sábado, 25 de outubro de 2014

Carta Sobre a Incredulidade

R.E. , janeiro de 1861, p. 35 
 
(Primeira parte)
Um dos nossos colegas, o Sr. Canu, outrora muito imbuído dos princípios materialistas, e que o Espiritismo levou a uma apreciação mais sadia das coisas, acusava-se de ter-se feito propagandista de doutrinas que hoje considera subversivas da 5 Grand in-18, preço 1 fr.; pelo Correio: 1 fr. e 15 centavos. – No escritório da Revista Espírita e na Livraria Ledoyen, no Palais Royal. ordem social. No intuito de reparar o que considera, com justa razão, uma falta, e esclarecer aqueles a quem havia transviado, escreveu a um de seus amigos uma carta, sobre a qual julgou por bem pedir a nossa opinião. Pareceu-nos que ela correspondia tão bem ao objetivo que ele se propunha, que lhe pedimos permissão para publicá-la, o que certamente agradará aos nossos leitores. Em vez de abordar francamente a questão do Espiritismo, que teria sido repelido pelas pessoas que não admitem ser a alma a sua base; sobretudo se em lugar de lhes expor sob os olhos os estranhos fenômenos que teriam negado, ou atribuído a causas ordinárias, ele remonta à sua origem. Procura, com razão, torná-las espiritualistas,antes de as tornar espíritas. Por um encadeamento de idéias perfeitamente lógico, chega à idéia espírita como conseqüência. Esta marcha, evidentemente, é a mais racional.

A extensão desta carta obriga-nos a dividir a sua publicação.

Paris, 10 de novembro de 1860.

Meu caro amigo,

Desejas uma longa carta sobre o Espiritismo. Esforçarme-ei por te satisfazer como melhor puder, enquanto espero a remessa de uma importante obra sobre a matéria, a qual deve aparecer no fim do ano.

Serei obrigado a começar por algumas considerações gerais, para o que será necessário remontar à origem do homem. Isto alongará um pouco a minha carta, mas é indispensável para a compreensão do assunto.

Tudo passa! diz-se geralmente.

Sim; tudo passa. Mas em geral também se dá a esta expressão uma significação muito afastada da que lhe é própria. Tudo passa, mas nada acaba, a não ser a forma.

Tudo passa, no sentido de que tudo marcha e segue o seu curso; mas não um curso cego e sem objetivo, embora jamais deva acabar.

O movimento é a grande lei do Universo, assim na ordem moral como na ordem física, e o fim do movimento é a progressão para o melhor. É um trabalho ativo, incessante e universal; é o que chamamos o progresso.

Tudo está submetido a esta lei, exceto Deus. Deus é o seu autor; a criatura lhe é instrumento e objeto.

A criação compõe-se de duas naturezas distintas: a natureza material e a natureza intelectual. Esta é o instrumento ativo; aquela é o instrumento passivo.

Esses dois instrumentos são complementos um do outro, isto é, um sem o outro seria de emprego inteiramente nulo.

Sem a natureza intelectual, ou o espírito inteligente e ativo, a natureza material, isto é, a matéria ininteligente e inerte, seria perfeitamente inútil, nada podendo por si mesma. Sem a matéria inerte dar-se-ia o mesmo com o espírito inteligente. Mesmo o instrumento mais perfeito seria como se não existisse, caso não houvesse alguém para dele se servir.

O mais hábil operário e o sábio da mais elevada ordem seriam tão impotentes quanto o mais completo idiota, se não tivessem instrumentos para desenvolver a sua ciência e fazê-la manifestar-se.

Eis aqui o momento e o lugar de fazer notar que o instrumento material não consiste somente na plaina do marceneiro, no cinzel do escultor, na paleta do pintor, no escalpelo do cirurgião, no compasso ou na luneta do astrônomo; consiste também na mão, na língua, nos olhos, no cérebro, numa palavra, na reunião de todos os órgãos materiais necessários à manifestação do pensamento, o que naturalmente implica a denominação de instrumento passivo à própria matéria sobre a qual a inteligência opera, por meio do instrumento propriamente dito. É assim que uma mesa, uma casa e um quadro, considerados nos elementos que os compõem, não são menos instrumentos que a serra, a plaina, o esquadro, a colher de pedreiro e o pincel que os produziram, que a mão e os olhos que os dirigiram; enfim, que o cérebro que presidiu a essa direção. Ora, tudo isto, inclusive o cérebro, foi o instrumento complexo de que se serviu a inteligência para manifestar o seu pensamento, sua vontade, que era produzir uma forma, e essa forma ou era uma mesa, ou uma casa, ou um quadro,etc.

