terça-feira, 12 de outubro de 2010

Notícia: Palavras dos sábios: especialistas definem sabedoria.

Redação do Diário da Saúde

O que é sabedoria?

Compaixão. Autocompreensão. Moralidade. Estabilidade emocional.

Estas palavras parecem descrever pelo menos algumas das características universais atribuídas à sabedoria, cada uma delas amplamente reconhecida e valorizada.

Mas, a rigor, não existe uma definição persistente e coerente do que significa exatamente ser sábio.


Questão de hardware

A sabedoria é uma virtude muito desejada, mas essencialmente inexplicada, um tema atemporal que só agora começa a atrair o escrutínio rigoroso dos cientistas.

Em 2009, Dilip V. Jeste e Thomas W. Meeks, ambos professores do departamento de psiquiatria da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, publicaram um artigo propondo que a sagacidade - uma forma "mais acadêmica" de nomear a sabedoria - pode ter uma base neurobiológica.

Em outras palavras, eles propuseram que a sabedoria tem bases fisiológicas.

Sabedoria, inteligência e espiritualidade

Na edição de junho da revista The Gerontologist, Jeste e Meeks tentam ir um pouco além, tentando identificar os elementos centrais e unificadores que definem a sabedoria.

Juntamente com colegas de outras quatro universidades, Jeste e Meeks pediram a um grupo internacional de especialistas para caracterizar os traços da sabedoria, da inteligência e da espiritualidade - e medir como cada traço é semelhante ou diferente dos outros.

"Há várias definições de sabedoria, mas nenhuma definição que, sozinha, abarque todos os aspectos importantes da sabedoria," disse Jeste. "Inteligência e espiritualidade compartilham características com a sabedoria, mas não são a mesma coisa. Alguém pode ser inteligente, mas lhe faltar conhecimento prático. A espiritualidade é frequentemente associada com a idade, como a sabedoria, mas a maioria dos pesquisadores tende a definir a sabedoria em termos seculares, não espirituais."

Especialistas em sabedoria

A pesquisa consistiu em um levantamento em duas partes e um questionário composto de 53 afirmações relacionadas aos conceitos de sabedoria, inteligência e espiritualidade. Cinquenta e sete especialistas foram identificados e contactados por e-mail; 30 deles responderam e participaram da pesquisa.

A pesquisa foi realizada usando o método Delphi, desenvolvido pela RAND Corporation na década de 1950 e baseado no princípio de que as previsões de um grupo estruturado de especialistas são mais precisas do que as previsões de grupos ou indivíduos não-estruturados.

Estudando a sabedoria

A fase 1 do estudo revelou diferenças significativas entre os conceitos em 49 das 53 afirmações. A sabedoria foi diferenciada da inteligência em 46 dos 49 itens, e da espiritualidade em 31 itens.

Na Fase 2, a definição de sabedoria foi ainda mais refinada, centrando-se em 12 itens dos resultados da Fase 1.

A pesquisa pediu aos especialistas que classificassem a pertinência e importância de seis afirmações (como, por exemplo, "O conceito pode ser aplicado aos seres humanos."), com base em seu conhecimento de evidências empíricas, para os conceitos de inteligência, sabedoria e espiritualidade.

A escala de avaliação variava de 1 (definitivamente não) a 9 (definitivamente sim).

A seguir, os especialistas avaliaram a importância de 47 componentes - tais como o altruísmo, habilidades para a vida prática, o senso de humor, realismo, a disposição para perdoar os outros e a auto-estima - para os conceitos de sabedoria, inteligência e espiritualidade.

Definição de sabedoria

A maioria dos especialistas, afirmam Jeste e Meeks, concordou que a sabedoria pode ser caracterizada da seguinte forma:

É exclusivamente humana.
É uma forma avançada de desenvolvimento cognitivo e emocional alimentado pela experiência.
É uma qualidade pessoal e rara.
Ela pode ser aprendida, aumenta com a idade e pode ser medida.
Ela provavelmente não é reforçada pelo uso de medicação.

"Uma única pesquisa, evidentemente, não pode definir a sabedoria total e completamente," diz Jeste. "O valor aqui é que houve uma concordância considerável entre os especialistas de que a sabedoria é de fato uma entidade distinta, com uma série de qualidades características. Os dados da nossa pesquisa devem ajudar a projetar futuros estudos empíricos sobre a sabedoria."

Notícia publicada no Diário da Saúde, em 17 de maio de 2010.

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Comentário:

Parar conceituar sabedoria, vamos recorrer ao dicionário para lhe dar uma definição geral.

Sabedoria: Grande soma de conhecimentos; erudição, saber, ciência. Qualidade de sábio. Grande circunspeção e prudência; juízo, bom senso, razão, retidão. Teologicamente falando, é o conhecimento inspirado das coisas divinas e humanas.

Quanto ao artigo, vamos ficar com a conclusão, que nos parece não ser definitiva, aguardando novas pesquisas.

Na conclusão, então vemos sabedoria como sendo:

• Exclusivamente humana.
• Uma forma avançada de desenvolvimento cognitivo e emocional alimentado pela experiência.
• Uma qualidade pessoal e rara.
• Ela pode ser aprendida, aumenta com a idade e pode ser medida.
• Ela provavelmente não é reforçada pelo uso de medicação.

À luz da Doutrina Espírita, poderíamos ver estas conclusões da seguinte forma:

- Exclusivamente humana?
Sim, pois para ser-se sábio é preciso ter-se os atributos descritos pelo dicionário, como erudição, saber, circunspeção, prudência, bom senso, razão, retidão e, finalmente, conhecimento das coisas divinas e humanas. Essas qualidades somente podem ser atribuídas ao princípio inteligente individualizado no Espírito.

- Uma forma avançada de desenvolvimento cognitivo e emocional alimentado pela experiência?
Certamente a Doutrina concorda com esta colocação, pois que atribui às experiências múltiplas, vivenciadas numa infinidade de reencarnações, a oportunidade de adquirir-se todas as qualidades atribuídas àquele Espírito ao qual poder-se-á classificar como sábio e que pertencerá à ordem dos Bons Espíritos ou a dos Espíritos Puros.

- Uma qualidade pessoal e rara.
No estágio de Espíritos afins com mundos de provas e expiações, certamente é a sabedoria uma qualidade rara e que se encontra descrita na quarta classe da segunda ordem da Escala Espírita, classe esta justamente denominada de “Espíritos Sábios”. Por isso, ainda é rara em nosso mundo.

- Ela pode ser aprendida, aumenta com a idade e pode ser medida.
Na Questão 909, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos instrutores espirituais se o homem, pelos seus esforços, sempre poderia vencer as suas más inclinações, e os Espíritos respondem que sim e que, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Então, com pequenos esforços, poderíamos ir aprendendo a ser sábios, adquirindo aos poucos as características da sabedoria e com estes mesmos esforços ir aumentando em quantidade e intensidade essas características. A idade entra nesse processo como auxílio do tempo no amadurecimento espiritual. A melhor medida para o quantum de sabedoria não é a que os homens de Ciência podem utilizar, mas é aquela dada pela própria consciência, pois é lá que se acha inserida as Leis Divinas, que são os parâmetros com os quais melhor se medirá a sabedoria.

- Ela provavelmente não é reforçada pelo uso de medicação.
Para a Doutrina Espírita, a sabedoria não é fisiológica, é aquisição espiritual e, como tal, o único remédio que a favorece é a vontade fortalecida.

Por: Leila Henriques, espírita e colabora na divulgação da Doutrina Espírita na Internet.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mural Reflexivo: "A Vontade".

As causas da felicidade não se acham em lugares determinados do espaço.

Elas estão em nós, nas profundezas da alma.

“O reino dos céus está dentro de vós”, disse o Cristo.

Tal premissa é confirmada por várias outras doutrinas.

É na vida íntima, no desabrochar de nossas faculdades, de nossas virtudes, que está o manancial das felicidades futuras.

Olhemos atentamente para o fundo de nós mesmos.

Fechemos, por alguns instantes, nosso entendimento às coisas externas.

Depois de havermos habituado nossos sentidos ao silêncio, seremos capazes de ouvir vozes fortificantes e consoladoras.

As vozes de nossas próprias consciências.

Há poucos homens que sabem ouvir seus próprios pensamentos.

Raros são aqueles capazes de reconhecer e explorar os próprios potenciais.

Geralmente alguns de nós gastamos a vida em coisas banais, improdutivas.

Percorremos o caminho da existência sem nada saber a respeito de nós mesmos, de nossas riquezas íntimas.

E então nos perguntamos: como poderemos nos valer das nossas capacidades, orientado-as para um ideal elevado?

Pela vontade!

É através dela que dirigimos nossos pensamentos para um alvo determinado.

Na maior parte dos homens os pensamentos flutuam sem cessar.

Sua mobilidade constante e sua variedade infinita oferecem pequeno acesso às influências superiores.

É preciso saber concentrar-se, colocando o pensamento em sintonia com o pensamento divino.

Só assim a alma humana poderá ser envolvida pelo espírito divino, tornando-a, dessa forma, apta para realizar nobres tarefas.

A vontade é a maior de todas as potências e seu poder é ilimitado.

Sua ação é comparável a de um ímã.

O homem, consciente de si mesmo e de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços que desenvolve em determinado sentido.

Sabe que, tudo o que de bem e bom desejar há de mais cedo ou mais tarde realizar-se, nesta ou em existência futuras, quando seu pensamento estiver de acordo com as leis divinas.

* * *

Como é belo e consolador poder dizer: Conheço a grandeza e a força que habitam em mim.

Elas hão de ser meu amparo e minha certeza, em todos os instantes de minha vida.

Com o auxílio de Deus e dos benfeitores espirituais, hei de elevar-me acima de todas as dificuldades.

Vencerei o mal que ainda há em mim.

Abrirei mão de tudo o que me acorrenta às coisas grosseiras deste mundo, para levantar vôo em direção de estágios mais felizes.

Vejo claramente o longo caminho a ser percorrido.

Nada, porém, poderá me impedir de prosseguir nessa estrada.

Tenho um guia seguro que é a vontade de enobrecer-me e elevar-me.

Hei de conservar-me firme e inabalável, sempre em frente.

Com minha vontade conquistarei a plenitude da existência.

Farei de mim uma criatura melhor.

Para isso, basta que eu queira alcançar toda essa ventura com energia e com constância.

E diga, para mim mesmo, conclamando-me à elevação e à marcha, apressando-me, assim, para a conquista de meu próprio destino: a felicidade verdadeira.

(Equipe de Redação do Momento Espírita, com base na terceira parte, item XX, do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis. www.momento.com.br - http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1141&let=V&stat=0) .

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Notícia: Livro tenta explicar porque alguns ambientes favorecem bem-estar e cura.

Médica explora formas de arquitetura que ajudam na saúde humana. Locais considerados ‘sagrados’ teriam efeito indireto no organismo.

Abigail Zuger
Do ‘New York Times’


Digamos que você esteja vivendo em um ambiente que não é ideal. Seu vizinho de cima frequentemente muda os móveis de lugar, de madrugada. O cachorro do apartamento da frente é solitário e late alto. O dono dele resmunga quando você passa. Sua sala de estar tem o formato errado, as janelas estão no lugar errado, a cor da tinta, que parecia tão criativa e chique há cinco anos, está lhe dando nos nervos.

Aí você se muda. Enquanto você mergulha no silêncio e na simetria, com vizinhos agradáveis, uma vista incrível e paredes brancas e calmantes, algo se acende no seu cérebro. Ou será que se apaga? De qualquer forma, você se sente muito bem.

Afinal, o que causou o acendimento? Essas são perguntas enganosamente fáceis que Esther Sternberg tenta responder em "Healing Spaces" (em tradução livre: "Espaços que Curam"), uma exploração sobre as influências ambientais no cérebro, no corpo e (com todo o respeito por sua nova situação de vida, mas existem assuntos mais importantes no momento) o curso da doença física e mental.

Sternberg, célebre neuroimunologista do Instituto Nacional de Saúde Mental, propôs a si mesma uma tarefa gigante, incorporando arquitetura, estética, psicologia, neurobiologia, fisiologia e aromaterapia, entre várias outras disciplinas. Ela não tem tanto sucesso na tarefa, mas seu esforço define os parâmetros complexos do que pode ser um dos maiores mistérios remanescentes da ciência médica.

