quinta-feira, 18 de abril de 2013

156 anos: O Livro dos Espíritos

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From: 6ª URE FEC
Sent: Wednesday, April 17, 2013 11:26 AM
Subject: [boletim-6ª URE:165] Fwd: 156 Anos Lançamento do "O Livro dos Espíritos"
 
18 de Abril, comemoração de 156 anos de lançamento do “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”.


Dia 18 de Abril, também comemora-se o Dia do Livro Espírita
A educação, se bem entendida, é a chave do progresso moral.
L. E. pg 353
 
Lançado em 18 de Abril de 1857, O Livro dos Espíritos é a obra que deu início a Codificação efetuada por Allan Kardec. Ele consta de uma introdução, um Prolegômenos, uma coleção de 1.019 perguntas formuladas por Kardec e suas respectivas respostas – inteligentes, objetivas e intelectualizadas – dadas pelos Espíritos. Ao final, temos a conclusão de autoria do espírito de Santo Agostinho.
O Livro dos Espíritos lança luz sobre a existência humana com explicações lógicas para os variados questionamentos do homem, até então sem resposta: imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade, (segundo o ensinamento dos Espíritos superiores, através de diversos médiuns, recebidos e ordenados por Allan Kardec).
Ele resume toda a Doutrina Espírita, e é de seus desdobramentos que derivam todos os outros quatro livros: a seção As Causas Primárias originou A Gênese; O Mundo Espírita ou dos Espíritos é desdobrado no Livro dos Médiuns, As Leis Morais são a fonte do Evangelho Segundo o Espiritismo, e as Esperanças e Consolações são melhor explicadas em O Céu e o Inferno.
 
 

Revista Espírita: Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Agosto de 1859


Nota. A partir de hoje, publicamos, como havíamos anunciado, o Boletim dos trabalhos da Sociedade. Cada número conterá os das sessões que ocorreram no mês precedente. Esses boletins não conterão senão o resumo sucinto dos trabalhos e das atas de cada sessão; quanto às comunicações mesmas que nelas são obtidas, assim como as de origem estrangeira da qual foi feita a leitura, sempre as publicamos integralmente, todas as vezes que elas ofereçam um lado útil e instrutivo. Continuaremos a fazê-lo lembrando, como o fizemos até o presente, a data das sessões que elas ocorreram. A grande quantidade de matérias e as necessidades da classificação, freqüentemente, nos obrigam a modificar a ordem de certos documentos; mas isso não leva a nenhuma conseqüência, já que, cedo ou tarde, encontram seu lugar.
SEXTA-FEIRA. 1º DE JULHO DE 1859 (Sessão particular).
Assuntos administrativos. - Admissão do senhor S..., membro correspondente em Bordeaux.
Adiamento, até mais ampla informação, de dois membros titulares presentes nos dias 10 e 17 de junho.
Designação de três novos comissários-introdutores para as sessões gerais.
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações. - O senhor Allan Kardec anuncia que viu o senhor W... filho, de Boulogne-sur-Mer, que foi questão na revista de dezembro de 1858, a propósito de um artigo sobre o fenômeno de bicorporeidade, e que lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.
Carta do senhor S..., correspondente de Bordeaux, contendo detalhes circunstanciados sobre os fatos notáveis de manifestações e aparições que são de seu conhecimento pessoal, da parte de um Espírito familiar. (Carta publicada acima, assim como evocação feita a esse respeito.)
O senhor doutor Morhéry homenageou a Sociedade com duas cantatas, das quais o autor, pelas palavras, intituladas, uma a Italie a outra a Venitienne. Embora essas duas produções sejam completamente estranhas aos trabalhos da Sociedade, ela as aceita com reconhecimento, e por elas agradece ao autor.
O senhor Th... observou, a propósito da comunicação de Cristóvão Colombo, obtida na última sessão, que suas respostas relativas à sua missão e à dos Espíritos em geral, parecem consagrar a doutrina da fatalidade.
Vários membros contestam essa conseqüência das respostas de Cristóvão Colombo, tendo em vista que a missão não tira a liberdade de fazer ou de não fazer. O homem não é arrastado fatalmente a fazer tal ou tal coisa; poder-se-ia que, como homem, ele agisse mais ou menos cegamente; mas como Espírito, tem sempre a consciência do que faz, e permanece sempre senhor de suas ações. Supondo que o princípio da fatalidade decorresse das respostas de Colombo, isso não seria uma consagração de um princípio que os Espíritos combateram em todos os tempos. Isso não seria, em todos os casos, senão uma opinião individual: ora, a Sociedade está longe de aceitar, como verdade refutável, tudo o que dizem os Espíritos, porque sabe que podem se enganar. Um Espírito poderia dizer muito bem que é o Sol que gira e não a Terra, e isso não seria mais verdadeiro porque viera de um Espírito. Tomamos as respostas por aquilo que elas valem; nosso objetivo é estudar as individualidades, qualquer que seja seu grau de superioridade ou inferioridade, e aí tomamos o conhecimento do estado moral do mundo invisível, não dando a nossa confiança às doutrinas de Espíritos senão quando não ferem nem a razão, nem o bom senso, e que nela encontremos a verdadeira luz. Quando uma resposta é evidentemente ilógica e errônea, disso concluímos que o Espírito que a deu está ainda atrasado, eis tudo. Quanto às de Colombo, elas não implicam, em nenhum aspecto, a fatalidade.
Estudos. - Perguntas sobre as causas do prolongamento da perturbação no doutor Gloyer, evocado em 10 de junho.
Perguntas sobre as causas da sensação física dolorosa produzida no senhor W... filho, de Boulogne, por Espíritos sofredores.
Perguntas sobre a teoria da formação de objetos materiais, no mundo dos Espíritos, tais como vestimentas, jóias, etc.; sobre a transformação da matéria elementar pela vontade do Espírito. Explicação do fenômeno da escrita direta. (Ver nosso artigo precedente, página, 197.)
Evocação de um oficial superior morto em Magenta (2ª conversa); perguntas sobre certas sensações de além-túmulo.
O senhor S... propôs evocar o senhor M..., desaparecido há um mês, a fim de saber se ele está morto ou vivo. São Luís, interrogado a esse respeito, disse que essa evocação não pode ser feita; que a incerteza que reina sobre a sorte desse homem tem um objetivo de prova, e que mais tarde, pelos meios comuns, saber-se-á o que lhe ocorreu.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Revista Espírita: Confissão de Voltaire

