sábado, 5 de dezembro de 2015

Mural Reflexivo: Diálogo e receptividade

dialogoDiálogo e receptividade

Palha italiana é um doce preparado com brigadeiro e biscoito. A mistura fica muito saborosa e chega a ser a preferida de muitas pessoas.

O preparo é simples, rápido e o resultado é delicioso. Por essa razão aquela jovem, cursando arquitetura, pensando em fazer um dinheirinho, começou a preparar e levar palha italiana para a faculdade.

As colegas aderiram, as pessoas de outros cursos também gostaram e as vendas iam muito bem.

Ana começou cobrando um real o pedaço. Os parentes sugeriram que ela aumentasse o preço. Afinal, os ingredientes não são baratos e, ademais, ela precisava valorizar o próprio produto.

Eles diziam: Existem outros doces semelhantes no mercado, por valor superior e nem sempre tão bons quanto o seu. Suba o preço!

Ela resistia. Olhava para os colegas estudantes e achava que seria talvez dispendioso para eles continuarem a comprar como faziam.

A tia insistia: Você precisa valorizar-se e ao seu produto. Não é questão de extorquir o cliente, mas de colocar o preço do real valor.

Ana continuava insegura. Consultou alguns colegas, que acharam caro dois reais.

Então, ela saiu de casa com sua palha italiana e pelo caminho, foi pensando: Será que continuo cobrando um real? Será que subo o preço para um real e cinquenta? Ou será que passo para dois reais?

Que seu produto valia, ela tinha certeza.

Nesse dia, ela encontrou um jovem de outro curso fazendo o mesmo que ela, ou seja, vendendo doces. Só que era brownie.

O preço? Dois reais. Foi o suficiente para encorajá-la. Ela subiu o preço da sua palha italiana para dois reais.

A essa altura, poderíamos cogitar de questões de regulamentação do mercado e de concorrência.

Alunos com pouco dinheiro em mãos, com um doce a um real e outro a dois, poderia ser mais competitivo.

Porém, Ana enxergou o fato como uma possibilidade de subir o preço do doce que oferecia.

O outro estudante conhecia o produto dela. E, apesar de estarem disputando o mesmo nicho de mercado de doces, ou seja, os mesmos estudantes, tiveram ambos uma ideia singela. Ao mesmo tempo, bonita.

Pensaram em trocar os doces entre eles: um pedaço de brownie por uma palha italiana. Um verdadeiro escambo.

Eles não se sentiram competindo. Cada qual valorizou o produto do outro.

E saíram a vender. Ela, a sua palha, enquanto comia um brownie e ele, os seus brownies, enquanto saboreava a palha italiana.

E os clientes comuns compraram brownies e palha. Todos felizes, com açúcar e com afeto.

*   *   *

Como seria bom se todos agíssemos assim, sem ver no outro um competidor. Alguém que devemos derrubar, seja com preços incompatíveis de serem mantidos a longo prazo, somente para conquistar o mercado, seja depreciando o produto alheio.

Como seria tão mais ameno se entendêssemos que sob esse imenso mundo de Deus, há lugar para todos.

O que conquista o cliente aqui ou ali é o diferencial do atendimento, um jeitinho especial conferido ao produto em oferta, algo simples, que faz a diferença.

E assim continuam todos vendendo, ganhando, vivendo.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base em fato.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Revista Espírita – Quinto Ano – 1862 – Dissertações espíritas

Revista Espírita

Quinto Ano – 1862

Dissertações espíritas

Revista Espírita, abril de 1862

Os Mártires do Espiritismo

II

O progresso do tempo trocou as torturas físicas pelo martírio da concepção e do parto cerebral das ideias que, filhas do passado, serão mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade do saiote proletário com a toga patrícia, os altares, vermelhos ainda,fumegavam do sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam diante dos caprichos do senhor, e os povos, ignorando a sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Neste estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam ficado impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem gritado pelas suas chagas e tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires; para ser cumprida, a misteriosa lei dos semelhantes exigia que o sangue vertesse para a ideia resgatar o sangue derramado pela brutalidade.

Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas; só seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, ao passo que aspira aos horizontes novos. Quem poderá pintar as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes,suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietantes pressentimentos de mundos superiores, dores ignoradas pela materialidade antiquada, que não sofria senão quando não gozava; dores que são a tortura moderna, e que tornarão mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, creram e não serão acreditados,falarão e serão zombados, caminharão e serão repelidos. Não vos desencorajeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa, tanto mais bela quanto terão semeado mais espinhos sobre o vosso caminho.