Depressão

Afinal, se seu cérebro pode deixá-lo depressivo em uma sala de estar, imagine o quanto as coisas provavelmente pioram em um típico quarto de hospital, cercado de barulho, confusão, cheiros desagradáveis e vistas nem um pouco belas. Você achava que uma ciência tão adepta a examinar o cérebro encontraria uma forma de acalmá-lo com a mesma destreza.

No entanto, o circuito neural responsável pela tranquilidade mental, apesar de essencial, é incrivelmente complexo. Além disso, a ciência que descreve a relação entre a estética e o bem-estar físico – a famosa conexão mente e corpo – é experimental e controversa. A maioria dos tratamentos ainda tem de ser rigorosamente avaliada.

Tudo começa com os cinco sentidos. É lá onde Sternberg também começa: "Se você fosse um paciente em uma cama de hospital, acabando de acordar de uma cirurgia, o que preferiria ver quando abrisse os olhos – uma parede de tijolo ou uma fileira de árvores?"

Você pode pensar que sabe a resposta certa e a justificativa para ela, mas considere todas as variáveis que os cientistas devem considerar para analisar sua decisão. Entre elas, estão a posição dos tijolos e das árvores (partes distintas do cérebro cuidam da percepção de próximo e longe) e as cores envolvidas (sua visão verde-amarela foi a primeira a evoluir; será por isso que o verde nos agrada tanto?). Pacientes diferentes podem ter respostas condicionadas diferentes a tijolos e árvores.

Além do mais, será que visões de jardins realmente ajudam a curar incisões abdominais? Alguns estudos menores sugerem que sim, mas será que as descobertas podem ser generalizadas para todos os pacientes, todos os tijolos e todas as árvores? E pacientes míopes, paredes de tijolo ensolaradas e árvores morrendo?


Som e cheiro

Isso é apenas o começo. O som e o cheiro também devem ser considerados. E existe também a noção de lugar, orientação espacial e direção, uma experiência composta tão afinada que se perder em um lugar estranho e escuro (como o porão do hospital, a caminho da radiologia) pode trazer o pior tipo de estresse. Caminhar lentamente e intencionalmente ao longo de corredores alinhados de um jardim-labirinto é receita de tranquilidade.

Dá o que pensar considerar que, entre todas as grandes mentes que exploraram esse fenômeno, Walt Disney foi, provavelmente, o que mais obteve sucesso na manipulação em larga escala do ambiente para acalmar e alegrar o cérebro. Mesmo os brinquedos assustadores da Disneylândia – Sternberg desconstrói o "Piratas do Caribe" do ponto de vista científico – são cuidadosamente projetados para acender as faíscas certas do cérebro nas direções certas.

Da mesma forma, uma nova casa de repouso tem uma rua principal à la Disneylândia para acalmar os neurônios em deterioração dos seus residentes. Isso está a um pequeno passo neurológico de Lourdes, na França, lugar de curas milagrosas, onde um conjunto de fatores ambientais pode acender cérebros adequadamente preparados e levá-los a um estado de êxtase, liberando um fluxo de potentes mediadores neuroquímicos capazes de aliviar o sofrimento. Assim, Sternberg delineia uma biologia experimental do milagre, que, como ela se apressa em dizer, "não diminui a maravilha do fenômeno".

É missão da Academia de Neurociência para Arquitetura, cujas conferências oferecem a Sternberg um material fascinante, simplesmente reproduzir um pouco de Lourdes em cada cenário médico. Éramos bem melhor nessa tarefa do que somos hoje; a medicina do século 20, com seu medo mortal de germes, interferiu. Entretanto, em algum ponto, "estéril" passou a ser uma característica ruim, e agora tentamos recapturar um pouco da grandiosidade e da beleza de hospitais antigos, com janelões, jardins e belas vistas.

Sternberg é uma escritora seriamente entediante, e sua narrativa nunca desvia de uma brandura intencionada para não ofender nem aos cientistas mais radicais, nem aos místicos new age. Ela ignora alguns dos paradoxos mais complexos da área (uma ala hospitalar com 30 camas pode oferecer mais privacidade e tranquilidade que um quarto compartilhado com outra pessoa; e mais, a aromaterapia de uma pessoa muitas vezes causa enjoos no paciente ao lado). Ainda assim, qualquer pessoa que já sentiu a paz se instaurar em ambientes agradabilíssimos poderá encontrar algumas sementes de explicações em seu livro.

‘HEALING SPACES: The Science of Place and Well-Being’
Esther M. Sternberg
The Belknap Press of Harvard University Press
343 páginas.



Notícia publicada no Portal G1, em 2 de julho de 2009.

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Comentário:

Na reportagem sobre este livro, vamos encontrar um pouco do que os Espíritos nos dizem: a matéria exerce uma influência sobre nós, embora não seja a causa. Mas não é bem no Espiritismo que o assunto do livro irá encontrar uma maior afinidade, e sim no Espiritualismo. Mais propriamente na filosofia oriental, onde tudo está interligado, e o ser nunca é analisado sob determinado aspecto isoladamente, seja em termos de religião, arte, atividade física, medicina e o ambiente que o cerca.

Não que o Espiritismo também não contemple esta ideia. Se analisarmos a Doutrina Espírita, vamos identificar que esta maneira de ver também está presente. No entanto, na cultura ocidental, nós tendemos a separar as áreas do conhecimento humano, como se não existisse ligação entre elas ou como se esta ligação não fosse importante.

Por isso, na cultura chinesa vamos encontrar áreas distintas, mas com a visão de que uma não pode ser desconectada da outra. É assim que a Medicina Tradicional Chinesa (acupuntura, do-in, etc) tem uma relação estreita com o Taoísmo (religião e filosofia), com o Tai-Chi ou o Kung-fu (atividade física), a arte, o sexo e a arquitetura (Feng Shui). Por isso, para o ser encontrar a cura, todos esses aspectos são avaliados.

O trabalho de Esther Sternberg parece estar indo de encontro a este último, mostrando que o ambiente a nossa volta deve ser considerado com uma maior importância, como algo incluído no tratamento do paciente e, consequentemente, no nosso dia a dia.

Mas o mais importante disto tudo é a nossa constatação, a todo momento, de que a Ciência cada vez mais se distancia da abordagem estritamente materialista. Fatores que antes seriam considerados “miraculosos”, ou indignos de um estudo, passam a fazer parte das observações de pesquisadores e revelam um caráter antes ignorado e que agora se mostra fundamental.

Por: José Antonio M. Pereira. Coordena o ESDE e é médium da Casa de Emmanuel, além de integrante da Caravana Fraterna Irmã Scheilla, no Rio de Janeiro. Também é colaborador da equipe do Serviço de Perguntas e Respostas do Espiritismo.net.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Artigo: Por que é tão difícil crer?

Por: Breno Henrique de Sousa


Este texto é dedicado a um grupo especial de pessoas que têm vontade de possuir alguma crença espiritualista, mas que não encontraram razões convincentes que fundamentem sua crença. São aquelas pessoas mais questionadoras, que não têm preconceitos nem repudiam a idéia de “crer”, mas que não encontraram um caminho possível para esta crença. Nestas pessoas pesa-lhes a descrença, como um fardo de desencanto e pessimismo, ou sentem-se aprisionadas no cárcere do ceticismo.

Este não é um texto para ateus convictos. Não pretendo convencer àqueles que se acham possuidores da razão, nem tenho a pretensão de solucionar tão difícil dilema. Eu encontrei o meu caminho para a crença sem abdicar da razão, mas antes é preciso também criticar e reconhecer os limites disto que chamamos de razão e dos valores vigentes no atual contexto social. Quem sabe alguém possa encontrar nestas palavras, reflexões que lhes ajudem a rever seus conceitos de fé e ceticismo.

É preciso refletir primeiramente sobre a forma que somos ensinados a questionar as coisas.

Todo questionamento é construído sobre um paradigma específico. Um paradigma é um conjunto de idéias e pressupostos que formam uma visão de mundo. Vejamos a figura abaixo:



Nesta figura um engenheiro hidráulico e um biólogo observam, sob suas perspectivas, um rio ou córrego. As perguntas que o engenheiro fizer só permitem respostas que refletem o paradigma do engenheiro. O mesmo serve para o biólogo. As perguntas já possuem, disfarçadamente, uma visão de mundo que impede outro nível de percepção. Não podemos refletir sobre crença e descrença, sem antes refletir sobre os valores que nos influenciam e a partir de que ponto de vista estes valores nos levam a formular nossos questionamentos. De outra maneira estaremos em um labirinto sem saída. É como usar um copo d’água para abrir uma fechadura ao invés de uma chave. Se você nunca viu uma chave e tudo que conhece é um copo d’água, vai tentar de alguma maneira abrir a porta com o copo d’água. Vai imaginar todas as possibilidades possíveis, quem sabe vai derramar a água na fechadura, quebrar o copo, tentar muitas posições e esquisitices. Você sabe que existem pessoas que passaram para o outro lado da porta, não consegue imaginar o que pode estar errado, porque você até hoje acreditava que o copo d’água era a solução para todos os problemas, nem sequer imaginava que pudesse existir algo mais no mundo que um copo d’água e nem lhe passa pela cabeça questionar se o copo d’água é o instrumento certo para abrir a porta, afinal, o copo lhe serviu por toda a vida e aparentemente foi capaz de resolver todos os seus problemas passados. Tamanha é a ilusão e confiança que temos no copo d’água que nem sequer enxergamos a chave que está pendurada na nossa frente. Se você não questiona os seus instrumentos de busca pela verdade, provavelmente cairá neste labirinto, pois muitos instrumentos são limitados ou estão viciados por preconceitos.

Freqüentemente, descrentes são pessoas com copos d’água à frente da porta da crença, tentando abri-la inutilmente. Normalmente se cansam e perdem a esperança. Vão embora tristes, acreditando que não há como abrir a porta. Alguns não se acham capazes de abri-la, outros deixam de acreditar que ela se abra. Quanto mais as pessoas estão mergulhadas em um paradigma, mas dificilmente enxergarão esta distorção porque tudo o que vivenciaram em suas vidas foi concebido através de seus paradigmas. São capazes das mais ousadas peripécias com o copo d’água, de realizar feitos geniais, mas são complemente incapazes de enxergar a chave.
Existe uma piada que ilustra bem esta situação:

Em um elevador há um ascensorista que se chama João e tem 60 kg e 35 anos. No térreo sobe uma mulher que se chama Maria, tem 65 kg e 40 anos; no primeiro andar sobem dois irmãos que se chamam André e José com 70 e 75 kg e 45 e 50 anos, respectivamente. Então, como se chama o elevador? Diante deste enigma, um matemático pode fazer equações inimagináveis para resolver a solução. Criar um método matemático que nenhum comum mortal seja capaz de entender. Mas a resposta é simples. “O elevador se chama apertando o botão”.

Outra piada que me foi enviada pela internet ilustra bem a situação:

Um paciente vai num consultório psicológico e diz pro doutor:

— Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Aí eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima. Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima. Estou ficando maluco!
— Deixe-me tratar de você durante dois anos, diz o psicólogo.
— Venha três vezes por semana, e eu curo este problema.
— E quanto o senhor cobra? - pergunta o paciente.
— R$ 120,00 por sessão - responde o psicólogo.
— Bem, eu vou pensar - conclui o sujeito.
Passados seis meses, eles se encontram na rua.
— Por que você não me procurou mais? - pergunta o psicólogo.
— A 120 paus a consulta, três vezes por semana, dois anos = R$ 37.440,00, ia ficar caro demais, ai um sujeito num bar me curou por 10 reais.
— Ah é? Como? - pergunta o psicólogo.
O sujeito responde:
— Por R$ 10,00 ele cortou os pés da cama...

Assim como o sujeito do bar, é comum as pessoas mais simples enxergarem melhor a solução. A crença de que um alto nível de especialização, formação acadêmica ou técnica é a garantia de maior capacidade de solução para todo tipo de problema, é um preconceito que dificilmente é percebido. Tenho um amigo que diz que chegou a uma idade que não quer aprender mais nada e sim desaprender. Eu não entendi e ele explicou. Às vezes, nossa cabeça está tão cheia de conceitos e preconceitos que dificilmente enxergamos a realidade. É preciso desaprender tudo aquilo que nos impede enxergar a chave para abrir a porta e o excesso de informação nem sempre é a solução para perceber a saída.

