eu tinha a cabeça dura, mas no fundo não era mau; batiame com o primeiro que aparecesse: em mim isso era uma necessidade. Depois, ao dar as costas, já não pensava em nada.

5. Quando e com que idade morreste?
Resp. – Há quinze anos; eu tinha cerca de vinte anos.

6. De que faleceste?
Resp. – Uma leviandade de rapaz... conseqüência de minha falta de juízo...

7. Ainda tens família?
Resp. – Perdi meus pais há muito tempo; morava com um tio, meu único parente...; se fores a Cambrai promete procurálo; é um bravo homem, a quem muito aprecio, embora me tenha tratado duramente; mas eu o merecia.

8. Ele tem o teu mesmo nome?
Resp. – Não; em Cambrai não há mais ninguém com o meu nome; ele se chama W...; mora na rua... no...; verás que sou eu mesmo que te falo.

Observação – O fato foi verificado pelo próprio médium numa viagem que empreendeu algum tempo depois. Encontrou o Sr. W... no endereço indicado; disse-lhe este que realmente havia tido um sobrinho com esse nome, bastante estouvado e inconveniente, falecido em 1844, pouco tempo depois de ter sido sorteado para o serviço militar. Esta circunstância não havia sido indicada pelo Espírito; mais tarde ele o fez espontaneamente.
Veremos em que ocasião.

9. Por obra de que acaso vieste à minha casa?
Resp. – Por acaso, se quiseres; creio, porém, que foi o meu bom gênio que me impeliu a ti, por me parecer que só teremos a ganhar com o restabelecimento de nossas relações... Eu estava aqui ao lado, na casa do teu vizinho, ocupado em olhar os quadros... nada de retratos de igreja...; de repente eu te avistei e vim. Percebi que estavas ocupado, a conversar com outro Espírito, e quis intrometer-me na conversa.

10. Mas por que respondeste às perguntas que eu fazia a outro Espírito? Isso não parece provir de um bom camarada.
Resp. – Encontrava-me na presença de um Espírito sério e que não parecia disposto a responder; respondendo em seu lugar, eu imaginava que ele soltasse a língua, mas não tive êxito. Não dizendo a verdade, eu queria obrigá-lo a falar.

11. Isto não é certo, pois poderia ter resultado em coisas desagradáveis, caso eu não tivesse percebido o embuste.
Resp. – Haverias de o saber sempre, mais cedo ou mais tarde.

12. Dize-me mais ou menos como entraste aqui.
Resp. – Bela pergunta! Acaso temos necessidade de puxar o cordão da campainha?

13. Podes, então, ir a toda parte, entrar em qualquer lugar?
Resp. – Claro!... E sem me fazer anunciar! Não somos Espíritos a troco de nada.

14. Entretanto eu julgava que certos Espíritos não tivessem o poder de penetrar em todas as reuniões.
Resp. – Acreditas, por acaso, que teu quarto é um santuário e que eu seja indigno de nele penetrar?

15. Responde com seriedade à minha pergunta e deixa de lado as graçolas de mau gosto. Vês que não tenho humor para suportá-las e que os Espíritos mistificadores são mal recebidos em minha casa.
Resp. – É verdade que há reuniões onde Espíritos tratantes, como nós outros, não podem entrar; mas são os Espíritos superiores que nos impedem e não os homens. Aliás, quando vamos a algum lugar, sabemos muito bem manter-nos calados e afastados, se necessário. Escutamos e, quando nos aborrecemos,vamo-nos embora... Ah!... sim! Parece que não estás satisfeito com a minha visita.

16. É que não recebo de bom grado o primeiro que aparece e, francamente, não fiquei satisfeito por vires perturbar uma conversa séria.
Resp. – Não te zangues..., não desejo perturbar-te... sou sempre um bom rapaz...; de outra vez far-me-ei anunciar.

17. Lá se vão quinze anos que estás morto...
Resp. – Entendamo-nos. Quem está morto é meu corpo; mas eu, que te falo, não estou morto.

Observação – Muitas vezes, mesmo entre os Espíritos levianos e brincalhões, encontram-se palavras de grande profundidade. Esse eu que não está morto é absolutamente filosófico.

18. É bem assim que compreendo. A propósito, contame uma coisa: tal como agora te encontras, podes ver-me com tanta clareza como se estivesses em teu corpo?
Resp. – Vejo-te ainda melhor; eu era míope; foi por isso que quis me livrar do serviço militar.

19. Lá se vão, dizia eu, quinze anos que estás morto e me pareces tão estouvado quanto antes; não avançaste, pois?
Resp. – Sou o que era antes: nem melhor, nem pior.

20. Como passas o tempo?
Resp. – Não tenho outras ocupações, a não ser divertirme e informar-me dos acontecimentos que podem influenciar o meu destino. Vejo muito. Passo parte do tempo ora em casa de amigos, ora no teatro... Por vezes surpreendo coisas muito engraçadas... Se as pessoas soubessem que têm testemunhas quando pensam estar sós!... Enfim, procedo de maneira que o tempo me seja o menos pesado possível... Dizer quanto tempo isso haverá de durar, eu não o saberia e, entretanto, há algum tempo que vivo assim... Tens explicações convincentes para isso?

21. Em suma, és mais feliz do que eras quando estavas vivo?
Resp. – Não.

22. O que te falta? Não tens necessidade de coisa alguma; não sofres mais; não temes ser arruinado; vais a toda parte e tudo vês; não temes as preocupações, nem as doenças, nem as enfermidades da velhice. Não será isto uma existência feliz?
Resp. – Falta-me a realidade dos prazeres; não sou bastante evoluído para fruir uma felicidade moral; Desejo tudo que vejo, e é isso que me tortura; aborreço-me e procuro matar o tempo como posso!... Mas, até quando?... Experimento um mal-estar que não posso definir...; preferia sofrer as misérias da vida a esta ansiedade que me oprime.

