sábado, 12 de dezembro de 2015

Ela não morreu por sua culpa

Ela não morreu por sua culpa

dez 04, 2015 Márcio Costa

Lia e Marcela eram enfermeiras e amigas de longa data. Trabalhavam juntas em uma unidade de pronto atendimento, como parte da equipe que integrava as ambulâncias. Muito próximas, ajudavam uma à outra não só quando havia a necessidade de troca de seus plantões, como também em questões pessoais. Quando a filha de Lia nasceu, além da avó, o maior apoio foi o da “tia” Marcela.

Certa ocasião, Lia soube que não poderia cumprir o plantão da semana seguinte porque teria que resolver um compromisso particular. Como de costume, recorreu a sua amiga Marcela, que prontamente procurou a administração para informar que estaria no lugar da colega.

Na quarta-feira, antes de Marcela ir para a unidade, Lia ligou para amiga para contar o quanto estava feliz. A filha tinha obtido boas notas na escola, o esposo estava tendo bons resultados no novo emprego e ela tinha conseguido pegar seu carro novo naquele mesmo dia. Com o tradicional afeto, encerrou a ligação, reforçando todo o agradecimento que tinha pelo constante apoio daquela irmã de coração.

Marcela chegou ao trabalho às dezoito horas, levando a alegria daquela conversa fraternal para com seus colegas e pacientes. Assim, mesmo com toda a movimentação do plantão, nem sentiu as horas passarem. Estava muito motivada naquele dia.

Por volta de dez da noite, no entanto, sentiu um breve calafrio ao receber um chamado para embarcar em uma das ambulâncias. Não entendeu o motivo daquela sensação, mas prosseguiu em direção ao local onde fora informado que uma jovem havia se acidentado com o carro.

Ao chegar ao local, não foi difícil perceber que a ocorrência tratava-se de uma tentativa de assalto seguida de morte. Não haveria muito que fazer. Mas os profissionais de saúde se aproximaram do carro para verificar os sinais vitais da moça.

Ao chegar mais perto, o chão sumiu aos pés da enfermeira. Era Lia, sua amiga. Marcela deu alguns passos para trás e quis negar a visão do ocorrido. Sua atitude profissional deu lugar a um extravasamento emocional inesperado. Não se conteve e teve que ser amparada pelos colegas. Como poderia imaginar que aquela troca de plantão resultaria naquilo? Dali por diante, remorso e lágrimas tomaram conta de Marcela.

Meses se passaram junto à dor e à sensação de ter sido culpada pela morte da amiga: “se eu não tivesse trocado o plantão, isto não teria acontecido”. A casa de Marcela envolveu-se em pura tristeza. Tudo para ela tinha dado lugar a uma sensação dolorosa de culpa.

Mas um dia, tentando mudar aquele cenário, o seu filho pré-adolescente, ao chegar da escola, abraça a mãe no sofá e diz com lágrimas nos olhos:

– “Mãe, volta a ser feliz com a gente. Ela não morreu por sua culpa.”.

Marcela se surpreende com a frase inesperada do filho. Diante daquelas lágrimas profundas, começou a rever o sentido de sua vida esboçando-lhe um doce sorriso.

                                                                                          * * *

Quantos casos reais, similares a este, já não foram contados em nossas vidas. É o tripulante da aeronave que embarca no lugar do colega e desencarna em um acidente aéreo; o carro que se empresta ao filho que, em seguida, falece em uma colisão; dentre tantos outros exemplos.

Em diversas situações como estas, aqueles que foram, indiretamente, partícipes do ocorrido, ao trocarem suas posições ou cederem seus bens materiais nos diversos cenários, costumam trazer para si uma imensa culpa, como se fossem responsáveis pelo desencarne do próximo. Alguns levam por anos este sentimento, atrapalhando, até mesmo, sua vida pessoal e profissional.

Neste contexto, a Doutrina Espírita nos traz o consolo de que todos nós, antes de encarnarmos, já temos uma programação realizada para a nossa vida. De uma maneira geral, escolhemos antes do berço as expiações e provas pelas quais passaremos. Logo, já temos uma programação a cumprir, como se fosse uma “espécie de destino” [1].

Isto não inibe, todavia, o nosso livre-arbítrio. No decorrer da caminhada podemos mudar nossos rumos, acelerando o nosso progresso ou atrasando a nossa evolução. Tudo depende de nossos propósitos junto ao bem, à neutralidade ou ao mal.

Aqueles que caminham conosco estão unidos por laços de outras encarnações, pautadas na afinidade ou débitos contraídos [2]. E não, necessariamente, são responsáveis pelos fatos que ocorrem em nossas vidas.

Desencarnações como a desta história de Lia podem fazer parte de um planejamento anterior, ou ainda do livre arbítrio delituoso de terceiros. Mas a culpa não se incide na troca realizada pela amiga. De uma forma ou de outra, “o instinto do destino” de Lia a levaria até o local onde os fatos poderiam ocorrer. Este “instinto”, em outras palavras, pode ser entendido pela impressão em foro íntimo que o espírito guarda das fases pelas quais passará em sua vida. Chegado o momento, esta impressão pode, muita das vezes, ser despertada, trazendo-nos aquela sensação que denominamos de pressentimento [1].

Não somos necessariamente culpados pelo desencarne de terceiros. Isto dependerá das circunstâncias. Mas somos responsáveis por amá-los em qualquer tempo. O amor espontâneo, sem exigências, sempre nos trará a sensação de conforto por tê-los amado enquanto estavam conosco. Logo, amemos quem está ao nosso lado e quem também já deixou as vestes físicas. E nunca deixemos de amar a nós mesmos, confiantes nos desígnios da Divina Providência.

