sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Notícia: "Saudades de sua voz".

A vida cotidiana de Odele e sua filha Flavia – em coma há quase 12 anos, desde que seu cabelo foi sugado pelo ralo de uma piscina. - Por: Eliane Brum.

Quando Odele sonha com a filha, Flavia tem 10 anos. A menina de cabelos longos, encaracolados nas pontas, fala sem pausas. Gosta de partilhar seu dia, contar as aventuras na escola, tagarelar sobre o futuro precocemente dividido entre uma carreira de administradora e outra de modelo. Abraça e beija muito. Dança, canta e toca teclado. Sua voz povoa o sono da mãe. Quando Odele acorda, porém, o silêncio continua lá.

Deitada na cama do quarto ao lado, Flavia tem os olhos abertos. Não pode mais falar e, embora possa ver, Odele não sabe se vê. A menina calou-se aos 10 anos, quando seu cabelo foi sugado pelo ralo da piscina do edifício onde vivia, em São Paulo. Em dezembro, no mesmo dia do aniversário da mãe, fará 22. Há quase 12 anos, Odele só ouve a voz da filha em sonhos. Agora é a mãe que parece se afogar ao despertar submersa na ausência da filha. “Ela tinha voz de sino”, diz. É dessa voz de sino que Odele sente mais saudade.

Assim se inicia cada dia. E cada dia em que Flavia não acorda é uma perda para Odele. Quem vai imaginar que a voz da filha, que às vezes perturba com sua premência, será um dia a maior saudade da mãe? Que aquelas histórias de criança, contadas quando falta tempo à mãe, seriam pagas com metade de uma vida ou uma vida inteira, se a mãe soubesse que poderia perdê-las?

É uma existência de subtrações e de delicadezas, a dessas duas mulheres. Só faz sentido porque Odele conseguiu fazer da história de dor também uma narrativa de amor.

Flavia abre os olhos durante o dia e os fecha à noite. No coma vígil, os olhos são vigilantes apenas na aparência. Não há consciência da dor ou do prazer. Flavia não se move, mas se sobressalta com ruídos mínimos e esboça sinais de sofrimento. Para os médicos, são apenas reflexos involuntários. Mas como ter certeza sobre quanto ela percebe? Sentiria Flavia, de algum modo, a presença da mãe, o toque da mãe, o amor da mãe? São perguntas que Odele Souza se faz, aos 60 anos. E responde “sim” a todas elas. Como não?

Devastada pelo silêncio da filha, Odele criou uma voz para Flavia. Há três anos ela criou um blog chamado Flaviavivendoemcoma (www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com). Não é um nome qualquer. Poderia ser Flaviaemcoma, mas Odele escolheu a palavra “vivendo” para colocar entre o nome da filha e o planeta inalcançável habitado por ela. Mesmo que não a alcance, para Odele sua filha vive. E, quando Flavia sorri, não é um reflexo involuntário.

Centenas de pessoas no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na Colômbia, em Moçambique e na Espanha testemunham a delicada tessitura dos dias de Flavia e de Odele pela internet. E preenchem com suas vozes virtuais as paredes reais da casa de silêncios onde vive a “princesa adormecida”. Pelo blog é construída a narrativa amorosa da perda cotidiana de uma mãe diante da ausência do corpo presente da filha. “Construí para minha filha uma vida de detalhes”, diz Odele.

Tempos antes de calar-se no fundo da piscina, de onde foi arrancada pelo irmão, quatro anos mais velho, Flavia soube que a mãe de uma amiga presenteou a filha que menstruava pela primeira vez com um buquê de rosas vermelhas. Pediu: “Mãe, você me dá flores quando eu ficar mocinha?”. Odele prometeu. Imóvel e silenciosa, Flavia virou mulher sobre a cama. Cresceu 12 centímetros. Menstruou em coma, aos 13 anos. A mãe colocou rosas vermelhas a sua cabeceira.

No Dia das Mães, é Odele quem escreve à filha. “Vejo você em sua cama hospitalar, mas não sei onde você está, por isso, como há um ano, estou te escrevendo uma carta neste Dia das Mães em que eu adoraria receber o teu abraço, o teu sorriso, o teu carinho, mas tenho de me contentar com tua presença imóvel e silenciosa. É como se você não estivesse aqui. E lamento muito, filha, por nestes anos todos não ter conseguido entender o mistério do estado de coma, lamento por não entender o que ocorreu em seu cérebro, para saber exatamente onde você se escondeu, um lugar aonde nunca consegui chegar para te falar e fazer entender que, esteja onde estiver, você não está só, e que estou sempre por perto a lhe proteger.”

Há quase 12 anos, por volta das 18h30 de 6 de janeiro de 1998, Odele escrevia no computador quando ouviu os gritos do filho mais velho. Pensou: “O Fernando vai incomodar os vizinhos”. Quando olhou pela janela do 8º andar, viu Flavia estendida no deque da piscina do condomínio. A filha tinha descido duas horas antes, de maiô preto, a toalha sobre um ombro, para brincar com o irmão e alguns amigos na piscina de 95 centímetros de profundidade. A menina tinha 1,50 metro. “Tchau, Mami, tô indo pra piscina”, disse. Foi sua última frase.

Odele desceu pelas escadas. Correndo. Quando alcançou Flavia, ela já não estava lá. Só abriria os olhos 16 dias depois. Nunca mais daria qualquer sinal de consciência.

Meses depois, Odele começou a buscar as causas no fundo da piscina. Dividia seu dia entre os cuidados com a filha no hospital e o posto de secretária executiva numa multinacional. Voltava para casa, vestia um maiô e mergulhava na piscina, em pleno inverno, com uma boneca de longos cabelos. Noite após noite, investigava o ralo. A perícia da Justiça deu razão à mãe: a bomba de sucção instalada pelo condomínio era potente demais para as dimensões da piscina. Odele levou o condomínio e a fabricante do equipamento ao banco dos réus.

Quando a filha completou oito meses de coma, Odele disse ao médico que a levaria para casa. Se Flavia pudesse sentir o cheiro da comida, ouvir a voz do irmão, o som dos chinelos da mãe no assoalho, quem sabe não acabaria por despertar? Nesse tempo, Odele sentia tanta dor que, palavras dela, se confundia com a dor. “Eu era uma dor ambulante”, diz. “Observava o ipê florindo-se de amarelo na janela e sentia raiva. Por que só minha filha não floresceria?”