LÁZARO (Méd. Sr. Costel.)

III

Em todos os tempos, como dissestes, as crenças tiveram mártires; mas também, é preciso dize-lo, o fanatismo estava, frequentemente, dos dois lados, e então, quase sempre, o sangue corria. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos, ou antes, graças a essa filosofia que começou para os escritores do século dezoito, o fanatismo extinguiu a sua chama, e colocou seu gládio na bainha. Não se imagina mais, em nossa época, a cimitarra de Maomé, o cadafalso e a roda da Idade Média, suas fogueiras e suas torturas de todas as espécies, não mais do que não se imaginam os feiticeiros e os mágicos. Outro tempo, outro costume, diz um provérbio muito sábio. A palavra costume está aqui muito ampla, como o vedes, e significa, segundo a sua etimologia latina: hábitos, maneiras de viver. Ora, no nosso século, nossa maneira de ser não é de revestir um cilício, de ir nas catacumbas, nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. O Espiritismo não verá, pois, o machado se levantar e a chama devorar os seus adeptos. Será batido a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a São Bartolomeu não se renovará. Certamente, poderá haver deles algumas vítimas nas nações grosseiras, mas nos centros civilizados só a ideia será combatida e ridicularizada. Assim, pois, nada de  machados, de feixes, de azeite fervente, mas ficai em guarda com o espírito voltaireano mal entendido: eis o carrasco. E preciso preveni-lo, aquele, mas não temê-lo; ele ri em lugar de ameaçar; lança ao ridículo em lugar da blasfêmia, e seus suplícios são as tortutas do Espírito sucumbindo sob os apertos do sarcasmo moderno. Mas não em ofensa aos pequenos Voltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente as três palavras mágicas: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais a temer, porque são sempre os mesmos, apesar de tudo; aqueles podem fazer o mal algumas vezes, mas são coxos, contrafeitos, velhos e rabugentos; ora, vós que passais na fonte de Juventude, e cuja alma reverdece e rejuvenesce, não os temais, pois, porque seu fanatismo os perderá a si mesmos.

LAMENNAIS (Médium, Sr. A Didier).

Enviado por: Joel Silva

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Buscando a resposta…Individualização do princípio espiritual

Olá queridos!

Tenho uma dúvida – leve, mas uma dúvida:

Quando se dá, em que momento da evolução se dá, exatamente a individualização do princípio espiritual?

Se a individualização se refere à conscientização (e todos àqueles requisitos adquiridos) quando se chega à condição de Espírito, a individualização anterior ao estado hominal (da criação até o reino animal) não é considerado como tal?

É isso?

Elô

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As primeiras respostas à dúvida de Elô colocamos abaixo.

Aguardamos as respostas de vocês, também!

Beijos e abraços

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Pesquisa mostra dados alarmantes de corrupção entre alunos nas escolas

Pesquisa mostra dados alarmantes de corrupção entre alunos nas escolas

A Unicarioca constatou que 69% já colaram em provas. Instituição ouviu 1.100 alunos, de 16 a 30 anos, dos ensinos médio e superior.

Uma pesquisa da Unicarioca com 1.100 alunos dos ensinos médio e superior, com idades entre 16 e 30 anos, teve as seguintes conclusões: 58% já pediram para colocar nome em trabalho de grupo sem ter participado; 68% já copiaram textos da internet para apresentar em trabalhos; 59% assinaram lista de presença em nome do colega; 69% já colaram em provas. Eles foram questionados a respeito do tipo de corrupção que praticavam na escola.

A pesquisa foi encomendada pelo jornalista Antonio Gois, depois de ler, numa rede social, o desabafo de uma doutoranda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que ficou decepcionada com os alunos. A professora começou a dar aulas na graduação e percebeu que os estudantes só se interessavam por livros, exercícios e trabalhos se fossem recompensados com pontos na nota final da disciplina. Ou seja, a simples motivação pelo conhecimento parecia não existir.

Nos Estados Unidos, a punição contra a falsificação de trabalhos escolares é mais rígida. Na Universidade de Columbia, se o aluno for flagrado colando ou plagiando um trabalho, passa por uma espécie de "tribunal" e pode ser suspenso ou até mesmo expulso.

Notícia publicada na página da Globo News, em 9 de outubro de 2015.

