quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Notícia: Tempo de desobediência.

Educadores precisam de paciência e estratégias pedagógicas para lidar com a explosão hormonal dos novos adolescentes. - Suzane G. Frutuoso

Quem completa 13 anos está com a cabeça muito ocupada. Os amigos viram uma família, o sexo oposto está à espreita, há milhares de músicas para baixar na internet, muita gente para falar ao mesmo tempo no MSN e baladas a serem combinadas. Não impressiona perceber que a escola fica em segundo plano. Nessa fase, os educadores observam uma queda no rendimento escolar e, em alguns casos, passam a ter a autoridade questionada por alunos com hormônios à flor da pele. Mas, apesar de viverem nesse turbilhão emocional, os pré-adolescentes gostam da escola. Na pesquisa realizada por ISTOÉ com 100 alunos de três colégios de São Paulo (SP), Curitiba (PR) e do Recife (PE), 79% dos jovens consideraram a instituição muito importante em suas vidas - nota A é a avaliação das escolas para 43% deles. O problema para eles é ter de conciliar conflitos e novidades com as tarefas escolares.

"Eles querem tudo rápido e ao mesmo tempo", diz a psicóloga Sandra Hoffman, orientadora educacional do Colégio Positivo, em Curitiba. Estudos indicam que o cérebro entrando na adolescência apresenta um aumento no funcionamento do hipotálamo, responsável pelas emoções e a libido. Essa reação cerebral faz com que os jovens se preocupem demais com relacionamentos e acreditem ser donos da verdade.

Há os que agem com agressividade e são respondões. É a imaturidade emocional, um empecilho para o entendimento de que há maneiras educadas de reivindicar. "Eles têm o direito de questionar e é natural da idade. Porém, respeito e disciplina são indispensáveis", diz Sandra. Graças à ideia de invencibilidade, alguns desafiam perigosamente os limites e iniciam as experimentações com álcool e drogas. Uma pesquisa do projeto Este Jovem Brasileiro, do Portal Educacional, avaliou que 37% dos jovens com 13 anos beberam álcool alguma vez.

Felizmente, a maioria dos meninos e meninas dessa idade ainda se atrapalha mesmo devido à farra. O estudante **, de Curitiba, sempre foi bom aluno. Percebeu, porém, que com a chegada da adolescência se tornou mais agitado e disperso. Nos últimos meses perdeu o foco em sala de aula e caiu na bagunça. "Conversava um monte e acabava convidado a me retirar", conta. Os pais receberam uma carta do colégio, que também chamou ** para uma conversa. A direção explicou quanto ele poderia prejudicar seu desenvolvimento e o mudou de classe. Outro inimigo da nova fase adolescente é o sono.

A hiperfuncionalidade do hipotálamo também os leva a sentir vontade de dormir além da conta. "Notei que preciso cochilar à tarde. Não fazia isso antes", afirma **. Entrar a madrugada no computador também é motivo corriqueiro para as sonecas em sala de aula. No Colégio Apoio, no Recife, pais e alunos participam de palestras nas quais a importância do sono é ressaltada. "Explicamos que, para aprender bem, corpo e mente precisam do descanso adequado", diz a diretora pedagógica Terezinha Cysneiros de Magalhães. Já não tomar café da manhã causa hipoglicemia, baixa de açúcar no sangue que pode levar ao cansaço

No geral, a atual geração de 13 anos é desafiadora porque aprendeu a negociar desde a infância. Não existe o obedecer por causa de uma hierarquia. É um grupo que valoriza o trabalho colaborativo e dispensa maneiras ortodoxas de comunicação. Também apresenta maior preocupação social, ambiental e aceita melhor a diversidade.

Fatores que influenciam no modo como eles desejam absorver a educação. O diálogo franco é um caminho para ganhar a garotada. Mas a maior aliada das escolas atualmente é a tecnologia. Para atrair a atenção de jovens imersos em games e internet, lousa, professor e decoreba não são suficientes. "Instituições com um perfil mais tecnológico e com pedagogias alternativas têm sido mais criativas na maneira de passar o conhecimento", diz Paulo Al-Assal, diretor da empresa de pesquisas Voltage. Lidar com o aluno antenado, que aprendeu a escrever no teclado e não com lápis, exige o uso da internet como ferramenta.

A diretora Terezinha, porém, afirma que sozinha a tecnologia não desenvolve toda a capacidade dos estudantes. "Pesquisas em livros e a campo não são dispensadas. São aprendizados que pedem outras competências." Há um perigo que ronda o uso da internet e vem preocupando os colégios: o cyberbullying. São as velhas provocações entre colegas, mas agora capazes de tomar proporções tão grandes quanto o alcance da rede, que permite aos autores de ameaças permanecerem anônimos e faz o medo da vítima aumentar ainda mais.

Entre os jovens que responderam à pesquisa de ISTOÉ, 30% já ofenderam colegas pelo computador e 35% sofreram ofensas. Um quadro preocupante, que pode prejudicar mais o desempenho escolar do que dormir em classe ou ter a atenção chamada por causa de bagunça.


