sábado, 18 de novembro de 2017

'Tenho medo do meu vizinho': crimes de ódio em alta nos EUA de Trump têm minorias como alvo

Valeria Perasso
Repórter especial do Serviço Mundial da BBC


"Ei, idiota... a eleição acabou... você perdeu de todos os lados", dizia a carta que chegou à caixa de correio de John Gascot. Também acusava ele e seu marido de viverem em uma "casa gay", decorada com uma bandeira de arco-íris para "provocar estranhos". A correspondência era anônima.
"Eu estava com raiva (do resultado da votação). Minha primeira reação foi pintar a minha casa com as cores do arco-íris. Foi um ato de covardia", diz Gascot, que é artista e membro ativo da comunidade LGBT no Estado americano da Flórida.
Três anos atrás, ele se mudou com seu companheiro de 20 anos para o bairro onde vivem em São Petersburgo, na Flórida, e sempre sentiu que "as pessoas eram muito acolhedoras com os vizinhos". Apesar disso, a "carta de ódio" anônima recebida em dezembro, poucas semanas após a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, os deixou em alerta.
"(A carta) era de um vizinho, alguém que nos vê diariamente, porque detalhava a que horas nosss luzes se acendiam e se apagavam, quando nós levávamos nosso lixo para fora, quando colocávamos a decoração de Natal", diz Gascot. Na época, o casal ainda tinha um poster "Vote em Hillary Clinton" no jardim.
"Nós queremos viver com medo dos nossos vizinhos? Há definitivamente um elemento de medo. Nós consideramos nos armar para nos proteger."
A história do casal é apenas uma de muitas. São Petersburgo é lar de uma comunidadde LGBT vibrante, e estão se multiplicando ameaças relacionadas à discriminação. Na verdade, atitudes desse tipo estão se tornando mais frequentes em todo o país, somando 11% de todos os "crimes de ódio".
Muitos - tanto observadores como vítimas - culpam o clima político atual nos Estados Unidos por essa escalada do ódio. "Desde as eleições, as pessoas sentem-se encorajadas a manifestar seu ódio ou desagrado", diz Gascot. "(Os republicanos) fizeram uma campanha baseada no medo. Então, como algo assim não iria ocorrer?"

Dois dígitos

No fim de semana passado, confrontos em uma manifestação de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, chocaram os Estados Unidos - e o mundo - em um dos episódios recentes mais violentos no país. Uma mulher foi morta quando um carro avançou sobre pessoas que participavam de um protesto antirracista.
Crimes de motivação ideológica estão em destaque nos Estados Unidos desde a vitória de Trump, em novembro de 2016. Um estudo do Centro para Estudo de Ódio e Extremismo, da California State University, aponta um aumento de dois dígitos no número de casos em muitas regiões metropolitanas no ano passado - uma tendência que parece continuar em 2017.
Na cidade de Nova York, esse aumento foi de 24%, o maior em mais de uma década. Em Chicago, de 20%. Na Filadélfia, de 50%. Em Washington, de 62% - o mais acentuado entre as 25 maiores cidades pesquisadas.
A lista de ocorrências vai de ataques físicos a grafites racistas, depredação de sinagogas e cemitérios judeus, insultos contra imigrantes e afro-americanos. Abusos contra muçulmanos, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros contribuem muito para esse crescimento.
Apesar das conclusões do estudo serem preliminares e parciais - alguns Estados não forneceram dados -, elas permitem vislumbrar uma tendência que também foi observada por outras pesquisas.
A Liga Anti-Difamação relata, por exemplo, que o número de incidentes antissemitas quase dobraram no primeiro trimestre de 2017. Outros especialistas falam em um aumento de 106% nos episódios de ódio nas escolas.

'Ódios Unidos da América'

