domingo, 5 de agosto de 2018

Crie a história e desenvolva o tema à luz da Doutrina Espírita


A menina que fundou negócio aos 4 anos e, aos 13, é CEO de sucesso

James Jeffrey
De Austin, Texas, para a BBC

As limonadas de Mikaila Ulmer estão em mais de 500 lojas dos Estados Unidos, mas na escola ela não foi tão bem assim: ela obteve um "C" em matemática.
Ela conta ter pouco tempo para estudar, pois se dedica a tocar um negócio bem-sucedido, do qual é fundadora e chefe.
Aos 13 anos, se um dia ela está na escola, no outro está dando palestra sobre empreendedorismo. "Não é moleza, isso é certo", diz ela.
"Às vezes, tenho que faltar aula para dar uma entrevista, viajar ou participar de um programa de televisão. Outras vezes perco alguma coisa porque tinha uma prova ou algum projeto da escola."
Vendendo 360 mil garrafas de sua limonada por ano em lojas caras, como a rede de supermercados Whole Foods, Mikaila é uma das empresárias mais jovens dos EUA.
Ela virou adolescente faz pouco tempo, mas já toca seu negócio, baseado em Austin, no Estado do Texas, desde os quatro anos de idade.
Com a ajuda dos pais, Mikaila começou a vender sua limonada em 2009. Naquele ano, instalou uma mesinha em frente à casa onde morava, e começou a vender a bebida - uma receita da década de 1940, de sua bisavó.
A receita leva mel, e nessa mesma época, Mikaila foi picada duas vezes por abelhas em duas semanas.
Seus pais disseram a ela que, em vez de entrar em pânico toda vez que visse uma abelha, ela deveria pesquisar melhor para entendê-las e o papel essencial que os insetos desempenham na polinização e no ecossistema.
Isso inspirou Mikaila a doar parte do dinheiro que ganha com a venda de limonadas para organizações que protegem abelhas que produzem mel.
Em pouco tempo, ela começou a vender sua limonada a uma pizzaria local. Pouco depois, o negócio começou a crescer - mas 10% do lucro ainda vão para grupos de conservação ambiental.
Mas com a mãe de Mikaila, D'Andra, e o pai, Theo, tão envolvidos no negócio, surge a pergunta: quem de fato manda no empreendimento?
"No início era só eu, espremendo limonada na minha barraca, mas aí meus pais desenharam uns adesivos legais para os copos", diz Mikaila.
"À medida que o negócio foi crescendo, tive que dizer 'não consigo fazer isso sozinha', e foi aí que tive que começar a pedir 'mãe, pai, como eu faço uma logomarca? E como acho uma fábrica? E onde tem mais lojas?'"
O fato de os pais terem estudado administração com certeza ajudou. D'Andra tem formação em marketing e vendas e Theo, em administração de negócios.
Mas D'Andra diz que ela e Theo tinham "zero" experiência na área de comidas e bebidas.
Mikaila diz que o diferencial foi o trabalho em equipe.
"Somos co-CEOs porque eu tomo as decisões que meus pais não tomam e eles tomam as que eu não tomo", diz ela.
"Além disso, sou jovem, não sei tudo, então vou sempre levar a opinião deles em conta."
O grande momento foi em 2015, quando Mikaila tinha nove anos e a empresa assinou contrato com a rede de supermercados Whole Foods.
"A Mikaila e a empresa chamaram nossa atenção por vários aspectos", diz Jenna Gelgand, do Whole Foods.
"A empresa tinha um produto único, gostoso, e uma fundadora entusiasmada e uma missão social. Ficamos impressionados na mesma hora com a Mikaila, uma jovem empreendedora com visão para conscientizar sobre a importância da polinização."
No mesmo ano Mikaila foi apresentada a telespectadores de todo o país quando participou do programa Shark Tank, no qual empreendedores vendem suas ideias para possíveis investidores.
A apresentação dela foi boa o bastanta para convencer um deles, Daymond John, chefe da loja de roupas Fubu, a investir US$ 60 mil (cerca de R$ 227 mil).
Dois anos depois, um consórcio de jogadores de futebol americano investiu US$ 800 mil (pouco mais de R$ 3 milhões).
Mikaila segue ganhando prêmios para jovens empreendedores negros, e foi elogiada pelo ex-presidente Barack Obama.
Quando ele ainda estava na presidência do país, a chamou para a Casa Branca, em 2015, e um ano depois, ela fez a introdução dele em um evento de mulheres.
Geoffrey Soares, dono da Summit Beverage Group, que começou a engarrafar a limonada da Me & The Bees no ano passado, diz que Mikaila é uma ótima embaixadora da marca.
"Você pode até ter um bom produto, mas se não tem uma boa história, como vai se destacar? É um mercado difícil", diz ele.
"Sem Mikaila, não sei como teriam feito tanto sucesso. Ela é muito importante, mas ao mesmo tempo, todo mundo precisa de ajuda. São uma boa família, têm o compromisso de construir algo legal."
Mikaila diz que quer abrir mais negócios, mas também pensa nos estudos.
"Quero abrir novas empresas. Para mim, ter só uma é meio chato", diz.
"Eu gosto de ficar pensando em nomes e logos, essa é a parte mais divertida. Também estou ansiosa com começar o colegial, mas estou animada para fazer novos amigos e não ter que usar uniforme."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 24 de julho de 2018.

