sábado, 26 de agosto de 2017

A nova geração de brasileiros donos de casa que rompem tabus e 'padecem no paraíso'

Noemia Colonna
De Brasília para a BBC Brasil


Desempregado há dois anos, o engenheiro ambiental Philippe Maciel, de 32 anos, tem uma rotina cheia de trabalho. Só pela manhã, troca fralda, faz mamadeira, sai para brincar, prepara almoço. Sua "chefe"? Alice, a filha de um ano e sete meses.

Desde que pediu demissão do último emprego, Maciel representa um tipo de arranjo doméstico que vem avançando aos poucos no Brasil: homens que dedicam 100% do tempo a cuidar dos filhos e da casa.
A tendência reflete impactos da crise econômica e de mudanças culturais, apontam especialistas. Entre 2005 e 2015, por exemplo, homens e mulheres passaram a dividir um pouco mais os afazeres domésticos, segundo a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Essa repartição, porém, continua desigual no país. Em 2015, mulheres gastavam, em média, 20 horas e meia por semana em tarefas de casa e os homens, dez horas - a diferença no trabalho doméstico entre os sexos caiu uma hora e meia em dez anos.
Ainda assim, assumir o papel de "dono de casa" não costuma ser fácil para os homens. Maciel, por exemplo, sentia-se incapaz como marido e profissional, e chegou a entrar em depressão.
"Não gostei muito no início, até porque não escolhi ficar em casa. Por isso sempre tive na cabeça que precisava conseguir um emprego e contribuir com dinheiro o quanto antes", diz.
Foi preciso uma injeção de ânimo da mulher para o engenheiro se encaixar na nova função. "Ela me disse que também poderia estar naquela situação, e que eu não percebia que estava cuidando da coisa mais importante que temos na vida", conta o morador da capital paulista.
Em março deste ano, a BBC Brasil publicou um chamado nas redes sociais para saber quem são os homens brasileiros que optaram por cuidar dos filhos enquanto as mulheres trabalham fora. Algumas das centenas de respostas estão detalhadas nesta reportagem.

Escolha e adaptação

Na casa do publicitário João Ricardo Bessa, de 31 anos, em Salvador (BA), a decisão veio logo quando o casal soube que a mulher estava grávida de Vinícius, hoje com cinco meses.
"Minha esposa tinha um emprego mais estável e eu poderia trabalhar de casa. Por isso, decidimos que o melhor seria eu passar mais tempo com nosso filho", diz.
A adaptação, relata Bessa, não foi fácil. "Coisas que eram simples, como ir ao banheiro ou tomar banho, hoje ganharam contornos estratégicos. Tenho que fazer de tudo para o bebê ficar seguro."
E os desafios continuam, afirma a mulher de Bessa, a publicitária Dannie Karam, de 30 anos. "Quando tenho um dia cheio no trabalho também quero atenção do meu marido, mas ele está cansado de ter cuidado do bebê o dia todo. E ainda me sinto culpada por sobrecarregá-lo."
O comerciante carioca Victor Borges, de 39 anos, diz que ser "dono de casa" aprofundou sua relação com João, de dois anos e meio.
"Uma coisa é chegar em casa e dar um beijinho no bebê, brincar com ele. Outra, completamente diferente, é cuidar e tê-lo sob sua responsabilidade", afirma ele, que cuida da criança três dias por semana - o resto do tempo é dividido com a sogra e a mulher.
Em busca de tranquilidade, a família se mudou da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, para Guapimirim, no interior do Estado. A distância entre a nova morada e o trabalho na capital (70 km), para onde Borges vai duas vezes por semana, foi decisiva para a opção do casal.
"Sempre ganhei menos que minha mulher e queria ter essa experiência de cuidar de filho. Se fosse para sacrificar um emprego, que fosse o meu."

Contexto econômico

Para Regina Madalozzo, professora de Economia do Insper, o cenário econômico ainda pesa mais do que mudanças culturais nesse avanço dos homens no ambiente doméstico.
"Muitas vezes esse homem se vê desempregado ou precisa apoiar a esposa que ganha mais. E nem sempre ele faz isso de bom grado, pois a cultura conservadora fala mais alto", avalia.
Em 2004, 46,3% dos homens que trabalhavam também cuidavam das coisas de casa - o índice passou para 52,9% em 2015 - entre as mulheres, a proporção é de 90,9%.
Madalozzo diz que ainda prevalece no Brasil a crença tradicional na "divisão sexual do trabalho": o homem cuida da manutenção financeira e a mulher, da ordem familiar. A ideia, diz, vem perdendo espaço gradualmente, sobretudo entre gerações mais jovens.
"Mas ainda não é um fenômeno e não atinge todas as camadas sociais. Até porque as pessoas ainda ficam espantadas quando escutam que o homem abriu mão de uma aceleração do mercado de trabalho para se responsabilizar pelo lar, integral ou parcialmente."

Papel da legislação

O surgimento de mais "donos de casa" também depende, avalia a professora, de mudanças na legislação trabalhista. Decreto do ano passado elevou a licença-paternidade de cinco para 20 dias, mas no setor privado abrange apenas firmas cadastradas no Empresa Cidadã, um programa federal.
Pelo mundo, a licença paternidade também tem ganhado terreno apenas recentemente na maioria dos países.
Na Suécia, por exemplo, país pioneiro na concessão de licença-paternidade, um dos pais tem direito a 480 dias de licença, e o governo paga 80% dos salários a quem decidir ficar com o filho em casa nos primeiros 390 dias. Além disso, o pai conta com três meses de licença remunerada - e a mãe tem quatro meses e meio.
Para o administrador Antonio Carlos LaCava, de 37 anos, que vive na Suécia há dez anos, o apoio do Estado foi fundamental para se tornar um pai mais presente para os filhos.
"Isso nos dá possibilidades infinitas de estarmos mais perto de nossas crianças e experimentarmos o espaço doméstico", avalia.