Sempre que aceitamos ou rejeitamos uma idéia, a grande maioria das vezes, fazemos isso pelo sentimento de familiaridade ou estranheza que esta idéia nos causa. Antes de um julgamento racional, há um julgamento emocional sobre a idéia. Este julgamento emocional sabotará o julgamento racional, que não é imparcial como queremos acreditar que seja. Ou seja, a primeira reação diante de uma idéia estranha é repudiá-la, não importa o quanto ela seja racional ou plausível, ela é repudiada simplesmente porque parece nova e inusitada.

Em uma sociedade voltada para os valores do consumo, que é hedonista, imediatista; vivendo dentro do paradigma materialista – reducionista; no ambiente enlouquecedor das nossas cidades que só nos permitem preocupar-nos com questões imediatas relacionadas com a própria sobrevivência física; nesta sociedade, a cada dia perde espaço em nossas mentes a construção de valores espiritualistas. Não é então espantoso que uma pessoa que vive imersa nesta realidade, observe com muita estranheza qualquer idéia como a vida após a morte. Porém o observador tende a acreditar que é a idéia que é estranha, e não percebe que este sentimento de estranheza é devido ao paradigma que foi educado e influi sobre sua percepção.

Contam, em outra piada, que um grupo de amigos resolveu aprontar uma brincadeira com um bêbado da cidade. Passaram fezes de galinha no seu bigode enquanto ele dormia. Quando acordou, o homem sentia um odor estranho, saiu andando por toda a cidade e depois de algum tempo concluiu que o mundo todo fedia. Comumente, diante de idéias novas, nos comportamos como o bêbado do bigode sujo. Achamos que o problema está na idéia em si, mas na verdade é o nosso filtro e percepção que está contaminado pelo paradigma predominante.

Este impacto inicial que as idéias diferentes nos provocam, resultam no afastamento da maioria das pessoas que rapidamente concluem que o assunto é absurdo e não merece nenhuma apreciação séria. Às vezes, mesmo abundando evidencias e sinais que deveriam despertar o interesse do bom observador, este se recusa a admitir esta possibilidade. É o caso, por exemplo, de Sigmund Freud que rejeitava complemente qualquer fenômeno paranormal, mesmo tendo presenciado um fenômeno paranormal na presença de Carl Gustav Jung. Freud seguiu recusando mesmo diante da evidência. Jung seguiu seu próprio caminho e mergulhou a fundo no assunto.

Lembra quando Pasteur falou de pequenos seres invisíveis ao olho nu que provocavam a decomposição da matéria orgânica? Ele foi sumariamente ridicularizado. Como é possível que isto exista se ninguém descobriu antes? Que idéia mais absurda acreditar que existam seres tão pequenos. Quem sabe então dizer que a Terra é redonda? Então, a experiência nos diz que o fato de uma idéia parecer incomum ou despertar a sensação de estranheza ou de absurdo, não é absolutamente uma razão para rejeitá-la.

O conhecimento é a única maneira de nos libertarmos destes preconceitos. Quando buscamos a fundo investigar a questão, quando buscamos observar deste outro paradigma, quando somos capazes de duvidar dos nossos instrumentos e de nossa própria capacidade de análise, quando reconhecemos que somos culturalmente influenciados, então começamos a abrir nossas mentes para a construção de uma crença que não renega a razão.

Crença ou descrença são construções culturais, independentemente de haver uma predisposição natural para crer, é fato que a sociedade globalizada e centrada nos valores de consumo favorece amplamente mais a descrença que a crença. Os meios de comunicação estão viciados neste sentido, tudo o que nos chega é através do filtro seletivo do paradigma reducionista materialista e se somos pessoas com formação acadêmica superior, este filtro atua de forma ainda mais intensa.

Eu poderia começar este texto falando das inúmeras pesquisas que apontam para a sobrevivência disto que chamamos individualidade ou consciência depois da morte do corpo. São inúmeras evidências, fontes distintas, de diversas épocas, realizadas por pessoas crentes e descrentes, realizadas às vezes por homens de ciência. Talvez, citar todas estas fontes diminuiria a sensação de que estas coisas não são assim tão absurdas, que existe gente séria e preparada se dedicando a estes temas. Mas isso não valeria de nada, se antes não formos capazes de superar o preconceito pelo novo, de identificar as influências culturais que sofremos e de sermos capazes de duvidar do que já parece estabelecido.

A descrença é uma forma de crença. O descrente crê que nada existe. Qualquer forma de crença está emocionalmente influenciada, até porque pensamos que esta crença é criação nossa, produto exclusivo de nossa capacidade, de nossas reflexões. Então uma crença é uma afirmação de nossa capacidade, de nosso poder de discernimento e isso mexe com nosso orgulho, com nossa vaidade. Quando alguém diz que sua crença está equivocada, é como se esse alguém dissesse que tem maior capacidade de discernimento que você, é como admitir que você se enganou onde outro foi capaz de acertar. Esse é um exercício que exige muita humildade por isso grande parte dos convictos (convictos crentes ou descrentes) são, na verdade orgulhosos, com excesso de auto-confiança, porque não reconhecem que tudo que somos levados a crer está sob influências sutis e imperceptíveis.

A esta altura o leitor deve estar esperando alguma solução mágica que o passe da condição de descrente para crente. Quem sabe um conjunto de provas secretas que satisfaçam seu nível de exigência racional ou uma explanação exaustiva de provas irrefutáveis que fossem capazes de calar aos materialistas. Eu posso afirmar que o volume de informações disponíveis sobre este assunto é tão amplo e profundo que podem servir para fundamentar qualquer crença. Mas, já temos dito que a evidência não é suficiente para fundamentar a crença. Existem pessoas que se recusam a acreditar como Freud, tamanho é o apego às suas convicções, seu orgulho e estranheza diante do novo. Antes temos que reconhecer as fragilidades do nosso ponto de vista, caso contrário, não importa as provas contundentes, pois estaremos sempre impermeáveis a qualquer tipo de crença. Também é preciso esclarecer alguns pontos com relação às informações que servem para fundamentar as descrenças.

O materialismo é um ponto de vista metafísico (conjunto de proposições relativas às características e componentes mais gerais da realidade) assim como o espiritualismo, e não a expressão da verdade absoluta como muitos acreditam. Trata-se de um sistema de crença, muitas vezes extrapolado de suas reais funções. A ciência moderna é predominantemente influenciada pelo paradigma materialista. Vejamos o que nos diz, por exemplo Ian G. Barbour:

“A maior parte do livro (e série de TV) de Carl Sagan, Cosmos, é dedicado a uma fascinante apresentação das descobertas da astronomia moderna – mas, nos intervalos, Sagan insere seus comentários filosóficos pessoais. Afirma que o universo é eterno, ou que sua origem é simplesmente incognoscível. Ataca, em diversos pontos, as idéias cristãs de Deus, argumentando que as proposições místicas e autoritárias ameaçam a supremacia do método científico, que, segundo ele, é “universalmente aplicável”. A Natureza (que ele grafa com inicial maiúscula, no livro) substitui Deus como objeto de veneração. Sagan expressa grande reverência pela beleza, vastidão e coesão interna do cosmos. Na série de TV, ele aparece sentado diante de um painel de instrumentos com os quais nos mostra as maravilhas do Universo. É uma nova espécie de sumo sacerdote, que não apenas revela os mistérios para nós como também nos diz como viver. Podemos agradecer a Sagan por sua habilidade pedagógica de trazer descobertas da astronomia, para um público mais amplo, e por sua grande sensibilidade ética e profunda preocupação com a paz mundial e com a preservação do meio ambiente. Mas talvez devêssemos questionar sua fé ilimitada no método científico, no qual, diz ele, precisamos confiar para ingressarmos na era da paz e da justiça.

(...) Boa parte do recente livro de Sagan O Mundo Assombrado pelos Demônios, é dedicada à refutação da pseudociência, especialmente da astrologia e dos supostos visitantes alienígenas e objetos voadores não identificados (OVINs). Vários capítulos, porém, foram feitos para atacar a religião, em geral sob suas formas populares e supersticiosas. Sagan apresenta longos relatos de crenças em demônios e bruxas dos séculos passados e em curandeiros e médiuns hoje em dia. Mas, com exceção de um breve comentário, em momento algum ele leva em consideração os trabalhos teológicos bem informados, de base universitária, que talvez sejam equivalentes intelectuais dos cientistas que ele admira. Sagan claramente vê a ciência e a religião como inimigas, e deposita sua fé e esperança na primeira. (Quando a Ciência Encontra a Religião, Cultrix, 2004)."


Neste caso observamos um claro exemplo de quando a concepção materialista apropria-se da ciência para imiscuir suas idéias. Normalmente toma-se uma descoberta científica real e comprovada e dela tira-se conclusões especulativas e pessoais que servem para embasar a crença materialista. Usar a ciência para dizer que Deus não existe é uma extrapolação absurda e sem fundamento. É preciso estar atento a certas informações veiculadas na mídia, ou a opinião materialista e reducionista de determinado número de cientistas, que não estão devidamente fundamentadas, ou são distorcidas pela mídia ou que representam a opinião de um pesquisador ou de um grupo específico de cientistas, mas que não representa a opinião da ciência como um todo. Certas expressões, por exemplo, como “gene egoísta” e “gene da violência” são metáforas enganosas, porque, há uma base genética para o comportamento, mas não para comportamentos específicos, assim como há uma base genética para a linguagem e não para linguagens específicas, ou uma base genética da capacidade de raciocínio, mas não para argumentos racionais específicos.

Além destas extrapolações comuns, existe um complô ou pacto de silencio sobre as pesquisas científicas sérias que contribuem ou são compatíveis com a crença em alguma forma de espiritualidade. As pesquisas e pesquisadores que apontam nesta direção nunca são mencionados nas universidades e academias, salvo uma pequeníssima exceção, a maioria das pessoas que tem uma formação acadêmica qualquer, desconhece qualquer tipo de literatura ou trabalho sério de investigação científica sobre a espiritualidade humana ou sobre os fenômenos espiritualistas, a não ser quando estes experimentos são delineados dentro dos moldes reducionistas e servem apenas para combater qualquer idéia desta natureza.

Quem quer que se dê conta desta realidade, sem muito esforço poderá descobrir inúmeros trabalhos sérios e bem fundamentados, feitos por cientistas renomados que demonstram, por exemplo, a eficácia da prece na cura física e a sobrevivência da alma após a morte do corpo físico. Porém, como todos somos acomodados, é mais fácil deixar-nos levar pelo paradigma predominante, este que a sociedade, os nossos ídolos com pés de barro e a nossa mídia está acostumada a apresentar. Quem quiser construir uma crença mais sólida e racionalmente embasada, terá que sair de sua zona de conforto, questionar o Status quo, buscar as informações ocultadas e legítimas que fundamentarão a edificação de sua crença e isso não é uma tarefa fácil nos dias atuais. A crença mais depurada e racional é uma construção que precisa ser desenvolvida e fortalecida tanto quanto foi desenvolvida a crença no materialismo. À medida que nos deparamos com a seriedade destes temas, e ultrapassamos o mar de superstições que existe em torno da espiritualidade, poderemos vislumbrar algo sólido e real para nossas vidas.

Não se trata simplesmente de privilegiar a crença sobre a descrença, trata-se de termos a consciência crítica de que não estamos em território neutro e que desde que nascemos somos influenciados por valores materialistas e essa influência aumenta com a modernidade, com o avanço do paradigma materialista em um mundo a cada dia mais urbanizado e desconectado da natureza e dos valores tradicionais. Em uma sociedade em que o ter ocupa o espaço do ser, torna-se cada vez mais difícil alimentar qualquer forma de transcendentalidade. Vejo, por exemplo, que meus amigos dos países de primeiro mundo são extremamente mais impermeáveis a qualquer tipo de crença que os meus amigos dos países menos desenvolvidos.

