sexta-feira, 1 de junho de 2018

Vozes interiores reflexões - a paz interior é...


Qual sua opinião? - Trocando ideia sob a ótica Espírita

Tema: reforma íntima

Crie a história e desenvolva o tema à luz do espiritismo


Dica legal - Spiritist Magazine

http://www.spiritistmagazine.org/






Mural reflexivo: Descobrindo a própria força

DESCOBRINDO A PRÓPRIA FORÇA

            Rachel tinha apenas 16 anos quando, certa noite, recolheu-se ao leito, no dormitório da escola. Acordou, seis meses depois, numa cama de hospital, na cidade de Nova Iorque.
            Ela sofreu um forte sangramento intestinal que a fez mergulhar num longo estado de coma.
            Era o fim de sua vida como uma pessoa saudável e o início de uma vida como pessoa portadora de doença crônica.
            Foi nessa época que Rachel se recorda de ter verdadeiramente conhecido sua mãe.
            Até então ela era a profissional que passava longas horas trabalhando. Rachel a via quando chegava em casa, tarde da noite, para lhe dar banho, ler uma história, dar-lhe um beijo de boa noite.
            As lembranças de sua mãe, até então, eram de uma figura passageira que tinha um perfume gostoso e tomava conta dela nos finais de semana.
            Durante os seis meses de seu coma seus pais se tomaram de temores. Ela era a única filha de pais mais velhos e super-protetores.
            O prognóstico médico era sombrio. Se saísse do coma, viveria como uma inválida, limitada por uma doença que os médicos não compreendiam, nem controlavam.
            Teria que se submeter a uma série de cirurgias importantes. Não deveria viver além dos 40 anos. Sem chance de retornar aos estudos.
            Mas Rachel desejava ser médica. Ali, deitada na cama, ouvindo seu pai lhe dizer tudo isso, ela ficou zangada.
            Não importava o que diziam os médicos, ela iria voltar aos estudos, à faculdade. Queria ser médica. Nada a impediria.
            “Ah”, disse o pai, “uma coisa a impedirá, sim. Não pagarei os seus estudos.”
            Foi então que a mãe de Rachel, sem alteração na voz, afirmou: “Eu pago a faculdade.”
        “E onde você vai arranjar o dinheiro?” – perguntou ele.
            Ela continuou a falar, dirigindo-se à filha, como se não o tivesse ouvido: “tenho uma conta no banco há muitos anos. É toda sua, Rachel.”
            Vinte e quatro oras depois, ela assinou um termo de responsabilidade e retirou a filha do hospital, contra a recomendação médica.
            Tomou um pequeno avião e levou Rachel de volta à faculdade.
            Nos seis meses seguintes levou a filha para as salas de aulas, muitas vezes empurrando a cadeira de rodas, porque ela não conseguia andar.
            Então, quando percebeu que Rachel poderia cuidar de si mesma, a deixou, mas telefonava todos os dias para saber notícias.
            Os dois anos seguintes foram de muitas lutas. Rachel não conseguia comer direito e tomava medicamentos fortes para controlar os sintomas.
            Ela se sentia doente, tinha a aparência alterada e estava doze ou catorze quilos abaixo do seu peso normal.
            Mas foi descobrindo uma força que desconhecia. Encontrou uma maneira de viver essa nova vida e seguir em frente.
            Concluiu a faculdade e passou a clinicar.
            Anos depois, conversando com sua mãe, lhe perguntou porque a deixara sozinha em momento tão difícil. Afinal, ela era a sua única filha.
            Por que não ficou ao seu lado, protegendo-a e mimando-a? Ela não ficou com medo do que pudesse acontecer?
            “Eu temia por você” – disse-lhe a mãe. “Mas temia ainda mais pelos seus sonhos. Se eles morressem, essa doença dominaria a sua vida. Há muitas formas de morrer, Rachel. A pior delas, é permitir que outras pessoas escolham o tipo de vida que você deve levar.
            A pior morte é permitir que sejam sepultados os próprios sonhos.” 
*** 
            Amparar a vida, por vezes, é algo muito completo. Há momentos em que o melhor é oferecer a nossa força e a nossa proteção.
            No entanto, acreditar numa pessoa num momento em que ela não consegue acreditar em si mesma, tem uma importância toda especial.
            É a nossa crença nessa pessoa que vai se tornar o seu barco salva-vidas.

 
(Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Uma questão de vida ou morte, do livro As bênçãos do meu avô, de autoria de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante.  - 
www.momento.com.br )

terça-feira, 29 de maio de 2018

Artigo: Mocidade que não estuda: caduca (Fala Meu!)


Mocidade que não estuda: caduca
Autor: Joelson Pessoa

Mocidade espírita é a reunião de jovens no centro espírita constituída para estudar o Espiritismo.

E qual é a necessidade de uma reunião dedicada exclusivamente aos jovens?

