sábado, 23 de janeiro de 2016

Desenvolva os temas...

Oi, Galera. O texto é meio longuinho, mas vale a leitura e vale ainda mais a reflexão sobre os temas.
Achamos vários temas que poderíamos colocar dentro das orientações que a Doutrina Espírita nos traz.
Aguardamos você nos trazer as considerações e reflexões que o texto trouxe para você.
Beijos e abraços.
 
VENDE-SE TUDO

 No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.

 Texto de Martha Medeiros

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970 - A013 – Cap. 2 – Socorro espiritual – Segunda Parte


Livro em estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970

Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco

A013 – Cap. 2 – Socorro espiritual – Segunda Parte

 
Não havia, porém, tempo para meditações mais amplas.
O Benfeitor Saturnino, em breve alocução, explicou a finalidade da reunião, elucidando que se pretendia tra­zer à lucidez o perseguidor de Mariana para um reen­contro na esfera do espírito, de modo a tentar-se uma conciliação, esperando-se que a Misericórdia Divina amparasse os propósitos do grupo ora reunido.
Os circunstantes se recolheram a profunda medita­ção, conduzidos pela voz pausada e grave do Mentor que se encarregou de orar ao Mestre, rogando-Lhe socorro para o labor em vias de desenvolvimento. Em seguida, aproximou-se do servo vingador e, aplicando-lhe passes de dispersão fluídica, despertou-o, presto.
A Entidade, vendo-se em uso da razão, circunvagou o olhar algo esgazeado e, reconhecendo Mariana ali pre­sente, como se fora tomado de estranho horror, inten­tou precipitar-se sobre ela, brandindo os punhos cerra­dos, com os lábios em rito macabro, dos quais escorria pegajosa substância escura, nauseante. Detido no im­pulso incoercível pelos auxiliares e vigilantes, recorreu aos impropérios violentos, como se desejasse, através das palavras candentes do ódio, conseguir o desforço aca­lentado por muitos anos a fio.
—  Tenho-te procurado — gritou, colérico —, como justiceiro cuja sede de punição se converte em tormento sem nome. Azucrinado, somente há poucos anos con­segui localizar-te, no mesmo antro em que o infame des­truidor da nossa paz reside. Agora que os tenho a am­bos nas mãos, não os deixarei fugir. O meu desforço se fará com terríveis consequências. Eu os farei sofrer comigo as mesmas dores que esta eternidade me tem infligido sem repouso...
Mariana, escutando aquela voz, desejou fugir, de­sorientada, no que foi obstada por Saturnino, diligente.
—  Aldegundes — vociferou o indigitado sofredor
porque me desgraçaste? Que te fiz eu para sofrer o abandono ignominioso e a humilhação que me impuseste diante de todos os nossos amigos? Aldegundes, Alde­gundes, não te dei o amor honrado e puro de um ho­mem trabalhador? Porque me infelicitaste, destruindo minha vida?...
Acompanhando as palavras doridas, lágrimas gros­sas escorriam-lhe abundantes dos olhos. Em choro con­vulsivo prosseguiu:
Construíamos a nossa felicidade entre tantos sa­crifícios e tu, apesar disso, não te apiedaste de mim, arruinando-me sem compaixão! Porquê? Oh! desgraça, não me conformo! Mesmo que escoem todas as eternidades, o teu crime me corroerá dolorosamente. Minha alma dilacerada a cada instante e o meu coração trans­formado em massa de chumbo em brasa perderam a ra­zão de ser, quando meu cérebro vencido por todas as desesperações não consegue senão pensar em vingança... Eu que tanto te amava!... Porque fugiste, louca? Não sabias que a um homem não se engana? Ignoravas que ninguém foge da consciência? Olha-me bem! Vê ao que me reduziste? Olha, olha, infeliz!...