Odele descobriu que o tempo da solidariedade passara. Não porque as pessoas se tornaram indiferentes, mas porque é difícil suportar uma dor que não acaba. “A dor da gente precisa deixar de ser ostensiva para que não nos tornemos insuportáveis para o outro”, diz. “Depois de dois anos, amigos passaram a atravessar a rua quando me viam. Não eram más pessoas, apenas não sabiam mais o que me dizer.”

Um ano depois do acidente, apareceram os primeiros laudos médicos. E a palavra que, ainda hoje, devasta Odele: irreversível. A mãe recusou-se a aceitar. Iniciou uma busca em que caiu em mãos de todo tipo. Escreveu a um lama do budismo tibetano. Peregrinou por igrejas de denominações variadas e centros espíritas. Passou por médiuns com apregoados poderes de cura e também por médicos que ofereciam tratamentos “revolucionários”. Todos lhe prometeram um milagre, no mesmo tom casual com que garantiriam o nascimento do sol no dia seguinte.

Ao levar a fotografia de Flavia a um médium que diz incorporar um famoso médico alemão, Odele ouviu: “Que menina bonita. Vamos tirá-la do coma”. Ela acreditou. Sempre acreditava. Passou seis meses atravessando a cidade para receber injeções espirituais na nuca. Da médica de uma universidade paulistana, ela escutou: “Em 15 sessões ela já vai dar sinais de retorno”. Não havia “talvez”, “quem sabe”. Só certeza.

A cada sessão, Flavia era espetada com cerca de 30 agulhas de acupuntura. A Odele, a médica pedia que fincasse uma agulha em cada dedo da mão e do pé de Flavia até que brotasse uma gota de sangue: “Energia negativa”. “Eu espetava chorando”, diz.

Quando as 15 sessões terminaram, a médica disse: “E se você parar agora e ela despertar na 18ª?”. Odele já tinha “e ses” demais em sua vida. “E se o prédio não tivesse piscina? E se eu tivesse ido com Flavia tomar sorvete naquela tarde? E se...?” Sem poder suportar mais um, ela seguiu com o tratamento. Um dia a médica provocou uma queimadura na pele de Flavia. Só quando queimou a menina pela segunda vez, Odele entendeu que era hora de parar. Havia sido a 54ª sessão.

Odele parou. “Percebi que não poderia levar minha esperança à insanidade”, diz. “Flavia estava ali, frágil e indefesa, exposta a minhas tentativas de mãe.”

Parar de tentar significava aceitar que a vida possível tinha agora paredes claustrofóbicas e um silêncio sem fim. “Essa dor é pior que a morte, porque é uma perda diária. Essa dor está no meu coração. Eu a sinto no meu caminhar, no fundo dos meus olhos, no meu rosto”, diz.

Odele começou a costurar uma existência em que a esperança resiste nos cantos. Quando Flavia é levada na cadeira de rodas para pegar sol, desce no elevador com a roupa combinando, brincos nas orelhas, presilhas coloridas nos cabelos sempre longos, porque era assim que ela gostava. Flavia pode ver, mas possivelmente nada enxergue. O que não a impede de usar óculos de aros cor-de-rosa quando está sentada. Para ela, a mãe ainda conta as histórias de fadas dos Irmãos Grimm. Mas também lançamentos como Leite derramado, de Chico Buarque, porque agora Flavia já é uma adulta. Cresceu na cama ouvindo Sandy e Júnior. E, agora, é para ela que Roberto Carlos canta suas mais derramadas canções de amor.

“Fá, nem sabe o que aconteceu”, diz Maria José Rodrigues, ou Masé, a técnica de enfermagem que chega. “Morreu o Ghost.” Masé refere-se à morte do astro do filme Ghost, Patrick Swayze, ocorrida em setembro. “Fá, chorei que nem uma besta nesse filme.” Aos 41 anos, Masé cuida de Flavia dia sim, dia não. Entra às 8 horas, depois de completar 12 horas de plantão na UTI de um hospital. Tem pela frente oito horas em que cuida de Flavia com tanto amor que seu próprio filho sente ciúmes. Da rua, ela traz um esmalte rosa-clarinho, transparente, de nome Paraíso, para pintar as unhas de sua “Fafá”. Junto vêm decalques de florzinhas para colar em cada unha esmaltada. Masé tem um lugar especial em uma vida condenada a ser tecida por outros. “Fá, será que um dia eu vou ouvir sua voz?”

Na metade da manhã chega uma das duas profissionais que se alternam de segunda-feira a sábado, em uma hora de fisioterapia. Flavia é colocada numa prancha para que seu corpo fique na vertical, fortalecendo a musculatura das pernas e melhorando o funcionamento dos sistemas digestivo e urinário. Seu corpo é massageado, e por suas mãos passam diferentes texturas para que ela sinta estímulos diversos. Órteses nas pernas e nos braços mantêm mãos e pés na posição correta, já que eles tendem a entortar pela imobilidade. Depois Flavia é acomodada na cadeira de rodas por três horas. Só à tarde volta para a cama, onde é virada a cada duas horas para não ter escaras. “Ela é incrivelmente bem cuidada”, diz a fisioterapeuta Andrea Lotufo. “Nunca vi uma ferida em seu corpo.” O pai da menina, separado de Odele desde a gravidez, sustenta boa parte da cara estrutura que mantém esses cuidados.

Em seu sono, Flavia tem pele de pêssego e cabelos brilhantes, cuidados pelo cabeleireiro Ary Soares, que trata deles desde antes de serem capturados pelo ralo. Não cobra nada. Ninguém toca em Flavia sem dar “oi”, “tchau” e pedir licença. Flavia não fala, mas os habitantes de seu mundo restrito falam com ela. E assim descobre que o esmalte da fisioterapeuta se chama Quinta Avenida.

Embaixo da cama de Flavia, Michele monta guarda. Ela é uma fêmea de poodle branca comprada na esperança de que os latidos despertassem Flavia. Provocam apenas sobressaltos. O nome foi tomado emprestado de uma amiga de Flavia, depois de Odele ter encontrado um bilhete na mochila escolar da filha: “Flavia, eu adoro você. Vou ser sua amiga para sempre. Michele”. Entre as coisas de Flavia, Odele também achou o telefone de uma agência de modelos.