Glória Alves* comenta

Como professora há mais de 30 anos, lecionando em escola pública e da rede particular, ainda assisto esses fatos acontecerem, e considerado por muitos alunos normais. Quantas vezes presencio alunos copiando trabalhos e exercícios de colegas, e como citou um dos comentaristas do Programa Estúdio i, da Globo News, ele copiava os exercícios antes de começar a aula, na escada da escola...

O tema da pesquisa, corrupção entre alunos nas escolas, nos faz meditar sobre a situação atual do nosso país, e porque não dizer do mundo, “o descalabro e o absurdo campeiam, à solta, ao lado da corrupção de todo matiz, desenfreada, conspirando contra os ideais de nobreza, de justiça e de harmonia da Vida”.(1)

O absurdo disso tudo é que o fato que deu origem à pesquisa do jornalista Antonio Gois aconteceu, e com certeza ainda acontece, num curso de graduação, onde o aluno deveria ter como objetivo principal o seu autoaperfeiçoamento, o conhecimento profundo da profissão que escolheu e irá exercer. Que tipo de profissionais estão sendo formados nas Universidades? Quantos deles estarão diante de nós, como advogados, médicos, engenheiros, professores...

O fato constatado e que decepcionou a doutoranda da UFMG decepciona a tantos outros professores do ensino fundamental e médio. Mas será que a culpa é somente dos alunos? Há um tempo atrás, até 2008, os alunos das escolas públicas do município do Rio de Janeiro eram aprovados automaticamente de séries, sem a preocupação do aprendizado do aluno, para mascarar o alto índice de reprovação. Ora, quando as autoridades das instituições públicas, responsáveis pela educação intelectual da criança e do adolescente, em formar o cidadão, colocam como diretrizes de ensino esse tipo de avaliação, o que esperar dos próprios alunos, que estão formando seu caráter e que desse modo são influenciados, porquanto não precisam estudar e aprender, porque no final do ano eles serão aprovados de qualquer maneira? E os pais, por que aceitam esse tipo de paradigma nocivo para os seus filhos? Não sabem que têm responsabilidades na formação intelecto-moral deles?

“Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Os pais educam para a sociedade, quanto para si mesmos.”(1). Nossos filhos são filhos de Deus antes de serem nossos e por empréstimo estão sob a nossa tutela, e temos como missão a responsabilidade de dirigi-los pela senda do bem, formar-lhe o caráter.(2)

E por falar em caráter, retornamos ao título da reportagem: “Pesquisa mostra dados alarmantes de corrupção entre alunos nas escolas”. Corrupção, no dicionário, tem como sinônimos: desvirtuamento de hábitos; devassidão de costumes; suborno. Corromper-se significa: perverter-se, depravar-se. Corrupção é a palavra do momento e se tornou pública através das mídias disponíveis hoje em nosso planeta. Tudo se sabe, nada é mais escondido, principalmente em se tratando de pessoas públicas, como os políticos, os governantes, os religiosos... O gasto do dinheiro público em benefício próprio ou dos familiares, ou em viagens particulares, as falsificações, os subornos às empresas para garantir a continuação das falcatruas, tudo isso e muito mais estamos presenciando ultimamente. A corrupção se tornou um flagelo.

Em março de 2013, Breno Henrique de Sousa, nosso companheiro e comentarista de notícias do Espiritismo.Net, comentava a seguinte reportagem: “Lista aponta 10 ‘práticas de corrupção’ do dia a dia do brasileiro”.

“Quase um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto Vox Populi.”

Esse é um exemplo da famosa lei de Gérson, do jeitinho brasileiro. “Gosto de levar vantagem em tudo”. Fazer o errado parecer certo. Essa lei tanto pegou, como dizemos, que está enraizada na cultura popular, virou sinônimo de levar vantagem acima de tudo e de todos, sem nos preocuparmos com o próximo, com os códigos morais.