Setembro de 1859

Um dos nossos correspondentes de Boulogne, a propósito da entrevista de Voltaire e Frédéric, que publicamos no último número da Revista, nos dirige a seguinte, comunicação que aqui inserimos com tanto maior bom grado porque ela apresenta um lado eminentemente instrutivo do ponto de vista espírita. Nosso correspondente fá-la preceder de algumas reflexões que nossos leitores ficarão contentes por não omiti-las.
"Se jamais um homem, mais que um outro, deve sofrer os castigos eternos, esse homem é Voltaire. A cólera, a vingança de Deus persegui-lo-ão para sempre. Eis o que nos dizem os teólogos da velha escola.
"Agora que dizem os mestres da teologia moderna? Pode ocorrer, dizem, que desconheçais o homem, não menos que o Deus do qual falais; guardai para vós vossas baixas paixões de ódio e de vingança e não enlameais com elas vosso Deus. Se Deus se inquieta por esse pobre pecador, se toca o inseto, isso será para arrancar seu ferrão, para reconduzir a ele uma cabeça exaltada, um coração extraviado. Dizemos, além disso, que Deus sabe ler nos corações, de outro modo que vós, encontra ali o bem onde não encontrais senão o mal. Se dotou esse homem de um grande gênio, foi para o bem da raça, não para a sua infelicidade. Que importam, pois, essas primeiras extravagâncias, esses passos de livre condutor entre vós? Uma alma dessa tempera não poderia, em quase nada, fazer outras: a mediocridade ser-lhe-ia impossível no que quer que fosse. Agora que está orientado, qual um potro indomável e jogou as patas e os dentes na sua pastagem terrestre, que vem a Deus como corcel dócil, mas sempre grande, soberbo para o bem tanto quanto fora para o mau. No artigo que segue, veremos por quais meios operou-se essa transformação; veremos nosso garanhão do deserto, a crina ainda alta, as narinas ao vento, fazer sua corrida através dos espaços do Universo. Foi que ali, ele, o pensamento soerguido, encontrou essa liberdade que era sua essência, e se deu a plenos pulmões dessa respiração de onde tirava sua vida! Que lhe aconteceu? Ele se perdeu, ele se confundiu; o grande pregador do nada enfim encontrou o nada, mas não como ele o compreendia; humilhado, decaído por si mesmo, ferido em sua pequenez, ele que se acreditava tão grande foi aniquilado diante de seu Deus; ei-lo com a face ao chão; espera sua sentença; essa sentença é:
Reabilita-te, meu filho, ou vai-te, miserável! Encontrar-se-á o veredito na comunicação que se segue.
"Esta confissão de Voltaire terá maior valor na Revista Espírita porque ela o mostra sob seu duplo aspecto. Vimos alguns Espíritos naturalistas e materialistas que, de cabeça alterada, tanto quanto seu mestre, mas sem ter seu coração, persistiam em glorificar-se em seu cinismo. Que estes permaneçam no inferno tanto quanto lhes agrada desafiar o céu, a zombar de tudo o que faz a felicidade do homem, é lógico, é seu lugar próprio; mas encontramos lógica também em que aqueles que reconhecem seus erros lhes recolham o fruto. Também, ter-se-á a bondade de crer que não nos pomos como apologistas do velho Voltaire; aceitamo-lo somente em seu novo papel e nos regozijamos com a sua conversão, a qual glorifica a Deus, e não pode deixar de impressionar profundamente aqueles que, hoje ainda, se deixam arrastar por seus escritos. Ali está o veneno, aqui está o antídoto.