Márcio Martins da Silva Costa

Referências bibliográficas:
[1]       A. Kardec, “Revista Espírita: Ano Oitavo (1858),” 1858.
[2]       A. Kardec, O Livro dos Espíritos. 1857

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Revista Espírita - Quinto Ano – 1862 - Discurso do Sr. Allan Kardec

Revista Espírita

Jornal de Estudos Psicológicos

Quinto Ano – 1862

Junho

Discurso do Sr. Allan Kardec

pelo quinto aniversário

Sociedade Parisiense de Estudos espíritas

Revista Espírita, junho de 1862

Também a linha que ela segue traz seus frutos; os princípios que professa, baseados sobre observações conscienciosas, servem hoje de regra à imensa maioria dos Espíritas. Vistes sucessivamente cair, diante da experiência, a maioria dos sistemas desabrochados no início,

e é com dificuldade se alguns conservam ainda raros partidários; isto é incontestável. Quais são, pois, as ideias que crescem, e quais são as que declinam? É uma questão de fato. A doutrina da reencarnação é o princípio que foi mais controvertido, e seus adversários nada pouparam para atacá-la vivamente, nem mesmo as injúrias e as grosserias, este argumento supremo daqueles esgotados de boas razões; por isso não caminhou menos porque se apoia por uma lógica inflexível; que sem essa alavanca choca-se contra dificuldades intransponíveis, e porque, enfim, nada se encontrou de mais racional para colocar no lugar.

No entanto, há um sistema, do qual se faz mais do que nunca, a exibição hoje, é o sistema diabólico. Na impossibilidade de negar os fatos de manifestações, um partido pretende provar que são a obra exclusiva do diabo. A obstinação que a isso se leva prova que não está bem seguro de ter razão, ao passo que os Espíritas não se comovem, absolutamente, com esse desdobramento de forças que deixam perder-se. Neste momento, se faz fogo sobre toda a linha: discursos, pequenas brochuras, grossos volumes, artigos de jornais, é

um ataque geral, para demonstrar o quê? Que os fatos que, na nossa opinião, testemunham do poder e da bondade de Deus, testemunham, ao contrário, do poder do diabo; de onde resulta que só o diabo podendo se manifestar, é mais poderoso do que Deus. Atribuindo ao diabo tudo o que é bom nas comunicações, é retirar o bem a Deus para com ele homenagear o diabo. Cremos ser mais respeitosos do que isso para com a Divindade. De resto, como disse, os Espíritas em nada se inquietam com esse levante geral que terá por efeito destruir, um pouco mais cedo, o crédito de Satã.

A Sociedade de Paris, sem o emprego de meios materiais, e embora restrita numericamente por sua vontade, nem por isso deixou de fazer uma propaganda considerável pela força do exemplo, e a prova disso é o número incalculável de grupos espíritas que se formam sob os mesmos trâmites, quer dizer, segundo os princípios que ela professa; é o número das sociedades regulares que se organizam e pedem para se colocarem sob seu patrocínio; delas há em várias cidades da França e do exterior, na Argélia, na Itália, na Áustria, no

México, etc.; e o que fizemos para isto? Fomos procurá-las, solicitá-las? Enviamos emissários, agentes? Absolutamente; nossos agentes são as obras. As ideias espíritas se difundem numa localidade; ali não encontram de início senão alguns ecos, depois, passo a passo, ganham terreno; os adeptos sentem a necessidade de se reunir, menos para fazerem experiências do que para conversar sobre um assunto que lhes interessa; daí os milhares de grupos particulares, que se podem chamar de grupos de família; entre eles alguns adquirem uma importância numérica maior; pede-nos conselhos, e eis como se forma, insensivelmente essa rede que tem já balizas sobre todos os pontos do globo.

Aqui, senhores, coloca-se naturalmente uma observação importante sobre a natureza das relações que existem entre a Sociedade de Paris e as reuniões, ou sociedades, que se fundam sob os seus auspícios, e que erradamente se consideraria como sucursais. A Sociedade de Paris não tem sobre elas outra autoridade senão a da experiência; mas, como disse em outra ocasião, ela não se imiscui em nada nos seus negócios; seu papel se limita a conselhos oficiosos, quando lhe são solicitados. O laço que as une é, pois, um laço puramente moral, fundado sobre a simpatia e a semelhança das ideias; não há, entre elas, nenhuma filiação, nenhuma solidariedade material; uma só palavra de ordem é a que deve unir todos os homens: caridade e amor ao próximo, palavra de ordem pacífica e que não poderia levar desconfiança.

A maior parte dos membros da Sociedade reside em Paris; entretanto, conta entre eles vários que habitam na província ou no estrangeiro, embora não assistindo a ela senão excepcionalmente, e há mesmo os que jamais vieram a Paris desde sua fundação, e tiveram a honra de dela fazer parte. Além dos membros, propriamente ditos, ela tem correspondentes, mas cujas relações, puramente científicas, não têm por objeto senão mantê-la ao corrente do movimento espírita nas diferentes localidades, e me fornecerem documentos para a história do estabelecimento do Espiritismo, do qual reúno os materiais. Entre os adeptos, há os que se distinguem pelo seu zelo, sua abnegação, seu devotamento à causa do Espiritismo; que paguem por si mesmos, não em palavras, mas em ações; a Sociedade está feliz em lhes dar um testemunho particular de simpatia, conferindo-lhes o título de membro honorário.

Depois de dois anos, a Sociedade cresceu, pois, em crédito e em importância; mas seus progressos, além disso, são marcados pela natureza das comunicações que recebe dos Espíritos. Há algum tempo, com efeito, essas comunicações adquiriram proporções e desenvolvimentos que ultrapassaram em muito nossa expectativa; não são mais, como outrora, curtos fragmentos de moral banal, mas dissertações onde as mais altas questões de filosofia são tratadas com uma amplitude e uma profundidade de pensamentos, que delas fazem verdadeiros discursos. É o que notou a maioria dos leitores da Revista.

Estou feliz em assinalar um outro progresso no que concerne aos médiuns; jamais, em nenhuma outra época, não foram vistos tantos tomar parte em nossos trabalhos, uma vez que nos chegou ter até quatorze comunicações numa mesma sessão. Mas o que é mais precioso do que a quantidade, é a qualidade, da qual se pode julgar pela importância das instruções que nos são dadas. Todo o mundo não aprecia a qualidade mediúnica do mesmo ponto de vista; há os que a medem pelo efeito; para eles, os médiuns velozes são os mais

notáveis e os melhores; para nós, que procuramos, antes de tudo, a instrução, damos mais importância ao que satisfaz ao pensamento do que ao que não satisfaz senão aos olhos; preferimos, pois, um médium útil com o qual aprendemos alguma coisa, a um médium admirável com o qual não aprendemos nada. Sob esse aspecto, nada temos a lamentar, e devemos agradecer aos Espíritos por terem cumprido a promessa, que nos fizeram, de não nos deixarem de surpresa. Querendo alargar o círculo de seus ensinamentos, devem também multiplicar os instrumentos.

