sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Notícia: Livro tenta explicar porque alguns ambientes favorecem bem-estar e cura.

Médica explora formas de arquitetura que ajudam na saúde humana. Locais considerados ‘sagrados’ teriam efeito indireto no organismo.

Abigail Zuger
Do ‘New York Times’


Digamos que você esteja vivendo em um ambiente que não é ideal. Seu vizinho de cima frequentemente muda os móveis de lugar, de madrugada. O cachorro do apartamento da frente é solitário e late alto. O dono dele resmunga quando você passa. Sua sala de estar tem o formato errado, as janelas estão no lugar errado, a cor da tinta, que parecia tão criativa e chique há cinco anos, está lhe dando nos nervos.

Aí você se muda. Enquanto você mergulha no silêncio e na simetria, com vizinhos agradáveis, uma vista incrível e paredes brancas e calmantes, algo se acende no seu cérebro. Ou será que se apaga? De qualquer forma, você se sente muito bem.

Afinal, o que causou o acendimento? Essas são perguntas enganosamente fáceis que Esther Sternberg tenta responder em "Healing Spaces" (em tradução livre: "Espaços que Curam"), uma exploração sobre as influências ambientais no cérebro, no corpo e (com todo o respeito por sua nova situação de vida, mas existem assuntos mais importantes no momento) o curso da doença física e mental.

Sternberg, célebre neuroimunologista do Instituto Nacional de Saúde Mental, propôs a si mesma uma tarefa gigante, incorporando arquitetura, estética, psicologia, neurobiologia, fisiologia e aromaterapia, entre várias outras disciplinas. Ela não tem tanto sucesso na tarefa, mas seu esforço define os parâmetros complexos do que pode ser um dos maiores mistérios remanescentes da ciência médica.

Depressão

Afinal, se seu cérebro pode deixá-lo depressivo em uma sala de estar, imagine o quanto as coisas provavelmente pioram em um típico quarto de hospital, cercado de barulho, confusão, cheiros desagradáveis e vistas nem um pouco belas. Você achava que uma ciência tão adepta a examinar o cérebro encontraria uma forma de acalmá-lo com a mesma destreza.

No entanto, o circuito neural responsável pela tranquilidade mental, apesar de essencial, é incrivelmente complexo. Além disso, a ciência que descreve a relação entre a estética e o bem-estar físico – a famosa conexão mente e corpo – é experimental e controversa. A maioria dos tratamentos ainda tem de ser rigorosamente avaliada.

Tudo começa com os cinco sentidos. É lá onde Sternberg também começa: "Se você fosse um paciente em uma cama de hospital, acabando de acordar de uma cirurgia, o que preferiria ver quando abrisse os olhos – uma parede de tijolo ou uma fileira de árvores?"

Você pode pensar que sabe a resposta certa e a justificativa para ela, mas considere todas as variáveis que os cientistas devem considerar para analisar sua decisão. Entre elas, estão a posição dos tijolos e das árvores (partes distintas do cérebro cuidam da percepção de próximo e longe) e as cores envolvidas (sua visão verde-amarela foi a primeira a evoluir; será por isso que o verde nos agrada tanto?). Pacientes diferentes podem ter respostas condicionadas diferentes a tijolos e árvores.

Além do mais, será que visões de jardins realmente ajudam a curar incisões abdominais? Alguns estudos menores sugerem que sim, mas será que as descobertas podem ser generalizadas para todos os pacientes, todos os tijolos e todas as árvores? E pacientes míopes, paredes de tijolo ensolaradas e árvores morrendo?


Som e cheiro

Isso é apenas o começo. O som e o cheiro também devem ser considerados. E existe também a noção de lugar, orientação espacial e direção, uma experiência composta tão afinada que se perder em um lugar estranho e escuro (como o porão do hospital, a caminho da radiologia) pode trazer o pior tipo de estresse. Caminhar lentamente e intencionalmente ao longo de corredores alinhados de um jardim-labirinto é receita de tranquilidade.

Dá o que pensar considerar que, entre todas as grandes mentes que exploraram esse fenômeno, Walt Disney foi, provavelmente, o que mais obteve sucesso na manipulação em larga escala do ambiente para acalmar e alegrar o cérebro. Mesmo os brinquedos assustadores da Disneylândia – Sternberg desconstrói o "Piratas do Caribe" do ponto de vista científico – são cuidadosamente projetados para acender as faíscas certas do cérebro nas direções certas.

Da mesma forma, uma nova casa de repouso tem uma rua principal à la Disneylândia para acalmar os neurônios em deterioração dos seus residentes. Isso está a um pequeno passo neurológico de Lourdes, na França, lugar de curas milagrosas, onde um conjunto de fatores ambientais pode acender cérebros adequadamente preparados e levá-los a um estado de êxtase, liberando um fluxo de potentes mediadores neuroquímicos capazes de aliviar o sofrimento. Assim, Sternberg delineia uma biologia experimental do milagre, que, como ela se apressa em dizer, "não diminui a maravilha do fenômeno".

É missão da Academia de Neurociência para Arquitetura, cujas conferências oferecem a Sternberg um material fascinante, simplesmente reproduzir um pouco de Lourdes em cada cenário médico. Éramos bem melhor nessa tarefa do que somos hoje; a medicina do século 20, com seu medo mortal de germes, interferiu. Entretanto, em algum ponto, "estéril" passou a ser uma característica ruim, e agora tentamos recapturar um pouco da grandiosidade e da beleza de hospitais antigos, com janelões, jardins e belas vistas.