"Esta comunicação, traduzida do inglês, foi extraída da obra do juiz Edmonds, publicada nos Estados Unidos. Ela toma a forma de uma conversação entre Voltaire e Wolsey, o célebre cardeal inglês do tempo de Henrique VIII. Dois médiuns foram impressionados separadamente para transmitirem esse diálogo."
Voltaire. - Que imensa revolução no pensamento humano ocorreu desde que deixei a Terra!
Wolsey. - Com efeito, essa infidelidade que censuráveis então, aumentou desmesuradamente desde aquela época. Não é que ela tenha maiores pretensões hoje, mas é mais profunda e mais universal, e ao menos que seja detida, ela ameaça tragar a Humanidade no materialismo, mais do que o fez durante séculos.
Voltaire. - Infidelidade em quê e contra quem? Está na lei de Deus e do homem? Pretendes me acusar de infidelidade porque não me submeti aos estreitos preconceitos de seitas que me rodeavam? É que minha alma estava a pedir uma amplidão de pensamento, um raio de luz, além das doutrinas humanas. Sim, minha alma nas trevas tinha sede de luz.
Wolsey. - Também eu não quis falar senão da infidelidade que se vos imputava, e, ah! não sabeis que muito essa imputação vos pesa ainda. Eu me permito não vos censurar, mas vos dirigir as queixas, porque vosso desprezo pelas doutrinas de hoje, em tanto que estas não eram senão materiais e inventadas pelos homens, não poderiam lesar Espíritos semelhantes ao vosso. Mas essa mesma causa que agia sobre o vosso Espírito, operava igualmente sobre outros, os quais eram muito fracos e muito pequenos para alcançarem os mesmos resultados que vós. Eis, portanto, como aquilo que, em vós, não era senão uma negação dos dogmas dos homens, se traduzia nos outros em reino de Deus. Foi dessa fonte que se espalhou, com uma rapidez assustadora, a dúvida sobre o futuro do homem. Eis também porque o homem, limitando as suas aspirações a este único mundo, caiu cada vez mais no egoísmo e no ódio ao próximo. É a causa, sim, a causa desse estado de coisas que importa procurar porque uma vez encontrada, o remédio será comparativamente fácil. Dizei-me: conheceis essa causa?
Voltaire.- Minhas opiniões, tais como foram dadas ao mundo, foram marcadas, é verdade, por um sentimento de amargura e de sátira; mas, notai bem, quando eu tinha o Espírito importunado, por assim dizer, por uma luta interior. Eu olhava a Humanidade como me sendo inferior em inteligência e em penetração; não a via senão como marionetes que poderiam ser conduzidas por todo homem dotado de uma vontade forte, e me indignava por ver essa Humanidade que se arrogava uma existência imortal, estar repleta de elementos ignóbeis. Era necessário, portanto, crer que um ser dessa espécie partira da Divindade, e que poderia, por sua medíocre mão, assenhorar-se da imortalidade? Essa lacuna entre duas existências tão desproporcionadas me chocava, e eu não podia preenchê-la. Eu não via senão o animal no homem, não o Deus.
Reconheço que, em alguns casos, minhas opiniões tiveram tendências deploráveis; mas tenho a convicção de que, em outros aspectos, tiveram o seu lado bom. Elas chegaram a reerguer várias almas que estavam degradadas na escravidão; elas quebraram as cadeias do pensamento e deram asas às grandes aspirações. Mas, ah! eu também, que planava tão alto, perdi-me como os outros.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Evangelização de Espíritos - uma metodologia com recursos que valoriza o OUVIR - um dos fatores mais importantes da Atualidade!

