sábado, 18 de outubro de 2014

Revoluções da Humanidade

banksyRevoluções da Humanidade

Raphael Vivacqua Carneiro

“De duas maneiras se realiza o progresso físico e moral em nosso planeta: uma, lenta, gradual e pouco perceptível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, que marcam as eras da Humanidade. Os homens, com a sua inteligência, alcançaram incontestáveis progressos nas ciências, nas artes e no bem-estar físico. Resta ainda um imenso progresso a realizar: o de fazer reinar entre nós a caridade, a fraternidade e a solidariedade, que nos assegurem o bem-estar moral. São chegados os tempos de transição para esta nova fase. Mas uma revolução tão radical não se realiza sem comoções. Há, inevitavelmente, luta de ideias. Desse conflito forçosamente se originarão perturbações passageiras, até que seja restabelecido o equilíbrio. Hoje, não são mais as entranhas do planeta que se agitam; são as da Humanidade.”

As ideias acima – expostas há um século e meio por Allan Kardec em sua obra A Gênese – parecem talhadas aos tumultuados dias atuais. Temos visto nos últimos meses milhares de cidadãos marchando nas ruas, protestando, pacificamente ou não, clamando por mudanças. De fato, nenhum progresso significativo ocorre sem revoluções ou transformações mais ou menos bruscas. Entretanto, é preciso diferenciar revolução moral, de revolução social. A princípio, ambas evocam a mesma motivação: combater as iniquidades. Contudo, a história demonstra que os seus rumos são muito distintos.
As revoluções morais visam ao aprimoramento espiritual, individual e coletivo, por meio da mudança dos valores e costumes da sociedade. O exemplo maior disso foi a missão de Jesus entre os homens. Ao pregar que aquilo que vem do coração e sai pela boca é mais importante do que as mãos limpas antes de comer; e que cuidar do próximo vale mais do que santificar o dia do sábado; e que um herege samaritano praticando o bem honra mais a Deus do que um crente descaridoso; e que o pequeno óbolo de uma viúva é mais precioso aos olhos de Deus do que as oferendas dos ricos; ao comparar os religiosos hipócritas a sepulcros caiados; em todos esses momentos Jesus promovia uma revolução moral. Ele sabia dos riscos que corria ao contrariar a situação vigente, mas enfrentou o desafio sem timidez, sacrificando a própria vida.
As revoluções sociais, diferentemente, são movidas por uma indisfarçável ganância pelo poder, usando o povo nas ruas como massa de manobra. Pode-se argumentar que as manifestações violentas promovidas pelas revoluções sociais almejam uma situação futura mais justa entre os homens, como, por exemplo, a Revolução Francesa, que pôs fim à nobreza esbanjadora e insensível aos pobres. Porém, a sequência dos acontecimentos levou a um período de terror no país, o qual foi seguido por um retorno à monarquia absolutista. Ademais, seria um equívoco acreditar que os fins justificam os meios. Cristo ensinava: “é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”. O mal é sempre o mal; mesmo que sirva de instrumento à Providência divina. Aquele cujos maus instintos foram utilizados, não ficará isento das consequências de seus atos.
Uma manifestação pacífica é uma forma civilizada de se buscar mudanças na sociedade, expressando o ponto de vista daqueles que se apresentam. Contudo, os diversos grupos, cada qual com a sua pauta peculiar, devem respeitar, entre si, o direito de cada um manifestar as suas ideias, ainda que sejam díspares ou antagônicas. Devem respeitar, inclusive, o direito dos demais que não desejam participar. Quando uma manifestação se torna violenta, ela imediatamente se afasta dos princípios elementares de justiça da lei natural. Ninguém possui o direito de agredir os outros ou depredar o patrimônio alheio, nem o público, uma vez que ninguém deseja isto para si mesmo. Não basta marchar e clamar; é preciso também mudar o caráter das nossas revoluções.

23 de junho de 2014 - Raphael Vivacqua Carneiro

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo

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EESE – Cap. V – Itens 28 a 31

Tema:   Será lícito abreviar a vida de um doente que sofra

            sem esperança de cura?

            Sacrifício da própria vida

            Proveito dos sofrimentos para outrem

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A - Texto de Apoio:

Será lícito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?

28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?

Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para dai o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar ideias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?

Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.

O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.)

Sacrifício da própria vida

29. Aquele que se acha desgostoso da vida mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?

Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. E ilusória a idéia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de nada mais lhe serviria. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário. Mas, buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação. - S. Luís. (Paris, 1860)

30. Se um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio?

Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas, devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrera. Mas, quem pode ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um inesperado meio de salvação para o momento mais crítico? Não poderia ela salvar mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão? Pode muitas vezes dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso, uma circunstância inopinada desvia o golpe fatal. -S. Luís. (Paris, 1860.)

Proveito dos sofrimentos para outrem

31. Os que aceitam resignados os sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e tendo em vista a felicidade futura, não trabalham somente em seu próprio benefício? Poderão tornar seus sofrimentos proveitosos a outrem?

Podem esses sofrimentos ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente se, pelo trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se imponham, contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente, pelo exemplo que elas oferecem de sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode induzir os desgraçados à resignação e salvá-los do desespero e de suas consequências funestas para o futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.).127

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 – Será lícito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?

2 – Os sofrimentos de alguém podem ser proveitosos a outrem? Justifique.

3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Beleza é mesmo fundamental?

 por Malu

“O essencial é invisível aos olhos.” Estas palavras de Saint-Exupéry, mesmo agora, pouco mais de cinquenta anos após o período em que foram escritas, revelam uma perspectiva tão à frente do momento em que vivemos, que eu não consigo imaginar o quanto estar aqui seria imensamente mais fácil, menos doloroso, se já fosse ela a ideia que norteasse o pensamento da sociedade como um todo. Mas, a realidade me diz que ainda não é, e a última semana no facebook mostrou isso quando começaram a rolar as postagens do tal "desafio sem make": meninas (sim, meninas!) e mulheres postando suas fotos sem maquiagem, enquanto comentavam sobre a dificuldade de fazerem isso.

Bom, considerando a beleza do ponto de vista estético e relacionando-a com a nossa aparência física, com nosso modo de vestir e nos apresentar, se falar – aqui – que não a vejo como importante, estarei, antes de tudo, mentindo para mim mesma. Claro que ser linda e ter um corpo tipo “Sandy” já foi um dos meus desejos mais insanos em diferentes e vários momentos. Isso, principalmente, quando me vinha à memória os problemas que tive de enfrentar no colégio por conta do que, hoje, chamam de bullying. Ou, ainda, quando – com doze ou treze anos – olhando-me no espelho questionava o porquê de não ser uma garota “normal”.

Graças a Deus, esse período passou e, também por isso, a maioria desses pensamentos já não me perturba mais. E, antes de pensarem que hoje sou uma mulher linda, por favor, não se enganem! Não mudei muito de lá para cá (continuo com meu rostinho de 15 e voz de 10...hahaha). Assim, se vivenciei alguma transformação ao longo do tempo, esta se deu, unicamente, no meu modo de encarar minha vida e meu corpo físico. E essa mudança de pensamento foi providencial, afinal, se a idade vai aumentando, espera-se que a gente vá amadurecendo, também, não é? Pelo menos em alguns sentidos...

