sábado, 5 de setembro de 2015

Estudo dirigido: O Evangelho segundo o Espiritismo

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EESE – Cap. XII – Itens 9 e 10
Tema:   A vingança
            O ódio
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A - Texto de Apoio:

A vingança

9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: "Perdoai aos vossos inimigos", que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em consequência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.

Fora, pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão para perdoar. - Júlio Olivier. (Paris, 1862.)

O ódio

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento, Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. - Fénelon, (Bordéus, 1861.)

B - Questões para estudo e diálogo virtual:

1 – Por que o caluniador é vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face?

2 – Disserte sobre a máxima: “o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele”.

3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Revista Espírita: A NOIVA TRAÍDA

O fato seguinte foi narrado pela Gazetta dei Teatri, de Milão, de 14 de março de 1860. Um rapaz amava perdidamente uma jovem, que o retribuía, e com a qual ia casar-se, quando, cedendo a um lamentável arrastamento, abandonou a noiva por uma mulher indigna de verdadeiro amor. A infeliz abandonada roga, chora, mas tudo é inútil: seu volúvel amante permanece surdo a seus lamentos. Então,desesperada, penetra na casa dele, onde, em sua presença, expira em conseqüência do veneno que havia tomado. À vista do cadáver daquela cuja morte acabara de causar, uma terrível reação nele se opera e, por sua vez, quer também pôr termo à vida. Entretanto,sobrevive; sua consciência, porém, sempre lhe reprovava o crime. Desde o momento fatal, diariamente, à hora do jantar, via a porta do quarto abrir-se e a noiva aparecer-lhe sob o aspecto de um esqueleto ameaçador. Por mais procurasse distrair-se, mudar de hábitos, viajar,cercar-se de companhias alegres, parar o relógio, nada conseguia. Onde quer que estivesse, à hora certa, o espectro sempre se apresentava. Em pouco tempo emagreceu e sua saúde alterou-se, a ponto de os facultativos desanimarem de o salvar.

Um médico amigo seu, estudando-o a sério, depois de inutilmente haver experimentado diversos remédios, teve a seguinte idéia: Na esperança de demonstrar-lhe que ele era vítima de uma ilusão, procurou um esqueleto verdadeiro e o mandou depositar no quarto vizinho; depois, tendo convidado o amigo para jantar, ao soarem as quatro horas, que era a hora da visão, fez vir o esqueleto por meio de polias, dispostas para esse fim. O médico pensava triunfar, mas seu amigo, tomado de súbito terror, exclamou: Ai de mim! já não basta um; agora são dois. E caiu morto, como se fulminado.

Observação – Ao ler o relato que publicamos, e dando crédito ao jornal italiano, de onde o extraímos, os alucinacionistas terão argumentos de sobra, porque poderão dizer, e com razão, que havia uma causa evidente de superexcitação cerebral, que pôde  produzir uma ilusão naquele espírito vivamente impressionado. Nada prova, com efeito, a realidade da aparição, que poderia ser atribuída a um cérebro enfraquecido por um violento abalo. Para nós, que conhecemos tantos fatos análogos indubitáveis, dizemos que ela é possível e, em todo caso, o conhecimento aprofundado do Espiritismo teria dado ao médico um meio mais eficaz de curar seu amigo. O meio teria sido evocar a jovem em outras horas e com ela conversar, seja diretamente, seja com o auxílio de um médium; perguntar-lhe o que deveria fazer para lhe ser agradável e obter seu perdão; pedir a intercessão do anjo-da-guarda junto a ela para aplacá-la. E, afinal, visto que ela o amava, seguramente haveria de esquecer-lhe os erros, se nele tivesse reconhecido um arrependimento e um pesar sinceros, em vez de simples terror, que talvez fosse o sentimento dominante no rapaz. Teria deixado de mostrar-se sob uma forma horrível para assumir a forma graciosa que tinha em vida, ou, então, cessaria de aparecer. Talvez lhe tivesse dito boas palavras, que lhe haveriam de restabelecer a calma de espírito. A certeza de que jamais estariam separados, de que ela velava ao seu lado e de que um dia estariam reunidos, ter-lhe-ia proporcionado coragem e resignação. É um resultado que muitas vezes temos podido constatar.