Observação – Não está aqui um quadro eloqüente dos sofrimentos morais dos Espíritos inferiores? Invejar tudo quanto vêem; ter os mesmos desejos e realmente nada desfrutar, deve ser verdadeira tortura.

23. Disseste que ias ver os amigos; não será uma distração?
Resp. – Meus amigos não percebem que estou com eles; aliás, nem mesmo pensam em mim. Isso me faz mal.

24. Não tens amigos entre os Espíritos?
Resp. – Estouvados e tratantes como eu, que como eu se aborrecem. Sua companhia não é muito agradável; aqueles que são felizes e raciocinam afastam-se de mim.

25. Pobre rapaz! Eu te lamento e, se te pudesse ser útil,o faria com prazer.
Resp. – Se soubesses o quanto essas palavras me fazem bem! É a primeira vez que as ouço.

26. Não poderias encontrar ocasião de ver e ouvir coisas boas e úteis que contribuiriam para o teu progresso?
Resp. – Sim, mas para isso é necessário que eu saiba aproveitar as lições. Confesso que prefiro assistir às cenas de amor e de deboche, que não têm influenciado o meu Espírito para o bem. Antes de entrar em tua casa, lá me achava a considerar quadros que despertavam em mim certas idéias...; mas, deixemos isso de lado... No entanto eu soube resistir à vontade de pedir para  reencarnar, a fim de desfrutar os prazeres de que tanto abusei. Vejo,agora, quanto teria errado. Vindo à tua casa, sinto que fiz bem.

27. Muito bem! Espero, futuramente, que me dês o prazer, caso queiras a minha amizade, de não mais concentrar a atenção nesses quadros que podem despertar más idéias e que, ao contrário, possas pensar naquilo que aqui ouvirás de bom e de útil para ti. Tu te sentirás bem, podes crer.
Resp. – Se esse é o teu pensamento, também será o meu.

28. Quando vais ao teatro experimentas as mesmas emoções que sentias quando vivo?
Resp. – Várias emoções diferentes; a princípio, aquelas;depois me misturo nas conversas... e escuto coisas singulares.

29. Qual o teu teatro predileto?
Resp. – “Les Variétés”. Muitas vezes acontece que eu os veja todos na mesma noite. Também vou aos bailes e às reuniões onde há divertimento.

30. De modo que, enquanto te divertes, te instruis, visto ser impossível observar bastante na tua posição.
Resp. – Sim, mas o que mais aprecio são certos colóquios. É realmente curioso ver a manobra de algumas criaturas, sobretudo das que ainda querem passar por jovens. Em toda essa lengalenga ninguém diz a verdade: assim como o rosto, o coração se maquia, de modo que ninguém se entende. Acerca disso realizei um estudo dos costumes.

31. Pois bem! Não vês que poderíamos ter boas conversas, como esta, da qual ambos podemos tirar proveito?
Resp. – Sempre; como dizes, a princípio para ti; depois,para mim. Tens ocupações necessárias ao teu corpo; quanto a mim, posso dar todos os passos possíveis para instruir-me sem prejudicar a minha existência.

32. Já que é assim, continuarás as tuas observações ou,como dizes, teus estudos sobre os costumes; até o momento não os aproveitaste muito. É preciso que eles sirvam ao teu esclarecimento e, para isso, é necessário que o faças com um objetivo sério, e não como diversão e para matar o tempo. Dir-me-ás o que viste: raciocinaremos e tiraremos as conclusões para a nossa mútua instrução.
Resp. – Será realmente bastante interessante. Sim, com certeza estou a teu serviço.

33. Não é tudo. Gostaria de proporcionar-te ocasião para praticares uma boa ação. Queres?
Resp. – De todo o coração! Dir-se-á que poderei servir para alguma coisa. Fala-me logo o que é preciso que eu faça.

34. Nada de pressa! Não confio missões tão delicadas assim àqueles a quem não tenho confiança. Tens boa vontade, não há dúvida; mas terás a perseverança necessária? Eis a questão. É preciso, pois, que eu te ensine a te conheceres melhor, para saber de que és capaz e até que ponto posso contar contigo.
Conversaremos sobre isso uma outra vez.
Resp. – Tu o verás.

35. Adeus, pois, por hoje.
Resp. – Até breve.

SEGUNDA CONVERSA

36. Então, meu caro Pierre, refletiste seriamente naquilo que conversamos o outro dia?
Resp. – Mais seriamente do que imaginas, pois faço questão de te provar que valho mais do que pareço. Sinto-me mais à vontade, desde que tenho algo a fazer. Agora tenho um objetivo e não mais me aborreço.

37. Falei de ti ao Sr. Allan Kardec; comuniquei-lhe nossas conversas e ele ficou muito contente; deseja entrar em contato contigo.
Resp. – Já o sei; estive em sua casa.

38. Quem te conduziu até lá?
Resp. – Teu pensamento. Voltei aqui depois daquele dia. Vi que querias falar-lhe a meu respeito e disse a mim mesmo: Vamos lá primeiro; provavelmente encontrarei material de observação e, quem sabe, uma ocasião de ser útil.

39. Gosto de ver-te com esses pensamentos sérios. Que impressão tiveste da visita?
Resp. – Oh! Muito grande. Ali aprendi coisas que nem suspeitava e que me esclareceram quanto ao futuro. É como uma luz que se fizesse em mim. Agora compreendo tudo quanto tenho a ganhar no meu aperfeiçoamento... É preciso...; é preciso.

40. Posso, sem cometer indiscrição, perguntar-te o que viste na casa dele?
Resp. – Certamente. Lá, como na casa de outras pessoas, vi tantas coisas que não falarei senão quando quiser... ou quando puder.