Hoje vejo  que a beleza é tão subjetiva, quanto efêmera; sei que ela passa e que nossa aparência, pode, assim, transformar-se num piscar de olhos. Vejamos quantas, dentre modelos, atrizes ou artistas de um modo geral, foram, adolescentes – meninas ou meninos – “desengonçados, magrinhos ou cheinhos demais” e, já adultos, transformaram-se em pessoas tidas ou reconhecidamente belas?! Assim, subjetiva, a noção de “belo” ou “feio” está intimamente ligada aos referenciais que cada pessoa traz consigo; àquilo que o individuo vê, ouve e aprende ao longo da vida. Nossas opiniões variam tanto! Uma pessoa pode ser linda sob o seu ponto de vista e, sob o meu não. E, vice versa... Ou, ninguém discordou da minha opinião sobre a linda da Sandy? Isso é mais que natural. A diversidade é a marca de tudo que existe no universo, por que seria diferente conosco? Podemos até ter afinidade com algumas pessoas, mas, em essência, somos seres únicos, diferentes; com opiniões, vivencias e conceitos diferentes! 

Efêmera, a beleza física é transitória. Digo, não está em nossas mãos o poder de controlá-la, preservá-la, fazê-la estacionar. As características que nossa sociedade preza tanto a ponto de impô-las, como um padrão estético daquilo que é belo, algumas são tão passageiras quanto às estações do ano. A pessoa que as possui no verão, pode não mais apresenta-las na primavera seguinte, por exemplo. E isso é um fato! Para as mulheres um corpo esbelto, magro, cabelos sedosos, pele bronzeada... Para os homens, corpo malhado, barriga tanquinho. Ah, falemos a verdade: Quem se mantém constantemente assim?

Imagino a angustia que deve ser para a mulher que vive em guerra com a balança, contando as calorias de cada coisinha que come; a aflição se, porventura, um atraso a impede de fazer a chapinha no cabelo antes de ir para festa; o desespero de perceber uma celulite, então... E quanto aos homens, que até pouco tempo eram mais relaxados com a própria aparência, alguns – agora – vivem as voltas dentro das clinicas de estética e dos salões de beleza, etc... Embora não seja minha intenção fazer qualquer tipo de julgamento, acho que nesses casos excessivos, mais que tratamentos estéticos para o corpo, é preciso cuidar da beleza da alma. Esta sim está precisando de atenção, pois, talvez, estejam lhe sobrando idéias preconcebidas, falsas verdades, medos, inseguranças, perfeccionismo.

Chegando a conclusão das minhas poucas e bobas reflexões, confesso que tenho hoje como meta para mim um tipo mais importante de beleza. A beleza a qual se fala tanto na teoria, mas que poucos verdadeiramente buscam; àquela relacionada principalmente com nosso modo de ser e estar – estar, no sentido de fazer, agir – no mundo. Hoje, e acima de tudo, busco e quero transformar, tornar belos meus sentimentos, minhas ações... Tratamentos estéticos? Por favor, mas que sejam os que vão me ajudar a limpar o egoísmo ainda presente em alguns dos meus atos. Cirurgias plásticas? Claro, se elas forem feitas no meu coração, para extrair dele o orgulho, o medo e a insegurança que só me prejudicam. Só dessa forma eu sei que a verdadeira beleza irradiará de mim. Só assim eu terei a certeza de que, sim, serei realmente linda, pois, como lembrei do início desse texto, “O essencial [e verdadeiramente belo] é invisível aos olhos.”.

***

Esse é mais um post cujo tema  - Ditadura da beleza - foi proposto pelo Rotaroots, para o post especial do mês de setembro. Ainda não conhece o grupo? Clique > aqui < para maiores informações.

http://letras-e-suspiros.blogspot.com.br/2014/09/segundo-post-no-rotaroots-e-blogagem.html

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Conversas Familiares de Além-Túmulo

R.E. , abril de 1859, p. 143 
 
BENVENUTO CELLINI

Sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – 11 de março de 1859.
1. Evocação.
Resp. – Interrogai; estou pronto. Demorai como quiserdes, pois tenho tempo para vos dar.

2. Lembrais da existência que tivestes na Terra, no século XVI , entre 1500 e 1570?
Resp. – Sim, sim.

3. Atualmente, qual a vossa situação como Espírito?
Resp. – Vivi em vários outros mundos e estou muito satisfeito com a posição que hoje ocupo; não é um trono, mas estou a caminho.

4. Tivestes outras existências corporais na Terra depois daquela que conhecemos?
Resp. – Corporal, sim; na Terra, não.

5. Quanto tempo ficastes errante?
Resp. – Não o posso calcular: alguns anos.

6. Quais eram as vossas ocupações nesse estado errante?
Resp. – Trabalhava por mim mesmo.

7. Voltastes algumas vezes à Terra?
Resp. – Poucas.

8. Assistis ao drama em que sois representado? Que pensais dele?
Resp. – Fui vê-lo várias vezes; senti-me lisonjeado como Cellini, mas pouco como Espírito que havia progredido.

9. Antes da existência que conhecemos, tivestes outras na Terra?
Resp. – Não, nenhuma.

10. Poderíeis dizer o que éreis em vossa precedente existência?
Resp. – Minhas preocupações eram completamente diferentes daquelas que tive na Terra.

11. Que mundo habitais?
Resp. – Não o conheceis e não o vedes.

12. Poderíeis dar-nos a sua descrição, do ponto de vista físico e moral?
Resp. – Sim, facilmente.

Do ponto de vista físico, meus caros amigos, alegrei-me com a sua beleza plástica: ali nada choca os olhos; todas as linhas se harmonizam perfeitamente; a mímica é a forma de expressão constante; os perfumes nos envolvem e não temos nada a desejar para o nosso bem-estar físico, uma vez satisfeitas as necessidades pouco numerosas a que estamos submetidos.

Do ponto de vista moral, a perfeição é menor, pois ali ainda se pode ver consciências perturbadas e Espíritos inclinados ao mal. Não será a perfeição – longe disso – mas, como já falei, é o seu caminho e todos esperamos um dia alcançá-la.

13. Quais as vossas ocupações no mundo que habitais?
Resp. – Trabalhamos as artes. Sou artista.

14. Em vossas memórias relatais uma cena de feitiçaria e de sortilégio que se teria passado no Coliseu, em Roma, e na qual teríeis tomado parte. Lembrais-vos dela?
Resp. – Sem muita clareza.

