Vanessa Barford & Nomia Iqbal
BBC News Magazine
A abundância de conteúdo pornográfico de
fácil acesso na internet permite que adolescentes sejam expostos regularmente à
pornografia e pode criar nos jovens uma visão distorcida sobre sexo e
relacionamentos.
Não há estatísticas sobre quantas crianças e
adolescentes acessam pornografia pela internet, ou com que regularidade. Também
não existem provas conclusivas de que o comportamento sexual dos adolescentes
esteja mudando.
No entanto, pesquisas nos últimos anos indicam que
um número expressivo de crianças e adolescentes têm acesso à pornografia
frequentemente por meio de novas tecnologias.
Um levantamento na União Europeia (UE), por
exemplo, concluiu que 25% dos jovens com idades entre 9 e 16 anos já tinham
visto imagens de cunho sexual. E em 2010, uma pesquisa na Grã-Bretanha revelou
que quase um terço dos jovens com idades entre 16 e 18 anos havia visto fotos de
natureza sexual em celulares, na escola, mais de uma vez por mês.
A National Association of Head Teachers
(Associação Nacional de Diretores de Escolas) da Grã-Bretanha está fazendo uma
campanha sobre o impacto da pornografia com o objetivo que crianças e
adolescentes sejam educados de maneira apropriada à idade.
A ideia é que o currículo escolar nacional para
alunos com dez anos de idade inclua aulas sobre como usar a internet de forma
segura e alertas sobre conteúdos não apropriados. Adolescentes estudariam o
assunto de forma mais aprofundada.
"As crianças estão crescendo em um mundo
abertamente sexual e isso inclui acesso fácil à pornografia na internet, então,
elas precisam de recursos para lidar com isso", disse um consultor em políticas
educacionais, Sion Humphreys.
O que preocupa os educadores é a possibilidade de
que os jovens sejam influenciados, na adolescência e na vida adulta, pela
pornografia que viram.
A publicitária e empresária Cindy Gallop criou um
site que compara "o mundo pornográfico" com "o mundo real" do sexo.
Gallop, que em 2009 fez uma palestra para uma
série de conferências sobre o tema, disse que "a presença por toda parte e a
liberdade de acesso à pornografia na internet, aliada à uma sociedade que reluta
em falar sobre sexo" resultou no seguinte: "Pornografia tornou-se a educação
sexual padrão, por falta de uma outra opção".
Ponto de
Referência
Em entrevista à BBC, a adolescente Rebecca, de 17
anos, disse que a pornografia muda as expectativas dos meninos em relação à
aparência das meninas. "Cabelo comprido, peito grande, bumbum grande",
citou.
Um colega da classe de Rebecca, Femi, disse que a
pornografia também preocupa os meninos.
"Talvez você não esteja alcançando fisicamente
aquele padrão que a pornografia te apresenta", disse.
Karan, hoje com 20 anos, disse que, quando tinha
16, seu namorado assistia a pornografia com os amigos "como se fosse um hobby".
Ela contou que, frequentemente, ele assistia a pornografia na presença dela,
imitando o que via.
"Eu achava que tinha alguma coisa errada comigo
porque não gostava".
Na escola e em
casa
Uma pesquisa entre jovens com idades entre 16 e 24
anos feita pela University of Plymouth e pela entidade UK Safer Internet Centre
- que trabalha para tornar a internet mais segura - revelou que um em três
entrevistados admitiu que a pornografia afetou seus relacionamentos.
E dados do serviço telefônico dedicado às crianças
britânicas, ChildLine, mostram que, no ano passado, houve um aumento de 34% no
número de ligações feitas por adolescentes afetados por imagens sexuais que
haviam visto na internet.
Apesar desses indícios, profissionais e pais não
conseguem chegar a um acordo sobre como resolver o problema.
Leonie Hodge, da ONG Family Lives - que já deu
aulas a 7 mil estudantes sobre o tema -, disse estar convencida de que crianças
precisam aprender a diferença entre pornografia e realidade.
"Adolescentes são bombardeados com pornografia
desde pequenos, você não consegue escapar disso. É uma arrogância acharmos que
eles não são capazes de lidar com isso".
Nos cursos da ONG, jovens discutem como reagiriam
ao receber imagens indecentes e como se sentiriam se entrassem em contato com
material pornográfico.
A National Union of Teachers, no entanto, acha que
falar sobre pornografia nas aulas é ir longe demais - a não ser que os próprios
alunos toquem no assunto.
Outros, como a publicitária Gallop, advogam a
importância do papel dos pais.
"O segredo é não ficar com vergonha, ou dizer
coisas do tipo 'meninas de família não fazem isso'", disse. "E não importa se a
criança não der ouvidos, o importante é manter os canais de comunicação
abertos".
A fundadora do site Netmums, de apoio a mães,
concorda com Gallop, mas argumenta que a questão não é tão simples.
Siobhan Freegard disse que muitas mães entram em
pânico quando encontram pornografia no computador dos filhos.
"Esse pode ser um campo minado", explicou. "Muitos
não sabem o que fazer ou o que dizer. Por exemplo, uma mãe solteira pode ter
dificuldade em conversar com filhos adolescentes, pais solteiros podem ter
dificuldade em abordar o tema com as filhas. Em casas mais tradicionais, talvez
sexo sequer seja discutido".
"A solução ideal é que escolas e pais trabalhem
juntos", propõe.
Notícia publicada na BBC Brasil, em 7 de novembro
de 2012.