41. O que queres dizer com isso? Não podes dizer tudo quanto queres?
Resp. – Não. Desde alguns dias vejo um Espírito que parece seguir-me por toda parte, que me impele ou me contém; dirse-ia que me dirige; sinto um impulso, do qual não me dou conta e ao qual obedeço, mau grado meu. Se quero dizer ou fazer algo inconveniente, posta-se à minha frente..., olha-me... e eu me calo... e me detenho.

42. Quem é esse Espírito?
Resp. – Nada sei; mas ele me domina.

43. Por que não lho perguntas?
Resp. – Não tenho coragem. Quando lhe quero falar ele me olha e sinto a língua travada.

Observação – É evidente que aqui a palavra língua é uma figura, já que os Espíritos não possuem linguagem articulada.

44. Deves ver se é bom ou mau.
Resp. – Deve ser bom, pois que me impede de dizer tolices; mas é severo... Por vezes tem um ar irritado; doutras, parece olhar-me com ternura... Veio-me a idéia de que poderia ser o Espírito de meu pai, que não quer se dar a conhecer.

45. Isso parece plausível. Ele não deve estar muito satisfeito contigo. Ouve-me bem. Vou dar-te um conselho arespeito. Sabemos que os pais têm por missão educar os filhos e encaminhá-los na senda do bem. Conseqüentemente, sãoresponsáveis pelo bem ou pelo mal que eles praticam, conforme a educação que receberam, com o que sofrem ou são felizes no
mundo dos Espíritos. A conduta dos filhos, pois, influi até certo ponto sobre a felicidade ou a infelicidade dos pais após a morte. Como tua conduta na Terra não foi muito edificante, e como desde a tua morte não fizeste grande coisa de bom, teu pai deve sofrer por isso, caso tenha algo a censurar-se por não te haver guiado bem... 
Resp. – Se não me tornei um homem de bem, não foi por me ter faltado, mais de uma vez, a corrigenda necessária.

46. Talvez não tivesse sido a melhor maneira de corrigir-te; seja como for, sua afeição por ti é sempre a mesma e ele to prova aproximando-se de ti, se de fato é ele, como presumo.
Deve sentir-se feliz com a tua mudança, o que explica a alternância de ternura e de irritação. Quer auxiliar-te no bom caminho em que acabas de entrar e, quando te vir realmente empenhado nisso, estou certo de que se dará a conhecer. Desse modo, trabalhando por tua própria felicidade, trabalharás pela dele. Nem mesmo me surpreenderia caso tivesse sido ele próprio quem te impeliu a vir à  minha casa. Se não o fez antes foi porque quis dar-te o tempo de compreender o vazio de tua existência sem realizações e sentir-lhes os dissabores.
Resp. – Obrigado! Obrigado...! Ele lá está, atrás de ti...Pôs a mão na tua cabeça, como se te ditasse as palavras que acabas de proferir.

47. Voltemos ao Sr. Allan Kardec.
Resp. – Fui à sua casa anteontem à noite. Estava ocupado, escrevendo em seu gabinete..., trabalhando numa nova obra em preparo... Ah! Ele cuida bem de nós, pobres Espíritos; se não nos conhecem não é por sua culpa.7

48. Estava só?
Resp. – Só, sim, isto é, não havia ninguém com ele; mas havia ao seu redor uma vintena de Espíritos que murmuravam acima de sua cabeça.

49. Ele os escutava?
Resp. – Ouvia-os tão bem que olhava para todos os lados de onde provinha o ruído, para ver se não eram milhares de moscas; depois abriu a janela para olhar se não seria o vento ou a chuva.

Observação – O fato era absolutamente exato.
50. Entre tantos Espíritos reconheceste algum?
Resp. – Não; não são aqueles com quem me reunia. Eu tinha a impressão de ser um intruso e pus-me a um canto a fim de observar.

51. Esses Espíritos pareciam estar interessados por aquilo que ele escrevia?
7 N. do T.: Trata-se da obra O que é o Espiritismo? Vide a Revista Espírita de julho de 1859.
Resp. – Creio que sim. Dois ou três, sobretudo,sopravam o que ele escrevia e davam a impressão de ouvir a opinião dos outros; quanto a Kardec, acreditava piamente que as idéias eram suas, parecendo satisfeito com isso.

52. Foi tudo o que viste?
Resp. – Depois chegaram oito ou dez pessoas que se reuniram num outro aposento com Kardec. Puseram-se a conversar; faziam perguntas; ele respondia e explicava.

53. Conheces as pessoas que lá estavam?
Resp. – Não; sei apenas que havia pessoas importantes,pois a uma deles se referiam sempre como príncipe, e a outra como sr. duque. Os Espíritos também chegaram em massa; havia pelo menos uma centena, dos quais vários tinham sobre a cabeça uma espécie de coroa de fogo. Os outros se mantinham afastados e ouviam.

54. E tu, que fazias?
Resp. – Eu também ouvia, mas sobretudo observava. Veio-me, então, a idéia de fazer uma artimanha para ser útil a Kardec; dir-te-ei mais tarde o que era, quanto eu tiver alcançado
êxito. Então deixei a reunião e, vagando pelas ruas, divertia-me em frente às lojas, misturando-me com a multidão.

55. De sorte que, em vez de ir aos teus negócios,perdias o tempo?
Resp. – Não o perdi, pois que impedi um roubo.

56. Ah! Tu te metes também em assuntos da polícia?
Resp. – Por que não? Passando defronte de uma loja fechada, notei que lá dentro se passava algo estranho; entrei e vi um rapaz muito agitado, indo e vindo, como se quisesse ir ao caixa do lojista. Com ele havia dois Espíritos, um dos quais lhe soprava ao ouvido: Vamos, covarde! A gaveta está cheia; poderás te divertir à vontade, etc.; o outro tinha o semblante de uma mulher, bela e cheia de nobreza, qualquer coisa de celeste e de bondade no olhar;dizia-lhe: Vai embora, vai embora! Não te deixes tentar; e lhe soprava as palavras: prisão, desonra.