Limão em limonada

Há também quem tenha transformado a função de "dono de casa" em negócio.
O jornalista Cláudio Henrique dos Santos, 45 anos, de São Paulo, fez da experiência uma profissão: hoje é palestrante sobre o tema e autor do livro O Macho do Século 21: o executivo que virou dona de casa. E acabou gostando (editora Claridade).
Ele viveu a experiência após acompanhar a mulher, recém-contratada em Cingapura. Não conseguiu visto de trabalho e viu-se obrigado a ficar em casa - e encarar o preconceito que isso pode envolver.
"Quando a mulher fica em casa cuidando dos filhos, é normal. Mas se for o pai, aí ele é vagabundo, encostado. Ao viver na Ásia, tive a impressão de que faria mais sucesso se dissesse que era bandido do que dono de casa", relata.
A partir da experiência, ele diz ter entendido como era injusto com suas funcionárias quando atuava como executivo na área de comunicação.
"Tinha uma equipe de homens e mulheres que trabalhavam até tarde. E toda vez que uma delas pedia para sair no horário, eu achava que não tinha comprometimento, pois não imaginava que essa mulher cumpria outra jornada de trabalho em casa", conta.
Hoje, com a filha já crescida, e não mais no papel de "dono de casa", ele vive em Paris e vem ao Brasil a cada 45 dias para dar palestras sobre o que chama de "macho do século 21": aquele que divide tarefas e tempo com a mulher.
"Ao ser dono de casa percebi o quanto somos reféns do machismo que diz que temos que ser provedores a todo custo, e isso inclui não se envolver 100% na paternidade. Ser pai é mais do que botar comida na mesa, é também dar carinho e afeto aos filhos. Mas como somos criados em meio ao machismo, não nos damos o direito de falarmos sobre isso, e nos escravizamos", avalia.
Mãe de Alice, a bebê do começo da reportagem, a advogada Isabella de Lima, de 28 anos, diz ver com naturalidade a permanência do marido em casa.
"Sempre acreditei na igualdade entre homem e mulher, em direitos e deveres. Ele ficar em casa é tão natural como seria se eu ficasse. Até hoje é ele, amanhã pode ser eu."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 13 de abril de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Esta reportagem nos faz refletir como ainda o preconceito age dentro de nós, como somos criados em meio ao machismo. O homem cuida da manutenção financeira e a mulher da ordem familiar.
Se a situação for ao contrário, onde a mulher trabalha e o pai fica em casa, é porque ele é vagabundo, encostado.
O preconceito é uma praga que se alastra nas sociedades e vai deixando um rastro de prejuízos, tanto físicos como morais.
Hoje, por mais que se combata o preconceito, muitas vezes ele ainda aparece inesperadamente.
Quantas desavenças poderiam ser evitadas se as pessoas procurassem verificar melhor o contexto que lhes é apresentado. Muitos não têm a mera noção do porquê de as pessoas serem como são ou de agirem como agem.
Por que não respeitar ou pelo menos buscar entender os porquês antes de apontarmos as pessoas?
A Doutrina dos Espíritos nos esclarece que estamos vivendo neste planeta Terra em consonância com a Lei de Ação e Reação/Causa e Efeito, onde tudo que fizermos terá consequências e que tudo pelo que estamos passando tem sua razão de ser; mas, também, tem a finalidade de nos ajudar na escalada evolutiva para nos tornar espíritos melhores até alcançarmos a perfeição.
Uma união conjugal equilibrada é uma relação onde coexistem a individualidade, o respeito, a alegria e o prazer de estar junto. Tudo isso para que exista um clima propício ao estabelecimento de bases firmes, que permitam que as individualidades dessa união possam construir e concretizar o que se propuseram a realizar nessa vida.
Em “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec e os Espíritos da Codificação falam da responsabilidade dos pais pela educação dos filhos.
Na questão 208 de “O Livro dos Espíritos”, está escrito que: o Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado.
A melhor doação que um pai pode dar ao seu filho não são bens materiais. O mais importante é estar presente, orientando, educando e, o mais importante de tudo, ser o exemplo de honestidade e dignidade.
* Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net

III Itinerarte: Jonathan Moreira - Recomeço


Jonathan Moreira - O que Fazeis de Especial


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Som do Coração - Jonathan Moreira


Atitude de amor - Jonathan Moreira


CANTO DO JOVEM - NOVO RUMO (MARCELO MANGA E RICARDO LEITE)


Espiritirinha - Você sabia?!


Nosso Lema - Comeerj Pólo XI


{ELOS DO SOL} CLIPE - No tom do amor


{ELOS DO SOL} CLIPE - Pérola


Agora (Gabriel O Mathias) com Felipe Bastos // 13. Agora (Gabriel de Oliveira Mathias)




quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Reflexão: O BOM SAMARITANO JOVEM E A SOCIEDADE

1. O BOM SAMARITANO JOVEM E A SOCIEDADE

 “Sigamos, pois, as coisas que contribuem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.” (Romanos, 14:19).

Jovem amigo, a convivência social é uma lei natural e constitui um aprendizado importante para a nossa alma no sentido de educarmos os nossos impulsos e moldarmos a nossa conduta nas bases da fraternidade e do respeito.

O Bom Samaritano Jovem perante a sociedade

“Desistir de somente aparentar propósitos de evangelização, mas reformar-se efetivamente no campo moral, não se submetendo a qualquer hábito menos digno, ainda mesmo quando consagrado por outrem.
A evolução requer da criatura a necessária dominação sobre o meio em que nasceu. Perdoar sempre as possíveis e improcedentes desaprovações sociais à sua fé, confessando, quando preciso for, a sua qualidade religiosa, principalmente através da boa reputação e da honradez que lhe exornam o caráter.
Cada Espírito responde por si mesmo”.
(André Luiz, Conduta espírita, 14. ed., p. 43-44).