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Comentário:

Serão os adolescentes de hoje mais agressivos que os de antigamente? Não existe uma resposta consensual a esta pergunta. Há quem não tenha dúvidas em afirmar que os jovens de hoje são muito mais agressivos que os das gerações passadas, mas há também quem defenda que hoje existe uma maior divulgação das atitudes violentas e isso dá uma aparência superior a essas atitudes.

Qualquer que seja o nosso posicionamento, numa coisa precisamos concordar: Existe violência e agressividade em excesso nos adolescentes. Este não é o mesmo mundo de antigamente: Ao contrário de gerações passadas, na sociedade actual os direitos dos cidadãos são inquestionáveis, as pessoas revelam um crescente humanismo, existe um maior interesse pelas questões sociais e filantrópicas e uma maior preocupação pela resolução dos conflitos pela via da compreensão e do diálogo. Por tudo isto, a agressividade dos adolescentes a determinados níveis, mesmo enquadrada num difícil e conflituoso processo de transição para a vida adulta, não pode ser admitida.

A escola é um local privilegiado, não apenas para as aprendizagens cognitivas, mas também para a aquisição de capacidades ao nível do relacionamento interpessoal e comportamento social. As situações de conflito, discórdia e desentendimento multiplicam-se e permitem aos adolescentes, se devidamente acompanhados e orientados, adquirir a experiência necessária nestas questões para que possam saber lidar com elas da melhor forma. Mas há um fenómeno que tem vindo a aumentar e que merece uma atenção especial dos educadores: O fenómeno da violência gratuita, por vezes com contornos de enorme brutalidade. Essa violência, não só física mas também emocional e sexual, fazendo muitas vezes uso das modernas ferramentas tecnológicas, é muitas vezes persecutória e personalizada, com enormes consequências emocionais e psicológicas para as vítimas, tendo sido a causa encontrada para alguns suicídios em adolescentes. É o conhecido Bullying ou Cyber-Bullying quando a perseguição utiliza os meios tecnológicos.

Porquê isso? Porque é que alguns jovens revelam comportamentos tão cruéis e desumanos? O facto de estarmos mergulhados num mundo de provas e expiações, proporciona a convivência entre espíritos de diferentes condições evolutivas, havendo um maior protagonismo e domínio dos mais rebeldes e audaciosos que normalmente subjugam os outros. Mas existem outras causas que não podemos esquecer e que temos ferramentas para corrigir. A principal delas, segundo os especialistas, é a convivência diária das crianças com a violência na televisão. Existe uma banalização da violência. As crianças, desde a mais tenra idade, vibram através da televisão com lutas de Wrestling, desenhos animados violentos, cenas de pancadaria, agressões físicas e assassínios brutais. Enquanto estou a escrever estas linhas, recebo a notícia que o videogame “Call of Duty: Modern Warfare 2” bateu todos os recordes de vendas no primeiro dia de lançamento na Europa. Neste jogo, o jogador é colocado na pele de um soldado que participa, para além dos cenários habituais de guerra, em sangrentos e brutais massacres da população civil. Este videogame destronou do topo de vendas outro clássico, Grand Theft Auto 4, que tem como principal objectivo, o roubo, assassínio e a fuga às autoridades policiais.

A nossa sociedade, buscando o lucro a todo o custo, está se tornando cada vez mais materialista e hedonista, buscando o prazer pelo prazer sem quaisquer preocupações de carácter ético ou moral. E os adolescentes, alvos preferenciais da indústria publicitária, vai assimilando a normalidade da violência convivendo diariamente com a banalização e o desprezo pela dor alheia que existe no cenário virtual. É possível que alguns adolescentes transportem essa insensibilidade para a realidade, e em casos de predisposição emocional e espiritual, sejam responsáveis pela violência gratuita que invade as nossas escolas ou, num cenário mais grave, pelas tragédias conhecidas em estabelecimentos de ensino do Estados Unidos da América e da Europa.

A estes dados precisamos acrescentar o argumento espiritual. Sabemos que os nossos pensamentos e atitudes atraem Espíritos vinculados com o tipo de comportamentos que cultivamos, que passam então ter uma influência crescente sobre nossa forma de agir e de nos comportar. Ao focalizarmos as nossas energias em jogos violentos ou programas de televisão que cultivam essa temática, estaremos a ligar-nos mentalmente a Espíritos ainda mergulhados nas malhas subversivas do crime e da revolta, que adquirindo uma proximidade de sensações procuram arrastar-nos para comportamentos similares.

Como sempre, quando falamos de transformação e correcção do comportamento humano, a educação é a pedra basilar. Nos dias de hoje, exaustos da vida moderna que os pressiona constantemente, os pais preferem colocar o filho em frente à televisão ou ao computador. Não se preocupam com o que eles estão a assistir, logo que fiquem calados e sossegados. É necessário que os pais invistam mais tempo nos seus filhos, qualquer que seja a sua idade. É a sua responsabilidade. É fundamental haver tempo para estar com eles, para conversar, ouvir, entender, brincar, rir, contar histórias, trocar experiências… para poder desfrutar da companhia desses meninos extraordinários que Deus lhes confiou.

(Comentário por: Carlos Miguel Pereira é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net )

** nome retirado por pedido do mesmo