Ânimos inflamados durante a campanha presidencial, que foi marcada por temas raciais, bem como uma disposição das vítimas de não recuarem podem estar por trás do aumento, segundo pesquisadores.
Ao destacar temas como raça, religião e nacionalidade, o tom da última campanha presidencial americana pode ter influenciado os crimes de ódio, levando à ação "indivíduos de motivações diversas, desde fanátivos hardcore até aqueles que apenas buscam uma emoção", opina o diretor do Centro de Estudo do Ódio e Extremismo, Brian Levin.
O pesquisador não está sozinho ao apontar uma relação entre as explosões de violência e a retórica polarizada de Trump - apesar de não haver prova estatística de uma correlação entre os dois fatores.
"Ódio e extremismo ganharam muita atenção", escreve Benjamim Henning, professor de Geografia da Universidade da Islândia e pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido. "A eleição de Trump também se deve a sua retórica, que aproximou extremistas de direita dos Estados Unidos."
Um estudo realizado três meses após o dia da eleição americana oferece mais evidências de uma espécie de "efeito Trump". O Southern Poverty Law Center (SPLC), organização que monitora extremistas nos Estados Unidos, contabilizou 1.094 incidentes de ódio entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017, como parte do projeto #ReportHate (denuncie o ódio, em inglês).
Destes, 37% se referiram abertamente a Trump, seus slogans de campanha ou políticas. Outro esforço de rastreamento do site de notícias ThinkProgress aponta que esse número seria de 42%. O fato de que diferentes organizações americanas sentem que há uma necessidade de uma base de dados de crimes de ódio é um sinal dos tempos.
O SPLC foi fundado por advogados de direitos humanos para monitorar grupos supremacistas brancos como a Ku Klux Klan, mas depois ampliou seu alcance. Agora, mapeou todos os grupos de ódio nos Estados Unidos: eram 917 em atuação no país em 2016. Dois anos antes, eram 784. O Estado da Califórnia (79) tem o maior número, seguido pela Flórida (63).
O SPLC também está construindo um mapa de crimes de ódio, no qual Califórnia, Nova York e Texas concentram o maior número de incidentes.
Os crimes de ódio são difíceis de rastrear. O FBI, que deveria acompanhar essas ocorrências, computa certa de 6 mil casos anualmente. Mas um relatório do Escritório de Estatísticas de Justiça, de junho, estima 250 mil. Por que essa diferença?
Uma das razões, dizem os especialistas, é que as agências legais não têm de se reportar ao FBI. Então, os números do FBI podem estar desatualizados. Além disso, 46% das vítimas não procuram a polícia.
"Incidentes de ódio não parecem seguir um padrão único, todas as minorias são afetadas", afirma Heidi Beirich, diretor do Projeto Inteligência do SPLC. Alguns tipos de crimes, Beirich afirma, são mais subestimados que outros.

Números contestados

Em um ambiente polarizado, não chega a ser uma surpresa que alguns desses números sejam contestados e que algumas vozes críticas rejeitem a ideia de que exista um pico de crimes de ódio nos Estados Unidos de Trump.
Eles argumentam que a proliferação de grupos de ódio é um fenômeno que começou antes da candidatura do atual presidente - na virada do século, motivada em parte pela rejeição da imigração latina e por projeções demográficas que mostravam que os brancos deixarão de ser maioria nos Estados Unidos a partir de 2040.
Consequentemente, afirmam, não se pode afirmar que um aumento nas taxas de crimes de ódio resultem do discurso inflamado da campanha de Trump.
Na verdade, os números atuais de grupos de ódio em atuação, medidos pelo SPLC, estariam abaixo do recorde registrado em 2011.
Além disso, o SPLC tem sido criticado por ter ido longe demais na classificação de grupos e indivíduos como extremistas. E também por não ter dados históricos suficientes que mostrem se a tendência de crescimento apresentada é de fato sólida.
Outros dizem que os ataques contra minorias têm ocorrido em grandes números há muito tempo - sem que ninguém estivesse observando ou contando. O movimento ativista "Black Lives Matter" (vidas negras importam), por exemplo, afirma que os negros são vítimas "regularmente, diariamente".
"Enquanto o presidente (Trump) e seus conselheiros contribuem significativamente para a falta de segurança que os negros vivenciam e são responsáveis por incríveis danos infligidos em comunidades negras, há sintomas de que a supremacia branca e a xenofobia são inimigos muito maiores do que um governo", escreveu o movimento em um post no Facebook, depois dos confrontos violentos em Charlottesville, sábado passado.
Então, se trataria apenas de uma maior cobertura da mídia sobre os crimes de ódio? Alguns acreditam que sim: vozes conservadoras acusam a mídia tradicional, bem como organizações à esquerda, de estarem "exagerando".
"Os chamados crimes de ódio são, em muitos casos, exagerados e até mesmo falsificados por indivíduos e uma mídia cúmplice", escreveu o controverso jornal American Free Press, que já foi criticado por ter conteúdo racista e ultranacionalista.
O pesquisador Brian Levin não concorda. "Eu não acho que a gente possa explicar o aumento (no número de crimes de ódio) pelo aumento da cobertura da mídia", afirma.
Mais numerosos e mais visíveis, os crimes de ódio também têm inspirado uma contrarreação na sociedade. Redes de apoio cresceram em alguns bairros de minorias. O SPLC publicou um "guia de resposta da comunidade", com alguns conselhos práticos: pegue o telefone, assine uma petição, pesquise sobre seus direitos...