“A Doutrina Espírita é uma só em todas as circunstâncias.
Tributar respeito aos companheiros que fracassaram em tarefas do coração. Há lutas e dores que só o Juiz Supremo pode julgar em sã consciência.
Atender aos supostos felizes ou infelizes, cultos e incultos, com respeito e bondade, distinção e cortesia.
A condição social é apenas apresentação passageira e todos os papéis são permutáveis na sucessão das existências.” (André Luiz, Conduta espírita, 14. ed., p. 44-45).

A conduta do cristão

“Moderar as manifestações de excessivo entusiasmo, exercitando-se na ponderação quanto às lutas de cada dia, sem, contudo, deixar-se intoxicar pela circunspecção sistemática ou pela sombra do pessimismo.
O culto da temperança afasta o desequilíbrio.
Anotar a extensão das suas forças, consultando sempre os corações mais amadurecidos no aprendizado terrestre, sobre as diretrizes e os passos fundamentais da própria existência, prevenindo-se contra prováveis desvios.
Invigilância conservada, desastre certo.”
(André Luiz, Conduta espírita, 14. ed., p. 20-21).

O que o adolescente espera da sociedade?

“Em razão da imaturidade, o adolescente espera compreensão e auxílio da sociedade, que lhe deve facultar campo para todos os conflitos, não os refreando nem os corrigindo, de forma que o mundo se lhe torne favorável área para as suas experimentações, nem sempre corretas, dando surgimento a novos conceitos e novas propostas de vida.
Essa aspiração é justa, no entanto o ônus é muito alto quando os resultados se apresentam funestos ou danosos, o que normalmente ocorre, tendo-se em vista que a inadequação do jovem ao existente impede-o de entender o que sucede, não possuindo recursos para solucionar os desafios que surgem e a todos aguardam”.
(Joanna de Ângelis, Adolescência e vida, 4. ed., p. 54).

“O adolescente sempre espera da sociedade a oportunidade de desfrutar dos prazeres em indefinição nele mesmo.
Estando em crise de identidade, não sabe realmente o que deseja, podendo mudar de um para outro momento e isto não pode ser seguido pelo grupo social, que teria o dever de abandonar os comportamentos aceitos a fim de incorporar insustentáveis condutas, que logo cedem lugar a novas experiências. Irreflexão, angústia, descontrole nas atitudes são naturais no adolescente, que irá definindo rumos até encontrar um método de adaptação dos seus sentimentos aos padrões vigentes e aceitos, ajustando-se, por fim, ao contexto que antes combatia.
A chegada da maturidade e da razão oferece diferente visão da sociedade, todavia os atos praticados já produziram os seus efeitos e, se foram agressivos, os danos aguardam remoção, ou pelo menos necessária reparação ”.
(Joanna de Ângelis, Adolescência e vida, 4. ed., p. 55-56).

 O que a sociedade espera do adolescente?

“Por sua vez, a sociedade espera que o adolescente se submeta aos seus quadros de comportamento estabelecido, muitas vezes necessitados de renovação, de mudança, face aos imperativos da lei do progresso.
O adulto, representando o contexto social, acredita que, oferecendo ao adolescente os recursos para uma existência equilibrada, educação, trabalho, religião, esportes, etc., ter-se-á desincumbido totalmente do compromisso, não se devendo preocupar com mais nada e aguardando a resposta do entendimento juvenil mediante apoio irrestrito, cooperação constante, continuidade dos seus empreendimentos.
Seria tediosa, a vida social, e retrógrada, se fosse continuada sem as inevitáveis mudanças impostas pelo progresso e trabalhadas pelas gerações novas, às vezes inspiradas pelo pensamento filosófico ou científico, pelo idealismo da beleza e da arte, da religião e da tecnologia, que encontram nos jovens a sua força motriz ”.
(Joanna de Ângelis, Adolescência e vida, 4. ed., p. 56).

 Conduta do Bom Samaritano Jovem na via pública

“Demonstrar, com exemplos, que o espírita é cristão em qualquer local.
A Vinha do Senhor é o mundo inteiro. Colaborar na higiene das vias públicas, não atirando detritos nas calçadas e nas sarjetas.
As pessoas de bons costumes se revelam nos menores atos.
Consagrar os direitos alheios, usando cordialidade e brandura com todo transeunte, seja ele quem for.
O culto da caridade não exige circunstâncias especiais. Cumprimentar com serenidade e alegria as pessoas que convivem conosco, inspirando-lhes confiança.
A saudação fraterna é cartão de paz. Exteriorizar gentileza e compreensão para com todos, prestando de boamente informações aos que se interessem por elas, auxiliando as crianças, os enfermos e as pessoas fatigadas em meio ao trânsito público, nesse ou naquele mister.
Alguns instantes de solidariedade semeiam simpatia e júbilo para sempre. Coibir-se de provocar alarido na multidão, através de gritos ou brincadeiras inconvenientes, mantendo silêncio e respeito, junto às residências particulares, e justa veneração diante dos hospitais e das escolas, dos templos e dos presídios.
A elegância moral é o selo vivo da educação. Abolir o divertimento impiedoso com os mutilados, com os enfermos mentais, com os mendigos e com os animais que nos surjam à frente.
Os menos felizes são credores de maior compaixão.
Proteger, com desvelo, caminhos e jardins, monumentos e pisos, árvores e demais recursos de beleza e conforto, dos lugares onde estiver.
O logradouro público é salão de visita para toda a comunidade”.
“Vede prudentemente como andais.” — Paulo. (EFÉSIOS, 5:15.)

(André Luiz, Conduta espírita, 14. ed., p. 34 - 36).