Sternberg é uma escritora seriamente entediante, e sua narrativa nunca desvia de uma brandura intencionada para não ofender nem aos cientistas mais radicais, nem aos místicos new age. Ela ignora alguns dos paradoxos mais complexos da área (uma ala hospitalar com 30 camas pode oferecer mais privacidade e tranquilidade que um quarto compartilhado com outra pessoa; e mais, a aromaterapia de uma pessoa muitas vezes causa enjoos no paciente ao lado). Ainda assim, qualquer pessoa que já sentiu a paz se instaurar em ambientes agradabilíssimos poderá encontrar algumas sementes de explicações em seu livro.

‘HEALING SPACES: The Science of Place and Well-Being’
Esther M. Sternberg
The Belknap Press of Harvard University Press
343 páginas.



Notícia publicada no Portal G1, em 2 de julho de 2009.

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Comentário:

Na reportagem sobre este livro, vamos encontrar um pouco do que os Espíritos nos dizem: a matéria exerce uma influência sobre nós, embora não seja a causa. Mas não é bem no Espiritismo que o assunto do livro irá encontrar uma maior afinidade, e sim no Espiritualismo. Mais propriamente na filosofia oriental, onde tudo está interligado, e o ser nunca é analisado sob determinado aspecto isoladamente, seja em termos de religião, arte, atividade física, medicina e o ambiente que o cerca.

Não que o Espiritismo também não contemple esta ideia. Se analisarmos a Doutrina Espírita, vamos identificar que esta maneira de ver também está presente. No entanto, na cultura ocidental, nós tendemos a separar as áreas do conhecimento humano, como se não existisse ligação entre elas ou como se esta ligação não fosse importante.

Por isso, na cultura chinesa vamos encontrar áreas distintas, mas com a visão de que uma não pode ser desconectada da outra. É assim que a Medicina Tradicional Chinesa (acupuntura, do-in, etc) tem uma relação estreita com o Taoísmo (religião e filosofia), com o Tai-Chi ou o Kung-fu (atividade física), a arte, o sexo e a arquitetura (Feng Shui). Por isso, para o ser encontrar a cura, todos esses aspectos são avaliados.

O trabalho de Esther Sternberg parece estar indo de encontro a este último, mostrando que o ambiente a nossa volta deve ser considerado com uma maior importância, como algo incluído no tratamento do paciente e, consequentemente, no nosso dia a dia.

Mas o mais importante disto tudo é a nossa constatação, a todo momento, de que a Ciência cada vez mais se distancia da abordagem estritamente materialista. Fatores que antes seriam considerados “miraculosos”, ou indignos de um estudo, passam a fazer parte das observações de pesquisadores e revelam um caráter antes ignorado e que agora se mostra fundamental.

Por: José Antonio M. Pereira. Coordena o ESDE e é médium da Casa de Emmanuel, além de integrante da Caravana Fraterna Irmã Scheilla, no Rio de Janeiro. Também é colaborador da equipe do Serviço de Perguntas e Respostas do Espiritismo.net.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Artigo: Por que é tão difícil crer?

Por: Breno Henrique de Sousa


Este texto é dedicado a um grupo especial de pessoas que têm vontade de possuir alguma crença espiritualista, mas que não encontraram razões convincentes que fundamentem sua crença. São aquelas pessoas mais questionadoras, que não têm preconceitos nem repudiam a idéia de “crer”, mas que não encontraram um caminho possível para esta crença. Nestas pessoas pesa-lhes a descrença, como um fardo de desencanto e pessimismo, ou sentem-se aprisionadas no cárcere do ceticismo.

Este não é um texto para ateus convictos. Não pretendo convencer àqueles que se acham possuidores da razão, nem tenho a pretensão de solucionar tão difícil dilema. Eu encontrei o meu caminho para a crença sem abdicar da razão, mas antes é preciso também criticar e reconhecer os limites disto que chamamos de razão e dos valores vigentes no atual contexto social. Quem sabe alguém possa encontrar nestas palavras, reflexões que lhes ajudem a rever seus conceitos de fé e ceticismo.

É preciso refletir primeiramente sobre a forma que somos ensinados a questionar as coisas.

Todo questionamento é construído sobre um paradigma específico. Um paradigma é um conjunto de idéias e pressupostos que formam uma visão de mundo. Vejamos a figura abaixo:



Nesta figura um engenheiro hidráulico e um biólogo observam, sob suas perspectivas, um rio ou córrego. As perguntas que o engenheiro fizer só permitem respostas que refletem o paradigma do engenheiro. O mesmo serve para o biólogo. As perguntas já possuem, disfarçadamente, uma visão de mundo que impede outro nível de percepção. Não podemos refletir sobre crença e descrença, sem antes refletir sobre os valores que nos influenciam e a partir de que ponto de vista estes valores nos levam a formular nossos questionamentos. De outra maneira estaremos em um labirinto sem saída. É como usar um copo d’água para abrir uma fechadura ao invés de uma chave. Se você nunca viu uma chave e tudo que conhece é um copo d’água, vai tentar de alguma maneira abrir a porta com o copo d’água. Vai imaginar todas as possibilidades possíveis, quem sabe vai derramar a água na fechadura, quebrar o copo, tentar muitas posições e esquisitices. Você sabe que existem pessoas que passaram para o outro lado da porta, não consegue imaginar o que pode estar errado, porque você até hoje acreditava que o copo d’água era a solução para todos os problemas, nem sequer imaginava que pudesse existir algo mais no mundo que um copo d’água e nem lhe passa pela cabeça questionar se o copo d’água é o instrumento certo para abrir a porta, afinal, o copo lhe serviu por toda a vida e aparentemente foi capaz de resolver todos os seus problemas passados. Tamanha é a ilusão e confiança que temos no copo d’água que nem sequer enxergamos a chave que está pendurada na nossa frente. Se você não questiona os seus instrumentos de busca pela verdade, provavelmente cairá neste labirinto, pois muitos instrumentos são limitados ou estão viciados por preconceitos.