A maioria das pessoas acredita que isso se dá pela superioridade da cultura destes países, que nós somos tupiniquins atrasados que acreditam em Deus e em bobagens deste tipo. Muitos de nós, inclusive aceita passivamente este raciocínio colonialista e engole esta idéia. O que acontece é que estas sociedades são consideradas de “primeiro mundo” justamente por haverem desenvolvido os valores de uma sociedade de consumo, valores que quase sempre nos cegam a qualquer forma de conhecimento espiritual. Não se dão conta que, apesar disso, existem entre eles os que acreditam em valores espirituais e estes estão entre os nomes mais respeitáveis. Além disso, os que vivem no “terceiro mundo”, não são ignorantes que acreditam em coisas espirituais. Muitas vezes, tratam-se de pesquisadores com formação superior, em universidades que não deixam nada a desejar às do primeiro mundo, mas que viveram suas vidas em uma cultura menos corrompida pelos valores materialistas, muitas vezes no meio da superstição, é verdade, mas a familiaridade com as coisas espirituais, o fato de não as ver como coisas absurdas, não os fazem rejeitar a espiritualidade de maneira preconceituosa. Mais uma vez voltamos à piada do psicólogo e do sujeito que achava que tinha alguém debaixo da sua cama. Tamanha era a especialização do psicólogo que ele jamais pensaria em simplesmente resolver o problema cortando os pés da cama. Como dissemos, quanto mais mergulhados em um paradigma, mais dificilmente enxergamos outras possibilidades, ainda que sejamos muito hábeis dentro de um determinado sistema de conhecimento. Justamente por isso temos dificuldade de perceber as coisas sob outras perspectivas. As pessoas não explicam também, porque justamente nos países mais desenvolvidos, urbanizados e economicamente estáveis é que se encontram os maiores índices de depressão e suicídio. Alguma coisa se perdeu no meio do caminho e precisa ser resgatada. Temos de reconhecer o valor e as conquistas da ciência e da civilização moderna, não pretendemos voltar às cavernas, mas precisamos estar cientes das suas limitações, sobretudo no que se refere a atender e compreender os anseios humanos mais profundos.

Não foi à toa que Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, declarou o materialismo como o grande inimigo da humanidade. Em um belíssimo texto intitulado: “As cinco alternativas da humanidade” no livro Obras Póstumas, Kardec ressalta as opções metafísicas de crença que dispomos, demonstrando a solidez do Espiritismo diante das demais. O materialismo destrói a esperança no futuro, traz em si mesmo o veneno de sua própria destruição. Trata-se de uma terra inócua para os anseios humanos mais profundos, que esvazia a vida de propósito. O materialismo se disfarça de muitas maneiras, desde a militância ateísta até a indiferença, futilidade e superficialidade da nossa sociedade de consumo, mas é sempre o mesmo materialismo. Porém, a necessidade de sobrevivência e de realização de seus anseios abstratos, faz o homem perpetuar e aperfeiçoar a crença em uma vida mais ampla e rica de possibilidades. Livrando-se da ganga das superstições, de mãos dadas com a ciência e com a razão, construiremos uma nova era do espírito.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Notícia: ""Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino", lamenta o pai do rapaz viciado em drogas que enforcou a namorada".

O Globo.

RIO - Pai do assassino da jovem Bárbara Calazans, de 18 anos, estrangulada neste sábado pelo namorado, Bruno de Melo, 26 anos, no apartamento do jovem, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa lamenta que o filho tenha destruído duas famílias, "a da jovem e a dele, além de a si próprio". Numa carta emocionada, enviada ao site do Globo às 6h da manhã deste domingo, dia seguinte ao crime, ele narra o drama que vem enfrentando há seis anos, desde que Bruno começou a se viciar em álcool, até chegar ao crack. Leia a íntegra do relato do pai:

"Meu filho começou na droga pelo álcool, no colégio, esta droga LEGAL com que a propaganda bombardeia nossas crianças e jovens todo dia, escancaradamente, e que produz milhares de mortes no trânsito, destrói lares, pessoas do bem e é, como se sabe, a primeira droga que os jovens experimentam. A maioria segue pela vida em maior ou menor grau se drogando com ela, o álcool, outros acabam provando das ilegais, sendo que uns fogem delas, outros se viciam numa espiral crescente e veloz. Em geral, passam pela maconha, vão na boca adquiri-la, e os comerciantes, felizes, lhes oferecem um variado cardápio, self-service: cocaína, crack, haxixe, êxtase, ácido...

Sei que há seis anos perdi meu filho para o crack, mas apesar das sequelas e problemas, ele nunca deixou de ser carinhoso e educado com todos, o que lhe granjeou um número sempre crescente de amigos.

Ele passou por várias internações - tinha, desde pequeno, outros problemas mentais que se exacerbaram com as drogas. Sempre que saia das internações ficava bem. Até encontrar os amigos, tomar umas cervejas e ai a coisa saía novamente de controle. Nestes tempos o vício, apesar de grave, ainda não tinha produzidos todos seus efeitos devastadores. Mas, com o tempo e a reincidência, o crack foi o devastando. Nos últimos tempos, dizia-se derrotado para o vício, vivia muito deprimido e voltara a frequentar o NA, Narcóticos Anônimos. Tentei de tudo para convencê-lo a se internar, mas vai pedir para um pinguço largar sua garrafa. É inútil. Ele foi cada vez mais descendo a ladeira. De mãos atadas, fiquei esperando pelo pior ou por um milagre, já que segundo os "especialistas", que ditam as políticas públicas para o tratamento de drogas, o drogado tem de se internar por vontade própria.

A reportagem que o Brasil assistiu esta semana, da mãe que construiu uma cela em casa, para tentar salvar o filho viciado em crack, é bem representativa de como as famílias vítimas deste flagelo estão abandonadas pelo Estado, e se virando à própria sorte. É bem possível que ela seja punida por isso. Na mesma reportagem, uma psicóloga inteligente afirmava que o viciado em crack tem de vir voluntariamente para tratamento. Este é o método correto, segundo a maioria dos que estão à frente das políticas para esta área. Será que essa profissional é incapaz de entender o estrago que o crack/cocaína ocasiona nas mentes de seus dependentes? Será que ela é capaz de perceber o flagelo que o comportamento desses doentes causam sobre as famílias?

Um drogado, ou adicto, que já perdeu o senso de realidade e o controle sobre sua fissura, torna-se um perigo para a sociedade, infernizando a família, partindo para roubos, prostituição e até assassinatos, por surto ou por droga. Esperar que uma pessoa com a mente destruída por droga pesada vá com seus próprios pés para uma clínica é mera ingenuidade destes profissionais. O Estado tem de intervir nesta questão para preservar as famílias e os inocentes. A internação compulsória para desintoxicação e reabilitação destes doentes, que já perderam todo o limite, é uma necessidade premente. Ou será que todas as famílias que vivem esse problema terão de construir jaulas em casa?

Se meu filho fosse filhinho de papai, como falaram, eu já teria pago uma ou mais internações. Mas infelizmente o papai aqui não tem grana para isso, assim como a maioria das famílias vítimas deste, que insisto em reafirmar, flagelo.

Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino, assim como aquele pai de família correto, que um dia bebe umas redondas, dirige, atropela e mata seis num ponto de ônibus.

As drogas, ilegais ou não, estão aí nas ruas fazendo suas vítimas diárias, transformando pessoas comuns em monstros e o Estado não pode ficar fingindo que não vê.

Dizem que vão gastar 100 milhões para equipar a polícia, mas e as vítimas diretas das drogas como ficam? E os jovens humildes atraídos pelos criminosos para seu exército? E os policiais mortos em combate nesta via indireta da guerra do tráfico? Está na hora de acabar a hipocrisia!

Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima.

Ele irá pagar pelo que fez, será feita justiça, isso não há dúvida. O arrependimento já o assola, desde que acordou do surto do crack deu-se conta do mal que sua loucura havia lhe levado a praticar. Ele me ligou, esperou a chegada da polícia e se entregou, não fugindo do flagrante. Não passarei a mão na cabeça dele, mas não o abandonarei. Ele cumprirá sua pena de acordo com a lei, dentro da especificidade de sua condição.

Infelizmente, só consegui interná-lo pela via torta da loucura, quando já não havia mais nada a fazer, num surto fatal.

Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia.

Que a família da Bárbara possa um dia perdoar nossa família por este ato imperdoável. Chorei por meu filho 6 anos atrás. Hoje minhas lágrimas vão para esta menina, que tentou por amor e amizade salvar uma alma, sem saber que lutava contra um exército que lucra com a proibição (que não minimiza o problema, pelo contrário, exacerba), por um bando de tecnocratas e suas teorias irreais, e para um Estado que, neste assunto, se mostra incompetente.

Luiz Fernando Prôa, o pai

Notícia publicada em O Globo, em 25 de outubro de 2009.

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Comentário:

A loucura de nossos dias

Não têm sido de poucas pessoas a opinião de que as drogas devem ser descriminalizadas. Nem de pessoas pouco importantes no cenário nacional. O certo é que, diante das dificuldades em controlar a desenvoltura com que cresce o uso das drogas, eles acham melhor aceitar o seu domínio.

Tem sido assim em várias circunstâncias.

Impossível controlar os abortos... então é melhor legalizá-los.

Impossível controlar o crime... então é melhor criar a pena de morte.

Impossível deter o sofrimento do moribundo... então é melhor legalizar a eutanásia.

E assim segue a sociedade contemporânea numa estrada tortuosa, perigosa, cada vez mais comprometendo-se com as leis de Deus.

O Espiritismo nos ajuda muito a entender esta loucura dos nossos dias, que se faz produto da dominante visão materialista. Eis que, quando pensa que está espremido entre o berço e o túmulo, o homem quer aproveitar todos os minutos da vida material, ainda que se destrua. Sem perspectivas de futuro, para que se esforçar por alcançar metas superiores de vida? Corações sensíveis sucumbem sob o vazio de Deus. Ante a moderna teoria de que ninguém deve resistir ao prazer, jovens e adultos derramam suas energias na marginalidade da vida, legando ao futuro uma herança de abismos e sofrimentos que se arrastam além da morte do corpo físico. E após esta, ligam-se aos que permaneceram na Terra, influenciando-os em direção aos descaminhos. E daqui a pouco reencarnam em corpos físicos já dependentes dos vícios e nova batalha é travada. Mais materialismo, mais o domínio dos ideais fúteis e destrutivos permeiam a sua jornada. E as dores se cristalizam e se espraiam absorvendo maior número de participantes, decepando vidas e sonhos.

A droga é um verdadeiro cataclismo.

A única saída é Jesus. Não a imagem crucificada, dependurada na parede. Mas os seus ensinos, que são lógicos e lúcidos, a permitir-nos galgar etapas avançadas de conhecimentos e realizações.

Com a Doutrina Espírita, Jesus é próximo e podemos segui-lo. A reencarnação como lei justa e plena de esperança, lança bases para a edificação de uma vida feliz, ao longo dos séculos, dos milênios. Defeitos vencidos hoje, esperança para o amanhã. Deus é justo e bom e o acaso não existe. Somos artífices do nosso futuro e responsáveis por nossos atos, daí entendermos porque Jesus falou “a cada um segundo as suas obras”.

Corações sensíveis sentem-se seguros, têm objetivo superior a conquistar.

Corações endurecidos encontram a justificativa para edificar o bem.

Pais sabem-se responsáveis pela iluminação das mentes de seus filhos, que são, na verdade, filhos de Deus, que lhes delegou este poder: o maior entre todos os poderes.

Filhos aprendem a respeitar a vida e as oportunidades, os pais e a família, o corpo físico e o país. Têm muito a realizar, não lhes sobrará tempo nem desejo de se embrenhar pelos descaminhos viciosos.

Pobres pais que não conseguiram deter seus filhos no encontro com as drogas.

Pobres filhos que desperdiçaram mais uma reencarnação, sendo o “escândalo” para que se cumpra a Lei de Causa e Efeito.

Pobres governos que se distraem com os interesses próprios e fazem do poder temporal a porta de entrada para o inferno consciencial.

Felizmente a vida continua e se renova por meio da dor e das experiências propiciadas pelas reencarnações.

Assim, hoje ou amanhã, todos estes personagens da vida contemporânea aprenderão a viver com Jesus, construindo um mundo novo, interior e exterior, felicitando a si e a humanidade inteira.

Por: Nara de Campos Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e sites de diversas regiões do país.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mural Reflexivo: "Espelho da Alma".


Quando somos jovens, geralmente temos uma boa relação com o espelho. Paramos diante dele e nos olhamos de corpo inteiro e por todos os ângulos.

Temos mais coragem de nos observar, de enfrentar possíveis desajustes físicos, e o futuro está a nosso favor.

Somos mais flexíveis, desarmados, versáteis, e mais dispostos às mudanças. Gostamos de trocar opiniões e acatamos idéias novas com facilidade.

Nossa alma, tanto quanto nosso corpo está em constante transformação. Estamos sempre à procura de novos significados para velhas idéias.