Breno Henrique de Sousa*
comenta
Banalização do Sexo
Os movimentos pela liberação sexual, ocorridos a
partir da década de 1960, foram uma reação a séculos de repressão sexual,
sobretudo pela repressão à sexualidade da mulher. Sexo sempre foi tabu e
continua sendo. Paradoxalmente, as reações de liberação levaram ao extremo da
vulgaridade e banalização. O festival musical de Woodstock que aconteceu em 1969
nos Estados Unidos foi também um símbolo da liberdade sexual e influenciou a
juventude no mundo, formando uma geração que se libertaria das amarras
moralistas que enclausuravam o sexo.
A repressão nunca foi um instrumento eficaz para
educar o ser humano. Ela pode reprimir e inibir o ser humano, mas nunca educá-lo
e transformá-lo realmente. Ainda pior é o fato de que a repressão gera uma
espécie de atração mórbida pelo objeto proibido. É da natureza humana projetar
seus anseios e insatisfações em coisas inalcançáveis, é uma forma que o
inconsciente encontra de sabotar a própria felicidade pondo-a em lugar
indisponível e tirando a atenção para as coisas que proporcionariam resultados
perenes. Mas por que a mente nos engana? Simplesmente porque as atitudes que nos
dão uma real satisfação e plenitude exigem de nós esforços que não estamos
dispostos a pagar. Exigem o sacrifício do ego, dos nossos orgulhos e de nossas
vaidades. É um processo doloroso. É mais fácil buscar um prazer imediato que
disfarce nossa infelicidade. Prazeres fugazes oferecem resultado imediato, mas
que se esvaem rapidamente sem deixar conteúdo nenhum. A reforma íntima traz
resultados permanentes, mas é demorada e os resultados demoram a vir. O ego é
imediatista e não está disposto a se sacrificar.
A repressão sexual foi colocada como causa da
infelicidade humana e se tornou, por isso, o objeto da cobiça humana. A
repressão erotizou o sexo e o retirou de seu lugar de direito, fixando-o
permanentemente na cabeça do homem. Todos só pensam em sexo, de tal maneira que
Freud reconheceu a importância desse departamento como elemento central da
psicologia humana. Chamou a energia sexual de libido e demonstrou como muitos
dos nossos traumas e repressões estão relacionados com problemas em torno da
sexualidade reprimida. Pensam em sexo aqueles que estão reprimidos porque não
podem usá-lo, pois ainda existe a repressão sexual em nossos costumes e
religiões; assim como pensa em sexo os que têm vida promíscua, porque chegam à
exaustão, mas nunca a satisfação plena de seus anseios mais profundos. A
repressão alimenta o erotismo e a pornografia, eles parecem inimigos, mas no
fundo são do mesmo esquema. Sem a repressão as pessoas vivenciariam o sexo
naturalmente, falariam sobre sexo naturalmente e não haveria espaço para o
imaginário erótico e pervertido. Não confie em um moralista repressor, ele tem
qualquer coisa de pervertido.
Quem ganha com esse jogo de repressão / liberação
sexual? Ganham aqueles que descobriram nesse jogo um poderoso instrumento de
adormecimento da consciência. Enquanto o ser humano consome sua energia e
atenção desvirtuando as poderosas energias do sexo, ele permanece letárgico com
relação ao seu despertar espiritual e consciência crítica. O sexo é o mais
poderoso instrumento de manipulação usado pelo mercado consumidor. Pessoas
ansiosas por sexo e inconscientes são consumidores perfeitos que podem ser
facilmente ludibriados com a publicidade que abusa das imagens eróticas e
apelativas, que anunciam que aquele produto é tão bom quanto sexo.
Os pais e as escolas devem urgentemente falar com
seus filhos aberta e sinceramente sobre SEXO. Desmistificá-lo, deserotizá-lo,
explicar que o sexo foi feito para o ser humano, mas o ser humano não foi feito
apenas para o sexo. Revelar todo esse jogo de repressão e banalização. Não são
os filtros de controle familiar que vão impedir seus filhos de verem imagens
eróticas no computador. Eles verão e já estão vendo na escola, nos celulares, na
TV aberta, em todas as partes. Não há como criar uma bolha para salvar os filhos
da exposição erótica, o caminho é desmistificar o nu, despertar a reflexão
crítica sobre as questões sexuais, dizer que sexo é bom e sagrado, tão bom e
sagrado que é através dele que Deus possibilita a coisa mais sagrada que é a
vida. Sexo é vida. Em toda a natureza existe o sexo como uma ação natural de
manifestação da vida e por isso deve ser tratado como um departamento sagrado da
existência humana, que deve ser tratado com respeito, dignidade e
privacidade.
Tratar abertamente sobre sexo não significa tratar
do assunto de maneira vulgar, expondo os filhos propositadamente a imagens
eróticas. Existem pais que mostram aos seus filhos homens imagens eróticas com
medo de que se tornem homossexuais; outros decidem iniciar a vida sexual de seus
filhos homens levando-os a prostíbulos logo que atingem à puberdade. Atitudes
irrefletidas que sempre levam à erotização ou mesmo geram traumas. O Espiritismo
trata do assunto de maneira aberta e respeitosa, muitos livros e conferências no
meio espírita abordam esse assunto de maneira lúcida e esclarecedora. Sobretudo
os pais espíritas e evangelizadores devem munir-se desse conhecimento a fim de
atender às demandas do mundo atual para que as próximas gerações não se
encontrem reprimidas ou escravas desse desequilíbrio.
* Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em
Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade
Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há
mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.