quarta-feira, 3 de julho de 2013

Revista Espírita: Um Médium curador

Revista Espírita
Jornal de Estudos Psicológicos
Terceiro Ano – 1860
Março
 
Um Médium curador
 
Revista Espírita, março de 1860
 
Senhorita Désirée Godu, de Hennebon (Morbihan.)
Rogamos aos nossos leitores consentirem em se reportarem ao nosso artigo, do mês último,
sobre os médiuns especiais; compreender-se-á melhor as informações que vamos dar sobre a
senhorita Désirée Godu, cuja faculdade oferece um caráter de especialidade dos mais
notáveis. Há oito anos mais ou menos, ela passou sucessivamente por todas as fases da
mediunidade; de início médium de efeitos físicos muito poderoso, tornou-se alternativamente
médium vidente, audiente, falante, escrevente, e finalmente todas as faculdades se
concentraram para a cura dos enfermos, que esta parecia ser a sua missão, missão que
cumpre com devotamento e uma abnegação sem limites. Deixemos falar a testemunha
ocular, o senhor Pierre, preceptor em Lorient, que nos transmitiu estes detalhes em resposta
às perguntas que lhe dirigimos:
"A senhorita Désirée Godu, pessoa jovem de vinte e cinco anos, pertence a uma família muito
honrada, respeitável e respeitada de Lorient; seu pai é um antigo militar, cavaleiro da Legião
de honra, e sua mãe, mulher paciente e laboriosa, ajuda o melhor que pode sua filha em sua
penosa, mas sublime missão. Eis quase seis anos que esta família patriarcal faz esmolas dos
remédios prescritos e, freqüentemente, de tudo o que é necessário aos tratamentos, aos
ricos como aos pobres que a ela se dirigem. Suas relações com os Espíritos começaram na
época das mesas girantes; ela morava então em Lorient, e durante vários meses não se
falava senão das maravilhas operadas pela senhorita Godu sobre as mesas, sempre
complacentes e dóceis sob suas mãos. Era um favor o ser admitido em sua casa nas sessões
da mesa, e ali não ia quem quisesse; simples e modesta, ela não procura se pôr em
evidência; entretanto, como bem o pensais, a malignidade não a poupou.
"O próprio Cristo foi achincalhado, embora não fizesse senão o bem e não ensinasse senão o
bem; deve-se admirar de se encontrar ainda Fariseus, então que há ainda homens que não
crêem em nada? É a sorte de todos aqueles que mostram uma superioridade qualquer, de ser
alvo dos ataques da mediocridade invejosa e ciumenta; nada lhe custa para tombar aquele
que eleva sua cabeça acima do vulgo, nem mesmo o veneno da 'calúnia: o hipócrita
desmascarado jamais perdoa. Mas Deus é justo, e quanto mais o homem de bem for
maltratado, mais estrondosa será a sua reabilitação, e mais humilhante será a vergonha de
seus inimigos: a posteridade o vingará.
"À espera de sua verdadeira missão que, diz-se, deve começar em dois anos, o Espírito que a
guia lhe propôs a de curar todas as espécies de enfermidades, o que ela aceitou. Para se
comunicar, ele se serve agora de seus órgãos, e freqüentemente, apesar dela, no lugar das
batidas insípidas das mesas. Quando é o Espírito que fala, o som da voz não é mais o
mesmo; os lábios não se movimentam.
"A senhorita Godu não recebeu senão uma instrução vulgar, mas o principal de sua educação
não devia ser a obra de homens. Quando ela consentiu em tornar-se médium curadora, o
Espírito procedeu metodicamente à sua instrução, sem que ela visse outra coisa senão mãos.
Um misterioso personagem colocava-lhe sob os olhos livros, gravuras ou desenhos, e lhe
explicava todo o organismo do corpo humano, as propriedades das plantas, os efeitos da
eletricidade, etc. Ela não é sonâmbula; ninguém a adormece; é toda desperta, e bem
desperta, que penetra seus enfermos com o seu olhar; o Espírito indica-lhe os remédios que,
o mais freqüentemente, ela mesma prepara e aplica, cuidando e tratando as feridas mais
repugnantes com o devotamento de uma irmã de caridade. Começa-se por dar-lhe a
composição de certos ungüentos que curam em poucos dias os panarícios e feridas de pouca
gravidade, e isso com o objetivo de habituá-la, pouco a pouco, sem muita repugnância, com
todas as horríveis e repelentes misérias que deverão se exibir sob seus olhos, e colocar a