15. Se procedêssemos à sua leitura, teríeis a lembrança despertada?
Resp. – Sim, isso poderia dar-me uma idéia.

Fez-se então a leitura do seguinte trecho de suas memórias:

“Em meio a essa vida estranha eu me liguei a um sacerdote siciliano, de espírito muito distinto e profundamente versado nas letras gregas e latinas. Conversando com ele certo dia, o assunto caiu sobre necromancia e lhe confessei que em toda a minha vida havia ardentemente desejado ver e aprender algo dessa arte. Para abordar semelhante empresa, é necessário ter uma alma firme e intrépida, respondeu-me o padre. “Uma noite, porém, o sacerdote fez os seus preparativos e me disse que procurasse um ou dois companheiros. Associou-se a um homem de Pistóia, que também se ocupava de necromancia e nos dirigimos ao Coliseu. Aí o padre vestiu-se à maneira dos necromantes, depois começou a desenhar círculos no chão, com as mais belas cerimônias que se possa imaginar. Havia trazido perfumes preciosos, drogas fétidas e fogo. Quando tudo estava em ordem ele fez uma abertura no círculo e ali nos introduziu, tomando-nos um a um pela mão. Em seguida distribuiu os papéis. Pôs o talismã nas mãos de seu amigo necromante, encarregou os outros da vigilância do fogo e dos perfumes e,finalmente, começou as conjurações. Essa cerimônia durou mais de uma hora e meia. O Coliseu encheu-se de legiões de Espíritos infernais. Quando o sacerdote viu que eram bastante numerosos, voltou-se para mim, que cuidava dos perfumes, e disse: Benvenuto,pede-lhes alguma coisa. Respondi que desejava reunir-me à minha siciliana Angélica. Embora não obtivéssemos resposta naquela noite, fiquei encantado com o que tinha visto. O necromante me disse que era preciso retornar uma segunda vez e que eu obteria tudo quanto pedisse, contanto que trouxesse um rapazinho ainda virgem. Escolhi um de meus aprendizes e trouxe ainda dois dos meus amigos.

“Ele pôs-me nas mãos o talismã, dizendo-me que o voltasse em direção aos locais que me fossem designados. Meu aprendiz foi colocado debaixo do talismã. O necromante começou suas terríveis evocações, chamou pelo nome uma multidão de chefes de legiões infernais, exprimindo suas ordens em hebraico,grego e latim, em nome do Deus incriado, vivo e eterno. Logo o Coliseu encheu-se de uma quantidade de demônios cem vezes mais considerável que da primeira vez. A conselho do necromante, pedi novamente para me encontrar com Angélica. Ele se voltou para mim e me disse: Não os ouvistes anunciar que dentro de um mês estarias com ela? E pediu-me que tivesse firmeza, porque havia mil legiões além das que tinham sido chamadas, acrescentando que eram mais perigosas e que, desde que haviam respondido ao meu pedido, era necessário tratá-las com brandura e despedi-las tranqüilamente. Por outro lado, o jovem rapaz exclamava com espanto que percebia um milhão de homens terríveis que nos ameaçavam, e quatro enormes gigantes, armados dos pés à cabeça,que pareciam querer penetrar em nosso círculo. Durante esse tempo o necromante, tremendo de medo, tentava conjurá-los,imprimindo à voz a mais doce entonação. O menino escondia a cabeça entre os joelhos e gritava: Quero morrer assim! Estamos mortos! Então eu lhe disse: “Estas criaturas estão todas abaixo de nós e o que vês não passa de fumaça e sombra; assim, levanta os olhos.” Apenas me havia obedecido, retomou: Todo o Coliseu queima e o fogo vem sobre nós. O necromante ordenou que fosse queimada assa-fétida. Encarregado dos perfumes, Agnolo estava semimorto de pavor.

“A esse barulho e ao terrível mau cheiro o garoto arriscou-se a levantar a cabeça. Ouvindo o meu riso, tranqüilizouse um pouco e disse que os demônios começavam a retirada. Permanecemos assim até o momento em que soaram as matinas. Disse-nos o jovem que só percebia alguns demônios e, mesmo assim, a grande distância. Finalmente, quando o necromante concluiu os rituais e desparamentou-se, saímos do círculo. Enquanto caminhávamos para nossos lares, pela rua Banchi, ele assegurava que dois demônios davam cambalhotas à nossa frente, ora correndo sobre os telhados, ora pelo chão.

“O necromante jurava que, desde que havia posto o pé num círculo mágico, nunca lhe havia acontecido nada assim tão extraordinário. Tentou, depois, convencer-me a unir-me a ele para nos consagrarmos a um livro, que nos deveria proporcionar riquezas incalculáveis e fornecer-nos os meios de obrigar os demônios a nos indicar os locais onde se acham escondidos os tesouros que a Terra guarda em seu seio...”

Após diferentes relatos mais ou menos vinculados ao que precede, conta Benvenuto como, ao cabo de trinta dias, isto é, dentro do prazo fixado pelos demônios, ele reencontrou sua Angélica.

16. Poderíeis dizer o que há de verdadeiro nessa cena?
Resp. – O necromante era um charlatão, eu era um romancista e Angélica minha amante.

17. Revistes Francisco I, vosso protetor?
Resp. – Certamente; ele viu muitos outros que não foram seus protegidos.

18. Como o julgáveis em vida e como o julgais agora?
Resp. – Dir-vos-ei como o julgava: como um príncipe e,nessa condição, enceguecido por sua educação e por aqueles que o cercavam.

19. E o que dizeis agora?
Resp. – Ele progrediu.

20. Era por sincero amor à arte que ele protegia os artistas?
Resp. – Sim, e também por prazer e vaidade.

21. Onde se encontra ele atualmente?
Resp. – Ele vive.

22. Está na Terra?
Resp. – Não.

23. Se o evocássemos agora, ele poderia vir e conversar conosco?
Resp. – Sim, mas não pressioneis assim os Espíritos.
Que vossas evocações sejam preparadas com muita antecedência e,então, pouco tereis que perguntar aos Espíritos. Assim vos arriscais muito menos de serdes enganados, porque isso acontece algumas vezes. [São Luís].

24. [A São Luís] Podereis fazer com que dois Espíritos venham conversar?
Resp. – Sim.
– Nesse caso seria útil ter dois médiuns?
Resp. – Sim, necessariamente.

Nota – Este diálogo ocorreu numa outra sessão; a ele voltaremos em nosso próximo número.

25. [A Cellini] De onde procede vossa vocação para a arte? Resultaria de um desenvolvimento especial anterior?
Resp. – Sim; por muito tempo estive ligado à poesia e à beleza da linguagem. Na Terra prendi-me à beleza como reprodução; hoje ocupo-me dela como invenção.

26. Possuíeis também talento militar, pois o papa Clemente VII confiou-vos a defesa do castelo de Santo Ângelo.
Entretanto, vosso talento de artista não vos devia proporcionar muita aptidão para a guerra.
Resp. – Tinha talento e sabia aplicá-lo. Em tudo é necessário discernimento, sobretudo na arte militar daquele tempo.

27. Poderíeis dar alguns conselhos aos artistas que procuram seguir vossos passos?
Resp. – Sim. Dir-lhes-ei simplesmente que busquem a pureza e a verdadeira beleza, mais do que o fazem e mais do que eu próprio fiz. Eles me compreenderão.

28. A beleza não é relativa e convencional? O europeu se julga mais belo que o negro, e este mais belo que o branco. Se há uma beleza absoluta, qual é o seu tipo? Podeis dar a vossa opinião a respeito?
Resp. – Com prazer. Não quis fazer alusão a uma beleza convencional; pelo contrário. A beleza está em toda parte, é o reflexo do Espírito no corpo e não apenas a forma corpórea. Como dissestes, um negro pode ser belo, de uma beleza que será apreciada somente por seus semelhantes, é verdade. Do mesmo modo nossa beleza terrestre é deformidade para o céu, como para vós, brancos, o belo negro vos parece quase disforme. Para o artista a beleza é a vida, o sentimento que sabe dar à sua obra. Com isso imprimirá beleza às coisas mais vulgares.