(fonte: http://mocidade.ocentroespirita.com/ba/O%20BSJ%20e%20a%20Sociedade.pdf)

Livre-arbítrio e presciência divina - (Revista Espírita, outubro de 1863 - Dissertações espíritas).

Livre-arbítrio e presciência divina
(Revista Espírita, outubro de 1863 - Dissertações espíritas).

Há uma grande lei que domina tudo no Universo: a lei do progresso. É em virtude dessa lei que o homem, criatura essencialmente imperfeita, deve, como tudo quanto existe em nosso globo, percorrer todas as fases que o separam da perfeição. Sem dúvida Deus sabe quanto tempo cada um levará para chegar ao fim. Porém, como todo progresso deve resultar de um esforço tentado para realizá-lo, não haveria nenhum mérito se o homem não tivesse a liberdade de tomar este ou aquele caminho. Com efeito, o verdadeiro mérito não pode resultar senão de um trabalho operado pelo Espírito para vencer uma resistência mais ou menos considerável.
Como cada um ignora o número de existências que consagrou ao seu adiantamento moral, ninguém pode prejulgar nesta grande questão e é-sobretudo- aí que brilha, de maneira admirável, a infinita bondade de nosso Pai Celeste que, ao lado do livre-arbítrio que nos conferiu, semeou em nosso caminho marcos indicadores que iluminam os desvios. É, pois, por um resto de predomínio da matéria que muitos homens se obstinam em ficar surdos às advertências que lhes chegam de todos os lados, e preferem gastar em prazeres enganadores e efêmeros uma vida que lhe havia sido concedida para o avanço de seu Espírito.
Não se poderia afirmar sem blasfêmia que Deus tenha querido a infelicidade de suas criaturas, pois os infelizes expiam sempre, tanto uma vida anterior mal empregada quanto sua recusa a seguir o bom caminho, quando este lhe era mostrado claramente.
Assim, depende de cada um abreviar a prova que deve sofrer. Por isso, guias seguros bastante numerosos lhe são concedidos para que seja inteiramente responsável por sua recusa de seguir seus conselhos, e ainda, neste caso, existe um meio certo de abrandar uma punição merecida, dando sinais de sincero arrependimento e recorrendo à prece, que jamais deixa de ser atendida, quando feita com fervor. O livre-arbítrio existe, pois, efetivamente, no homem, mas com um guia: a consciência.
Vós todos que tendes acesso ao grande foco da nova ciência, não negligencieis de vos penetrar das eloquentes verdades que ela vos revela, e dos admiráveis princípios que são a sua consequência. Segui-os fielmente, pois é aí, sobretudo, que brilha o vosso livre-arbítrio.
Pensai, por um lado, nas consequências fatais que para vós arrastaria a recusa de seguir o bom caminho, como nas magníficas recompensas que vos aguardam caso obedeçais às instruções dos bons Espíritos. É aí que brilhará, por sua vez, a presciência divina.
Em vão se esforçam os homens em busca da verdade por todos os meios que julgam ter na Ciência. Esta verdade, que lhes parece escapar, segue sempre ao seu lado, e os cegos não a percebem.
Espíritos sábios de todos os países, aos quais é dado levantar uma ponta do véu, não negligencieis os meios que vos são oferecidos pela Providência! Provocai nossas manifestações; fazei que delas aproveitem todos os vossos irmãos menos bem aquinhoados que vós; inculcai em todos os preceitos que vos chegam do mundo espírita, e tereis bem merecido, porque tereis contribuído em larga parte para a realização dos desígnios da Providência.
ESPÍRITO FAMILIAR

Enviado por: "Gonzaga"