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From: Jaime Togores
Subject: Evangelização de Espíritos - uma metodologia com recursos que valoriza o OUVIR - um dos fatores mais importantes da Atualidade!

 
Caros Amigos,
A Evangelização de Espíritos, entre outros recursos, propõe a ASSISTÊNCIA FRATERNA e o EVANGELHO INTERATIVO que privilegiam o a ESCUTA e dão oportunidade ao uso da PALAVRA aos que chegam à Casa Espírita.
Será isto importante?
Será uma proposta de vanguarda dos espíritos da Equipe do Evangelização de Espíritos?
Para aqueles que ainda não entendemos a importância disto para nosso crescimento e auxílio aos outros, vale a pena ler o artigo abaixo e pensar porque um cientista como David Bohm, eminente Físico, penetrou na grande importância deste exercício.


Ouça, apenas ouça



Pode parecer simples, mas ouvir de verdade, prestando atenção no que o outro está falando, não é nada fácil.
Esse exercício, aliás, nos torna mais abertos e atentos para viver o agora

TEXTO Liane Alves

OS TRÊS ESTAVAM ALI sentados numa mesinha de bar na calçada, num dia quente. Flagrar três marmanjos sem fazer nada às 4 da tarde de uma quinta-feira numa cidade frenética como São Paulo já me dava vontade de sapecar um beijo em cada um e cumprimentá-los pela ousadia. Mas me detive a tempo e perguntei apenas se eles sabiam onde ficava um estúdio de música perto dali, pois havia esquecido o endereço em casa. Eles foram muito gentis e levantaram várias hipóteses sobre o provável endereço. Eu procurava prestar atenção no que diziam, mas tinha algo que atrapalhava minha escuta. Depois de alguns segundos, descobri. Eram as maritacas que enxameavam na goiabeira em frente ao bar. Se os moços já tinham mexido comigo com seu ócio criativo, ser interrompida por aquela algazarra verde no asfalto duro quase me levou às lágrimas. Sentei-me com eles e pedi uma água gelada com gás.



Sons variados

Foi assim durante todo o tempo em que estive envolvida com esta matéria, que propunha uma escuta mais atenta: a vida, de repente, se abriu como um leque de diversas possibilidades. Com a disposição de prestar mais atenção em sons e palavras, corri para a janela de um apartamento para ouvir melhor o som de uma gaita de foles que tocava na Avenida Angélica. Contemplei um longo solo de jazz na Alameda Santos, seguido por um concerto de flauta. Na Avenida Paulista, que se transforma numa sucessão de 5 quilômetros de música aos domingos, acompanhei os movimentos de um ser andrógino que dançava solitário ao lado de uma caixinha de som »» que tocava Schubert e joguei algumas moedas para o roqueiro que dedilhava "Stairway to Heaven" sob a marquise de um banco. Mais que isso: aprendi a me calar mais do que normalmente me calo, e a ouvir o som da minha própria voz como se fosse uma melodia. Deixei o silêncio tomar conta sem interrompê-lo. Abdiquei de expressar todas minhas opiniões. Não só minha existência ficou mais criativa, intensa e vibrante, como percebi que, à medida que me tornava mais atenta à escuta, fazia outras escolhas, decidia outras coisas, que talvez nunca tivessem me passado pela cabeça, como experimentar a delícia de me sentar debaixo de uma goiabeira cheia de maritacas numa morna quinta-feira.