29. Poderíeis guiar um médium na execução de uma modelagem, como o fez Bernard de Palissy em relação aos desenhos?
Resp. – Sim.

30. Poderíeis levar o médium de que vos servis de intérprete a fazer alguma coisa agora?
Resp. – Como também os outros, embora preferisse um artista que conhecesse os truques da minha arte.

Observação – Prova a experiência que a aptidão de um médium para tal ou qual gênero de produção vai depender da flexibilidade que ele apresenta ao Espírito, e isso abstração feita do seu talento. O conhecimento do ofício e os meios materiais de execução não constituem o talento, mas é concebível que o Espírito que dirige o médium nele encontre menor dificuldade mecânica a vencer. Entretanto, há médiuns que fazem coisas admiráveis, das quais lhes faltam as primeiras noções, tais como a poesia, desenhos, gravuras, música, etc.; mas, então, é que neles existe uma aptidão inata, sem dúvida resultante de um desenvolvimento anterior, do qual só conservaram a intuição.

31. Poderíeis dirigir a Sra. G. S., aqui presente, e que é artista, embora jamais tenha conseguido produzir qualquer coisa como médium?
Resp. – Tentarei, se ela o desejar.

32. [Sra. G. S.] Quando queres começar?
Resp. – Quando quiseres, a partir de amanhã.

33. Mas como saberei que a inspiração vem de ti?
Resp. – A convicção vem com as provas. Deixai-a vir lentamente.

34. Por que não obtive êxito até o momento?
Resp. – Pouca persistência e falta de boa vontade do Espírito evocado.

35. Agradeço-te a assistência que me prometes.
Resp. – Adeus. Até logo, companheira de trabalho.

Nota – A Sra. G. S. pôs-se à obra, mas ainda não sabemos os resultados que obteve.

SR. GIRARD DE CODEMBERG

Antigo aluno da Escola Politécnica, membro de várias sociedades científicas, autor de um livro intitulado: Le Monde spirituel, ou science chrétienne de communiquer intimement avec les puissances célestes et les âmes heureuses. Falecido em novembro de 1858. Evocado na Sociedade a 14 de janeiro seguinte.

1. Evocação.
Resp. – Eis-me aqui. Que quereis?

2. Compareceis de boa vontade ao nosso apelo?
Resp. – Sim.

3. Podereis dizer-nos o que pensais atualmente do livro que publicastes?
Resp. – Cometi alguns erros, mas nele há coisas boas e sou levado a crer que vós mesmos concordaríeis com o que ali eu disse, sem qualquer receio de lisonjear-me.

4. Dizeis principalmente que tivestes comunicações com a mãe do Cristo. Vedes agora se era realmente ela?
Resp. – Não; não era ela, mas um Espírito que tomava seu nome.

5. Com que objetivo esse Espírito lhe tomava o nome?
Resp. – Ele me via seguir o caminho do erro e aproveitava para me comprometer ainda mais. Era um Espírito perturbador, um ser leviano, mais propenso ao mal que ao bem. Sentia-se feliz por ver a minha falsa alegria. Eu era o seu joguete,como muitas vezes vós outros o sois de vossos semelhantes.

6. Dotado de inteligência superior, como não percebestes o ridículo de certas comunicações?
Resp. – Eu estava fascinado e julgava bom tudo quanto me diziam.

7. Não julgais que essa obra possa fazer mal, no sentido de prestar-se ao ridículo em relação às comunicações de além-túmulo?
Resp. – Nesse sentido, sim. Mas eu disse também que há coisas boas e verdadeiras que, sob um outro ponto de vista, impressiona os olhos das massas. Mesmo naquilo que nos parece mau, muitas vezes encontramos uma boa semente.

8. Sois mais feliz agora do que quando vivíeis?
Resp. – Sim, mas tenho muita necessidade de esclarecerme,porque ainda me acho no nevoeiro que se segue à morte. Estou como o escolar que começa a soletrar.

9. Quando vivo conhecestes O Livro dos Espíritos?
Resp. – Jamais lhe havia prestado atenção. Tinha idéias preconcebidas; nisso eu pecava, pois nunca estudaremos e nos aprofundaremos bastante em todas as coisas. Mas o orgulho está sempre em ação, criando-nos ilusões. Aliás, isso é bem próprio dos ignorantes: não querem estudar senão aquilo que preferem e só dão ouvidos aos que os lisonjeiam.

10. Mas não éreis um ignorante; não o provam vossos títulos?
Resp. – O que é o sábio da Terra diante da ciência do Céu? Aliás, não há sempre a influência de certos Espíritos, interessados em afastar-nos da luz?

Observação – Isso corrobora o que já foi dito: certos Espíritos inspiram o afastamento das pessoas que poderiam dar conselhos úteis e frustar as suas maquinações. Essa influência jamais será a de um Espírito bom.

11. E agora, que pensais do livro?
Resp. – Não o poderia dizer sem elogiar. Ora, nós não elogiamos, como bem o sabeis.

12. Vossa opinião sobre a natureza das penas futuras modificou-se?
Resp. – Sim. Eu acreditava nas penas materiais; agora creio nas penas morais.

13. Podemos fazer algo que vos seja agradável?
Resp. – Sempre. Fazei cada um de vós, esta noite, uma prece em minha intenção. Serei reconhecido; não o esqueçais.

Observação – O livro do Sr. de Codemberg provocou uma certa sensação e, devemos acrescentar, uma sensação penosa entre os partidários esclarecidos do Espiritismo, por causa da extravagância de certas comunicações que se prestam bastante ao ridículo. Sua intenção era louvável, pois era um homem sincero. Ele é um exemplo do domínio que certos Espíritos podem exercer, adulando e exagerando as idéias e os preconceitos daqueles que não avaliam com muita severidade os prós e os contras das comunicações espíritas. Mostra-nos, sobretudo, o perigo de os espalhar muito levianamente no público, visto poderem tornar-se motivo de repulsa, fortalecendo certas pessoas na incredulidade e fazendo,assim, mais mal do que bem, já que fornecem armas aos inimigos da causa. Nunca seríamos bastante cautelosos a esse respeito.

SR. POITEVIN, AERONAUTA

Morto há cerca de dois meses, de febre tifóide, contraída em conseqüência de uma descida forçada em pleno mar.

Sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – 11 de fevereiro de 1859.

1. Evocação.
Resp. – Eis-me aqui. Falai.

2. Tendes saudades da vida terrena?
Resp. – Não.

3. Sois mais feliz agora do que quando vivo?
Resp. – Muito.

4. Qual o motivo que vos levou para as experiências aeronáuticas?
Resp. – A necessidade.

5. Tínheis idéia de servir à Ciência?
Resp. – De modo algum.
6. Vedes agora a ciência aeronáutica de um ponto de vista diferente daquele que tínheis em vida?
Resp. – Não; eu a via como a vejo agora, pois a via bem. Via muitos aperfeiçoamentos a introduzir, mas não os podia desenvolver por falta de conhecimentos. Mas esperai. Virão homens que lhe darão o destaque que ela merece e merecerá um dia.

7. Acreditais que a ciência aeronáutica venha a tornarse um dia objeto de utilidade pública?
Resp. – Sim, certamente.

8. A grande preocupação dos que se ocupam dessa ciência é a pesquisa dos meios de dirigir os balões. Pensais que o conseguirão?
Resp. – Sim, certamente.