Freqüentemente, descrentes são pessoas com copos d’água à frente da porta da crença, tentando abri-la inutilmente. Normalmente se cansam e perdem a esperança. Vão embora tristes, acreditando que não há como abrir a porta. Alguns não se acham capazes de abri-la, outros deixam de acreditar que ela se abra. Quanto mais as pessoas estão mergulhadas em um paradigma, mas dificilmente enxergarão esta distorção porque tudo o que vivenciaram em suas vidas foi concebido através de seus paradigmas. São capazes das mais ousadas peripécias com o copo d’água, de realizar feitos geniais, mas são complemente incapazes de enxergar a chave.
Existe uma piada que ilustra bem esta situação:

Em um elevador há um ascensorista que se chama João e tem 60 kg e 35 anos. No térreo sobe uma mulher que se chama Maria, tem 65 kg e 40 anos; no primeiro andar sobem dois irmãos que se chamam André e José com 70 e 75 kg e 45 e 50 anos, respectivamente. Então, como se chama o elevador? Diante deste enigma, um matemático pode fazer equações inimagináveis para resolver a solução. Criar um método matemático que nenhum comum mortal seja capaz de entender. Mas a resposta é simples. “O elevador se chama apertando o botão”.

Outra piada que me foi enviada pela internet ilustra bem a situação:

Um paciente vai num consultório psicológico e diz pro doutor:

— Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Aí eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima. Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima. Estou ficando maluco!
— Deixe-me tratar de você durante dois anos, diz o psicólogo.
— Venha três vezes por semana, e eu curo este problema.
— E quanto o senhor cobra? - pergunta o paciente.
— R$ 120,00 por sessão - responde o psicólogo.
— Bem, eu vou pensar - conclui o sujeito.
Passados seis meses, eles se encontram na rua.
— Por que você não me procurou mais? - pergunta o psicólogo.
— A 120 paus a consulta, três vezes por semana, dois anos = R$ 37.440,00, ia ficar caro demais, ai um sujeito num bar me curou por 10 reais.
— Ah é? Como? - pergunta o psicólogo.
O sujeito responde:
— Por R$ 10,00 ele cortou os pés da cama...

Assim como o sujeito do bar, é comum as pessoas mais simples enxergarem melhor a solução. A crença de que um alto nível de especialização, formação acadêmica ou técnica é a garantia de maior capacidade de solução para todo tipo de problema, é um preconceito que dificilmente é percebido. Tenho um amigo que diz que chegou a uma idade que não quer aprender mais nada e sim desaprender. Eu não entendi e ele explicou. Às vezes, nossa cabeça está tão cheia de conceitos e preconceitos que dificilmente enxergamos a realidade. É preciso desaprender tudo aquilo que nos impede enxergar a chave para abrir a porta e o excesso de informação nem sempre é a solução para perceber a saída.

Sempre que aceitamos ou rejeitamos uma idéia, a grande maioria das vezes, fazemos isso pelo sentimento de familiaridade ou estranheza que esta idéia nos causa. Antes de um julgamento racional, há um julgamento emocional sobre a idéia. Este julgamento emocional sabotará o julgamento racional, que não é imparcial como queremos acreditar que seja. Ou seja, a primeira reação diante de uma idéia estranha é repudiá-la, não importa o quanto ela seja racional ou plausível, ela é repudiada simplesmente porque parece nova e inusitada.

Em uma sociedade voltada para os valores do consumo, que é hedonista, imediatista; vivendo dentro do paradigma materialista – reducionista; no ambiente enlouquecedor das nossas cidades que só nos permitem preocupar-nos com questões imediatas relacionadas com a própria sobrevivência física; nesta sociedade, a cada dia perde espaço em nossas mentes a construção de valores espiritualistas. Não é então espantoso que uma pessoa que vive imersa nesta realidade, observe com muita estranheza qualquer idéia como a vida após a morte. Porém o observador tende a acreditar que é a idéia que é estranha, e não percebe que este sentimento de estranheza é devido ao paradigma que foi educado e influi sobre sua percepção.

Contam, em outra piada, que um grupo de amigos resolveu aprontar uma brincadeira com um bêbado da cidade. Passaram fezes de galinha no seu bigode enquanto ele dormia. Quando acordou, o homem sentia um odor estranho, saiu andando por toda a cidade e depois de algum tempo concluiu que o mundo todo fedia. Comumente, diante de idéias novas, nos comportamos como o bêbado do bigode sujo. Achamos que o problema está na idéia em si, mas na verdade é o nosso filtro e percepção que está contaminado pelo paradigma predominante.