Voltar-se para dentro

Pode parecer misterioso, ou mágico, perceber como sua vida muda com um escutar mais profundo. Mas isso se dá por um motivo simples. Enquanto toda a sociedade moderna nos impulsiona a agir e a fazer, a escuta está envolvida justamente com o movimento contrário, que é permanecer em calma e silêncio numa não ação. Em vez de sermos ativos, por um momento vamos nos tornar conscientemente passivos. Em vez de se ir para fora, vai-se para dentro. Em vez de nos expressarmos, vamos ouvir o que o outro diz. E nesse processo ficamos muitas vezes sem responder, sem retrucar imediatamente. Nos tornamos menos mecânicos e reativos.
Essa simples mudança de atitude gera resultados grandiosos. Cada vez que a escuta se repete, sem interrupções, você se torna mais relaxado, mais aberto, mais atencioso, mais profundo, mais humano. E isso realmente pode transformar uma vida.
"O controle da fala revela muito sobre você mesmo", me diz com sua voz doce e melodiosa Lu Horta, cantora, compositora e professora de canto paulista que ensina as pessoas a.... escutar. Seu trabalho é mais com músicos e cantores, mas inclui gente comum também. Formada em música pela Unicamp, com especialização em cantoterapia segundo a concepção antroposófica e com outros cursos nessa área, Lu lembra como nossa vida emocional está ligada à fala e à escuta. Quem é ansioso demais vai sempre interromper o outro, e o timbre de sua voz e sua respiração traduzirão a ansiedade. Quem é egocêntrico não deixará espaço para que a pessoa à sua frente possa falar. "Se eu estiver centrado apenas em meus interesses, não conseguirei me abrir para o que está além de mim", diz ela com dedução irrepreensível. Escutando mal, nos tornamos restritos, limitados, impacientes. Mas quem começa a se dedicar a ouvir com mais atenção experimenta o prazer de ser mais calmo, acolhedor, aberto e generoso.
"A escuta mais atenta abre espaço interno para que o outro é e deseja" diz Lu. É ar puro que entra, uma janela aberta. Por um momento saímos de nós mesmos, de nossos interesses e opiniões, de nosso mundo, para conhecer a outra pessoa e escutá-la como quem bebe um copo de raro vinho. É um dos grandes presentes que se pode dar para alguém. E um dos dons mais preciosos que se pode receber do outro. Dos 12 sentidos imaginados pelo austríaco Rudolf Steiner, o criador da antroposofia, a audição pertence ao grupo mais elevado deles, o que tem estreita relação com a alma, o pensamento e a consciência.
Lu Horta lembra algo muito importante: "O primeiro órgão dos sentidos a se formar no bebê é o ouvido. Escutar é uma de nossas primeiras experiências no mundo: ouvimos a corrente sanguínea da mãe, sua voz, nosso batimento cardíaco. E tudo isso nos acalma profundamente". Tanto que hoje existem no mercado CDs que reproduzem esses sons para os recém-nascidos. "Ouvir é extremamente prazeroso para o ser humano."
Mas o que acontece, então? Por que não gostamos mais de escutar? Há muitas respostas, mas uma delas está ligada à falta de um aprendizado específico para isso. O silêncio sumiu de nossas vidas, e é nele que habita a escuta. Como podemos voltar a nos alimentar e a nos preencher do que não quer falar, do que quer permanecer quieto e tranquilo, do que nos deixa confortáveis e relaxados dentro de nós? É o que vamos ver a seguir.

Silêncio, por favor

"Sábio é aquele que saboreia", disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. E degustar o silêncio requer certo aprendizado, uma atenção específica. É um refinamento. "É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir as palavras se meus ruídos interiores forem silenciados. Quem fala muito não ouve. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima", escreveu o psicanalista e pedagogo Rubem Alves no livro Educação dos Sentidos (Verus). E por que a escuta da poesia, ou da música, precisa tanto do silêncio? Ele responde: "A magia do poema está nos interstícios silenciosos que há entre as palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia nos faz chorar".
Rubem nos conta uma cena que aconteceu durante a leitura que ele fez de uma poesia de Robert Frost em sala de aula. "Li vagarosamente. Porque cada poema tem seu andamento que lhe é próprio, como numa música (...). Terminada a leitura, não me atrevi a dizer nada. É preciso que haja silêncio. A música só existe sobre um fundo de silêncio. É no silêncio que a beleza coloca seus ovos." Depois dessa pausa, ele recomeça a ler novamente as palavras de Frost. "E aí, então, no silêncio que se seguiu à segunda leitura, ouvi um soluço no fundo da sala. Uma jovem chorava." Abriu-se o espaço para uma escuta profunda que atingiu diretamente seu coração. Não foram apenas palavras, mas o vazio que as continha que despertou o sentimento. "Grande mistério, esse: é o que não há que provoca o choro". Houve silêncio suficiente para que a escuta se tornasse avassaladora.
Tampouco o sentimento da jovem surgiu da interpretação das palavras. Naquele poema que falava de bosques e sombras, foi sua atmosfera melancólica e triste que tocou sua alma. Ela fugiu de atribuir significados ao que ouvia de acordo com suas opiniões e vivências. Apenas se sentiu livre para sentir, sem julgar e interpretar interiormente. Ficou com o impacto da impressão pura. "O interprete é um ser luminoso. Não suporta sombras. Ele traz então suas lanternas, suas ideias claras e distintas, e trata de iluminar os bosques sombrios... Não percebe que, ao iluminar os bosques, deles fogem as criaturas encantadas que habitam as sombras", disse Rubem.
"Parece que existem em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxuleante", lembra o pensador belga Gaston Bachelard numa imagem magnífica. Esses lugares só podem ser visitados no silêncio e na penumbra. Se estamos diante do outro com a avidez de um cão faminto pronto a saltar sobre um osso, só esperando a deixa para interrompê-lo e começar a interpretar o que ele diz, nós os perderemos. A resposta, a interpretação, pode acontecer durante a conversa depois dessa degustação de escuta mais fina. E, aí, o que teremos a dizer terá outro sabor e profundidade.
Com esse tipo de escuta também aprenderemos a diferenciar os diversos tons do silêncio, como os esquimós reconhecem mais de 40 tons de branco da neve. "Os silêncios têm sua própria personalidade – contidos ou meditativos, vazios ou repletos. Há um campo de força completamente diferente entre um casal que emudece porque está com raiva ou um casal silente que está fazendo amor. Também há diferença entre o silêncio gerado por dezenas de pessoas fazendo meditação ou depois de uma comunhão comunhão numa missa e o silêncio natural de um espaço vazio", afirma a jornalista escocesa Bella Bathurst, da revista virtual Aeon Magazine.
Ao conseguir perceber pausas, hesitações, mudanças de timbre na voz ou alteração da respiração de quem está diante de nós, teremos uma leitura mais rica, ou até completamente diferente, do que dizem as palavras. No mínimo, poderemos dar um retorno mais apurado e preciso do que se percebeu.





Ouvir, sem julgamentos

Há quem já pensou profundamente sobre o escutar. O famoso físico de teoria quântica David Bohm dedicou os últimos anos de sua vida a um processo terapêutico chamado de Diálogo. Nele, o ouvinte não julga o que escuta. Apenas fica tranquilo, autopercebendo-se diante do que é dito, assistindo às eventuais zonas de sombras que o outro pode deflagrar. Também presta mais atenção não apenas no que é dito, mas naquilo que é expresso nas entrelinhas, percebendo no outro o que talvez ele não perceba. É uma escuta atenta. De certa forma, sua proposta é como uma meditação, e por isso o filósofo indiano Jiddhu Krishnamurti se interessou tanto por esse processo (os dois trabalharam juntos durante anos).
Bohm acreditava que o processo do pensamento era autônomo e independente de nós e que podíamos observá-lo de fora de um ponto interno que nos permitisse ver a nós mesmos.
Também sustentava que o pensamento não estava restrito ao indivíduo, mas que existia um pensamento coletivo que interagia com o individual. No processo do Diálogo, por exemplo, até 50 pessoas se sentam para conversar e escutar sem julgamentos durante cerca de duas horas. De acordo com o físico, o pensamento coletivo gerado nas sessões também pode fazer surgir compreensões a que muitas vezes não se chegaria individualmente.



Diálogo interno

Estamos eternamente em diálogo, num bate-papo infinito com nós mesmos, que alguns também chamam de monólogo interno. É a mente do "macaco louco", na expressão de Yongey Mingyur Rinpoche, monge do budismo tibetano e autor do livro Alegria de Viver. Ela é agitada, inquieta, pula de um assunto a outro sem parar, de galho em galho. "O diálogo interno também pode ser descrito como 'pensamento compulsivo'. É um estado em que nossos pensamentos nos comandam, repetindo a si mesmos centenas de vezes sem nunca conseguir chegar a outro patamar", diz Reinhard Fletischler, percussionista austríaco que pesquisou durante anos temas como ritmo e silêncio em vários países do mundo. Para nos livrar dessa mente conturbada, ele oferece uma alternativa: "Saindo conscientemente do pensar para um espaço mais sensorial, para o sentir, nós podemos romper o círculo vicioso e trazer um espaço interno que nos permite abrir e nos afastarmos desse tipo de pensamento".
"Ao sentir mais o corpo de uma forma relaxada, seremos capazes de entrar nesse estado silencioso em que muitas coisas de nossa vida se revelam por si mesmas", afirma Fletischler. "Reconhecer que estamos num estado de pensamento compulsivo e praticar a transição para um sentir meditativo é a chave de um diálogo interno com mais significado."
E ele vai além. Propõe não a polaridade do cheio versus vazio, mas a vivência de ambos estados ao mesmo tempo. "Viver em polaridades pode trazer uma constante dicotomia: agir ou escutar, fazer ou não fazer", diz ele. Para vivenciar essas possibilidades ao mesmo tempo, ele criou um método, a TaKeTiNa, em que pessoas em roda dançam, cantam e se abrem para o poder transformador do ritmo. "AH você fala sílabas rítmicas enquanto escuta o líder contar histórias. Aprende a ser ativo com sua mão direita e passivo com a esquerda ao mesmo tempo. Fica ao mesmo tempo focado e relaxado", conta Fletischler.
É algo que também pode ser encontrado em algumas artes marciais, na dança e, é claro, na meditação. Mas também na observação e comunhão com a natureza. O maestro Antônio Carlos Jobim costumava sair de manhã com sua flauta transversal e rumar para as matas perto de sua casa. Ia para lá a fim de ouvir e ao mesmo tempo tocar com os passarinhos. Era seu exercício quase diário de meditação. Ouvia uma sabiá, entrava em comunhão com ela e lhe respondia na mesma malha sonora em sua flauta. Escutava um bem-te-vizinho-de-penacho-vermelho e formava com ele outra parceria, e assim por diante. Só depois voltava para casa para criar suas composições. Escutar é criativo, transformador e revolucionário.


Fonte: Revista VIDA SIMPLES – Abril/2013

Jaime Togores
CE Seara do Amor
Santos - SP
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"Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Jesus

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Revista Espírita: Procedimentos para afastar os maus Espíritos