Já a Lei de Amor, ensinada pelo Mestre Jesus, essa ainda não conseguimos praticar, não a assimilamos em sua pureza; e todas as vezes que desrespeitamos o próximo através dessas práticas de suborno, quando puxamos o tapete do nosso companheiro de trabalho, usando meios ilícitos para tomar o seu lugar, estamos infringindo a Lei de Amor, de Justiça e de Caridade. Aqui nos lembramos que o próprio Cristo de Deus foi traído por 30 moedas de prata, Judas o entrega com um beijo: “O que eu beijar é esse; prendei-o. Ele então, aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o. Em seguida, o Mestre foi preso”.(3)

Voltando à questão da missão dos pais, de formar o caráter dos filhos, educando-os na lei de Deus, formando homens de bem, como fica a imagem do pai diante de seu filho quando usa esse tipo de artifício, o suborno, para se livrar de uma multa de trânsito, no exemplo citado na pesquisa acima? Esse filho pode se achar também no direito de usar meios ilícitos para conseguir os seus desejos. Diante disso tudo, pergunto a mim mesma: somos realmente honestos? Façamos um exame de consciência e verifiquemos nossas atitudes diárias diante da sociedade e de nossa família. Dessa forma, compreendemos que a corrupção entre os alunos nas escolas é consequência muitas vezes dos exemplos que eles têm de seus pais e da sociedade.

É que ainda trazemos em nossa alma as marcas dos vícios e delitos de outras existências. “Condicionamentos passados fortemente fixados nos tecidos sutis do Espírito ressurgem como incontidas impulsões, que se transformam em vigorosos senhores dos que lhes padecem a injunção. Procedentes do pretérito espiritual, fazem-se dilaceração da alma desde cedo, quando o processo da reencarnação se consuma.... Formam as paisagens lôbregas do mundo moral da criatura humana. Tomam corpo em decorrência dos maus hábitos, estimulados pela insensatez, cultivados pela permissividade social.”(4)

“A sociedade contemporânea necessita duma força purificadora que a levante da degradação e do caos em que se encontra. Essa força há de atuar de dentro para fora, do interior para o exterior, afinando os sentimentos, despertando a razão e a consciência dos homens.”(5)

A corrupção, a mentira, como outros vícios e paixões más, tem origem no egoísmo, chaga da humanidade. “Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo?”(6)

“À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. Depois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.”(6)

E só há um remédio para destruirmos esse mal pela raiz, a Educação. “Não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral.”(7)

O Cristianismo puro, tal como Jesus pregou e exemplificou, é a força, é o fermento que há de reformar a sociedade, agindo nos corações e nos lares. É do coração renovado, é do lar convertido em templo de luz e de amor que surgirá a aurora de uma nova vida para a Humanidade.(8)

Assim, um dia esse mal moral terá término, o egoísmo será banido de nossas almas e da Terra. Viveremos num Mundo Feliz!

Nota e referências bibliográficas:

(1) “Momentos de Meditação” – Introdução - Espírito Joanna de Ângelis – Divaldo Franco;

(2) “SOS Família” - Divaldo Franco - ditado por Joanna de Ângelis e diversos espíritos;

(3) Mateus, 26:48-50;

(4) “As Leis Morais da Vida” - Vícios e Delitos - Espírito Joanna de Ângelis - Divaldo Franco;

(5) “Nas pegadas do Mestre” – Vinícius - Salvar é educar;

(6) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec - Questão 914;

(7) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec - Comentário da Questão 917;

(8) “Nas pegadas do Mestre” – Vinícius - Salvar é educar.

* Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk.

domingo, 29 de novembro de 2015

Revista Espírita - Maio de 1862 - As duas lágrimas

Revista Espírita - Quinto Ano – 1862

Maio de 1862

As duas lágrimas

(Sociedade Espírita de Lyon; grupo Vilon. - Médium, senhora Bouilland.)

Um Espírito iria deixar forçosamente a Terra, que não teria podido visitar, porque vinha de uma região bem inferior; mas tinha pedido para sofrer uma prova, e Deus não lha havia recusado. Pois bem! a esperança que havia concebido à sua entrada no mundo terrestre não se realizara, e sua natureza abrupta tendo retomado o superior, cada um de seus dias foi marcado pelo mais negro crime. Durante muito tempo, todos os Espíritos guardiães dos homens haviam tentado afastá-lo da senda que seguia, mas, cedendo de cansaço, tinham abandonado esse infeliz a si mesmo, quase temendo seu contato. Todavia, cada coisa tem um fim; cedo ou tarde o crime se descobre, e a justiça repressiva dos homens impõe ao culpado a pena de talião. Esta vez não foi cabeça por cabeça: foi cabeça por cento; e ontem esse Espírito, depois de permanecer meio século sobre a Terra, ia retornar ao espaço, para ser julgado pelo Juiz supremo, que pesa as faltas muito mais inexoravelmente que vós mesmos não poderíeis fazê-lo.