9. Em vossa opinião, qual a maior dificuldade que apresenta a dirigibilidade dos balões?
Resp. – O vento, as tempestades.

10. Então não é a dificuldade de encontrar um ponto de apoio?
Resp. – Se dirigíssemos os ventos, dirigiríamos os balões.

11. Poderíeis assinalar o ponto para o qual conviria dirigir as pesquisas a esse respeito?
Resp. – Deixemos isso de lado.

12. Quando vivo estudastes os vários sistemas propostos?
Resp. – Não.

13. Poderíeis dar conselhos aos que se ocupam de tais pesquisas?
Resp. – Pensais que seguiriam vossos conselhos?

14. Não seriam os nossos, mas os vossos conselhos.
Resp. – Quereis um tratado? Eu o mandarei fazer.

15. Por quem?
Resp. – Pelos amigos que me guiaram.

16. Aqui estão dois inventores distintos em matéria de aerostação, o Sr. Sanson e o Sr. Ducroz, que obtiveram benefícios científicos muito honrosos. Fazeis uma idéia de seu sistema?
Resp. – Não. Há muito a dizer. Não os conheço.

17. Admitindo resolvido o problema da dirigibilidade,credes na possibilidade de uma navegação aérea em grande escala, como sobre o mar?
Resp. – Não; jamais como pelo telégrafo.

18. Não falo da rapidez das comunicações, que nunca poderão ser comparadas à do telégrafo, mas do transporte de grande número de pessoas e de objetos materiais. Que resultado se pode esperar nesse sentido?
Resp. – Pouca celeridade.

19. Quando em perigo iminente, pensastes no que seríeis após a morte?
Resp. – Não; estava inteiramente voltado para as minhas manobras.

20. Que impressão vos causava o perigo que corríeis?
Resp. – O hábito tornara o medo mais fraco.

21. Que sensação experimentáveis quando estáveis perdido no espaço?
Resp. – Perturbação, mas felicidade; meu Espírito parecia escapar do vosso mundo. Entretanto, as necessidades de manobrar despertavam-me para a realidade e me faziam cair na fria e perigosa posição em que me achava.

22. Vedes com prazer vossa esposa seguir a mesma carreira aventurosa?
Resp. – Não.
23. Qual a vossa situação como Espírito?
Resp. – Vivo como vós, isto é, posso prover à minha vida espiritual como proveis à vossa vida material.

Observação – As curiosas experiências do Sr. Poitevin,sua intrepidez, sua notável habilidade na manobra dos balões, fazianos esperar dele maior elevação e grandeza de idéias. O resultado não correspondeu à nossa expectativa. Para ele, como pudemos ver, a aerostação era apenas uma indústria, uma maneira de viver por um gênero particular de espetáculo; todas as suas faculdades estavam concentradas nos meios de excitar a curiosidade pública.
Assim é que, nestas conversas familiares de além-túmulo, as previsões são muitas vezes incertas; ora são ultrapassadas, ora ficam aquém do que se esperava, prova evidente da independência das comunicações.

Numa sessão particular, e através do mesmo médium,Poitevin ditou os conselhos a seguir, para cumprir a promessa que acabava de fazer. Cada um poderá apreciar-lhes o valor; nós os damos como objeto de estudo sobre a natureza dos Espíritos, e não por seu mérito científico, mais que contestável. “Para dirigir um balão cheio de gás encontrareis sempre as maiores dificuldades: a imensa superfície que ele oferece como presa aos ventos; a insignificância do peso que o gás pode suportar; a fragilidade do envoltório, reclamada por esse ar sutil. Todas essas causas jamais permitirão dar ao sistema aerostático a grande extensão que desejaríeis vê-lo tomar. Para que o aeróstato tenha uma utilidade real, é preciso que seja um sistema de comunicação poderosa e dotado de uma certa presteza, mas sobretudo poderoso. Dissemos que guardaria o meio-termo entre a eletricidade e o vapor; sim, e por duas razões:

1o Deve transportar os passageiros mais rapidamente do que as ferrovias e as mensagens mais vagarosamente do que o telégrafo.

2o Não se mantém como meio-termo entre esses dois sistemas porque participa, ao mesmo tempo, do ar e da terra, ambos servindo-lhe de caminho: está entre o céu e o mundo.

“Não me perguntastes se, por esse meio, conseguiríeis visitar os outros planetas. Entretanto, semelhante pensamento inquietou muitas cabeças e a sua solução encheria de espanto o vosso mundo inteiro. Não, não conseguireis. Imaginai que, para atravessar esses espaços extraordinários, de milhões e milhões de léguas, a luz leva anos. Vede, pois, quanto tempo seria necessário para os atingir, mesmo levados pelo vapor ou pelo vento.

“Para voltar ao assunto principal, eu vos dizia, ao começar, que não seria preciso esperar muito de vosso sistema atual; mas que obteríeis muito mais agindo sobre o ar por compressão forte e extensa. O ponto de apoio que procurais está diante de vós e vos cerca por todos os lados; com ele vos chocais a cada um de vossos movimentos; diariamente ele entrava a vossa rota e influi principalmente no que tocais. Pensai bem nisso e tirai dessa revelação tudo quanto puderdes: suas deduções são enormes. Não vos podemos tomar a mão e levar-vos a forjar as ferramentas necessárias a esse trabalho; não vos podemos dar uma indução, palavra por palavra. É preciso que o vosso Espírito trabalhe e amadureça seus projetos; sem isso não compreenderíeis aquilo que faríeis e não saberíeis manejar vossos instrumentos. Seríamos obrigados a girar e a abrir os vossos pistões: as circunstâncias imprevistas que, mais dia menos dia, viessem dificultar vossos esforços, lançar-vos-iam em vossa primitiva ignorância.

“Trabalhai, pois, e encontrareis o que tiverdes procurado. Conduzi vosso Espírito para a direção que vos indicamos e aprendei pela experiência, porquanto não vos induzimos em erro.”

Observação – Embora encerrando verdades incontestáveis,nem por isso estes conselhos denotam um Espírito sclarecido, sob certos pontos de vista, uma vez que parece ignorar a verdadeira causa da impossibilidade de atingir outros planetas. É uma prova a mais da diversidade de aptidões e de luzes encontradas no mundo dos Espíritos, assim como ocorre na Terra. É pela multiplicidade das observações que se chega a conhecer, a compreender e a julgar. Eis por que damos modelos de todos os gêneros de comunicações, tendo o cuidado de fazer ressaltar o forte e o fraco. A de Poitevin termina por uma consideração muito justa, que nos parece ter sido suscitada por um Espírito mais filosófico do que o seu. Ademais, ele havia dito que tais conselhos seriam redigidos por seus amigos que, absolutamente, nada ensinam.

