segunda-feira, 3 de junho de 2013

Menino de 5 anos mata a irmã com arma que ganhou de aniversário

Criança atirou acidentalmente no peito da irmã mais nova enquanto brincava
O Globo
Com agências internacionais

NASHVILLE - Uma menina de dois anos foi morta acidentalmente pelo irmão, de 5, com um rifle que ele ganhou de presente de aniversário, disseram autoridades de Kentucky, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira.
De acordo com informações da polícia estadual, o incidente aconteceu na terça-feira à tarde em Burkesville, Kentucky, quando o menino estava brincado com seu rifle calibre 22 e acidentalmente atirou no peito da irmã. Ela foi identificada pela polícia como Caroline Starks.
Segundo o médico legista Gary White, o garoto ganhou um “modelo para crianças” de uma espingarda da marca Crickett no seu aniversário em novembro. O médico afirmou que ninguém havia percebido que a arma, que era mantida em um canto da casa, estava carregada até que houve o tiro fatal. A mãe das crianças estava limpando a casa quando ocorreu o disparo.
- Ela tinha acabado de sair da cozinha e foi até a rua para descartar gordura de uma frigideira - disse White. - É um pequeno rifle para crianças. O menino estava acostumado a dispará-lo.
O policial Billy Gregory disse que o caso está sendo investigado e que é “um pouco cedo” para falar sobre possíveis responsabilizações.
Notícia publicada no Jornal O Globo, em 1º de maio de 2013.