Em sua trajetória, Odele conheceu o pior e o melhor do humano. A ela, nada foi poupado. Ao longo do processo jurídico, até mesmo a inteligência de Flavia foi posta em dúvida. Odele teve de provar que a média de Flavia na escola era 9,3, que aos 10 anos a filha falava inglês e espanhol, tocava teclado e sabia nadar muito bem. Vizinhos disseram que a menina costumava ser negligenciada, na tentativa de isentar o condomínio do pagamento de uma indenização. A fabricante do ralo alegou que a mãe fora “relapsa”. A Justiça de primeira e segunda instância sentenciou Odele como corresponsável pelo acidente, por não estar presente na piscina.

Só mais de uma década depois, em março deste ano, o Superior Tribunal de Justiça rejeitou, por unanimidade, a responsabilidade de Odele. “Essa mãe foi muito injustiçada. Ela nunca poderia responder por deixar sua filha, que sabia nadar bem, como está provado, ir nadar em seu condomínio. Ora, quem de nós não deixa os filhos nadar sozinhos?”, disse o ministro João Otávio de Noronha. O condomínio foi condenado por instalar um ralo incompatível com as dimensões da piscina. A fabricante foi absolvida.

Nestes anos todos, Odele conta que tinha vontade de abrir a janela do apartamento e gritar: “O que eu faço com esta dor?”. “O blog é como uma janela que se abriu. E me arrancou da solidão. Escrever é uma forma de falar de amor e exorcizar a dor. A palavra tem esse poder”, diz Odele. Por essa janela, ela alerta para o perigo dos ralos das piscinas. “Me dizem que não muda nada, mas acredito em exercer a cidadania. Não quero provocar um sentimento de pena, não sou uma coitada. Escolhi lutar”, diz. “Se não tenho poder de mudar, tenho o poder de incomodar. O que aconteceu com Flavia não será esquecido.”

A cada dia Odele realiza a alquimia de transformar dor em indignação para manter-se em pé. “Não há laço mais forte que o existente entre mãe e filho. Por isso, eu achava que o amor de mãe tinha mais poder”, diz. “Não é uma culpa o que sinto, mas uma decepção. Esse amor tão grande não é tão poderoso como eu imaginava que fosse.”

Filha de uma sertaneja nordestina que migrou para São Paulo com os filhos depois de ser abandonada pelo marido, Odele é uma mulher que se fez forte pelo exemplo e pelas agruras. Agora, também pela tragédia. No dia em que Masé está, ela amarra os fios de uma individualidade escassa. Almoça com uma amiga, vai ao cinema, visita exposições, vai ao teatro. Lê muito. E escreve um livro sobre a história de Flavia. “A felicidade já não está a meu alcance, o contentamento sim. Sempre há um jeito de dar um sorriso. Mas, às vezes, o possível para nós é muito pouco”, diz Odele. “Flavia vive à margem da vida. E eu, à margem da liberdade.”

Nos dias em que Masé não está, Odele se dedica a treinar outra cuidadora. Não é fácil encontrar alguém que cuide bem de uma menina em coma. Nem sempre o sono de Flavia é plácido. Seu corpo produz secreções que precisam ser aspiradas uma dezena de vezes ao dia. Pela sonda gástrica, ela recebe as calorias exatas para manter a saúde do corpo sem ultrapassar os 52 quilos. A atenção é constante.

A narrativa fiel desse cotidiano no blog provoca reações extremadas. Desde que passou a habitar a internet, Odele conheceu em profundidade a alma humana. Ela costuma ser alvo de ataques disparados por dois movimentos supostamente antagônicos. Por um lado, defensores da eutanásia lhe dão conselhos. “Deixe de virar sua filha a cada duas horas e a natureza fará seu trabalho”, diz um. “Se você quiser, eu posso aplicar uma injeção”, oferece outro. No lado oposto, religiosos garantem milagres instantâneos se Odele levar Flavia a sua igreja. Basta um domingo, e Flavia sairá andando. Odele recusa ambas as ofertas com firmeza.

Nesse momento as duas pontas se tocam. Ao recusar a eutanásia e o milagre, os discursos se igualam na intolerância. Odele é chamada de “egoísta” e “prepotente”. Ambos os lados acusam-na de não amar “verdadeiramente” a filha. Por meio de e-mails agressivos, estranhos ousam conhecer tanto sua dor quanto seu amor – e sempre acreditam saber o que é melhor para as duas.

Odele está serena quando diz: “Não julgo os pais que optam pela eutanásia, nos países em que ela é permitida. Cada um sabe de sua dor e de suas circunstâncias. Nunca pedi para a minha filha partir. Ela está aqui e, a mim, cabe cuidar para que tenha a melhor vida possível, ainda que o possível seja pouco. Há muito já não acredito em milagres. No meu blog, não permito que falem nem de eutanásia nem de que sua cura depende de Deus. Nem sou santa nem Flavia é. Se eu tivesse permitido, já a teriam transformado numa santinha, e minha casa seria lugar de romaria. Só quero que respeitem meu modo de amar. Para mim, amar é cuidar da minha filha da melhor forma que posso”.

Se as sombras penetram pela janela aberta do blog, é também por ela que entram personagens luminosos de além-mar. Sem muitos amigos reais dispostos a partilhar a vida de uma mulher presa aos horários impostos pelas necessidades de uma filha em coma, Odele fez amizades profundas com gente que nunca tocou. Talvez no mundo fluido, impalpável da internet, seja mais possível alcançar a fragilidade da ausência encarnada de Flavia.

Em torno de Odele e de Flavia foi tecida uma rede que dá amparo e sentido à perda de cada dia. São, em grande parte, amigos de Portugal, que se identificaram com a narrativa de Odele no blog e hoje irrompem pela casa das mais variadas maneiras, espanando as sombras com “coisas ternurentas”. Desde que a medicina encontrou seus limites, é o afeto que salva Odele. Enquanto Flavia dorme em seu casulo, a sua cabeceira nasce uma borboleta pelas fotografias de Nuno Sousa. Outra artista portuguesa, Isabel Filipe, cria novos enredos para a vida de Flavia em fotografias. Mas é um português chamado António Peciscas que as alcança com uma singeleza de sentimentos capaz de redimir a brutalidade daquele sono sem despertar.