Uma delas é permitir a inclusão da juventude na casa espírita, uma vez que a maior parte das atividades doutrinárias é oferecida ao público nos dias úteis, à noite, horário em que a maioria dos jovens estão estudando. Por essa razão as reuniões de mocidade acontecem aos finais de semana, com algumas exceções.
Outras razões são a linguagem e o nível de experiências comuns que os identificam, permitindo uma afinidade com o grupo, favorecendo a convivência e a troca de ideias numa comunicação horizontal (de igual para igual); A configuração da mocidade desmassifica o indivíduo porque reconhece o seu valor pessoal. Tal característica de reunião satisfaria inclusive aos apelos íntimos dos próprios homens maduros, conforme observamos em experiências com os mais velhos, mas o adolescente, exigente, não continuará no grupo se não se identificar com ele. Exceto se os pais ainda o obriguem.
Todavia, se não houver no grupo, mas, sobretudo naquele que orienta o grupo de jovens um propósito sério de estudar a doutrina espírita, esta reunião descambará para uma ordinária rodinha de amigos, não muito diferente do coleguismo que se forma entre a turma do futebol, da balada, da academia, do happy-hour, etc.
Reuniões de jovens descomprometidas com o estudo da doutrina espírita, que se divertem muito e estudam pouco, apareceram numa reportagem da revista Isto É (edição 2016  Jun/ 08), falando em nome das mocidades espíritas do Brasil, defendendo o aborto (31%), a pena de morte (47%). Qual é o preparo dos dirigentes que orientam estes jovens?
Neste caso o participante está indo à mocidade para paquerar, ver amigos, se divertir ou porque ainda não dispõe de atividades mais interessantes para fazer. Não há o interesse em aprender com o estudo.
Que a pesquisa da revista seja fidedigna, não há como afirmar, mas não podemos negar que existam grupos negligenciando o seu dever (isto também vale para o centro espírita num todo).
Mas alguém poderá indagar:

Em que a mocidade espírita deve se diferenciar?

1.      No estudo do Espiritismo, fundamentando todo e qualquer assunto nas obras de Kardec e, em muitos casos, aprofundando o estudo de um tema particular com o auxílio das obras mediúnicas reconhecidas. (Emmanuel, André Luiz [médiuns Chico Xavier / Waldo Vieira], Joanna de Angelis, Manuel Philomeno de Miranda [médium Divaldo P. Franco], Hammed [médium Francisco do Espírito Santo Neto], Ermance Dufaux [médium Wanderley S. Oliveira], Luis Sergio [médium Irene Pacheco] sem esquecermo-nos dos autores espíritas consagrados: Léon Denis, Ernesto Bozzano, Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Herculano Pires).
2.      No método de estudo, que deve ser ora dinâmico, ora sensibilizadora, ora reflexivo, ora lúdico, ora expositivo, ora interativo, ora focado no individuo, ora no coletivo, de acordo com o aprendizado que se quer fixar… A postura de mestre que fala o tempo inteiro, supondo preencher espaços vazios, é antipedagógica. Há que se desenvolver a habilidade de estabelecer conexões entre a teoria dos livros e a intimidade em cada membro do grupo. Para isso o educador precisa aprender a gostar de escutar o seu aprendiz.
3.      Nos laços de afeto que sustentam a amizade fraterna, tornando a reunião de estudos espíritas entre os jovens, um ambiente incomparavelmente agradável, permitindo a cada participante oportunidade de ser como realmente é, e aceitar, valorizando cada amigo como ele está. Confiança e Afeto alicerçados num projeto de estudo voltado para o crescimento grupal, sem descuidar das necessidades particulares de cada coração ali presente. Há afetividade em seu grupo?