Raphael Vivacqua Carneiro* comenta
– Vou atirar com o meu rifle novo – diz o amiguinho sorridente, mostrando o seu objeto de desejo. À sua frente, o menino suspira, sonhando em ter um igual. Ambos aparentam ter entre 8 e 10 anos. Na cena seguinte, quanta alegria! O menino recebe um presente do seu pai: o seu primeiro rifle. Logo após, a família inteira reunida, alegre e amorosa, praticando tiro, inclusive mãe e filha – esta portando um rifle cor-de-rosa, especial para meninas. Assim é o vídeo de propaganda da loja Personal Security Zone, uma das que comercializa rifles da marca Crickett, especialmente desenhados para o público infantil. Não estamos falando de armas de brinquedo que lançam dardos de plástico que grudam na testa; mas de armas de fogo que disparam projéteis letais, calibre 22. Iguais ao que Kristian Sparks, de 5 anos, disparou contra o peito da irmãzinha Caroline, de 2 anos. Por brincadeira. O menino não havia roubado uma arma dos pais, guardada a sete chaves; ele possuía uma para uso próprio, ganha como mimo de aniversário.
– Foi a vontade de Deus; era a sua hora de ir, eu acho – declarou a avó da pequena vítima, tentando conformar-se com a tragédia. Apesar da dor, a Sra. Linda tem razão. O acidente da menina Caroline pode ser considerado uma fatalidade. Ensina o Espiritismo que, chegado o momento da morte, a ele não podemos nos furtar; assim como, se a hora da morte ainda não chegou, a Providência divina encontra meios de nos salvar. Uma vez que ainda lhe faltava a noção de perigo, o anjo guardião da menina podia tê-la inspirado a refugiar-se, afastando-se da brincadeira fatal. Podia, ainda, ter confundido os sentidos daquele que portava a arma, de modo que não tivesse a pontaria certeira naquele momento. Como nada disso ocorreu, somos levados a crer que a existência terrena de Caroline foi planejada para ser breve. Segundo a Doutrina Espírita, a curta duração da vida de uma criança pode representar, para o seu Espírito, o complemento de uma existência precedente. Algumas não duram nem mesmo uma gestação inteira. Além disso, a sua morte precoce constitui uma provação ou expiação para a família.
A perda de um ente querido, qualquer que seja a sua causa mortis, representa por si só uma dura provação. No caso da família Sparks, isto veio com um amargo ingrediente adicional: a responsabilidade. Ensinava Jesus: “é necessário que venham escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo venha”. A morte violenta e prematura de Caroline pode ter sido planejada como conjuntura reencarnatória. Contudo, ai daquele que tenha parcela de responsabilidade por essa morte. Teria o menino Kristian culpa pelo ato? Decerto que ainda não tinha a idade da razão. Mesmo assim, foi agente de um drama que pode traumatizar a família por toda uma existência. Fosse um Espírito altamente evoluído, é provável que tivesse uma aversão inata por qualquer instrumento letal, pois a mansidão e o pacifismo seriam dons entranhados em sua alma. Sendo, contudo, um Espírito mediano em nosso planeta, fica mais suscetível, na idade infantil, às influências do meio em que vive, sobretudo à educação e ao exemplo dado pelos pais. O que dizer, então, da responsabilidade dos pais nessa história? “Os pais têm por missão desenvolver os seus filhos pela educação; tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho”, prega o Espiritismo. Que ensinamento pretendiam dar a seu filho com uma arma de fogo? A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Pode-se escapar da justiça dos homens, mas não do tribunal da própria consciência.
Falando-se em responsabilidades, não há como excluir aqueles que lucram com a fabricação e o comércio de armas. O mais elementar raciocínio é capaz de concluir que o manuseio de armas de fogo favorece os casos de mortes violentas. Quantos acidentes com armas ocorrem dentro de casa! Quantas discussões banais resultam em morte, porque um dos exaltados dispunha de uma arma a seu alcance! No Brasil, quase 40 mil desencarnam todo ano, vítimas de disparo. Nos EUA, este número beira os 30 mil; estima-se que até 2015 deve superar o número de mortes causadas por acidentes de trânsito. Assim como a indústria tabagista, que degrada a saúde de milhões de pessoas, e a indústria de drogas psicotrópicas, lícitas ou não, que provoca a dependência química de tantos, também a bilionária indústria de armamentos sucumbe à tentação do lucro fácil à custa do infortúnio alheio. A Keystone, fabricante da marca Crickett, vende anualmente 60 mil rifles para crianças. Questionado sobre a responsabilidade dessa indústria na tragédia ocorrida com a família Sparks, um membro da Associação Nacional de Rifles (NRA), poderoso grupo lobista pró-armas, respondeu friamente: – Eu não vejo problema nisso; a responsabilidade é toda dos pais; é preciso ser um proprietário responsável. O fabricante publica em seu website um conjunto de regras básicas de segurança: descarregar a arma antes de entrar em casa; apontar o cano da arma para um local seguro; manter a arma travada. E decreta: – Você é o responsável por assegurar que as armas em sua casa estejam fora do alcance de crianças! – como se isso bastasse para o fabricante lavar as suas mãos, tão sujas de sangue quanto o peito de Caroline Sparks.
Podemos extrapolar esse raciocínio para a coletividade inteira. Em outras palavras, a cultura de um povo também é responsável pelas mazelas que produz. Principalmente a cultura de violência. Não faz muito tempo, em muitos países o governo produzia espetáculos de decapitação ou enforcamento em praça pública, os quais eram apreciados pela população como entretenimento para toda a família. Nos tempos da colonização do oeste norte-americano, era hábito comum andar pelas cidades portando revólveres presos à cintura e rifles nas selas dos cavalos. Qualquer desavença era resolvida à bala. Muitos mataram e morreram ainda jovens, deixando um rastro de sangue e lágrimas. Já se passaram várias gerações, mas a cultura belicosa ainda não foi totalmente erradicada daqueles corações. Alguns ainda compram armas de fogo para seus filhos de 5 anos. Todavia, a dor reiterada acaba por abrandar os corações mais implacáveis. À medida que as sociedades progridem moralmente, abrandam as suas leis e costumes. Atualmente 90% da população estadunidense são favoráveis a uma nova legislação mais rigorosa quanto ao controle de armas. Resta vencer as forças e interesses contrários a este avanço social. Aprende-se tanto pelo amor, quanto pela dor. Graças ao Pai Celestial, a lei do progresso é irrefreável.

* Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática. É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.

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