Jorge Hessen* comenta

Novas gerações, velhas provocações diante dos atuais desafios da inteligência infanto-juvenil. Realmente observamos os pequenos (crianças e adolescentes) como exímios empreendedores que se sobressaem quais proeminentes alienígenas negociantes e habitantes da Terra.
São indicativos panoramas para uma Nova Era sob as ondas das informações ultrarrápidas e estímulos ao empreendedorismo, cujos efeitos são os surgimentos dos mirins fenomenais que nestes tempos de vida apressada hão faturado alto antes mesmo de completarem a maioridade. Quiçá estejamos diante do convite à solidariedade, inobstante o acúmulo de bens que paradoxalmente poderá diminuir a desigualdade das riquezas.
Além de Mikaila Ulmer, uma das empresárias mais jovens dos EUA, com a criação do BeeSweet Lemonade, comerciando 360 mil garrafas de sua limonada por ano em lojas sofisticadas, como a rede de supermercados Whole Foods, listamos aqui outros empreendedores mirins da Nova Era. É o caso de Pixies Bows, responsável pela loja virtual Pixies Bows, onde vende laços e tiaras, os dois acessórios mais marcantes de seu estilo. As peças estão à venda entre US$ 15 e US$ 24 (R$ 45 e R$ 72).
Lembramos de Charlis Crafty Kitchen de 8 anos que já virou uma celebridade na internet e fatura cerca de US$ 128 mil com vídeos em que ensina receitas. Outro fenômeno é o pequeno Evan que desde 2011 faz vídeos no YouTube. Atualmente, seu canal EvanTubeHD já tem mais de 1 bilhão de visualizações e 1,3 milhão de assinantes e fatura mais de US$ 1 milhão.
Outro exemplo é Rachel Zietz, de 18 anos que detém marca para vender equipamentos esportivos. A jovem lançou sua empresa, a Gladiator Lacrosse, e já faturou mais de 1 (um) milhão de dólares.
Noa Mintz tinha apenas 15 anos e já faturava cerca de US$ 500 mil por ano. Sua empresa cobra uma taxa de US$ 5 por serviço de baby-sitter arranjado e uma taxa de 15% sobre o primeiro salário das babás, que varia entre US$ 64 mil e US$ 100 mil por ano.
Seguramente teremos que aprender a conviver com a pós-modernidade considerando a presença do capital e o consumismo licenciosos, da difusão de conhecimento e tecnologia avançada apressando a automação da vida terrestre, da carência de valores morais, da extenuação dos sistemas de ideias, do desalento dos vínculos afetivos e do egocentrismo acentuado.
Eis aí algumas particularidades da Nova Era que ainda suscitam incertezas de um porvir de um planeta mais pacífico e fraterno. Todas essas mudanças velozes de empreendimentos precoces e as crises presentes nas inquietas esferas sociais indiciam a (pré)construção do mundo de regeneração, que não poderá ser regido pelo convite materialista ainda vigente em nosso atual estágio evolutivo.
A geração da Nova Era, encarnada ou em via de encarnar, neste período sensível de mudanças paradigmáticas, obviamente traz uma bagagem moral e intelectual específica do mundo extrafísico e tem ciência sobre a sua fascinante incumbência de tomar as rédeas desse patrimônio civilizacional em nome de um multiculturalismo econômico às vezes insano.
Sim, geração que deve estar comprometida com missões diferentes para o bem coletivo, com o desígnio de agenciar as transformações imprescindíveis que estão antevistas na Lei do Progresso.
Deste modo, não estamos diante de uma geração de seres perfeitos para gerar uma revolução prodigiosa na Terra, mas tão somente de Espíritos mais experientes nas diversas (re)encarnações terrestres que, mais perspicazes e ilustrados, esquadrinham um indulto na consciência com vista a edificação do amanhã brilhante, cientes de que, sem o enriquecimento moral por meio da observância da Lei de amor, justiça e caridade, será impraticável a concretização do mundo de regeneração.
* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

Vozes interiores reflexões - Receber é sempre mais...


Como o WhatsApp mobilizou caminhoneiros, driblou governo e pode impactar eleições

Amanda Rossi
Da BBC Brasil em São Paulo

Depois de uma insurreição popular convocada por SMS em Moçambique, em 2010, da Primavera Árabe difundida pelo Twitter no Oriente Médio, em 2011, e das manifestações brasileiras de junho de 2013 impulsionadas pelo Facebook, chegou a vez do WhatsApp ocupar o protagonismo na organização de uma mobilização.
A greve dos caminhoneiros, que interditou milhares de trechos de rodovias em todo o país ao longo de dez dias, é a maior mobilização mundial já feita pelo WhatsApp, dizem Yasodara Córdova, pesquisadora da Escola de Governo de Harvard, nos Estados Unidos, que estuda como os governos lidam com a Internet, e Fabrício Benevenuto, professor de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pioneiro na pesquisa de conteúdos compartilhados em grupos de WhatsApp. "A mobilização ocorre por motivos sociais. As redes dão uma vazão a esses sentimentos", diz Yasodara.
"Na quarta-feira antes da greve, o (preço do) diesel aumentou. Desci para Santos para levar carga. Quando voltei, o diesel já tinha aumentado. Na sexta, aumentou de novo. A galera se comunicou no WhatsApp e falou: não está dando mais", lembra o caminhoneiro Moisés de Oliveira, que ficou parado na Rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo, onde ajudou a organizar um grupo de grevistas, sempre com o celular à mão.
A essência do trabalho do caminhoneiro é circular. Isso facilitou que as mensagens se espalhassem rapidamente por diferentes pontos do Brasil. "A gente viaja o Brasil inteiro e vai conhecendo outros caminhoneiros. Quando chega no posto para dormir, a gente conversa, troca o (número de) WhatsApp. Aí, quando chegou a greve, já havia vários grupos montados e a gente distribuiu a informação", diz Oliveira, de 40 anos, 22 anos deles passados atrás do volante do caminhão.
"O Whatsapp facilitou demais a nossa comunicação. Antes, a gente era desconhecido (um do outro). Agora, o pessoal faz um vídeo e, em dois minutos, já espalhou pelo Brasil", completa. "A gente não é envolvido com partido político nenhum. Mas a gente tem a nossa logística".
Na última quinta-feira, apesar de já não haver mais pontos de interdição nas estradas, segundo a Polícia Rodoviária Federal, os apelos pela continuidade da greve não haviam parado de circular pelo WhatsApp. Eram desde pedidos para caminhoneiros irem até Brasília, para que ficassem parados em casa, até convocações de protestos nas cidades.

Conversas fechadas, criptografadas, sem rastro e em pirâmide

A comunicação por WhatsApp tem características diferentes das feitas por Twitter e Facebook. Os dois últimos "são como uma via pública, uma praça, onde você abre uma banquinha e as pessoas podem te ver e interagir com você. Já o grupo de WhatsApp é como a sala de jantar da sua casa, não entra todo mundo", exemplifica a pesquisadora brasileira Yasodara Córdova.
Na prática, enquanto postagens públicas no Twitter ou Facebook podem ser vistas por qualquer um e chegar de uma vez só a milhares de usuários, as mensagens de WhatsApp atingem apenas um indivíduo ou os participantes do grupo, limitados a um número máximo de 256 pessoas. Dali, podem ser levadas para outras pessoas ou outros grupos, em uma distribuição em pirâmide.
Além disso, todo diálogo é criptografado - é como se a sala de jantar estivesse bem trancada e só pudesse entrar quem fosse convidado ou tivesse a chave.
Isso faz com que a conversa fique fechada - para acessá-la, só infiltrado. "A comunicação no Whatsapp acontece de maneira mais velada, mais escondida. São grupos relativamente pequenos. E não há registro público, um rastro, porque há essa encriptação", diz Benevenuto.
Além disso, a comunicação é mais difusa. A conversa vai se propagando pelos celulares, sem registro de quem foi a fonte original da informação - seja mensagem em texto, imagem, áudio ou vídeo. Assim, fica mais difícil identificar quem são as vozes mais difundidas e que estão se transformando em lideranças.
Essas características fazem com que a mobilização pelo WhatsApp represente um novo desafio para governos, acostumados a negociar com lideranças de organizações definidas, com logotipo e CNPJ.
"O sindicato é um modelo que está em declínio no mundo todo. Não só em termos de representatividade, mas também em metodologia. No caso da greve dos caminhoneiros, há um pioneirismo da organização do trabalho baseado na internet. É uma espécie de sindicato digital. É possível que no futuro a gente tenha novas formas de mobilização da força de trabalho como essa", fala Yasodara.

Governo foi driblado pela organização dos caminhoneiros

No quarto dia de greve, uma quinta-feira, o governo do presidente Michel Temer fechou um acordo com parte dos representantes de associações e sindicatos de caminhoneiros, se comprometendo a baixar o preço do combustível em 10% por 30 dias. Com isso, anunciou que a greve iria ter uma trégua. Naquele momento, os postos já começavam a ficar sem combustível.
Mas os caminhoneiros organizados pelo WhatsApp não concordaram com a negociação. No aplicativo, seguiram-se mensagens de repúdio às lideranças que negociaram com o governo Temer, além de aúdios e vídeos notificando sobre pontos de paralisação que se mantinham ativos. Nada de acordo, a greve continuava.
"Se não tivesse o WhatsApp, eu creio que o governo já tinha enganado a gente há dias. O governo ia na televisão dizer que a greve acabou. Até um caminhoneiro conseguir se comunicar com outro, já tinha tudo mundo ido embora, tinha acabado a greve. Agora, a gente assistiu a nota do presidente e já passou informação para os grupos de WhatsApp: não acabou não", explica o caminhoneiro Moisés Oliveira.

São Paulo usou o WhatsApp nas negociações

No Estado de São Paulo, foi traçada uma estratégia diferente para negociar com os grevistas. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Marcos da Costa, irmão de um caminhoneiro hoje afastado da profissão, resolveu entrar nas negociações.
"Não era um movimento institucionalizado, respondendo a sindicatos e associações. Eram caminhoneiros que se esgotaram com o aumento do preço dos combustíveis e começaram a parar (de rodar). A comunicação deles por WhatsApp permitiu que se formasse uma onda muito rápida no Brasil inteiro", diz Costa.
Depois da negociação fracassada do governo federal na quinta-feira, Costa pediu que colegas advogados do setor de transportes procurassem identificar quem eram as lideranças dos caminhoneiros parados em São Paulo. Em seguida, no sábado de manhã, mais de 10 delas se reuniram na sede da OAB.
"No começo da reunião, os caminhoneiros pediram para tirar foto e fazer vídeo para compartilhar nos grupos de WhatsApp. Isso viralizou. E serviu para que a gente pudesse ter segurança da capacidade de mobilização daquelas pessoas", fala o presidente da OAB.
Em seguida, foi montado um novo grupo de WhatsApp entre esses caminhoneiros e a OAB. "Esse grupo serviu de preparação das pautas de negociação. Ele canalizava as demandas dos caminhoneiros, porque cada pessoa dessas tinha interlocução com outros grupos de WhatsApp. Era uma rede gigantesca", fala Costa. "Eu não tenho dúvida de que isso fez a diferença. Foi fundamental para abrir a possibilidade de diálogo com aqueles que estavam realmente à frente do movimento".
No sábado à tarde, o grupo de WhatsApp criado pela OAB se reuniu com o governo de São Paulo para negociar a desobstrução das estradas do Estado.
"Ainda durante a reunião, eles (os representantes dos caminhoneiros) mandaram mensagens de WhatsApp para a base pedindo para liberar (as estradas). Cerca de uma hora depois, vimos pela cobertura da mídia que a liberação estava começando. Foi o diálogo por WhatsApp que permitiu a primeira liberação de rodovia", comenta o advogado. O movimento dos caminhoneiros em São Paulo não acabou ali, mas de fato começou a diminuir.
Ainda no sábado, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, esteve em São Paulo para participar das conversas com o grupo paulista, tomar conhecimento das pautas e tentar tirar as negociações de Brasília do limbo.
"A greve mostrou que vamos ter que criar mecanismos para dar conta de demandas apresentadas de forma completamente diferentes. Tradicionalmente, eram instituições que iam ao governo apresentar suas pautas. Hoje, vemos movimentos líquidos, absolutamente horizontalizados. A partir de agora, os governos vão ter que aprender a lidar com essa nova realidade e aprender a identificar canais que possam servir para diálogo", conclui Costa.

WhatsApp foi a principal forma de contato com a mobilização

A primeira medição da importância do WhatsApp na greve dos caminhoneiros foi feita pelo Ipsos. Na última terça-feira, o instituto de pesquisa entrevistou cerca de 1,2 mil caminhoneiros que usam o aplicativo de cargas TruckPad. Dentre os entrevistados, quase metade (46%) soube da paralisação via WhatsApp.
É mais que o dobro de importância da própria estrada – 18% souberam do movimento sendo parados por colegas enquanto rodavam com o caminhão. O Facebook veio em seguida, informando 8,5% dos entrevistados. Um número ínfimo de 1% foi convocado por sindicato ou associação. Entre os entrevistados, estão tanto caminhoneiros que estavam protestando, como quem ficou em casa ou estava rodando normalmente.
Por outro lado, nem tudo é digital. Entre o grupo mais ativo de caminhoneiros, que continuava parado nas estradas na última terça-feira, o corpo a corpo foi tão importante quanto a mobilização nas redes – 39% tomaram conhecimento da greve na estrada, enquanto outros 39% souberam por WhatsApp e Facebook.
A importância do WhatsApp na greve também fica evidente em um boato que circulou no próprio app, alertando usuários para não atualizarem o aplicativo. Segundo a mensagem, a atualização do WhatsApp teria sido determinada pelo governo federal para inviabilizar a comunicação de participantes da greve. O WhatsApp informou que essa informação não procede.