Nominalmente convocada, Mariana desferiu terrí­vel grito e caiu dominada por estranhas convulsões. As­sistida de perto pelos assessores de Saturnino, que a esse tempo amparavam o interlocutor desvairado, to­mou o aspecto de louca e com facies de singular horror, parecendo divagar, contestou:
—  Sim, recordo-me de ti e te odeio, também... Sempre infeliz, que tenho sido e que sou?! Onde estou, agora que desvairo? Porque esses fantasmas que me tor­turam e não me deixam? Porque a morte não me con­some? Oh!...
Gargalhada repulsiva estourou nos lábios da doen­te, como se a razão de todo lhe fosse retirada, enquanto prosseguia:
—  Abandonei-te, sim. Fui amaldiçoada por mim mesma, mil vezes, e te amaldiçoei, também. Todos me amaldiçoaram. De todos nós não sei qual o mais des­venturado. Entretanto, odeio mais aquele que me fez consumir as esperanças de mulher e os sonhos de louca, no triste hospício de Haarlen... Não sabes que voltei a buscar-te? Agora é tarde demais... Não me recordo mais... Não sei... somente sei que agora estou perto dele e hei de fazê-lo pagar. Oh! alucinação, que digo? Onde estou ?...
Nesse momento, Saturnino acercou-se da jovem e lhe falou, bondoso:
—  Estás diante da própria consciência, sem os cre­pes do olvido. Não és a Mariana de hoje, frustrada e inquieta, mas a Aldegundes de ontem, desvairada, sofredora. Aqui estamos todos para responder aos dita­mes da consciência necessitada de reparação...
E quem pretende julgar-me? — interrompeu, irada.
—   Ninguém, minha filha — elucidou, confiante
pretende julgar-te ou examinar sequer os erros alheios, erros que todos temos. Reunimo-nos, no entanto, com o fim de corrigir impressões e estabelecer nova linha de conduta, antes que postergarmos as responsabilida­des para os dias sombrios que nos aguardam.
—   Mas sou infeliz — apostrofou —, ninguém o vê? Sou acusada e ninguém me escuta...
—   Não nos encontramos num tribunal — acudiu, solícito, o Instrutor —, mas num santuário de orações, templo e hospital, sob a orientação de Jesus-Cristo, o Amigo Incondicional de todos nós...
Esbravejando, de inopino, o algoz voltou à carga:
—   Acabemos com a farsa. Sou eu a vítima de to­dos esses cruéis verdugos da minha vida. Quem se atre­ve a interferir em meus problemas? Não necessito de ajudante nem de intermediário. Tenho carpido a dor infernal a sós e não será agora que terei urgência de que alguém me ajude, no momento em que culmino o meu plano com o êxito que logo mais terei. Façam si­lêncio para que eu possa relembrar, a essa espoliadora da felicidade alheia, todo o mal que me fez.
Acercando-se dele, Petitinga envolveu-o em sua ca­rinhosa vibração, enquanto o médium Morais, convidado pelo Instrutor, aplicou passes em Mariana, cuja aflição parecia desequilibrá-la. Envolta em fluídos negros, con­gestionada, praguejava ensurdecedoramente.
Dona Rosa e Amália, devidamente amparadas, em­bora sem compreenderem toda a extensão da ocorrên­cia, oravam em pranto silencioso. Saturnino convidou a genitora a tomar nos braços a filha aturdida, e, en­quanto o fazia, a veneranda mulher banhada de tênue luz cooperava com Morais, conseguindo acalmar a jo­vem, que lentamente recobrou a serenidade.