O rapaz hesitava. No momento em que se aproximava do caixa, interpus-me à sua frente para o deter. O Espírito mau pediu-me que não me metesse. Eu lhe disse que queria impedir o moço de cometer uma má ação e, talvez, de ser condenado às galés. Então o Espírito bom aproximou-se de mim e me disse: É preciso que ele sofra a tentação; é uma prova; se sucumbir, será por sua culpa. O ladrão ia triunfar quando o Espírito mau empregou um artifício abominável, que deu resultado: fez-lhe ver uma garrafa sobre uma mesinha: era aguardente; inspirou-lhe a idéia de beber, para criar coragem. O infeliz está perdido, pensei comigo... procuremos ao menos salvar alguma coisa. Eu não tinha outro recurso, a não ser advertir o patrão... depressa! Num piscar de olhos, eis-me em sua casa. Estava jogando cartas com a esposa; era preciso encontrar um meio de fazê-lo sair.

57. Se ele fosse médium, ter-lhe-ias feito escrever o que quiséssemos. Ele acreditaria pelo menos nos Espíritos?
Resp. – Não tinha bastante espírito para saber o que é isso.

58. Eu te ignorava o talento para fazer trocadilhos.
Resp. – Se me interrompes não direi mais nada. Provoquei-lhe um violento espirro; ele quis aspirar rapé, mas havia deixado na loja a tabaqueira. Chamou o filho, que dormia num canto, e disse-lhe para ir buscá-la...; não era bem isso que eu desejava; o menino despertou resmungando... Soprei à mãe, que dissesse: Não acorde a criança; tu podes muito bem ir buscá-la. – Finalmente ele se decidiu... e eu o acompanhei, para que fosse mais depressa. Chegando à porta percebeu luz na loja e ouviu um ruído. Ficou tomado de medo; tremiam-lhe as pernas; empurrei-o para que avançasse; se tivesse entrado subitamente pegaria o ladrão como numa armadilha. Em vez disso, o imbecil pôs-se a gritar:
Pega o ladrão! O ladrão escapou, mas, em sua precipitação, perturbado também pela aguardente, esqueceu de apanhar o boné. O dono da loja entrou quando já não havia ninguém... O que acontecerá com o boné não é da minha conta... Aquele sujeito está metido em maus lençóis. Graças a mim não houve tempo de consumar-se o furto, do qual livrou-se o comerciante pelo medo. Isso, porém, não o impediu de dizer, ao retornar à sua casa, que havia derrubado um homem de seis pés de altura. – “Veja só – disse ele – como as coisas acontecem! Se eu não tivesse tido a idéia de aspirar rapé!...” – “E se eu não te houvesse impedido de mandar o menino!” – retrucou a mulher. – “É preciso convir que tivemos sorte. Olha o que é o acaso!”

Eis, meu amigo, como nos agradecem!

59. És um bravo rapaz, meu caro Pierre, parabéns. Não te desanimes com a ingratidão dos homens; encontrarás muitos outros assim, agora que te comprometes a lhes prestar serviço, até mesmo entre os que crêem na intervenção dos Espíritos.
Resp. – Sim, e sei que os ingratos um dia serão pagos com ingratidão.

60. Vejo agora que posso contar contigo e que te tornas verdadeiramente sério.
Resp. – Mais tarde verás que serei eu a te ensinar moral.

61. Como qualquer outro, eu o necessito e receberei de bom grado os conselhos, venham de onde vierem. Eu te disse que queria que praticasses uma boa ação; estás disposto?
Resp. – Podes duvidar disso?

62. Creio que um de meus amigos está ameaçado de grandes decepções, se continuar seguindo o mau caminho em que se encontra; suas ilusões poderão perdê-lo. Gostaria que tentasses reconduzi-lo ao bom caminho, por meio de algo que o pudesse impressionar vivamente. Compreendes o meu pensamento?
Resp. – Sim; gostarias que eu lhe produzisse alguma manifestação agradável, uma aparição, por exemplo; mas isso não depende de mim. Entretanto, posso dar provas sensíveis da minha presença quando isso me for permitido. Bem o sabes.

Observação – O médium ao qual este Espírito parece estar ligado é advertido de sua presença por uma impressão muito sensível, mesmo quando não pensa em chamá-lo. Reconhece-o por uma espécie de arrepio que sente nos braços, no dorso e nas espáduas; mas algumas vezes os efeitos são mais enérgicos. Numa reunião que ocorreu em nossa casa, no dia 24 de março passado, este Espírito respondeu às perguntas através de outro médium.
Falava-se de sua força física; de repente, como que para dar uma prova, ele agarrou um dos assistentes pela perna e, por meio de um abalo violento, levantou-o da cadeira e o atirou, assombrado, do outro lado da sala.

63. Farás o que quiseres, ou melhor, o que puderes. Aviso-te que ele possui alguma mediunidade.
Resp. – Tanto melhor; tenho meu plano.

64. Que esperas fazer?
Resp. – Primeiro vou estudar a situação; ver de que Espíritos ele se acha cercado e se há meios de fazer algo com estes. Uma vez em sua casa eu me anunciarei, como fiz na tua. Interpelarme-ão e responderei: “Sou eu, Pierre Le Flamand, mensageiro espiritual, que venho pôr-me ao vosso serviço e que, ao mesmo tempo, desejaria vos agradecer. Ouvi dizer que acalentais certas esperanças que vos transtornam a cabeça e já vos fazem virar as costas aos amigos; creio de meu dever, em vosso próprio interesse, advertir-vos de quanto vossas idéias estão longe de ser proveitosas à vossa felicidade futura. Palavra de Le Flamand, posso garantir que vos venho visitar imbuído das melhores intenções. Temei a cólera dos Espíritos e, mais ainda, a de Deus, e crede nas palavras de vosso servidor, que garante que a sua missão é inteiramente voltada ao bem.” (sic)

Se me expulsarem, voltarei três vezes e depois verei o que terei a fazer. É isso?