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo

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EESE – Cap. XXI – Itens 8 e 9
Tema:  Os falsos profetas
           Caracteres de verdadeiro profeta
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A - Texto de Apoio:
Os falsos profetas
8. Se vos disserem: "O Cristo está aqui", não vades; ao contrário, tende-vos em guarda, porquanto numerosos serão os falsos profetas. Não vedes que as folhas da figueira começam a branquear; não vedes os seus múltiplos rebentos aguardando a época da floração; e não vos disse o Cristo: Conhece-se a árvore pelo fruto? Se, pois, são amargos os frutos, já sabeis que má é a árvore; se, porém, são doces e saudáveis, direis: "Nada que seja puro pode provir de fonte má."
É assim, meus irmãos, que deveis julgar; são as obras que deveis examinar. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.
Desconfiai, porém, das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus que oram nas praças públicas, vestidos de longas túnicas. Desconfiai dos que pretendem ter o monopólio da verdade!
Não, não, o Cristo não está entre esses, porquanto os que ele envia para propagar a sua santa doutrina e regenerar o seu povo serão, acima de tudo, seguindo-lhe o exemplo, brandos e humildes de coração; os que hajam, com os exemplos e conselhos que prodigalizem, de salvar a humanidade, que corre para a perdição e pervaga por caminhos tortuosos, serão essencialmente modestos e humildes. De tudo o que revele um átomo de orgulho, fugi, como de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo em que toca. Lembrai-vos de que cada criatura traz na fronte, mas principalmente nos atos, o cunho da sua grandeza ou da sua inferioridade.
Ide, portanto, meus filhos bem-amados, caminhai sem tergiversações, sem pensamentos ocultos, na rota bendita que tomastes. Ide, ide sempre, sem temor; afastai, cuidadosamente, tudo o que vos possa entravar a marcha para o objetivo eterno. Viajores, só por pouco tempo mais estareis nas trevas e nas dores da provação, se abrirdes o vosso coração a essa suave doutrina que vos vem revelar as leis eternas e satisfazer a todas as aspirações de vossa alma acerca do desconhecido. Já podeis dar corpo a esses silfos ligeiros que vedes passar nos vossos sonhos e que, efêmeros, apenas vos encantavam o espírito, sem coisa alguma dizerem ao vosso coração. Agora, meus amados, a morte desapareceu, dando lugar ao anjo radioso que conheceis, o anjo do novo encontro e da reunião! Agora, vós que bem desempenhado haveis a tarefa que o Criador confia às suas criaturas, nada mais tendes de temer da sua justiça, pois ele é pai e perdoa sempre aos filhos transviados que clamam por misericórdia. Continuai, portanto, avançai incessantemente. Seja vossa divisa a do progresso, do progresso contínuo em todas as coisas, até que, finalmente, chegueis ao termo feliz da jornada, onde vos esperam todos os que vos precederam. - Luís. (Bordéus, 1861.)
Caracteres de verdadeiro profeta
9. Desconfiai dos falsos profetas. É útil em todos os tempos essa recomendação, mas, sobretudo, nos momentos de transição em que, como no atual, se elabora uma transformação da Humanidade, porque, então, uma multidão de ambiciosos e intrigantes se arvoram em reformadores e messias. E contra esses impostores que se deve estar em guarda, correndo a todo homem honesto o dever de os desmascarar. Perguntareis, sem dúvida, como reconhecê-los. Aqui tendes o que os assinala:
Somente a um hábil general, capaz de o dirigir, se confia o comando de um exército. Julgais que Deus seja menos prudente do que os homens? Ficai certos de que só confia missões importantes aos que ele sabe capazes de as cumprir, porquanto as grandes missões são fardos pesados que esmagariam o homem carente de forças para carregá-los. Em todas as coisas, o mestre há de sempre saber mais do que o discípulo; para fazer que a Humanidade avance moralmente e intelectualmente, são precisos homens superiores em inteligência e em moralidade. Por isso, para essas missões são sempre escolhidos Espíritos já adiantados, que fizeram suas provas noutras existências, visto que, se não fossem superiores ao meio em que têm da atuar, nula lhes resultaria a ação.
Isto posto, haveis de concluir que o verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador. Tirai também esta outra consequência: se, pelo seu caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência, ele se mostra abaixo do papel com que se apresente, ou da personagem sob cujo nome se coloca, mais não é do que um histrião de baixo estofo, que nem sequer sabe imitar o modelo que escolheu.
Outra consideração: os verdadeiros missionários de Deus ignoram-se a si mesmos, em sua maior parte; desempenham a missão a que foram chamados pela força do gênio que possuem, secundado pelo poder oculto que os inspira e dirige a seu mau grado, mas sem desígnio premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam por seus atos, são adivinhados, ao passo que os falsos profetas se dão, eles próprios, como enviados de Deus. O primeiro é humilde e modesto; o segundo, orgulhoso e cheio de si, fala com altivez e, como todos os mendazes, parece sempre temeroso de que não lhe deem crédito.
Alguns desses impostores têm havido, pretendendo passar por apóstolos do Cristo, outros pelo próprio Cristo, e, para vergonha da Humanidade, hão encontrado pessoas assaz crédulas que lhes creem nas torpezas. Entretanto, uma ponderação bem simples seria bastante a abrir os olhos do mais cego, a de que se o Cristo reencarnasse na Terra, viria com todo o seu poder e todas as suas virtudes, a menos se admitisse, o que fora absurdo, que houvesse degenerado. Ora, do mesmo modo que, se tirardes a Deus um só de seus atributos, já não tereis Deus, se tirardes uma só de suas virtudes ao Cristo, já não mais o tereis. Possuem todas as suas virtudes os que se dão como sendo o Cristo? Essa a questão. Observai-os, perscrutai-lhes as ideias e os atos e reconhecereis que, acima de tudo, lhes faltam as qualidades distintivas do Cristo; a humildade e a caridade, sobejando-lhes as que o Cristo não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai, ao demais, que neste momento há, em vários países, muitos pretensos Cristos, como há muitos pretensos Elias, muitos S. João ou S. Pedro e que não é absolutamente possível sejam verdadeiros todos, Tende como certo que são apenas criaturas que exploram a credulidade dos outros e acham cômodo viver à custa dos que lhes prestam ouvidos.
Desconfiai, pois, dos falsos profetas, máxime numa época de renovação, qual a presente, porque muitos impostores se dirão enviados de Deus. Eles procuram satisfazer na Terra à sua vaidade; mas uma terrível justiça os espera, podeis estar certos. - Erasto. (Paris, 1862.)

 B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Em que situação podemos dizer que alguém é realmente um enviado de Deus?
2 - Cite alguns caracteres do verdadeiro profeta, segundo o segundo texto (Erasto).

3 - Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Superando Desafios - Programa 005

OUÇA AQUI:

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Libertação - Programa 014

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Memórias De Um Suicida - Programa 014

OUÇA AQUI:

Pedagogia Espírita na Educação - PEE - Programa 014 - Selma, Kátia E Selma

OUÇA AQUI:

Parábolas E Ensinos De Jesus - Programa 014

OUÇA AQUI:

O Problema Do Ser E Do Destino - Programa 014

OUÇA AQUI:

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Humor - Qual sua opinião? - Desenvolva o tema...


Espiritoteca

VEJA MAIS AQUI:

CONFRATERNIZAÇÃO BRASILEIRA DE JUVENTUDES ESPÍRITAS – CONBRAJE - NORTE!