Este impacto inicial que as idéias diferentes nos provocam, resultam no afastamento da maioria das pessoas que rapidamente concluem que o assunto é absurdo e não merece nenhuma apreciação séria. Às vezes, mesmo abundando evidencias e sinais que deveriam despertar o interesse do bom observador, este se recusa a admitir esta possibilidade. É o caso, por exemplo, de Sigmund Freud que rejeitava complemente qualquer fenômeno paranormal, mesmo tendo presenciado um fenômeno paranormal na presença de Carl Gustav Jung. Freud seguiu recusando mesmo diante da evidência. Jung seguiu seu próprio caminho e mergulhou a fundo no assunto.

Lembra quando Pasteur falou de pequenos seres invisíveis ao olho nu que provocavam a decomposição da matéria orgânica? Ele foi sumariamente ridicularizado. Como é possível que isto exista se ninguém descobriu antes? Que idéia mais absurda acreditar que existam seres tão pequenos. Quem sabe então dizer que a Terra é redonda? Então, a experiência nos diz que o fato de uma idéia parecer incomum ou despertar a sensação de estranheza ou de absurdo, não é absolutamente uma razão para rejeitá-la.

O conhecimento é a única maneira de nos libertarmos destes preconceitos. Quando buscamos a fundo investigar a questão, quando buscamos observar deste outro paradigma, quando somos capazes de duvidar dos nossos instrumentos e de nossa própria capacidade de análise, quando reconhecemos que somos culturalmente influenciados, então começamos a abrir nossas mentes para a construção de uma crença que não renega a razão.

Crença ou descrença são construções culturais, independentemente de haver uma predisposição natural para crer, é fato que a sociedade globalizada e centrada nos valores de consumo favorece amplamente mais a descrença que a crença. Os meios de comunicação estão viciados neste sentido, tudo o que nos chega é através do filtro seletivo do paradigma reducionista materialista e se somos pessoas com formação acadêmica superior, este filtro atua de forma ainda mais intensa.

Eu poderia começar este texto falando das inúmeras pesquisas que apontam para a sobrevivência disto que chamamos individualidade ou consciência depois da morte do corpo. São inúmeras evidências, fontes distintas, de diversas épocas, realizadas por pessoas crentes e descrentes, realizadas às vezes por homens de ciência. Talvez, citar todas estas fontes diminuiria a sensação de que estas coisas não são assim tão absurdas, que existe gente séria e preparada se dedicando a estes temas. Mas isso não valeria de nada, se antes não formos capazes de superar o preconceito pelo novo, de identificar as influências culturais que sofremos e de sermos capazes de duvidar do que já parece estabelecido.

A descrença é uma forma de crença. O descrente crê que nada existe. Qualquer forma de crença está emocionalmente influenciada, até porque pensamos que esta crença é criação nossa, produto exclusivo de nossa capacidade, de nossas reflexões. Então uma crença é uma afirmação de nossa capacidade, de nosso poder de discernimento e isso mexe com nosso orgulho, com nossa vaidade. Quando alguém diz que sua crença está equivocada, é como se esse alguém dissesse que tem maior capacidade de discernimento que você, é como admitir que você se enganou onde outro foi capaz de acertar. Esse é um exercício que exige muita humildade por isso grande parte dos convictos (convictos crentes ou descrentes) são, na verdade orgulhosos, com excesso de auto-confiança, porque não reconhecem que tudo que somos levados a crer está sob influências sutis e imperceptíveis.

A esta altura o leitor deve estar esperando alguma solução mágica que o passe da condição de descrente para crente. Quem sabe um conjunto de provas secretas que satisfaçam seu nível de exigência racional ou uma explanação exaustiva de provas irrefutáveis que fossem capazes de calar aos materialistas. Eu posso afirmar que o volume de informações disponíveis sobre este assunto é tão amplo e profundo que podem servir para fundamentar qualquer crença. Mas, já temos dito que a evidência não é suficiente para fundamentar a crença. Existem pessoas que se recusam a acreditar como Freud, tamanho é o apego às suas convicções, seu orgulho e estranheza diante do novo. Antes temos que reconhecer as fragilidades do nosso ponto de vista, caso contrário, não importa as provas contundentes, pois estaremos sempre impermeáveis a qualquer tipo de crença. Também é preciso esclarecer alguns pontos com relação às informações que servem para fundamentar as descrenças.

O materialismo é um ponto de vista metafísico (conjunto de proposições relativas às características e componentes mais gerais da realidade) assim como o espiritualismo, e não a expressão da verdade absoluta como muitos acreditam. Trata-se de um sistema de crença, muitas vezes extrapolado de suas reais funções. A ciência moderna é predominantemente influenciada pelo paradigma materialista. Vejamos o que nos diz, por exemplo Ian G. Barbour:

“A maior parte do livro (e série de TV) de Carl Sagan, Cosmos, é dedicado a uma fascinante apresentação das descobertas da astronomia moderna – mas, nos intervalos, Sagan insere seus comentários filosóficos pessoais. Afirma que o universo é eterno, ou que sua origem é simplesmente incognoscível. Ataca, em diversos pontos, as idéias cristãs de Deus, argumentando que as proposições místicas e autoritárias ameaçam a supremacia do método científico, que, segundo ele, é “universalmente aplicável”. A Natureza (que ele grafa com inicial maiúscula, no livro) substitui Deus como objeto de veneração. Sagan expressa grande reverência pela beleza, vastidão e coesão interna do cosmos. Na série de TV, ele aparece sentado diante de um painel de instrumentos com os quais nos mostra as maravilhas do Universo. É uma nova espécie de sumo sacerdote, que não apenas revela os mistérios para nós como também nos diz como viver. Podemos agradecer a Sagan por sua habilidade pedagógica de trazer descobertas da astronomia, para um público mais amplo, e por sua grande sensibilidade ética e profunda preocupação com a paz mundial e com a preservação do meio ambiente. Mas talvez devêssemos questionar sua fé ilimitada no método científico, no qual, diz ele, precisamos confiar para ingressarmos na era da paz e da justiça.