Os Espíritos que aparecem espontaneamente sempre têm um motivo. O melhor, no caso, é perguntar-lhes o que desejam; se estão sofrendo devemos orar por eles e fazer o que lhes possa ser agradável. Se a aparição tem um caráter permanente e de obsessão, cessa quase sempre quando o Espírito fica satisfeito. Se o Espírito que se manifesta com obstinação, seja à vista, seja por meios perturbadores, que não poderiam ser tomados por uma ilusão, é mau; e, se age com malevolência, geralmente é mais tenaz, o que não impede que sejamos mais perseverantes, sobretudo pela prece sincera feita em sua intenção. Mas é preciso estarmos
realmente convencidos de que não há, para isso, nem palavras sacramentais, nem fórmulas cabalísticas, nem exorcismos que tenham a menor influência. Quanto piores mais se riem do pavor que inspiram e da importância ligada à sua presença. Divertem-se ao serem chamados diabos ou demônios, razão por que tomam gravemente os nomes de Asmodeu, Astaroth, Lúcifer e outras qualificações infernais, redobrando de malícias, ao passo que se retiram quando vêem que perdem tempo com gente que não se deixa enganar, e que se limita a rogar para eles a misericórdia divina.

R.E. , maio de 1860

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Se liga: Setembro Amarelo


O mês de setembro é dedicado mundialmente a um movimento de conscientização sobre o suicídio. Iniciativa da Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP) a ação consiste em sinalizar fachadas e locais públicos com faixas e símbolos amarelos. Assim, a Federação Espírita Brasileira irá espalhar por suas redes sociais mensagens de conscientização e reflexão pela valorização da vida. Todos poderão apoiar por meio do compartilhamento destas mensagens.


Mãezinha… Não Me Mates Novamente…

Lutei, trabalhei, empenhei-me para conseguir a autorização para renascer; e tu te comprometeste comigo; comigo e com Deus …
Quanto me alegrei no dia em que tu, em espírito, ao lado de papai, aceitaste receber-me na intimidade de teu lar. Ansiava esquecer, desejava um novo corpo que me possibilitasse resgatar meus erros do passado. Planejava um futuro de luz. Em verdade, minha vida estaria marcada por provas e testemunhos redentores. Contudo, preparei-me confiando no teu amor. E, no momento em que mais necessitava de ti, me assassinaste …
Por quê, mãezinha? Por quê?
Quando me sentiste no santuário do teu ventre, trocas-te de conduta e começaste a torturar-me. Teus pensamentos de revolta que ninguém ouvia, retumbavam em meus ouvidos incipientes, como gritos dilacerantes que me afligiam enormemente. Os cigarros que fumavas me intoxicavam muitas vezes. Teu nervosismo, fruto de tua inconformação, me resultavam em verdadeiras chicotadas.
Quando decidiste abortar, ocorreu uma luta tremenda: tu querendo expulsar-me de teu ventre; e eu lutando por permanecer.
Por que fechastes os ouvidos à voz da consciência que te pedia compaixão e serenidade?
Por que anestesiaste os sentimentos, ao ponto de esqueceres que eu trazia um universo de bênção e de alegria para ti?
Haveria de ser um filho obediente e amoroso. Trazia meios que iam amparar-te nos últimos anos de tua presença na Terra. Todavia, tu não quiseste. Olha as conseqüências: eu atormentado por não poder nascer, e tu enferma, triste e intranqüila. Tua mente castigada pela aflição e teus sonhos povoados de pesadelos.
Por que mãezinha, por que não me deixaste renascer?
“É cedo, ainda”, pensaste. “Quero gozar a vida, passear, divertir-me, viajar. Os filhos, só depois.”
Todavia, nenhum filho chega no momento inadequado. As leis da vida são sábias e ninguém nasce por acaso.
Porém, pelo grande amor que te tenho, estou pedindo para ti a misericórdia de Deus. Até me atrevi a interceder para que alcances a bênção do reequilíbrio, para que, em futuro próximo, estejamos juntos, eu em teu ventre e tu, como sempre, em meu coração; eu alimentando-me de tua vitalidade, e tu fortalecendo-te na grandeza de meus mais puros sentimentos.
Mãezinha, por favor, não repitas teu ato premeditado.
Quando sentires novamente alguém batendo na porta do teu coração, serei eu, o filho rejeitado, que voltou para viver e ajudar-te a ser feliz. 

MÃEZINHA, NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM, NÃO ME ABANDONES, NÃO ME EXPULSES, NÃO ME MATES NOVAMENTE, NECESSITO RENASCER.