O artista John Gascot sentiu a necessidade de "transformar algo feio em algo legal", depois de receber a carta de ódio anônima. Decidiu realizar um workshop gratuito para jovens LGBT, para oferecer um espaço seguro para estudantes que geralmente são marginalizados e têm medo de se expressar.
"A arte ajuda, mas não se trata apenas de arte. Se trata de ajudá-los a se sentirem confortáveis a serem quem são, oferecendo às gerações futuras aquilo que nós não tivemos", comenta Gascot.
"Essa eleição tirou muita gente da complacência. E isso é positivo, apesar de tudo."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 20 de agosto de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Levando em consideração essa matéria, nos deixa bem claro o potencial do preconceito.
O preconceito é um habito extremamente primitivo que demonstra ainda o atraso da nossa sociedade.
Temos hoje preconceitos de diversos tipos, como: cor de pele, intolerância religiosa, nível cultural, forma física, entre outros.
A Doutrina Espírita é uma religião científico-filosófica que nos elucida, nos conscientiza que somos responsáveis pelos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes. É de nossa inteira responsabilidade efetuar os esforços necessários, através da vontade firme, do exercício do pensamento positivo, construir um “eu” melhor, e, para isso, reencarnamos quantas vezes forem necessárias para alcançarmos a nossa meta que é a perfeição relativa.
Não temos ainda a capacidade de compreender a natureza humana. Em vista disso, temos duas situações a considerar. A primeira é que cada pessoa reage de um jeito particular às ações de outrem segundo aquilo que aprendeu na vida atual, e além dela; cada indivíduo é um universo muito particular, com sua própria história, com suas pendências, limitações, necessidades e capacidades. Assim, o amor, o ódio, o carinho, a agressividade, cada sentimento que trazemos em nós depende do que fomos capazes de colher durante nossa trajetória.
Todos nós somos filhos de Deus, com iguais possibilidades de crescimento e donos do nosso destino, pois o Pai quando nos criou nos deu o livre-arbítrio para que as escolhas do caminho fossem nossas; não nos criou para sofrer, mas nossas escolhas fazem-nos encontrar pedras e espinhos em nossa estrada, provocando sofrimentos e angústias dolorosas. A responsabilidade da colheita é nossa, pois só colhemos o que plantamos. No entanto, se Deus nos possibilitou a consciência da responsabilidade, também mostrou a solução para os equívocos praticados por nós.
Vejamos com atenção, este Espírito Joanna de Ângelis, que nos confirma no Livro “O Despertar do Espírito”, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco:
“O crescimento interior é, definitivamente, a grande meta a que devem aspirar todos os seres humanos. As heranças negativas que o agrilhoam aos transtornos psicológicos e sentimentos perturbadores fazem parte do seu processo evolutivo, mas não devem permanecer enquanto se realiza, lutando pela conquista de mais elevados propósitos de emancipação emocional e espiritual.”
A vida é luta e ela nos levará ao encontro de nós mesmos.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IX, item 9, um Espírito Protetor, falando sobre a cólera, tece as seguintes considerações:
"O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? - Entregais-vos à cólera.
Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.
Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.
Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se pela dominar. O espírita, ao demais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. - Um Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)"
Todos os espíritos sentem ou sentiram amor, raiva, ódio, alegria, inveja, medo, paixão, ciúme, entre outros, porque todos eles fazem parte da natureza humana. À medida que o espírito progride, vai se desligando da matéria e estes sentimentos materiais não o influenciam mais.
A vida é intenso processo de desenvolvimento intelectual e moral, de construção e fortalecimento do amor e da caridade em nossos corações. Portanto, não vacilemos na certeza de que Deus conhece as nossas necessidades e as provê, conforme for necessário. Ele disponibiliza a cada um de nós e que são necessários para que se consiga superar os problemas. Estes recursos são: o amor, a boa vontade, a fé, o trabalho, a organização, enfim, tudo de que o Espírito precisa para se realizar e encontrar a paz.
* Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ERJE - Encontro Regional de Jovens Espíritas - Tema central: Sexualidade:energia do amor


Gincana da Juventude Espírita do Amapá


Estudo dirigido: O Evangelho segundo o espiritismo

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EESE – Cap. XXIII – Itens 4 a 8
Tema: Abandonar pai, mãe e filhos
          Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos
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A - Texto de Apoio:
Abandonar pai, mãe e filhos

4. Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XIX, v. 29.)