Com o passar do tempo, vamos evitando espelhos que reflitam nosso corpo por inteiro. Procuramos aqueles que mostrem apenas do pescoço para cima.

Fugimos da nossa aparência, por não gostar dela ou porque ainda desejamos ver refletido aquele corpo jovem, a cabeleira abundante, a pele lisa e brilhante.

E porque não gostamos da nossa imagem, fugimos do espelho, como se isso resolvesse o nosso problema.

Assim também acontece com as questões da alma.

Quando somos jovens temos coragem de refletir sobre nossas atitudes, gostamos de aprender coisas novas e estamos dispostos a enfrentar desafios.

Buscamos respostas para nossas dúvidas e não tememos as críticas, por entender que elas nos ajudam a crescer.

Mas quando as gordurinhas do comodismo vão se acumulando em nossa alma começamos a fugir de espelhos que nos mostrem tal qual somos.

As idéias vão se cristalizando e não temos mais tanta disposição para reciclar as nossas memórias.

Posicionamo-nos numa área de conforto e nos deixamos levar pelas circunstâncias, sem tantos esforços.

Para muitos é como se uma influência paralisante lhes tomasse de assalto.

Não se interessam mais pelo conhecimento, nem por fazer novas amizades ou cuidar um pouco do corpo e da saúde.

Esquecidos de que a sabedoria não está na espinha dorsal nem na pele jovem ou na basta cabeleira, entregam-se ao desânimo como se tivessem chegado ao fim da linha.

Não se dão conta de que enquanto estamos respirando é tempo de aprender e crescer, de fazer exercício e eliminar as gorduras indesejáveis.

Enquanto podemos contemplar o espelho físico, podemos nos observar e envidar esforços para corrigir o que julgamos necessário.

Enquanto a vida nos permite, devemos voltar o olhar para o espelho da consciência e ajustar o que seja preciso, para que fiquemos mais belos e mais sábios.

Arejar os pensamentos e reciclar as memórias infelizes que teimamos em arquivar nos escaninhos do ser.

Repensar conceitos, refazer idéias, rever atitudes e posturas.

Só assim afastaremos o desejo constante de fugir do espelho, de fugir de nós mesmos, fingindo que somos felizes e mascarando a realidade.

Pense nisso e não lute contra a natureza, desejando segurar o tempo com as mãos.

Não deixe que a sua sabedoria se esconda nas rugas da pele nem perca o viço entre os cabelos brancos.

A beleza da sua alma é independente do corpo físico. A sua grandeza se reflete na sua forma de pensar, sentir e agir, e não na imagem projetada no espelho.

Pense nisso e observe-se de corpo e alma, por inteiro.

Lembre-se de que cabe somente a você a decisão de assumir a realidade e modificá-la, quando, como e se julgar necessário.

* * *

Pior do que estar insatisfeito com o corpo é a insatisfação com a própria consciência.

Essa insatisfação lhe rouba a paz, a alegria, a vontade de crescer e ser feliz.

Por isso é importante lembrar que você pode modificar essa realidade quando desejar.

Basta investir na sua melhoria íntima arejando a mente, eliminando preconceitos e adquirindo conhecimentos que lhe tragam satisfação e paz de consciência.

Pense nisso, mas pense agora.

(Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita. www.momento.com.br . http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1289&let=E&stat=0)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Notícia: "Saudades de sua voz".

A vida cotidiana de Odele e sua filha Flavia – em coma há quase 12 anos, desde que seu cabelo foi sugado pelo ralo de uma piscina. - Por: Eliane Brum.

Quando Odele sonha com a filha, Flavia tem 10 anos. A menina de cabelos longos, encaracolados nas pontas, fala sem pausas. Gosta de partilhar seu dia, contar as aventuras na escola, tagarelar sobre o futuro precocemente dividido entre uma carreira de administradora e outra de modelo. Abraça e beija muito. Dança, canta e toca teclado. Sua voz povoa o sono da mãe. Quando Odele acorda, porém, o silêncio continua lá.

Deitada na cama do quarto ao lado, Flavia tem os olhos abertos. Não pode mais falar e, embora possa ver, Odele não sabe se vê. A menina calou-se aos 10 anos, quando seu cabelo foi sugado pelo ralo da piscina do edifício onde vivia, em São Paulo. Em dezembro, no mesmo dia do aniversário da mãe, fará 22. Há quase 12 anos, Odele só ouve a voz da filha em sonhos. Agora é a mãe que parece se afogar ao despertar submersa na ausência da filha. “Ela tinha voz de sino”, diz. É dessa voz de sino que Odele sente mais saudade.

Assim se inicia cada dia. E cada dia em que Flavia não acorda é uma perda para Odele. Quem vai imaginar que a voz da filha, que às vezes perturba com sua premência, será um dia a maior saudade da mãe? Que aquelas histórias de criança, contadas quando falta tempo à mãe, seriam pagas com metade de uma vida ou uma vida inteira, se a mãe soubesse que poderia perdê-las?

É uma existência de subtrações e de delicadezas, a dessas duas mulheres. Só faz sentido porque Odele conseguiu fazer da história de dor também uma narrativa de amor.

Flavia abre os olhos durante o dia e os fecha à noite. No coma vígil, os olhos são vigilantes apenas na aparência. Não há consciência da dor ou do prazer. Flavia não se move, mas se sobressalta com ruídos mínimos e esboça sinais de sofrimento. Para os médicos, são apenas reflexos involuntários. Mas como ter certeza sobre quanto ela percebe? Sentiria Flavia, de algum modo, a presença da mãe, o toque da mãe, o amor da mãe? São perguntas que Odele Souza se faz, aos 60 anos. E responde “sim” a todas elas. Como não?

Devastada pelo silêncio da filha, Odele criou uma voz para Flavia. Há três anos ela criou um blog chamado Flaviavivendoemcoma (www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com). Não é um nome qualquer. Poderia ser Flaviaemcoma, mas Odele escolheu a palavra “vivendo” para colocar entre o nome da filha e o planeta inalcançável habitado por ela. Mesmo que não a alcance, para Odele sua filha vive. E, quando Flavia sorri, não é um reflexo involuntário.

Centenas de pessoas no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na Colômbia, em Moçambique e na Espanha testemunham a delicada tessitura dos dias de Flavia e de Odele pela internet. E preenchem com suas vozes virtuais as paredes reais da casa de silêncios onde vive a “princesa adormecida”. Pelo blog é construída a narrativa amorosa da perda cotidiana de uma mãe diante da ausência do corpo presente da filha. “Construí para minha filha uma vida de detalhes”, diz Odele.

Tempos antes de calar-se no fundo da piscina, de onde foi arrancada pelo irmão, quatro anos mais velho, Flavia soube que a mãe de uma amiga presenteou a filha que menstruava pela primeira vez com um buquê de rosas vermelhas. Pediu: “Mãe, você me dá flores quando eu ficar mocinha?”. Odele prometeu. Imóvel e silenciosa, Flavia virou mulher sobre a cama. Cresceu 12 centímetros. Menstruou em coma, aos 13 anos. A mãe colocou rosas vermelhas a sua cabeceira.

No Dia das Mães, é Odele quem escreve à filha. “Vejo você em sua cama hospitalar, mas não sei onde você está, por isso, como há um ano, estou te escrevendo uma carta neste Dia das Mães em que eu adoraria receber o teu abraço, o teu sorriso, o teu carinho, mas tenho de me contentar com tua presença imóvel e silenciosa. É como se você não estivesse aqui. E lamento muito, filha, por nestes anos todos não ter conseguido entender o mistério do estado de coma, lamento por não entender o que ocorreu em seu cérebro, para saber exatamente onde você se escondeu, um lugar aonde nunca consegui chegar para te falar e fazer entender que, esteja onde estiver, você não está só, e que estou sempre por perto a lhe proteger.”

Há quase 12 anos, por volta das 18h30 de 6 de janeiro de 1998, Odele escrevia no computador quando ouviu os gritos do filho mais velho. Pensou: “O Fernando vai incomodar os vizinhos”. Quando olhou pela janela do 8º andar, viu Flavia estendida no deque da piscina do condomínio. A filha tinha descido duas horas antes, de maiô preto, a toalha sobre um ombro, para brincar com o irmão e alguns amigos na piscina de 95 centímetros de profundidade. A menina tinha 1,50 metro. “Tchau, Mami, tô indo pra piscina”, disse. Foi sua última frase.

Odele desceu pelas escadas. Correndo. Quando alcançou Flavia, ela já não estava lá. Só abriria os olhos 16 dias depois. Nunca mais daria qualquer sinal de consciência.

Meses depois, Odele começou a buscar as causas no fundo da piscina. Dividia seu dia entre os cuidados com a filha no hospital e o posto de secretária executiva numa multinacional. Voltava para casa, vestia um maiô e mergulhava na piscina, em pleno inverno, com uma boneca de longos cabelos. Noite após noite, investigava o ralo. A perícia da Justiça deu razão à mãe: a bomba de sucção instalada pelo condomínio era potente demais para as dimensões da piscina. Odele levou o condomínio e a fabricante do equipamento ao banco dos réus.

Quando a filha completou oito meses de coma, Odele disse ao médico que a levaria para casa. Se Flavia pudesse sentir o cheiro da comida, ouvir a voz do irmão, o som dos chinelos da mãe no assoalho, quem sabe não acabaria por despertar? Nesse tempo, Odele sentia tanta dor que, palavras dela, se confundia com a dor. “Eu era uma dor ambulante”, diz. “Observava o ipê florindo-se de amarelo na janela e sentia raiva. Por que só minha filha não floresceria?”

Odele descobriu que o tempo da solidariedade passara. Não porque as pessoas se tornaram indiferentes, mas porque é difícil suportar uma dor que não acaba. “A dor da gente precisa deixar de ser ostensiva para que não nos tornemos insuportáveis para o outro”, diz. “Depois de dois anos, amigos passaram a atravessar a rua quando me viam. Não eram más pessoas, apenas não sabiam mais o que me dizer.”

Um ano depois do acidente, apareceram os primeiros laudos médicos. E a palavra que, ainda hoje, devasta Odele: irreversível. A mãe recusou-se a aceitar. Iniciou uma busca em que caiu em mãos de todo tipo. Escreveu a um lama do budismo tibetano. Peregrinou por igrejas de denominações variadas e centros espíritas. Passou por médiuns com apregoados poderes de cura e também por médicos que ofereciam tratamentos “revolucionários”. Todos lhe prometeram um milagre, no mesmo tom casual com que garantiriam o nascimento do sol no dia seguinte.

Ao levar a fotografia de Flavia a um médium que diz incorporar um famoso médico alemão, Odele ouviu: “Que menina bonita. Vamos tirá-la do coma”. Ela acreditou. Sempre acreditava. Passou seis meses atravessando a cidade para receber injeções espirituais na nuca. Da médica de uma universidade paulistana, ela escutou: “Em 15 sessões ela já vai dar sinais de retorno”. Não havia “talvez”, “quem sabe”. Só certeza.

A cada sessão, Flavia era espetada com cerca de 30 agulhas de acupuntura. A Odele, a médica pedia que fincasse uma agulha em cada dedo da mão e do pé de Flavia até que brotasse uma gota de sangue: “Energia negativa”. “Eu espetava chorando”, diz.

Quando as 15 sessões terminaram, a médica disse: “E se você parar agora e ela despertar na 18ª?”. Odele já tinha “e ses” demais em sua vida. “E se o prédio não tivesse piscina? E se eu tivesse ido com Flavia tomar sorvete naquela tarde? E se...?” Sem poder suportar mais um, ela seguiu com o tratamento. Um dia a médica provocou uma queimadura na pele de Flavia. Só quando queimou a menina pela segunda vez, Odele entendeu que era hora de parar. Havia sido a 54ª sessão.

Odele parou. “Percebi que não poderia levar minha esperança à insanidade”, diz. “Flavia estava ali, frágil e indefesa, exposta a minhas tentativas de mãe.”

Parar de tentar significava aceitar que a vida possível tinha agora paredes claustrofóbicas e um silêncio sem fim. “Essa dor é pior que a morte, porque é uma perda diária. Essa dor está no meu coração. Eu a sinto no meu caminhar, no fundo dos meus olhos, no meu rosto”, diz.