Inerte por natureza, disforme por essência, a matéria não adquire propriedades úteis senão pela forma que se lhe imprime, o que levou um célebre fisiologista a dizer que a forma era mais necessária que a matéria, proposição talvez um tanto paradoxal, mas que prova a superioridade do papel desempenhado pela forma nas modificações da matéria. É conforme essa lei que o próprio Deus, se assim me posso exprimir, dispôs e modificou incessantemente os mundos e as criaturas que os habitam, de acordo com as formas que melhor convêm aos seus propósitos para a harmonização do Universo. E é sempre segundo essa mesma lei que as criaturas inteligentes, agindo incessantemente sobre a matéria, como o próprio Deus, mas secundariamente, concorrem para a sua transformação contínua, transformação em que cada grau, cada estágio é um passo no progresso, ao mesmo tempo que manifestação da inteligência que lhe deu origem.

É desse modo que tudo na criação está em movimento e sempre em progresso; que a missão da criatura inteligente é ativar esse movimento no sentido do progresso, o que realiza muitas vezes mesmo sem o saber; que o papel da criatura material é obedecer a esse movimento e manifestar o progresso da criatura inteligente; que a Criação, enfim, considerada em seu conjunto ou em suas partes, realiza incessantemente os desígnios de Deus.

Quantas criaturas inteligentes (sem sair do nosso planeta) desempenham uma missão da qual estão longe de suspeitar! E confesso que, de minha parte, ainda há bem pouco tempo eu era desse número. Nem por isso me sentiria constrangido em deixar aqui algumas palavras sobre a minha própria história. Haverás de perdoar-me essa pequena digressão, que pode ter seu lado útil.

Educado na escola do dogma católico, não tendo desenvolvido a reflexão e o exame senão muito tarde, por muito tempo fui um crente fervoroso e cego; por certo não o esqueceste.

Mas sabes, também, que mais tarde caí no excesso contrário: da negação de certos princípios que minha razão não podia admitir, concluí pela negação absoluta. Sobretudo me revoltava o dogma da eternidade das penas. Eu não podia conciliar a idéia de um Deus, que me diziam infinitamente misericordioso,com a de um castigo perpétuo para uma falta passageira. O quadro do inferno, suas fornalhas, suas torturas materiais me parecia ridículo e uma paródia do Tártaro dos pagãos. Recapitulei minhas impressões de infância e lembrei-me de que, por ocasião da minha primeira comunhão, diziam-nos que não havia necessidade de orar pelos danados, porque isso de nada lhes serviria; aquele que não tivesse fé era votado às chamas, bastando uma dúvida sobre a infalibilidade da Igreja para se ser condenado às penas eternas; que o próprio bem que fizéssemos aqui não nos poderia salvar,
considerando-se que Deus colocava a fé acima das melhores ações humanas. Essa doutrina me tornara impiedoso, endurecendo-me o coração. Olhava os homens com desconfiança e, à mais leve falta,eu cria ver ao meu lado um condenado de quem devia fugir como da peste, e ao qual, em minha indignação, eu teria recusado um copo de água, dizendo-me a mim mesmo que Deus lhe recusaria ainda mais. Se ainda houvesse fogueiras, eu teria empurrado para elas todos os que não tivessem a fé ortodoxa, fosse ainda o meu próprio pai. Nesse estado de espírito eu não podia amar a Deus: tinha medo dele.

Mais tarde uma porção de circunstâncias demasiado longas para enumerar, vieram abrir-me os olhos e eu rejeitei os dogmas que não se conciliavam com a minha razão, porque ninguém me havia ensinado a pôr a moral acima da forma. Do fanatismo religioso caí no fanatismo da incredulidade, a exemplo de tantos companheiros de infância.

Não entrarei em detalhes, que nos levariam muito longe. Apenas acrescentarei que, depois de haver perdido durante quinze anos a doce ilusão da existência de um Deus infinitamente bom, poderoso e sábio, da existência e da imortalidade da alma, enfim hoje encontro de novo, não uma ilusão, mas uma certeza tão completa quanto à de minha existência atual, quanto a de te escrever neste momento.

Eis, meu amigo, o grande acontecimento de nossa época, o grande acontecimento que nos é dado ver realizar-se em nossos dias: a prova material da existência e da imortalidade da alma.

Voltemos ao fato; mas para te fazer melhor compreender o Espiritismo, vamos remontar à origem do homem, não nos detendo nesse assunto por muito tempo.

É evidente que os globos que povoam a imensidão não foram feitos unicamente tendo em vista a sua ornamentação. Têm também uma finalidade útil, ao lado da agradável: a de produzir e alimentar os seres vivos materiais, que são instrumentos apropriados e dóceis a essa multidão infinita de criaturas inteligentes que povoam o espaço e que são, definitivamente, a obra-prima, ou melhor, o objetivo da criação, pois que só elas têm a faculdade de conhecer, admirar e adorar o seu autor.