65. Muito bem, meu amigo, mas não digas nem mais,nem menos.
Resp. – Palavra por palavra.

66. Mas se te perguntarem quem te encarregou dessa missão, o que responderás?
Resp. – Que foram os Espíritos Superiores. Para o bem,posso não dizer toda a verdade.

67. Tu te enganas; desde que agimos para o bem, é sempre por inspiração dos Espíritos bons. Assim, tua consciência pode ficar tranqüila, porquanto os Espíritos maus jamais nos impelem a fazer boas coisas.
Resp. – Está entendido.

68. Agradeço-te e te felicito pelas tuas boas disposições. Quando queres ser chamado para me dares conta do resultado de tua missão?
Resp. – Eu te avisarei.
(Continua no próximo número)

R.E. , maio de 1859, p. 171
 (fonte: Site da FEB)
 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pergunta feita: O que acontece com a alma de quem se mata? Perde a alma? A alma tem salvação?

O que acontece com a alma de quem se mata? Perde a alma? A alma tem salvação?
 
- Segundo a Doutrina Espírita a alma é imortal, portanto é indestrutível. Um dos princípios básicos da Doutrina Espírita é a reencarnação que representa uma das formas pela qual se manifesta a Justiça de Deus. Portanto, todas as almas têm salvação.
Em uma reencarnação a criatura desenvolve valores; noutra, ela já realiza outra experiência, como se fossem etapas, séries de uma grande escola. Quando alguém se equivoca e falha em uma existência corporal reencarna-se mais tarde com os mesmos problemas e repete a experiência fracassada. Quando vence as dificuldades, é promovido a um estágio superior.
Somos Espíritos em aprendizagem, em constante progresso. Todos nós, um dia, seremos perfeitos, felizes. Como bem disse Jesus: "Nenhuma das ovelhas de meu Pai se perderá, mas todas elas terão que pagar ceitil, por ceitil, do que devem". Equivale dizer que, nenhum de nós estará mergulhado em um sofrimento eterno. Não! O Pai é de Infinita Bondade. E se é infinitamente Bom, não podemos imaginar que ele Castiga seus filhos eternamente por uma falta! Às vezes, nem um pai humano faz isso. Imaginemos Deus!
No entanto, todos nós teremos que recuperar as nossas faltas, reeducar os nossos sentimentos, para um dia chegarmos à felicidade total. Aquele que se suicida comete um crime grave! Talvez seja um dos crimes de maior gravidade. Isso porque ele tenta destruir o maior patrimônio que existe: A Vida! E ele não é Autor da Vida, mas sim alguém que desfruta da Vida. Os Espíritos Suicidas que se comunicam falam das suas dores, do seu remorso intenso. A primeira decepção do suicida é se deparar, surpreendido, com a Vida. Ele esperava que fosse mergulhar em um escuro total, na Inconsciência. Mas, o que ocorre é totalmente diferente. Ele continua vivo. Com os mesmos problemas!
Uma sensação que ocorre também é o suicida encontrar-se preso ao corpo físico. Porque ele destruiu o corpo, mas não houve desencarnação natural. Ou seja, os laços que prendiam o espírito ao corpo não foram, por assim dizer, liberados. O que ocorre então são sensações de dores horríveis! Ele acompanha o enterro, e sente todo o processo de transformação do corpo. A decomposição, os vermes roerem o corpo, os suicidas experimentam as sensações com dores incríveis!
O sofrimento da consciência arrependida é difícil de ser narrado por eles. Eles constatam que não conseguiram fugir dos problemas, e agora estão em situação pior. Porque terão que reencarnar talvez em um corpo doente, para dar valor à vida.
Uma das obras da Doutrina Espírita mais lidas, "Memórias de um Suicida", recebida pela médium Yvonne do Amaral Pereira, narra o martírio dos suicidas. A conclusão que se tira desse livro é que: todas as misérias humanas, todas as desgraças, todas as tragédias juntas, são muito pouco ao lado dos sofrimentos que o suicídio proporciona.
Como ajudar um suicida? Através da oração. A oração, o pedido a Deus por aquela alma, é como se fosse um bálsamo, um alivio na sua vida. O Espírito sente, e fica sensibilizado com as preces que fazem por ele!
Se alguém sente a vontade ou pensa em abreviar a própria vida pensando em solucionar seus problemas, recomendamos buscar ajuda em uma casa espírita séria, perto de onde se encontra ou contate a Federação Espírita do seu Estado para maiores esclarecimentos. Também sugerimos a prática do Evangelho no lar. É um trabalho simples: escolhemos alguns minutos por semana e nos reunimos com todos aqueles que vivem conosco, para o aprendizado das lições de Jesus.
Recomendável seja feito esse estudo no mesmo dia da semana e horário. Iniciamos com uma prece espontânea, abrimos uma página do Evangelho e lemos, em voz alta, alguns trechos, comentando-os em seguida. Se os familiares não quiserem participar da leitura, não se deve desanimar, e sim prosseguir fazendo a leitura e reflexão do Evangelho, pois os bons espíritos e Jesus estarão amparando.
(fonte:Espiritismo.Net)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Acontecera : Seminário sobre obsessão em setembro no Mato Grosso