Por isso insistimos na importância de um estudo de qualidade nas mocidades, para que estas não se extraviem dos seus objetivos. A arte, geralmente através da música ou do teatro têm acrescentado bastante em muitas casas espíritas, mas não devem nunca substituir os aprendizados que o bom estudo em grupo propicia. Portanto, a primeira prioridade da reunião de jovens deve ser o estudo, da por diante qualquer outra tarefa poderá ser muito positiva, desde que se harmonize com a primeira.
A interação entre os participantes da mocidade com o centro espírita num todo deve ser incentivada permanentemente pelo dirigente do grupo. A verdade é que, embora a reunião de jovens seja a mais adequada para certa faixa etária, há muito a aprender com as palestras públicas e outras atividades que a casa ofereça como os cursos básicos, por exemplo.
Falando em curso básico, lembramos que a reunião de mocidade não deve, a rigor, comparar-se a um curso de espiritismo.
Um curso satisfaz àquele que tem vivo interesse em aprofundar-se no tríplice aspecto da doutrina espírita (Filosofia – Ciência – Moral), o que não se dá com a esmagadora maioria dos jovens, já absorvidos com os intensos estudos do colégio / cursinho / faculdade / idiomas / informática, etc.
Além disso, o seu centro de interesses, frequentemente relacionado à sua formação profissional, namoro e diversão não lhe predispõe ao interesse de muitos assuntos espíritas, contidos nos cursos tradicionais, porque não estão tão próximos do seu dia-a-dia.
Por não ter esta visão pedagógica, muitas reuniões de jovens são conduzidas como um curso sistematizado, num sistema vertical, aluno / professor. Evasão e marasmo são as consequências indesejáveis que castigam o grupo.
Como fazer então? É preciso que o dirigente, este sim, tenha um bom conhecimento da doutrina espírita, que ele participe de outra atividade no centro e que se relacione com a diretoria. O bom conhecedor da codificação precisa aprender também a identificar as prioridades do universo juvenil e dedicar-se a opinar temas preferenciais na extensa literatura espírita a fim de corresponder às necessidades e expectativas mais emergentes do grupo que coordena.
Para isso não basta que o coordenador apenas tenha as informações espíritas na memória, é indispensável que goste de gente, que se interesse pelos problemas humanos.
Que adiantaria a um médico saber muito sobre remédios se não pudesse reconhecer no seu paciente a presença desta ou daquela doença? O bom médico sabe relacionar cada medicamento com o gênero de enfermidade e, ainda, adota um procedimento para o tratamento.
Nas reuniões de estudos espíritas não deve ser diferente, o dirigente da reunião (educador) precisa conhecer tanto de doutrina como sobre o ser humano, e conhecermos melhor o outro na medida em que conhecemos a nós próprios.
Falamos muito sobre o autoconhecimento, mas quais atividades aplicamos para promovê-lo? Insistimos demasiadamente na recomendação da reforma íntima, mas como a contextualizamos?
Deixemos o improviso para uma ocasião emergencial. Todo estudo precisa ser responsável e carinhosamente elaborado. Cada rapaz e cada moa reunidos em nosso grupo merecem o melhor estudo, aplicado com a melhor atividade. O centro espírita e a reputação do Espiritismo sofrem com as aulas que fazemos nas coxas, porque improvisando, não atenderemos à finalidade maior da doutrina espírita que é a de melhorar o homem, para que a humanidade (nós), atingindo a sua (nossa) maturidade moral, desencadeie a tão esperada renovação social.
A reunião de jovens no centro espírita constitui uma prestação de serviços inestimáveis  sociedade; ainda que alguns não assumam a designação de espírita, o importante é que levem consigo os conceitos essenciais da doutrina e os valores cristãos; com esta base moral poderão fazer a sua escolha ante as provas da vida: entre ser uma pessoa comum, materialista, ou um jovem de bem, comprometido com a sua melhora.

Fala MEU! Edição 65, ano 2008

segunda-feira, 28 de maio de 2018

'Se em nome de Cristo destroem, em nome de Cristo vamos reconstruir': evangélicos ajudam a reerguer terreiro queimado

