sábado, 29 de setembro de 2012

Ela estava dormindo com o inimigo, diz mãe de ex-modelo morta em SP

Ela estava dormindo com o inimigo, diz mãe de ex-modelo morta em SP

Babila Teixeira Marcos foi assassinada no apartamento em que morava. Marido é o principal suspeito; ele segue internado após tentar se matar.
Paulo Toledo Piza
Do G1 SP

A mãe da ex-modelo Babila Teixeira Marcos, de 24 anos, morta com golpes de faca há dez dias no apartamento onde morava, na Zona Sul de São Paulo, disse na tarde deste sábado (14) ao G1 que já havia alertado a filha sobre o risco de viver sob o mesmo teto do marido. Principal suspeito do crime, ele tentou se matar após esfaquear a mulher, segundo a Polícia Civil.

“Tinha dito para ela: ‘Você está dormindo com o inimigo’”, afirmou a comerciante Rosana Teixeira Marcos, de 49 anos. Ainda abalada pela perda da única filha, a mulher lembra com tristeza do relacionamento conturbado da jovem. “Ele não era ciumento: era possessivo”, disse.

O namoro começou havia quatro anos e desde o início os pais de Babila não gostaram do genro. A jovem, que desejava ser atriz, largou o sonho e a carreira de modelo, se afastou dos amigos e do trabalho pelo novo amor.

Contrariando a vontade dos pais, saiu da casa onde vivia, em São Bernardo do Campo, no ABC, para morar na capital paulista com o marido. O clima entre genro e sogros, que já não era bom, piorou cada vez mais. Rosana e o marido, o também comerciante Alexandre Marcos, de 52 anos, não frequentavam o lar da filha, e o marido dela não os visitava.

Quando a filha se encontrava com os pais, o celular dela não parava de tocar. “De cinco em cinco minutos ele ligava, querendo saber onde e com quem estava”, disse a mãe. Os atritos passaram a se tornar mais constantes e, há pouco mais de dois anos, Babila foi ameaçada de morte. Segundo Rosana, na ocasião sua filha ligou desesperada, dizendo que estava trancada num banheiro porque o marido dizia que iria matá-la com um revólver.

Os ânimos se esfriaram e mãe, filha, genro e parentes dele foram parar no 35º Distrito Policial, no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. Nenhuma queixa foi dada, mas o relacionamento entre o casal acabou. Temporariamente.


Retorno

A jovem voltou à casa dos pais, prestou vestibular e entrou em uma faculdade de publicidade. Também conseguiu emprego como vendedora. Meses depois, porém, o ex descobriu onde ela trabalhava e foi procurá-la. Babila resolveu dar uma segunda chance. “Ela era muito boa. Não enxergava o lado podre das pessoas.”

Os pais não gostaram da atitude da filha e deixaram de conversar com ela. Pouco tempo depois, porém, a ex-modelo procurou Rosana e Alexandre para contar que estava grávida. Eles decidiram, a contragosto, mas em nome da criança, deixar as diferenças de lado.

O genro, segundo Rosana, aparentemente também mudara bastante. “Ele estava bonzinho, mas sempre controlador.” Além de afastá-la de amigos, ele controlava até as roupas que a jovem usava. “Ele a tratava como um troféu”, acrescentou Alexandre.

Apesar da beleza, Babila havia abandonado de vez as passarelas e passou a dedicar a vida à família. Comovidos, os pais dela venderam a casa em que moravam, passando a viver de aluguel. Com parte do dinheiro, abriram uma empresa de distribuição de água para a filha. Os galões eram estocados nos fundos do comércio de pipas de propriedade do pai dela e onde Rosana também trabalha.

O convívio diário aproximou as duas mulheres. Uma semana antes de ser assassinada, a jovem procurou a mãe para desabafar. “Ela contou que não sentia mais nada pelo marido e que iria se separar assim que o filho fosse batizado. Mas não teve tempo para isso.”


Morte

Na tarde de 4 de julho, dia em que o Corinthians enfrentou o Boca Juniors na final da Copa Libertadores, no estádio do Pacaembu, Rosana e Alexandre insistiram para que a filha ficasse com eles no ABC. A filha, porém, insistiu que tinha combinado ir a um churrasco com o marido na casa de amigos deles. “Quando ela chegou, me passou um rádio. Dei recomendações de mãe, coisa normal. Ela brincou e disse: ‘Ok, patroa’. Foram as últimas palavras que ouvi dela.”

Amigos do casal disseram a Rosana que o suspeito e sua mulher não brigaram durante o churrasco. A discussão que terminou no assassinato ocorreu já na madrugada do dia seguinte, no apartamento deles, na Rua Barrânia, no Jabaquara.

Segundo a polícia, o homem esfaqueou a ex-modelo e, em seguida, tentou se matar. De acordo com a delegada Lisandreia Colabuono, da 2ª Delegacia da Mulher, o irmão do autor do crime encontrou os dois. A modelo já estava morta e o marido, inconsciente. Ele havia perdido muito sangue. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o suspeito permanecia neste sábado (14) internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, também na Zona Sul.

Foi descartada a possibilidade de participação do irmão do suspeito no crime, segundo Lisandreia. Após ser liberado do hospital, o homem deverá ser encaminhado para a carceragem do 26º Distrito Policial, no Sacomã, também na Zona Sul de São Paulo, e responderá por homicídio qualificado.

O filho do casal agora vive com os avós maternos. Eles disseram já ter entrado na Justiça com o pedido de guarda do garoto. Por enquanto, ele pergunta pouco pelos pais. No sábado, quando o menino viu o carro de Babila sendo manobrado e disse “mamãe”, seu avô, com pesar, respondeu: “É a vovó que está no carro. A mamãe está no céu”.

Agora, Rosana se esforça para realizar um sonho de sua filha: a festa de aniversário de 2 anos do neto em um bufê infantil. “Mexendo nas coisas dela, meu esposo encontrou, grudado na certidão de nascimento do menino, algumas notas de dinheiro com um bilhete escrito: ‘Para o bufê do meu filho’”, contou Rosana. “Minha filha era apenas uma comerciante e dona de casa. Ela queria só ter uma pequena família feliz.”

Notícia publicada no Portal G1, em 15 de julho de 2012.


André Henrique de Siqueira* comenta

"Aprendestes que foi dito: Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?" - Jesus (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)

Comentando este trecho do Evangelho de Mateus, Allan Kardec faz a seguinte anotação em O Evangelho Segundo o Espiritismo:

"Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo."

O amor aos inimigos não representa uma atitude de displicência ou de acomodação perante o erro alheio. A vida é uma escola de regeneração das almas e nela todos somos convidados ao reajustamento de nossas condutas. O indivíduo que atenta contra a integridade do próximo estará submetido à lei humana e divina como devedor a quem será cobrada a devida reparação.

Contudo, não podemos confundir a Justiça com a vingança e é imperioso considerar o perdão como instrumento de reconstrução de nosso equilíbrio moral. Mesmo os nossos inimigos, diante da história imortal na qual estamos inseridos como Espíritos, um dia se transformarão em irmãos equilibrados e maduros a quem deveremos respeito e consideração. Figuremos uma criança que durante a fase de bebê tivesse urinado na roupa vistosa de um dos desavisados tios... Seria justo que o tio guardasse eterna mágoa do bebê? A consciência de que o bebê não está de posse de toda a sua maturidade levaria naturalmente a vítima do atentado a uma atitude de perdão. Assim seremos diante de nossos inimigos quando a maturidade moral lhes alcançar os Espíritos em desenvolvimento. O exercício do perdão é, ao mesmo tempo, uma forma de libertação da alma que sofreu a fustigação alheia. O perdão é atitude de higiene mental que nos livra dos resíduos malfazejos disseminados pelo outro. Mas evitemos contaminar a água da vida com o sentimento de remorso...

Se pudermos evitar, pela previdência, oração e vigilância, que o mal nos acolha, evitemos aqueles a quem não podemos dedicar a nossa atenção com confiança... Mas se o mal alheio nos alcançou nas lides do caminho, saibamos perdoar para que nosso coração se liberte e entreguemos o malfeitor para a justiça humana ou divina, na expectativa de que o futuro lhe traga o amadurecimento e, um dia, nos painéis da eternidade, estaremos reunidos novamente para o acerto das dificuldades no tribunal eterno do amor.

* André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Revista Espírita: Fenômeno de bicorporeidade

Revista Espírita
Jornal de Estudos Psicológicos
PUBLICADA SOB A DIREÇÃO DE
ALLAN KARDEC
Fenômeno de bicorporeidade
Revista Espírita, dezembro de 1858
 
Um dos membros da Sociedade nos comunica uma carta de um de seus amigos, de Bolognesur-
Mer, na qual se lê a passagem seguinte. Essa carta está datada de 26 de julho de 1856.
"Meu filho, desde que o magnetizei, por ordens de nossos Espíritos, tomou-se um médium
muito raro, pelo menos foi o que me revelou em seu estado sonambúlico, no qual o colocara
a seu pedido, no dia 14 de maio último, e quatro ou cinco vezes depois.
"Para mim, está fora de dúvida que meu filho desperto conversa livremente com os Espíritos
que deseja, por intermédio de seu guia, que chama familiarmente seu amigo; que, à sua
vontade, transporta-se em Espírito para onde deseja, e disso vou citar-vos um fato, do qual
tenho as provas escritas nas mãos.
"Há justamente um mês de hoje, estávamos os dois na sala de jantar. Eu lia o curso de
magnetismo do senhor Du Potet, quando meu filho toma o livro e o folheia; chegado a um
certo lugar, seu guia lhe disse ao ouvido: Leia isso. Era a aventura de um doutor da América,
cujo Espírito visitara um amigo, a 15 ou 20 léguas dali, enquanto ele dormia. Depois de lê-lo,
meu filho disse: Bem que gostaria de fazer uma pequena viagem semelhante. - Pois bem!
Onde queres tu ir? disse-lhe seu guia. - A Londres, respondeu meu filho, ver meus amigos, e
ele designou aqueles que queria visitar.
"Amanhã é domingo, respondeu-lhe; não estás obrigado a levantar cedo para trabalhar.
Dormirás às oito horas e irás viajar a Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima,
receberás uma carta de teus amigos, que te censurarão por permanecer tão pouco tempo
com eles.
"Efetivamente, na manhã do dia seguinte, na hora indicada, ele adormeceu com um sono de
chumbo; às oito e meia despertou, e não se lembrava de nada; de minha parte, não disse
uma palavra, esperando a conseqüência.
"Na sexta-feira seguinte, eu trabalhava em uma de minhas máquinas e, segundo meu hábito,
fumava, porque era antes do almoço; meu filho olha a fumaça de meu cachimbo e me diz:
Olha! há uma carta em tua fumaça. - Como vês uma carta em minha fumaça? - Vais vê-la,
respondeu, pois eis o carteiro que a traz. Efetivamente, o carteiro veio entregar uma carta de
Londres, na qual os amigos de meu filho lhe fazem uma censura por ter ido nessa cidade, no
domingo precedente, e não ter ido vê-los, tendo uma pessoa de seu conhecimento o
encontrado. Tenho a carta, como disse, que prova que não inventei nada."
Contado o fato acima, um dos assistentes disse que a história narra vários fatos semelhantes.
Citou Santo Alfonso de Liguori, que foi canonizado antes do tempo previsto por haver se
mostrado, simultaneamente, em dois lugares diferentes, o que passou por um milagre.
Santo Antônio de Pádua estava na Espanha, e no momento em que pregava, seu pai (em
Pádua) ia ao suplício, acusado de uma morte. Nesse momento, Santo Antônio aparece,
demonstra a inocência de seu pai, e faz conhecer o verdadeiro criminoso, que mais tarde
sofreu o castigo. Foi constatado que Santo Antônio, no mesmo momento, pregava na
Espanha.
Santo Alfonso de Liguori, tendo sido evocado, foram lhe dirigidas as perguntas seguintes.
1. O fato pelo qual fostes canonizado é real? - R. Sim.
2. Esse fenômeno é excepcional? - R. Não; pode se apresentar em todos os indivíduos
desmaterializados.
3. Era um motivo justo para vos canonizar? - R. Sim, uma vez que, pela minha virtude, havia
me elevado a Deus; sem isso, não poderia me transportar a dois lugares ao mesmo tempo.
4. Todos os indivíduos, nos quais esses fenômenos se apresenta, merecem ser canonizados?
- R. Não, porque nem todos são igualmente virtuosos.
5. Poderíeis dar-nos a explicação desse fenômeno? - Sim; o homem, quando está
completamente desmaterializado pela sua virtude, que elevou sua alma a Deus, pode
aparecer em dois lugares ao mesmo tempo, eis como. O Espírito encarnado, sentido chegar o
sono, pode pedir a Deus para se transportar para um lugar qualquer. Seu Espírito, ou sua
alma, como quiserdes chamá-lo, abandona então seu corpo, seguido de uma parte de seu
perispírito, e deixa a matéria imunda num estado vizinho da morte. Digo vizinho da morte,
porque resta no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode
ser definido. O corpo aparece, pois, no lugar pedido. Creio que é tudo o que desejais saber.
6. Isso não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito. - R. Achando-se
o Espírito desligado da matéria, segundo seu grau de elevação, pode-se tomar tangível à
matéria.
7. Entretanto, certas aparições tangíveis, de mãos e de outras partes do corpo, pertencem
evidentemente a Espíritos de uma ordem inferior. - R. São os Espíritos superiores que se
servem de Espíritos inferiores para provarem a coisa.
8. O sono do corpo é indispensável para que o Espírito apareça em outros lugares? - R. A
alma pode se dividir quando se sente levada para um lugar diferente daquele onde se
encontra o corpo.
9. Um homem, estando mergulhado no sono, ao passo que seu Espírito aparece alhures, que
ocorreria se fosse despertado subitamente? - R. Isso não ocorreria porque se alguém tivesse
a intenção de despertá-lo, o Espírito reentraria no corpo, e preveria a intenção, já que o
Espírito lê no pensamento.
Tácito reporta um fato análogo:
Durante os meses que Vespasiano passou em Alexandria, para esperar o retorno periódico
dos ventos de verão e a estação na qual o mar se torna seguro, vários prodígios ocorreram,
por onde se manifestou o favor do céu e o interesse que os deuses pareciam ter por esse
príncipe....
Esses prodígios redobraram em Vespasiano o desejo de visitar a morada sagrada de deus
para consultá-lo a respeito do império. Ordenou que o templo fosse fechado a todo mundo:
tendo entrado ele mesmo todo atento ao que ia pronunciar o oráculo, percebeu, atrás de si,
um dos principais Egípcios, de nome Basilídio, que sabia estar acamado, a várias jornadas de
Alexandria. Informou-se com os sacerdotes se Basilídio viera esse dia ao templo; informou-se
com os transeuntes se o viram na cidade, enfim, enviou homens a cavalo, e se assegurou
que naquele mesmo momento, ele estava a vinte e quatro milhas de distância. Então, ele não
duvidou mais que a visão não fora sobrenatural, e o nome de Basilídio tomou o lugar do
oráculo. (TÁCITO, Histórias, liv. IV, cap. 81 e 82. Tradução de Burnouf.)
Depois que essa comunicação nos foi dada, vários fatos do mesmo gênero, cuja fonte é
autêntica, nos foram contados, e entre eles há muito recentes, que ocorreram, por assim
dizer no nosso meio, e que se apresentaram com as circunstâncias mais singulares. As
explicações, às quais deram lugar, alargaram singularmente o campo das observações
psicológicas.
A questão dos homens duplos, relegada outrora entre os contos fantásticos, parece ter,
assim, um fundo de verdade. A ela retornaremos brevemente.
 
(enviado, via email, por Joel Silva)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Mural reflexivo: Sabedoria de mendigo

Sabedoria de mendigo
Era uma vez uma cidade muito gelada, como gelada também era a relação, ou melhor, a falta de relação entre os seus moradores.
Pessoas rabugentas que só sabiam reclamar umas das outras e da situação, viviam isoladas cada qual em sua própria casa, indiferentes para com os que não possuíam um teto para se abrigar do frio.
Um dia, passou por aquele lugarejo um mendigo.
Sofrendo com os açoites do vento e com a fome que lhe castigava o estômago, ele ousou bater na porta de uma daquelas casas, em cujo interior viviam as pessoas que sempre estavam de mal com a vida...
Assim que a porta se abriu, uma voz rouquenha ecoou pelos ares, espantando o pobre pedinte, que pensou muito antes de bater na próxima casa.
O atendimento não foi diferente... Mais gritos e xingamentos o fizeram sair em disparada.
O mendigo sentou-se desanimado num velho e sujo banco, e ficou por alguns minutos mastigando um pedaço de pão ressecado que havia catado na lixeira.
Quando se levantou para seguir seu caminho, em busca de uma cidade mais acolhedora, percebeu que havia uma porta entreaberta... Era a porta do templo que se abria e fechava com o movimento do vento...
Meio desconfiado, ele foi entrando devagarzinho...
Encontrou o guardião do templo, Sr. Chamas, e seu ajudante, igualmente congelado pela mesmice que dominava aquela cidade cinzenta e fria...
Olá!, falou, sem que ninguém lhe desse ouvidos.
Limpou a garganta provocando um ruído forçado, tentando obter alguma atenção... Em vão.
Aproximou-se, então, do Sr. Chamas, que pensava em como conseguir algo para comer, naquela cidade onde ninguém compartilhava nada com ninguém, e falou bem alto:
Que pena que não poderei fazer aquela sopa quentinha, para espantar o frio e matar a fome...!
Sopa!?, falou interessado o velho guardião.
Sim, eu sei fazer uma deliciosa sopa de botão de osso, mas são necessários seis botões, e tenho apenas cinco...
Eu não tenho nenhum botão de osso, resmungou o Sr. Chamas.
Mas o alfaiate poderá nos ajudar, interveio o ajudante animado...
Jamais pedirei alguma coisa àquele velho babão e rabugento, resmungou.
Contudo, a vontade de tomar uma sopa quentinha o fez mudar de idéia... E lá se foi ele, seguido pelo seu fiel ajudante, em busca de um botão de osso para o mendigo fazer a prometida sopa com os botões milagrosos...
O Sr. Mendel, não menos rabugento, foi atender a porta com visível má vontade, já que ambos viviam de brigas o tempo todo. Mas a fome do Sr. Chamas era maior que o seu orgulho e por isso ele falou calmamente ao seu companheiro de encrencas: Precisamos de um botão de osso.
O alfaiate ia dizer que não tinha botão algum, quando ouviu a palavra mágica sopa e interessou-se pelo assunto. Foi buscar um botão... No entanto, impôs uma condição: iria junto para ver o milagre.
Ah, o mendigo havia pedido também uma colher de pau, uma panela grande, uma faca, e outras coisinhas mais...
E assim o Sr. Chamas, seu ajudante, o alfaiate e sua sobrinha saíram pelas ruas, batendo de porta em porta para pedir os utensílios necessários para se fazer a sopa de botão de osso.
Uma a uma as pessoas iam se juntando até que tudo havia sido providenciado.
Porém o mendigo, que era muito esperto, disse que a sopa já estava boa, e poderia ficar ainda melhor se alguém trouxesse um pouco de cenoura, repolho, sal, pimenta, alho, e outros ingredientes...
As pessoas se lembravam que tinham alguma coisa em suas despensas... E mais e mais coisas foram surgindo...
A sopa ficou pronta e todos tomaram até se fartar.
Surgiu até alguém para tocar e o povo dançou, e dançou, a noite toda.
No dia seguinte, não faltaram portas se abrindo para o mendigo se abrigar do frio.
Como o mendigo tinha que seguir o seu caminho de mendigo... despediu-se e se foi... não sem antes deixar os botões milagrosos para que aquela população pudesse continuar fazendo a sopa.
Muito tempo se passou... Os botões foram se perdendo, um a um...
Mas aquele povo já havia descoberto que o verdadeiro milagre não estava nos botões, e sim na solidariedade que agora reinava em todos os corações que passaram a se ajudar mutuamente.
Redação do Momento Espírita, com base no livro Sopa de
botão de osso, de Aubrey Davis, ed. Brinquebook.