fineza e a delicadeza de seus sentidos às mais rudes provas. Que não se imagine nela
encontrar um ser sofredor, débil e medíocre; ela goza domens sana in corpore sano em toda
sua a plenitude; longe de cuidar de seus doentes por intermediário, é ela quem mete a mão
em tudo, e basta a tudo, graças à sua robusta constituição. Ela sabe inspirar, aos seus
enfermos, uma confiança sem limites, e encontra em seu coração consolações para todas as
dores, sob sua mão remédios para todos os males. Ela é um caráter naturalmente alegre e
jovial. Pois bem! Sua alegria é contagiosa como a fé que a anima, e age instantaneamente
sobre os doentes. Ali vi muitos saírem com os olhos cheios de lágrimas, doces lágrimas de
admiração, de reconhecimento e de alegria. Todas as quintas-feiras, dia de feira, e no
domingo depois da seis horas da manhã, até cinco ou seis horas da tarde, a casa não se
esvazia. Para ela, trabalhar é orar, e cumpre isso conscientemente. Antes de tratar dos
enfermos, passava dias inteiros confeccionando vestes para os pobres e enxovais para os
recém-nascidos, empregando os mais engenhosos meios para tornar incógnitos seus
presentes em sua destinação, de sorte que a mão esquerda ignorava sempre o que dava a
mão direita. Ela possui um grande número de certificados autênticos entregues por
eclesiásticos, autoridades e pessoas notáveis atestando cura que, em outros tempos, seriam
olhadas como miraculosas."
Sabemos, por pessoas dignas de fé, que nada há de exagerado na narração que se acaba de
ler, e estamos felizes em poder assinalar o digno emprego que a senhorita Godu faz da
faculdade excepcional que lhe foi dada. Esperamos que estes elogios, que nos fazemos prazer
em reproduzi-los no interesse na Humanidade, não alterarão nela sua modéstia, que dobra o
preço do bem, e que ela não escutará as sugestões do Espírito do orgulho. O orgulho é o
escolho de um grande número de médiuns, e vimos muitos deles cujas faculdades
transcendentes foram aniquiladas ou pervertidas, desde que deram ouvido a esse demônio
tentador. As melhores intenções não garantem de suas armadilhas, e é precisamente contra
os bons que ele levanta suas baterias, porque se satisfaz em fazê-los sucumbirem, e mostrar
que é o mais forte; ele se introduz no coração com tanto jeito que, freqüentemente, está em
seu meio sem que disso se suspeite; o orgulho também é o último defeito confessado a si
mesmo, semelhante a essas doenças mortais das quais se tem o gérmen latente, e sobre a
gravidade das quais o doente se ilude até o último momento; por isso é tão difícil desarraigá-las.
Desde que o médium goza de uma faculdade tanto seja pouco notável, ele é procurado,
enaltecido, adulado; é para ele uma terrível pedra de toque, porque acaba por se crer
indispensável se não for essencialmente simples e modesto. Infeliz dele sobretudo se se
persuade não ter relações senão com bons Espíritos; custa-lhe reconhecer que foi iludido e,
freqüentemente mesmo, escreve ou ouve sua própria condenação, sua própria censura, sem
crer que isso se dirija a ele; ora, é precisamente essa cegueira que dá presa sobre ele; os
Espíritos enganadores disso se aproveitam para fasciná-lo, dominá-lo, subjugá-lo cada vez
mais, ao ponto de fazê-lo tomar por verdades as coisas mais falsas, e é assim que se perde
nele o dom precioso que não recebera de Deus senão para se tornar útil aos seus
semelhantes, porque os bons Espíritos se retiram sempre, de quem escuta de preferência os
maus. Aquele que a Providência destina para ser posto em evidência, sê-lo-á pela força das
coisas, e os Espíritos saberão tirá-lo da obscuridade, se isso for útil, ao passo que não há,
freqüentemente, senão decepção para aquele atormentado pela necessidade de fazer falar de
si. O que sabemos do caráter da senhorita Godu, nos dá a firme confiança de que ela está
acima dessas pequenas fraquezas, e assim jamais comprometerá, como tantos outros, a
nobre missão que recebeu.
 
(Enviado por JoellSilva, via email)

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