5. Então, disse-lhe Pedro: Quanto a nós, vês que tudo deixamos e te seguimos. -Jesus lhe observou: Digo-vos, em verdade, que ninguém deixará, pelo reino de Deus, sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos - que não receba, já neste mundo, muito mais, e no século vindouro a vida eterna(S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 28 a 30.)

6. Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não esta apto para o reino de Deus. (S. LUCAS, cap. IX, vv. 61 e 62.)

Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era, evidentemente, este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas", porque esse pensamento está de acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a ideia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina.
Não temos, aliás, sob as vistas a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições de família aos da Pátria? Censura-se, porventura, aquele que deixa seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, para marchar em defesa do seu país? Não se lhe reconhece, ao contrário, grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever? E que, então, há deveres que sobrelevam a outros deveres. Não impõe a lei à filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo? Formigam no mundo os casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem a solicitude do filho para com os pais, nem a ternura destes para com aquele. Vê-se, portanto, que, mesmo tomadas ao pé da letra, excetuado o termo odiar, aquelas palavras não seriam uma negação do mandamento que prescreve ao homem honrar a seu pai e a sua mãe, nem do afeto paternal; com mais forte razão, não o seriam, se tomadas segundo o espírito. Tinham elas por fim mostrar, mediante uma hipérbole, quão imperioso é para a criatura o dever de ocupar-se com a vida futura. Aliás, pouco chocantes haviam de ser para um povo e numa época em que, como consequência dos costumes, os laços de família eram menos fortes, do que no seio de uma civilização moral mais avançada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. A própria separação é necessária ao progresso. Assim as famílias como as raças se abastardam, desde que se não entrecruzem, se não enxertem umas nas outras. E essa urna lei da Natureza, tanto no interesse do progresso moral, quanto no do progresso físico.
Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida. (Cap. IV, nº 18; cap. XIV, nº 8.)

Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos

7. Disse a outro: Segue-me; e o outro respondeu: Senhor, consente que, primeiro, eu vá enterrar meu pai. - Jesus lhe retrucou: Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reino de Deus. (S. LUCAS, cap. IX, vv. 59 e 60.)

8. Que podem significar estas palavras: "Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos"? As considerações precedentes mostram, em primeiro lugar, que, nas circunstâncias em que foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar seu pai. Tem, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais completo da vida espiritual podia tomar perceptível.
A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho ensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida.

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 - Na passagem “Abandonar pai, mãe e filhos”, qual é o pensamento fundamental, segundo a explicação de Allan Kardec?
2 - Qual o significado de “Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos”?
3 - Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique. 

Livro em estudo: Grilhões Partidos - B006 – Capítulo 3 – Penosas Reflexões

Livro em estudo: Grilhões Partidos – Editora LEAL - 1974
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

B006 – Capítulo 3 – Penosas Reflexões

Capítulo 3
Penosas Reflexões

Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há-de ser anterior a essa vida, isto é, há-de estar numa existência precedente”. “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” — Capítulo 5º — Item 6.