Cada um dos globos espalhados no espaço teve o seu começo, em relação à sua forma, num tempo mais ou menos recuado. Quanto à idade da matéria que o compõe, é um segredo que não nos importa aqui conhecer, uma vez que a forma é tudo para o objeto que nos ocupa. Com efeito, pouco nos importa que a matéria seja eterna, ou apenas de criação anterior à formação do astro, ou, finalmente, contemporânea a essa formação. O que é preciso saber é que o astro foi formado para ser habitado. Talvez não seja um despropósito acrescentar que essas formações não são feitas em um dia, como dizem as Escrituras; que um globo não sai repentinamente do nada já coberto de florestas, de prados e de habitantes, como Minerva saiu armada, dos pés à cabeça, da cabeça de Júpiter. Não; Deus procede, certamente, com mais lentidão; tudo segue uma lei lenta e progressiva, não porque Ele hesite ou tenha necessidade de lentidão, mas porque essas leis são assim e são imutáveis. Aliás, aquilo a que nós, seres efêmeros, chamamos lentidão, não o é para Deus, para quem o tempo nada representa.

Eis, pois, um globo em formação ou, se quiseres, já formado. Devem transcorrer ainda muitos séculos ou milhares de séculos antes que ele seja habitável, mas enfim chega o momento. Depois de modificações numerosas e sucessivas em sua superfície,pouco a pouco começa a se cobrir de vegetação (falo da Terra, não pretendendo fazer, a não ser por analogia, a história dos outros globos, cujo fim, evidentemente, é o mesmo, mas cujas modificações físicas podem variar). Ao lado da vegetação aparece a vida animal, uma e outra na sua maior simplicidade, pois sendo esses dois ramos do reino orgânico necessários um ao outro,fecundam-se mutuamente, alimentam-se reciprocamente, elaborando de comum acordo a matéria inorgânica, para torná-la cada vez mais apropriada à formação de seres sempre mais perfeitos, até que ela tenha atingido o ponto de poder produzir e alimentar o corpo que deve servir de habitação e de instrumento ao ser por excelência, isto é, ao ser intelectual que dele deve servirse; que, por assim dizer, o espera para manifestar-se, pois, sem ele,não poderia fazê-lo.

Eis que chegamos ao homem! Como se formou ele? Ainda aí não é o problema. Formou-se segundo a grande lei da formação dos seres, eis tudo. Pelo fato de não ser conhecida, essa
lei não deixa de existir. Como se formaram os primeiros exemplares de cada espécie de plantas? Os primeiros indivíduos de cada espécie de animal? Cada um deles se formou à sua maneira,segundo a mesma lei. O que é certo é que Deus não teve necessidade de se transformar em oleiro, nem de sujar as mãos no barro para formar o homem, nem de lhe arrancar uma costela para formar a mulher. Esta fábula, aparentemente absurda e ridícula,pode muito bem ser uma figura engenhosa, ocultando um sentido penetrável por Espíritos mais perspicazes que o meu; mas como disso nada entendo, vou me deter aqui.

Finalmente, eis o homem material habitando a Terra,ele próprio habitado por um ser imaterial, do qual é apenas o instrumento. Incapaz de algo por si mesmo, como a matéria em geral, não se torna apto para qualquer coisa senão pela inteligência que o anima; mas essa mesma inteligência, criatura imperfeita como tudo quanto é criatura, isto é, como tudo quanto não é Deus, tem necessidade de aperfeiçoar-se, e é precisamente em vista desse aperfeiçoamento que o corpo lhe foi dado, porquanto, sem a matéria, o Espírito não poderia manifestar-se, nem,conseqüentemente, melhorar-se, esclarecer-se e progredir, enfim.

Considerada coletivamente, a Humanidade é comparável ao indivíduo. Ignorante na infância, ela se esclarece à medida que os anos avançam, o que se explica naturalmente pelo mesmo estado de imperfeição em que se achavam os Espíritos, para cujo avanço a Humanidade foi feita. Mas quanto ao Espírito,considerado individualmente, não será numa única existência que poderá adquirir a soma de progresso que é chamado a realizar. Eis por que um número mais ou menos grande de existências corpóreas lhe são necessárias, conforme o emprego que tiver feito de cada uma delas. Quanto mais houver trabalhado para o seu adiantamento em cada existência, menos existências terá de suportar; e como cada existência corpórea é uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse de progredir o mais rapidamente possível, a fim de sofrer menor número de provas, pois o Espírito não retrograda. Para ele cada progresso realizado é uma conquista assegurada, que não lhe poderá ser retirada. De acordo com esse princípio, hoje demonstrado, tornase evidente que ele alcançará mais cedo o objetivo, quanto mais depressa caminhar.