(...) Boa parte do recente livro de Sagan O Mundo Assombrado pelos Demônios, é dedicada à refutação da pseudociência, especialmente da astrologia e dos supostos visitantes alienígenas e objetos voadores não identificados (OVINs). Vários capítulos, porém, foram feitos para atacar a religião, em geral sob suas formas populares e supersticiosas. Sagan apresenta longos relatos de crenças em demônios e bruxas dos séculos passados e em curandeiros e médiuns hoje em dia. Mas, com exceção de um breve comentário, em momento algum ele leva em consideração os trabalhos teológicos bem informados, de base universitária, que talvez sejam equivalentes intelectuais dos cientistas que ele admira. Sagan claramente vê a ciência e a religião como inimigas, e deposita sua fé e esperança na primeira. (Quando a Ciência Encontra a Religião, Cultrix, 2004)."


Neste caso observamos um claro exemplo de quando a concepção materialista apropria-se da ciência para imiscuir suas idéias. Normalmente toma-se uma descoberta científica real e comprovada e dela tira-se conclusões especulativas e pessoais que servem para embasar a crença materialista. Usar a ciência para dizer que Deus não existe é uma extrapolação absurda e sem fundamento. É preciso estar atento a certas informações veiculadas na mídia, ou a opinião materialista e reducionista de determinado número de cientistas, que não estão devidamente fundamentadas, ou são distorcidas pela mídia ou que representam a opinião de um pesquisador ou de um grupo específico de cientistas, mas que não representa a opinião da ciência como um todo. Certas expressões, por exemplo, como “gene egoísta” e “gene da violência” são metáforas enganosas, porque, há uma base genética para o comportamento, mas não para comportamentos específicos, assim como há uma base genética para a linguagem e não para linguagens específicas, ou uma base genética da capacidade de raciocínio, mas não para argumentos racionais específicos.

Além destas extrapolações comuns, existe um complô ou pacto de silencio sobre as pesquisas científicas sérias que contribuem ou são compatíveis com a crença em alguma forma de espiritualidade. As pesquisas e pesquisadores que apontam nesta direção nunca são mencionados nas universidades e academias, salvo uma pequeníssima exceção, a maioria das pessoas que tem uma formação acadêmica qualquer, desconhece qualquer tipo de literatura ou trabalho sério de investigação científica sobre a espiritualidade humana ou sobre os fenômenos espiritualistas, a não ser quando estes experimentos são delineados dentro dos moldes reducionistas e servem apenas para combater qualquer idéia desta natureza.

Quem quer que se dê conta desta realidade, sem muito esforço poderá descobrir inúmeros trabalhos sérios e bem fundamentados, feitos por cientistas renomados que demonstram, por exemplo, a eficácia da prece na cura física e a sobrevivência da alma após a morte do corpo físico. Porém, como todos somos acomodados, é mais fácil deixar-nos levar pelo paradigma predominante, este que a sociedade, os nossos ídolos com pés de barro e a nossa mídia está acostumada a apresentar. Quem quiser construir uma crença mais sólida e racionalmente embasada, terá que sair de sua zona de conforto, questionar o Status quo, buscar as informações ocultadas e legítimas que fundamentarão a edificação de sua crença e isso não é uma tarefa fácil nos dias atuais. A crença mais depurada e racional é uma construção que precisa ser desenvolvida e fortalecida tanto quanto foi desenvolvida a crença no materialismo. À medida que nos deparamos com a seriedade destes temas, e ultrapassamos o mar de superstições que existe em torno da espiritualidade, poderemos vislumbrar algo sólido e real para nossas vidas.

Não se trata simplesmente de privilegiar a crença sobre a descrença, trata-se de termos a consciência crítica de que não estamos em território neutro e que desde que nascemos somos influenciados por valores materialistas e essa influência aumenta com a modernidade, com o avanço do paradigma materialista em um mundo a cada dia mais urbanizado e desconectado da natureza e dos valores tradicionais. Em uma sociedade em que o ter ocupa o espaço do ser, torna-se cada vez mais difícil alimentar qualquer forma de transcendentalidade. Vejo, por exemplo, que meus amigos dos países de primeiro mundo são extremamente mais impermeáveis a qualquer tipo de crença que os meus amigos dos países menos desenvolvidos.