De sua casa, no Porto, esse professor sessentão, pai de um filho adulto, envia gravações para Flavia ouvir. Nelas, narra as delicadezas de um cotidiano povoado de banalidades extraordinárias. Pela sua voz, Flavia pode tocar o pelo de uma gata branca que por lá aparece não para comer, mas para receber afagos. “Olá, querida Flavia. Cá está o António uma vez mais...”, inicia ele, como um avô de sotaque português, a voz doce como um pastel de Santa Clara. Grava os sons que se ouvem em sua rua. O sino da igreja, o galo do vizinho e até seus passos apressados sobre as folhas do parque. Nos domingos solitários, a voz de António é a única a quebrar o silêncio da vigília de Odele.

À noite, quando a dor alcança escalas impossíveis, Odele vai para seu quarto e chora. Flavia dorme no quarto ao lado, as portas sempre abertas. “Foi muito pouco o que restou de individualidade para nós”, diz Odele. “Mantemos nossos quartos.”

Ao contrário de todas as mães do mundo, ela tem medo de morrer antes da filha. Odele sabe que ninguém, por melhor que sejam as intenções, será capaz dessa vida de esquecimentos. “A vida me deu muito pouco. Espero que me conceda pelo menos isso”, diz. “Posso morrer no dia seguinte.”

Quando Odele dorme, tem um sonho recorrente. Nele, Flavia dá a mão para a mãe. E elas voam.

Matéria publicada na Revista Época, em 22 de novembro de 2009.

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Comentário:

Ao ler com atenção esta notícia, dois sentimentos distintos dominam a nossa alma: Uma tristeza imensa pela dor de uma mãe confrontada com uma situação tão pungente e uma profunda comoção pela sua persistência diante de tão agreste adversidade, manifestando um amor e carinho incansáveis à sua querida filha. Perante a dor e o sofrimento alheio, mesmo quando eles são tão intensos como os relatados, somos frequentemente instigados a manifestar uma opinião e raras vezes o fazemos com o bom senso e o respeito que as situações o merecem. Do alto de um pretenso conhecimento, senhores de uma razão vaidosa que queremos impor aos outros, protegidos pela distância de uma dor que não conseguimos sequer mensurar, ousamos dar palpites e prescrever receitas infalíveis, acusando quem necessita de consolo, iludindo quem já se sente tão enganado pela vida, esquecidos de que momentos existem em que um carinho e um abraço sentido são infinitamente melhores bálsamos do que qualquer palavra.

No final desta notícia, uma pergunta ecoa no pensamento de quem sentiu estas linhas tão bem redigidas pela jornalista Eliane Brum: Sob a óptica Espírita, como fica a situação de um Espírito quando o seu corpo físico, mergulhado num estado comatoso, deixa de responder à sua vontade? O Espírito será capaz de perceber o que acontece à sua volta? Ele permanece preso ao corpo?

Ao procurarmos respostas para esta questão, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, verificamos que o estado de coma não é tratado de forma específica. Como tal, necessitamos fazer algumas analogias com situações de inconsciência tratadas na obra de Allan Kardec, como é o caso do sono, da letargia e catalepsia. Em termos médicos, o coma é um estado onde o indivíduo evidencia uma perda de consciência, sensibilidade e mobilidade voluntária, mantendo ativos princípios vitais, como a respiração e a circulação sanguínea. Na pergunta 401, questionados por Allan Kardec se durante o sono a alma repousaria com o corpo, os Espíritos responderam: “Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito.” Podemos também analisar na questão 423, em referência ao estado letárgico: “Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.” Na questão 407, encontramos o seguinte esclarecimento: “É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito? Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo."

Aproveitando o relaxamento dos órgãos físicos que o estado comatoso proporciona, o Espírito liberta-se parcialmente das amarras que o corpo físico lhe cria, participando de uma forma mais ativa da vivência na dimensão espiritual. Não quer isso dizer que abandone ou rejeite o seu corpo ou que seja insensível aos cuidados e ao amor que lhe são dedicados. Nada disso. Como sabemos, existem inúmeros casos de pessoas que, passando por situações de coma e regressando à consciência dias ou meses mais tarde, relatam situações ocorridas durante aquele tempo, tanto junto do seu corpo como em dimensões superiores do mundo espiritual. Isso significa apenas que o Espírito sujeito a tal estado permanece consciente e não fica adstrito à imobilidade do seu corpo físico.

Podemos desta forma perceber que num estado de coma, o Espírito, embora ligado ao corpo, não se encontra preso a ele, estando antes numa situação de maior liberdade espiritual, semelhante ao de uma pessoa que dorme.

Por: Carlos Miguel Pereira. Trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pergunta Feita: "quero estudar o evagelho segundo espiritismo".

Mensagem: Olá Sou S, tenho 23 anos e moro em Aracaju, sou espiritualista, acredito na reencarnação e no karma.

Quero dicas de livros, bons, espiritas e tmb quero aprender o evangelho kardecista.

Abraços

S

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Olá, S!

Muita paz!

O "O Evangelho segundo o Espiritismo" é parte das Obras Básicas de Allan Kardec, que são:

1. O Livro dos Espíritos - 18 de abril de 1857
2. O Livro dos Médiuns - janeiro de 1861
3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - abril de 1864
4. O Céu e o Inferno – 1865
5. A Gênese, os milagres e as predições - janeiro de 1868

Allan Kardec escreveu ainda dois outros livros de menor extensão: O Que é o Espiritismo e O Principiante Espírita. No ano de 1890, após sua morte, foi publicado o livro Obras Póstumas, contendo artigos de Kardec ainda não conhecidos do público.

Principalmente para aqueles que não conhecem o Espiritismo, nunca frequentaram uma Casa Espírita e desejam conhecer a Doutrina, achamos interessante que se comece pelo "O Livro dos Espíritos".

Nesse livro, com 1019 itens, o Codificador apresenta os princípios básicos da Doutrina que, posteriormente, serão desenvolvidos nos outros livros. Na primeira parte do livro, o autor estuda as causas primárias, Deus, o espírito e a matéria. Na parte segunda, Kardec disseca em profundidade o Mundo dos Espíritos; a encarnação, a desencarnação, a missão e ocupação dos Espíritos, na terceira parte tem um caráter eminentemente moral, pois ele vai examinar a Lei Natural, subdividida em dez Leis Morais que regem as relações humanas (Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e Justiça, Amor e Caridade). Na última parte, o codificador se preocupa com as Esperanças e Consolações, introduzindo a sonda de suas investigações na complexa Lei de Causa e Efeito.