Mas há um ponto mais importante ainda, sem o qual este ensinamento não teria produzido senão pouco ou nenhum fruto. Sabemos que todos os Espíritos estão longe de ter a soberana ciência e que podem se enganar; que, frequentemente, emitem suas próprias ideias, que podem ser justas ou falsas; que os Espíritos superiores querem que nosso julgamento se exerça em discernir o verdadeiro do falso, o que é racional do que é ilógico; é por isso que não aceitamos, jamais, nada de olhos fechados. Não se saberia, pois, nela ter ensinamento proveitoso sem discussão; mas como discutir comunicações com médiuns que não suportam a menor controvérsia, que se ferem com uma nota crítica, com uma simples observação, e que acham mal que não sejam aplaudidos em tudo o que obtêm, fosse mesmo maculado com as mais grosseiras heresias científicas? Essa pretensão estaria deslocada se o que escrevem fosse o produto de sua inteligência; é ridícula desde que não são senão instrumentos passivos, porque se assemelham a um ator que se melindraria se fossem achados maus os versos que está encarregado de recitar. Se o próprio Espírito não podendo se melindrar com uma crítica que não o atinge, é, pois, o Espírito que se comunica que se fere, e que transmite sua impressão ao médium; por isso mesmo esse Espírito trai sua influência, uma vez que quer impor suas ideias pela fé cega e não pelo raciocínio, ou, o que vem a ser o mesmo, uma vez que quer raciocinar tudo sozinho. Disso resulta que o médium, que está nessa disposição, está sob império de um Espírito que merece pouca confiança, desde que mostre mais orgulho do que saber; também sabemos que os Espíritos dessa categoria afastam, geralmente, seus médiuns dos centros onde não são aceitos sem reserva.

Essa má direção, nos médiuns que por ela são atingidos, é um obstáculo para o estudo. Se não procurarmos senão os efeitos, isso seria sem importância para nós; mas como procuramos a instrução, não podemos nos dispensar de discutir, com risco de desagradar aos médiuns; também alguns se retiraram outrora, como o sabeis, por esse motivo, embora não confessado, e porque não puderam se colocar diante da Sociedade como médiuns exclusivos, e como intérpretes infalíveis dos poderes celestes; aos seus olhos, são aqueles que não se inclinam diante de suas comunicações que estão obsidiados; alguns há mesmo que estendem a suscetibilidade ao ponto de se melindrar com a prioridade dada à leitura das comunicações obtidas por outros médiuns; o que é, pois, quando uma outra comunicação é preferida à sua? Compreende-se o constrangimento que semelhante situação impõe. Felizmente, para o interesse da ciência espírita, nem todos são a mesma coisa, e tomo com zelo esta ocasião de me dirigir, em nome da Sociedade, os agradecimentos àqueles que nos prestam hoje seu concurso com tanto zelo quanto devotamento, sem calcular seu trabalho nem seu tempo, e que, não tomando, de nenhum modo, fato e causa por suas comunicações, são os primeiros a ir diante da controvérsia da qual podem ser o objeto.

Em resumo, senhores, não podemos senão nos felicitar pelo estado da Sociedade no ponto de vista moral; e não há pessoa que não haja notado do espírito dominante uma diferença notável, comparativamente ao que era no princípio, do qual cada um sente instintivamente a impressão, e que se traduziu, em muitas circunstâncias, por fatos positivos. E incontestável que ali reina menos embaraço e menos constrangimento, ao passo que se faz sentir um sentimento de mútua benevolência. Parece que Espíritos trapalhões, vendo sua impossibilidade em semear a desconfiança, tomaram a sábia resolução de se retirar. Não podemos também senão aplaudir ao feliz pensamento, de vários membros, de organizar, entre eles, reuniões particulares; elas têm a vantagem de estabelecer relações mais íntimas; além disso, são centros para uma multidão de pessoas que não podem ir à Sociedade; onde se pode haurir uma primeira iniciação; onde se pode fazer uma multidão de observações que vêm, em seguida, convergir ao centro comum; são, enfim, estufas para a formação dos médiuns.

Enviado por: Joel Silva

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Encontros e Desencontros

E você? Qual seria sua atitude?

Encontros e Desencontros

dez 03, 2015 Richard Simonetti

Simone chegou com alguns minutos de antecedência. Sentada em rústico banco, à sombra de frondosa árvore, recordou que ali tecera com Armando idílico sonho. O marido representara o seu encontro com a felicidade. A seu lado vivera quinze anos de ternura, enriquecidos por quatro filhos adoráveis. No entanto, há dois anos o sonho convertera-se em pesadelo. Armando apaixonou-se por inconsequente jovem, iniciando perturbadora relação extraconjugal. Após meses de tensão, alegando incapacidade para superar a atração irresistível, decidiu unir-se à sua amada.

Indignada, vivera dias tormentosos. Não fora o conhecimento espírita e o teria odiado com todas as suas forças! Abençoada Doutrina, que a ajudara a compreender que o marido não agira com maldade. Apenas fora fraco, cedendo a impulsos desajustados.

A compreensão preservara-lhe a estabilidade emocional e a capacidade de amar. Sim, continuava amando o marido, um afeto diferente, um pouco maternal, de mãe preocupada com o filho rebelde que deixou o lar. E tudo o que fazia era orar por ele.

Agora ele queria conversar. O fato de ter escolhido o mesmo banco, na velha praça dos encontros primaveris evidenciava que ele estava cogitando de uma reconciliação. Conhecia-o, entendia-lhe as mínimas iniciativas, com a precisão nascida de longa convivência, com a secreta intuição dos que amam de verdade.

Despertando de suas reminiscências, avistou Armando. O coração a bater acelerado no peito, dizia-lhe que o marido continuava a ser o homem de sua vida. O tempo não lhe fora generoso. Estava abatido, magro, envelhecido como se houvessem passado dez anos e não apenas dois. Ele sorriu timidamente:

– Oi, Simone, como está?
– Tudo bem, graças a Deus. E você?
– Não posso dizer o mesmo. Estou mal, mal mesmo! Arrependido até os fios de meus cabelos, afogando-me em remorsos. Será que você me perdoará um dia?
– Você sabe que não sou de guardar rancores. Não se preocupe.