Resulta do que precede que cada um de nós não se acha, hoje, em nossa primeira existência corporal, por muito que nos encontremos distanciados da última, porque nossas existências primitivas devem ter-se passado em mundos muito inferiores à Terra, à qual só chegamos quando nosso Espírito alcançou um estado de perfeição compatível com esse astro. Do mesmo modo, à medida que progredimos passamos a mundos superiores, sob todos os aspectos muito mais adiantados que a Terra, e isso de degrau em degrau, avançando sempre para o melhor. Mas antes de deixar um globo, parece que nele passamos várias existências, cujo número, todavia, não é limitado, mas subordinado à soma de progresso que houvermos realizado.

Prevejo uma objeção em teus lábios. Dir-me-ás que tudo isto pode ser verdadeiro, mas como não me lembro de nada, o mesmo ocorrendo com os outros, tudo quanto se tiver passado em nossas precedentes existências é como se não se tivesse passado. E, se acontece o mesmo em cada nova existência, ao meu Espírito pouco importa ser imortal ou morrer com o corpo, se, conservando a sua individualidade, não tem consciência de sua identidade. Com efeito, para nós seria a mesma coisa, mas não é assim. Não perdemos a lembrança do passado senão durante a vida corporal, para readquiri-la com a morte, isto é, quando o Espírito despertar em sua verdadeira existência, a de Espírito livre, em relação à qual as existências corpóreas podem ser comparadas ao que o sono representa para o corpo.

Em que se tornam as almas dos mortos enquanto esperam uma nova reencarnação?

As que não deixam a Terra ficam errantes em sua superfície, vão sem dúvida aonde lhes apraz, ou, pelo menos, aonde podem, conforme o seu grau de adiantamento, mas, em geral,pouco se afastam dos vivos, principalmente daqueles a quem são afeiçoadas, quando têm afeição por alguém, a menos que lhes sejam impostos deveres a cumprir alhures. Estamos, pois, em todos os momentos, cercados por uma multidão de Espíritos conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos, que nos vêem, nos observam e nos ouvem; alguns participam de nossas penas, bem como de nossas alegrias; outros sofrem com os nossos prazeres ou gozam com as nossas dores, enquanto outros, finalmente, mostram-se indiferentes a tudo, exatamente como acontece na Terra, entre os mortais, cujas afeições, antipatias, vícios e virtudes são conservados no outro mundo. A diferença é que os bons desfrutam na outra vida de uma felicidade desconhecida na Terra, o que se compreende muito bem; não têm necessidades materiais a satisfazer, nem obstáculos do mesmo gênero a ultrapassar. Se viveram bem, isto é, se nada têm ou pouco têm a se censurar em sua última existência corporal, gozam em paz o testemunho de sua consciência e do bem que fizeram. Se viveram mal, se foram maus, como lá estão a descoberto não podem mais dissimular sob o envoltório material, sofrendo a presença daqueles a quem ofenderam, desprezaram e oprimiram, bem como a impossibilidade, em que se encontram, de subtrair-se aos olhares de todos. Sofrem, finalmente, pelo remorso que os corrói, até que o arrependimento os venha aliviar, o que acontece mais cedo ou mais tarde, ou que uma nova encarnação os afaste, não às vistas de outros Espíritos, mas às próprias vistas, tirando-lhes
momentaneamente a consciência de sua identidade. Desse modo,perdendo a lembrança do passado, sentem-se aliviados. Mas também é, para eles, o momento em que começa uma nova prova. Se dela tiverem a sorte de sair melhorados, gozarão o progresso realizado; se não se melhorarem, reencontrarão os mesmos tormentos, até que, finalmente, se arrependam ou aproveitem uma nova existência.

Há um outro gênero de sofrimento: o experimentado pelos piores e mais perversos Espíritos. Inacessíveis à vergonha e ao remorso, estes não sent em os seus tormentos, embora seus sofrimentos sejam ainda mais vivos, porquanto, sempre inclinados ao mal, mas impotentes para o fazer, sofrem de inveja ao ver os outros mais felizes ou melhores que eles próprios, ao mesmo tempo sofrendo a raiva de não poderem saciar o seu ódio e entregar-se a todas as suas más inclinações. Oh! estes sofrem muito, mas, como te disse, sofrerão apenas enquanto não se melhorarem,ou, em outros termos, até o dia em que melhorarem. Muitas vezes não prevêem esse termo; são tão maus, tão enceguecidos pelo mal,que não suspeitam a existência, ou a possibilidade da existência de um melhor estado de coisas, não imaginando, conseqüentemente,que seu sofrimento deve acabar um dia. É isso que os torna
insensíveis ao mal e lhes agrava os tormentos. Como, porém, nem sempre podem fugir à sorte comum que Deus reserva, sem exceção, a todas as criaturas, chega finalmente um momento em que lhes é preciso seguir a rota ordinária; algumas vezes esse dia está mais próximo do que se poderia supor ao observar a sua perversidade. Foram vistos alguns que se converteram subitamente, e de repente seus sofrimentos cessaram; entretanto, ainda lhes restam rudes provas a suportar na Terra, em sua próxima encarnação. É preciso que se depurem, expiando as próprias faltas,e isto, definitivamente, é mais que justo; pelo menos não temem mais a perda do progresso realizado, pois não podem retroceder. Eis aí, meu amigo, da mais clara e sucinta maneira, a exposição da filosofia do Espiritismo, tal qual me era possível fazêlo numa carta. Dela encontrarás desenvolvimentos mais completos,até este momento, e os mais satisfatórios, em O Livro dos Espíritos, fonte onde bebi aquilo que me fez o que sou.