Lugar de encontro e devoção de praticantes do candomblé há 17 anos, o terreiro de Conceição d'Lissá tem recebido, nos últimos meses, visitantes inusitados. O templo, localizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, está sendo reconstruído com a ajuda de evangélicos. Em meio a diversos casos de intolerância e violência contra religiões de matriz africana, um grupo arrecadou mais de R$ 12 mil para as obras depois que o espaço foi parcialmente destruído em um incêndio.
Em uma manhã de sábado de fevereiro, a pastora Lusmarina Campos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, foi ao local acompanhada de três voluntários para, pessoalmente, ajudar na remoção de entulhos - tijolos e pedaços de madeira que faziam parte do segundo andar do terreiro, área atingida pelo fogo em junho de 2014.
Na época presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do estado (Conic-Rio), Lusmarina organizou a campanha de arrecadação, concluída no fim do ano passado, para a reconstrução do templo.
"Logo que a gente ouviu sobre a destruição do terreiro, eu pensei: 'Se em nome de Cristo eles destroem, em nome de Cristo nós vamos reconstruir'. É extremamente importante dar um testemunho positivo da nossa fé, porque o Cristo que está sendo utilizado para destruir um terreiro está sendo completamente mal interpretado", explica Lusmarina.
Aquele foi o oitavo ataque ao local de culto da mãe de santo. Antes, tiros haviam sido disparados contra o templo e a casa de Conceição. Três carros que pertenciam a candomblecistas de seu grupo foram queimados. A polícia ainda não identificou os responsáveis pelos crimes. Para tentar se proteger, Conceição instalou grades e reforçou muros e cadeados do templo. Sem apontar suspeitos, ela afirma que os ataques têm cunho religioso: "Não há roubo de televisão, rádio, uma porção de coisas que poderiam usar para fazer dinheiro. Não levam nada, só destroem."
No ano passado, 71,5% dos casos de intolerância religiosa registrados no Rio de Janeiro foram contra grupos de matriz africana, segundo a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos. Crimes de ódio contra os adeptos de religiões como o candomblé e a umbanda também ocorrem em outras partes do país, que possui cerca de 600 mil devotos de crenças de origem africana, segundo o Censo de 2010.
"É um fenômeno nacional, agora com essa face cruel, que já se expressou em 2008 e vem desde a década de 90, que são os traficantes instrumentalizados por grupos neopentecostais que atacam os templos religiosos nas periferias e favelas", comenta o babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
"O arcabouço do que está acontecendo no Rio de Janeiro, em termos de violência religiosa, tem como fundo uma lógica de guerra", complementa a pastora Lusmarina.
"Faz parte de um projeto de poder a descaracterização de outros grupos religiosos, ou seja, uma linguagem de desrespeito e condenação. Porque, nesse tipo de concepção, a diversidade não é permitida. É um enfrentamento que precisamos fazer porque é muito mais amplo do que a questão estritamente religiosa. A questão é política. Por isso, a gente precisa se unir."
O babalaô acompanhou desde o início a ação de apoio ao terreiro em Duque de Caxias organizada por Lusmarina. "Esse ato é um divisor de águas na luta contra a intolerância religiosa no país", comenta ele. A entrega do dinheiro, com o maior aporte vindo de fiéis da Igreja Cristã de Ipanema, que é evangélica, foi celebrada no fim do ano passado com uma cerimônia inter-religiosa no terreiro de Conceição.
Alguns dos que participaram tiveram de enfrentar críticas e ameaças, principalmente na internet e nas redes sociais. Lusmarina conta que um youtuber evangélico gravou um vídeo em que incentiva outras pessoas a agredirem. "Ele diz: 'Pastora vadia, vagabunda...Tem que tomar tapa na cara', de maneira muito agressiva e violenta."
A discriminação, no entanto, não é exclusiva de grupos extremistas. Os próprios voluntários que acompanharam Lusmarina na preparação do terreiro para as obras admitiram que, em determinado momento da vida, chegaram a ter uma visão negativa em relação a religiões de matriz africana, por acreditarem que eram ligadas ao mal.
"O candomblé sofre preconceito desde que era a religião professada pelos nossos antepassados, que vieram para o país escravizados", comenta Conceição. "As pessoas hoje endemonizam o candomblé como se tivéssemos uma relação estreita com essa figura chamada diabo, sem saber que o diabo não faz parte do nosso panteão de divinizados. É uma visão eurocristã que não tem nada a ver conosco."
A exemplo da iniciativa tomada no Rio de Janeiro, a direção nacional do Conic decidiu criar o Fundo de Solidariedade para o Enfrentamento de Violências Religiosas. A entidade já começou a receber doações e pretende criar um comitê inter-religioso que fique responsável por gerir o fundo e selecionar pessoas e espaços que precisem ser atendidos - em especial, os de religiões de matriz africana.
"Essa repercussão já significou um racha na base de um grande bloco de igrejas que parecia mais ou menos uniforme", diz Lusmarina. "Embora uma parte das igrejas e de pessoas dentro de igrejas não tenha apoiado a nossa ação, a grande maioria das pessoas apoiou e a grande maioria das igrejas prefere o respeito à violência, prefere o amor, a aproximação... que é de fato a mensagem central do evangelho. Esses são valores fundamentais dos quais não podemos abrir mão."
As obras no terreiro da mãe de santo Conceição começaram pela cozinha, que estava funcionando no quintal desde que a estrutura interna da casa foi danificada pelo incêndio. O local é considerado "o coração do barracão", uma vez em que lá são produzidas as oferendas - parte importante da tradição candomblecista.
"Quando eles vêm dar essa ajuda pra gente, é justamente (uma forma de) reconhecer que, primeiro, a gente sofre o ataque. Depois, é reconhecer que a gente tem o direito de existir e professar o nosso sagrado", comenta Conceição.
"Eles não vieram aqui pra me mudar, evangelizar ou dizer que o que eu faço está feio ou é do diabo. Vieram para dizer: 'Faça aquilo que você crê. Eu vou te ajudar'."
Reportagem Ana Terra Athayde, do Rio de Janeiro para a BBC Brasil
Notícia publicada na BBC Brasil, em 24 de abril de 2018.

Jorge Hessen* comenta

Conforme registra a reportagem, eis um excelente exemplo de tolerância religiosa, mas não é a regra, infelizmente. Intolerância religiosa, eis aí um gravíssimo nódulo cancerígeno do mundo contemporâneo.
O fanatismo religioso é marcado pela aversão a diferenças de crenças, resultando em perseguição à liberdade de credo e pluralismo religioso. Ódios que podem levar a prisões ilegais, espancamentos, sequestros, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis. Como ocorre na Nigéria, onde a maioria das pessoas do norte é muçulmana, mas nem todas interpretam o Corão da mesma forma que o grupo extremista nigeriano Boko Haram. Em face desse radicalismo, muitos muçulmanos estão sendo convertidos ao Cristianismo.
Estudiosos afirmam que a rápida expansão do cristianismo e do Islã na África se deve, em grande parte, ao sentido religioso, ao respeito e à tolerância inerentes à cultura tradicional. Os africanos descobriram que essas novas religiões provenientes do exterior continham muitos aspectos das crenças fundamentais (Ser Supremo, culto aos mortos/antepassados, espíritos etc.) e dos valores (centralidade da pessoa, importância da comunidade, a caridade e o perdão) de sua própria experiência religiosa. Mas nem todos os convertidos interpretam dessa forma, e utilizam a crença para busca do poder político.
Atualmente, cerca de 80% dos conflitos armados que existem por todo mundo são decorrentes de questões religiosas. Em todo mundo estamos vendo o desenrolar de guerras e mais guerras em nome de algo que eles chamam de “fé”. Mas entenda a palavra “fé” que eles usam como: ambição, fanatismo, incredulidade, loucura ou falta da verdadeira FÉ!
Com o aumento da diversidade religiosa no Brasil, verifica-se um crescimento da intolerância religiosa, tendo sido criado até mesmo o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa [21 de janeiro], por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Vários países ao redor do mundo incluíram cláusulas nas suas constituições proibindo expressamente a promoção ou prática de certos atos de intolerância religiosa ou de favorecimento religioso dentro das suas fronteiras.
A Doutrina Espírita nos faz entender quem somos efetivamente, quem realmente é o ser humano em sua vocação e circunstância, visão que possibilita, por sua vez, a compreensão e a vivência de uma vida social moralmente correta a partir da qual podemos julgar com retidão se determinadas atitudes e ideias propostas por grupos religiosos e/ou políticos correspondem àquilo que o próprio Criador espera de nós.
Deus nos quer abertos para a realidade, para a beleza das coisas criadas, para a ventura transcendente da liberdade humana de buscar esse ou aquele caminho para Deus, e não acabrunhados pelo medo e, em última análise, cegos pelo fanatismo. Talvez com aquela cegueira suprema, apontada por Jesus Cristo, conforme registra João, 9:21: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece."
* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados

Assassinato brutal de menina de 8 anos causa revolta e expõe racha religioso na Índia

A investigação do brutal assassinato de uma menina de oito anos de idade, vítima de estupro coletivo e tortura na parte indiana da Caxemira, dividiu a população e expôs a cisão religiosa na região. Sameer Yasir, jornalista independente baseado em Srinagar, cidade que reveza com Jammu o status de capital do Estado indiano de Jammu e Caxemira, relata o caso:
Na manhã do dia 17 de janeiro, Muhammad Yusuf Pujwala estava sentado do lado de fora de casa quando um vizinho chegou correndo, parou em frente a ele e deu a notícia: a filha dele, Asifa Bano, de oito anos, foi encontrada morta. O corpo dela estava numa mata, a algumas centenas de metros dali.
"Eu sabia que alguma coisa horrível tinha acontecido com a minha menina", diz Pujwala, de 52 anos e olheiras profundas. A mulher dele, Naseema Bibi mal consegue falar. Balbucia o nome de Asifa, enquanto chora.
Pujwala é integrante de uma comunidade muçulmana de pastores nômades, chamados gujjars, que conduzem cabras e búfalos pelas montanhas do Himalaia.
O crime chocou a comunidade, expondo a cisão entre hindus e muçulmanos no território que há décadas é disputado pela Índia e pelo Paquistão.
Apesar de ser controlado pela Índia, Jammu e Caxemira, junta três territórios (Jammu, Caxemira e Ladhak). Jammu é de maioria hindu e Caxemira tem população majoritariamente muçulmana - esta, constantemente é palco de revoltas contra o regime indiano. Já em Ladhak a população e a cultura estão mais ligadas ao Tibete.
A polícia prendeu oito pessoas, entre elas quatro policiais, um funcionário do governo aposentado e um adolescente suspeitos de terem participação no crime.
As prisões, entretanto, provocaram protestos em Jammu, cidade de maioria hindu. Advogados tentaram impedir que policiais entrassem em um tribunal para apresentar as acusações contra os detidos e dois ministros de um partido nacionalista hindu, o Bharatiya Janata (BJP), participaram de manifestações em defesa dos suspeitos.

Como Asifa desapareceu

Quando a garota desapareceu, em 10 de janeiro, a família dela vivia num vilarejo a 72 km ao leste da cidade de Jammu. Naquela tarde, recorda a mãe de Asifa, a menina tinha ido à floresta buscar os cavalos da família. Os cavalos voltaram para casa, mas Asifa, não.
Munidos de lanternas e machados, Naseema, o marido e os vizinhos começaram a procurar pela garota. Viraram a noite, mas não a acharam. Dois dias depois, em 12 de janeiro, a família registrou o desaparecimento na polícia.
O pai de Asifa conta que a polícia não foi muito prestativa. Um dos policiais, conta Pujwala, chegou a dizer que ela poderia ter fugido com um garoto.
O corpo de Asifa foi localizado cinco dias depois do desaparecimento. "Ela foi torturada, teve as pernas quebradas", diz a mãe da garota, que fez questão de ir com o marido à mata para ver o corpo, quando ele foi encontrado. "As unhas dela estavam pretas e tinham marcas azuis e vermelhas nos braços e dedos", relata Naseema.