Odele começou a costurar uma existência em que a esperança resiste nos cantos. Quando Flavia é levada na cadeira de rodas para pegar sol, desce no elevador com a roupa combinando, brincos nas orelhas, presilhas coloridas nos cabelos sempre longos, porque era assim que ela gostava. Flavia pode ver, mas possivelmente nada enxergue. O que não a impede de usar óculos de aros cor-de-rosa quando está sentada. Para ela, a mãe ainda conta as histórias de fadas dos Irmãos Grimm. Mas também lançamentos como Leite derramado, de Chico Buarque, porque agora Flavia já é uma adulta. Cresceu na cama ouvindo Sandy e Júnior. E, agora, é para ela que Roberto Carlos canta suas mais derramadas canções de amor.

“Fá, nem sabe o que aconteceu”, diz Maria José Rodrigues, ou Masé, a técnica de enfermagem que chega. “Morreu o Ghost.” Masé refere-se à morte do astro do filme Ghost, Patrick Swayze, ocorrida em setembro. “Fá, chorei que nem uma besta nesse filme.” Aos 41 anos, Masé cuida de Flavia dia sim, dia não. Entra às 8 horas, depois de completar 12 horas de plantão na UTI de um hospital. Tem pela frente oito horas em que cuida de Flavia com tanto amor que seu próprio filho sente ciúmes. Da rua, ela traz um esmalte rosa-clarinho, transparente, de nome Paraíso, para pintar as unhas de sua “Fafá”. Junto vêm decalques de florzinhas para colar em cada unha esmaltada. Masé tem um lugar especial em uma vida condenada a ser tecida por outros. “Fá, será que um dia eu vou ouvir sua voz?”

Na metade da manhã chega uma das duas profissionais que se alternam de segunda-feira a sábado, em uma hora de fisioterapia. Flavia é colocada numa prancha para que seu corpo fique na vertical, fortalecendo a musculatura das pernas e melhorando o funcionamento dos sistemas digestivo e urinário. Seu corpo é massageado, e por suas mãos passam diferentes texturas para que ela sinta estímulos diversos. Órteses nas pernas e nos braços mantêm mãos e pés na posição correta, já que eles tendem a entortar pela imobilidade. Depois Flavia é acomodada na cadeira de rodas por três horas. Só à tarde volta para a cama, onde é virada a cada duas horas para não ter escaras. “Ela é incrivelmente bem cuidada”, diz a fisioterapeuta Andrea Lotufo. “Nunca vi uma ferida em seu corpo.” O pai da menina, separado de Odele desde a gravidez, sustenta boa parte da cara estrutura que mantém esses cuidados.

Em seu sono, Flavia tem pele de pêssego e cabelos brilhantes, cuidados pelo cabeleireiro Ary Soares, que trata deles desde antes de serem capturados pelo ralo. Não cobra nada. Ninguém toca em Flavia sem dar “oi”, “tchau” e pedir licença. Flavia não fala, mas os habitantes de seu mundo restrito falam com ela. E assim descobre que o esmalte da fisioterapeuta se chama Quinta Avenida.

Embaixo da cama de Flavia, Michele monta guarda. Ela é uma fêmea de poodle branca comprada na esperança de que os latidos despertassem Flavia. Provocam apenas sobressaltos. O nome foi tomado emprestado de uma amiga de Flavia, depois de Odele ter encontrado um bilhete na mochila escolar da filha: “Flavia, eu adoro você. Vou ser sua amiga para sempre. Michele”. Entre as coisas de Flavia, Odele também achou o telefone de uma agência de modelos.

Em sua trajetória, Odele conheceu o pior e o melhor do humano. A ela, nada foi poupado. Ao longo do processo jurídico, até mesmo a inteligência de Flavia foi posta em dúvida. Odele teve de provar que a média de Flavia na escola era 9,3, que aos 10 anos a filha falava inglês e espanhol, tocava teclado e sabia nadar muito bem. Vizinhos disseram que a menina costumava ser negligenciada, na tentativa de isentar o condomínio do pagamento de uma indenização. A fabricante do ralo alegou que a mãe fora “relapsa”. A Justiça de primeira e segunda instância sentenciou Odele como corresponsável pelo acidente, por não estar presente na piscina.

Só mais de uma década depois, em março deste ano, o Superior Tribunal de Justiça rejeitou, por unanimidade, a responsabilidade de Odele. “Essa mãe foi muito injustiçada. Ela nunca poderia responder por deixar sua filha, que sabia nadar bem, como está provado, ir nadar em seu condomínio. Ora, quem de nós não deixa os filhos nadar sozinhos?”, disse o ministro João Otávio de Noronha. O condomínio foi condenado por instalar um ralo incompatível com as dimensões da piscina. A fabricante foi absolvida.

Nestes anos todos, Odele conta que tinha vontade de abrir a janela do apartamento e gritar: “O que eu faço com esta dor?”. “O blog é como uma janela que se abriu. E me arrancou da solidão. Escrever é uma forma de falar de amor e exorcizar a dor. A palavra tem esse poder”, diz Odele. Por essa janela, ela alerta para o perigo dos ralos das piscinas. “Me dizem que não muda nada, mas acredito em exercer a cidadania. Não quero provocar um sentimento de pena, não sou uma coitada. Escolhi lutar”, diz. “Se não tenho poder de mudar, tenho o poder de incomodar. O que aconteceu com Flavia não será esquecido.”

A cada dia Odele realiza a alquimia de transformar dor em indignação para manter-se em pé. “Não há laço mais forte que o existente entre mãe e filho. Por isso, eu achava que o amor de mãe tinha mais poder”, diz. “Não é uma culpa o que sinto, mas uma decepção. Esse amor tão grande não é tão poderoso como eu imaginava que fosse.”

Filha de uma sertaneja nordestina que migrou para São Paulo com os filhos depois de ser abandonada pelo marido, Odele é uma mulher que se fez forte pelo exemplo e pelas agruras. Agora, também pela tragédia. No dia em que Masé está, ela amarra os fios de uma individualidade escassa. Almoça com uma amiga, vai ao cinema, visita exposições, vai ao teatro. Lê muito. E escreve um livro sobre a história de Flavia. “A felicidade já não está a meu alcance, o contentamento sim. Sempre há um jeito de dar um sorriso. Mas, às vezes, o possível para nós é muito pouco”, diz Odele. “Flavia vive à margem da vida. E eu, à margem da liberdade.”

Nos dias em que Masé não está, Odele se dedica a treinar outra cuidadora. Não é fácil encontrar alguém que cuide bem de uma menina em coma. Nem sempre o sono de Flavia é plácido. Seu corpo produz secreções que precisam ser aspiradas uma dezena de vezes ao dia. Pela sonda gástrica, ela recebe as calorias exatas para manter a saúde do corpo sem ultrapassar os 52 quilos. A atenção é constante.

A narrativa fiel desse cotidiano no blog provoca reações extremadas. Desde que passou a habitar a internet, Odele conheceu em profundidade a alma humana. Ela costuma ser alvo de ataques disparados por dois movimentos supostamente antagônicos. Por um lado, defensores da eutanásia lhe dão conselhos. “Deixe de virar sua filha a cada duas horas e a natureza fará seu trabalho”, diz um. “Se você quiser, eu posso aplicar uma injeção”, oferece outro. No lado oposto, religiosos garantem milagres instantâneos se Odele levar Flavia a sua igreja. Basta um domingo, e Flavia sairá andando. Odele recusa ambas as ofertas com firmeza.

Nesse momento as duas pontas se tocam. Ao recusar a eutanásia e o milagre, os discursos se igualam na intolerância. Odele é chamada de “egoísta” e “prepotente”. Ambos os lados acusam-na de não amar “verdadeiramente” a filha. Por meio de e-mails agressivos, estranhos ousam conhecer tanto sua dor quanto seu amor – e sempre acreditam saber o que é melhor para as duas.

Odele está serena quando diz: “Não julgo os pais que optam pela eutanásia, nos países em que ela é permitida. Cada um sabe de sua dor e de suas circunstâncias. Nunca pedi para a minha filha partir. Ela está aqui e, a mim, cabe cuidar para que tenha a melhor vida possível, ainda que o possível seja pouco. Há muito já não acredito em milagres. No meu blog, não permito que falem nem de eutanásia nem de que sua cura depende de Deus. Nem sou santa nem Flavia é. Se eu tivesse permitido, já a teriam transformado numa santinha, e minha casa seria lugar de romaria. Só quero que respeitem meu modo de amar. Para mim, amar é cuidar da minha filha da melhor forma que posso”.

Se as sombras penetram pela janela aberta do blog, é também por ela que entram personagens luminosos de além-mar. Sem muitos amigos reais dispostos a partilhar a vida de uma mulher presa aos horários impostos pelas necessidades de uma filha em coma, Odele fez amizades profundas com gente que nunca tocou. Talvez no mundo fluido, impalpável da internet, seja mais possível alcançar a fragilidade da ausência encarnada de Flavia.

Em torno de Odele e de Flavia foi tecida uma rede que dá amparo e sentido à perda de cada dia. São, em grande parte, amigos de Portugal, que se identificaram com a narrativa de Odele no blog e hoje irrompem pela casa das mais variadas maneiras, espanando as sombras com “coisas ternurentas”. Desde que a medicina encontrou seus limites, é o afeto que salva Odele. Enquanto Flavia dorme em seu casulo, a sua cabeceira nasce uma borboleta pelas fotografias de Nuno Sousa. Outra artista portuguesa, Isabel Filipe, cria novos enredos para a vida de Flavia em fotografias. Mas é um português chamado António Peciscas que as alcança com uma singeleza de sentimentos capaz de redimir a brutalidade daquele sono sem despertar.

De sua casa, no Porto, esse professor sessentão, pai de um filho adulto, envia gravações para Flavia ouvir. Nelas, narra as delicadezas de um cotidiano povoado de banalidades extraordinárias. Pela sua voz, Flavia pode tocar o pelo de uma gata branca que por lá aparece não para comer, mas para receber afagos. “Olá, querida Flavia. Cá está o António uma vez mais...”, inicia ele, como um avô de sotaque português, a voz doce como um pastel de Santa Clara. Grava os sons que se ouvem em sua rua. O sino da igreja, o galo do vizinho e até seus passos apressados sobre as folhas do parque. Nos domingos solitários, a voz de António é a única a quebrar o silêncio da vigília de Odele.

À noite, quando a dor alcança escalas impossíveis, Odele vai para seu quarto e chora. Flavia dorme no quarto ao lado, as portas sempre abertas. “Foi muito pouco o que restou de individualidade para nós”, diz Odele. “Mantemos nossos quartos.”

Ao contrário de todas as mães do mundo, ela tem medo de morrer antes da filha. Odele sabe que ninguém, por melhor que sejam as intenções, será capaz dessa vida de esquecimentos. “A vida me deu muito pouco. Espero que me conceda pelo menos isso”, diz. “Posso morrer no dia seguinte.”

Quando Odele dorme, tem um sonho recorrente. Nele, Flavia dá a mão para a mãe. E elas voam.

Matéria publicada na Revista Época, em 22 de novembro de 2009.

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Comentário:

Ao ler com atenção esta notícia, dois sentimentos distintos dominam a nossa alma: Uma tristeza imensa pela dor de uma mãe confrontada com uma situação tão pungente e uma profunda comoção pela sua persistência diante de tão agreste adversidade, manifestando um amor e carinho incansáveis à sua querida filha. Perante a dor e o sofrimento alheio, mesmo quando eles são tão intensos como os relatados, somos frequentemente instigados a manifestar uma opinião e raras vezes o fazemos com o bom senso e o respeito que as situações o merecem. Do alto de um pretenso conhecimento, senhores de uma razão vaidosa que queremos impor aos outros, protegidos pela distância de uma dor que não conseguimos sequer mensurar, ousamos dar palpites e prescrever receitas infalíveis, acusando quem necessita de consolo, iludindo quem já se sente tão enganado pela vida, esquecidos de que momentos existem em que um carinho e um abraço sentido são infinitamente melhores bálsamos do que qualquer palavra.

No final desta notícia, uma pergunta ecoa no pensamento de quem sentiu estas linhas tão bem redigidas pela jornalista Eliane Brum: Sob a óptica Espírita, como fica a situação de um Espírito quando o seu corpo físico, mergulhado num estado comatoso, deixa de responder à sua vontade? O Espírito será capaz de perceber o que acontece à sua volta? Ele permanece preso ao corpo?