SOUZA, Juvanir Borges. O Que Dizem os Espíritos Sobre o Aborto. FEB. Capítulo 12. Mensagem recebida na “Biblioteca del Espíritu”, 11 Avenida 10-21, zona 7, Castillo Lara – Guatemala. C. A. 
 
ABORTO NÃO !!!!  LEVANTEMOS ESSA BANDEIRA !!!!
 
Publicado pelo site:  http://ceacs.wordpress.com ( Centro Espírita Amor e Caridade Santarritense) – 10/07/2014

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Revista Espírita: Casas de jogo

Gontran, Vencedor das Corridas de Chantilly

O fato seguinte, bem como o da romança de Henrique III, que acabamos de relatar, é igualmente tirado do Grand Journal, de 4 de junho de 1865, no qual não forma, com o precedente,senão um só e mesmo artigo, assinado por Albéric Second.

“Os que nos dão a honra de nos ler sabem, não há dúvida, que professamos um cepticismo radical a respeito do Espiritismo, dos espíritas e dos médiuns. – Mostrai-nos os fatos,dizíamos aos que se esforçavam por nos converter às suas teorias e às suas doutrinas. E considerando que não nos davam nenhuma prova concludente, persistimos na negação e na zombaria.

“Antes de mais, quem assina estas crônicas é um escritor de boa-fé; assim, julga-se obrigado a não pôr a luz sob o alqueire. Que tirem do seu relato as ilações que quiserem, não é problema seu. Semelhante a um presidente de tribunal, vai limitar-se a reproduzir os fatos num rápido resumo, imparcial, deixando aos leitores o trabalho de pronunciar um veredicto à vontade.”

Depois deste preâmbulo, que é o de um homem leal,como seria de desejar que fossem todos os nossos antagonistas, narra o autor, na forma espirituosa que lhe é familiar, que um de seus amigos, achando-se em casa de um médium, perguntou se um Espírito poderia designar qual seria o vencedor das próximas corridas de Chantilly. O médium que é, ao que se diz, uma camponesa recentemente vinda das montanhas do Jura, o que vale dizer pouco letrada e pouco afeita aos hábitos do esporte, tendo evocado o Espírito de um dos nossos mais célebres desportistas,obteve pelas batidas a designação das letras, formando o nome de Gontran.

“Existe, pois, perguntou o Sr. Albéric Second, um cavalo com este nome entre os concorrentes inscritos? – A bem da verdade, nada sei, respondeu seu amigo; mas se o houver, podeis contar que é nele que apostarei.

“Ora, domingo último era 28 de maio. O Derby de Chantilly foi corrido nesse dia e o vencedor foi Gontran, da coudelaria do major Fridolin (pseudônimo hípico dos Srs. Charles Laffitte e Nivière).

“Os fatos que acabo de relatar são conhecidos de grande número de pessoas no mundo da Bolsa. O Sr. Émile T. foi amplamente recompensado pelo resultado de sua confiança absoluta nas predições da camponesa do Jura, e os seus amigos que partilharam sua fé igualmente tiveram bom lucro. – E dizer que vosso servo perdeu uma tão rara ocasião de ganhar, com toda certeza e sem esforço, 1000 ou 1500 luízes, que teriam sido bemvindos! Não é muita estupidez?”

Fatos desta natureza não são os que melhor servem à causa do Espiritismo; primeiro, porque são muito raros e, em segundo lugar, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a mediunidade é um meio de adivinhação. Se tal idéia fosse plausível, ver-se-ia uma multidão de indivíduos consultando os Espíritos,como se consultam as cartas, e os médiuns seriam transformados em ledores de buena-dicha. É então que se teria razão de invocar contra eles a lei de Moisés, que fere de anátema “os adivinhos, os encantadores e os que têm o espírito de Píton.” É para evitar esse grave inconveniente, que seria muito prejudicial à doutrina, que sempre nos levantamos contra a mediunidade exploradora.