O que aconteceu com Asifa, segundo os investigadores

No dia 23 de janeiro, seis dias depois que o corpo de Asifa foi encontrado, Mehbooba Mufti, ministro chefe do Estado de Jammu e Caxemira, determinou que a investigação fosse conduzida por uma unidade especial da polícia.
De acordo com investigadores, Asifa foi sedada e confinada num templo local por vários dias consecutivos. De acordo com o relatório policial, ela foi "estuprada por dias, torturada e, finalmente, assassinada". Ela foi morta por estrangulamento e em seguida, teve a cabeça partida por uma pedra.
A polícia acusa um funcionário público aposentado de 60 anos de ter planejado o crime com a ajuda de quatro policiais.
O filho e o sobrinho do funcionário público também foram indiciados, assim como um amigo e um menor.
Os investigadores acreditam que os policiais acusados estavam entre os que participaram das primeiras buscas pela menina. Eles teriam eliminado manchas de sangue do corpo e sujado as roupas da menina com lama antes de mandá-las para a perícia.
Ainda segundo as investigações, os suspeitos do crime queriam aterrorizar a comunidade gujjar e forçá-los a deixar Jammu. Os pastores nômades têm o costume de usar áreas públicas como áreas de pasto para seus animais, o que tem causado conflito com moradores hindus da região.
"Teve a ver com (disputa) de terra", disse Talib Hussain, advogado e ativista social que liderou uma manifestação de apoio à família da menina - e que diz ter sido detido e ameaçado pela polícia local.
Ankur Sharma, um dos advogados que protestou em defesa dos acusados, afirma que os muçulmanos nômades estão tentando alterar a demografia de Jammu, onde hindus representam a maioria. "Eles estão usurpando nossas florestas e recursos hídricos", disse Sharma à BBC.
Ele afirma que os suspeitos são inocentes.
E se o assassinato de Asifa não ganhou muita atenção em Jammu, foi assunto de capa nos jornais de Srinagar.
Na Assembleia do Estado de Jammur e Caxemira, Mian Altaf, influente líder gujjar e representante da oposição, tentou chamar atenção para o caso mostrando a fotógrafos jornais com fotografias de Asifa e pedindo uma investigação célere e punição para os culpados.
Rajiv Jasrotia, representante do partido BJP, disse que o incidente com a menina foi "uma rusga de família" e acusou Altaf de tentar politizar o crime.

O que aconteceu no enterro de Asifa?

Os gujjars queriam enterrar Asifa num cemitério em um terreno comprado há alguns anos, mas quando chegaram, teriam sido cercados e ameaçados por ativistas hindus, segundo o pai da menina.
O grupo foi impedido de enterrar a garota.
"Tivemos que caminhar sete milhas para enterrá-la em outra vila", diz Pujwala. Duas das filhas dele foram mortas num acidente há alguns anos. Por insistência da mulher, ele adotou Asifa, que é filha biológica do cunhado dele.
A garota é descrita pela mãe adotiva como um "pássaro cantante", que gostava de correr como um "cervo". Quando eles viajavam, era Asifa quem cuidava do rebanho. "Isso fez dela a queridinha da comunidade", disse. "Ela era o centro do nosso universo."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 12 de abril de 2018.

Breno Henrique de Sousa* comenta

Barbárie
O que diria de uma cidade se tudo o que o visitante conhecesse fossem os hospitais e presídios? Certamente, a sua impressão seria a pior. Diria ele que aquela cidade é composta por pessoas doentes e criminosas. Se essa fosse a sua impressão do mundo, seria difícil mesmo crer na existência de um Deus justo e bom.
A condição de quem vive na Terra é semelhante a desse visitante, pois o nosso planeta é um mundo de provas e expiações onde ainda o mal predomina sobre o bem. Apesar de nos encontrarmos em transição para um estágio melhor, só estamos no começo desse processo que é gradativo; dessa forma, ainda veremos por muitas gerações o mal sobre a Terra.
Cada lugar desse planeta possui, porém, suas características específicas, suas conjunturas históricas, seus dilemas, problemas sociais, econômicos e ambientais. Os espíritos que reencarnam em cada circunstância específica geralmente estão comprometidos desde outras existências com aquela realidade, seja ela boa ou má.
Um aspecto importante desse acontecimento estarrecedor é o fato de um ser humano desencarnar tão precocemente e de forma tão brutal. Certamente, é muito difícil encontrar conforto diante dessa situação. A morte, do ponto de vista espírita, representa o retorno para a vida espiritual de onde viemos e seguiremos a existir. Frequentemente a desencarnação representa uma libertação do espírito para uma condição melhor e mais feliz. No caso das desencarnações precoces, pode tratar-se de um espírito que retornou a Terra apenas para completar sua missão, às vezes através de um duro resgate, mas significando o fim de uma cadeia de causa e efeitos.
A forma que desencarnamos está relacionada com esses compromissos do passado, mas não nos enganemos, pois a pior morte é a daquele que vive com a consciência culpada, independentemente da aparência tranquila ou violenta de sua morte. Por outro lado, os espíritos bons são poupados do sofrimento da morte e quase não se dão conta dos sofrimentos sentidos pelo corpo físico.
A Terra já não comporta esse tipo de barbárie. Espíritos dessa categoria, que causam tanta dor e sofrimento estão tendo suas últimas chances de reencarnar na Terra, pois em um mundo regenerado não caberá mais esses horrores. Do ponto de vista das coisas terrestres, existe uma grande mobilização mundial para que a Índia supere esse estigma social. Antes, nem sequer se falava sobre o assunto; hoje, observamos a população revoltada, exigindo justiça, o que já é um sinal de progresso e de que a maioria não silencia diante do mal.
Oremos pelo espírito dessa criança e que a sua morte brutal alimente a sede por justiça, levando às transformações necessárias que já estão em curso. Oremos para que o mundo avance em direção à paz. Descruzemos os nossos braços e nos unamos ao coro dos que exigem justiça; sem perder de vista as leis maiores da vida e o entendimento espiritual das coisas, cumpramos também com o nosso papel de cidadãos planetários.
* Breno Henrique de Sousa é paraibano, professor da Universidade Federal da Paraíba nas áreas de Ciências Agrárias e Meio Ambiente. Está no movimento Espírita desde 1994, sendo articulista e expositor. Atualmente faz parte da Federação Espírita Paraibana e atua em diversas instituições na sua região