Tomando-lhe as mãos Armando começou a chorar. Em princípio lágrimas furtivas, depois borbulhantes, como imensa dor represada que explodisse em torrente de mágoas.

– Que loucura! Destruí nosso lar por uma aventura!…

Simone acariciou suas mãos.
– Calma, Armando. Não se entregue ao desalento. Ninguém é perfeito. Todos somos passíveis de erro… Conte-me. Como vai sua vida ao lado da nova companheira?
– Não há mais nada. Foi um equívoco, um desencontro infeliz… Separamo-nos há uma semana e tudo o que quero é regressar ao nosso lar, ainda que tenha de passar o resto de meus dias pedindo-lhe perdão. Você me aceitaria de volta?
Simone fitou-o enternecida. Não havia nenhuma dúvida quanto a isso. Desde que se despira de ressentimentos, sentia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, na Terra ou no Além.
– Claro, meu querido. É o que mais desejo.
– Há apenas um problema… Mais exatamente… outro filho… Da união infeliz resultou uma criança de dez meses. A mãe não o quer. Sei que é pedir demais, mas você me permitiria retornar com ele?
Um filho com a outra, sob seus cuidados, no mesmo lar, em contato com seus próprios filhos?! A proposta soava absurda. Como reter a lembrança perene da defecção do marido? Era pedir demais!… Imaginou, em turbilhão de ideias, uma forma de contornar o problema. Um orfanato, talvez… Um casal disposto à adoção… Sabia, entretanto, que uma solução dessa natureza seria desumana, uma flagrante injustiça contra o pequeno inocente.

Sem que conseguisse exprimir com exatidão o que estava acontecendo, sentiu imensa compaixão daquele ser que chegava ao Mundo em circunstâncias tão tristes, rejeitado pela mãe, um entrave na vida do pai… Pobre criança! Então, o instinto materno, a sensibilidade de um coração generoso, a vocação para o Evangelho, triunfaram sobre a mulher traída que, tomada por uma onda de ternura, levantou-se, resoluta, arrastando o marido perplexo, ao mesmo tempo em que dizia eufórica:
– Onde está nosso filho? Vamos buscá-lo imediatamente! Sinto que ele precisa muito de mim!
E partiram os dois, retomando a existência em comum, enriquecida pela presença de mais um filho.

Richard Simonetti

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pais congelam menina de 2 anos que morreu de câncer por esperança de fazê-la renascer

Pais congelam menina de 2 anos que morreu de câncer por esperança de fazê-la renascer

Jonathan Head

Correspondente da BBC na Ásia

No início deste ano, uma menina tailandesa de dois anos de idade tornou-se a pessoa mais jovem a ser congelada por criogenia. Seus pais recorreram à técnica, que preservou seu cérebro no estado em que se encontrava momentos após sua morte, na esperança de que um dia ela possa ser trazida de volta à vida.

O quarto onde Matheryn Naovaratpong passou seus últimos meses está quase vazio. Nele, só permanece seu berço e o suporte que ajudava a manter a menina de pé.

Em meio às paredes brancas, o único traço de cor do ambiente austero vem de uma pequena estátua budista dourada, de alguns de seus bichos de pelúcia favoritos e um enorme retrato dela pendurado na parede.

Hoje, é mais parecido com um altar para uma criança cuja vida foi interrompida tragicamente. Matheryin, ou Einz, como sua família a chamava carinhosamente, desenvolveu um tipo raro de câncer no cérebro logo após seu segundo aniversário. Ela morreu em 8 de janeiro passado, pouco antes de completar 3 anos.

Quando isso ocorreu, seus pais, ambos engenheiros biomédicos, tinham optado pelo procedimento que eles esperam permitir dar a sua filha uma nova chance de viver.

"Assim que ela ficou doente, surgiu imediatamente a ideia de que deveríamos fazer isso por ela, por mais que seja impossível hoje", diz seu pai, Sahatorn. "Fiquei realmente dividido quanto a esta ideia, mas precisava me agarrar a ela. Então, expliquei tudo para minha família."

Sua proposta era preservar Einz por meio de uma tecnologia conhecida como criogenia. O corpo, ou apenas o cérebro, no caso de Einz, é colocado em um estado de congelamento profundo até que, em algum momento no futuro, avanços extraordinários da medicina permitam que um novo corpo seja criado para ela e seja possível revivê-la.

"Como cientistas, temos 100% de confiança de que isso acontecerá - só não sabemos quando", diz Sahatorn. "No passado, poderíamos pensar que levaria 400 ou 500 anos, mas, agora, podemos imaginar que será possível em 30 anos."

'Renascer'

O pai de Einz conta que, a princípio, foi difícil para o restante da família aceitar sua visão, mas quando a saúde da menina piorou, eles começaram a mudar de ideia.

"Ela tinha algo especial desde que nasceu. Ela manifestava seu amor mais do que outras crianças, sempre querendo fazer parte de nossas atividades", diz ele.

Sahatorn e sua mulher, Nareerat, têm outros três filhos. Nareerat teve de retirar seu útero após o primeiro parto, então, Einz e seu irmãos mais novo foram concebidos com a ajuda de fertilização in vitro. A tecnologia, eles dizem, teve um papel central na vida da menina desde o início e pode ajudá-la a "renascer".

Os Naovaratpong escolheram a Alcor, uma ONG do Estado do Arizona, nos Estados Unidos, provedora dos chamados serviços de "extensão da vida", para cuidar da preservação do cérebro de Einz. A família se envolveu nos preparativos, criando um caixão especial que pudesse ser transportado até o outro país.

Um time da Alcor foi até a Tailândia para supervisionar o resfriamento inicial do corpo de Einz. No momento em que o óbito da menina foi declarado, a equipe da ONG deu início ao que chama de "crioproteção", removendo fluídos corporais e os substituindo por um líquido anticongelante que permite que o corpo possa ser congelado sem comprometer os tecidos.

Após sua chegada ao Arizona, o cérebro foi removido e preservado a uma temperatura de -196ºC. Ela é a 134ª paciente da Alcor e de longe a mais nova.

Personalidade preservada

A forma como Sahatorn descreve o procedimento, que parece ter saído de um filme de ficção científica, é extremamente técnica, ainda mais levando em conta que tudo ocorreu logo após perder uma filha muito amada. Mas a família tem muita clareza de seus sentimentos.