Em vão os Espíritos guardiães se ocuparam com a condenação e tinham tentado introduzir o arrependimento nessa alma rebelde; em vão levaram junto dele os Espíritos de toda a sua família: cada um quisera poder arrancar-lhe um suspiro de remorso, ou somente um sinal; o momento fatal se aproximava, e nada enfraquecia essa natureza bronzeada e, por assim dizer, bestial; no entanto, um único arrependimento, antes de deixar a vida, teria podido abrandar os sofrimentos desse infeliz, condenado pelos homens a perder a vida, e por Deus aos remorsos incessantes, torturas terríveis, semelhantes ao abutre roendo o coração que renasce sem cessar.

Enquanto os Espíritos trabalhavam sem descanso para fazer nascer nele pelo menos um pensamento de arrependimento, um outro Espírito, Espírito encantador, dotado de uma sensibilidade e de uma ternura sublimes, voava ao redor de uma cabeça muito cara, cabeça vivente ainda, e lhe dizia: "Pensa nesse infeliz que vai morrer; fala-me dele." Quando a caridade é simpática, quando dois Espíritos se entendem e não fazem dela senão um, o pensamento é como elétrico. Logo o Espírito encarnado diz ao mensageiro do amor: "Meu filho, trata de inspirar um pouco de remorsos a este miserável que vai morrer; vai, consola- o!" E nele pensando compreende-se tudo que o infortunado criminoso iria ter de sofrimentos a suportar para a sua expiação, uma lágrima furtiva escapou daquele que, só, nessa hora matinal, despertara pensando nesse ser impuro que, num instante, deveria prestar suas contas. O doce mensageiro recolheu essa lágrima benfazeja na concha de sua pequena mão; e, num voo rápido, levou-a para o tabernáculo que encerra semelhantes relíquias, e fez assim a sua prece: "Senhor, um ímpio vai morrer; vós o condenastes, mas dissestes: "Perdoo ao remorso, concedo indulgência ao arrependimento". Eis uma lágrima de verdadeira caridade, que traspassou do coração aos olhos do ser que eu mais amo no mundo. Eu vos trago esta lágrima: é o resgate do sofrimento; dai-me o poder de abrandar o coração de rocha do Espírito que vai expiar seus crimes. - Vai, responde-lhe o Mestre; vai, meu filho; essa lágrima bendita pode pagar muitos resgates."

A doce filha tornou a partir: chega junto ao criminoso no momento do suplício; o que ela lhe diz só Deus o sabe; o que se passou neste ser desviado, ninguém não o compreendeu, mas, abrindo os seus olhos à luz, viu se desenrolar diante dele todo um passado terrível.

Ele, que o instrumento fatal não havia abalado; ele, que a condenação à morte fê-lo sorrir, levantou os olhos e uma grossa lágrima, ardente como chumbo fundido, tombou de seus olhos. A essa prova muda, que lhe testemunhava que sua prece havia sido atendida, o anjo da caridade estendeu sobre o infeliz as suas brancas asas, recolheu essa lágrima e parecia dizer: "Infortunado! sofrerás menos: levo a tua redenção."

Que contraste pode inspirar a caridade do Criador! O ser mais impuro sobre os últimos degraus da escala, e o anjo mais casto que, prestes a entrar no mundo dos eleitos, vem, a um sinal, estender a sua proteção visível sobre esse pária da sociedade! Deus bendiz, do alto de seu poderoso tribunal, esta cena tocante, e nós todos, dizemos cercando essa criança: 'Vai receber a tua recompensa." A doce mensageira remontou aos céus, sua lágrima de lava na mão, e pôde dizer: "Mestre, ele chorou, eis a prova! - Está bem, responde o Senhor; conservai essa primeira gota de orvalho do coração endurecido; que essa lágrima fecunda vá regar esse Espírito ressecado pelo mal; mas guardai, sobretudo, a primeira lágrima que esta criança me trouxe; que essa gota d'água se torne diamante puro, porque é bem a pérola sem mácula da verdadeira caridade. Relatai este exemplo aos povos e dizei-lhes: "Solidários uns com os outros, vede, eis "uma lágrima de amor e de humanidade, e uma lágrima de remorsos obtida pela prece, e essas duas lágrimas serão as pedras mais preciosas do vasto escrínio da caridade."

CARITA.

Enviado por: Joel Silva