A maioria das pessoas acredita que isso se dá pela superioridade da cultura destes países, que nós somos tupiniquins atrasados que acreditam em Deus e em bobagens deste tipo. Muitos de nós, inclusive aceita passivamente este raciocínio colonialista e engole esta idéia. O que acontece é que estas sociedades são consideradas de “primeiro mundo” justamente por haverem desenvolvido os valores de uma sociedade de consumo, valores que quase sempre nos cegam a qualquer forma de conhecimento espiritual. Não se dão conta que, apesar disso, existem entre eles os que acreditam em valores espirituais e estes estão entre os nomes mais respeitáveis. Além disso, os que vivem no “terceiro mundo”, não são ignorantes que acreditam em coisas espirituais. Muitas vezes, tratam-se de pesquisadores com formação superior, em universidades que não deixam nada a desejar às do primeiro mundo, mas que viveram suas vidas em uma cultura menos corrompida pelos valores materialistas, muitas vezes no meio da superstição, é verdade, mas a familiaridade com as coisas espirituais, o fato de não as ver como coisas absurdas, não os fazem rejeitar a espiritualidade de maneira preconceituosa. Mais uma vez voltamos à piada do psicólogo e do sujeito que achava que tinha alguém debaixo da sua cama. Tamanha era a especialização do psicólogo que ele jamais pensaria em simplesmente resolver o problema cortando os pés da cama. Como dissemos, quanto mais mergulhados em um paradigma, mais dificilmente enxergamos outras possibilidades, ainda que sejamos muito hábeis dentro de um determinado sistema de conhecimento. Justamente por isso temos dificuldade de perceber as coisas sob outras perspectivas. As pessoas não explicam também, porque justamente nos países mais desenvolvidos, urbanizados e economicamente estáveis é que se encontram os maiores índices de depressão e suicídio. Alguma coisa se perdeu no meio do caminho e precisa ser resgatada. Temos de reconhecer o valor e as conquistas da ciência e da civilização moderna, não pretendemos voltar às cavernas, mas precisamos estar cientes das suas limitações, sobretudo no que se refere a atender e compreender os anseios humanos mais profundos.

Não foi à toa que Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, declarou o materialismo como o grande inimigo da humanidade. Em um belíssimo texto intitulado: “As cinco alternativas da humanidade” no livro Obras Póstumas, Kardec ressalta as opções metafísicas de crença que dispomos, demonstrando a solidez do Espiritismo diante das demais. O materialismo destrói a esperança no futuro, traz em si mesmo o veneno de sua própria destruição. Trata-se de uma terra inócua para os anseios humanos mais profundos, que esvazia a vida de propósito. O materialismo se disfarça de muitas maneiras, desde a militância ateísta até a indiferença, futilidade e superficialidade da nossa sociedade de consumo, mas é sempre o mesmo materialismo. Porém, a necessidade de sobrevivência e de realização de seus anseios abstratos, faz o homem perpetuar e aperfeiçoar a crença em uma vida mais ampla e rica de possibilidades. Livrando-se da ganga das superstições, de mãos dadas com a ciência e com a razão, construiremos uma nova era do espírito.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Notícia: ""Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino", lamenta o pai do rapaz viciado em drogas que enforcou a namorada".

O Globo.

RIO - Pai do assassino da jovem Bárbara Calazans, de 18 anos, estrangulada neste sábado pelo namorado, Bruno de Melo, 26 anos, no apartamento do jovem, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa lamenta que o filho tenha destruído duas famílias, "a da jovem e a dele, além de a si próprio". Numa carta emocionada, enviada ao site do Globo às 6h da manhã deste domingo, dia seguinte ao crime, ele narra o drama que vem enfrentando há seis anos, desde que Bruno começou a se viciar em álcool, até chegar ao crack. Leia a íntegra do relato do pai:

"Meu filho começou na droga pelo álcool, no colégio, esta droga LEGAL com que a propaganda bombardeia nossas crianças e jovens todo dia, escancaradamente, e que produz milhares de mortes no trânsito, destrói lares, pessoas do bem e é, como se sabe, a primeira droga que os jovens experimentam. A maioria segue pela vida em maior ou menor grau se drogando com ela, o álcool, outros acabam provando das ilegais, sendo que uns fogem delas, outros se viciam numa espiral crescente e veloz. Em geral, passam pela maconha, vão na boca adquiri-la, e os comerciantes, felizes, lhes oferecem um variado cardápio, self-service: cocaína, crack, haxixe, êxtase, ácido...

Sei que há seis anos perdi meu filho para o crack, mas apesar das sequelas e problemas, ele nunca deixou de ser carinhoso e educado com todos, o que lhe granjeou um número sempre crescente de amigos.

Ele passou por várias internações - tinha, desde pequeno, outros problemas mentais que se exacerbaram com as drogas. Sempre que saia das internações ficava bem. Até encontrar os amigos, tomar umas cervejas e ai a coisa saía novamente de controle. Nestes tempos o vício, apesar de grave, ainda não tinha produzidos todos seus efeitos devastadores. Mas, com o tempo e a reincidência, o crack foi o devastando. Nos últimos tempos, dizia-se derrotado para o vício, vivia muito deprimido e voltara a frequentar o NA, Narcóticos Anônimos. Tentei de tudo para convencê-lo a se internar, mas vai pedir para um pinguço largar sua garrafa. É inútil. Ele foi cada vez mais descendo a ladeira. De mãos atadas, fiquei esperando pelo pior ou por um milagre, já que segundo os "especialistas", que ditam as políticas públicas para o tratamento de drogas, o drogado tem de se internar por vontade própria.