"Ainda a amamos. Lutamos para ser fortes, mas, quando ela morreu, não nos comportamos diferente do que outras famílias. Choramos todos os dias. Ainda precisamos de um tempo para nos acostumar", diz o pai da menina.

Em sua opinião, os pensamentos e personalidade de Einz serão preservados com seu cérebro e podem ser, em algum estágio futuro, o suficiente para que sua vida seja reconstruída. Ele e sua mulher também planejam ter seus corpos preservados com criogenia, apesar de ele reconhecer que há poucas chances de que eles se encontrem com sua filha em suas novas vidas.

O casal também planeja visitar as instalações da Alcor para ver o recipiente de aço no qual o cérebro de Einz é mantido em "biossuspensão", segundo o termo usado pela ONG. Eles ainda dizem terem doado o mesmo valor gasto com a preservação do corpo de Einz para pesquisas relacionadas a câncer na Tailândia.

'Morte verdadeira'

A Alcor diz que sua operação é "um experimento no sentido literal da palavra". A ONG não promete uma segunda chance de viver, mas diz que a criogenia é um "esforço para salvar vidas".

A Alcor afirma que a "morte verdadeira" só ocorre quando o corpo começa a parar de funcionar e seus componentes químicos ficam tão "desorganizados" que a tecnologia médica não pode recuperá-los.

Depois que o óbito é declarado, o corpo é mantido vivo com ajuda de aparelhos. O sangue é trocado por preservantes para que seja possível o transporte de qualquer parte do mundo para a sede da empresa.

O corpo é inundado com químicos chamados "crioprotetores", que resfriam as células a -120ºC sem formação de gelo, um processo conhecido como vitrificação. Depois, é resfriado ainda mais, até -196ºC, e armazenado indefinidamente em nitrogênio líquido.

Certeza desconcertante

Mas e quanto ao futuro? A família está reunido fotos e gravações suas e de Einz, para que ela possa saber de sua vida passada. Por sua vez, a Alcor promete supervisionar cuidadosamente a readaptação de seus pacientes.

Essa certeza de que no futuro será possível trazer alguém de volta à vida deixa muitas pessoas desconfortáveis. Pode não ser fácil entender ou aceitar os argumentos de uma família para seguir este caminho.

É impossível não pensar que isto possa ser apenas uma forma de evitar o enorme sofrimento de perder uma criança tão nova. Ou questionar se as promessas da Alcor são válidas e se esse procedimento todo terá algum sucesso em questão de décadas ou mesmo séculos.

Mas Sahatorn e Nareerat obviamente estão sofrendo, enquanto ao mesmo tempo se apegam à esperança de um futuro que a maioria de nós sequer consegue imaginar, no qual Einz viverá novamente. Eles pensaram muito a respeito e se dizem confortáveis com sua decisão.

"Foi nosso amor por ela que nos levou a este sonho da ciência", diz Sahatorn. "Com certeza, nossa sociedade está avançando a uma nova forma de pensar em que isso será aceitável."

Noticia publicada na BBC Brasil, em 15 de outubro de 2015.

Claudio Conti* comenta

A dor da desencarnação de um ente querido pode ser muito grande, quase insuportável, especialmente quando não se possui crenças bem definidas a este respeito. Nestas situações, muitas vezes, não se consegue pensar adequadamente, dando vazão a atitudes das mais diversas, sendo que, algumas, são exageradas ou inconvenientes.

Todavia, algumas atitudes tomadas em momentos de alto índice emocional são decorrentes das crenças pessoais. No caso em análise, a crença está baseada no conhecimento científico e nas suas “promessas" para o futuro. Vale ressaltar que as “promessas" não são da Ciência em si, mas dos homens a ela ligados, sem se saber exatamente o que os motiva.

Existem vários pontos questionáveis sobre o procedimento que os pais adotaram visando "um futuro” para sua filha.

Primeiramente, podemos questionar a diferença entre ciência e crença. Neste caso específico, não diferem muito ou, até mesmo, em nada, pois, segundo o artigo, 'a Alcor diz que sua operação é "um experimento no sentido literal da palavra". A ONG não promete uma segunda chance de viver, mas diz que a criogenia é um "esforço para salvar vidas”'.

Assim, o que a empresa quer dizer é que não existe indícios de que o procedimento irá funcionar, não passando, portanto, de crença. Além disso, se fosse realmente “um esforço para salvar vidas”, eles deveriam canalizar este esforço para os vivos, afinal existem tantos em situação precária cujas consequências são doenças e mortes.

A crença do pai vai ainda além, pois acredita que "os pensamentos e personalidade de Einz serão preservados com seu cérebro”. Isto é o que se espera de um disco rígido de computador, onde a informação é armazenada através de processos físicos em material rígido e bem acondicionado, mas, mesmo assim, não há garantias, tanto que se recomenda a manutenção de uma cópia, o conhecido “back up”.

Além disso, acredita ainda que poderá implantar o cérebro em outro corpo da mesma forma que se faz quando um computador é substituído, passando a informação de um disco para outro ou, até mesmo, inserindo o disco antigo na nova máquina.

Interessante é que os pais também pretendem se servir do mesmo procedimento para eles próprios e, segundo o artigo, dizem "reconhecer que há poucas chances de que eles se encontrem com sua filha em suas novas vidas”.

Tratando apenas em termos de crença, sem considerar as certezas decorrentes da experiência, o Espiritismo também apresenta uma crença importante para casos deste tipo: a vida no pós-morte e a possibilidade de seres que se amam venham a se reencontrar, seja na erraticidade ou em outras encarnações.

Ainda na abordagem espírita, o indivíduo necessita tomar medidas adequadas no sentido de atingir seu objetivo, isto é, o trabalho para se melhorar moralmente. Neste processo, o entendimento da morte ameniza o sofrimento pela separação.

Considerando como certa a visão do pai sobre a filha, quando diz que "ela tinha algo especial desde que nasceu. Ela manifestava seu amor mais do que outras crianças, sempre querendo fazer parte de nossas atividades”, então já seria um espírito preparado para a situação que vivenciou enquanto encarnada, estando pronta para novas experiências como espírito livre ou na próxima encarnação, cabendo apenas aos pais a tarefa de se prepararem adequadamente e aos seus outros filhos.

* Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Quando o cônjuge morre, o outro tem o direito de refazer sua vida sentimental?

Quando o cônjuge morre, o outro tem o direito de refazer sua vida sentimental?

 

Wellington Balbo - dez 05, 2015

Dia desses recebi email de um jovem, que assim disse:

“Minha mãe morreu há 2 anos, meu pai que ainda é jovem está de paquera com uma moça… Mas e minha mãe? E o que eles viveram? Então ele não a amava?”

R: Meu caro amigo, não se aflija por isso, o lugar de sua mãe no coração de seu pai é cativo, a história que viveram é deles, somente deles… O coração é elástico, quanto mais se ama, mais se cabe amor. Não é o fato de ele querer refazer a vida sentimental que fará esquecer-se de sua mãe. Não se preocupe com isso. Ademais, ele tem todo o direito de buscar a felicidade e não nos cabe podar as iniciativas dos outros que querem encontrar seu lugar ao sol. Sejamos benevolentes e apoiemos as pessoas em busca de sua felicidade. Abençoe seu pai e seu novo relacionamento. Vou confessar-te algo: Também passei por isso, minha mãe se foi e meu pai arrumou outra companheira. Foi a melhor coisa que aconteceu. Pessoa de ótimo caráter trouxe outra família para brindar a vida com a nossa. Pense nisso e seja feliz…

O Espiritismo trata com muita propriedade dos temas que inquietam o coração das pessoas, basta estudarmo-lo para constatarmos que pode responder várias indagações da alma.

Mostra que ninguém é de ninguém, que somos Espíritos em evolução e em busca da felicidade. Sabedores de que o Espírito não morre e continua sua jornada na vida além- túmulo, naturalmente, não morre o amor que sentimos pelos outros e os outros por nós. Em assim sendo, é razoável refletirmos que quando algum ente querido deixa este plano é perfeitamente aceitável que não cultivemos o sofrimento contínuo e nos abramos para um amor que poderá surgir.

Caso surja, vamos vivê-lo. Por que não?

Até porque a ideia de metade eterna é fantasia e não estamos fadados a viver com alguém pela eternidade.

Já tivemos, pelas inúmeras andanças, inúmeros companheiros e companheiras de jornada e o fato de termos nos relacionado com outros não apaga a nossa história com quem quer que seja.

Sim, somos seres que têm uma história!

E, por isso, quem nos ama deverá nos respeitar; respeitar nossas escolhas e quererá nos ver bem e feliz.

Ilustrativa é a história do Espírito de André Luiz que no plano dos Espíritos ao saber que sua ex companheira consumara matrimônio sente uma ponta de ciúmes, mas depois reflete e percebe que o amor é sentimento que não pode conhecer exclusividade.

Reconhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que faz para domar suas más inclinações, foi o que fez André Luiz, controlou-se.

A vida na Terra já não é “bolinho”, se formos nos preocupar em podar a felicidade dos outros e querer anular a vida alheia porque a morte do corpo físico visitou nossa família, iremos complicar ainda mais a situação.

Vida mais leve, mais tranquila, certeza na imortalidade, menos cobrança e fé no futuro…

Isso o Espiritismo nos ensina, por isso é uma doutrina consoladora e cabe-nos divulgá-la, sempre…

Pensemos nisso.

Wellington Balbo

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

NATAL: REFLEXÕES SOBRE O PAPAI NOEL

 

NATAL: REFLEXÕES SOBRE O PAPAI NOEL

 Por Ludymila Muryell

http://conexaoespirita.com/natal-reflexoes-sobre-o-papai-noel/

“Papai Noel é a festa humana no coração infantil, com o presente perecível fazendo a felicidade passageira da criança. Jesus Cristo é a festa de luz eterna com o presente de amor ao coração dos pequeninos para a edificação da felicidade espiritual pela educação do sentimento e do caráter no reino dos corações. Papai Noel representa os interesses transitórios da Terra, ao passo que Jesus constitui os valores imorredouros do Céu.”
(Educadores do Coração – Walter Barcelos)

Elegeu-se intuitivamente o dia 25 de dezembro para comemorar o nascimento de Jesus. A energia espiritual que envolve está data e o mês de dezembro em geral, é fonte para que os espíritos ligados à Jesus desenvolvam muitos trabalhos no bem, juntamente com as mãos dos encarnados sintonizados com o mesmo propósito.

Dezembro… Tempo de natal… O mês em que muitos corações que permanecem adormecidos ao longo do ano despertam para trabalhar a grande virtude da caridade, e para os demais ensinamentos de amor exemplificados na Terra pelo Mestre.

Sempre um momento para também refletir sobre o sentido e significado desta data, questionando práticas que são repetidas de geração em geração, ano após ano sem buscar o divino como fonte de água pura.

O que pensar do Papai Noel? Quem criou esta figura e qual o papel dela no mês que se comemora o nascimento de Jesus? Sua figura é necessária ou supérflua aos nossos corações? Sendo Jesus o aniversariante, estaríamos nós festejando com Jesus ou esquecendo de seus ensinamentos em uma data tão especial?

Utilizemos para refletir mais um trecho do livro Educadores do Coração, lição “A criança espírita e o natal”:


“Nos acontecimentos natalinos do mundo, está ocorrendo o esquecimento quase completo da personalidade de Jesus e a sua missão divina, pois no lugar Dele surge a figura ingênua e alegre de Papai Noel. O bom velhinho traz alegrias para as crianças, mas não apresenta mensagem espiritual construtiva para o coração infantil. Apesar disso, continua sendo uma figura que vem do Céu para promover alegria maior no coração de todas as crianças da Terra. Para a imprensa mundial, para o mundo dos negócios, para os adultos, para os pais e especialmente para as crianças, a figura mais importante no Natal e que toma conta das emoções e sonhos dos pequeninos continua sendo a de Papai Noel.

Jesus é o grande esquecido na própria data em que se comemora o seu nascimento. Nesta data, pouco se fala de seus ensinos maravilhosos para a felicidade das criaturas, de seu imenso amor à humanidade e de seus exemplos da mais pura fraternidade para com os homens.