—  Vamos à verdade — estrondou o acossador de Mariana —, quero a verdade dos fatos. Se aqui estou subjugado por demônios vingadores que ainda não sa­ciaram a sede na minha infinita desdita, apelo para as forças do Dr. Teofrastus para que elas me amparem. Justiça, quero, nada mais! A minha vingança tem a força da minha justiça. Não sou um desalmado: sou um jus­ticeiro que retorna em nome da verdade. Reitero o apelo, portanto, ao Dr. Teofrastus, o meu benfeitor. Onde se encontra ele?
—  Inutilmente — esclareceu Saturnino — você ro­gará auxílio a quem vive à míngua de socorro. O irmão Teofrastus está interditado de penetrar neste recinto. Aqui somente têm acesso aqueles que vêm em nome do amor e os que são carecentes de amor, como você, meu irmão...
—  Recuso seu amor e sua piedade — estrondou, rebelado. — O que desejo...
O que você deseja — disse, sereno, o Amigo Es­piritual — é paz e amor para refazer o que destruiu; infelizmente você não sabe que também tem necessidade de perdão, devendo, antes de tudo, porém, perdoar. Al­degundes fez-se seu algoz, sem dúvida, mas sempre foi sua vítima. Você fala em deserção do lar, em honra masculina... Onde, porém, estão sua honra e sua fide­lidade ao lar? Constituiu-se a mulher apenas instru­mento para a paixão do homem ou somente o veículo do prazer ilusório? E os sentimentos femininos? Que fez você para estancar as lágrimas de soledade que ela experimentava ao seu lado? Quantas vezes parou a es­cutá-la? Que cabedal de tempo lhe ofertou? Desejava dar-lhe uma fortuna, sim, olvidando dar-lhe segurança íntima, assistência afetuosa... Não, meu amigo. Aqui não se defrontam, como você deseja fazer crer, vítima e algoz; enfrentam-se duas vítimas de si mesmas, ilu­didas nos seus loucos ideais terrenos. Os dias da Ne­erlândia passaram; no entanto, encontram-se vivas, en­cravadas na terra das lembranças, as raízes dos erros de todos vocês, erros que necessitam retificados. Pre­pare-se para refazer o caminho, não para aplicar a jus­tiça, justiça de que todos temos necessidade...
—  Então, você conhece — bramiu, provocando com­paixão, o interlocutor, em soluços — o meu drama? Por­que se refere à Neerlândia? Como sabe que eu procedo do Haarlen? Saberá você, que essa mulher...
—  Sim, meu irmão — retrucou, o Instrutor —, eu sei... Da mesma forma, porém, que a lei de Deus está Inscrita na consciência de cada homem, os nossos atos estão gravados em nossa mente que não morre. Conhecemos, sim, a sua história e o drama de Aldegun­des, que você agora deseja destruir, tarefa essa que não conseguirá, positivamente porque o Senhor da Vida já pronunciou o: basta!
—  Mas ela me traiu e me abandonou — baldoou.
—  Sabemos disso — redarguiu. — Mas sabemos, também, que enquanto se preparava o pôlder (1) na Amsterdão setentrional, fascinado pelas perspectivas de adquirir largas faixas de terra para pastagens de gado, não obstante as imensas plantações de tulipas que já possuía, deixava-a quase abandonada, por longos meses, enquanto durou a dessecagem do lago que existia entre Haarlen, Amsterdão e Leida, trabalho esse que durou de 1837 a 1840... Sentindo-se só, inexperiente e sem forças para a luta contra as paixões da própria natu­reza, não resistiu às constantes investidas de Jacob, terminando por deixar-se arrastar ao rio de lama que a conduziu, mais tarde, à loucura...
—  Não me traga à memória — estrilou — o nome de Jacob Van der Coppel, o infame ladrão da minha felicidade. Encontrei-o, também. A princípio tüdo me parecia estranho. Por largos anos eu sentia a presença dele e me sentia ao seu lado, embora as diferenças que apresentava. Estava metamorfoseado... Tudo me era, no começo, irreal, até que fui conduzido ao Dr. Teo­frastus, que me ofereceu excelentes explicações, eluci­dando a volta do bandido ao esconderijo do corpo, en­sinando-me, porém, como eu poderia supliciá-lo e vin­gar-me, o que venho fazendo com verdadeira infâmia...