domingo, 27 de maio de 2018

A Influência da mídia no processo de identificação da criança e do adolescente


Em um mundo que, a cada instante, apresenta mudanças significativas, o processo de identificação do adolescente faz-se mais desafiador, em razão das diferenças de padrões éticos e comportamentais.
Os modelos convencionais, vigentes, para ele, são passíveis de críticas, em razão do conformismo que predomina, e aqueles que são apresentados trazem muitos conflitos embutidos, que perturbam a visão da realidade, não
sendo aceitos de imediato.
Tudo, em torno do jovem, caracteriza-se por meio de formas de inquietação e insegurança.
No lar, as imposições dos pais, nem sempre equilibrados, direcionados por caprichos e interesses, muitas vezes, mesquinhos, empurram o jovem, desestruturado ainda, para o convívio de colegas igualmente imaturos. Em outras circunstâncias, genitores irresponsáveis transferem os deveres da educação a funcionários remunerados, ignorando as necessidades reais dos filhos...
“[…] a mídia, desde os primeiros dias da sua infância, vem exercendo sobre ele uma influência marcante e crescente.
De um lado, no período lúdico, ofereceu-lhe numerosos mitos eletrônicos, agressivos e cruéis em nome do mal que investe contra o bem, representados por outros seres de diferentes planetas que pretendem salvar o universo, utilizando-se, também, da violência e da astúcia, em guerras de extermínio total. Embora a prevalência do ídolo representativo do bem, as imagens alucinantes do ódio, da perversidade e das batalhas intérminas plasmam no inconsciente da criança mensagens de destruição e de rancor, de medo e de insegurança, de fascínio e interesse por essas personagens míticas que, na sua imaginação, adquirem existência real. 
Outros modelos da formação da personalidade infantil, apresentados pela mídia, têm como característica a beleza física, que vem sendo utilizada como recurso de crescimento econômico e profissional, quase sempre sem escrúpulos morais ou dignidade pessoal. O pódio da fama é normalmente por eles logrado a expensas da corrupção moral que viceja em determinados arraiais dos veículos da comunicação de massa. É inevitável que o conceito de dignidade humana e pessoal, de harmonia íntima e de consciência seja totalmente desfigurado, empurrando o jovem para o campeonato da sensualidade e da sexualidade promíscua, em cujo campo pode surgir oportunidade de triunfo... triunfo da aparência, com tormentos íntimos sem conta.“

(Joanna de Ângelis. Adolescência e Vida. Psicografado por Divaldo Pereira Franco. FEB. 6. ed., p. 74-75).

Livro em estudo: Grilhões Partidos - B025 – Capítulo 16 – Bênçãos da Fraternidade, Primeira parte



Livro em estudo: Grilhões Partidos – Editora LEAL - 1974
Autor: Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco


B025 – Capítulo 16 – Bênçãos da Fraternidade, Primeira parte

Capítulo 16
Bênçãos da Fraternidade

Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há os por toda a parte, em todos os países, em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados.” “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” — Capítulo 19º — Item 10.