Não repetiremos o que foi dito cem vezes e largamente desenvolvido, sobre a perturbação que acarretaria o conhecimento do futuro, oculto ao homem pela sabedoria divina; o Espiritismo não está destinado a fazê-lo conhecer; os Espíritos vêm para nos tornar melhores e não para no-lo revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro com toda certeza e sem esforço, como diz o herói da aventura, ou ocupar-se dos nossos interesses materiais,colocados pela Providência sob a salvaguarda de nossa inteligência, de nossa prudência, de nossa razão e de nossa atividade. Assim,todos os que, de desígnio premeditado, julgarem encontrar no Espiritismo um novo elemento de especulação, a qualquer título,equivocam-se; as mistificações ridículas e, por vezes, a ruína em vez da fortuna, têm sido o fruto de seu engano. Eis o que todos os espíritas sérios devem esforçar-se em propagar, se querem servir utilmente à causa. Temos dito sempre aos que sonharam com fortunas colossais pelo concurso dos Espíritos, sob o especioso pretexto de que a sensação que tal acontecimento produziria,tornaria todo mundo crente; que, se tivessem êxito, desfeririam um golpe funesto na doutrina, excitando a cupidez em vez do amor ao bem. É por isto que as tentativas desse gênero, encorajadas por Espíritos mistificadores, sempre foram seguidas de decepções.

Há alguns anos, alguém nos escrevia de Hamburgo,porque, tendo perdido no jogo e se achando sem recursos para partir, teve a idéia de dirigir-se a um Espírito, que lhe indicou um número, no qual pôs o seu último florim, ganhou e saiu da dificuldade. A pessoa nos convidava a publicar o fato na Revista,como prova da intervenção dos Espíritos. Supondo a ação de um Espírito em tal circunstância, ela não via a severa lição que lhe era dada, pelo próprio fato de que lhe forneciam os meios de ir-se embora e que a tirara de um mau passo. Na verdade era conhecernos muito pouco, ou nos supor bastante leviano para nos julgar capaz de preconizar semelhante fato como meio de propaganda,pois esta teria sido feita em nome das casas de jogo, e não do Espiritismo. Teria sido realmente curioso ver-nos fazer a apologia dos Espíritos que favorecem os jogadores e, particularmente, o roubo, porque, ganhar com toda certeza, seja com cartas marcadas,seja por uma indicação qualquer é uma verdadeira fraude.

Um indivíduo que não era espírita – apressemo-nos em dizê-lo – mas que absolutamente não negava a intervenção dos Espíritos, um dia veio fazer-nos uma proposta singular. Disse ele:

“As casas de jogo são profundamente imorais; o meio de as suprimir é provar que se pode lutar seguramente contra elas. Encontrei uma nova combinação, um meio infalível de fazê-las explodir todas. Quando se virem arruinadas e impossibilitadas de resistir, serão forçadas a fechar e o mundo estará livre dessa chaga,que é o roubo organizado. Mas para isto é preciso certo capital que, oh! estou longe de possuir. Não poderíeis indicar, por meio dos Espíritos, alguém a quem me possa dirigir com segurança? Imaginai o efeito que isto produzirá, quando se souber que é pelos Espíritos que tão grande resultado é obtido! Quem está livre de crer nisto?
Os mais incrédulos, os mais obstinados deverão render-se à evidência. Como vedes, meu objetivo é muito moral e eu não me aborreceria se na ocasião tivesse o conselho dos Espíritos sobre a minha combinação.”

– Sem consultar os Espíritos, posso facilmente vos dar a opinião deles. Eis o que eles vos responderiam: “Achais que o ganho nas bancas de jogo é ilícito e que é um roubo organizado. Para remediar o mal quereis, por um meio infalível, apoderar-vos desse dinheiro mal-adquirido; em outros termos, quereis roubar o ladrão, o que não é mais moral. Temos outro meio de chegar ao resultado que propondes: em vez de fazer ganharem os jogadores, arruiná-los o mais possível, a fim de os desencorajar. Os desastres causados por esta paixão fizeram fechar mais casas de jogo do que poderiam fazê-lo os jogadores mais felizes. É o excesso do mal que faz abrir os olhos e conduz a reformas salutares, nisto como em todas as coisas. Quanto a propagar a crença no Espiritismo, temos igualmente meios mais eficazes e, sobretudo, mais morais: é o bem que ele faz, as consolações que proporciona e a coragem que dá nas aflições. Assim, diríamos a todos os que tomam a peito o progresso da doutrina: Quereis servir utilmente à causa? fazer uma propaganda realmente proveitosa? Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores; fazei que em vos vendo transformados, cada um possa dizer: Eis os milagres desta crença; é, pois, uma boa coisa. Mas, se ao lado de uma profissão de fé de crentes, vos virem sempre viciosos, ambiciosos, odientos, cúpidos, invejosos ou debochados, dareis razão aos que perguntam para que serve o Espiritismo. A verdadeira propaganda de uma doutrina essencialmente moral se faz tocando o coração, e não visando a bolsa. Eis por que favorecemos a uns e frustramos os cálculos de outros.”

