Criança atirou acidentalmente no peito
da irmã mais nova enquanto brincava
O Globo
Com agências internacionais
Com agências internacionais
NASHVILLE - Uma menina de dois anos foi morta
acidentalmente pelo irmão, de 5, com um rifle que ele ganhou de presente de
aniversário, disseram autoridades de Kentucky, nos Estados Unidos, nesta
quarta-feira.
De acordo com informações da polícia estadual, o
incidente aconteceu na terça-feira à tarde em Burkesville, Kentucky, quando o
menino estava brincado com seu rifle calibre 22 e acidentalmente atirou no peito
da irmã. Ela foi identificada pela polícia como Caroline Starks.
Segundo o médico legista Gary White, o garoto
ganhou um “modelo para crianças” de uma espingarda da marca Crickett no seu
aniversário em novembro. O médico afirmou que ninguém havia percebido que a
arma, que era mantida em um canto da casa, estava carregada até que houve o tiro
fatal. A mãe das crianças estava limpando a casa quando ocorreu o
disparo.
- Ela tinha acabado de sair da cozinha e foi até a
rua para descartar gordura de uma frigideira - disse White. - É um pequeno rifle
para crianças. O menino estava acostumado a dispará-lo.
O policial Billy Gregory disse que o caso está
sendo investigado e que é “um pouco cedo” para falar sobre possíveis
responsabilizações.
Notícia publicada no Jornal O Globo, em 1º de
maio de 2013.
Raphael Vivacqua Carneiro* comenta
– Vou atirar com o meu rifle novo – diz o
amiguinho sorridente, mostrando o seu objeto de desejo. À sua frente, o menino
suspira, sonhando em ter um igual. Ambos aparentam ter entre 8 e 10 anos. Na
cena seguinte, quanta alegria! O menino recebe um presente do seu pai: o seu
primeiro rifle. Logo após, a família inteira reunida, alegre e amorosa,
praticando tiro, inclusive mãe e filha – esta portando um rifle cor-de-rosa,
especial para meninas. Assim é o vídeo de propaganda da loja Personal
Security Zone, uma das que comercializa rifles da marca Crickett,
especialmente desenhados para o público infantil. Não estamos falando de armas
de brinquedo que lançam dardos de plástico que grudam na testa; mas de armas de
fogo que disparam projéteis letais, calibre 22. Iguais ao que Kristian Sparks,
de 5 anos, disparou contra o peito da irmãzinha Caroline, de 2 anos. Por
brincadeira. O menino não havia roubado uma arma dos pais, guardada a sete
chaves; ele possuía uma para uso próprio, ganha como mimo de
aniversário.
– Foi a vontade de Deus; era a sua hora de ir, eu
acho – declarou a avó da pequena vítima, tentando conformar-se com a tragédia.
Apesar da dor, a Sra. Linda tem razão. O acidente da menina Caroline pode ser
considerado uma fatalidade. Ensina o Espiritismo que, chegado o momento da
morte, a ele não podemos nos furtar; assim como, se a hora da morte ainda não
chegou, a Providência divina encontra meios de nos salvar. Uma vez que ainda lhe
faltava a noção de perigo, o anjo guardião da menina podia tê-la inspirado a
refugiar-se, afastando-se da brincadeira fatal. Podia, ainda, ter confundido os
sentidos daquele que portava a arma, de modo que não tivesse a pontaria certeira
naquele momento. Como nada disso ocorreu, somos levados a crer que a existência
terrena de Caroline foi planejada para ser breve. Segundo a Doutrina Espírita, a
curta duração da vida de uma criança pode representar, para o seu Espírito, o
complemento de uma existência precedente. Algumas não duram nem mesmo uma
gestação inteira. Além disso, a sua morte precoce constitui uma provação ou
expiação para a família.
A perda de um ente querido, qualquer que seja a
sua causa mortis, representa por si só uma dura provação. No caso da família
Sparks, isto veio com um amargo ingrediente adicional: a responsabilidade.