O dia a dia dos grupos de WhatsApp

Uma vez que a mobilização tinha começado, o WhatsApp foi fundamental para propagar informações, passar mensagens de motivação, angariar apoio e bater de frente com o governo do presidente Michel Temer.
É possível ter um retrato de como isso aconteceu pelo monitor do WhatsApp desenvolvido pelo projeto "Eleições Sem Fake", coordenado por Benevenuto, da UFMG. O sistema acompanha 182 grupos públicos com temática política e seleciona quais são as imagens mais compartilhadas diariamente. É a única ferramenta brasileira que acompanha o que ocorre dentro do WhatsApp - seu uso é restrito a pesquisadores.
Segundo o monitor, um dia antes da greve começar, uma imagem de caminhões parados em uma estrada já estava entre as dez mais compartilhadas do dia: "greve geral pela baixa dos combustíveis, você apoia?". Era o movimento se organizando.
Já na segunda-feira, quando os caminhoneiros começaram a parar as rodovias, a greve foi a temática das cinco imagens mais compartilhadas do dia. Na terça-feira, idem - sendo que uma das imagens fazia um chamado: "caminhoneiros convocam população, sozinho (sic) não conseguiremos".
Na quinta-feira, quando o governo de Michel Temer buscou negociar com lideranças de organizações de caminhoneiros, o topo de compartilhamentos foi uma imagem com a hashtag "SomosTodosCaminhoneiros" e outra com a frase "A greve continua". Também circularam memes culpando o PT pela crise e, no sentido oposto, dizendo que a crise começou porque o PT saiu do governo.
Em seguida, pedidos de intervenção militar passaram a despontar. Já na última terça-feira, quando o protesto dos caminhoneiros já estava perdendo força, os grupos de WhatsApp foram tomados por críticas à baixa adesão da população ao protesto: "Povo tem o governo que merece: reclama ficar 3h na fila do hospital, mas fica 8h na fila do posto de combustível".

Informações reais duelam com fake news

Nesse meio tempo, foram surgindo grupos de WhastsApp de apoiadores dos caminhoneiros, para troca de informações sobre a greve. A BBC Brasil acompanhou seis deles. Em meio a mensagens verdadeiras, circulavam muitas notícias falsas e desatualizadas. Entre elas, vídeos dizendo que manifestantes tinham ocupado Brasília e imagens informando que militares estariam prestes a tomar o poder.
No começo desta semana, foi feito um apelo nos grupos: que os caminhoneiros passassem a informar data, hora e local da mensagem de áudio ou vídeo, já que tudo estava mudando muito rapidamente e era preciso identificar se se tratava de algo novo ou não. Em um dos grupos, criado no dia seguinte à greve, o administrador deletou mais de 200 participantes acusados de promover "fake news".
"A ideia do WhatsApp é a comunicação ponta a ponta. Não tem impulsionamento de mensagens, como no Facebook. Então, a empresa não tem influência no diálogo. São grupos se auto-organizando e repassando essas mensagens", afirma Benevenuto.
É uma via aberta, por onde trafegam os diferentes ideiais de uma sociedade. "Eu me lembro de ver a primavera árabe, em 2011, e pensar: 'as redes sociais vão virar movimento político, vão alavancar a democracia, vão abrir a cabeça das pessoas, não tem como governos autoritários controlarem uma coisa dessas'. E hoje vemos que pode ser usada para qualquer dos lados. Tem pedido de intervenção militar, notícia falsa...", completa o pesquisador da UFMG.