Voltemos a Gontran. Os casos de previsão desse gênero, embora tendo exemplos, são, todavia, muito raros e podem ser encarados como excepcionais; aliás são sempre fortuitos e jamais o resultado de um cálculo premeditado. Quando ocorrem, devem ser aceitos como fatos isolados; mas bem louco e imprudente seria quem se fiasse em sua realização.

Não se deve confundir estas espécies de revelações com as previsões que por vezes dão os Espíritos dos grandes acontecimentos futuros, sobre cuja realização podem nos fazer pressentir no interesse geral. Isto tem sua utilidade para nos manter alerta e nos exortar a marchar no bom caminho. Mas as predições em dia certo, ou com excessivo caráter de precisão, devem ser tidas sempre por suspeitas.

No caso em tela, o pequeno fato tinha a sua utilidade; era o meio, talvez o único, de chamar a atenção de certas pessoas para a idéia dos Espíritos e sua intervenção no mundo, muito mais que para um fato sério; isto é preciso para todos os caracteres. Nesse número, alguns simplesmente terão dito: “É singular!” mas outros terão querido aprofundar a coisa e a terão encarado pelo lado sério e verdadeiramente útil. Ainda que houvesse apenas um em dez, seriam outros tantos elementos de ganho e de propaganda à causa. Quanto aos demais, a idéia semeada em seu espírito germinará mais tarde.

Relatando o fato, já que mereceu grande publicidade,quisemos ressaltar as suas conseqüências; mas não o teríamos feito sem comentários e a título de simples anedota. O Espiritismo é uma mina inesgotável de assuntos de observação e de estudo por suas inumeráveis aplicações.

Diz o autor do artigo no preâmbulo: “Mostrai-nos fatos.” Por certo ele imagina que os Espíritos obedecem a ordens e que os fenômenos são obtidos à vontade, como as experiências num laboratório ou como os truques de escamoteação. Ora, não é assim que acontece. Aquele que quer fenômenos não deve pedir que lhos tragam, mas procurá-los, observá-los e aceitar os que se apresentam. Esses fenômenos são de duas naturezas: os que são produto dos médiuns propriamente ditos e que, até certo ponto, podem ser provocados, e os fenômenos espontâneos. Estes últimos têm, para os incrédulos, a vantagem de não serem suspeitos de preparação; são numerosos e se apresentam sob uma variedade infinita de aspectos, tais como: aparições, visões, pressentimentos, dupla vista, ruídos insólitos, algazarra, perturbações, obsessões, etc. O caso do Sr. Bach pertence a esta categoria e o de Gontran à primeira. Para quantos queiram convencer-se seriamente, os fatos não faltam e aquele que os pede talvez os tenha testemunhado mais de uma vez sem o suspeitar; erra, porém, a maioria por querer fatos à sua maneira, a hora marcada, e não se contentar com os que a Providência põe sob os nossos olhos. A incerteza da obtenção desses fenômenos e a impossibilidade de os provocar à vontade são provas de sua realidade, porque se fossem produto do charlatanismo ou de meios fraudulentos, jamais faltariam. O que falta a certas pessoas não são fatos, mas paciência e vontade de buscar e estudar os que se apresentam.
 

R.E. , julho de 1865, p. 275  

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Aceitação

Aceite o que vida traz para você. Talvez não entenda, de imediato, as situações nas quais se vê envolvido, mas, a vida soberana sabe o porque de todas as coisas. Não caia no erro de achar-se vítima disto ou daquilo, nem pensar que está sendo punido por uma justiça divina que você crê conhecer.
No atual estágio evolutivo, o homem é como um cego que tem a ilusão de ver. Portanto, conhecer a verdade dos fatos, ser capaz de avaliar e medir, chamando para si o papel de juiz, não é sua tarefa.  Eu lhe digo que há muito, muito mais a conhecer e que cada um tem o seu destino a cumprir.

A sua principal missão deve ser a de cuidar de si e descobrir quem é. Aceite o que a vida traz para você, pois tudo é como tem que ser, não só para o seu próprio bem e crescimento, mas, também, pelo bem maior, já que sua existência real só é possível na Unidade.