Ao procurarmos respostas para esta questão, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, verificamos que o estado de coma não é tratado de forma específica. Como tal, necessitamos fazer algumas analogias com situações de inconsciência tratadas na obra de Allan Kardec, como é o caso do sono, da letargia e catalepsia. Em termos médicos, o coma é um estado onde o indivíduo evidencia uma perda de consciência, sensibilidade e mobilidade voluntária, mantendo ativos princípios vitais, como a respiração e a circulação sanguínea. Na pergunta 401, questionados por Allan Kardec se durante o sono a alma repousaria com o corpo, os Espíritos responderam: “Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito.” Podemos também analisar na questão 423, em referência ao estado letárgico: “Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.” Na questão 407, encontramos o seguinte esclarecimento: “É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito? Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo."

Aproveitando o relaxamento dos órgãos físicos que o estado comatoso proporciona, o Espírito liberta-se parcialmente das amarras que o corpo físico lhe cria, participando de uma forma mais ativa da vivência na dimensão espiritual. Não quer isso dizer que abandone ou rejeite o seu corpo ou que seja insensível aos cuidados e ao amor que lhe são dedicados. Nada disso. Como sabemos, existem inúmeros casos de pessoas que, passando por situações de coma e regressando à consciência dias ou meses mais tarde, relatam situações ocorridas durante aquele tempo, tanto junto do seu corpo como em dimensões superiores do mundo espiritual. Isso significa apenas que o Espírito sujeito a tal estado permanece consciente e não fica adstrito à imobilidade do seu corpo físico.

Podemos desta forma perceber que num estado de coma, o Espírito, embora ligado ao corpo, não se encontra preso a ele, estando antes numa situação de maior liberdade espiritual, semelhante ao de uma pessoa que dorme.

Por: Carlos Miguel Pereira. Trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pergunta Feita: "quero estudar o evagelho segundo espiritismo".

Mensagem: Olá Sou S, tenho 23 anos e moro em Aracaju, sou espiritualista, acredito na reencarnação e no karma.

Quero dicas de livros, bons, espiritas e tmb quero aprender o evangelho kardecista.

Abraços

S

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Olá, S!

Muita paz!

O "O Evangelho segundo o Espiritismo" é parte das Obras Básicas de Allan Kardec, que são:

1. O Livro dos Espíritos - 18 de abril de 1857
2. O Livro dos Médiuns - janeiro de 1861
3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - abril de 1864
4. O Céu e o Inferno – 1865
5. A Gênese, os milagres e as predições - janeiro de 1868

Allan Kardec escreveu ainda dois outros livros de menor extensão: O Que é o Espiritismo e O Principiante Espírita. No ano de 1890, após sua morte, foi publicado o livro Obras Póstumas, contendo artigos de Kardec ainda não conhecidos do público.

Principalmente para aqueles que não conhecem o Espiritismo, nunca frequentaram uma Casa Espírita e desejam conhecer a Doutrina, achamos interessante que se comece pelo "O Livro dos Espíritos".

Nesse livro, com 1019 itens, o Codificador apresenta os princípios básicos da Doutrina que, posteriormente, serão desenvolvidos nos outros livros. Na primeira parte do livro, o autor estuda as causas primárias, Deus, o espírito e a matéria. Na parte segunda, Kardec disseca em profundidade o Mundo dos Espíritos; a encarnação, a desencarnação, a missão e ocupação dos Espíritos, na terceira parte tem um caráter eminentemente moral, pois ele vai examinar a Lei Natural, subdividida em dez Leis Morais que regem as relações humanas (Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e Justiça, Amor e Caridade). Na última parte, o codificador se preocupa com as Esperanças e Consolações, introduzindo a sonda de suas investigações na complexa Lei de Causa e Efeito.

Já em "O Evangelho segundo o Espiritismo", Kardec se propõe a examinar cuidadosamente as diversas palavras do Cristo e as passagens mais significativas do Novo Testamento, no seu aspecto moral, assumindo um caráter nitidamente religioso, onde a síntese de seu conteúdo é: "A explicação da máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida." O seu estudo se desdobra em 28 capítulos de rara beleza e de profunda sabedoria.

Para conhecer melhor o Espiritismo, temos dois sites muito interessantes para lhe oferecer. No primeiro, você encontrará excelentes indicações sobre livros espíritas para consultas diversas; no segundo, esclarecimentos gerais sobre a Doutrina Espírita.

• www.espiridigi.net/videos

• www.espiritismo.net/espiritismo

Bem, S, independente das leituras, seria interessante que você buscasse em sua cidade uma Casa Espírita que tenha um trabalho sério, voltado para o estudo da Doutrina. Assim, terá melhores oportunidades de esclarecimento, podendo participar de reuniões públicas, cursos diversos, tirando suas dúvidas de uma forma mais direta e objetiva.

Recomendamos, também, caso seja possível e haja interesse, participar de nossas atividades na Internet (estudos, palestras, vibrações e Atendimento Fraterno), via Paltalk (programa de áudio-conferência). Informe-se sobre o programa - instalação e uso - no site www.espiridigi.net/paltalk , além da programação semanal de nossos grupos de trabalho, com as atividades e horários.

No Paltalk: categoria "Central & South America" - subcategoria "Brazil", sala ESPIRITISMO NET JOVEM - Às sextas-feiras, 21h, com estudo das Obras Básicas. Também, no mesmo programa, às segundas-feiras, 20h40, na sala ESPIRITISMO NET ESTUDO, estudo da obra "Educadores do Coração", de Walter Barcelos - para pais, educadores e evangelizadores.

Como complemento para nosso atendimento, convidamos você, sua família e interessados para conhecer nosso trabalho de vibração, desenvolvidos no Paltalk - sala Espiritismo Net Vibração -, aos domingos, categoria Central & South America / subcategoria Brazil", das 22h às 22h30, que lhes proporcionará momentos de harmonia e reflexão. Você também pode encaminhar nomes para a vibração através do formulário no endereço www.espiritismo.net , seção "Preces Online”.

Com a certeza de que estará fazendo excelentes leituras e colhendo ótimos frutos, desejamos-lhe muito sucesso e o melhor proveito possível.

Receba o nosso carinho e sinta-se envolvida por toda nossa equipe. Estamos à disposição para auxiliar no que for necessário e conte sempre conosco.

Um abraço,

Vania Itaborahy
Equipe Espiritismo Net Jovem
Dúvidas e Sugestões: www.cvdee.org.br/netjovem.asp

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Artigo: Transições e Revoluções Planetárias

Por: Breno Henrique de Sousa



Os tempos são chegados e a transição é marcada por diversas revoluções outrora anunciadas. Especialistas dos mais respeitáveis setores do conhecimento humano buscam entender a atual conjuntura social e antever suas possíveis conseqüências. Acompanhadas das revoluções sociais estão as revoluções da natureza, desde cataclismos geológicos naturais até as conseqüências dos desmandos do homem sobre o meio ambiente.

A enfermidade, para qualquer iniciado na medicina espiritualista, surge pelo desequilíbrio energético do organismo. O desequilíbrio das energias sutis minam as defesas orgânicas deixando o caminho livre para a ação dos agentes infecciosos. A Terra é como um organismo vivo, sua emanação energética é fonte vital para nosso equilíbrio assim como, materialmente, ela é o reservatório que mantém a vida orgânica. Há uma profunda relação entre o equilíbrio energético do perispírito e seus vórtices energéticos, com as energias emanadas do sol, do ar e da terra. Isso fica evidente quando os espíritos superiores nos informam que o perispírito é formado pelo fluido do planeta que o espírito habita, selando esta relação profunda.

A saúde do planeta afeta a nossa saúde física, mental e espiritual, assim como nossas ações influem sobre a saúde do planeta. Os especialistas discutem a proporção real da problemática ecológica e o quanto dela se deve a ciclos naturais do planeta. Decerto, as alterações climáticas e geológicas são comuns no planeta, mas a peculiaridade deste momento é como ela é agravada pela ação humana e a crise de valores que acompanha a atual crise ecológica.

Temos a cognição de que estas duas crises, a ecológica e a social, da forma que se apresentam, com sua concomitância, não tem precedentes na nossa história e compreendemos também que ambas são, na realidade, duas faces de uma mesma crise, ou pelo menos, disso temos certeza, que elas repercutem uma sobre a outra agravando mutuamente seus efeitos. Assim temos ao mesmo tempo: um momento de transformações físicas naturais que tem causado alterações climáticas e aumento da atividade sísmica; transformações magnéticas e energéticas que acompanham estas mudanças climáticas e geológicas; transformações sociais onde ocorre a eclosão da violência e de patologias psíquicas que possuem suas causas históricas e sociais, mas que são agravadas pelos dois primeiros fatores e os males causados à natureza pela ação humana.

A atual revolução no campo energético do nosso planeta está também relacionada com fatores cósmicos mais amplos que escapam de nossa percepção. A Terra não é uma pedra impassível que navega inalterável no espaço. Como um ser vivo, ela é um sistema aberto que sofre influencia das modificações das energias solares e das regiões cósmicas por onde transita nossa galáxia que viaja no espaço.

Quando se aproxima uma catástrofe natural, os animais intuem por seu instinto o acontecimento. Nas últimas tsunamis ocorridas na Ásia, antecipadamente, muitos animais rumaram para áreas mais altas para se refugiarem. Existem centenas de exemplos de como os animais podem antever catástrofes ou mesmo “adivinhar” onde há alimento e água. O instinto é excelente guia, seu fundamento está na integração energética do corpo espiritual em formação compondo-se com as energias planetárias. Da mesma forma, nós estamos integrados à natureza com a diferença de termos o perispírito já formado. O raciocínio nem sempre nos permite observar nossas reações instintivas, sempre procuramos razões complexas para explicar o comportamento social desconsiderando que ele é significantemente influenciado por fatores ambientais, energéticos e espirituais que na maioria das vezes não nos damos conta. Uma simples alteração climática pode influir sobre os índices de violência urbana, o que dizer então de mudanças tão profundas como as que estão ocorrendo agora?

Neste momento, somos animais nervosos e amedrontados que pressentem o perigo como aqueles que pressentiam a tsunami. Este padrão de energia agitado tem provocado toda sorte de desordem comportamental e atingido, sobretudo as almas fracas e desequilibradas. Como os animais, sentimos a agitação. Os que desfrutam de relativo amparo da espiritualidade e conquistas no campo do equilíbrio emocional, ainda assim, sentem uma inquietação profunda, uma ansiedade que geralmente lhes conduzem a atuar de maneira mais intensa em suas atividades espirituais e humanitárias. Estes precisam estar atentos para que essa ansiedade não se torne medo e alimente a violência ou desespero. Mas há também aqueles que estão na escuridão do conhecimento das coisas espirituais, os que se comprazem nas trevas da ignorância, envoltos no padrão de energias angustiantes. São também os que se preocupam unicamente com a sobrevivência material, ou que se completam apenas com os prazeres oferecidos pela matéria, são dominados pela energia do medo, do egoísmo e da vaidade. Estes, inconscientemente também são agitados por essa revolução energética, mais que isso, pressentem que esta revolução lhes ameaça e que eles estão especialmente vulneráveis a tais transformações. Reagem como animais desesperados na fila para o abate. Em todas as partes eclodem núcleos de violência e barbárie, violência às vezes gratuita e incompreensível ou em outros momentos, travestida de ideais políticos e religiosos.

Observando a natureza, as espécies vegetais possuem mecanismos interessantes para garantir sua perpetuação biológica. Quando submetida a qualquer estresse climático, químico ou hídrico a planta reage acelerando sua reprodução, emitindo pendões florais, para garantir a perpetuidade diante do perigo iminente. São biologicamente programadas para reagir pelo automatismo fisiológico, mesmo que ainda não tenham consciência de si mesmas. O princípio espiritual estagia nos pródromos da matéria, assimilando os seus automatismos, para despertar a consciência com o manancial de aquisições evolutivas conquistadas ao longo de sua caminhada nos reinos da natureza. Ao despertar como espírito individual e completo o homem ainda encontra-se preso aos atavismos materiais, sobretudo as reações instintivas de sobrevivência e reprodução. As energias sexuais ainda preponderam sobre o plano da consciência e no início de sua caminhada o espírito está predominantemente dominado pelo plano biológico da sobrevivência que equivale ao sexo e ao alimento, para depois desenvolver o sentimento que o eleva a condição humana.