WhatsApp vai ser importante nas eleições de 2018

O WhatsApp, usado por 60% da população do Brasil, já é uma das principais fontes de informação no país. Segundo o Digital News Report de 2017, um estudo sobre o consumo de notícias produzido em conjunto pela Reuters Institute e pela Universidade de Oxford em 36 países, 46% dos brasileiros usam WhatsApp para encontrar notícias.
O número é muito maior do que a média mundial, de 15%, e chamou a atenção dos pesquisadores. No estudo, eles destacaram que o WhatsApp cresceu tanto no Brasil que já está rivalizando com o Facebook - usado por 57% dos brasileiros para encontrar notícias.
"A greve de caminhoneiros aponta totalmente como pode ser o uso do WhatsApp nas eleições de 2018", diz Maurício Moura, pesquisador da George Washington University, nos Estados Unidos, que analisou o uso do aplicativo nas eleições de 2014. Segundo o pesquisador, a tendência é que o debate eleitoral deste ano ocorra muito dentro do app de conversas.
"A rede social das eleições de 2018 vai ser o WhatsApp. Hoje, muito mais pessoas têm smarthphones no Brasil do que em 2014", avalia Moura, que também já trabalhou com campanhas políticas e é fundador da Ideia Big Data, que realiza pesquisas de opinião. "Agora, não tem como fazer campanha no WhatsApp sem números de telefone. Por isso, a primeira estratégia dos candidatos e partidos é coletar números de celular, em eventos, fan pages...".
Mesmo antes da campanha, já há diversos grupos de apoiadores de candidatos, como Jair Bolsonaro. "A tendência é as pessoas se organizarem nos grupos de WhatsApp em torno de candidatos e pautas. Por outro lado, pessoas que querem desestabilizar as campanhas umas das outras também estarão operando nos grupos de WhatsApp com bastante intensidade", acrescenta Yasodara.
O combate às notícias falsas, que se tornou uma grande preocupação desde a eleição de Donald Trump, em 2016, promete ser muito mais difícil no WhatsApp. O Facebook, por exemplo, se comprometeu a não impulsionar páginas que promovam notícias falsas. A rede social pode fazer isso porque funciona como uma mediadora das publicações. Já no WhatsApp, onde não há nenhuma forma de controle externo, isso é impossível.
"Enquanto Facebook e Twitter estiveram sob forte escrutínio nos últimos tempos, o WhatsApp passou um pouco batido. Porém, o app é extremamente utilizado dentro do Brasil. Com toda essa atenção que se deu às outras redes, muito do esforço de campanha política migra para o WhatsApp, onde não há quase nenhum monitoramento", diz Benevenuto, da UFMG.
No WhatsApp, combater notícias falsas e discursos de ódio "é um desafio tão complexo quanto regular o discurso dentro das casas das pessoas", compara Yasodara. "Como a sociedade faz para que os pais não ensinem aos filhos que o nazismo é uma coisa legal? Primeiro, criminaliza o que é ilegal. Segundo, traz cada vez mais informações verdadeiras para o debate público ", opina a pesquisadora de Harvard.
Colaboraram Juliana Gragnani, André Shalders e Felipe Souza
Notícia publicada na BBC Brasil, em 2 de junho de 2018.

Sergio Rodrigues* comenta

Esse fato vem demonstrar a força da Internet e dos aplicativos que ela permite sejam oferecidos aos seus usuários. As rápidas mobilizações a que se refere a notícia são um exemplo claro dessa realidade. Tanto o acontecimento no Oriente Médio quanto as manifestações no Brasil, citadas na matéria, certamente, não teriam o efeito que causaram se dependesse de mobilizações corpo a corpo ou através de meios de comunicações mais tradicionais.
No caso brasileiro, além da rapidez na mobilização, o aplicativo em questão foi também decisivo para surpreender o governo, dificultando uma reação mais eficaz a fim de esvaziar o movimento. Também por esse aplicativo foi possível chegar ao conhecimento público a situação em se encontrava a categoria envolvida. Com o esclarecimento, veio o apoio da população, o que pressionou o governo a buscar uma solução, que, se não foi ideal, contornou de imediato os efeitos da paralisação.
Esse novo meio de comunicação é realmente importante, mas exige responsabilidade de quem dele se utiliza. É imperativo que se avalie as possíveis consequências do que se divulga, principalmente evitando que se transgrida a verdade dos fatos. Como toda novidade que chega para facilitar a vida das pessoas, o aplicativo também pode ser utilizado no bom ou no mal sentido. Do mesmo modo que acontece com uma arma, há que se utilizá-lo dentro da lei, com critério e visando o bem coletivo, pois, do contrário, estará se tornando um mal.
Os Espíritos ensinam que a lei do progresso é uma lei natural, que o torna inevitável. Porém, nem sempre suas duas faces – a inteligente e a moral – caminham juntas. A inteligência vem à frente, porque, inclusive, auxilia o homem a perceber a necessidade de moralizar-se. No caso em questão, a criação do aplicativo denota o progresso da inteligência, no que a civilização impulsiona. A sua utilização no campo do bem e com propostas úteis à sociedade representa o progresso moral, que, certamente, se seguirá.
* Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net