Já em "O Evangelho segundo o Espiritismo", Kardec se propõe a examinar cuidadosamente as diversas palavras do Cristo e as passagens mais significativas do Novo Testamento, no seu aspecto moral, assumindo um caráter nitidamente religioso, onde a síntese de seu conteúdo é: "A explicação da máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida." O seu estudo se desdobra em 28 capítulos de rara beleza e de profunda sabedoria.

Para conhecer melhor o Espiritismo, temos dois sites muito interessantes para lhe oferecer. No primeiro, você encontrará excelentes indicações sobre livros espíritas para consultas diversas; no segundo, esclarecimentos gerais sobre a Doutrina Espírita.

• www.espiridigi.net/videos

• www.espiritismo.net/espiritismo

Bem, S, independente das leituras, seria interessante que você buscasse em sua cidade uma Casa Espírita que tenha um trabalho sério, voltado para o estudo da Doutrina. Assim, terá melhores oportunidades de esclarecimento, podendo participar de reuniões públicas, cursos diversos, tirando suas dúvidas de uma forma mais direta e objetiva.

Recomendamos, também, caso seja possível e haja interesse, participar de nossas atividades na Internet (estudos, palestras, vibrações e Atendimento Fraterno), via Paltalk (programa de áudio-conferência). Informe-se sobre o programa - instalação e uso - no site www.espiridigi.net/paltalk , além da programação semanal de nossos grupos de trabalho, com as atividades e horários.

No Paltalk: categoria "Central & South America" - subcategoria "Brazil", sala ESPIRITISMO NET JOVEM - Às sextas-feiras, 21h, com estudo das Obras Básicas. Também, no mesmo programa, às segundas-feiras, 20h40, na sala ESPIRITISMO NET ESTUDO, estudo da obra "Educadores do Coração", de Walter Barcelos - para pais, educadores e evangelizadores.

Como complemento para nosso atendimento, convidamos você, sua família e interessados para conhecer nosso trabalho de vibração, desenvolvidos no Paltalk - sala Espiritismo Net Vibração -, aos domingos, categoria Central & South America / subcategoria Brazil", das 22h às 22h30, que lhes proporcionará momentos de harmonia e reflexão. Você também pode encaminhar nomes para a vibração através do formulário no endereço www.espiritismo.net , seção "Preces Online”.

Com a certeza de que estará fazendo excelentes leituras e colhendo ótimos frutos, desejamos-lhe muito sucesso e o melhor proveito possível.

Receba o nosso carinho e sinta-se envolvida por toda nossa equipe. Estamos à disposição para auxiliar no que for necessário e conte sempre conosco.

Um abraço,

Vania Itaborahy
Equipe Espiritismo Net Jovem
Dúvidas e Sugestões: www.cvdee.org.br/netjovem.asp

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Artigo: Transições e Revoluções Planetárias

Por: Breno Henrique de Sousa



Os tempos são chegados e a transição é marcada por diversas revoluções outrora anunciadas. Especialistas dos mais respeitáveis setores do conhecimento humano buscam entender a atual conjuntura social e antever suas possíveis conseqüências. Acompanhadas das revoluções sociais estão as revoluções da natureza, desde cataclismos geológicos naturais até as conseqüências dos desmandos do homem sobre o meio ambiente.

A enfermidade, para qualquer iniciado na medicina espiritualista, surge pelo desequilíbrio energético do organismo. O desequilíbrio das energias sutis minam as defesas orgânicas deixando o caminho livre para a ação dos agentes infecciosos. A Terra é como um organismo vivo, sua emanação energética é fonte vital para nosso equilíbrio assim como, materialmente, ela é o reservatório que mantém a vida orgânica. Há uma profunda relação entre o equilíbrio energético do perispírito e seus vórtices energéticos, com as energias emanadas do sol, do ar e da terra. Isso fica evidente quando os espíritos superiores nos informam que o perispírito é formado pelo fluido do planeta que o espírito habita, selando esta relação profunda.

A saúde do planeta afeta a nossa saúde física, mental e espiritual, assim como nossas ações influem sobre a saúde do planeta. Os especialistas discutem a proporção real da problemática ecológica e o quanto dela se deve a ciclos naturais do planeta. Decerto, as alterações climáticas e geológicas são comuns no planeta, mas a peculiaridade deste momento é como ela é agravada pela ação humana e a crise de valores que acompanha a atual crise ecológica.

Temos a cognição de que estas duas crises, a ecológica e a social, da forma que se apresentam, com sua concomitância, não tem precedentes na nossa história e compreendemos também que ambas são, na realidade, duas faces de uma mesma crise, ou pelo menos, disso temos certeza, que elas repercutem uma sobre a outra agravando mutuamente seus efeitos. Assim temos ao mesmo tempo: um momento de transformações físicas naturais que tem causado alterações climáticas e aumento da atividade sísmica; transformações magnéticas e energéticas que acompanham estas mudanças climáticas e geológicas; transformações sociais onde ocorre a eclosão da violência e de patologias psíquicas que possuem suas causas históricas e sociais, mas que são agravadas pelos dois primeiros fatores e os males causados à natureza pela ação humana.

A atual revolução no campo energético do nosso planeta está também relacionada com fatores cósmicos mais amplos que escapam de nossa percepção. A Terra não é uma pedra impassível que navega inalterável no espaço. Como um ser vivo, ela é um sistema aberto que sofre influencia das modificações das energias solares e das regiões cósmicas por onde transita nossa galáxia que viaja no espaço.

Quando se aproxima uma catástrofe natural, os animais intuem por seu instinto o acontecimento. Nas últimas tsunamis ocorridas na Ásia, antecipadamente, muitos animais rumaram para áreas mais altas para se refugiarem. Existem centenas de exemplos de como os animais podem antever catástrofes ou mesmo “adivinhar” onde há alimento e água. O instinto é excelente guia, seu fundamento está na integração energética do corpo espiritual em formação compondo-se com as energias planetárias. Da mesma forma, nós estamos integrados à natureza com a diferença de termos o perispírito já formado. O raciocínio nem sempre nos permite observar nossas reações instintivas, sempre procuramos razões complexas para explicar o comportamento social desconsiderando que ele é significantemente influenciado por fatores ambientais, energéticos e espirituais que na maioria das vezes não nos damos conta. Uma simples alteração climática pode influir sobre os índices de violência urbana, o que dizer então de mudanças tão profundas como as que estão ocorrendo agora?