Ensinava Jesus: “é necessário que venham escândalos, mas ai do homem por quem o
escândalo venha”. A morte violenta e prematura de Caroline pode ter sido
planejada como conjuntura reencarnatória. Contudo, ai daquele que tenha parcela
de responsabilidade por essa morte. Teria o menino Kristian culpa pelo ato?
Decerto que ainda não tinha a idade da razão. Mesmo assim, foi agente de um
drama que pode traumatizar a família por toda uma existência. Fosse um Espírito
altamente evoluído, é provável que tivesse uma aversão inata por qualquer
instrumento letal, pois a mansidão e o pacifismo seriam dons entranhados em sua
alma. Sendo, contudo, um Espírito mediano em nosso planeta, fica mais
suscetível, na idade infantil, às influências do meio em que vive, sobretudo à
educação e ao exemplo dado pelos pais. O que dizer, então, da responsabilidade
dos pais nessa história? “Os pais têm por missão desenvolver os seus filhos pela
educação; tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho”, prega o
Espiritismo. Que ensinamento pretendiam dar a seu filho com uma arma de fogo? A
semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Pode-se escapar da justiça dos
homens, mas não do tribunal da própria consciência.
Falando-se em responsabilidades, não há como
excluir aqueles que lucram com a fabricação e o comércio de armas. O mais
elementar raciocínio é capaz de concluir que o manuseio de armas de fogo
favorece os casos de mortes violentas. Quantos acidentes com armas ocorrem
dentro de casa! Quantas discussões banais resultam em morte, porque um dos
exaltados dispunha de uma arma a seu alcance! No Brasil, quase 40 mil
desencarnam todo ano, vítimas de disparo. Nos EUA, este número beira os 30 mil;
estima-se que até 2015 deve superar o número de mortes causadas por acidentes de
trânsito. Assim como a indústria tabagista, que degrada a saúde de milhões de
pessoas, e a indústria de drogas psicotrópicas, lícitas ou
não, que provoca a dependência química de tantos, também a bilionária indústria
de armamentos sucumbe à tentação do lucro fácil à custa do infortúnio alheio. A
Keystone, fabricante da marca Crickett, vende anualmente 60
mil rifles para crianças. Questionado sobre a responsabilidade dessa indústria
na tragédia ocorrida com a família Sparks, um membro da Associação Nacional de
Rifles (NRA), poderoso grupo lobista pró-armas, respondeu friamente: – Eu não
vejo problema nisso; a responsabilidade é toda dos pais; é preciso ser um
proprietário responsável. O fabricante publica em seu website um conjunto de
regras básicas de segurança: descarregar a arma antes de entrar em casa; apontar
o cano da arma para um local seguro; manter a arma travada. E decreta: – Você é
o responsável por assegurar que as armas em sua casa estejam fora do alcance de
crianças! – como se isso bastasse para o fabricante lavar as suas mãos, tão
sujas de sangue quanto o peito de Caroline Sparks.
Podemos extrapolar esse raciocínio para a
coletividade inteira. Em outras palavras, a cultura de um povo também é
responsável pelas mazelas que produz. Principalmente a cultura de violência. Não
faz muito tempo, em muitos países o governo produzia espetáculos de decapitação
ou enforcamento em praça pública, os quais eram apreciados pela população como
entretenimento para toda a família. Nos tempos da colonização do oeste
norte-americano, era hábito comum andar pelas cidades portando revólveres presos
à cintura e rifles nas selas dos cavalos. Qualquer desavença era resolvida à
bala. Muitos mataram e morreram ainda jovens, deixando um rastro de sangue e
lágrimas. Já se passaram várias gerações, mas a cultura belicosa ainda não foi
totalmente erradicada daqueles corações. Alguns ainda compram armas de fogo para
seus filhos de 5 anos. Todavia, a dor reiterada acaba por abrandar os corações
mais implacáveis. À medida que as sociedades progridem moralmente, abrandam as
suas leis e costumes. Atualmente 90% da população estadunidense são favoráveis a
uma nova legislação mais rigorosa quanto ao controle de armas. Resta vencer as
forças e interesses contrários a este avanço social. Aprende-se tanto pelo amor,
quanto pela dor. Graças ao Pai Celestial, a lei do progresso é
irrefreável.
* Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática.
É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito
Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.
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