A reportagem que o Brasil assistiu esta semana, da mãe que construiu uma cela em casa, para tentar salvar o filho viciado em crack, é bem representativa de como as famílias vítimas deste flagelo estão abandonadas pelo Estado, e se virando à própria sorte. É bem possível que ela seja punida por isso. Na mesma reportagem, uma psicóloga inteligente afirmava que o viciado em crack tem de vir voluntariamente para tratamento. Este é o método correto, segundo a maioria dos que estão à frente das políticas para esta área. Será que essa profissional é incapaz de entender o estrago que o crack/cocaína ocasiona nas mentes de seus dependentes? Será que ela é capaz de perceber o flagelo que o comportamento desses doentes causam sobre as famílias?

Um drogado, ou adicto, que já perdeu o senso de realidade e o controle sobre sua fissura, torna-se um perigo para a sociedade, infernizando a família, partindo para roubos, prostituição e até assassinatos, por surto ou por droga. Esperar que uma pessoa com a mente destruída por droga pesada vá com seus próprios pés para uma clínica é mera ingenuidade destes profissionais. O Estado tem de intervir nesta questão para preservar as famílias e os inocentes. A internação compulsória para desintoxicação e reabilitação destes doentes, que já perderam todo o limite, é uma necessidade premente. Ou será que todas as famílias que vivem esse problema terão de construir jaulas em casa?

Se meu filho fosse filhinho de papai, como falaram, eu já teria pago uma ou mais internações. Mas infelizmente o papai aqui não tem grana para isso, assim como a maioria das famílias vítimas deste, que insisto em reafirmar, flagelo.

Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino, assim como aquele pai de família correto, que um dia bebe umas redondas, dirige, atropela e mata seis num ponto de ônibus.

As drogas, ilegais ou não, estão aí nas ruas fazendo suas vítimas diárias, transformando pessoas comuns em monstros e o Estado não pode ficar fingindo que não vê.

Dizem que vão gastar 100 milhões para equipar a polícia, mas e as vítimas diretas das drogas como ficam? E os jovens humildes atraídos pelos criminosos para seu exército? E os policiais mortos em combate nesta via indireta da guerra do tráfico? Está na hora de acabar a hipocrisia!

Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima.

Ele irá pagar pelo que fez, será feita justiça, isso não há dúvida. O arrependimento já o assola, desde que acordou do surto do crack deu-se conta do mal que sua loucura havia lhe levado a praticar. Ele me ligou, esperou a chegada da polícia e se entregou, não fugindo do flagrante. Não passarei a mão na cabeça dele, mas não o abandonarei. Ele cumprirá sua pena de acordo com a lei, dentro da especificidade de sua condição.

Infelizmente, só consegui interná-lo pela via torta da loucura, quando já não havia mais nada a fazer, num surto fatal.

Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia.

Que a família da Bárbara possa um dia perdoar nossa família por este ato imperdoável. Chorei por meu filho 6 anos atrás. Hoje minhas lágrimas vão para esta menina, que tentou por amor e amizade salvar uma alma, sem saber que lutava contra um exército que lucra com a proibição (que não minimiza o problema, pelo contrário, exacerba), por um bando de tecnocratas e suas teorias irreais, e para um Estado que, neste assunto, se mostra incompetente.

Luiz Fernando Prôa, o pai

Notícia publicada em O Globo, em 25 de outubro de 2009.

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Comentário:

A loucura de nossos dias

Não têm sido de poucas pessoas a opinião de que as drogas devem ser descriminalizadas. Nem de pessoas pouco importantes no cenário nacional. O certo é que, diante das dificuldades em controlar a desenvoltura com que cresce o uso das drogas, eles acham melhor aceitar o seu domínio.

Tem sido assim em várias circunstâncias.

Impossível controlar os abortos... então é melhor legalizá-los.

Impossível controlar o crime... então é melhor criar a pena de morte.

Impossível deter o sofrimento do moribundo... então é melhor legalizar a eutanásia.

E assim segue a sociedade contemporânea numa estrada tortuosa, perigosa, cada vez mais comprometendo-se com as leis de Deus.

O Espiritismo nos ajuda muito a entender esta loucura dos nossos dias, que se faz produto da dominante visão materialista. Eis que, quando pensa que está espremido entre o berço e o túmulo, o homem quer aproveitar todos os minutos da vida material, ainda que se destrua. Sem perspectivas de futuro, para que se esforçar por alcançar metas superiores de vida? Corações sensíveis sucumbem sob o vazio de Deus. Ante a moderna teoria de que ninguém deve resistir ao prazer, jovens e adultos derramam suas energias na marginalidade da vida, legando ao futuro uma herança de abismos e sofrimentos que se arrastam além da morte do corpo físico. E após esta, ligam-se aos que permaneceram na Terra, influenciando-os em direção aos descaminhos. E daqui a pouco reencarnam em corpos físicos já dependentes dos vícios e nova batalha é travada. Mais materialismo, mais o domínio dos ideais fúteis e destrutivos permeiam a sua jornada. E as dores se cristalizam e se espraiam absorvendo maior número de participantes, decepando vidas e sonhos.

A droga é um verdadeiro cataclismo.

A única saída é Jesus. Não a imagem crucificada, dependurada na parede. Mas os seus ensinos, que são lógicos e lúcidos, a permitir-nos galgar etapas avançadas de conhecimentos e realizações.