Autora: Dóris Viégas Beling

Livro: Joias da Sabedoria Divina – Página: 40 – Ano de Edição: 2007

domingo, 30 de agosto de 2015

O Jovem Espírita na Sociedade

Definitivamente, ser jovem nos dias de hoje não é nada fácil. Ser jovem espírita, então, é mais difícil ainda. Afinal, a sociedade atravessa um momento de transição, onde todos os valores tradicionais são colocados na berlinda, contestados, mas sem que ainda se tenha um novo paradigma ou novas propostas para substituir o modelo anterior. No caso do jovem espírita, ele ainda precisa falar lidar com os preconceitos da própria Doutrina, que se confronta em diversos pontos com os apelos da instantaneidade, sensualidade e consumismo que tanto seduzem a todos nós na atualidade.

São inúmeros os desafios a serem enfrentados pelo jovem espírita hoje. As propostas e modelos sociais estão em xeque. O conceito de “globalização” impõe, praticamente sem resistência, o domínio do capital transnacional, sem pátria, sem bandeira e sem escrúpulos. Por sua vez, a falta de critérios justos na movimentação das riquezas oriundas desse capital sem pátria coloca hoje toda da economia mundial em profunda crise.

No campo do comportamento, também a sociedade se encontra num momento de indefinição, de incertezas. Na sexualidade, o rumo foi perdido. Transita-se desde o conservadorismo e puritanismo hipócrita e exacerbado até a libertinagem indiscriminada. Na questão de usos e costumes, enfrentamos uma padronização baseada no “marketing”, na “marca”, na “etiqueta”. O indivíduo é convencido que tem que possuir e consumir a “marca” porque esta existe, e não mais por suas reais necessidades.

Também somos convencidos a adotar comportamentos sociais padronizados, estereotipados, que nos são vendidos pelos meios de comunicação como sendo normais, da vida real, do dia-a-dia. Na busca da interação social, difícil em casa pelas dificuldades do mundo moderno, o jovem busca a “proteção” da “turma”, da “gangue”, o que o leva a muitas vezes à uniformização, à estandardização, à mediocridade da média padronizada. A “turma” cobra o preço da “proteção”, que é a aceitação e repetição do comportamento da “tribo”, a aceitação de que aquilo é correto, que os errados são os que daquela forma não procedem. Na “turma”, o senso crítico é abafado.

Mas adiante de todo esse cenário problemático, o que o jovem espírita deve fazer? Acima de tudo, seguir a lei de justiça, amor e caridade, como cabe a um verdadeiro Homem de Bem. Ele deve interrogar a sua consciência sobre seus próprios atos, e a si mesmo perguntar se suas atitudes não violentarão as leis naturais, fazendo aos outros tudo o que desejaria que lhe fizessem. Por ser jovem, ele tem tudo a construir, e construindo, pode mudar o mundo.

A sociedade atual exige que o jovem espírita informe-se, desenvolva seu espírito crítico, instrua-se. Ele deve viver intensamente a vida, sempre com o cuidado de não “trombar” com as Leis Naturais. Deve exercitar a paz, a paciência, a não violência, a dialética como sinalizadora do trânsito entre diferentes opiniões e tendências. Deve exercitar a mudança e a evolução constante, pela participação efetiva na sociedade, na escola, em casa e na casa espírita. Não pode calar-se com as injustiças, nem omitir-se na participação societária. Não deve ter vergonha da exemplificação correta, nem do abandono da mediocridade. Deve usar a experiência dos mais velhos para facilitar a elaboração do seu projeto de vida, e ao mesmo tempo a ousadia da juventude para se propor num projeto mais ousado. Deve ter a consciência e assumir a responsabilidade de que a mudança só é possível quando existe flexibilidade, quando a razão e a emoção se encontram numa mentalidade que ainda pode ser mudada, e que se dispõe a estar mudando, e que isto é uma característica do jovem.

Resumindo: sem sombra de dúvida, o mundo só mudará para melhor, num caminho pacífico e controlado, se os jovens decidirem que irão mudá-lo dessa maneira, numa construção individual, que na evolução das gerações, levará à evolução e construção coletiva. Para tanto, a famosa frase de Kardec é sempre atual: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações”.

Autor: Marcos Leite
Revista Cultura Espírita
Ano IV – Nº 37 – Página: 17 – Abril de 2012
ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil – Rio de Janeiro