Neste momento, somos animais nervosos e amedrontados que pressentem o perigo como aqueles que pressentiam a tsunami. Este padrão de energia agitado tem provocado toda sorte de desordem comportamental e atingido, sobretudo as almas fracas e desequilibradas. Como os animais, sentimos a agitação. Os que desfrutam de relativo amparo da espiritualidade e conquistas no campo do equilíbrio emocional, ainda assim, sentem uma inquietação profunda, uma ansiedade que geralmente lhes conduzem a atuar de maneira mais intensa em suas atividades espirituais e humanitárias. Estes precisam estar atentos para que essa ansiedade não se torne medo e alimente a violência ou desespero. Mas há também aqueles que estão na escuridão do conhecimento das coisas espirituais, os que se comprazem nas trevas da ignorância, envoltos no padrão de energias angustiantes. São também os que se preocupam unicamente com a sobrevivência material, ou que se completam apenas com os prazeres oferecidos pela matéria, são dominados pela energia do medo, do egoísmo e da vaidade. Estes, inconscientemente também são agitados por essa revolução energética, mais que isso, pressentem que esta revolução lhes ameaça e que eles estão especialmente vulneráveis a tais transformações. Reagem como animais desesperados na fila para o abate. Em todas as partes eclodem núcleos de violência e barbárie, violência às vezes gratuita e incompreensível ou em outros momentos, travestida de ideais políticos e religiosos.

Observando a natureza, as espécies vegetais possuem mecanismos interessantes para garantir sua perpetuação biológica. Quando submetida a qualquer estresse climático, químico ou hídrico a planta reage acelerando sua reprodução, emitindo pendões florais, para garantir a perpetuidade diante do perigo iminente. São biologicamente programadas para reagir pelo automatismo fisiológico, mesmo que ainda não tenham consciência de si mesmas. O princípio espiritual estagia nos pródromos da matéria, assimilando os seus automatismos, para despertar a consciência com o manancial de aquisições evolutivas conquistadas ao longo de sua caminhada nos reinos da natureza. Ao despertar como espírito individual e completo o homem ainda encontra-se preso aos atavismos materiais, sobretudo as reações instintivas de sobrevivência e reprodução. As energias sexuais ainda preponderam sobre o plano da consciência e no início de sua caminhada o espírito está predominantemente dominado pelo plano biológico da sobrevivência que equivale ao sexo e ao alimento, para depois desenvolver o sentimento que o eleva a condição humana.

A estrutura do corpo físico, vigorosa de hormônios sexuais, é típica deste estado evolutivo e compatível com o nível de consciência do espírito recém chegado na hominalidade. Os hormônios sexuais estão também relacionados com os impulsos de agressividade necessária para a luta e sobrevivência enquanto estagia em mundos primitivos. Sexo e violência andaram sempre juntos porque possuem uma relação fisiológica muito próxima, além de serem impulsos dominantes e incontroláveis nos espíritos menos evoluídos.
Assim, podemos entender que se o atual padrão energético da Terra provoca reações de agressividade e ansiedade, ele também estimula a libido e a recrudescência à sexualidade impulsiva e desregrada. É uma resposta instintiva ao pressentimento inconsciente do perigo, assim como a planta que acelera seu processo reprodutivo para garantir sua sobrevivência mesmo sem ter consciência deste processo. O padrão atual de energia é favorável a exacerbação das energias sexuais, isso não seria um problema se tivéssemos equilíbrio para canalizar estas energias e é isso o que tem feito espíritos nobres que têm produzido neste momento grandes obras no campo da ciência, tecnologia, humanidade, arte e espiritualidade. A maioria, porém, sofre a influência desta faixa vibratória de maneira desequilibrante, dando vazão aos seus impulsos, prescindindo de valores éticos e morais, agravando ainda mais o seu estado individual de comprometimento diante das leis divinas e, por conseqüência, agravando o panorama de desequilíbrio e sofrimento da humanidade.

Este padrão de energia exerce uma função catalisadora, sua origem está nas atuais revoluções climáticas e geológicas (pois é chegado o momento natural delas acontecerem), sob influencia desta torrente energética, que não é boa nem ruim – nossas reações é que qualificam seus efeitos – cria-se uma psicosfera de desequilíbrio que agrava o problema, além da destruição da natureza pelo homem, desdobrando todo um panorama de revolução e transformações sociais, ambientais e espirituais. Esta psicosfera pode causar desde a ansiedade e hiperatividade, o que leva a uma maior produção em todos os campos de atividade humana, até a obsessão pelo trabalho, o estresse e o desenvolvimento de psicopatologias relacionadas com a ansiedade como o pânico e os transtornos obsessivos compulsivos, ou mesmo, nas personalidades mais depressivas e fragilizadas, distúrbios como as depressões e transtornos bipolares. Todos estes fatores unidos ao nosso insalubre modelo de vida, onde predominam o sedentarismo, dietas pouco saudáveis e contaminação oriunda de agrotóxicos, poluentes e medicamentos, é a combinação tragicamente perfeita para deixar-nos ainda mais vulneráveis a esta crise.

A espiritualidade não nos deixa órfãos nestes momentos tão difíceis e encarnam na Terra espíritos missionários que surgem como faróis na noite escura que atravessamos. Eles surgirão (e já surgem) em todas as partes e não serão identificados por pertencerem a alguma bandeira ou ideologia específica. É preciso que seja assim, porque agora o inimigo não está mais personificado em um país, religião, bandeira política ou ideológica. Não está mais em grupos ou famílias inimigas. O inimigo agora está em nosso país, em nossa fronteira, compartilha das mesmas bandeiras ideológicas, senta-se conosco à mesa e se parece fisicamente. O inimigo hoje pode ter o mesmo sangue, pode ser uma mãe que joga o filho pela janela ou um filho que assassina os pais para tomar-lhes a fortuna.

Diante da tormenta é necessário ter redobrada vigilância e esforçar-se por manter o pouco de luz que adquirimos para não nos perdermos na escuridão da ignorância. É preciso trabalhar no sentido de garantir conhecimento espiritual aos milhares de sedentos que anseiam por compreensão e esperança. A coragem e o amor são os grandes e legítimos instrumentos que podem salvar-nos e salvar aqueles aflitos que buscam alívio, compreensão e sentido para prosseguir a existência.