Passemos agora à prática.

(Conclusão no próximo número)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

E, aí! Vc sabia?!

Pela FEB http://www.febeditora.com.br/ebooks/

eBooks

O Que é

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terça-feira, 21 de outubro de 2014

APELO DE CÁRITA



R.E. , dezembro de 1865, p. 471
 
Escrevem-nos de Lyon:

“...O Espiritismo, esse grande traço de união entre todos os filhos de Deus, abriu-nos tão vastos horizontes que podemos olhar, de um a outro ponto, todos os corações esparsos que as circunstâncias colocaram no Oriente e no Ocidente, e os ver vibrar a um só apelo de Cárita. Ainda me lembro da profunda emoção que senti quando, no ano passado, a Revista Espírita nos dava conta da impressão produzida em todas as partes da Europa por uma comunicação desse bondoso Espírito. Por certo se poderá dizer tudo quanto se queira contra o Espiritismo: é uma prova de que ele cresce, pois geralmente não se atacam as pequenas causas,
mas os grandes efeitos. Aliás, a que se assemelham esses ataques? À cólera de uma criança que atirasse pedras ao oceano, para o impedir de murmurar. Os detratores do Espiritismo quase não suspeitam que, denegrindo a doutrina, pagam todas as despesas de uma propaganda que dá aos que a lêem vontade de conhecer esse temível inimigo, que tem como palavra de ordem: Fora da caridade
não há salvaçã o...” Esta carta estava acompanhada da seguinte comunicação, ditada pelo Espírito Cárita, a eloqüente e graciosa pedinte, que os bons corações conhecem tão bem.

(Lyon, 8 de novembro de 1865)

“Faz frio, chove, o vento sopra muito forte; abri-me.

“Fiz uma longa viagem através do país da miséria e volto com o coração mortificado, os ombros sobrecarregados pelo fardo de todas as dores. Abri-me bem depressa, meus amados, vós que sabeis que a caridade só bate à vossa porta quando encontra muitos infelizes em seu caminho. Abri o vosso coração para receber as minhas confidências; abri a vossa bolsa para enxugar as lágrimas de meus protegidos e escutai-me com essa emoção que a dor faz subir de vossa alma aos vossos lábios. Oh! vós que sabeis o que Deus reserva, e que muitas vezes chorais essas lágrimas de amor que o Cristo chamava o orvalho da vida celeste, abri-me!... Obrigada! eu entrei.

“Parti esta manhã; chamavam-me de todos os lados. O sofrimento tem a voz tão vibrante que um único apelo é suficiente. Minha primeira visita foi para dois pobres velhos: marido e mulher. Viveram ambos esses longos dias em que o pão escasseia, o sol se esconde e falta trabalho aos braços valentes que o chamam; sepultaram a miséria no lar da dignidade e ninguém pôde adivinhar que muitas vezes o dia transcorria sem trazer seu pão quotidiano. Depois chegou a idade, os membros se enrijeceram, os olhos ficaram velados e o patrão, que fornecia trabalho, disse: Nada mais tenho a fazer. Entretanto, a morte não veio; a fome e o frio são os visitantes habituais, diários, da pobre morada. Como responder a essa miséria? Proclamando-a? Oh, não! Há feridas que não se  curam arrancando o aparato que as cobre. O que acalma o coração é uma palavra de consolo, dita por uma voz amiga que adivinhou, com sua alma, o que lhe ocultaram aos olhos. Para esses pobres, abri-me!

“E, depois, vi uma mãe repartir seu único pedaço de pão com os três filhinhos; e como o naco era muito pequeno, nada guardou para si. Vi a lareira apagada, o pobre catre; vi os membros tiritantes envolvidos em farrapos; vi o marido entrar em casa sem ter encontrado trabalho; enfim, vi o filho caçula morrer sem socorro, porque o pai e a mãe são espíritas e tiveram que sofrer humilhações das obras de beneficência.

“Vi a miséria em toda a sua horrenda chaga; vi os corações se atrofiarem e a dignidade extinguir-se sob o verme roedor da necessidade de viver. Vi criaturas de Deus renegarem sua origem imortal, porque não compreendiam a provação. Vi, enfim, o materialismo crescer com a miséria e em vão gritei: Abri-me! eu sou a caridade; venho a vós com o coração cheio de ternura; não choreis mais, eu venho vos consolar. Mas o coração dos infelizes não me escutou: suas entranhas tinham muita fome!