Sem dúvida, para o Coronel Constâncio e Senhora, o desequilíbrio que vítimava Éster significava inominável tragédia.
Logo passados os terríveis primeiros dias, em que a surpresa conseguira obliterar a lógica do raciocínio ante os acontecimentos, adveio a intolerável adaptação à realidade: Éster enlouquecera e o processo que a aturdia se caracterizava por parcas possibilidades de recuperação. O fantasma do desespero rondava, portanto, a família vencida, em prostração moral indescritível.
O tempo transcorria lento, traumatizante, desanimador. O especialista encarregado de assistir a jovem não ocultava a estranheza, face ao comportamento inusitado da enferma. O quadro clínico era desalentador, tal o desgaste orgânico de que se via objeto.
Atendida pelo eletrochoque, após a convulsão e o repouso, não retornava à lucidez, como seria de desejar, por um momento sequer. À prostração sucedia, surpreendentemente, maior tresvario.
A jovem, de lábios de mínio, jamais proferira expressões obscetas, pois fora educada com refinamento, sem maior condicionamento inconsciente de vis palavras, agora estorcegava, maquinal, verbetes infelizes para esbordoar moralmente o genitor, qual se estivesse dominada por ignominiosa força inteligente que a governava, desgovernando-a.
Na literatura psiquiátrica que compulsara — refletia o esculápio — a paciente não tinha menecma, era especial, porqüanto mudava de características a todo instante, como se voltivoando em personalidades estranhas.
Reagia à convulsoterapia de forma negativa, e a terapêutica do sono não conseguira o êxito cobiçado. Recusava-se à alimentação como se estivesse com a boca impedida, fazendo-se mister obrigá-la a alimentar-se contra sua vontade.
As terapias várias naquele primeiro mês foram inócuas, quando não se fizeram perniciosas.
Após conferenciar com eminente colega, terminou por confessar ao senhor Coronel o próprio embaraço que, todavia, não significava receio ou fracasso.
Pacientes havia que somente apresentavam os primeiros sinais de melhora depois de longo tratamento realizado através dos meses.
A providência em apresentar honestas informações, justificava como salutar medida para impedir a inquietação crescente e a vã expectativa dos genitores por uma pronta, imediata recuperação da enferma, o que estava sendo improvável.
A realidade é que o problema psíquico de Ester se enquadrava noutra diagnose, dificilmente constatada pelos métodos tradicionais do agrado puro e simples do academicismo dos que se permitem a fatuidade, evitando o aprofundamento nas questões que dizem respeito à vida espiritual, à sobrevivência ao túmulo, à obsessão!
Com esse adicionar de preocupações e sob a torpe desventura da incerteza quanto à restauração mental da filha, o senhor Coronel fez-se taciturno, arredio, transformando-se em inditoso sofredor.
Intimamente não podia aceitar a conjuntura que o alcançava, absurda sob qualquer ângulo que examinada.
Homem íntegro, sua vida era uma excelente folha de serviços à Pátria e à Arma a que se dedicara, aliás com excessivos zelo e pudicícia.
Desde jovem cursara a Academia Militar, onde formara com rigidez a personalidade, o caráter, disciplinando a vontade com férreo esforço. Amante da verdade, tornara-se defensor do direito, da justiça, da lealdade.
Cultor das amizades relevantes, sabia distinguir afeições e deveres, sem perturbar-se com as questões de pequena monta.
Aos cinqüenta e seis anos de idade podia considerar-se feliz, até à data do infortúnio que o propelira de chofre ao desar... Consorciado em segundas núpcias com dona Margarida Sepúlveda de Santamaria, de tradicional família fluminense, reencontrara a dita que a morte lhe arrebatara, ao falecer a primeira esposa, que lhe não dera filhos, depois da breve enfermidade que a vítimara.
Senhora formosa e sensível poetisa, fora educada em elegante e primoroso colégio carioca, onde auferira invejável cultura. Dedicada aos bons livros, aprimorara aptidões na convivência com a literatura francesa de Montaigne a Molière, a Sartre, de Rousseau, Hugo, Balzac, Saint-Exupéry, de Lammartine, Sainte-Beuve, a Flaubert... Cultuava os seus autores prediletos e os poetas românticos no original. Desde que se consorciara, fizera do lar o agradável tabernáculo dos saraus culturais entre amigos e admiradores do Romantismo, da literatura refinada.
O transe que a vencia dilacerava-a mortalmente. Por mais que reflexionasse não alcançava as matrizes patológicas que justificassem o tormento que excruciava a filha.
Nenhum membro da sua família, até onde alcançava as linhas da árvore genealógica, fora portador de alienação mental de qualquer natureza. O lar sustentava-se sobre admiráveis bases de equilíbrio moral, emocional, econômico, e Ester jamais revelara qualquer traço de desequilíbrio, insegurança, nevrose... Filha extremosa, possuía excelentes qualidades intelectuais de que dava mostras na Escola onde era modelo: amada por todos — mestres e colegas — e cumpridora responsável das tarefas que lhe diziam respeito.