—  Realmente — acrescentou, Saturnino, sem se per­turbar — Jacob retornou à carne, revestido pela indu­mentária com que agora se identifica por Mateus. O leviano de ontem é o atormentado de hoje, caminhando pela estreita rota da autopurificação... Recebeu nos braços, pelo mesmo impositivo, aquela a quem infelici­tara, e a sua presença é-lhe desagradável suplício. Em­bora não consiga recordar, experimenta as vibrações que lhe são afins, conquanto a aversão que lhe apossa, fa­zendo-o desditoso. Ninguém engana a vida. O código da Justiça acompanha o infrator, nele plasmando a ne­cessidade de ressarcimento legal... Daí a necessidade de aquele que se crê espoliado perdoar...
—  Mas eu não conseguirei perdoar — vociferou o surpreso cobrador. — Tudo aqui hoje são surpresas para mim. Atino com dificuldade o que ocorre e tenho turbado o raciocínio. Quem são os senhores, que me mo­lestam já por segunda vez? Será isso um pesadelo cruel, daqueles que de mim se apossavam anteriormente, quan­do me perdera e me desgraçava nos despenhadeiros da Alucinação...
Em se referindo à região punitiva em que se sur­preendera, após o suicídio nefando, o atônito interlo­cutor se transfigurou repentinamente, e, parecendo so­frer indescritíveis padecimentos, se pôs a debater, cho­rando copiosamente. Vendo-o alucinado, reduzido a condição de escravo de si mesmo, não havia como deixar de crer que todo perseguidor é alguém perseguido em si mesmo e que o vingador é somente um espírito ma­cerado pelas evocações da própria delinquência...
O Assessor de Saturnino, solícito, acudiu presto o indigitado sofredor, aplicando-lhe passes reconfortan­tes, de modo a desembaraçar-lhe a mente dos fantasmas da evocação dolorosa. Depois de demorada operação magnética, em que eram dispersadas as energias venenosas, elaboradas pelo baixo teor vibratório do pró­prio Espírito, este se refez paulatinamente, recobrando alguma serenidade.
A viciação mental, resultante do pensamento vi­brando na mesma onda, gera a idéia delinquente na “psi­cosfera pessoal” do seu emitente, aglutinando forças da mesma qualidade, por sua vez emanadas por Inteligên­cias desajustadas, que se transformam em energia destruidora. Tal energia é resultante do bloqueio mental pela densidade da tensão no campo magnético da aura. Ali, então, se imprimem por força da monoidéia devas­tadora as construções psíquicas que se convertem em instrumento de flagício pessoal ou instrumento de su­plício alheio, operando sempre no mesmo campo de vi­brações mentais idênticas. Quando essas energias são dirigidas aos encarnados e sintonizam pela onda do pensamento, produzindo as lamentáveis obsessões que atin­gem igualmente os centros da forma, degeneram as cé­lulas encarregadas do metabolismo psíquico ou físico, manifestando-se em enfermidades perturbadoras, de lon­go curso...
Por essa razão, felicidade ou desdita, cada um con­duz consigo mesmo, graças à direção que oferece ao pensamento, no sentido da elevação ou do rebaixamento do espírito, direção essa que é força a se transformar em alavanca de impulsão ou cadeia retentiva nas re­giões em que se imanta.
Refeito do distúrbio inesperado, o aflito espiritual inquiriu:
Que se passa? Onde estou? Porque me vejo coa­gido a falar o que não gostaria de informar e a ouvir o que não desejo escutar? Quem são os senhores?
Dando à voz a tônica da bondade que lhe era ha­bitual, Saturnino obtemperou:
Todos estamos, meu irmão, queiramos ou não, na Casa do Pai Celestial. Filhos do Seu amor, deixa­mo-nos arrastar pelas correntes da liberdade espiritual ou naufragamos nas ondas revoltas das paixões, dentro, sempre, porém, de algum departamento do Seu domicí­lio, que elegemos pela própria vontade para nossa ha­bitação. Aqui nos encontramos em um Templo Espí­rita, de socorro aos que já transpuseram o limiar da imortalidade e se acrisolam voluntàriamente à retaguar­da dolorosa, quando poderiam ensaiar os primeiros vôos para mais amplos tentames na vida feliz...
E procurando dar ênfase ao encadeamento das idéias para melhor explicação, esclareceu:
- Cultores das lições de Jesus-Cristo, buscamos palmilhar a rota por Ele percorrida, abrindo braços e corações aos que sofrem e ignoram os meios de se li­bertarem do jugo da desesperação, meios esses que se encontram neles mesmos, jazendo sob os escombros do próprio flagelo que a si se impõem. Trouxemos Alde­gundes, cujo corpo repousa na forma orgânica de Ma­riana, e conduzimos, também, sua genitora, sua irmã e outros companheiros da vida física, para examinarmos à luz do amor de Nosso Pai para conosco o amargor que o torna infeliz, procurando diminuir a intensidade das causas de tal mortificação.
Fez uma pausa - breve, espontânea, para considerar o efeito produzido pelas palavras no perseguidor de Ma­riana.
A jovem, por sua vez, docemente envolvida pela ge­nitora que parecia transfigurada em madona esplendente de ternura, graças às supremas dores suportadas com amor e resignação, escutava, raciocinando com dificul­dade compreensível, atenta, porém, à explanação.
—  Pelo que depreendo — rugiu o neerlandês —isto é um complô para fazer-me desistir da execução da justiça que tenho aguardado.
—  A justiça — retrucou Saturnino — alcança o infrator sem a necessidade de novo algoz. As divinas leis dispõem de recursos reparadores, ante as quais nada fica sem a necessária quitação. Jesus...
—  Jesus, Jesus — arrebatou — deixou-se marti­rizar...
—  Sim — acrescentou Saturnino — e perdoou aos seus algozes.
—  Mas era um Deus — admitiu, irado —, confor­me ensina a Religião.
—  Deus? — esclareceu o Mentor — somente um há. A Religião tradicional se equivoca quando assim o diz. Jesus é o Filho de Deus, lição viva de amor que todos podemos atingir, pelas oportunidades que nos en­sejou descobrir, oportunidades essas que agora lhe che­gam, concitando-o a se tornar um deus, manifestação de Deus que “está em tudo e em todos, esperando o desabrochar através da nossa inclinação para a verdade.
Mas eu vivo num inferno — reptou, amargado —, como poderia alcançar Deus se tudo em mim são de­sejos de vingança para aplacar o ódio que me estiola a própria razão?
O inferno é resultante do seu estado de rebel­dia. Na sua recusa ao amor, você se condena ao deses­pero sem remissão, enquanto dure o combustível da re­volta que você coloca na fornalha do ódio.
E os devedores?
A vida se encarregará deles, agora ou depois.
Pesado silêncio caiu sobre a sala de socorro.
Algo asserenado, ele parecia mergulhar lentamente em acurada meditação.
Fluídos muito diáfanos penetraram o recinto, como se dirigidos por Agentes Invisíveis, que suavizavam a tensão até há pouco reinante, a todos beneficiando qual aragem bendita e necessária. Estranha e refazente cal­ma a todos dominou.
 