Neste momento é preciso não vibrar nas faixas da contenda e dos sectarismos gratuitos, eivados de floreios retóricos, alheios à gravidade do problema. Na crise é preciso ser tolerante com as diferenças menores, a fim de unir forças para o objetivo maior de esclarecer um maior número de consciências sedentas de socorro espiritual. No momento, nós, líderes, pensadores e formadores de opinião, nos encontramos como doutores da lei e sacerdotes discutindo o sexo dos anjos, orgulhosos dos nossos saberes, felizes quando vencemos os conclaves filosóficos com nossos argumentos rebuscados, enquanto isso, a porta do templo do conhecimento está fechada e lá fora os sedentos das noções mais elementares da espiritualidade gritam de desespero. Não nos esqueçamos que nos será pedido contas dos talentos que recebemos e que amanhã poderemos renascer sem o privilégio dos conhecimentos que temos, à míngua entre a humanidade mendicante de diretrizes espirituais.

Não se põe uma candeia debaixo do alqueire, sobretudo quando a escuridão ameaça destrilhar a humanidade. Unamo-nos, pois no propósito de esclarecer consciências e consolar corações.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Notícia: "O que nos torna únicos? Não são apenas os nossos genes."

Redação do Diário da Saúde


Gene do quê?

Quando o genoma humano foi sequenciado, em 2001, começou uma caçada pelos genes que tornam cada um de nós um ser único. E também dos genes causadores de doenças.

A partir daí, foi uma lista interminável de genes, incluindo gene da obesidade, gene do envelhecimento, gene da imunodeficiência, gene do autismo, gene da calvície, gene da gagueira e até um "gene brasileiro" do glaucoma.

Os estudos também serviram para contrapor as ideias de raças, mostrando que grupos étnicos são formações sociais, e não genéticas. Mas também levaram a conclusões como a de que emoções dos pais são passadas para os filhos por meio dos genes.


Mistérios do ser humano

Mas agora os cientistas acabam de descobrir que a principal causa de sermos diferentes uns dos outros não está propriamente em nossos genes, mas em como nossos genes são regulados - ligados ou desligados, por exemplo.

O estudo, feito por pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), em Heidelberg, na Alemanha, e das universidades de Yale e Stanford, nos Estados Unidos, acaba de ser publicado na revista Science.

Este é o primeiro estudo que compara genomas humanos completos, definindo quais as mudanças nos trechos de DNA que se situam entre os genes fazem a regulação gênica variar de uma pessoa para outra.

A descoberta muda a forma de pensar sobre nós mesmos e sobre nossas doenças que vinha sendo disseminada desde a chamada "revolução genômica", quando o sequenciamento do DNA chegou a ser visto como a chave final para desvendar os "mistérios do ser humano."


Sequenciamento genético

Os avanços tecnológicos nos últimos 10 anos foram tão grandes que os cientistas agora podem obter as sequências genéticas - o genoma - de várias pessoas em uma fração do tempo e por uma fração do custo que levou para desvendar o primeiro genoma humano.

Além disso, esses avanços agora permitem que os pesquisadores entendam como os genes são regulados nos seres humanos.

O grupo de cientistas, liderados por Jan Korbel e Michael Snyder, foi o primeiro a comparar genomas humanos sequenciados individualmente para procurar o que causa diferenças na regulação dos genes entre dez pessoas diferentes.

Eles se concentraram em regiões não-codificadoras, trechos do DNA que se encontram entre os genes e, ao contrário dos próprios genes, não possuem as instruções para produzir proteínas.

Essas sequências de DNA, que podem variar de pessoa para pessoa, podem funcionar como âncoras para que as proteínas reguladoras, conhecidas como fatores de transcrição, liguem-se à molécula de DNA para ligar ou desligar genes.


Diferenças entre seres humanos

Os cientistas descobriram que cerca de um quarto de todos os genes humanos são regulados de forma diferente de pessoa para pessoa.

Isto é mais do que as variações que existem entre os genes de um indivíduo para outro.

O estudo também revelou que muitas dessas diferenças no modo como as proteínas reguladoras funcionam devem-se a mudanças nas sequências de DNA às quais elas se ligam.

Em alguns casos, estas mudanças podem estar na diferença de uma única letra do código genético, enquanto em outros pode haver uma alteração em uma grande seção do DNA.


Diferenças inexplicáveis

Mas, surpreendentemente, os cientistas descobriram um número ainda maior de variações que não podem ser facilmente explicáveis.

Eles levantaram a hipótese de que algumas destas diferenças por enquanto inexplicáveis podem surgir se as proteínas reguladoras não agirem sozinhas, mas interagirem umas com as outras.

"Nós desenvolvemos uma nova abordagem que nos permitiu identificar casos onde a capacidade de uma proteína para ligar ou desligar um gene pode ser afetada pela interação com outra proteína ancorada em uma área próxima do genoma," explica Korbel. "Com isso, nós podemos começar a compreender onde tais interações acontecem, sem ter que estudar cada proteína reguladora individualmente."


"Genismo"

Os cientistas descobriram que, mesmo que diferentes pessoas possuam cópias idênticas de um gene - o ORMDL3 por exemplo, um gene que se sabe estar envolvido na asma em crianças - a maneira como as células de cada uma dessas pessoas regulam esse gene pode variar.

Isto é um verdadeiro balde de água fria nas divulgações de pesquisas que apregoam os "genes disso" ou "gene daquilo". Não é apenas possuir ou não um determinado gene ativado ou não que importa - a forma como ele é regulado pode fazer uma enorme diferença entre os indivíduos.

"Nossos resultados podem ajudar a mudar a maneira como nós pensamos sobre nós mesmos e sobre as doenças, assim como sobre a procura por genes de doenças," afirma Snyder. "Nós podemos começar a olhar como os genes são regulados, e como as variações individuais na regulação genética podem afetar as reações dos pacientes."


Primas leveduras?

Finalmente, os cientistas compararam a informação genética dos seres humanos com a de um chimpanzé.

Eles constataram que, no que diz respeito à regulação dos genes, parece haver tanta variação entre um ser humano e outro, como entre nós e nossos primos.

Em um outro estudo, publicado na revista Nature, um grupo de pesquisadores liderados por Snyder e por Steinmetz Lars descobriu que diferenças similares na regulação genética também podem ocorrer entre os humanos e um organismo que está muito distante de nós na árvore evolutiva: a levedura, ou fermento de padaria.