INSCRIÇÕES AQUI:



A benção de uma família estruturada

Autor: 
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Sejamos sinceros...Isso é fato. Quando somos adolescentes, a tendência é queremos dar um “chega prá lá” na nossa família. É o pai que achamos antiquado, a mãe que pensamos chata, o irmão mais velho que pega no nosso pé. Isso se acentua no contexto atual, onde o jovem sabe manusear melhor as parafernálias tecnológicas que permitem ao ser humano transitar pelo mundo, se sentindo mais “dono do mundo”.
Essa visão de auto-suficiência, típica dessa fase da nossa vida como encarnados, nos faz esquecer de valorizar a família que temos. Pois é, muitas vezes não percebemos a benção que é a família estruturada na qual convivemos. Lembramos apenas dos problemas! Problemas...Ah, a família, como qualquer agremiação humana, os tem a vontade. Mas, existem problemas maiores e menores, e existem alguns cruciais, desestruturantes, que convertem a família em um verdadeiro inferno sob a terra.
Quem convive com problemas de drogas na família, com os males financeiros e comportamentais da dependência química, sabe do que eu estou falando. Essas pessoas que vivem nessas famílias sonham diariamente com uma família estruturada, com um lar tranquilo.
Aqueles que passam pela provação do alcoolismo na família, com a rotina de violência familiar, escândalos e conflitos advindos desse quadro, também anseiam por uma família que tenha o seu pai em uma mesa de jantar e não plantado em uma mesa de bar toda a noite.
Os que tem o pai ausente, violento e com mulheres na rua, o que não dariam por uma família estruturada, abençoada pela rotina diária?
Por rebeldia juvenil, não valorizamos os pais dedicados e amorosos, ciosos de nossa formação e do nosso amadurecimento. É fato também que esse orgulho, esse "caminhar por si só" faz parte da formação de nossa personalidade, do processo de auto-afirmação típico da juventude. Mas não será possível se auto afirmar, sermos o que queremos ser, sem o bom exemplo de nossos familiares.
Eis o nosso grande desafio! Mediar liberdade e presença! Crescer, tomar nosso caminho, construir a nossa jornada e não abandonar a nossa família e seus valores. Esse desafio, certamente, é bem menos áspero do que enfrentar a juventude em famílias desestruturadas, açodadas pelo vício, com problemas viscerais, que somente espíritos amadurecidos conseguem sublimar e converter essa luta em espaço de crescimento.
Se fomos nesta encarnação agraciados com a benção de uma família estruturada, com pais amorosos, saibamos pesar na balança da vida a grande dádiva que isso representa. Nos permitamos esse amadurecimento, e veremos que nossos problemas são ínfimos e que não se equiparam aos quadros infelizes daqueles que anseiam, mais do que tudo, viver em um lar como o nosso.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Dent: A doença que, de tão rara, obriga uma mãe a buscar sozinha os recursos para a cura

Inma Gil Rosendo
BBC Mundo

"Mamãe, vão me picar hoje?". "Sim", responde Eva Giménez sem hesitar. "Hoje você será picado, Nacho."
"Mamãe, por que eu vou tanto ao hospital e as crianças da minha turma não?"
"É porque você tem a doença de Dent. Não sabe?"
"Ah, sim, claro, mamãe, por isso. Ok, ok."
Nacho mora na Espanha, tem 7 anos e sonha em ser jogador de futebol, mas está proibido de correr ou jogar bola, exceto por um curto período de tempo a cada duas ou três semanas. Tudo porque sofre de uma grave osteoporose.
"Nós vamos dois dias ao hospital e três dias à escola", explica Eva ao telefone à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC. Mas ressalta que "Nacho é o garoto mais feliz do mundo".
"Queríamos que Nacho vivesse suas limitações e sua doença com alegria, porque não é algo passageiro. É para a vida toda."
Seu filho é tratado por oito especialistas diferentes, entre cardiologistas, nefrologistas, ortopedista e endocrinologista. Ele foi internado seis vezes com risco de ataque cardíaco e redução drástica no nível de potássio. Todos os dias, toma sete remédios a cada oito horas.
Mas os medicamentos não podem curá-lo. Apenas repõem oralmente o que Nacho perde pela urina em grandes quantidades: cálcio, potássio e fósforo.

'Desespero e impotência'

Em 2012, após o diagnóstico de Nacho com Dent, Eva sentiu tanto "desespero e impotência" que decidiu levar a cabo uma luta pessoal contra a condição de seu filho.
E ela começou com o básico: fundar uma associação para levantar fundos para um projeto de pesquisa para encontrar uma cura, uma vez que, de acordo com Eva, "não há nenhum no mundo".
Dent é uma doença rara e hereditária que, na maioria dos casos, é causada por uma mutação genética no cromossomo X e afeta os rins. Apenas algumas centenas de pessoas sofrem desse problema em todo o mundo.
Foi assim que nasceu o Asdent, que agora tem 700 membros e tornou-se um ponto de referência para as famílias dos pacientes de Dent de outras partes do mundo que procuram informações na internet.
"Dão o diagnóstico da doença de Dent, mas não oferecem nenhum tipo de tratamento. Então, seus pais se desesperam. Eles entram na internet e me encontram", explica Eva. "Guardo o áudio de uma mãe argentina que me arrepia, (dizendo) 'você é a nossa esperança'."

Pernas tortas

O áudio era um pedido de ajuda de dois pais desesperados, Natalia e Esteban.
"Aqui na Argentina e, particularmente em Córdoba, ninguém sabia o que fazer com o Gabi ou como tratá-lo, fosse em hospitais públicos ou privados", diz Natalia à BBC. "Enviamos um e-mail para Asdent pela manhã e, à noite, nós já estávamos falando ao telefone com Eva."
Natalia levou o filho ao ortopedista quando ele tinha um ano e meio porque estava preocupada com suas pernas "muito tortas".
E assim ela começou uma saga por diferentes especialistas e hospitais, com exames de sangue intermináveis ​​e testes de urina que terminaram num diagnóstico de raquitismo hipofosfatêmico - um distúrbio causado pela deficiência da absorção intestinal de cálcio.
Mas esse não seria o fim de sua odisseia: duas semanas depois, após uma análise mais aprofundada, os médicos contaram aos pais que havia 80% de chance de Gabi ter uma tubulopatia rara chamada doença de Dent, que afeta principalmente os rins.
"Sabemos agora que o raquitismo é uma das consequências dessa doença", explica Natalia.
Como existem várias doenças renais chamadas "tubulopatias", Gabi precisou ser submetido a um estudo genético - não disponível na Argentina e no exterior - de US$ 6 mil para confirmar o diagnóstico de Dent.
A prioridade agora é que Gabi passe a ter cuidados paliativos o mais rápido possível, "para evitar que as coisas que não podem ser recuperadas, como a deformidade das pernas, não continuem se agravando".
"Por seu filho, você tira forças de onde quer que seja, mesmo sem tê-las", diz Natalia.
Passado quase um ano desde o diagnóstico inicial, "agora Gabi não está tomando nada, apenas a vitamina D e um leite especial porque tem desnutrição". Mas ele deve começar um tratamento em Buenos Aires, ainda neste mês.
Natalia também aguarda os resultados de outro teste genético que a Adent bancou para a irmã gêmea de Gabi, para averiguar se ela tem ou não a mutação genética do irmão.
Para a sorte de Natalia, do outro lado do Atlântico estava Eva, que já tinha passado por todo esse processo e tinha muitas respostas.