No dia imediato, ao despertar, o Coronel Constâncio, antes da refeição, informou à esposa que sonhara com Ester, não conseguindo, porém, recordar com precisão detalhes que encadeassem o acontecido. Semelhavam-se a clichês rápidos que lhe afloravam à mente, desordenados. Tranqüilidade inusitada, porém, dominava-o interiormente, misturada a lembranças felizes, imprecisas, que lucilavam na mente. Experimentava a sensação de haver dormido toda a noite, entretanto, parecia-lhe havê-la passado em confabulação demorada, num recinto algo sombrio onde diversas pessoas se encontravam, incluindo a filhinha mortificada. Ao recordar-se da obsessa, nublaram-se-lhe de lágrimas os olhos claros.
Dona Margarida, atenciosa, comovendo-se, acentuou:
— Tenho a certeza de que visitamos nossa menina... Durante a madrugada, inesperadamente despertei, sentindo-me retornar de abençoada excursão ao Hospital, amparada por seres angélicos, que nos guiavam e inspiravam. Pude vê-los, ainda, como a desaparecerem, interpenetrando parede afora do quarto. Permaneci meditando, recordando e experimentei tão grande felicidade interior como jamais fruíra nos últimos anos... Creio, sim, que estivemos com Ester, ajudados pelos Espíritos Superiores, que representam Jesus atendendo a nossas preces e dores.
Seus olhos brilhavam, também, mergulhados em pranto que não escorria.
Os esposos se tomaram as mãos e a senhora, comovida, balbuciou uma oração simples quão profunda de louvor e gratidão.
Os dias passavam lentos para a ansiedade dos envolvidos na trama redentora. O tempo era preenchido por leitura salutar, aprofundando a meditação e o estudo nas incomparáveis páginas de Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, com que o amigo Sobreira brindara o colega de armas.
O conteúdo incomum quão precioso da Obra facultava ao neófito das Verdades Eternas entranhando deslumbramento, ensejando-lhe valorizar a ensancha inditosa que acarretava sofrimento, graças à qual, porém, lhe caíam as vendas do entendimento, concedendo-lhe a visão dos horizontes infinitos da esperança sem limite, da alegria sem receios, da sabedoria sem inquietações.
Atraído pelas informações espirituais dantes jamais suspeitadas, lendo e comentando com a esposa que o seguia afervorada, lamentava o tempo passado na ignorância da preciosa Doutrina e confessava a falência do orgulho, do materialismo e seus sequazes no defrontar com o Espiritismo.
Os Sobreiras, quanto lhes permitiam os compromissos, visitavam-nos e dona Mercedes, por telefone, cada dia saudava a nova consóror, emulando-a ao prosseguimento confiante nas tarefas ora encetadas com afinco.
Nos dias aprazados realizavam o Culto Evangélico no Lar com que hauriam ânimo robustecido e iluminação interior. Simultaneamente passaram a participar das sessões de estudo doutrinário, duas vezes por semana, na Sociedade Espírita “Francisco de Assis”, de cujo valioso aprendizado mais se lhes aguçava a sede de saber, adquirindo respostas para as mil indagações, dúvidas e interrogações que se lhes multiplicavam surpreendentemente como sói acontecer com todos os que travam relações com o Consolador.
Os apontamentos felizes expostos pelos divulgadores da Mensagem Espírita, vazados em linguagem simples, no entanto, profunda, quão clara, fascinavam os novos simpatizantes do Espiritismo, que, em cada conceito, descobriam rumos novos e material para mais dilatadas considerações, que os empolgavam. É certo que anelavam a cura da filha, sua libertação, sem embargo, porém, compreendiam os impositivos superiores da vida, passando a considerar os acontecimentos sob o ponto de vista espiritual, sem os limites terrificadores das nesgas materiais, que entorpecem o discernimento e rebelam a razão.
Naquela Casa encontraram um mundo novo, estranho: o da fraternidade, onde a esperança emoldura as almas de resignação e a caridade agiganta os seus felizes servidores. Tinham a impressão de que o grupo formava uma única família e os recém-chegados eram recebidos como membros queridos, ainda não conhecidos...
Sem a curiosidade perniciosa nem a indiscrição perturbadora, todos demonstravam amizade cordial e espontânea, entretecendo conversação agradável sem as cargas danosas das queixas e das reclamações com que se comprazem a ociosidade e a rebeldia.
Os que lhes conheciam o fardo de dores, narravam as próprias esperanças, os frutos das alegrias recolhidas, interessando-se em ajudar mediante a prece, as vibrações salutares e a intercessão cristã.
Mundo novo, sim, o da afeição pura e do entendimento cordial, que deve ser a colméia cristã em todo tempo e lugar.
O médium Joel, também sinceramente interessado, sempre que solicitado, com gentileza expunha opiniões, narrava experiências de formosas e consoladoras incursões mediúnicas de que fora partícipe, retirando valiosas conclusões doutrinárias que os animavam.
Dona Matilde Albuquerque, a benfeitora de Rosângela, fez-se amiga da sra. Santamaria, ampliando o círculo de relações da sofrida consóror por meio de cuja afeição recolhia preciosos estímulos e encorajamento para a porfia no esforço saneador.
Nesse clima ameno de confiança, trabalhavam os Instrutores amoráveis os sentimentos dos recém-conversos, de modo a predispô-los para os tentames de maior envergadura.
Nenhum regime de exceção, nenhuma precipitação.
Em qualquer processo obsessivo, é de efeito superior a renovação e a conscientização dos envolvidos, do que resultam os primeiros benefícios imediatos, que são: o despertamento para as responsabilidades do espírito, o amor desinteressado, o perdão indistinto e o desejo honesto da inadiável reparação aos danos causados... Encetado o esforço da melhoria de dentro para fora, mais fácil a liberação dos compromissos infelizes que engendram amargura e dor.
Por essa razão, nunca se devem desconsiderar as contribuições do estudo doutrinário, na terapêutica desobsessiva, não apenas por parte dos litigantes diretos como também do grupo familial, fortemente vinculado ao problema espiritual.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 – Como acordou o casal Santamaria após a experiência espiritual (sonho) da noite anterior?

2 – O narrador espiritual descreve os imensos avanços do casal Santamaria a partir do despertamento deste às Verdades Consoladoras do Espiritismo. Por que, no tratamento de desobsessão, é importante envolver a família do paciente quanto aos conceitos doutrinários espíritas e no esforço de transformação moral?

Bom estudo a todos!!
Equipe Manoel Philomeno

Conversando com Léon Denis - A grande Harmonia