“Então me aproximei de vós, meus bons amigos, de vós que me escutastes, de vós que sabeis que Cárita pede esmola para os pobres e vos disse: Abri-me!

“Acabo de vos contar o que vi em minha longa jornada e, eu vos suplico, tendes para os meus pobres um pensamento, uma palavra, uma doce lembrança, a fim de que à noite, à hora da prece, eles não adormeçam sem agradecer a Deus, porque lhes sorristes de longe. Sabeis que os pobres são a pedra de toque que Deus envia à Terra para experimentar vossos corações. Não os repilais, a fim de que, um dia, quando tiverdes transposto o limiar que conduz ao espaço, Deus vos reconheça pela pureza de vossos corações e vos admita na morada dos eleitos! – Cárita.”

É com alegria que nos fazemos intérpretes da boa Cárita, esperando que ela não tenha dito em vão: Abri-me! Se bate à porta com tanta insistência, é que o inverno aí bate por seu lado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Este garoto criou uma tecnologia capaz de despoluir metade do Oceano Pacífico em 10 anos

Este garoto criou uma tecnologia capaz de despoluir metade do Oceano Pacífico em 10 anos

O rapaz da foto acima tem apenas 19 anos, mas é responsável por um plano ambicioso apoiado por mais de 100 pesquisadores, cientistas e ambientalistas. O holandês Boyan Slat criou a Ocean Cleanup, uma tecnologia capaz de limpar o lixo do Oceano Pacífico em uma década.

O sistema funciona como uma barreira flutuante que aproveita as correntes oceânicas para bloquear os resíduos encontrados no mar. Nos testes com um protótipo, a barreira foi capaz de coletar plásticos em até três metros de profundidade.

O sistema também recolheu pouca quantidade de zooplâncton, o que facilita o reaproveitamento e a reciclagem do plástico. A estimativa é de que o sistema remova 65 metros cúbicos de lixo por dia.

Slat teve a ideia anos atrás, quando mergulhava na Grécia e viu mais garrafas de plástico do que peixes. Desde então, desenvolveu a tecnologia, montou um site com todas as especificações, fez um estudo de viabilidade e uma campanha para financiar sua ideia.

A primeira apresentação da tecnologia aconteceu em um TEDx na Holanda há dois anos. Sua ideia não foi bem recebida por todos. Como resposta, Slat e uma equipe de pesquisadores fizeram um relatório com 530 páginas, em que justificavam a viabilidade do projeto.

O próximo passo é testar o sistema em larga escala e aumentar a produção do sistema. Para isso, ele busca financiamento coletivo. A meta é conseguir 2 milhões de dólares em 100 dias. Ela já conseguiu 30% da meta em 14 dias. Veja abaixo um vídeo sobre a Ocean Cleanup, nome da tecnologia e também da empresa criada por Slat:

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=6IjaZ2g-21E

Matéria publicada na Revista Info, em 18 de junho de 2014.

Claudio Conti* comenta

Esta notícia é, ao mesmo tempo, interessante e triste, expressando duas realidades distintas, mas que, apesar de tudo, estão ligadas entre si.

De um lado, vemos um jovem empenhado em tomar providências quanto a manutenção dos oceanos, fundamental para a vida como a conhecemos neste planeta, pois a transformação de gás carbônico em oxigênio é grandemente, não apenas, realizado pelo plâncton dos mares.

No site http://www.infoescola.com/biologia/plancton/, encontra-se um bom resumo sobre plâncton. O importante, todavia, para o entendimento deste texto é que são organismos vivos, habitam os oceanos e mares; captam o gás carbônico da atmosfera e produzem oxigênio. Segundo algumas pesquisas, o plâncton é a maior fonte de oxigênio, responsável pela maior parte do mesmo na atmosfera. Porém, essa diversidade é extremamente sensível a mudanças ambientais, como poluição e variações de temperatura nos mares e oceanos.

Sendo "apenas" um jovem, demonstra características muito interessantes. Uma é de demonstrar interesse e ocupar seu tempo na regeneração do meio-ambiente, procurando cuidar tanto da fauna e flora e, consequentemente, da população em geral.

Pode-se perceber, portanto, que o espírito em si não é jovem, desenvolvendo seu entendimento ao longo de larga caminhada, tanto na crosta quanto na erraticidade. Nesta caminhada, em determinado momento, surge tanto o interesse quanto a capacidade de solucionar problemas de grande porte. Demonstra, desta forma, a capacidade do espírito.

Contudo, há um outro lado, triste e deprimente. Vemos o comportamento de espíritos que se mantém na infantilidade, característica preponderante dos habitantes de um mundo de expiação e provas. Esta infantilidade é marcada pela fuga das responsabilidades, gerando comportamentos danosos, tanto para si mesmo quanto para a coletividade e o ambiente.