Ajuda

"Eu teria adorado que, no começo (do diagnóstico de Nacho) alguém do outro lado do mundo tivesse dito: 'Eva, venha por aqui, vai ser melhor. Você não vai ficar bem, mas vai se sentir melhor'. Então decidi fazer isso com todos os pacientes de Dent que encontro", conta a espanhola.
Quando conversou com a BBC, Eva tinha acabado de voltar da Argentina e do Equador, para onde viajou para atender Gabi e também Daniel, outro paciente com Dent, de 18 anos.
Há dois anos, o pai de Daniel bateu pessoalmente à porta da Asdent, em Barcelona, procurando ajuda para seu filho equatoriano, que tinha uma insuficiência renal em estágio avançado. Assim como Gabi, ele não seguia nenhum tratamento.
Em ambos os casos, Eva ajudou a organizar gratuitamente os estudos genéticos que eles precisavam e a fazer o necessário para retornar a seus países as com orientações médicas específicas sobre como tratar os efeitos da doença.
"Estou muito feliz em ver que, depois de tudo que eu passei, agora eu posso ajudar os outros."

'Fazer loucuras'

Nacho também passou por vários diagnósticos de doenças renais até os médicos concluírem, em 2012, que ele tinha Dent. Isso depois de um ano e meio.
"Naquela época, havia apenas 96 casos relatados em todo o mundo", diz Eva, e "os médicos nunca tinham tido pacientes como ele."
"E, a partir desse momento, eu comecei a fazer loucuras para levantar fundos e abrir um projeto de pesquisa."
Uma das maiores loucuras foi em 2014, quando participou de uma corrida de bicicleta pelo deserto do Saara: percorreu 600 km em seis dias.
"Passei dias inteiros pedalando pelo deserto durante mais de 10 horas por dia contra a doença de Dent."
Eva, a quem uma esclerose múltipla causou perda de força, diz que durante esses dias seu corpo foi exposto a um sofrimento extremo.
"O quanto eu chorei não está escrito. (Mas) isso me permitiu arrecadar 40 mil euros (R$ 147 mil)", diz ela em tom quase incrédulo.
"E foi com esses 40 mil que eu paguei meus ratinhos."

Pesquisas

Ela se refere a uma ninhada de cerca de dez ratos pelos quais ela ansiava havia dois anos, para as pesquisas de laboratório sobre medicamentos contra a doença de Dent.
Quem lidera as pesquisas são os médicos de Nacho: Felix Claverie-Martin, do Hospital Universitário Nossa Senhora da Candelária, em Tenerife, e Gemma Aviceta, do Hospital Vall d'Hebron, em Barcelona.
Juntos, eles estudam a parte genética e a parte clínica da doença desde 2014, quando Eva foi capaz de impulsionar um estudo do Instituto de Pesquisa do Hospital Vall d'Hebron com um orçamento inicial de 400 mil euros (R$ 1,4 milhão), que sua mãe se empenhou para arrecadar por conta própria por meio de campanhas.
Agora, uma nova fase de pesquisas exigirá 1,5 milhão de euros (R$ 5,5 milhões).
"E eu estou todos os dias à procura de recursos", diz Eva.

'Muito rentável'

"Mamãe, por que eu não tenho um xarope para me curar, como o Lucas da minha classe?", perguntou Nacho certa vez a Eva.
"É só isso que a mãe quer, Nacho. Conseguir um medicamento que você possa tomar para ficar bem, sem nenhum problema."
Eva deixa claro que se Dent fosse uma doença comum, já teria sido solucionada há tempos.
"O problema é que existem mais de 7 mil doenças raras com poucos pacientes, então é claro que não somos interessantes para um laboratório porque não é rentável criar uma droga para 400 pacientes. Mas, para mim, a vida do meu filho é muito rentável."
O esforço dessa mãe virou tema de documentário, El reto de Eva (O desafio de Eva, em tradução livre), em que ela narra sua busca por financiamento e também por dar uma vida feliz a Nacho e a suas duas outras filhas.
"Nunca deixei que a falta de dinheiro fosse um obstáculo para o meu filho seguir adiante", conclui Eva. "E se me pedem um milhão e meio (de euros), eu vou atrás. E se pedirem 6, eu vou buscar 6. E vou dedicar minha vida a isso."
Notícia publicada na BBC Brasil, em 18 de junho de 2017.