Aqui encontramos mais uma prova de que nem sempre os homens que tiveram uma especialidade na Terra são os mais adequados a nos esclarecer como Espíritos, sobretudo se não forem bastante elevados para se desprenderem da vida terrena. Para o progresso da aeronáutica é lamentável que a maior parte desses homens intrépidos não possa colocar a sua experiência a serviço da Ciência, ao passo que os teóricos, alheios à prática, assemelham-se a marinheiros que jamais viram o mar. Incontestavelmente, um dia haverá engenheiros em aerostática,como há engenheiros navais, mas apenas quando tiverem visto e sondado diretamente as profundezas do oceano aéreo. Quantas idéias não lhes seriam dadas pelo contato real dos elementos, idéias que escapam às pessoas do ramo! Porque, seja qual for o seu saber,não podem eles, do fundo de seu coração, perceber todos os escolhos; entretanto, se um dia essa ciência tornar-se uma realidade,não o será senão por seu intermédio. Aos olhos de muitas pessoas isso ainda é uma quimera, razão por que os inventores, que geralmente não são capitalistas, não encontram o apoio nem o encorajamento necessários. Quando a aerostação produzir dividendos, mesmo em esperanças, e puder ser admitida nas transações oficiais da Bolsa, não lhe faltarão capitais. Até lá, é necessário contar apenas com o devotamento daqueles que vêem o progresso antes da especulação. Enquanto houver parcimônia nos meios de execução haverá derrotas, pela impossibilidade de fazer ensaios em larga escala ou em condições convenientes. Seremos forçados a proceder de modo mesquinho e o faremos mal, nisso como em todas as coisas. O sucesso não será obtido senão a preço de muitos sacrifícios para entrar no caminho da prática, o que significa sacrifício e exclusão de qualquer idéia de benefício. Esperemos que a idéia de dotar o mundo da solução de um grande problema, ainda que não fosse do ponto de vista da Ciência, inspire um desinteresse generoso. Mas a primeira coisa a fazer seria fornecer aos teóricos os meios de aquisição de experiência do ar, mesmo por intermédio dos meios imperfeitos que possuímos. Se Poitevin houvera sido um homem de saber, e tivera inventado um sistema de locomoção aérea, sem dúvida teria inspirado mais confiança do que aqueles que jamais deixaram a Terra e, provavelmente, teria encontrado os recursos que aos outros são recusados.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Faxineira larga filhos para morar com ex-preso em ponto de ônibus no DF

Faxineira larga filhos para morar com ex-preso em ponto de ônibus no DF

Paraibano afirma que passou 26 anos na cadeia por ter matado 15 pessoas. Assistentes sociais tentaram retirá-los do local, mas não obtiveram sucesso.

Raquel Morais
Do G1 DF

Os mesmos versos que introduzem à história de amor de "Eduardo e Mônica", questionando haver razão "nas coisas feitas pelo coração", poderiam anunciar o entrelace improvável de um casal que atualmente mora em uma parada de ônibus na DF-140. Mas a reação inicial à união causa algum espanto: Maria [nome fictício], de 45 anos, largou os seis filhos para viver com o ex-presidiário João [também fictício], de 50, que diz ter passado 26 anos na cadeia por ter matado 15 pessoas.

Os dois decidiram se mudar para o local, próximo ao Complexo Penitenciário da Papuda, há pouco mais de um mês. O homem foi posto em liberdade no final do ano passado e escolheu morar na rua para "não incomodar" familiares e amigos. Eles improvisaram uma barraca e sobrevivem com a ajuda de doações de quem passa pela região – inclusive de agentes da cadeia. A Secretaria de Segurança Pública informou ao G1 que João cumpriu pena por oito roubos qualificados.

Maria, que conheceu o companheiro há cinco anos, em uma confraternização ocorrida durante saidão, diz ter certeza da decisão tomada. Na época, a mulher já estava separada e trabalhava como faxineira em um bar. Os filhos, que hoje têm entre 16 e 22 anos, moravam com ela.

"Esse homem foi melhor do que ganhar na Mega Sena. Ele me dá tudo o que eu preciso, é só o ouro. Tem muita paixão, muito amor entre a gente. Eu o conheci e me apaixonei assim", disse. "Eu não gosto que critiquem minha decisão. Meus filhos já não eram mais pequenos e hoje moram com a irmã mais velha. É um problema só meu."

Natural de uma cidade do interior da Paraíba, João conta se dar bem com os enteados. Ele diz ser filho de um policial civil aposentado e afirma que praticou o primeiro crime quando ainda era menor de idade, depois de ouvir que a filha do vizinho havia sido estuprada. O ex-presidiário garante que matou 15 homens – e em todas as ocasiões usando um facão – com a intenção de fazer justiça e que nunca se aproveitou do crime para levar vantagem pessoal.

Entre as situações que o impulsionaram a isso estariam roubos a conhecidos e a morte do primogênito, entre 17 filhos, por engano. "Ele tinha 16 anos. Foi em 1989. Era a minha vida. Aquilo mexeu comigo", declarou. "Meus colegas sempre me chamavam para resolver as coisas. Eu dizia que daríamos um jeito, que não podiam prejudicar pai de família. Apesar de o meu pai ser policial, eu não confiava nesse povo."

João diz que aproveitou o tempo preso para terminar o ensino fundamental e participar de oficinas, como de pintura, serralheria, jardinagem e panificação. Além disso, adotou a religião evangélica e lembra que chegou a fazer pregações para os colegas de cela.

"Quando a pessoa não conhece as coisas de Deus, fica cega. Eu achava que estava fazendo justiça, mas estava fazendo mal a mim mesmo. Eu nunca usei drogas. Vez ou outra tomo cachaça, mas é só. Eu acho que as pessoas só não mudam quando não querem. Eu aprendi e quero recomeçar", afirma.

O ex-presidiário diz que levou currículo a empresas de ônibus e que tem feito bicos para se manter – catando material reciclado ou vendendo "besteiras" dentro do ônibus. Ele garante que aprendeu com tudo o que passou e que não pretende voltar à prisão.

"Quero fazer o máximo para evitar cometer crime de novo, mas Deus o livre uma pessoa fizer mal a ela [Maria]. Não tenho mais intenção de matar, vou me controlar, é claro. Melhor é ficar solto, em liberdade. A cadeia é muito ruim. Você vê gente morrendo, comida péssima, é desrespeitado, te ignoram quando você está doente. Eu me sentia mal quando meus filhos iam me visitar. A pessoa está lá para se recuperar, mas como fazer isso sendo maltratada? Você se revolta mais", declarou.

João conta que não aceitou a ajuda dos pais e dos familiares também como parte desta aprendizagem. Segundo o ex-detento, a família pensa que ele está viajando e nem imagina que ele dorme na rua. Até com os filhos o contato ficou restrito. "Se nada der certo, vou com minha mulher para a Paraíba, até a pé. Mas dos outros não dependo", concluiu.

Moradores de rua

Dados da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda apontam que o DF tem mais de 2,5 mil moradores de rua. A pasta conta com 28 equipes que visitam essas pessoas e oferecem vagas em casas de abrigo. Segundo o governo, no entanto, nem todas aceitam.

João e Maria, por exemplo, receberam assistentes sociais em três ocasiões, mas não quiseram deixar a parada de ônibus da DF-140. Nos abrigos, eles teriam acesso a acompanhamento psicológico e social e poderiam retirar documentos pessoais de graça, além de ganhar orientações para voltar ao mercado de trabalho. O tempo de permanência nestas casas é de, no máximo, 90 dias.

Notícia publicada no Portal G1, em 19 de julho de 2014.