Com a Doutrina Espírita, Jesus é próximo e podemos segui-lo. A reencarnação como lei justa e plena de esperança, lança bases para a edificação de uma vida feliz, ao longo dos séculos, dos milênios. Defeitos vencidos hoje, esperança para o amanhã. Deus é justo e bom e o acaso não existe. Somos artífices do nosso futuro e responsáveis por nossos atos, daí entendermos porque Jesus falou “a cada um segundo as suas obras”.

Corações sensíveis sentem-se seguros, têm objetivo superior a conquistar.

Corações endurecidos encontram a justificativa para edificar o bem.

Pais sabem-se responsáveis pela iluminação das mentes de seus filhos, que são, na verdade, filhos de Deus, que lhes delegou este poder: o maior entre todos os poderes.

Filhos aprendem a respeitar a vida e as oportunidades, os pais e a família, o corpo físico e o país. Têm muito a realizar, não lhes sobrará tempo nem desejo de se embrenhar pelos descaminhos viciosos.

Pobres pais que não conseguiram deter seus filhos no encontro com as drogas.

Pobres filhos que desperdiçaram mais uma reencarnação, sendo o “escândalo” para que se cumpra a Lei de Causa e Efeito.

Pobres governos que se distraem com os interesses próprios e fazem do poder temporal a porta de entrada para o inferno consciencial.

Felizmente a vida continua e se renova por meio da dor e das experiências propiciadas pelas reencarnações.

Assim, hoje ou amanhã, todos estes personagens da vida contemporânea aprenderão a viver com Jesus, construindo um mundo novo, interior e exterior, felicitando a si e a humanidade inteira.

Por: Nara de Campos Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e sites de diversas regiões do país.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mural Reflexivo: "Espelho da Alma".


Quando somos jovens, geralmente temos uma boa relação com o espelho. Paramos diante dele e nos olhamos de corpo inteiro e por todos os ângulos.

Temos mais coragem de nos observar, de enfrentar possíveis desajustes físicos, e o futuro está a nosso favor.

Somos mais flexíveis, desarmados, versáteis, e mais dispostos às mudanças. Gostamos de trocar opiniões e acatamos idéias novas com facilidade.

Nossa alma, tanto quanto nosso corpo está em constante transformação. Estamos sempre à procura de novos significados para velhas idéias.

Com o passar do tempo, vamos evitando espelhos que reflitam nosso corpo por inteiro. Procuramos aqueles que mostrem apenas do pescoço para cima.

Fugimos da nossa aparência, por não gostar dela ou porque ainda desejamos ver refletido aquele corpo jovem, a cabeleira abundante, a pele lisa e brilhante.

E porque não gostamos da nossa imagem, fugimos do espelho, como se isso resolvesse o nosso problema.

Assim também acontece com as questões da alma.

Quando somos jovens temos coragem de refletir sobre nossas atitudes, gostamos de aprender coisas novas e estamos dispostos a enfrentar desafios.

Buscamos respostas para nossas dúvidas e não tememos as críticas, por entender que elas nos ajudam a crescer.

Mas quando as gordurinhas do comodismo vão se acumulando em nossa alma começamos a fugir de espelhos que nos mostrem tal qual somos.

As idéias vão se cristalizando e não temos mais tanta disposição para reciclar as nossas memórias.

Posicionamo-nos numa área de conforto e nos deixamos levar pelas circunstâncias, sem tantos esforços.

Para muitos é como se uma influência paralisante lhes tomasse de assalto.

Não se interessam mais pelo conhecimento, nem por fazer novas amizades ou cuidar um pouco do corpo e da saúde.

Esquecidos de que a sabedoria não está na espinha dorsal nem na pele jovem ou na basta cabeleira, entregam-se ao desânimo como se tivessem chegado ao fim da linha.

Não se dão conta de que enquanto estamos respirando é tempo de aprender e crescer, de fazer exercício e eliminar as gorduras indesejáveis.

Enquanto podemos contemplar o espelho físico, podemos nos observar e envidar esforços para corrigir o que julgamos necessário.

Enquanto a vida nos permite, devemos voltar o olhar para o espelho da consciência e ajustar o que seja preciso, para que fiquemos mais belos e mais sábios.

Arejar os pensamentos e reciclar as memórias infelizes que teimamos em arquivar nos escaninhos do ser.

Repensar conceitos, refazer idéias, rever atitudes e posturas.

Só assim afastaremos o desejo constante de fugir do espelho, de fugir de nós mesmos, fingindo que somos felizes e mascarando a realidade.

Pense nisso e não lute contra a natureza, desejando segurar o tempo com as mãos.

Não deixe que a sua sabedoria se esconda nas rugas da pele nem perca o viço entre os cabelos brancos.

A beleza da sua alma é independente do corpo físico. A sua grandeza se reflete na sua forma de pensar, sentir e agir, e não na imagem projetada no espelho.

Pense nisso e observe-se de corpo e alma, por inteiro.

Lembre-se de que cabe somente a você a decisão de assumir a realidade e modificá-la, quando, como e se julgar necessário.

* * *

Pior do que estar insatisfeito com o corpo é a insatisfação com a própria consciência.

Essa insatisfação lhe rouba a paz, a alegria, a vontade de crescer e ser feliz.

Por isso é importante lembrar que você pode modificar essa realidade quando desejar.

Basta investir na sua melhoria íntima arejando a mente, eliminando preconceitos e adquirindo conhecimentos que lhe tragam satisfação e paz de consciência.

Pense nisso, mas pense agora.

(Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita. www.momento.com.br . http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1289&let=E&stat=0)