Papai Noel é o encantamento das crianças, o mágico dos brinquedos, a oportunidade de fazer um pedido, o sonho infantil a ser realizado, a alegria de ganhar brinquedos esperados ansiosamente. Fala-se, divulga-se e materializa-se o personagem lendário de Papai Noel para estimular sonhos, emoções, alegrias, sorrisos, fantasias, presentes, músicas e festas encantadoras – tudo em função do poderoso interesse comercial! Papai Noel, de certa forma, tomou o lugar de Jesus no coração dos pequeninos do mundo inteiro. É um desprezo imenso pela missão do Cristo de Deus.

Precisamos, cada vez mais, espiritualizar as comemorações do Natal de Jesus na mente e nos corações, muito especialmente das crianças, para que sejam efetivamente orientadas e educadas para um mundo melhor. Não podemos deixar que na bela data em que se deve lembrar da presença sublime do Embaixador de Deus aos homens, continuem nossas crianças com a mente impregnada de símbolos e ideias bastante fantasiosas.”


Comemoraremos o natal! O natal espiritual!… O natal dos despertos para os ensinamentos do Cristo Jesus. Despertos para os valores espirituais!

Confraternize os ensinamentos deixados pelo Cristo com a família consanguínea e espiritual, auxilie o próximo em suas necessidades materiais e espirituais, enfeite seus lares de luzes, leve alegria para as crianças, ceie com respeito e equilíbrio, busque a reforma íntima. Enfim, renove as suas energias para um novo ciclo que se inicia no ano seguinte.

Feliz natal!


Referência bibliográfica:

  • Barcelos, Walter. Educadores do Coração. Belo Horizonte, Minas Gerais: União Espírita Mineira, 2007.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB–1970 - A012 – Cap. 2 – Socorro espiritual

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970

Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A012 – Cap. 2 – Socorro espiritual – Primeira Parte

Socorro espiritual

Chegando ao lar, Amália conduzia o espírito balsa mizado e toda ela era alegria que se desdobrava em es peranças. A presença do antigo inimigo desencarnado que se comprazia em afligir os seus familiares, presença essa através da interferência carinhosa do Benfeitor Espiritual, prenunciava bonanças em relação ao futuro do seu lar. Era como se uma aragem houvesse de repente passado, deixando a agradável recordação do seu ameno frescor. Pelo caminho, fitando o firmamento, tivera a impressão de que na transparência da noite leve os as tros, luzindo ao longe, acenassem promessas de paz, em salmodias imateriais que pareciam poemas de amor em tom de confiança nos divinos desígnios.

Dona Rosa, em vigília, marcada pelos atrozes sofrimentos daquelas últimas horas, recebeu a filha transmitindo a notícia do retorno de Mariana, com os olhos umedecidos. A moça atormentada voltara a casa, atra vés das mãos generosas de Dona Aurelina, a velha ex -servidora doméstica, que era afeiçoada da família.

Sem saber o que ocorrera no Centro Espírita, a genitora tinha a certeza, porém, de que a interferência do Alto, em forma de socorro inesperado, era a responsável pelo imprevisto acontecimento. Não se cansava de louvar o Altíssimo, enquanto a filha aturdida, que chegara com expressão de demência a desfigurar-lhe o rosto, parecia agora repousar no leito modesto e asseado.

Enquanto Amália fazia ligeiro repasto, fez breve resumo dos sucessos da noite, e com luminoso brilho nos olhos reportou-se ao ministério do esclarecimento, transcorrido minutos atrás entre o Diretor Espiritual e ó encarniçado perseguidor.

Em seguida, e antes de se recolherem ao necessário repouso, as duas buscaram o benefício da oração, envolvendo o Sr. Mateus que se demorava fora de casa, atado à viciação que o atormentava, roubando ao corpo combalido as horas irrecuperáveis de refazimento das fadigas do dia, em vibrações de amor e paz...

Ocorrera, porém, que, antes mesmo de iniciada a reunião socorrista, Saturnino expedira Ambrósio, eficiente cooperador dos trabalhos de desobsessão, para que este encaminhasse Mariana de volta à família. Informado, no próprio recinto doméstico, por entidades ali residentes, quanto ao paradeiro da jovem, não lhe foi difícil encontrá-la em Praça ajardinada, no centro da cidade. Percebeu, no entanto, de imediato, que a moça se encontrava visivelmente perturbada por Entidades le vianas, encarregadas de darem prosseguimento ao clima da obsessão, embora a ausência do verdugo responsável pela enfermidade em curso.

Aturdida desde o momento do incidente com o genitor, Mariana procurou as ruas da cidade, tendo em mente a ideia de encontrar em Adalberto, o rapaz com que se afinava sentimentalmente, o braço amigo de amparo, de modo a fugir do lar que a infelicitava. Surda ira a compelia a tomar qualquer atitude, conquanto pu desse libertar-se do jugo paterno...

O namorado, que trabalhava no comércio, somente à noite, após o serviço, poderia escutá-la com a necessária calma para tomar as providências que o problema exigia. Assim, combinaram o encontro para as 20 ho ras, no local em que agora ela estava.

Supunha amar o jovem, embora reconhecendo nele os desvios habituais naqueles que são indiferentes ao dever e à dignidade. A mãe, ela o sabia, desaprovava aquela afeição, por constatar que ele era corrompido e leviano, a ponto de viver experiências comprometedoras... Dona Rosa sentia, quase por instinto, que aquele homem, ao invés de amar a sua filha, ainda não preparada para as investiduras de um lar, como sem o necessário equilíbrio para acautelar-se das ciladas das emoções em desgoverno, desejava arrancá-la do carinho defensivo da família para arrojá-la nos desfiladeiros da miséria moral...

Ela, porém, o amava ou pelo menos supunha amá-lo. Aguardava-o com tormentosa expectativa.

Como primeira providência, o vigilante mensageiro procurou desviar Adalberto de buscar a sua enamorada, propiciando-lhe mal-estar súbito, através da aplicação de fluídos no centro cardíaco, acentuando repentina indi gestão. Logo após demandou o lar de Dona Aurelina que, pelos laços de afeição à menina e aos seus, pode ria ser-lhe fácil instrumento para os fins do projeto em andamento.

Envolvendo a velha servidora em seus fluídos, pro curou falar-lhe com imensa ternura e forte vibração. A respeitável senhora não o escutou através dos ouvidos materiais. No entanto, em forma de intuição, sentiu imperiosa necessidade de demandar a rua, qual estivesse teleguiada, até à moça que, a sós, esperava o companheiro.

Vendo-a desfigurada, a bondosa senhora acercou-Se, assustada, e cingindo-a num abraço de espontânea afetividade, envolveu-a nos fluídos de Âmbrósio, inconcientemente, estabelecendo sensível permuta de energias, de modo a arrancá-la dos liames dos Espíritos ociosos que a vitimavam...

Percebendo-a quase anestesiada, de olhar vago, a senhora, humilde e nobre, inquiriu-a:

— Que faz a menina por estas bandas? Parece-me doente. Que se passa, menina Mariana?

E como não colhesse de imediato qualquer resposta, voltou à indagação:

— Que acontece, menina? Alguém em casa está mal? Desperte, minha filha!

E sacudindo-a com carinho, encostou a cabeça da jovem no seu ombro e dispôs-se a escutá-la com tal naturalidade que a enferma, como que retornando momentaneamente à realidade e vendo-se envolta no carinho de que necessitava, relatou entre soluços os maus sucessos do dia, informando do seu desejo de nunca mais retornar ao lar...

A delicada interlocutora escutou-a com serenidade e, seguramente inspirada pelo Benfeitor, concitou-a a irem à sua própria casa, onde ela providenciaria uma refeição refazente, incumbindo-se de informar a Adalberto sobre a mudança do local de encontro.

Simultaneamente Ambrósio exprobrou com energia o comportamento dos Espíritos viciosos ali presentes, libertando a atormentada jovem das suas forças deletérias e deprimentes.

Sem quase opor resistência, Mariana aceitou o alvitre, e amparada generosamente por Dona Aurelina de mandou o domicílio daquela servidora.

Feita ligeira refeição, ainda conduzida pelo assistente de Saturnino, Dona Aurelina falou a Mariana das preocupações maternas e suas aflições, do perigo que uma jovem poderia experimentar nas mãos de um moço apaixonado e sem o devido critério moral, das consequências que poderiam advir de um gesto impensado, e, como se falasse à própria filha, com lágrimas, conseguiu convencê-la a retornar a casa, enquanto meditava planos para o futuro, filtrando, assim, o pensamento da Entidade Desencarnada.

Sentindo-se, imensamente cansada e dominada pela branda energia da amiga idosa, a jovem aceitou a sugestão e, dessa forma, Dona Aurelina se transformou no anjo da alegria para a agoniada genitora que aguar dava a filha de volta.

Concluída a tarefa, Ambrósio retornou ao trabalho espiritual a fim de apresentar a Saturnino os resultados da investidura.

Os trabalhos se aproximavam do encerramento.

Compreensivelmente jubiloso, o Mentor Espiritual expressou sua gratidão ao Assistente e informou que logo mais, quando todos se recolhessem ao leito, teria continuação a tarefa da desobsessão, quando ele pretendia retomar as diretrizes do trabalho, convocando di versos dos envolvidos no processo perturbador e os membros da Casa para um encontro fora do corpo, quando as bênçãos do sono conseguissem libertar parcialmente alguns dos implicados...

Ambrósio compreendeu a magnitude do serviço e postou-se aguardando instruções.

A noite ia avançada quando Saturnino trouxe ao recinto das sessões, em parcial desdobramento, os irmãos Petitinga, Dona Rosa, as filhas Amália e Mariana e nós. O venerando trabalhador da Seara Espírita, habituado às incursões no Mundo Espiritual, embora ainda vinculado à roupagem carnal, apresentava-se calmo e lúcido, perfeitamente familiarizado com experiências de tal natureza. Dona Rosa e as filhas, no entanto, pare ciam atemorizadas na sua semilucidez, embora o amparo vigoroso do Instrutor que delas cuidava com carinho paternal. (*)

O assistente Ambrósio e os demais cooperadores desencarnados se encarregavam de localizar os recém-che gados na sala de trabalhos, enquanto o Benfeitor Saturnino cuidava das providências finais. Concluídas as tarefas preliminares, deu entrada no recinto, em sono hipnótico, carinhosamente trazida por dois enfermeiros espirituais, a Entidade que se comunicara horas antes.

Embora o ressonar agitado, o visitante refletia a angústia em que se debatia, deixando ver as marcas profundas em ulcerações na região da glote, que se apresentava purulenta, assinalando os danos cruéis do autocídio injustificável. Localizado em leito próximo, continuou assistido pelos que o trouxeram.

Logo, porém, que Mariana o viu, conquanto não o pudesse identificar de pronto, começou a experimentar significativa inquietude que se foi transformando em desespero e pavor. O Instrutor, no entanto, solícito, acercou-se dela e aplicou-lhe energias anestesiantes, de modo a deixá-la em tranquilidade suficiente para os bons reultados da operação em pauta.

Nesse momento, a Irmã Angélica, mentora do médium Morais, trouxe-o ao cenário abençoado, que lhe parecia familiar aos olhos espirituais. Tudo nele traduzia a segurança e o equilíbrio de uma existência voltada para o bem e para o dever.

Percebi, então, a excelência do ministério mediúnico sob a carinhosa proteção de Jesus, objetivando atender aos sofredores de ambos os planos da vida e reconheci, mais uma vez, que somente uma existência real mente desatrelada das paixões se constitui seguro roteiro para uma libertação felicitadora. O espírito é o que pensa e faz; a veste carnal que o envolve tanto se pode converter em asas de angelitude como em azorrague com grilhões que o martirizam. E a mediunidade, indubitavelmente, faz-se a senda luminosa por onde transitam aqueles que a respeitam e enobrecem.

(*) “401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

“Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrou xam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em re lação mais direta com os outros Espíritos.”

“402. Como podemos Julgar da liberdade do Espírito durante o sono?

“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro. Dizes frequentemente:

Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absoluta mente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião. Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.”

(“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. 29ª Edição da FEB. Parte 2ª — Capítulo 8. Recomendamos ao leitor o exame de todo o capítulo referido para melhor compreensão da série de estudos aqui apresentados. — Nota do Autor espiritual.

QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

O que fez Mariana após o desentendimento com o seu pai?

Como os Espíritos protetores ajudaram Mariana?

Por que razão D.Aureolina aceitou facilmente a sugestão do Espírito Protetor?

Qual a importância do Sono na visão espírita?

Bom estudo a todos!!

Equipe Manoel Philomeno