Visitando-a mais de uma vez, não obstante a negativa dos especialistas, alcançara o tentame, apelando para o receio de não suportar a vida sem rever a filha. Assim pudera, a distância, contemplá-la durante a hibernação, desfigurada, sem conseguir deter as lágrimas. Uma dor moral de tal monta convertera-se numa inqualificável dor física que a estiolava de dentro para fora.
Na sua mudez, refletia o Coronel, a seu turno, revoltado, ante a cruel vicissitude em que se sentia emaranhado irreversivelmente.
Um pesadelo! Sim, um pesadelo, considerava a desdita. Acordaria de inopino e reveria o sol dos sorrisos no firmamento do seu lar. Quando se conseguia evadir das férreas garras do sofrimento que se insculpira à brasa no seu cérebro, experimentava ligeira ilusão de que tudo aquilo era irreal.
A filha adorada, sonho transfigurado em fada de perfeição, não poderia estar encarcerada num hospício. Sim, num hospício, embora de alto preço. A vergonha, a hediondez da doença que transforma um ser inteligente num asqueroso animal — isto era inaceitável haver acontecido consigo, pior, com o querubim diretor do céu das suas venturas: a filha!
O homem, que raras vezes umedecera os olhos no fragor da guerra, naqueles tumultuados dias do inverno de 1944 e da primavera de 1945, agora se surpreendia com as lágrimas abundantes, que extravasavam da ânfora do coração sob camarteladas contínuas.
Não poucas vezes, abraçado à esposa, naqueles terríveis silêncios, caminhando pela Avenida, em frente ao mar e sob o zimbório salpicado de estrelas, evadia-se na direção da cela em que delirava, transtornada, a carne da sua carne, o rebento querido da sua vida. Que não daria, por poupá-la a tais sofrimentos!
Enlaçados na mesma dor e braços unidos, caminhavam a sós, vencendo o tempo, soturnamente, e apesar da agitação trepidante da larga e decantada orla perolada em lâmpadas feéricas de Copacabana, estavam sozinhos, fundidos na hedionda sortida da amargura aniquilante.
— Deus não existe! — resmungava, por fim, após as inúteis peregrinações mentais, pelos meandros da lógica materialista.
Todavia, o sabor da ira mal contida e do desespero revoltado mais lhe açodavam o ser extremunhado, na via do combalimento.
O que lhe representava pior, em toda a tresloucada investida da jovem alucinada, é que ele surgia na condição de algoz impenitente, odiento, aterrador...
Desejou vê-la uma única vez para lenir-se um pouco e luarizar a saudade. Ao formular o desejo ao médico, que não aquiesceu como compreensível, veio a saber, a posteriori, que ela lhe adivinhava a cogitação, apresentando-se, então, mais transtornada, mais agressiva... A agitação que a espezinhava não tinha termo. Era lancinante.
— Se ela morrer — arrematava, a concluir os raciocínios intérminos — suicidar-me-ei.
Aliviava-se com esse pensamento pernicioso, acalentando a vã idéia de, na morte, encontrar a cessação da vida e, na desorganização dos tecidos, perder a razão, a lucidez, desagregar o pensamento.
O infortúnio, porém, é mais sombrio e truanesco quando se faz acompanhar dos sorvos contínuos do ácido da revolta; principalmente dessa mal contida aversão ao fato afugente que faz oscilar da apatia à agressividade, gerando um estado de surda, permanente mágoa que é a desatreladora dos corcéis da desgraça real.
O orgulho penetrado pela verruma das Leis inescrutáveis reage, cercando se de espículos envenenados pelo desconforto que a realidade lhe impõe, para colimar no simplismo do autocídio, o cobarde delinqüír que traça a linha inicial das hórridas paisagens que aguardam o infrator que se torna seu sequaz.
O homem forte nos embates externos somente afere as potencialidades quando luta sem quartel nos campos morais em que se consagra vencedor.
Para tais cometimentos, a humildade e a fé constituem os mais hábeis valores de que se pode dispor com êxito, porqüanto portadores da fortaleza indispensável para qualquer situação.
Acostumado às alturas do prestígio e da bajulação requintada, o matrimônio Santamaria não dispusera do imprescindível tempo para as reflexões em torno do sofrimento, que não constitui patrimônio exclusivo da ralé, dos habitantes dos pardieiros imundos onde rebolcam os esquecidos da Terra...
A religião deveria ter-lhe dito que a sua não era uma existência de exceção, na qual somente a glória e o riso possuíssem o condão mágico para o regime permanente. As meditações que não foram experimentadas antes faziam-se indispensáveis, agora, enquanto esperavam sem a convivência da resignação e da paciência.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – A história em estudo se passa entre os anos 1944 – 45. Quem eram o Coronel Santamaria e sua esposa?

2 – De que modo o Coronel Santamaria se comportava diante da enfermidade da filha?

Bom estudo a todos!!

Equipe Manoel Philomeno

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Superando Desafios - Programa 012

OUÇA AQUI - parte 1:



OUÇA AQUI - parte 2: 




Libertação - Programa 020

OUÇA AQUI: 

Memórias De Um Suicida - Programa 020

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Pedagogia Espírita na Educação - PEE - Programa 020 - Selma, Michele E Rosa

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