"Doenças e Obsessão" será tema de seminário nos dias 21 e 22 de setembro de 2013, na sede da Federação Espírita do Mato Grosso (FEEMT) em Cuiabá.
No dia 21, sábado, o evento será de 8h30 às 19h e de 8h30 às 12h no domingo, 22. Alírio de Cerqueira Filho será o facilitador.
O endereço da sede da FEEMT é Avenida Djalma Ferreira de Souza, 260, Morada do Ouro - Cuiabá/MT.
O seminário terá transmissão ao vivo pelo endereço http://www.espiritizar.com.br/evento. Mais informações pelo telefone (65) 3644-2727.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Empresário abandona riqueza para cuidar de crianças pobres do Camboja

Empresário abandona riqueza para cuidar de crianças pobres do Camboja

Parece história de filme: um ex-executivo abandona o salário de 6 dígitos, vende tudo o que tem e vai ajudar crianças pobres do Camboja, país asiático devastado por uma guerra de 20 anos e que possui 33% da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Mas trata-se da história de vida de Scott Neeson, um norte-americano da Century Fox.
Ele não possui casa ou sequer um carro, mas diz que não poderia estar mais feliz. O motivo dessa felicidade ele encontrou no meio do lixão e das crianças necessitadas. A visão de crianças morando em um lixão foi, nas palavras do próprio Scott, "a coisa mais chocante da minha vida. [...] O cheiro era quase visível, tátil. Havia crianças por toda a parte, muitas delas abandonadas pelos pais, que não os queriam mais. Eles reviravam o lixão em busca de materiais recicláveis na tentativa de fazer 25 centavos de dólar no dia".
O então executivo mudou de vida no final de 2003, para começar o seu projeto de uma entidade beneficente que desse suporte a estas crianças. Scott hoje mora nos escritórios do Cambodian Children´s Fund, que engloba 4 residências, centros vocacionais, programas de assistência e reforço escolar e até mesmo uma padaria. Seu trabalho ajudou milhares de crianças a estudarem, conseguirem empregos e até mesmo a formar alguns médicos e enfermeiros.
Embora saudoso de Hollywood e dos hobbies caros que possuía quando era um executivo bem-sucedido, ele diz que não mudaria sua decisão radical de ajudar as crianças do Camboja. "Sinto saudades de jogar pádel aos domingos com meus amigos e de passear de lancha. Aqui, nos domingos estou no lixão. Mas sou feliz de verdade".
Com informações do The Huffington Post e Minuto Positivo. Dica do site SóNotíciaBoa
Notícia publicada na Agência da Boa Notícia, em 22 de fevereiro de 2013.
 

Raphael Vivacqua Carneiro* comenta
Segundo a tradição budista, no século V a.C. o príncipe Siddhartha vivia no conforto e na proteção de seus palácios no Nepal, ao lado de seu pai, o rei Suddhodana, o qual garantia que tudo lhe fosse fornecido e que lhe fosse afastado todo o contato com o sofrimento humano. Aos 29 anos, o príncipe resolveu sair do seu palácio e encarar as suas inquietações. Em suas andanças, Siddhartha encontrou pessoas velhas, doentes e mortas. Frente a esse choque de realidade, ele decidiu abandonar a vida palaciana e iniciar a sua vida ascética, pedindo esmolas, privando-se dos bens materiais, buscando elevados níveis de consciência meditativa, até atingir a iluminação espiritual. Quando compreendeu as causas do sofrimento humano e os caminhos necessários para eliminá-lo, tornou-se o Buda, ou “o iluminado”, guia espiritual de milhões de seguidores.
Avançando no tempo e no espaço, encontramos na Palestina, no século I, um moço rico que se dirige ao mestre Jesus e lhe pergunta o que devia fazer para conseguir a vida eterna. Jesus orienta-o a seguir os mandamentos de Moisés e também o que considera o maior de todos: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O jovem afirma seguir tudo isso e indaga o que ainda lhe faltava. Então Jesus lhe responde: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me”. E o jovem, ouvindo isso, retirou-se triste, porque possuía muitos bens.
Entrando novamente em nossa máquina do tempo, chegamos a Assis, na Itália, no século XIII. O jovem Francisco di Bernardone era filho de um rico comerciante e afeito a extravagâncias, farras e aventuras. Numa delas, teve uma visão num sonho, em que uma voz lhe dizia: “Volta para a tua terra, e te será dito o que haverás de fazer”. Pouco depois, começou a perder o interesse por seus hábitos mundanos e mostrar preocupação com o lado espiritual e a ajuda aos necessitados. Enquanto orava na igreja de São Damião, ouviu uma voz que lhe dizia: “Francisco, repara a minha igreja, que está em ruínas”. Decidiu então romper com o seu passado e começar vida nova. Em praça pública, despiu-se de suas roupas luxuosas, renunciou à sua herança, e partiu para uma vida de pobreza e caridade, junto do povo, da qual jamais retornou. Tornou-se o amado São Francisco de Assis.
Mais uma vez avançando no tempo e no espaço, nossa próxima parada é em Los Angeles, no século XXI. O executivo Scott Neeson, de origem escocesa e australiana, realiza o chamado “sonho americano”, com uma carreira profissional de muito sucesso, alcançando o posto de presidente da 20th Century Fox International, uma das gigantes do ramo cinematográfico. Durante uma década na empresa, lidou com megaproduções como “Titanic”, “Star Wars” e mais de uma centena de filmes. Em 2003, trocou a Fox pela Sony Pictures. Antes de assumir o novo posto, resolveu tirar um pequeno período sabático, realizando uma viagem ao Camboja. Lá conheceu o lixão de Steung Meanchey, na periferia da capital Phnom Penh. No país devastado por 20 anos de guerra, com 33% da população vivendo abaixo da linha de pobreza, um grande número de crianças luta pela sobrevivência naquele lixão, catando materiais recicláveis, na esperança de obter um dólar por dia, se der sorte.
Enquanto observava aquele cenário desolador, o seu celular toca. Do outro lado da linha, um agente de estrelas de Hollywood reclamava, irritado, porque o jatinho particular que foi providenciado para a sua cliente não tinha o entretenimento de bordo que ela desejava. “Minha vida não foi feita para ser tão difícil”, bradava. O contraste era gritante. De um lado, vaidades e futilidades de um universo alienado; de outro, o ambiente fétido e insalubre ao seu redor, povoado de crianças esquálidas e doentes. Isso foi o estopim para uma guinada radical nos rumos de sua vida. Num intervalo de poucos meses, ele abriu mão do seu emprego de alto executivo, que lhe rendia um milhão de dólares por ano, vendeu tudo o que tinha, inclusive o seu Porsche e o seu iate. Em seguida, mudou-se para o Camboja, onde criou uma instituição de caridade chamada Cambodian Children’s Fund, que inicialmente abrigava 45 crianças que viviam em estado crítico e atualmente oferece educação, assistência médica e capacitação a mais de 1500 crianças cambojanas, sendo dois terços delas oriundas do lixão de Steung Meanchey. Desde então, Scott Neeson dedica-se integralmente a essas crianças e à instituição.
Feito esse ligeiro passeio pela História, o que vemos de semelhança nesses quatro personagens que pertencem a séculos e continentes tão distantes? O príncipe Siddhartha, o jovem da Palestina, Francisco di Bernardone e Scott Neeson – todos eram moços ricos e todos ouviram “o chamado”. E para atender ao chamado, era necessário abrir mão do extremo conforto que a vida lhes proporcionara até então. “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
A opção pela vida na pobreza, feita por Buda, Francisco de Assis e pelo próprio Cristo, pode levar a crer que a riqueza seja algo abominável. Porém este não é o âmago da questão. A Doutrina Espírita veio explicar que trabalhar pela melhoria material do planeta é também uma das missões do homem. A fim de encontrar os meios de executar seus trabalhos com maior segurança e rapidez, o homem procura evoluir a ciência e a tecnologia. Para tanto, precisa de recursos, e a necessidade faz o homem criar a riqueza, assim como o faz descobrir a ciência. A atividade que esses trabalhos impõem amplia e desenvolve a inteligência do homem; e essa inteligência concentrada na satisfação das necessidades materiais o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. Sem a riqueza, não haveria grandes obras, nem descobertas. Portanto, a riqueza é um elemento de progresso. E o progresso é uma lei divina.
O ensino de Jesus, assim como as Nobres Verdades de Buda, orienta quanto ao desapego dos bens terrenos, como condição essencial à bem-aventurança. Isto não significa a abominação da riqueza, mas do apego que o homem tem a ela. O homem é um depositário, um administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos. Terá de prestar contas do emprego que lhes haja dado com o seu livre-arbítrio. O mau uso consiste em aplicar esses bens exclusivamente na sua satisfação pessoal; o bom uso, ao contrário, é quando disso resulta um bem para outros. Como na parábola dos talentos, o bom rico é aquele que multiplicou as dádivas recebidas. E Deus lhe dirá: “Bom e fiel servo, compartilha da alegria do teu Senhor!”. Neste sentido, Scott Neeson veio demonstrar a todos nós, pelo exemplo de vida, que a prova da riqueza pode ser muito bem-sucedida.
 
* Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática. É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Espero que você seja...

Espero que você seja... Bom Aprendiz

Joamar Zanolini Nazareth

O livro da vida é o livro mais rico de informações e sabedoria que existe.
Todos os dias somos defrontados por inúmeras experiências que nos fazem reagir, de maneira peremptória, modificando hábitos já existentes, criando novos, incorporando valores e lições que faz de cada ser humano uma enciclopédia ambulante, com uma quantidade de conhecimento fantástico, com duas peculiaridades:
A primeira é que não há duas criaturas com igual bagagem, sendo totalmente particular a história e o cabedal de cada um, sendo personalíssimo o livro da vida para cada um de nós,

A segunda peculiaridade é que o número de páginas em branco supera o número de páginas preenchidas, pois sempre temos mais experiências por viver e aprender do que o aprendizado já assimilado.
Todavia, o primeiro passo para o aproveitamento das vivências será sempre estar aberto a aprender, sem vaidades, sem preconceitos, sem ilusão de se achar o(a) “bom(boa) do pedaço”, se achando o(a) professor(a).
Quando o filósofo Sócrates esteve no oráculo de Delfos e disse que somente sabia “que nada sabia”, a resposta foi de que era ele o homem mais sábio que ali já havia estado.
Compreender que pouco sabemos e muito mais temos a conhecer faz de nós bons aprendizes, e o bom aprendiz é aquele constantemente apto a absorver novos ensinamentos.

Lamentável quando vemos pessoas que se julgam sábias e se fecham a novos aprendizados. Se realmente fossem sábias saberiam que apenas o Criador é onisciente...

(Autor: Joamar Zanolini Nazareth)