A intromissão dos Espíritos enganadores nas comunicações escritas é uma das maiores dificuldades do Espiritismo; sabe-se, por experiência, que eles não têm nenhum escrúpulo em tomarem nomes supostos, e mesmo nomes respeitáveis; há meios de afastá-los? Aí está a questão. Certas pessoas empregam, para esse fim, o que se poderia chamar de procedimentos, quer dizer, sejam fórmulas particulares de evocação, sejam espécies de exorcismos, como fazê-los jurarem em nome de Deus de que dizem a verdade, fazê-los escrever certas coisas, etc. Conhecemos alguém que, a cada frase, intimava o Espírito para assinar seu nome; se fosse a verdade, ele escreveria o nome sem dificuldade; se fosse o falso, ele se deteria logo, ou no meio, sem poder terminá-lo; vimos essa pessoa receber as comunicações mais ridículas de parte dos Espíritos que assinavam o nome de empréstimo com uma firmeza perfeita. Outras pessoas pensam que o meio eficaz é fazer confessar Jesus em carne, ou outras verdades da religião. Pois bem! Declaramos nós que se alguns Espíritos, um pouco mais escrupulosos, detém-se pela idéia de um perjúrio ou de uma profanação, há os que juram tudo o que se quer, que assinam todos os nomes, que se riem de tudo, e afrontam a presença dos mais veneráveis sinais, de onde concluímos que, entre o que se pode chamar de procedimentos, não há nenhuma fórmula, nenhum expediente material que possa servir de preservativo eficaz.
Nesse caso, dir-se-á, não há senão uma coisa a fazer, que a de parar de escrever. Este meio não seria melhor; longe disso, seria pior em muitos casos. Dissemos, e não poderíamos repeti-lo muito, que a ação dos Espíritos sobre nós é incessante, e não é menos real porque é oculta. Se ela deve ser má, será mais perniciosa ainda pelo fato de que o inimigo estará oculto; pelas comunicações escritas, ele se revela, se desmascara, sabe-se com quem se tem relação, e pode-se combatê-lo. - Mas se não há nenhum meio de afastá-lo, que fazer então? Não dissemos que não haja nenhum meio, mas somente que a maioria daqueles que se empregam são impotentes; aí está o assunto que nos propomos desenvolver.
Não se pode perder de vista que os Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que preenche o espaço, que circula aos nossos lados, e que se mistura a tudo aquilo que fazemos. Se o véu que no-los oculta viesse a ser levantado, ve-los-íamos, ao redor de nós, irem, virem, serguir-nos ou evitar-nos segundo o grau de sua simpatia; uns indiferentes, verdadeiros vadios do mundo oculto, os outros muito ocupados, seja consigo mesmos, seja com homens aos quais se agarram, com um objetivo mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem. Veríamos, em uma palavra, o duble do gênero humano com as suas boas e suas más qualidades, suas virtudes e seus vícios. Essa companhia, da qual não podemos escapar, porque não há lugar tão oculto que seja inacessível aos Espíritos, exerce sobre nós e com o nosso desconhecimento uma influência permanente; uns nos conduzem ao bem, os outros ao mal, e nossas determinações, muito freqüentemente, são o resultado de suas sugestões; felizes somos quando temos bastante julgamento para discernir a boa ou a má senda à qual procuram nos arrastar. Uma vez que os Espíritos não são outra coisa senão os próprios homens despojados de seu envoltório grosseiro, senão as almas que sobrevivem ao corpo, disso resulta que há Espíritos desde que haja seres humanos no Universo; é uma das forças da Natureza, e não esperam que haja médiuns escreventes para agirem, e a prova disso é que, em todos os tempos, os homens cometeram inconseqüências; eis porque dizemos que sua influência é independente da faculdade de escrever; essa faculdade é um meio de conhecer essa influência, de saber quem são aqueles que vagueiam ao nosso redor, que se agarram a nós. Crer que se pode subtrair deles abstendo-se de escrever, é fazer como as crianças que crêem escaparem de um perigo tapando os olhos. A escrita, revelando-nos aqueles que temos por acólitos, por amigos ou por inimigos, nos dá, por isso mesmo, uma arma para combater esses últimos, e devemos agradecer a Deus por isso; na falta da visão para conhecer os Espíritos, temos as comunicações escritas; por elas eles revelam o que são: é para nós um sentido que nos permite julgá-los; repeli-lo é comprazer-se em permanecer cego, e querer continuar exposto à mentira sem controle.
A intromissão dos. maus Espíritos nas comunicações escritas não é, pois, um perigo do Espiritismo, uma vez que, se houver perigo, o perigo existe sem isso, porque é permanente; eis do que não se poderia muito persuadir-se: é simplesmente uma dificuldade, mas da qual é fácil triunfar tomando-a convenientemente.


domingo, 14 de abril de 2013

Você sabia?!


"A matéria possui inúmeras transformações e pode se apresentar em estados tão sutis que não somos capazes de perceber através de nossos sentidos."