Um outro estudo demonstrou que cada pessoa possui tantas mutações genéticas que, na verdade, nós já somos todos mutantes.

Notícia publicada no Diário da Saúde, em 9 de abril de 2010.

*****

Comentário:

Estamos em constante evolução. No decorrer de milênios, o homem vem se desenvolvendo moralmente e intelectualmente, fazendo descobertas, adentrando nos mistérios da criação. Assim, na medida em que novos conhecimentos são adquiridos, mudam-se os conceitos e ideias, tal como ocorreu agora com o quanto fora previsto quando do sequenciamento do genoma humano.

Chegou-se a acreditar que a descoberta de um gene que causa determinada doença pudesse fazer com que a enfermidade fosse anulada, simplesmente com o isolamento desse gene. Porém, vimos que agora a situação muda de contexto, pois meramente detectar o gene não mais importa, é necessário mais. E quem diria, há dez anos, que estaríamos recebendo notícias como essa.

Trata-se da natural evolução científica, que aumenta a média de vida do ser humano, cria vacinas e curas para doenças antes aterrorizantes, como a hanseníase. O homem vem buscando a perfeição. Futuramente, seremos perfeitos. Estamos fadados ao crescimento não apenas na esfera da ciência, como na espiritual e, principalmente, moral.

Notícias como a que ora analisamos nos faz meditar, ainda, sobre imperiosas decisões que são tomadas em sociedades. A decisão, por exemplo, de se legalizar a eutanásia. Ou, ainda, de se utilizar células-tronco advindas de embriões humanos, dentre muitas outras.

Com essa avalanche de descobertas e constantes mudanças nas concepções científicas, temos que redobrar nosso cuidado na defesa dessa ou daquela tese.

Precisamos ter equilíbrio e discernimento para perceber que todo o desenvolvimento genético trará as alterações sociais necessárias ao nosso crescimento e que nossos passos são muito importantes, devem ser tomados com cautela.

Reavaliar concepções formadas a respeito de questões que podem mudar substancialmente a vida de uma pessoa ou da coletividade é fundamental, pois a ciência tem aberto muitos caminhos. Meditemos a respeito e tenhamos sempre fé e a certeza de que nosso Pai Eterno está no comando de tudo.

Por: Bárbara Paracampos, espírita e colaboradora regular do Espiritismo.net

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mural Reflexivo: "Ouvindo Corações"




Grande sabedoria é saber olhar a vida com olhos de ver. Enxergar as coisas de maneira diversa da habitual. Ir além das aparências.

Nós não somos apenas ossos, músculos, tendões, unhas, cabelos, sangue. Somos tudo isso e mais a essência, o espírito.

É essa essência que nos faz ficar doentes ou recuperar a saúde de uma doença sem bons prognósticos.

Assim, não se pode imaginar medicina sem os remédios, bisturis, equipamentos, poções. Mas, a essência não pode ser esquecida.

Dr. Josh era um talentoso cirurgião oncológico. Depois de alguns anos, começara a ter problemas.

Mal conseguia se levantar da cama todas as manhãs porque sabia que iria ouvir as mesmas queixas, dia após dia.

De tanto ouvir falar de dores e assistir ao sofrimento, deixara de se importar.

Para que tudo aquilo, afinal? Muitos pacientes ele nem conseguia que se recuperassem.

Então, uma amiga lhe observou que ele precisava ter novos olhos. O importante não era mudar de hospital, de atividade. Era ele olhar o mesmo cenário, de forma diferente.

E lhe sugeriu que, a cada dia, durante 15 minutos, ele rememorasse os acontecimentos e respondesse a si mesmo: “o que me surpreendeu hoje? O que me perturbou ou me emocionou hoje? O que me inspirou hoje?”

Ele ficou em dúvida, mas tentou. Três dias depois, a única resposta que conseguia dar para as três questões era nada, nada, nada.

A amiga lhe sugeriu que ele olhasse as pessoas ao seu redor como se fosse um escritor, um jornalista, ou quem sabe, um poeta. Procurasse histórias.

Seis semanas depois, Josh encontrou-se com ela, outra vez e lhe falou das suas experiências. Estava mudado. Sereno.

Nos primeiros dias, a única coisa que o surpreendera tinha sido o tumor de algum paciente que diminuía ou regredira poucos centímetros.

O mais inspirador, uma droga nova, ainda em experiência, a ser ministrada aos pacientes.

Certo dia, observando uma mulher de apenas 38 anos, que ele havia operado de um câncer no ovário, tudo mudou.

Ela estava muito debilitada pela quimioterapia. Sentada em uma cadeira, tinha ao seu lado as filhas de quatro e seis anos. As duas meninas estavam bem arrumadas, felizes e amadas.

“Como ela fazia aquilo?”

Aproximou-se e lhe disse que a achava uma mulher maravilhosa, uma mãe fora do comum. Mesmo depois de tudo o que havia passado, ele observava que havia dentro dela algo muito forte. Uma força que a estava curando.

A partir daí, ele começou a perguntar aos pacientes o que lhes dava forças na sua luta contra a doença.

As respostas eram muito diversas. O importante é que ele descobriu que tinha interesse em ouvir.

Se antes já era um excelente cirurgião, deu-se conta de que agora, e somente agora, as pessoas vinham lhe agradecer pela cirurgia. Algumas até lhe davam presentes.

Mudou o seu relacionamento com os doentes. Contando tudo isso para a amiga, ele retirou do bolso um estetoscópio com seu nome gravado e o mostrou, comovido. Presente de um paciente.

Quando a amiga lhe perguntou o que é que iria fazer com aquilo, ele sorriu e respondeu: “Ouvir os corações, Rachel. Ouvir os corações.”

* * *

Todas as vidas têm um significado. Encontrar o sentido das coisas nem sempre é fazer algo diferente. Por vezes, é somente enxergar o cotidiano, a rotina de uma forma diferente.

A vida pode ser vista de várias maneiras: com os olhos, com a mente, com a intuição.

Mas a vida só é verdadeiramente conhecida por aqueles que falam e ouvem a linguagem do coração.

(Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Encontrando novos olhos, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante e da crônica Colcha de retalhos, de Luiz Carlos Prates (Diário Catarinense, 15.9.2003). www.momento.com.br . http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1022&let=O&stat=0).