domingo, 15 de setembro de 2013

Anotações: INFLUÊNCIA SOCIAL – ANÁLISE E CONTÁGIO

Tema: INFLUÊNCIA SOCIAL – ANÁLISE E CONTÁGIO
O educando na visão social espírita
Marcos Alberto de Mario
A VISÃO DA SOCIOLOGIA
Segundo a moderna Sociologia, nos estudos ontológicos (teoria do ser) que faz sobre a sociedade e os indivíduos, o social está nos indivíduos, ou seja, a sociedade é não apenas a soma dos indivíduos, mas a consciência coletiva dos indivíduos, já que estes não perdem sua individualidade. O indivíduo age no social como o social age no indivíduo. As identidades são mantidas, embora se relacionem e se influenciem. E por que o indivíduo mantém sua individualidade? Porque possui a personalidade, cujos componentes são normalmente assim classificados:
  1. Fatores biológicos (biótipo);
  2. Grau de desenvolvimento biológico (idade);
  3. Fatores biológicos adquiridos: alimentação, bebidas, tóxicos, doenças, etc.;
  4. Fatores psíquicos (tipo psicológico);
  5. Fatores psíquicos adquiridos: automatismos, complexos, vivências, etc.;
  6. Fatores sociais e culturais.
A Sociologia considera o indivíduo e a sociedade apenas do ponto de vista desta existência, de uma única vida que nos é dada, portanto, sua posição é materialista.
Desse modo, o educando precisa ser preparado para a vida, esta única vida física, sendo formado por três elementos básicos:
  1. Os fatores biológicos – temos a influência do corpo;
  2. Os fatores psicológicos – estruturas do passado e do presente;
  3. Os fatores sociais e culturais – influência da cultura, da mídia e do grupo social.
A formação intelectual do educando é prioritária.
Não resta dúvida serem os três fatores apontados pela Sociologia importantes na composição do indivíduo, mas não respondem pelo ser integral, como facilmente podemos verificar na história humana e nas pesquisas atuais sobre o psiquismo.
A Doutrina Espírita possui uma visão mais ampla ao relacionar a esses três fatores apontados pela Sociologia mais dois fatores: o fator espiritual e o fator reencarnação.
A VISÃO DO ESPIRITISMO
No livro "Obras Póstumas", encontramos nas páginas 239 a 245, 26ª edição da FEB, o ensaio As Aristocracias, de Allan Kardec, que nos permitimos estudar de forma mais didática, onde encontramos uma posição lúcida sobre o indivíduo e a coletividade de acordo com os princípios espíritas, ampliando a visão sociológica do ser e da sociedade.
Diz-nos Kardec que em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte:
ü  homens incapazes, que precisam ser dirigidos;
ü  homens fracos, que reclamam proteção;
ü  paixões, que exigem repressão.
A autoridade, ou seja, a necessidade de liderança social investiu desse poder, sucessivamente:
(1°) o ancião (patriarca), pela sua experiência;
(2°) o chefe militar, pela sua força e inteligência;
(3°) o descendente, pela sua herança final.
A conservação do estado de força e privilégios foi feita através das leis, mas o tempo, com a conseqüente necessidade de busca de recursos para sobrevivência, fez com que os dominados se insurgissem contra os dominadores. É a evolução, princípio básico da lei divina. Entretanto, uma nova autoridade surgiu: o dinheiro, mas por pouco tempo, pois que para adquiri-lo é preciso inteligência, que nos nossos dias é a autoridade estabelecida, chamada pelos pensadores atuais de conhecimento.
A inteligência, por si só, não equilibra o homem. O bom uso das faculdades depende da moral, que também não pode ficar isolada. A união da inteligência com a moral representa a verdadeira autoridade.
Homens moralizados e instruídos implantarão o reino do bem na Terra.
*                   Princípio Moral - Sentimento (de justiça, de caridade)
"Entre os maus, muitos há que apenas o são por arrastamento e que se tornariam bons, se observassem bons exemplos, desde que submetidos a uma influência boa."
O que temos de combater são os "vícios do caráter: o orgulho, o egoísmo, a cupidez com seus cortejos".
A causa capaz de apressar o progresso humano é o Espiritismo, por ser uma doutrina de educação.
O Espiritismo, aplicado:
  1. Promove a fraternidade humana;
  2. Demonstra que as provas da vida atual são a conseqüência lógica e racional dos atos praticados nas existências anteriores;
  3. Faz de cada homem o artífice voluntário da sua própria felicidade;
  4. Eleva sensivelmente o nível moral.
"Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele (o Espiritismo): Não há fé inabalável, senão a que possa encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não basta ver, é, sobretudo, preciso compreender."
A VISÃO EDUCACIONAL ESPÍRITA
Essa nova ordem de idéias que o Espiritismo nos apresenta no campo sociológico modifica a visão educacional do homem, já que, como doutrina de educação, o Espiritismo considera o homem como ser criado por Deus, com a finalidade de se aperfeiçoar e contribuir na obra da criação. O homem é espírito-perispírito-corpo, sendo imortal, estando sucessivamente em dois estágios distintos:
  1. Desencarnado, no mundo espiritual;
  2. Encarnado, no mundo físico.
O perispírito é o elo de ligação entre os dois estágios, interagindo com a mente e o processo orgânico do corpo.
Ao estar encarnado não é esta a primeira existência do homem, pois que já as teve anteriores, trazendo delas tendências e idéias inatas.
Cabe à educação:
  1. fortalecer e ampliar as boas tendências do Espírito;
  2. corrigir suas más tendências;
  3. direcionar seu caráter para o bem;
  4. promover o esforço para conquistar virtudes;
  5. ampliar os horizontes intelectuais.
O educador espírita deve manter o diálogo aberto; estimular o educando a fazer uso de suas potencialidades; deve dar-lhe instrumentos que possibilitem a sensibilidade do sentimento e fornecer-lhe a aplicação prática dos princípios de vida oferecidos pelo Espiritismo.
Na medida do possível, objetivando a educação integral do ser, deve procurar unir a família ao processo educacional da escola, tendo sempre em mente que vida é educação e, portanto, a coletividade, a família, a escola, o trabalho, a sexualidade, enfim, tudo o que faz parte da existência terrena educa, na medida em que promovemos a integração do homem consigo mesmo, tornando-o consciente de si, de sua perfectibilidade, e também sua integração com o próximo e com Deus, nosso Pai.
O homem educado no bem e para o bem, numa palavra, moralizado, terá consciência de como deve proceder, segundo o conselho do apóstolo Paulo de Tarso: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém."

(Enviado por Marita, para a lista Evangelização Espírita 1 – fonte: SOCIEDADE ESPÍRITA OS MENSAGEIROS DA PAZ)