O comportamento sem responsabilidade se espraia de variadas formas e, no caso da reportagem em questão, vertendo lixo nos ambientes aquáticos, lixo este que demanda, como no caso do plástico, centenas de anos para a sua decomposição quando na natureza. Durante este tempo, chega a ser impensável a quantidade de danos que pode causar aos seus habitantes.

Vivemos momentos de muita reflexão, pois se acredita que este mundo se encontra em processo de mudanças e, neste contexto, a humanidade vivencia um importante e crucial momento para sua existência como espírito imortal.

Comportamento saudável conduzirá a condições de vida adequada para todos.

* Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com.

domingo, 19 de outubro de 2014

Cérebros conectados

Cérebros conectados

Cientistas norte-americanos colocam pesquisas de comunicação entre cérebros em novo patamar ao fazerem experimento com humanos. No estudo, pesquisador moveu o braço de colega pelo pensamento via internet sem fio.
Por: Sofia Moutinho
A ciência tem mostrado que transmissão de pensamento é cada vez menos um tema de ficção. Depois que pesquisadores norte-americanos e brasileiros conectaram os cérebros de dois ratos, foi a vez de cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, repetirem a façanha com humanos.
Por meio de um experimento que vem sendo chamado de “primeira interface cérebro humano-humano”, os pesquisadores conseguiram fazer com que um deles movesse a mão direita e pressionasse um teclado sob os comandos cerebrais de outro, localizado há quilômetros de distância.
Para isso, eles usaram apenas uma máquina de eletroencefalografia (peça comum em qualquer consultório neurológico), um dispositivo de estímulo magnético (usado para tratamento de doenças psiquiátricas) e internet sem fio.
O cientista responsável por transmitir o comando, o engenheiro de computação Rajesh Rao, teve sua cabeça coberta com eletrodos ligados à máquina de eletroencefalografia, que capta os sinais elétricos cerebrais. Do outro lado do campus da universidade, o psicólogo Andrea Stocco teve um aparelho de estímulo magnético cuidadosamente preso do lado esquerdo de seu cocuruto, na região precisa correspondente ao córtex motor direito – que curiosamente é a parte do cérebro que comanda a mão direita.
Toda essa preparação tinha a finalidade de tornar possível que Rao, o transmissor, jogasse um jogo de computador pelas mãos de Stocco, o receptor. O objetivo do jogo era defender uma cidade de um ataque pirata disparando um canhão ao apertar a tecla enter.
Rao apenas imaginou que movia sua mão no teclado para disparar fogo. Nesse momento, o sinal elétrico de seu cérebro captado pelo eletroencefalograma foi transmitido por internet sem fio até o dispositivo acoplado a Stocco. O aparelho então disparou um estímulo magnético no cérebro, fazendo com que sua mão se movesse contra sua vontade e lançasse fogo no navio pirata do joguinho.
“Senti meu dedo se movendo sem ter consciência disso, foi como um tique nervoso”, descreve Stocco.
Para atingir o feito, foram necessários anos de estudo. O maior desafio foi encontrar a região precisa do cérebro responsável pelo movimento da mão direita e, em seguida, dosar o estímulo para obter o movimento de dedo adequado. A neurocientista Chatel Prat, que também integra a equipe que conduziu o experimento, conta à CH On-line que somente para a primeira etapa foram cinco anos de pesquisa.
“Precisamos de muita prática até encontrar a estimulação mínima necessária para gerar um sinal cerebral capaz de mover o músculo do dedo”, diz. “Experimentamos (e brincamos) com diferentes configurações até encontrar a mais precisa e confortável.”
A declaração da cientista pode levar a pensar que a escolha de um jogo para o experimento foi apenas pela diversão. No entanto, o jogo teve um propósito: garantir que o sinal enviado pelo transmissor fosse intencional e não arbitrário. “Sabendo o momento em que o canhão deveria ser disparado, pudemos garantir que o sinal enviado foi intencional”, explica Prat. “O jogo capitalizou o tipo de efeito que queríamos ter no receptor, permitindo que dois sujeitos colaborassem para desempenhar uma tarefa on-line.”

Mais do mesmo?
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que comandou o experimento em que um rato transmitiu informação para o cérebro de outro, disse não estar surpreso com o novo feito. “O que eles fizeram não foi uma verdadeira interface cérebro-cérebro com comunicação entre duas pessoas, mas apenas uma via de mão única”, diz à CH On-line. “É muito cedo para declarar vitória na criação de uma interface humana de verdade.”
Prat não chega a exaltar a pesquisa de sua equipe, mas destaca que o grande diferencial do experimento foi usar técnicas não invasivas para conectar os cérebros – diferentemente do que faz Nicolelis, que usa eletrodos implantados cirurgicamente no cérebro dos ratos.
“Em termos de avanço científico, o que fizemos foi criar uma nova forma de usar tecnologias que já funcionam bem independentemente”, diz a neurocientista.“O maior diferencial é que podemos implantar nossa técnica em humanos que estão cientes do seu coenvolvimento e colaboração para resolver uma tarefa complexa.”