Glória Alves* comenta

Desespero ou amor profundo pelo filho?
O amor materno dá força, coragem e energia a essa mãe que também passa por uma doença incurável, a esclerose múltipla, e que tem diante de si um drama terrível, o diagnóstico de que seu filho é portador de uma doença rara, sem cura, a Doença de Dent, uma mutação genética no cromossomo X e que afeta os rins.
Ao saber da doença de Nacho, a senhora Eva Giménez decide lutar e buscar sozinha os recursos para a cura de seu filho, e conforme ela mesma diz, “fazer loucuras para levantar fundos e abrir um projeto de pesquisa” da Dent. Uma dessas loucuras, para quem tem esclerose múltipla, foi percorrer 600 km de bicicleta no deserto do Saara em seis dias, pedalando 10 horas por dia, conseguindo arrecadar, com essa “loucura”, 40 mil euros, cerca de 147 mil reais; imagino qual não foi o sofrimento físico dessa mulher.
Outra mãe, a senhora Natália, mostra que o amor materno é realmente especial, quando diz a à BBC que "por seu filho, você tira forças de onde quer que seja, mesmo sem tê-las”. Essa força Deus dá a mãe por amor ao filho no interesse da sua conservação.
Essas histórias me fazem relembrar uma linda passagem do livro “Missionários da Luz”, do Espírito André Luiz e psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 13, que trata da reencarnação, mais especificamente da reencarnação de Segismundo. André Luiz, maravilhado diante do momento significativo da entrega do reencarnante aos braços maternais de Rachel (mãe), emancipada do corpo físico, faz um relato emocionado:
“Foi então, ó divino mistério da Criação Infinita de Deus, que a vi apertar a “forma infantil” de Segismundo de encontro ao coração, mas tão fortemente, tão amorosamente, que me pareceu uma sacerdotisa do Poder da Divindade Suprema. Segismundo ligara-se a ela como a flor se une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne”.
É nesse sentido que Eva sai desesperada em busca de ajuda para o ser mais precioso de sua vida, carne de sua carne, seu filho Nacho. Em nosso mundo, orbe de provas e expiações, “o amor que uma mãe dedica a seus filhos é considerado o maior amor que um ser possa ter por outro ser.”(1)
É através desse amor que Eva se dedica e realiza o belo trabalho na associação criada por ela, Asdent, para arrecadar fundos para pesquisa da doença de Dent. A Associação tem hoje cerca de 700 membros e tornou-se um ponto de referência para as famílias dos pacientes de outras partes do mundo que procuram informações na internet.
É com esse amor, dividindo o que já conseguiu angariar com as pesquisas dos médicos, que Eva abrange outros filhos, pessoas que ela não conhece, que não fazem parte de sua família, de seu círculo de amizades, mas que para ela as fronteiras do mundo não são limites para auxiliar a quem precisa.
Outros pais a procuram, em busca de ajuda e de acolhimento. Sem nenhum tipo de tratamento na Argentina, Natalia e seu esposo Esteban, pais de Gabi, “enviam um e-mail para Asdent pela manhã e, à noite, já estavam falando ao telefone com Eva, dizendo a ela: “você é a nossa esperança".
"Eu teria adorado que, no começo do diagnóstico de Nacho, alguém do outro lado do mundo tivesse dito: 'Eva, venha por aqui, vai ser melhor. Você não vai ficar bem, mas vai se sentir melhor'. Então decidi fazer isso com todos os pacientes de Dent que encontro", conta a espanhola.
A solidariedade que une pessoas com mesmos problemas, aflições e sofrimentos, traduzem esse sentimento em evolução em nossa Terra. Em torno de uma doença a solidariedade se desenvolve nos corações.
Solidariedade, empatia, fraternidade... Eva se envolve com outros pais, pessoas que passam pelo mesmo problema que ela enfrenta com seu filho; ela não se fechou egoisticamente, chorando a sua dor, pelo contrário, divide com outros o conhecimento que ela adquiriu em sua luta para ajudar seu filho. Ajudou a organizar gratuitamente os estudos genéticos de outros doentes que vinham de longe, de outros países, e que batiam à porta da Asdent necessitados de ajuda; fez o necessário para que todos retornassem a seus países com orientações médicas específicas sobre como tratar os efeitos da doença. "Estou muito feliz em ver que, depois de tudo que eu passei, agora eu posso ajudar os outros”, diz Eva.
Em seu desabafo à BBC, deixa claro que se Dent fosse uma doença comum já teria sido solucionada há muito tempo. Em nosso mundo de provas e expiações, o egoísmo, chaga da Humanidade, ainda impera em muitos corações. E quando o assunto é dinheiro, e muito dinheiro, o egoísmo fala bem mais alto, ficando difícil para alguns fabricantes de medicamentos pensar naqueles que não são rentáveis, pois suas doenças não dão lucros.
Do egoísmo deriva todo o mal, e quanto maior é o mal mais terrível ele se torna. Lidando com o mal e as dores causadas pelo egoísmo, o homem compreende a necessidade de extirpá-lo da face da Terra. “Quando os homens se tiverem despido do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, não se fazendo o mal e se ajudando reciprocamente pelo sentimento fraterno de solidariedade.”(2)
A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres dos homens, uns para com os outros. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência.
Todas essas virtudes se resumem no amor, sentimento por excelência; o gérmen divino em nós, o sol das almas, transformará o egoísmo que ainda trazemos em nosso íntimo em fraternidade, unindo os seres em um único sentimento de benevolência mútua.
Dia virá em que os homens habitantes da Terra Regenerada estarão “libertos das paixões desordenadas de que ainda são escravos, isentos do orgulho que impõe silencio ao coração, da inveja que os torturam, do ódio que os sufocam. Em todas as frontes, ver-se-á escrita a palavra amor; perfeita equidade presidirá às relações sociais”. E nesse dia “todos reconhecerão Deus e tentarão caminhar para Ele, cumprindo-lhes as leis”.(3)

Bibliografia:

(1) “O Livro dos Espíritos” - Allan Kardec - pergunta 385;
(2) Idem (1) - pergunta 916;
(3) “O Evangelho segundo o Espiritismo” - Allan Kardec, Cap. III - Há muitas moradas, item 17- Mundos Regeneradores.
* Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk