sábado, 12 de abril de 2014

Pergunta feita: Quais os atributos necessários para o médium de cura?

Quais os atributos necessários para o médium de cura?

- O médium curador é utilizado pelos Espíritos superiores responsáveis por essa atividade. Os nobres desencarnados captam a problemática perispiritual do paciente, e lançam pensamentos para o perispírito do médium direcionando as funções endócrinas e metabólicas de seu corpo físico. O médium deve ter uma predisposição orgânica para ser capaz de, sob esse influência, secretar seus fluidos vitais para o paciente absorvê-los.
Além disso, o médium, naturalmente, deve: ter fé absoluta e racional em todo esse processo, estar em sintonia com os amigos espirituais, estar com o desejo máxim semelhante, estar sempre alegre para transmitir fluidos renovadores, viver uma vida cristã esforçando-se para ser melhor a cada dia e abster-se ao máximo dos vícios e excessos materiais.
O paciente, por outro lado, precisa estar com a mente receptiva, isto é, em sintonia com ambiente espiritual através de pensamentos cristãos e com o desejo real da cura. Será curado ou será apenas paliativo? Tudo vai depender do tipo da doença e de seu estágio no processo espiritual. Estar com a mente receptiva é sempre indispensável em qualquer caso, para, pelo menos causar o alívio. Contudo, a "Evangelhoterapia" é a grande chave para a cura real, já que convida o Espírito a renovar-se interiormente, abandonar seus antigos hábitos, esforçar-se para domar suas más inclinações, lidar com as dificuldades da vida, compreender, tolerar, perdoar e autoperdoar-se, canalizar, enfim, seus potenciais para o Bem.
Dessa forma, o Espírito educa-se superando suas dificuldades nas provas, adquirindo paciência nas expiações, mais força nas missões e vigilância contra a imprudência. De qualquer forma, a fé racional levará, com certeza, a uma grande resignação ativa diante da vida, trazendo esperanças e consolações. O Espiritismo tem, pois, como principal objetivo não o de curar os corpos, mas sim as almas, conduzindo à reforma das massas e trazendo o bem-estar físico, psíquico, social e, acima de todos, o espiritual.

(Fonte:Espiritismo.Net)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Revista Espírita: Os Tempos são Chegados

Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem-nos de todas as partes, onde os grandes acontecimentos vão se cumprir para a regeneração da Humanidade. Em que sentido é preciso entender estas palavras proféticas? Para os incrédulos, elas não têm nenhuma importância; aos seus olhos, não é senão a expressão de uma crença pueril sem fundamento; para a maioria dos crentes, ela têm alguma coisa de mística e de sobrenatural que Ihs parece ser precursoras do transtorno das leis da Natureza. Estas duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira naquilo que implica a negação da Providência, e que os fatos cumpridos provam a verdade dessas palavras; a segunda, naquilo que estas não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas seu cumprimento. Procuremos, pois, o sentido mais racional.
Tudo é harmonia na obra da criação, tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores coisas nem nas maiores; devemos, pois, de inicio descartar toda a idéia de capricho irreconciliável com a sabedoria divina; em segundo lugar, se nossa época está marcada para o cumprimento de certas coisas, é que elas têm sua razão de ser na marcha geral do conjunto.
Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride fisicamente pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente pela depuração dos Espíritos, encarnados e desencarnados, que o povoam. Estes dois progressos se seguem e caminham paralelamente, porque a perfeição da habitação está em relação com a do habitante. Fisicamente, o globo sofreu transformações, constatadas pela ciência, e que, sucessivamente, o tomaram habitável para seres cada vez mais aperfeiçoados; moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que a melhora do globo se opera, sob o império das forças materiais, os homens nisso concorrem pelos esforços de sua inteligência; eles saneiam as regiões insalubres, tornam as comunicações mais fáceis e a terra mais produtiva.
Esse duplo progresso se realiza de duas maneiras: uma lenta, gradual e insensível; a outra por mudanças mais bruscas, em cada uma das quais se opera um movimento ascensional mais rápido que marca, por caracteres marcantes, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados nos detalhes ao livre arbítrio dos homens, são, de alguma sorte, fatais em seu conjunto, porque estão submetidos à leis, como aqueles que se operam na germinação, crescimento e maturidade das plantas, tendo em vista que o objetivo da Humanidade é o progresso, não obstante a marcha retardatária de algumas individualidades; por isso, o movimento progressivo é algumas vezes parcial, quer dizer, limitado a uma raça ou a uma nação, outras vezes geral. O progresso da Humanidade se efetua, pois, em virtude de uma lei; ora, como todas as leis da Natureza são a obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é o efeito dessas leis é o resultado da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Portanto, quando a Humanidade está amadurecida para transpor um degrau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus são chegados, como se pode dizer também que em tal época chegaram pela maturidade os frutos e a colheita.
Do fato de que o movimento progressivo da Humanidade é inevitável, porque está na Natureza, não se segue que Deus a isto seja indiferente, e que, depois de ter estabelecido as leis, tenha entrado na inação, deixando as coisas irem inteiramente sozinhas. Suas leis são eternas e imutáveis, sem dúvida, mas porque sua própria vontade é eterna e constante, e que seu pensamento anima todas as coisas sem interrupção; seu pensamento, que penetra tudo, esforça inteligente e permanente que mantém tudo na harmonia; que esse pensamento cessasse um único instante de agir, e o Universo seria como um relógio sem pêndulo regulador. Deus vela, pois, incessantemente pela execução de suas leis, e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros encarregados dos detalhes, segundo as atribuições que tocam ao seu grau de adiantamento.
O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo incomensurável conduzido por um número não menos incomensurável de inteligências, um imenso governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Senhor, cuja vontade única mantém por toda a parte a unidade. Sob o domínio dessa vasta força reguladora tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita, o que nos parece perturbações são os movimentos parciais e isolados que não nos parecem irregulares senão porque nossa visão é circunscrita. Se pudéssemos abarcar-lhe o conjunto, veríamos que essas irregularidades não são senão aparentes e que se harmonizam no todo.
A previsão dos movimentos progressivos da Humanidade nada tem de surpreendente entre os seres desmaterializados que vêem o objetivo para onde tendem todas as coisas, dos quais alguns possuem o pensamento direto de Deus, e que julgam, nos movimentos parciais, o tempo pelo qual poderá se cumprir um movimento geral, como se julga antes o tempo que é preciso a uma árvore, para dar frutos, como os astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico pelo tempo que é preciso a um astro para cumprir sua revolução.
Mas todos aqueles que anunciam esses fenômenos, os autores de almanaques que predizem os eclipses e as marés, certamente eles mesmos não estão no estado de fazer os cálculos necessários não são senão os ecos; assim ocorre com os Espíritos secundários cuia visão é limitada, e que não fazem senão repetir o que aprouve aos Espíritos superiores Ihs revelar.
A Humanidade realizou, até este dia. incontestáveis progressos; os homens, por sua inteligência, chegaram a resultados que jamais tinham atingido com relação às ciências, às artes e ao bem-estar material; resta-lhes, ainda, um imenso progresso a realizar: é o de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o seu bem-estar moral. Não o podiam nem com suas crenças, nem com suas instituições antiquadas, restos de uma outra época, boas em uma certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, tendo dado o que elas comportam, seriam um atraso hoje. Tal uma criança é estimulada por móveis, impotentes quando vem a idade madura. Não é mais somente o desenvolvimento da inteligência que é necessário aos homens, é a elevação do sentimento, e para isto é preciso destruir tudo o que poderia superexcitar neles o egoísmo e o orgulho.
Tal é o período onde vão entrar doravante, e que marcará as fases principais da Humanidade. Esta fase que se elabora neste momento, é o complemento necessário do estado precedente, como a idade viril é o complemento da juventude; ela podia, pois, ser prevista e predita antecipadamente, e é por isto que se diz que os tempos marcados por Deus são chegados.
Neste tempo, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a uma região, a um povo, a uma raça; é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a se estabelecer, e os homens que lhe são os mais opostos nela trabalham com o seu desconhecimento; a geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, achar-se-á animada de idéias e de sentimentos diferentes da geração presente que se vai a passos de gigante. O velho mundo estará morto, e viverá na história, como hoje os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
De resto, cada um sabe que a ordem das coisas atuais deixa a desejar; depois de ver, de alguma sorte, esgotar o bem-estar material, que é o produto da inteligência, chega-se a compreender que o complemento desse bem-estar não pode estar senão no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, sem, no entanto, poder ainda defini-lo claramente: é o efeito do trabalho intimo que se opera para a regeneração; têm-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor.
Mas uma mudança tão radical, quanto a que se elabora, não pode se realizar sem comoção; a luta inevitável entre as idéias, e quem diz luta, diz alternativa de sucesso e de revés; no entanto, como as idéias novas são as do progresso, e que o progresso está nas leis da Natureza, elas não podem deixar de se impor sobre as idéias retrógradas. Forçosamente, desse conflito, surgirão as perturbações temporárias, até que o terreno seja desobstruído dos obstáculos que se opõem ao estabelecimento de um novo edifício social. Da luta das idéias é que surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não cataclismos, ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram a conseqüência do estado de formação da Terra; hoje, não são mais as entranhas do globo que se agitam, são as da Humanidade.
A Humanidade é um ser coletivo em que se operam as mesmas revoluções morais que em cada ser individual, com esta diferença de que umas se cumprem de ano em ano, e as outras de século em século. Que sejam acompanhadas, em suas evoluções através do tempo, e ver-se-á a vida das diversas raças marcadas por períodos que dão a cada época uma fisionomia particular.
Ao lado dos movimentos parciais, há um movimento geral que dá o impulso à Humanidade inteira; mas o progresso de cada parte do conjunto é relativo ao seu grau de adiantamento. Tal será uma família composta de vários filhos dos quais o mais jovem está no berço e o primogênito com a idade de dez anos, por exemplo. Em dez anos, o primogênito terá vinte anos e será um homem; o mais jovem terá dez anos e, embora mais avançado, será ainda uma criança; mas, a seu turno, tornar-se-á um homem. Assim é com as diferentes frações da Humanidade; os mais atrasados avançam, mas não saberão, de um pulo, alcançar o nível dos mais avançados.
A Humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais largas, mais elevadas; compreende o vazio das idéias das quais foi embalada, a insuficiência de suas instituições para a sua felicidade; ela não encontra mais, no estado das coisas, as satisfações legitimas para as quais se sente chamada; por isso ela sacode coeiros, e se lança impelida por uma força irresistível, para as margens desconhecidas, para descoberta de novos horizontes menos limitados. E é no momento em que ela se encontra muito pobremente em sua esfera material, onde a vida intelectual transborda, onde o sentimento da espiritualidade desabrocha, quantos homens, pretensos filósofos, esperam encher o vazio por doutrinas do niilismo e do materialismo! Estranha aberração! Esses mesmos homens que pretendem impeli-la para a frente, se esforçam por circunscrevê-la no circulo estreito da matéria; de onde ela aspira sair; e lhe fecham o aspecto da vida infinita, e lhe dizem, em lhe mostrando o túmulo: Nec plus ultra!
A marcha progressiva da Humanidade se opera de duas maneiras, como o dissemos: uma gradual, lenta, insensível, se se consideram as épocas próximas, que não se traduz por melhorias sucessivas nos costumes, nas leis, nos usos, e não se percebe que, com o tempo, como as mudanças que as correntes d'água trazem à superfície do globo; o outro, por um movimento relativamente brusco, rápido, semelhante ao de uma torrente rompendo seus diques, que lhe faz transpor em alguns anos o espaço que ela teria séculos para percorrer. E então um cataclismo moral que engole, em alguns instantes, as instituições do passado, e ao qual sucede uma nova ordem de coisas, que se assenta pouco a pouco, à medida que a calma se restabelece, e se torna definitiva.
Àquele que vive bastante tempo para abarcar as duas vertentes da nova fase, parece que um mundo novo tenha saído das ruínas do antigo; o caráter, os costumes, os usos, tudo está mudado; é que, com efeito, homens novos, ou melhor, regenerados, surgiram; as idéias trazidas pela geração que se extingue de o lugar às idéias novas na geração que se educa.
É a um desses períodos de transformação, ou, querendo-se, de crescimento moral, que chegou a Humanidade. Da adolescência ela passa à idade viril; o passado não pode mais bastar para suas novas aspirações, suas novas necessidades; não pode ser mais conduzida pelos mesmos meios; não se paga mais com ilusões e prestígios: é preciso, à sua razão, amadurecer os alimentos mais substanciais. O presente é muito efêmero; ela sente que seu destino é mais vasto e que a vida corpórea é muito restrita para encerrá-la toda inteira; por isso ela mergulha seus olhares no passado e no futuro, a fim de ali descobrir o mistério de sua existência e ali haurir uma consoladora segurança.
Quem meditou sobre o Espiritismo e suas conseqüências, e não o circunscreveu à produção de alguns fenômenos, compreende que ele abre à Humanidade um caminho novo, e lhe desenrola os horizontes do infinito; iniciando-o nos mistérios do mundo invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual como no estado corpóreo. O homem não caminha mais às cegas: ele sabe de onde vem, para onde vai e porque está sobre a Terra. O futuro se lhe mostra em sua realidade, livre dos preconceitos da ignorância e da superstição; não é mais uma vaga esperança: é uma verdade palpável, tão certa para ele quanto a sucessão do dia e da noite. Sabe que o seu ser não está limitado a alguns instantes de uma existência cuja duração está submetida ao capricho do acaso; que a vida espiritual não é interrompida pela morte; que ele já viveu, reviverá ainda, e que de tudo aquilo que adquire em perfeição pelo trabalho, nada está perdido; encontra em suas existências anteriores a razão daquilo que é hoje, e daquilo que se faz hoje, pode concluir o que será um dia.
Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais à obra geral da civilização são limitados à vida presente, que nada se foi e que nada será, que faz ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam melhor governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Uma vez que disso não deve retirar nenhum fruto, esse progresso não está perdido para ele? De que lhe serve trabalhar por aqueles que virão depois dele, se não deve jamais conhecê-los, e se são seres novos que pouco depois reentrarão, eles mesmos, no nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo, forçosamente diminuiria às mesquinhas proporções do momento e da personalidade
Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do ser espiritual ! que orça, que coragem não retira dali contra as vicissitudes da vida material! O que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador que esta lei segundo à qual a vida espiritual e a vida corpórea não são senão dois modos de existência que se alternam para a realização do progresso o que de mais justo e de mais consolador do que a idéia dos mesmos seres progredindo sem cessar, primeiro através das gerações de um mesmo mundo, e em seguida de mundo em mundo, até a perfeição sem solução de continuidade! Todas as ações têm então um objetivo porque, trabalhando por todos, trabalha-se para si, e reciprocamente de sorte que nem o progresso individual nem o progresso geral jamais são estéreis; aproveita às gerações e às individualidades futuras, que não são outras senão as gerações e as individualidades passadas chegadas a um mais alto grau de adiantamento.
A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espirito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existência. Salvo a veste exterior, há pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, concorrendo num e no outro ao mesmo objetivo, por meios apropriados à sua situação.
Dessa lei decorre a da perpetuidade das relações entre os seres a morte não os separa, e não põe fim às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Dai a solidariedade de todos para cada um, e de cada um para todos; dai também a fraternidade. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e em seus costumes porque, então, a eles sujeitarão suas leis e sua instituições. Estará ai um dos principais resultados da transformação que ali se opera.
Mas como conciliar os deveres da solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte torna para sempre os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que ligam todos os seres, o Espiritismo funda esse duplo principio sobre as próprias leis da Natureza; disso não faz só um dever, mas uma
necessidade. Pela da pluralidade das existências, o homem se prende ao que se fez e ao que se fará, aos homens do passado e aos do futuro; ele não pode mais dizer que não tem mais nada de comum com aqueles que morrem, uma vez que uns e os outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para subirem juntos a escala do progresso e se prestarem um mútuo apoio. A fraternidade não está mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reuniu durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espirito, universal como a Humanidade, que constitui uma grande família da qual todos os membros são solidários uns com os outros, qualquer que seja a época na qual viveram.
Tais são as idéias que ressaltam do Espiritismo, e que suscitará, entre todos os homens, quando estiver universalmente difundido, compreendido, ensinado. Com o Espiritismo a fraternidade, sinônimo da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma vã palavra; ela tem a sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nascem o da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de povo a povo, de raça a raça; desses dois sentimentos bem compreendidos sairão, forçosamente, as instituições mais proveitosas ao bem-estar de todos.
A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida e efetiva se não estiver apoiada sobre uma base inabalável; essa base é a fé; não a fé de tais ou tais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e se lançam pedras, porque, anatematizando-se, entretêm o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar Deus, a a/ma, o futuro, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não dele, se olharão como filhos de um mesmo pai e se estenderão a mão. É esta fé que o Espiritismo dá, e que será doravante o pivô sobre o qual se moverá o gênero humano, quaisquer que sejam suas maneiras de adorá-lo e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas da qual não tem que se ocupar. Só dessa fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque só ela dá uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é aquele que dá a força; o dever, um código humano imposto pelo constrangimento. Sem ela, o que é o homem? um pouco de matéria que se desfaz, um ser efêmero que não faz senso passar; o próprio gênio o uma centelha que brilha um instante para se apagar para sempre; certamente, não há ali de que se isentar muito aos seus próprios olhos. Com um tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? qual é o objetivo do progresso? Sozinha, esta fé faz sentir ao homem sua dignidade pela perpetuidade e o progresso do seu ser. Não num futuro mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido; seu pensamento se eleva acima da Terra; sente-se crescer pensando que tem seu papel no Universo e que esse Universo é seu domínio que poderá um dia percorrer, e que a morte dele não fará uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.
O progresso intelectual realizado até este dia. nas mas vastas proporções, é um grande passo, e marca a primeira fase da Humanidade, mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; é por isso que os aplica ao aperfeiçoamento dos meios de prejudicar aos outros e de se entredestruirem. Só o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio às más paixões; só ele pode fazer reinar entre eles a concórdia, a paz, a fraternidade. Será ele que abaixará as barreiras dos povos, que fará tombar os preconceitos de casta, e calar os antagonismos de seitas, ensinando aos homens a se olharem como irmãos, chamados para se entre ajudarem e não viverem às expensas uns dos outros. Será ainda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença, estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas à discussão e, por isto mesmo, aceitas por todos. A unidade de crença será o laço mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, quebrado em todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos que é preciso fugir, combater, exterminar, em lugar de irmãos que é preciso amar.
Um tal estado de coisas supõe uma mudança radical nos sentimentos das massas, um progresso geral que não poderia se realizar senão saindo do circulo das idéias estreitas e terra-a-terra que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de elite procuraram conduzir a Humanidade nesse caminho; mas a Humanidade, embora muito jovem, permaneceu surda, e seus ensinos foram como a boa semente caída sobre a pedra. Hoje, ela está madura para levar seus olhares mais alto do que ela não o fez, para assimilar as idéias mais amplas e compreender o que não tinha compreendido. A geração que desaparece levará com ela seus preconceitos e seus erros; a geração que se levanta, temperada numa fonte mais depurada, imbuída de idéias mais sadias, imprimirá ao mundo o movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve marcar a nova fase da Humanidade. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, pelas idéias grandes e generosas que vêm à luz e que começam a encontrar ecos. Assim é que se vê se fundar uma multidão de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se impregnam cada dia de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a se olhar como os membros de uma grande família; pela uniformidade e a facilidade dos meios de transação, suprimem as barreiras que os dividiam de todas as partes do mundo, se reúnem em comícios universais pelos torneios pacíficos da inteligência. Mas falta a essas reformas uma base para se desenvolver, se completar e se consolidar, uma predisposição moral mais geral para frutificar e se fazer aceitas pelas massas. Este não é menos um sinal característico do tempo, o prelúdio daquilo que se realizará sobre uma mais vasta escala, à medida que o terreno se tornar mais propicio.
Um sinal não menos característico do período em que entramos, é a reação evidente que se opera no sentido das idéias espiritualistas, uma repulsa instintiva se manifesta contra as idéias materialistas, cujos representantes se tornam menos numerosos ou menos absolutos. O espirito de incredulidade que tinha se apoderado das massas, ignorantes ou esclarecidas, e lhe tinha feito rejeitar, com a forma, o próprio fundo de toda crença, parece Ter tido um sono ao sair do qual experimenta a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, onde o vazio se fez, procura-se alguma coisa, um ponto de apoio, uma esperança.
Neste grande movimento regenerador, o Espiritismo tem um papel considerável, não o Espiritismo ridículo inventado por uma critica zombeteira, mas o Espiritismo filosófico, tal como o compreende quem se dá ao trabalho de procurar a amêndoa sob a casca. Pelas provas que ele traz das verdades fundamentais, ele enche o vazio que a incredulidade faz nas idéias e nas crenças; pela certeza que dá de um futuro conforme a justiça de Deus, e que a mais severa razão pode admitir, tempera as amarguras da vida e previne os funestos efeitos do desespero. Fazendo conhecer novas leis da Natureza, dá a chave de fenômenos incompreendidos e de problemas insolúveis até este dia. e mata ao mesmo tempo a incredulidade e a superstição. Para ele, não há nem sobrenatural nem maravilhoso; tudo se cumpre no mundo em virtude de leis imutáveis. Longe de substituir um exclusivismo por um outro, se coloca como campeão absoluto da liberdade de consciência, combate o fanatismo sob todas as formas, e o corta em sua raiz proclamando a salvação para todos os homens de bem, e a possibilidade, para os mais imperfeitos, de chegar, pelos seus esforços, a expiação e a reparação, à perfeição, única que conduz à suprema felicidade. Em lugar de desencorajar o fraco, encoraja-o mostrando-lhe o objetivo que pode alcançar.
Ele não diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas com o Cristo: Fora da caridade não há salvação, principio de união, de tolerância, que unirá os homens num comum sentimento de fraternidade, em lugar de dividi-los em seitas inimigas. Por este outro principio: Não há fé inabalável senão aquela que pode olhara razão face a face em todas as épocas da Humanidade, destrói o império da fé cega que anula a razão, da obediência passiva que embrutece; ele emancipa a inteligência do homem e levanta seu moral.
Consequentemente, com ele não se impõe; ele diz o que é, o que quer, o que dá, e espera que se venha a ele livremente, voluntariamente; quer ser aceito pela razão e não pela força. Ele respeita todas as crenças sinceras, e não combate senão a incredulidade, o egoísmo, o orgulho e a hipocrisia, que são as chagas da sociedade, e os mais sérios obstáculos ao progresso moral; mas não lança anátema a ninguém, nem mesmo aos seus inimigos, porque está convencido de que o caminho do bem está aberto aos mais imperfeitos, e que, cedo ou tarde, nele entrarão.
Se se supõe a maioria dos homens imbuídos desse sentimento, podem-se facilmente se figurar as modificações que trarão nas relações sociais: caridade, fraternidade, benevolência para todos, tolerância para todas as crenças, tal será a sua divisa. É o objetivo para o qual tende, evidentemente, a Humanidade, o objeto de suas aspirações, de seus desejos, sem que ela se dê muita conta dos meios de realizá-los; ela ensaia, tateia, mas é detida por resistências ativas ou pela força da inércia dos preconceitos, das crenças estacionárias e refratárias ao progresso. São essas resistências que é preciso vencer, e isto será obra da nova geração; seguindo-se o curso atual das coisas, reconhece-se que tudo parece predestinado a lhe abrirá caminho; terá para ele a dupla força do número e das idéias, e além disto a experiência do passado.
A nova geração caminhará, pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tiver chegado. O Espiritismo caminhando no mesmo objetivo, e realizando seus fins , encontrar-se-ão sob o m es mo terreno , não como concorrentes, mas como auxiliares se prestando um mútuo apoio. Os homens progressistas encontrarão nas idéias espiritas uma possante alavanca, e o Espiritismo encontrará nos homens novos espíritos dispostos a acolhê-lo. Neste estado de coisas, que poderão fazer aqueles que quiserem se colocar como obstáculo?
Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a maturidade da Humanidade que faz dessa renovação uma necessidade. Por seu poder moralizador, por suas tendências progressivas, pela amplitude de seus objetivos, pela generalidade das questões que abarca, o Espiritismo está, mais do que qualquer outra doutrina, apto a secundar o movimento regenerador; é por isto que é dele contemporâneo; veio no momento em que poderia ser útil, porque para ele também os tempos estão chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos insuperáveis; teria inevitavelmente sucumbido, porque os homens, satisfeitos com o que tinham, não sentiam a necessidade daquilo que ele traz. Hoje, nascido com o movimento das idéias que agitam, encontra o terreno preparado para recebê-lo; os espíritos, as da dúvida e da incerteza, assustados com o abismo que se cava diante deles, o acolhem como uma ancora de salvação e uma suprema consolação.
Dizendo que a Humanidade está madura para a regeneração, isto não quer dizer que todos os indivíduos o estão no mesmo grau, mas muitos têm, por intuição, o germe das idéias novas que as circunstancias farão eclodir; então, mostrar-se-ão mais avançados do que se supunha, e seguirão com diligência o impulso da maioria.
Há deles, no entanto, que são essencialmente refratários, mesmo entre os mais inteligentes, e que, seguramente, não se juntarão jamais, pelo menos nesta existência, uns de boa-fé, por convicção; os outros por interesse. Aqueles cujos interesses materiais estão ligados ao estado presente das coisas, e que não estão bastante avançados para disso fazer abnegação, que o bem geral toca menos que o de sua pessoa, não podem ver sem apreensão o menor movimento reformador; a verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade está inteiramente naquilo que não Ihs cause nenhuma perturbação; todas as idéias progressistas são, aos seus olhos, idéias subversivas, é porque Ihs devotam um ódio implacável e Ihs fazem uma guerra obstinada. Muito inteligentes por não verem no Espiritismo um auxiliar dessas idéias e os elementos da transformação que temem porque não se sentem à sua altura, se esforçam por abatê-lo; se o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Já dissemos em outro lugar: "Quanto mais uma idéia é grande, mais encontra ela adversários, e pode se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais é objeto."
O número dos retardatários é ainda grande, sem dúvida, mas o que podem contra a onda que cresce, senão nela lançar algumas pedras? Esta onda é a regeneração que se ergue, ao passo que eles desaparecem com a geração que se vai cada dia a grandes passos. Até lá defenderão o terreno palmo a palmo; há, pois, uma luta inevitável, mas uma luta desigual, porque é a do passado decrépito que cai em farrapos, contra o futuro juvenil; da estagnação contra o progresso; da criatura contra a vontade de Deus, porque os tempos marcados para ele estão chegados. 

ALLAN KARDEC

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Revista Espírita: A Regeneração

Junho de 1869


Há muitos séculos as humanidades prosseguem de maneira uniforme a sua marcha ascendente através do espaço e do tempo. Cada uma delas percorre, etapa por etapa, a rota do progresso. Se diferem quanto aos meios infinitamente diversos que a Providencia lhes concedeu, são todas chamadas a se unirem e a se identificarem na perfeição, desde que todas partem da ignorância e da inconsciência de si mesmas e avançam indefinidamente para um mesmo objetivo: Deus, para atingirem a felicidade suprema pelo conhecimento do amor.
Há universos e mundos, como povos e indivíduos. As transformações físicas da terra, que sustenta os corpos, podem ser divididas em duas formas, da mesma maneira que as transformações morais e intelectuais que alargam o espírito e o coração.
A terra se modifica pela cultura, pelo arroteamento e os esforços perseverantes dos seus possuidores e interessados. Mas a esse aperfeiçoamento incessante devemos juntar os efeitos dos grandes cataclismos periódicos, que representam o seu regulador supremo, à maneira da enxada e da charrua para o lavrador.
As Humanidades se transformam e progridem pelo estudo perseverante e pela permuta de pensamentos. Ao se instruírem e ao instruírem os outros, as inteligências se enriquecem, mas os cataclismos morais que regenerem o pensamento são necessários para determinar a aceitação de certas verdades.
Assimilam-se sem perturbações e progressivamente as conseqüências de verdade aceitas, mas é necessária uma conjugação imensa de esforços perseverantes para que novos princípios sejam aceitos. Marcha-se lentamente e sem fadiga por um caminho plano, mas são necessárias todas as forcas para subir-se uma senda agreste e superar os obstáculos que surgem. Assim também, para avançar, o homem tem de quebrar as cadeias que o prendem ao pelourinho do passado através do habito, da rotina e dos preconceitos. Do contrario continuara firme e ele rodara num circulo vicioso, sem saída, ate compreender que, para superar a resistência que lhe fecha a rota do futuro, não basta quebrar as velhas armas estragadas, mas é indispensável fazer outras.
Destruir um navio que faz água por todos os lados, antes de empreender uma travessia marítima, é medida de prudência, mas será ainda necessário, para realizar a viagem, construir novos meios de transporte. Eis, no entanto, atualmente, onde se encontram certos homens avançados, no mundo moral e filosófico e em outros mundos do pensamento! Tudo solaparam, tudo atacaram! As ruínas se espalham por toda parte, mas eles ainda não compreenderam que é necessário elevar, sobre essas ruínas, alguma coisa mais seria do que um livre pensamento e uma independência moral, independentes apenas da moral e da razão. O nada em que se apóiam é uma palavra profunda somente por ser vazia. Se Deus não pode mais criar os mundos do nada, não pode o homem criar novas crenças sem bases. Essas bases estão no estudo e na observação dos fatos.
A verdade eterna, como a lei que a confirma, não dependem da aceitação dos homens para existir. Ela é. E governa o Universo a despeito dos que fecham os olhos para não vê-la. A eletricidade existia antes de Galvani e o vapor antes de Papin, como a nova crença e os princípios filosóficos do futuro, antes mesmo que os publicistas e os filósofos os confirmem.
Sede os pioneiros perseverantes e infatigáveis! Se vos chamarem de loucos, como a Salomao de Caus, se vos repelirem como a Fulton, continuai avançando, porque o tempo, o juiz supremo, fará surgir das trevas os que alimentam o farol que deve, um dia, iluminar toda a Humanidade.
Na Terra, o passado e o futuro são os dois braços de uma alavanca que tem no presente o seu ponto de apoio. Enquanto a rotina e os preconceitos dominam, o passado esta no apogeu. Quando a luz se faz, a alavanca se move e o passado que já escurecia desaparece, para dar lugar ao futuro que alvorece. 

Allan Kardec.

Número de cristãos assassinados pela fé dobrou em 2013, diz relatório

Número de cristãos assassinados pela fé dobrou em 2013, diz relatório

Os relatos sobre cristãos mortos ao redor do mundo por causa de sua fé duplicaram em 2013, comparado com o ano anterior, com os casos somente na Síria superando o total registrado em 2012, de acordo com uma pesquisa anual.
O Portas Abertas, um grupo sem denominação que presta apoio a cristãos perseguidos ao redor do mundo, disse nesta quarta-feita ter documentado 2.123 homicídios de "mártires", comparado com 1.201 em 2012. Houve 1.213 mortes desse tipo somente na Síria no ano passentidade.
"Essa é uma contagem bastante mínima baseada no que foi relatado na mídia e que podemos confirmar", disse Frans Veerman, diretor de pesquisas para a Portas Abertas. Estimativas de outros grupos cristãos colocam a contagem anual em 8 mil.
O Portas Abertas colocou a Coreia do Norte no topo de sua lista de 50 países mais perigosos para cristãos, posição que a nação asiática ocupa desde que a pesquisa anual começou a ser realizada há 12 anos. Somália, Síria, Iraque e Afeganistão vêm a seguir.
O grupo sediado nos Estados Unidos relatou um aumento da violência contra cristãos na África e afirmou que muçulmanos radicais foram a principal fonte de perseguição em 36 dos países que estão na lista. "O extremismo islâmico é o pior perseguidor da Igreja mundial", disse a entidade.
Cerca de 10 por cento dos sírios são cristãos. Muitos se tornaram alvos de rebeldes islâmicos que os consideram apoiadores do presidente Bashar al-Assad.
O relatório não traz dados sobre assassinatos na Coreia do Norte, mas diz que lá os cristãos enfrentam "a mais alta pressão imaginável" e que cerca de 50 mil a 70 mil vivem em campos para presos políticos.
Reuters
Notícia publicada no Portal Terra, em 8 de janeiro de 2014.

André Henrique de Siqueira* comenta
Dois mil, cento e vinte e três (2.123) homicídios de "mártires religiosos" foram registrados em 2013. Este número indica um crescimento de 57% em relação a 2012, segundo relatório do grupo Open Doors (Portas Abertas - http://www.opendoors.org/) - uma organização internacional dedicada a auxiliar cristãos em todo o mundo.
O relatório publicado (http://www.worldwatchlist.us/) refere-se a um acompanhamento que faz uma classificação de países com maiores índices de perseguição. Os números trazem a tona a questão da violência causada pela religião ou contra ela...
Iniciemos por considerar que a violência não é uma exclusividade religiosa. Infelizmente, tem sido uma característica humana. Recentemente (dezembro de 2004), Charles Phillips e Alan Axelrod publicaram a sua Encyclopedia of Wars (Enciclopedia da Guerra - http://www.amazon.com/Encyclopedia-Wars-Volume-Library-History/dp/0816028516), na qual avaliam fatos e números sobre diferentes conflitos na história mundial. Desta obra, destaca-se que:
a) Dos 1.763 maiores conflitos da história recente, apenas 123 podem ser classificados como tendo origem em motivos religiosos - apenas 7% do total;
b) O número de pessoas mortas nestes conflitos representa apenas 2%;
c) Aproximadamente 1 a 3 milhões de pessoas foram mortas durante as Cruzadas; 50 a 70 milhões morreram durante a II Guerra Mundial - a mais violenta de todas as guerras registradas na história!
Números impressionantes ressaltam quando se analisam o número de mortes dentro dos regimes ditatoriais:
Sob a regência de Joseph Stalin, líder da URSS até 1953, estimam-se 42.672.000 mortes em conflitos políticos. Na China, sob o comando de Mao Zedong, calculam-se 37.828.000 mortes. Adolf Hitler, líder da alemanha nazista, promoveu a morte de aproximadamente 20.946.000 pessoas... Vemos que os números não são pequenos!
A intolerância humana tem sido causa de muitos conflitos. Por vezes causados por domínios geográficos ou por lutas em torno do poder político, os conflitos geram-se de desacordos de interesse ou intolerância cultural - nisto incluído os conflitos religiosos. Os dados históricos, porém, não permitem imputar à religião a maior causa de mortes em conflitos bélicos ou como causa destes mesmos conflitos.
Existe ainda um outro aspecto sob o qual deveria focar a nossa atenção: Qual o papel das crenças religiosas na propensão para o conflito?
De um modo sintético, são três as posições religiosas em relação à violência:
1. Apoio à Guerra Santa - fundamentado no conceito de que a Religião é um empreendimento de libertação do mal pelos que, moralmente superiores, dedicam-se ao bem. A violência é um instrumento que pode ser utilizado em benefício de um melhor estado para a Humanidade.
2. Apoio à Guerra Justa - fundamentado no conceito de que a Justiça por vezes exige o uso da força para a sua defesa.
3. Apoio à não-violência - fundamentado no conceito de que a violência, embora crie um benefício instantâneo, cria mais problemas que soluções, sendo incoerente com o próprio espírito da Religião.
Quando os cristãos são vítimas de violência, ou são agentes de violência, deparamo-nos com problemas humanos que justificam a violência com argumentos religiosos, muitos dos quais infelizes em suas interpretações do conteúdo religioso. Isto porque a religião é mais fácil de ser pregada do que ser vivenciada.

* André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Mural reflexivo: Conivência