Possibilidades futuras
A cientista acredita que a verdadeira comunicação entre cérebros, em que haja uma transmissão de pensamentos consciente por ambas as partes, ainda está longe da realidade. “Vemos essa possibilidade como uma área excitante de pesquisa no futuro, mas para isso precisamos tanto de avanços na engenharia quanto na neurociência”, afirma.
Apesar disso, Prat e sua equipe já sonham com as possíveis aplicações de seu trabalho no futuro. Uma delas seria usar a técnica no treino e no controle remoto de pessoas em situações que exigem movimentos motores complexos, como conduzir uma cirurgia.
A ligação cérebro-cérebro também poderia ser usada para transferir conhecimentos complexos e para ajudar na reabilitação de pessoas com deficiências neurológicas. “Com a interface poderíamos ensinar ideias difíceis de expressar pela linguagem, como conceitos matemáticos, e até – o que me comove mais – prover o controle motor adequado a pacientes com danos cerebrais, reescrevendo seus circuitos neurais pela prática”, comenta Prat.

No controle
Por mais promissoras que sejam suas aplicações futuras, a experiência abre margem para questionamentos sobre o controle indevido sobre o outro. Não é difícil imaginar que a técnica possa ser usada para controlar pessoas a distância em situações escusas.
Prat acredita, no entanto, que um cenário como esse requereria uma supertecnologia. “Não consigo imaginar uma situação em que nossa técnica pudesse ser usada para o mal que não demandasse elementos tecnológicos e científicos muito mais avançados do que os necessários para os cenários bons que imaginamos”, diz.
A cientista ressalta ainda que seria difícil que a pessoa supostamente controlada não soubesse da interferência. “A participação voluntária é absolutamente necessária, pois não existe mecanismo para interferir no cérebro de alguém sem que a pessoa esteja conectada a um grande dispositivo de estímulo magnético”, comenta. “Além do mais, se alguém quisesse forçar outra pessoa a se comportar de certo modo contra sua vontade, seria muito mais fácil usar uma arma para ameaçá-la do que usar essa cara e pouco desenvolvida tecnologia.”
Notícia publicada na Revista Ciência Hoje, em 17 de setembro de 2013.

Sergio Rodrigues* comenta
A transmissão do pensamento, de modo natural e sem a utilização de aparelhos, foi abordada por Kardec, e explicada pelos Espíritos, nas questões 420 e seguintes, de O Livro dos Espíritos. Hoje, a questão é estudada também pela parapsicologia, recebendo o nome de “telepatia”. Na hipótese da matéria comentada, contudo, trata-se de uma nova maneira de transmissão do pensamente entre pessoas, agora com o auxílio de aparelhos. Ou seja, diferente da transmissão de pensamento natural, ensinada pelos Espíritos e hoje abordada pela parapsicologia, trata-se agora de transmissão de pensamento efetuada de modo não natural, por intermédio de instrumentos eletrônicos.
Os cientistas mencionados na matéria realizaram com sucesso esse experimento, fazendo com que alguém à distância comandasse os movimentos de outro, através de comandos cerebrais enviados por um aparelho. Antes, cientistas brasileiros haviam conectado cérebros de dois ratos para transmitir informações motoras e sensoriais entre eles. Vemos, portanto, avançar as experiências para se obter uma ligação de comunicação direta entre cérebros distintos.
A grande questão que fica para reflexão é o uso que se fará dessa tecnologia, uma vez apropriada de modo definitivo pelos homens. Os cientistas alegam que poderia ser utilizada na transmissão de conhecimentos ou para ajudar na reabilitação de pessoas com deficiências neurológicas. No entanto, sabemos que o progresso conquistado pelo homem nem sempre é utilizado no bem. Muitos inventos, descobertas e novas tecnologias, desenvolvidas para beneficiarem a humanidade, são apropriadas por povos ou setores destes para serem utilizadas com objetivos pouco nobres, de dominação e exploração. Os Espíritos ensinam que o progresso intelectual nem sempre vem acompanhado do progresso moral, embora o seu desenvolvimento contribua para a instalação deste. Um espírito pode ser superior em inteligência e transitar ainda pelo campo da inferioridade moral. As conquistas propiciadas pelo progresso intelectual somente são valiosas se acompanhadas por sentimentos de igualdade e fraternidade, que se conquistam apenas com o progresso moral. São aquisições que devem se alicerçar em valores morais e no amor ao próximo, utilizadas para o bem de todos.
 * Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.

Você sabia?!


Você sabia...

O Espírito deve trabalhar para desenvolver e conquistar o amor e a caridade dentro de si.

Quando alguém faz o bem a outra pessoa é beneficiado com sua própria ação.