(1)   Pôlder região pantanosa e baixa, conquistada ao Mar do Norte e aos lagos Interiores, na Holanda — Nota do Autor espiritual.

 

QUESTÕES PARA ESTUDO

1.     Por quê Mariana era perseguida por um obsessor?

2.     Que tipo de união existiu entre Mariana, Mateus e o perseguidor?

3.     O que seria a “psicosfera espiritual” emitida pelo espírito sofredor? Que consequências pode trazer a uma pessoa esta vibração prejudicial?

4.     Que tipo de “inferno” era esse que se referia o perseguidor?

 

Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

domingo, 17 de janeiro de 2016

Mas é ela que não me deixa!

Mas é ela que não me deixa!


O trabalho mediúnico é, entre outras coisas, surpreendente.

Certa feita, em uma sessão mediúnica destinada a orientação de espíritos desencarnados, fomos surpreendidos com o desenrolar de uma das conversações estabelecidas.

Anteriormente, havíamos sido procurados por uma pessoa, que relatava estar sendo vítima de determinada influência espiritual menos feliz, e isso a incomodava muito.

Percebia-se, a “vítima”, sempre acompanhada mesmo quando sozinha e, corriqueiramente, sentia-se invadida por determinadas angústias inexplicáveis.

Direcionada ao tratamento fluído-terápico e ao fortalecimento da fé e da confiança por meio da prece, da leitura edificante e do esclarecimento proporcionado pelas palestras públicas, teve seu nome inserido nos círculos de oração do Centro Espírita.

Passadas algumas sessões mediúnicas, um determinado Espírito se fez presente, apresentando através de suas informações, relação com a condição daquela pessoa. De imediato, o médium orientador buscou envolvê-lo, respeitosamente, no sentido de rever seus posicionamentos, valores e atitudes, e ver que aquela situação não lhe permitia dar continuidade ao seu progresso no plano espiritual, e isso lhe traria muitos prejuízos, além do prejuízo causado ao encarnado, do qual seria responsável em parte.

Foi quando o Espírito comunicante exclamou:

– Eu quero seguir minha vida, mas é ela que não me deixa!

E acrescentou:

– Já estou saturado dessa situação, mas o vínculo que foi criado entre eu e esta pessoa deverá ser rompido por nós dois, e eu já fiz a minha parte, mas ela ainda insiste em manter os mesmos hábitos, e estes me “chamam” para junto dela em função de termos estabelecidos essa sintonia conjuntamente.

Orientado ao fortalecimento de sua própria vontade e a orar com sinceridade, para livrar-se daquela situação, também foi informado a ele que a sua presença ali significava que já estava sendo amparado pelos Espíritos Socorristas.

Ao analisarmos, para aprendizado, o ocorrido, de imediato nos lembramos de algumas questões de O Livro dos Espíritos, como segue:

Questão 467(1) – Pode o homem se libertar da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal?

– Sim, porque apenas se ligam àqueles que os solicitam por seus desejos ou os atraem pelos seus pensamentos.

Evidencia-se, com a resposta dos Espíritos Superiores que nossas companhias espirituais dependem de nossos desejos, e se estes forem no sentido da satisfação de viciação física, atrairemos espíritos que portam os mesmos vícios, mas também os atrairemos pela viciação mental resultante de nossos pensamentos negativos; porém, sempre será possível revertermos a situação, desde que assumamos novos hábitos, mentais e comportamentais, em relação às viciações causadas pelas paixões humanas, como nos esclarece O Livro dos Espíritos:

Questão 469 – Como se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
– Fazendo o bem e colocando toda a confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e anulais o domínio que querem ter sobre vós. Evitai escutar as sugestões dos Espíritos que vos inspiram maus pensamentos, sopram a discórdia e excitam todas as más paixões. Desconfiai, especialmente, daqueles que exaltam o vosso orgulho, porque vos conquistam pela fraqueza. Eis por que Jesus nos ensinou a dizer na oração dominical: “Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”.

Vai-te e não peques mais, orientou o Senhor Jesus (2), como solução para todos os nossos sofrimentos, ou seja, é preciso mudar, mas mudar a nós mesmos.

Querer livrar-se da influência ou perseguição dos espíritos através de um afastamento unilateral, acusando-os dos males que nos acometem é infantilidade espiritual, e não trará resultados favoráveis a nós outros.

Aquele Espírito saturou-se diante da situação e passou a desejar a liberdade, mas como era partícipe do conluio estabelecido, dependia também do encarnado, até o momento em que sua vontade de mudar tornou-se convincente a ponto de chamar a atenção dos Espíritos Socorristas, que representam a Misericórdia Divina, e que sem demora o socorreram.

E nós, o que temos feito para nos livrarmos de nossas viciações, sejam físicas ou mentais, para pleitearmos liberdade em relação aos espíritos inferiores?

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Referências Bibliográficas e Nota do Autor:
(1) Todos os grifos são nossos.
(2) João 8:11

Fonte: Agenda Espírita