Jorge Hessen* comenta

Subestimando aqui a decisão de “Maria”, destacaremos o tema em torno das declarações do ex-detento. Na reportagem, “João” assegura que obteve bom aproveitamento durante o período de encarceramento. Diz que estudou e participou de oficinas de pintura, serralheria, jardinagem e panificação. Adotou a religião cristã à maneira dos crentes. Hoje tem ungido esforços pessoais a fim de conseguir um emprego (e sabemos o quanto é difícil essa empreita para um ex-detento). Demonstra não permanecer estático (inobstante que morando numa parada de ônibus) pois tem feito alguns biscates para sobreviver, catando material reciclado ou vendendo "balinhas, docinhos e água mineral" dentro do ônibus.(1)

Como dissemos, a nossa reflexão explorará as ponderações de “João” a respeito do sistema carcerário brasileiro. Segundo afirma ele na reportagem, os presos na penitenciária morrem nas celas quais animais abandonados. A refeição é de qualidade duvidosa, o detento é humilhado e quase sempre é deixado ao relento quando está sob o impacto de qualquer enfermidade. “João” não acredita na possibilidade de recuperação de um criminoso que vive sob permanente tortura moral na cadeia. Infelizmente noticia-se, não raras vezes, pela mídia em geral, a tortura física e psicológica nos presídios e penitenciárias como uma das barbaridades cometidas em nome do Estado e da lei.

As penitenciárias de hoje lembram bastante as masmorras medievais. É de se perguntar onde está o processo avançado das conquistas tecnológicas e sociais. Notamos que os cárceres atualmente não servem para educar; pelo contrário, neutralizam a formação e o desenvolvimento de valores intrínsecos, estigmatizando o ser humano. A rigor, as prisões vêm funcionando como máquinas de reprodução da criminalidade.

O mais grave problema do sistema penitenciário brasileiro é a completa escassez de vagas, que obriga milhares de presos – muitos já condenados, até mesmo no regime semiaberto – a conviver em condições reconhecidamente aviltantes, em xadrezes de delegacias policiais, com muita frequência, revezando-se para dormir. Nesse contexto, devemos considerar que o espírita-cristão deve se armar de sabedoria e de amor para atender à luta que vem sendo desencadeada nos cenários da sociedade, concitando à concórdia e ao perdão, em qualquer conjuntura anárquica e perturbadora da vida moderna.

O homem atual ainda não percebeu que somente a experiência do Evangelho pode estabelecer as bases da concórdia, da fraternidade e constituir os antídotos eficazes para minimizar a violência que ainda avassala a Terra. Sobre os criminosos, os Benfeitores Espirituais dizem que devemos amá-los na condição de criaturas de Deus que são, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a nós, pelas faltas que cometemos contra Sua lei. Não nos cabe dizer de um criminoso: é um miserável; deve-se expurgar da terra; não é assim que nos compete falar. Que diria Jesus se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão.(2)

Recordemos Jesus e Suas considerações sobre a prática de um sublime código de caridade ante as questões da vida dos encarcerados: "Senhor, quando foi que te vimos preso e não te assistimos?". Ao que Ele respondera: "Em verdade vos digo – todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo."(3) Nas prisões, a reeducação deverá ser feita por meio da implantação de frentes de trabalho para profissionalização, e não apenas para tirar apenados da ociosidade, mas também abrindo segura perspectiva de integração futura na sociedade.

Durante diversos anos participávamos de trabalhos sociais através de projetos visando arecuperação dos presos, por intermédio de uma efetiva programação de visitas permanentes à penitenciária de Brasília. Naquela época (década de 1970 e 1980) fazíamos palestras nas salas de aula da PAPUDA abordando temas sobre a valorização humana, divulgávamos a Doutrina dos Espíritos, mantínhamos uma biblioteca de livros espiritas, cantávamos músicas doutrinárias, instituíamos grupos de voluntários para apadrinharem presos, mantínhamos contato com parentes deles e distribuíamos cestas básicas para familiares dos recuperandos.

Em nossa tela mental estão vivas as recordações daqueles magnos tempos, sabendo que esses foram alguns dos modestos métodos levados a efeito pelo nosso grupo espírita de visita, cujo objetivo era a materialização do aumento do índice de recuperação dos internos da PAPUDA por meio das lições de Jesus com o robusto apoio das revelações espíritas.

Notas e referências bibliográficas:

(1) Disponível em <http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2014/07/faxineira-larga-filhos-para-morar-com-ex-preso-em-ponto-de-onibus-no-df.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1>, acessado em 10/09/2014;

(2) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Caridade ara com os criminosos, instruções de Elisabeth de France (Havre, 1862), Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Cap. 11;

(3) Mt, 25:31-46.

* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Reencarnação e os Laços de Família

A Reencarnação e os Laços de Família

Telma Simões Cerqueira

A Doutrina Espírita esclarece para nós sobre a importante função educadora e regeneradora da família, diante do processo da edificação moral do homem. Percebemos então que a família pode contribuir de maneira abrangente dentro da proposta de educação da humanidade, do homem como Ser Espiritual, apontando o lar e tudo o que este poderá oferecer para a formação desse Homem de Bem, amanhã.

E como podemos definir Família?

Joanna de Ângelis nos diz no livro "S.O.S. Família", que “é grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatória.”

Quando no plano espiritual, despertos para o alcance de nossos erros, das nossas mazelas morais, conscientes dos nossos compromissos que assumimos com os outros e que, na maioria das vezes, falimos, solicitamos aos instrutores espirituais um novo retorno à vida física, carregando as provas necessárias para o nosso ressarcimento, reencontrando assim as almas simpáticas, as almas adversárias que farão parte do mecanismo de aprendizado e abraçando a responsabilidade perante os nossos tutores espirituais, que zelam pelo nosso progresso.

Assim, nos reunimos em família, no mesmo ambiente, através dos Laços de Família favorecidos pela Reencarnação.

Que benção?!!

E aí surgem todos os processos, que para nós não serão novidade nenhuma.

Muitos conflitos surgem exatamente em virtude das pessoas viverem debaixo do mesmo teto desconhecendo essa necessidade grandiosa de aprender a conviver e não a viver. Há muitas diferenças entre viver e conviver.

Somos individualidades. Esquecemos muitas vezes que o respeito ao livre-arbítrio daqueles que são os componentes da nossa família é primordial para que possamos conviver.

Somos espíritos imortais em evolução, com experiências em diferentes encarnações, portanto trazemos bagagens diferentes que, de forma bastante significativa, promovem a nossa instabilidade ou estabilidade, como também daqueles que formam esse grupo de espíritos que estão unidos pelos laços da carne, aparentemente, mas unidos pelas experiências de ontem.

Allan Kardec nos dá uma visão bem ampla dessa questão, iluminada pela luz da reencarnação, no Cap. IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Compreendemos então que o reencarnante veste a roupagem da inocência e se expressa relativamente como um novo indivíduo. Mas a roupagem é frágil e permite ao indivíduo o aflorar de ideias inatas, tendências, defeitos e virtudes que estão nas nossas matrizes perispirituais. Cabe então à família, aos pais, observar esse reencarnante com olhos amorosos.

A melhor escola ainda é o Lar, nos dizem os benfeitores espirituais...

O que é um Lar?

O Lar é o conjunto de pessoas da família, vivendo sob o mesmo teto. Nele, o indivíduo nasce, cresce e se educa.

Neio Lúcio, no livro “Jesus no Lar”, lição nº 1, nos traz as palavras de Jesus: “O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em círculo, são lições”.

Então, todas as experiências que partilhamos na vida doméstica são um rico e profundo material que trabalharemos para a conquista dos valores mais elevados.

Desenvolvendo assim a tolerância, a paciência, a compreensão, o entendimento, o perdão, o trabalho, a bondade, a gratidão, e muitas outras virtudes, poderemos nos desenvolver no cadinho do lar e assim estaremos trabalhando na renovação de nós mesmos, de nossos lares e de toda a Humanidade.

Viver em família: podemos comparar a escalar montanhas – que significa superar as nossas dificuldades, vencer os nossos obstáculos.

É claro que alguns de nós permaneceremos rebeldes a essas oportunidades de reconciliação, de aprendizado, de reajuste e de desenvolvimento afetivo que nós encontramos dentro do Lar, e muitas vezes diante da nossa dificuldade ainda, estacionamos com a nossa dureza de coração, que nos leva a verdadeiros sofrimentos, e quando assim permanecemos é claro que uma nova possibilidade nos será oferecida para podermos vencer a nós mesmos e enfrentar os problemas causados, ou melhor, as dificuldades que não conseguimos superar.

E no livro “Leis de Amor”, ainda o benfeitor Emmanuel completa, ao ser indagado sobre de que precisamos para vencer a luta doméstica: “Devemos revestir-nos de paciência, amor, compreensão, devotamento, bom ânimo e humildade, a fim de aprender a vencer, na luta doméstica.”

Os deveres de cada um de nós, como pais, mães, filhos e irmãos, bem cumpridos e carregados com alegria, fazem que coletivamente o lar seja um ambiente de paz e satisfação.

Retornamos ao Corpo Físico para dar continuidade à nossa tarefa que foi interrompida, e através da reencarnação teremos nova oportunidade para esse trabalho no campo do progresso evolutivo de cada um de nós. Para isto precisamos de um porto seguro onde possamos recomeçar a jornada: a FAMÍLIA.

E então é no ambiente doméstico que as almas se reencontram sob variados motivos: resgate, afeições, desafetos, missão ou com a finalidade de estreitar os laços que vão unir essas criaturas, pois neste ambiente de convivência contínua, de interdependência, na condição de pais, filhos e irmãos, aprendemos a nos entrelaçar através da convivência, aprendendo a nos amar.

Todas as ações, todos os exemplos nobres, os bons momentos vividos, as lições que transmitimos estão semeadas, e um dia germinará e despertará o sentimento desse coração, que no momento não se encontra com a terra adubada para a devida germinação.

Que possamos prosseguir a nossa jornada de aprendizado, tendo bom ânimo e perseverança.

Façamos o melhor de nós e deixemos que Deus faça o que ainda não estiver ao nosso alcance.

E vamos finalizar com Emmanuel, do livro “Família” - trecho da mensagem "Cá e Lá":

“Recebamos na criança de hoje, em pleno mundo físico, o companheiro do pretérito que nos bate à porta do coração, suplicando reajuste e socorro. (...) Estendamos a luz da educação e do  amor, diminuindo as sombras da penúria e da ignorância".

Referências bibliográficas:

1. Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco – livro: S.O.S. Família;
2. Allan Kardec – livro: O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. IV;
3. Neio Lucio - livro : Jesus no Lar;
4. Emmanuel/Chico Xavier – livro: Família;
5. Emmanuel/Chico Xavier – livro: Leis de Amor
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Telma Simões Cerqueira

http://www.espiritismo.net/content,0,0,394,0,0.html

domingo, 12 de outubro de 2014

Mensagem para reflexão: As lições da copa

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Raphael Vivacqua Carneiro

Oi, pessoal!

Vejam que interessante a mensagem recebida na reunião mediúnica na casa espírita que frequento.

Abraços, Raphael

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As lições da Copa

Fazia poucos dias que o Brasil sofrera a cruciante derrota na Copa do Mundo, e a palavra mais presente na boca de todos era: humilhação. Contudo, poucos atentavam ao fato de que a humilhação é algo que machuca somente aqueles que mantêm uma pretensão de grandeza. Talvez percebendo que a comoção ainda pairava nos corações de alguns, um amigo espiritual prontificou-se a transmitir-nos uma oportuna reflexão.

“Irmãos queridos, gostaria de abordar um tema que consideramos deveras importante para nossa reflexão na vida cotidiana e nas nossas ações em busca de uma vida melhor, mais fraterna, mais justa, mais solidária, menos desigual. Desejo lhes falar, nesse instante, de um acontecimento aparentemente pueril, mas que nos traz profundos e belos ensinamentos, que precisam ser hauridos na força do entendimento do progresso que a Humanidade precisa alcançar. O nosso país, o Brasil, considerado “coração do mundo, pátria do Evangelho”, com toda a sua destinação de exemplo de fraternidade, de união dos povos, de entendimento entre os desiguais, vem, ao longo de certa jornada, encetando caminhos equivocados, que têm nos arremetido a sensações de orgulho, de grandeza, de onipotência, que acabam prejudicando o planejamento espiritual que tanto nos cabe ajudar a concretizar. Falo-lhes da perda que a nação brasileira teve nesse belíssimo certame internacional, de tantas nações, de tantos povos, em que o futebol pôde ser veículo do entendimento entre as nações das mais diferentes línguas, das mais diferentes raças.

“O Brasil, abrigando este certame de tamanha importância, cultivou em si o orgulho de ser o primeiro em sua casa; não para ser o primeiro com o exemplo maior e melhor, mas para ser o primeiro por ser o mais poderoso nesse tipo de esporte. E acontece o fato de uma derrota inesperada e absolutamente oportuna para que nós reflitamos que, mais importante do que os troféus, mais importante do que o galardão da conquista, é o exemplo que podemos dar – e que estamos dando – a todas as nações do mundo, de que a paz se faz pelo entendimento, com o entretenimento sadio, a paz se constrói com sentimentos de afeto pelo outro, mesmo que nós o desconheçamos. Então, a grande lição que fica para a pátria brasileira nesse instante é de profundo sentimento de que a não-conquista do campeonato mundial de futebol vai se transformar na grande conquista do exemplo daquele que tem muito a dar e que precisa escolher a melhor forma, o meio mais convincente de mostrar a todos que a fraternidade, a união e o entendimento são mais poderosos do que mais uma estrela numa camisa que um dia a traça há de corroer.

“Que todos os brasileiros, então, se tranquilizem e se ponham em alerta, para não deixar passar a oportunidade de fazer do desiderato da pátria do Evangelho o verdadeiro exemplo a ser seguido por todos os povos, por todas as nações, irmãos que somos do mesmo Pai. Fica aí este exemplo, esta advertência, este desgaste aparente, com a convicção plena de que o afeto e o carinho são mais importantes do que vitórias transitórias. Estejam certos, irmãos queridos, de que só seremos realmente o coração do mundo e a pátria do Evangelho, se construirmos essa realidade com nosso esforço pessoal, na transformação moral de cada um de nós. Fiquem em paz e um bom trabalho a todos!”

Mensagem psicofônica recebida na Comunidade Espírita Esperança (Vitória/ES) em julho de 2014.