A estrutura do corpo físico, vigorosa de hormônios sexuais, é típica deste estado evolutivo e compatível com o nível de consciência do espírito recém chegado na hominalidade. Os hormônios sexuais estão também relacionados com os impulsos de agressividade necessária para a luta e sobrevivência enquanto estagia em mundos primitivos. Sexo e violência andaram sempre juntos porque possuem uma relação fisiológica muito próxima, além de serem impulsos dominantes e incontroláveis nos espíritos menos evoluídos.
Assim, podemos entender que se o atual padrão energético da Terra provoca reações de agressividade e ansiedade, ele também estimula a libido e a recrudescência à sexualidade impulsiva e desregrada. É uma resposta instintiva ao pressentimento inconsciente do perigo, assim como a planta que acelera seu processo reprodutivo para garantir sua sobrevivência mesmo sem ter consciência deste processo. O padrão atual de energia é favorável a exacerbação das energias sexuais, isso não seria um problema se tivéssemos equilíbrio para canalizar estas energias e é isso o que tem feito espíritos nobres que têm produzido neste momento grandes obras no campo da ciência, tecnologia, humanidade, arte e espiritualidade. A maioria, porém, sofre a influência desta faixa vibratória de maneira desequilibrante, dando vazão aos seus impulsos, prescindindo de valores éticos e morais, agravando ainda mais o seu estado individual de comprometimento diante das leis divinas e, por conseqüência, agravando o panorama de desequilíbrio e sofrimento da humanidade.

Este padrão de energia exerce uma função catalisadora, sua origem está nas atuais revoluções climáticas e geológicas (pois é chegado o momento natural delas acontecerem), sob influencia desta torrente energética, que não é boa nem ruim – nossas reações é que qualificam seus efeitos – cria-se uma psicosfera de desequilíbrio que agrava o problema, além da destruição da natureza pelo homem, desdobrando todo um panorama de revolução e transformações sociais, ambientais e espirituais. Esta psicosfera pode causar desde a ansiedade e hiperatividade, o que leva a uma maior produção em todos os campos de atividade humana, até a obsessão pelo trabalho, o estresse e o desenvolvimento de psicopatologias relacionadas com a ansiedade como o pânico e os transtornos obsessivos compulsivos, ou mesmo, nas personalidades mais depressivas e fragilizadas, distúrbios como as depressões e transtornos bipolares. Todos estes fatores unidos ao nosso insalubre modelo de vida, onde predominam o sedentarismo, dietas pouco saudáveis e contaminação oriunda de agrotóxicos, poluentes e medicamentos, é a combinação tragicamente perfeita para deixar-nos ainda mais vulneráveis a esta crise.

A espiritualidade não nos deixa órfãos nestes momentos tão difíceis e encarnam na Terra espíritos missionários que surgem como faróis na noite escura que atravessamos. Eles surgirão (e já surgem) em todas as partes e não serão identificados por pertencerem a alguma bandeira ou ideologia específica. É preciso que seja assim, porque agora o inimigo não está mais personificado em um país, religião, bandeira política ou ideológica. Não está mais em grupos ou famílias inimigas. O inimigo agora está em nosso país, em nossa fronteira, compartilha das mesmas bandeiras ideológicas, senta-se conosco à mesa e se parece fisicamente. O inimigo hoje pode ter o mesmo sangue, pode ser uma mãe que joga o filho pela janela ou um filho que assassina os pais para tomar-lhes a fortuna.

Diante da tormenta é necessário ter redobrada vigilância e esforçar-se por manter o pouco de luz que adquirimos para não nos perdermos na escuridão da ignorância. É preciso trabalhar no sentido de garantir conhecimento espiritual aos milhares de sedentos que anseiam por compreensão e esperança. A coragem e o amor são os grandes e legítimos instrumentos que podem salvar-nos e salvar aqueles aflitos que buscam alívio, compreensão e sentido para prosseguir a existência.

Neste momento é preciso não vibrar nas faixas da contenda e dos sectarismos gratuitos, eivados de floreios retóricos, alheios à gravidade do problema. Na crise é preciso ser tolerante com as diferenças menores, a fim de unir forças para o objetivo maior de esclarecer um maior número de consciências sedentas de socorro espiritual. No momento, nós, líderes, pensadores e formadores de opinião, nos encontramos como doutores da lei e sacerdotes discutindo o sexo dos anjos, orgulhosos dos nossos saberes, felizes quando vencemos os conclaves filosóficos com nossos argumentos rebuscados, enquanto isso, a porta do templo do conhecimento está fechada e lá fora os sedentos das noções mais elementares da espiritualidade gritam de desespero. Não nos esqueçamos que nos será pedido contas dos talentos que recebemos e que amanhã poderemos renascer sem o privilégio dos conhecimentos que temos, à míngua entre a humanidade mendicante de diretrizes espirituais.

Não se põe uma candeia debaixo do alqueire, sobretudo quando a escuridão ameaça destrilhar a humanidade. Unamo-nos, pois no propósito de esclarecer consciências e consolar corações.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Notícia: "O que nos torna únicos? Não são apenas os nossos genes."

Redação do Diário da Saúde


Gene do quê?

Quando o genoma humano foi sequenciado, em 2001, começou uma caçada pelos genes que tornam cada um de nós um ser único. E também dos genes causadores de doenças.

A partir daí, foi uma lista interminável de genes, incluindo gene da obesidade, gene do envelhecimento, gene da imunodeficiência, gene do autismo, gene da calvície, gene da gagueira e até um "gene brasileiro" do glaucoma.

Os estudos também serviram para contrapor as ideias de raças, mostrando que grupos étnicos são formações sociais, e não genéticas. Mas também levaram a conclusões como a de que emoções dos pais são passadas para os filhos por meio dos genes.


Mistérios do ser humano

Mas agora os cientistas acabam de descobrir que a principal causa de sermos diferentes uns dos outros não está propriamente em nossos genes, mas em como nossos genes são regulados - ligados ou desligados, por exemplo.

O estudo, feito por pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), em Heidelberg, na Alemanha, e das universidades de Yale e Stanford, nos Estados Unidos, acaba de ser publicado na revista Science.

Este é o primeiro estudo que compara genomas humanos completos, definindo quais as mudanças nos trechos de DNA que se situam entre os genes fazem a regulação gênica variar de uma pessoa para outra.

A descoberta muda a forma de pensar sobre nós mesmos e sobre nossas doenças que vinha sendo disseminada desde a chamada "revolução genômica", quando o sequenciamento do DNA chegou a ser visto como a chave final para desvendar os "mistérios do ser humano."


Sequenciamento genético

Os avanços tecnológicos nos últimos 10 anos foram tão grandes que os cientistas agora podem obter as sequências genéticas - o genoma - de várias pessoas em uma fração do tempo e por uma fração do custo que levou para desvendar o primeiro genoma humano.

Além disso, esses avanços agora permitem que os pesquisadores entendam como os genes são regulados nos seres humanos.

O grupo de cientistas, liderados por Jan Korbel e Michael Snyder, foi o primeiro a comparar genomas humanos sequenciados individualmente para procurar o que causa diferenças na regulação dos genes entre dez pessoas diferentes.

Eles se concentraram em regiões não-codificadoras, trechos do DNA que se encontram entre os genes e, ao contrário dos próprios genes, não possuem as instruções para produzir proteínas.

Essas sequências de DNA, que podem variar de pessoa para pessoa, podem funcionar como âncoras para que as proteínas reguladoras, conhecidas como fatores de transcrição, liguem-se à molécula de DNA para ligar ou desligar genes.


Diferenças entre seres humanos

Os cientistas descobriram que cerca de um quarto de todos os genes humanos são regulados de forma diferente de pessoa para pessoa.

Isto é mais do que as variações que existem entre os genes de um indivíduo para outro.

O estudo também revelou que muitas dessas diferenças no modo como as proteínas reguladoras funcionam devem-se a mudanças nas sequências de DNA às quais elas se ligam.

Em alguns casos, estas mudanças podem estar na diferença de uma única letra do código genético, enquanto em outros pode haver uma alteração em uma grande seção do DNA.


Diferenças inexplicáveis

Mas, surpreendentemente, os cientistas descobriram um número ainda maior de variações que não podem ser facilmente explicáveis.

Eles levantaram a hipótese de que algumas destas diferenças por enquanto inexplicáveis podem surgir se as proteínas reguladoras não agirem sozinhas, mas interagirem umas com as outras.

"Nós desenvolvemos uma nova abordagem que nos permitiu identificar casos onde a capacidade de uma proteína para ligar ou desligar um gene pode ser afetada pela interação com outra proteína ancorada em uma área próxima do genoma," explica Korbel. "Com isso, nós podemos começar a compreender onde tais interações acontecem, sem ter que estudar cada proteína reguladora individualmente."


"Genismo"

Os cientistas descobriram que, mesmo que diferentes pessoas possuam cópias idênticas de um gene - o ORMDL3 por exemplo, um gene que se sabe estar envolvido na asma em crianças - a maneira como as células de cada uma dessas pessoas regulam esse gene pode variar.

Isto é um verdadeiro balde de água fria nas divulgações de pesquisas que apregoam os "genes disso" ou "gene daquilo". Não é apenas possuir ou não um determinado gene ativado ou não que importa - a forma como ele é regulado pode fazer uma enorme diferença entre os indivíduos.

"Nossos resultados podem ajudar a mudar a maneira como nós pensamos sobre nós mesmos e sobre as doenças, assim como sobre a procura por genes de doenças," afirma Snyder. "Nós podemos começar a olhar como os genes são regulados, e como as variações individuais na regulação genética podem afetar as reações dos pacientes."


Primas leveduras?

Finalmente, os cientistas compararam a informação genética dos seres humanos com a de um chimpanzé.

Eles constataram que, no que diz respeito à regulação dos genes, parece haver tanta variação entre um ser humano e outro, como entre nós e nossos primos.

Em um outro estudo, publicado na revista Nature, um grupo de pesquisadores liderados por Snyder e por Steinmetz Lars descobriu que diferenças similares na regulação genética também podem ocorrer entre os humanos e um organismo que está muito distante de nós na árvore evolutiva: a levedura, ou fermento de padaria.

Um outro estudo demonstrou que cada pessoa possui tantas mutações genéticas que, na verdade, nós já somos todos mutantes.

Notícia publicada no Diário da Saúde, em 9 de abril de 2010.

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Comentário:

Estamos em constante evolução. No decorrer de milênios, o homem vem se desenvolvendo moralmente e intelectualmente, fazendo descobertas, adentrando nos mistérios da criação. Assim, na medida em que novos conhecimentos são adquiridos, mudam-se os conceitos e ideias, tal como ocorreu agora com o quanto fora previsto quando do sequenciamento do genoma humano.

Chegou-se a acreditar que a descoberta de um gene que causa determinada doença pudesse fazer com que a enfermidade fosse anulada, simplesmente com o isolamento desse gene. Porém, vimos que agora a situação muda de contexto, pois meramente detectar o gene não mais importa, é necessário mais. E quem diria, há dez anos, que estaríamos recebendo notícias como essa.

Trata-se da natural evolução científica, que aumenta a média de vida do ser humano, cria vacinas e curas para doenças antes aterrorizantes, como a hanseníase. O homem vem buscando a perfeição. Futuramente, seremos perfeitos. Estamos fadados ao crescimento não apenas na esfera da ciência, como na espiritual e, principalmente, moral.

Notícias como a que ora analisamos nos faz meditar, ainda, sobre imperiosas decisões que são tomadas em sociedades. A decisão, por exemplo, de se legalizar a eutanásia. Ou, ainda, de se utilizar células-tronco advindas de embriões humanos, dentre muitas outras.

Com essa avalanche de descobertas e constantes mudanças nas concepções científicas, temos que redobrar nosso cuidado na defesa dessa ou daquela tese.

Precisamos ter equilíbrio e discernimento para perceber que todo o desenvolvimento genético trará as alterações sociais necessárias ao nosso crescimento e que nossos passos são muito importantes, devem ser tomados com cautela.

Reavaliar concepções formadas a respeito de questões que podem mudar substancialmente a vida de uma pessoa ou da coletividade é fundamental, pois a ciência tem aberto muitos caminhos. Meditemos a respeito e tenhamos sempre fé e a certeza de que nosso Pai Eterno está no comando de tudo.

Por: Bárbara Paracampos, espírita e colaboradora regular do Espiritismo.net