Conivência
 

    Atualmente, as informações circulam de forma livre e célere. 
    Por consequência, é possível ter uma noção de conjunto dos valores e hábitos da humanidade.
   Certas ocorrências repetem-se com tanta frequência, nos mais diversos locais e ambientes, que chamam a atenção.
   E a observação do que ocorre no mundo por vezes causa estarrecimento. 
     Uma das coisas que impressiona é a audácia das pessoas desonestas.
    Elas parecem ter uma habilidade incomum para colocar-se nas posições mais relevantes. 
     Na política, na educação, nos meios jurídico e empresarial, a imprensa não cessa de apontar focos de corrupção e desonestidade. 
     Já é bastante ruim haver tantas pessoas desleais.
     Mas o que causa estupefação é como elas assumem facilmente posições de liderança.
      Ninguém consegue disfarçar sua essência por muito tempo.  
    Quem não possui um nível ético satisfatório evidencia isso em inúmeras oportunidades.
     Ninguém se corrompe de repente.
    Uma pessoa genuinamente honesta não acorda um dia disposta a apoderar-se do que não lhe pertence.
    O ser humano revela suas mazelas morais ao longo do tempo.
    Sendo assim, como é possível que seres viciosos tornem-se tão influentes? 
    Em todo e qualquer ambiente, há homens íntegros e inteligentes.
    Por que esses não agem, para obstar a influência perniciosa?
    À primeira vista, parece pouco caridoso evidenciar os vícios de um semelhante, para limitar sua ascensão.
    Ocorre que a caridade não possui como bandeira a ingenuidade e a conivência.
     Constitui equívoco imaginar que o homem bondoso deve ser tolo e falho de percepção.
     A criatura íntegra e generosa procura ser um fator de progresso e bem-estar no mundo. 
     Mas age com critério e discernimento, não de forma piegas.
     Nessa delicada questão, importa considerar o móvel da ação e quanto bem ela pode produzir. 
     Certamente é condenável divulgar os defeitos do próximo por malevolência, com o fito de denegri-lo. 
     Mas também é censurável prestigiar a comodidade de um único ser, em detrimento de inúmeros outros. 
     A corrupção que atinge um ambiente prejudica a todos os que se vinculam a ele.
     O dinheiro público surrupiado por alguns faz falta na construção de hospitais e escolas. 
     O desfalque realizado em uma empresa talvez seja a causa de sua falência.
     Trata-se da vantagem desonesta de uma pessoa causando a penúria de muitas outras. 
     A compaixão não justifica a inércia perante esse tipo de situação.
     Nada há de louvável em assistir-se silenciosamente a atos desonestos que prejudicam o meio social. 
     Na verdade, a timidez e a acomodação dos homens íntegros favorece a preponderância dos desonestos. 
     Grande parcela de culpa pela corrupção que grassa no mundo se deve às pessoas honestas.
      Caso estas desejassem, preponderariam.
     Quando o vício for combatido, sem ódio, mas firmemente, ele encontrará pouco espaço para proliferar.
     É preciso ter compaixão pelo delinquente, mas jamais compactuar com seus atos. 
     Assuma, pois, sua responsabilidade perante o mundo em que você vive.
     Por timidez ou preguiça de desempenhar tarefas e ocupar postos, não permita que eles caiam em mãos indignas.
     A título de ostentar virtude, não simule ignorância e nem seja conivente.
     Pense nisso!

 (Equipe de Redação do Momento Espírita.
www.momento.com.br)

terça-feira, 8 de abril de 2014

ESTUDO JOVEM NO PALTALK: SALA ESPIRITISMO NET JOVEM - às sextas

Data
Tema
Facilitador/Suporte
04/04/2014
O que é o Espiritismo
Liza
11/04/2014
O Livro dos Médiuns
André (Zech)
18/04/2014
O Evangelho segundo o Espiritismo
Lúcio Flávio
25/04/2014
O Céu e o Inferno
A definir

Revista Espírita: Médicos médiuns

A sra. Condessa de Clérambert, da qual falamos no artigo anterior, oferecia uma das variedades da faculdade de curar, que se apresenta sob uma infinidade de aspectos e de nuanças, apropriadas às aptidões especiais de cada indivíduo. Em nossa opinião, era o tipo do que poderia ser entre muitos médicos, de que muitos poderão ser, sem dúvida, quando entrarem na via da espiritualidade, que lhes abre o Espiritismo, porque muitos verão desenvolver-se em si faculdades intuitivas, que lhes serão um precioso auxílio na prática.
Dissemos, e repetimo-lo, seria um erro crer que a mediunidade curadora venha destronar a medicina e os médicos. Ela vem lhes abrir uma nova via, mostrar-lhes, na natureza, recursos e forças que ignoravam e com as quais podem beneficiar a ciência e os doentes, numa palavra, provar-lhes que não sabem tudo, desde que há pessoas que, fora da ciência oficial, conseguem o que eles mesmos não conseguem. Assim, não temos a menor dúvida de que um dia haja médicos-médiuns, como há médiuns-médicos que, à ciência adquirida, juntarão o dom de faculdades mediúnicas especiais.
Apenas como essas faculdades só tem valor efetivo pela assistência dos Espíritos, que podem paralisar os seus efeitos pela retirada de seu concurso, que frustam à sua vontade os cálculos do orgulho e da cupidez, é evidente que não prestarão sua assistência aos que os renegarem e entenderem servir-se deles secretamente, em proveito de sua própria reputação e de sua fortuna. Como Espíritos trabalham para a humanidade e não vêm para servir a interesses egoístas individuais; como, em tudo o que fazem, agem em vista da propagação das doutrinas novas, são-lhes necessários soldados corajosos e devotados, e nada têm que fazer com poltrões, que tem medo da sombra da verdade. Assim, secundarão os que, sem resistência e sem premeditação, colocarem suas aptidões ao serviço da causa que se esforçam por fazer prevalecer.
O desinteresse material, que é um dos atributos essenciais da mediunidade curadora, será, também, uma das condições da medicina mediúnica? Então, como conciliar as exigências da profissão com uma abnegação absoluta? Isto requer algumas explicações, porque a posição não é a mesma.
A faculdade do médium curador nada lhe custou. Não lhe exigiu estudo, nem trabalho, nem despesas. Recebeu-a gratuitamente, para o bem dos outros, e deve usá-la gratuitamente. Como antes de tudo é preciso viver, se, por si mesmo, não tem recursos que o tornem independente, deve achar os seus meios no seu trabalho ordinário, como o teria feito antes de conhecer a mediunidade. Não dá ao exercício de sua faculdade senão o tempo que lhe pode consagrar materialmente. Se tira esse tempo de seu repouso e se emprega em tornar-se útil aos seus semelhantes o que teria consagrado a distrações mundanas, é o verdadeiro devotamento, e nisto só tem mais mérito. Os Espíritos não pedem mais e não exigem nenhum sacrifício desarrazoado.
Não se poderia considerar devotamento e abnegação o abandono de seu trabalho para entregar-se a um trabalho menos penoso e mais lucrativo. Na proteção que eles concedem, os Espíritos, aos quais a gente não se pode impor, sabem perfeitamente distinguir os devotamentos reais dos devotamentos fictícios.
Muito outra seria a posição dos médicos-médiuns. A medicina é uma das carreiras sociais que se abraça para dela fazer uma profissão, e a ciência médica só se adquire a título oneroso, por um trabalho assíduo, por vezes penoso. O saber do médico é, pois, uma conquista pessoal, o que não é o caso da mediunidade. Se, ao saber humano, os Espíritos juntam seu concurso pelo dom de uma aptidão mediúnica, é para o médico um meio a mais para se esclarecer, para agir mais segura e eficazmente, pelo que deve ser reconhecido, mas não deixa de ser sempre médico; é a sua profissão, que não deixa para fazer-se médium. Nada há, pois, de repreensível em que continue a dela viver, e isto com tanto mais razão quanto a assistência dos Espíritos por vezes é inconsciente, intuitiva, e sua intervenção se confunde, às vezes, com o emprego dos meios ordinários de cura.
Porque um médico tornou-se médium e é assistido por Espíritos no tratamento de seus doentes, não se segue que deva renunciar a toda remuneração, o que o obrigaria a procurar os meios de subsistência fora da medicina e, assim, renunciar sua profissão. Mas se for animado do sentimento das obrigações que lhe impõe o favor que lhe é concedido, saberá conciliar seus interesses com os deveres de humanidade.
Não se dá o mesmo com o desinteresse moral que, em todos os casos, pode e deve ser absoluto. Aquele que, em vez de ver na faculdade mediúnica um meio a mais de tornar-se útil aos seus semelhantes, nela só procurasse uma satisfação ao amor-próprio; que considerasse um mérito pessoal os sucessos obtidos por esse meio, dissimulando a causa verdadeira, faltaria ao seu primeiro dever. Aquele que, sem renegar os Espíritos, não visse em seu concurso, direto ou indireto, senão um meio de suplementar a deficiência de sua clientela produtiva, com alguma aparência filantrópica que se cobre aos olhos dos homens, faria, por isso mesmo, ato de exploração. Num caso, como no outro, tristes decepções seria a sua conseqüência inevitável, porque os simulacros e as saídas falsas não podem enganar os Espíritos, que 1êem no fundo do pensamento.
Dissemos que a mediunidade curadora não matará a medicina nem os médicos, mas não pode deixar de modificar profundamente a ciência médica. Sem dúvida haverá sempre médiuns curadores, porque sempre os houve, e esta faculdade está na natureza, mas serão menos numerosos e menos à medida que aumentar o número de médicos-médiuns, e quando a ciência e a mediunidade se prestarem mútuo apoio. Ter-se-á mais confiança nos médicos quando forem médiuns, e mais confiança nos médiuns quando forem médicos.
Não podem ser contestadas as virtudes curativas de certas plantas e de outras substâncias que a Providência pôs ao alcance do homem, colocando o remédio ao lado do mal. O estudo dessas propriedades é do campo da medicina. Ora, como os médiuns curadores só agem por influência fluídica, sem o emprego de medicamentos, se um dia devessem suplantar a medicina, resultaria que, dotando as plantas de propriedades curativas, Deus teria feito uma coisa inútil, o que é inadmissível. Há, pois, que considerar a mediunidade curadora como um modo especial e não como meio absoluto de cura. O fluido, como um novo agente terapêutico aplicável em certos casos e vindo juntar um novo recurso à medicina. Por conseqüência, a mediunidade curadora e a medicina como devendo de agora em diante marchar concurrentemente, destinadas a se auxiliarem mutuamente, a se suplementar e a se completar uma a outra. Eis porque se pode ser médico sem ser médium curador, e médium curador sem ser médico.
Então porque esta faculdade hoje se desenvolve quase que exclusivamente nos ignorantes, em vez de nos homens de ciência? Pela razão muito simples que, até agora, os homens de ciência a repelem. Quando a aceitarem, vê-la-ão desenvolver-se entre si, como entre os outros. Aquele que hoje a possuísse iria proclamá-la? Não: oculta-la-ia com o maior cuidado. Desde que ela é inútil em suas mãos, porque lha dar? Seria o mesmo que dar um violão a um homem que não sabe e não quer tocar.
A este estado de coisas junta-se outro motivo capital. Dando aos ignorantes o dom de curar males que os sábios não podem curar, é para provar e estes que nem tudo sabem, e que há leis naturais além das que a ciência reconhece. Quando maior a distância entre a ignorância e o saber, mais evidente é o fato. Quando se produz naquele que nada sabe, é uma prova certa de que ali em nada participou o saber humano.
Mas como a ciência não pode ser um atributo da matéria, o conhecimento do mal e dos remédios por intuição, como a faculdade de vidência, só podem ser atribuídos ao Espírito. Elas provam no homem a existência do ser espiritual, dotado de percepções independentes dos órgãos corporais e, muitas vezes, de conhecimentos adquiridos anteriormente, numa precedente existência. Esses fenômenos tem pois, ao mesmo tempo, a conseqüência de serem à humanidade, e de provar a existência do princípio espiritual.

domingo, 6 de abril de 2014

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo


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EESE
Cap. III – Itens 6 a 12
Tema:  
Destinação da Terra. - Causas das misérias humanas
          
Mundos Inferiores e mundos superiores
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A - Texto de Apoio: Destinação da Terra. - Causas das misérias humanas

6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa idéia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
7. Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima idéia quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais íntimos e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária, vêem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciaria, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e da prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Mundos Inferiores e mundos superiores

8. A qualificação de mundos inferiores e mundos superiores nada tem de absoluta; é, antes, muito relativa. Tal mundo é inferior ou superior com referência aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
Tomada a Terra por termo de comparação, pode-se fazer idéia do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição das raças selvagens ou das nações bárbaras que ainda entre nós se encontram, restos do estado primitivo do nosso orbe. Nos mais atrasados, são de certo modo rudimentares os seres que os habitam. Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não têm a abrandá-los qualquer sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto. A força bruta é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona; no fundo das trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou menos desenvolvida, de um Ente supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer.
Entre os degraus inferiores e os mais elevados, inúmeros outros há, e difícil é reconhecer-se nos Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, os que foram esses seres primitivos, do mesmo modo que no homem adulto se custa a reconhecer o embrião.
9. Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a vida é proporcionalmente muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.
10. Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição, da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela guerra que daí decorre. Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porem, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar. Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; uni laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.
11. No vosso, precisais do mal para sentirdes o bem; da noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a saúde. Naqueles outros não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, ou pelo contacto dos maus, que lá não têm acesso. Isso o que o espírito humano maior dificuldade encontra para compreender. Ele foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas nunca pôde imaginar as alegrias do céu. Por quê? Porque, sendo inferior, só há experimentado dores e misérias, jamais entreviu as claridades celestes; não pode, pois, falar do que não conhece. A medida, porém, que se eleva e depura, o horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem que está diante de si, como compreendeu o mal que lhe está atrás.
12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os Espíritos superiores.)

B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 – Por que é equivocada a afirmação: a espécie humana bem triste coisa é”?
2 – Faça um paralelo entre os mundos inferiores e os mundos superiores.
3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.